lunes, 10 de mayo de 2021

AUÊ - AWE

 

 

                                 

 

AUÊ- Confusão em português

AWE – Temor em Yoruba

 

Com ele era sempre assim, tudo surgia no meio de muita confusão, estava tentando fugir da confusão ou Auê, que era viver nas grandes cidades, necessitava de um lugar tranquilo para trabalhar, mas claro, as vezes ele atraia sem querer a merda toda para cima dele.

Tinha marcado de ver uma cabana num lago, cercado de floresta, estava entusiasmado, desceu do carro para esperar a agente da imobiliária, como sempre era impaciente, começou a olhar por ali, nisso viu um homem jogado no chão com muito sangue na nuca.

Nem sentiu que vinham por detrás dele, levou uma pancada, talvez, por reflexo, se virou, viu um instante a cara de quem lhe agredia, deu um grito, escutou outro, era a agente que gritava também, o homem saiu correndo.

Chamaram a polícia o rastro de sangue seguia até uma cabana, no chão, estava outro homem como o primeiro, vestido de terno, gravata.  Os dois eram agentes do FBI, acharam estranho, o que faziam esses homens ali, embora o xerife que a agente tinha chamado, dizia que ali não era sua jurisdição, sim do povoado ao lado.   Chamou o xerife de lá.  Quando a maioria saiu, ele escutou um ruído surdo, como alguém batendo em algo, chamou o xerife, encostaram a cabeça no chão o ruído seguia.    Com muito custo, viraram o homem para retirar o tapete embaixo dele, tinha um alçapão, quando levantaram iluminando o xerife com uma lanterna, viram uma mulher, amordaçada, bem como amarrada.

Chamou um dos homens que encontrou uma escada, desceram os dois, ele ficou ali examinando tudo, esse era seu trabalho, examinar, anotar mentalmente tudo, observar os comportamentos, para depois escrever.  Assim tinham nascido muitas histórias que escrevia.

Quando a trouxeram para cima, estava cheia de feridas.  Contou que estava fazendo auto-stop, na estrada, quando foi sequestrada, conseguia descrever o homem, era o mesmo que eu tinha visto.

Acho melhor o senhor controlar os policiais, estão pisando tudo, pode ser que existam mais mulheres por aqui.

Não estão acostumados a esse tipo de evento, esquecem o treinamento, saiu gritando ordens, enquanto chegava uma ambulância, que me atendeu, bem como a mulher, a iriam levar para o hospital mais próximo.

Sugeriu ao Xerife que via sem experiência nenhuma nesses casos, se apresentou como jornalista de crimes do jornal de Los Angeles, sugiro que o senhor avise ao FBI, pois tinha dois agentes aqui, os identifique para eles, assim saberão o que estavam fazendo.  Aproveite peça um aparelho, para verificar se não existem mais mulheres aqui, pois percebo que tem o jardim, bem como a lateral muito mexida.

Ajudou o xerife a ir retirando os que estavam por ali sem fazer nada, que fossem se afastando da casa.

Quando o FBI, soube, perguntou aonde se poderia aterrissar um helicóptero, lhes indicaram.

A agente imobiliária, disse que não entendia, essa cabana está desocupada, desde que o antigo proprietário morreu, na planta não consta esse sótão.

Há quanto tempo está vazia?

Ah pelo menos uns 10 anos, acredito eu, a herdeira é uma sobrinha que vive em NYC, nunca vem aqui, por isso colocou a venda, mas ninguém se interessa, pois o homem morreu ai sozinho levaram muito tempo para descobrir que estava na cabana.

Vou buscar na prefeitura para ver se tem mais alguma planta baixa do local.

Pelo retrato falado, os agentes saíram pela redondeza para procurar o assassino.

Ele como sempre tinha memorizado a figura do homem, buscou em sua mente qualquer outro detalhe.

Foi como se lembrar, enquanto ia caindo, usava uma calça do exército, bem como uma bota do mesmo, na camiseta tinha um nome, tentou se lembrar, sabia que fazendo algum exercício se lembraria, se afastou ficou olhando o lago, até que se lembrou, era uma abreviatura de ST de sargento.  Depois o nome começava com um H, mais estava difícil.

Quando apareceram os homens do FBI, que traziam o detector, logo começaram a encontrar outros cadáveres em volta da casa.    O agente ao mando, disse que estavam a muito tempo perseguindo alguém que dava carona na estrada, depois as mulheres desapareciam.  No caso só tinham dois homens jovens.

Tiveram que pedir ajuda, para a retirada dos cadáveres, que estavam dentro de sacos de necrotério.  Observando viu que um tinha uma marca de fabricação, disse aos homens que olhassem isso, como eram muitos, deve ter comprado ou roubado isso em algum lugar.

Montaram uma tenda imensa, para que os forenses olhassem esses cadáveres, alguns era mais recentes, outros estavam pior. 

Comentou com o que estava ao mando o que tinha visto, as botas, as calças, bem como o que estava escrito na camisa. 

Pela primeira vez o homem perguntou quem era, ele se identificou, vim ver a cabana para comprar, vi um dos agentes, não vi que se aproximava por detrás, por instinto me virei, ele perdeu o objetivo de me dar com a barra na nuca.

Bom esses agentes estava justamente atendendo a uma reclamação, num troço de estrada, desaparecem muitas mulheres, que estão acostumadas a se moverem por auto-stop, por isso estava por aqui.

Ou esse sujeito é da redondeza, ou algum paranoico do exército, mas acredito mesmo que dessa zona.

Dois policiais tiveram sorte, identificaram o sujeito, era da cidadezinha ao lado, um neurótico de guerra, vivia escondido na floresta.   Algumas vezes ia até a cidade para comprar mantimento.

Uns garotos que escutava comentaram que lhe tinha seguido uma vez, estávamos brincando de detetives, o seguimos, pois ele olhava muito para trás, levou muito tempo até perceber que o seguíamos, ai, tirou um revolver, deu um tiro para cima.

Reuniram um batalhão de homens, comandados por um do FBI, os garotos os levou até aonde tinha disparado, seguiram subindo.  Até que encontraram a cabana, mas em volta estava cheia de bombas enterradas, só ele deve saber como entrar aí.

O homem ficou atirando o dia inteiro.  Gritava palavras obscenas, soltava imensas gargalhadas.

Até que um lança bombas de fumo, o atordoou pela sequência que explodiu.  Guiados por um soldado, foram seguindo seus rastro, o capturaram.

Depois de atendido pela ambulância, esse não parava de rir, se eu escapei uma vez, posso escapar mil, dizia.

Quando levantaram a ficha do hospital psiquiátrico que estava, tinha escapado facilmente, pois o controle era mínimo.

Iria agora para uma de máxima segurança.   Consegui entrevista-lo bem como levantar sua ficha.  Como estava medicado, me falou quase num sussurro, contou como era sua vida antes do exército, numa família que o tinha adotado para explorar no trabalho braçal no campo, por isso era forte.

Tinha escapado para o exército, tinha participado de torturas com os presos em interrogatórios, motivo pelo qual sabia agir.  Fiz tudo que me mandaram fazer.  A partir disso, só passei a ter prazer abusando das pessoas.   Nem as putas me queriam, diziam que eu era uma pessoa desequilibrada.    Mas foram eles que me fizeram assim.

Contou caso por caso, como agia, tinha descoberto essa cabana, aonde sem querer limpando, viu a parte de baixo.   Sequestrava, depois abusava e matava as mulheres, mesmo os garotos a que dava carona.

Alguns lhe contavam de que estavam escapando, de alguma família que os maltratava, como tinham feito com ele, ou de um marido que pegava, ou mesmo de pais que queriam casar suas filhas a força.   A família se passa por vítima, mas eu aliviei o sofrimento dessa gente.

Voltou para Malibu, se fechou em casa, escreveu uma série inteira sobre o personagem. Era sua forma de vingança do parceiro que tinha numa produtora.   A maioria das vezes levava o crédito sozinho, pois os outros como ele eram seus empregados.  Mas desta vez, exigiu que seu nome ficasse sozinho.    Podia vender os direitos, mas tinha todos os capítulos escritos, tentaram negociar, levou a outros canais, acabou vendendo ao melhor postor.

Com o dinheiro comprou uma casa, entre o mar e montanha.  Precisava desse isolamento.  Tinha seu horário para escrever, quando queria algo novo, se movia a San Francisco, passava um mês observando a gente até que surgia uma história, ou Los Angeles, se alguma história policial lhe chamava atenção, entrevistava as vítimas, o assassino ou maltratador, para saber de aonde vinha o ódio, o problema.  As vezes a vítima estava no lugar errado, na hora errada.

Estava atento a todas as notícias.  Quando lhe procuravam procurando uma série ou material para um filme, revisava o que tinha escrito a consciência, para depois oferecer.

Escrever, escrevia tudo de uma só vez, mas depois tinha um outro processo, que chamava de revisão.   Não só fazia com a ortografia, mas com cada personagem, anotando a margem todo uma composição do mesmo, isolava o mesmo dentro da história, contando tudo sobre ele, como chegava ao ponto da história, seu desenvolvimento, nuances.  Quando sentia que história estava completa, a reanalisava outra vez.  Depois conversava mil vezes com o diretor, para lhe passar o conteúdo.    Passou a ser respeitando por isso.  Alguns atores diziam que o dossier que recebia da composição do personagem, por menor que fosse, era completo.

Quando encontrou com seu antigo chefe, além de ter sido seu namorado, riu com a cara do mesmo quando na hora da premiação tocou a ele, por dois trabalhos.

Tinha sido uma doce vingança.  Tinha sido explorado, humilhado por este, tinha escutado uma vez o mesmo falando nele.    “É incapaz de criar um personagem consistente”, filho da puta, se ele só fazia revisar o que os outros escreviam, depois roubar tudo.

Agia assim, porque vinha dos grandes estúdios americanos, aonde fazer isso era norma.

Algumas vezes, quando ninguém se interessava, lançava a história primeiro como livro, dava a entender aos produtores, que tinha o mesmo escrito com diálogos para o cinema ou televisão.

Nunca entenderiam seu processo.    Podia levar meses nas revisões.   Escrever, escrevia rápido, mas esse seguinte passo era mais complicado.   Uma coisa é lançar um personagem, outra era construir desde dentro do próprio.

Agora quando queria algum sexo, se alojava num pequeno hotel, buscava uma pessoa que o atraísse.

Saia um dia de uma discoteca, quando viu sentado muito mal numa calçada, um sujeito que tinha visto em algum vídeo pornô.   Estava ali drogado, mal conseguia respirar, chamou uma ambulância, o levou para um hospital.  O rapaz o olhou nos olhos, pediu não me deixe sozinho.   Ficou com ele todo o processo, três dias ali no hospital, pediu a um enfermeiro que lhe comprasse camisetas todas iguais, meias, cuecas, as ia jogando no lixo depois que tomava um banho.

Quando o rapaz finalmente esteve bem, perguntou se queria que o internasse numa clínica de reabilitação.

Para que, voltarei a cair, não consigo levar o peso disso tudo.

Queres vir comigo?

Terei que fazer sexo para te pagar?

Nem pensar, tens toda a liberdade de desconfiar, se apresentou, disse o que fazia, aonde vivia.

Ficou deslumbrado com a simplicidade de sua casa.  O panorama que se via dali, desceu como uma criança para um banho de mar, o acompanhou, ficou sentado num tronco, observando como se divertia.

Aqui não vem ninguém, perguntou?

Não, só se for de barco, o acesso, tem que passar pela minha propriedade.

Uma senhora mexicana, vinha todas as semanas, já com as compras feitas, preparava comida para ele, pediu que aumentasse pois agora tinha um convidado.    Ele nunca bebia, nem fumava.

Joel, ou Jo, enquanto ele escrevia, se sentava lendo um livro, nunca tive tempo.

Lhe deu um caderno, escreva o que não entendes, pois já li todos eles, assim depois discutimos.

Se acostumou a isso, sentar-se no final do dia, com ele discutindo o que tinha lido.

Riam muito, conversavam.

Acabou contando sua história.  Tinha ido para San Francisco, para escapar da cidade pequena que vivia.  Queria ser alguém na vida, quando seu dinheiro acabou aceitou o convite para fazer vídeos pornôs, a princípio, só era ativo, mas depois começaram a lhe dar drogas, para fazer de passivo.  Chegou um momento em que minha cabeça deu um nó.   Já nem sabia, quem era, tudo é tão automático, estas dopado, tudo que fazes é ruídos, que te pedem, beijas quem não queres, tens que estar sorrindo, quando queres estar em outro lugar.

Mas o idiota, chamava-se a si mesmo, dizia que da próxima vez não se enganaria com o dinheiro que lhe pagavam, acabava sim como sempre sem banca, pois gastava nas drogas.

Várias noites teve que se levantar, pois este tinha pesadelo, ficava segurando sua mão, quando se acalmava, sorria, seguia dormindo.

Um dia lhe perguntou por que fazia isso?

Talvez porque nunca tive filhos, nem parei para pensar nisso.  Tens idade para ser meu filho, se puder te ajudar, ajudo.

Conseguiu na vila uma professora, que o preparou para os exames que lhe faltavam, logo iria à universidade.   Sua preocupação era se o reconhecessem como faria.

Nada, tens que assumir, que fizeste, nada mais, faz parte do teu crescimento.  Se foges pela tangente, caíras nas drogas novamente.   Eu estarei ao teu lado para o que der e vier.

Tinha aceitado dar um curso de escrita de texto e roteiros para cinema na universidade, alugou um apartamento perto.    Muita gente pensou que tinham um relacionamento sexual.  Ficava furioso, ele tem idade para ser meu filho.

Conversando soltou, imagina, eu pensei que ias ter problemas, contigo querem fazer sexo, a mim me condenam, pois, pensam que tenho.   A sociedade é muito hipócrita, agora entendes por que vivo mais retirado.

Joel, surpreendeu os professores, por ser um excelente aluno, o mais inteligente da classe, quando algum companheiro o abordava, perguntava na cara se queria que ele comesse seu cu sujo.    Não tens dinheiro para pagar o meu preço.

Passou a fazer o curso com ele.   Primeiro exercício, era escrever uma texto baseado em sua vida.   Escreveu um tão cru, que os companheiros ficaram com a boca aberta.

Usou os termos que escutava desde criança, para saber que pensavam dele, como um idiota, um sujeito que tinha um corpo estupendo, mas que devia trabalhar no campo, produzir tanto quanto uma máquina, mas que no final do dia, nem um obrigado tinha.

O texto era excelente, o passou para o seu editor, que o leu, ficou pasmo.  

Apresentou Joel para seu advogado, que regulava com ele de idade, este negociou o contrato.

Joel ria, estou ganhando dinheiro com a minha própria desgraça.   Quando quiseram comprar os direitos para o cinema, queriam que ele fosse o ator.

Impossível, estou louco para ir para casa. 

Entendeu o que ele queria dizer por casa.  Mal começaram as férias foram os dois para lá, Joel estava nervoso, lhe perguntou por quê?

Sabe o que é estar o dia inteiro sendo bombardeado, por esses jovens superficiais, que me oferecem drogas o tempo todo.  As vezes não aceitam um não como resposta, tive que sair no braço duas vezes.

Aqui tenho paz.  Tinha comprado um laptop, uma mesa para seu quarto, esse também dava para o mar, estava escrevendo algo que não lhe mostrava.

Uma noite sentados na varanda, lhe segurou a mão.   Tens sido uma pessoa incrível comigo, não sei como te agradecer.   Primeiro pensei em me oferecer sexualmente a ti.   Mas sei que não me vês desta maneira.   Pior me apaixonei, quero viver aqui contigo.

Verás Joel, sou um merda na cama, nunca soube fazer sexo direito, te vás decepcionar.

Só saberemos se tentamos.   Foram devagar, sem preocupação, quando finalmente se viram numa cama, pensou que estava ficando louco, nunca tinha tido prazer assim com ninguém, ainda brincou que isso podia ser pior que uma droga.

Quando pela primeira vez o penetrou, viu sangue, no dia seguinte contra a vontade do Joel, o levou a um médico, depois de todos os exames, disse que os desgarros que tinha sofrido eram iguais de abusos sexuais.  Tinham que reconstruir uma parte do anus, antes que virasse um câncer.

Esteve ao seu lado todo o tempo, durante um tempo teve que usar uma bolsa de colostomia, não o deixou vir abaixo em nenhum momento.

Finalmente depois de muito tempo, voltou a ter vida normal.  Tinha um novo livro pronto, passou para ele.  Contava desde o momento que André Schumer o tinha encontrado sentado na calçada, todo o processo que tinha passado, construindo-se como pessoa.

O livro foi bem aceito pela crítica, mas ao assinar contrato com sua publicação se negava dar entrevista.   Sabia que as perguntas o arrasariam psicologicamente, não estou preparado para isso.  André sugeriu fazer como fazia, pois, odiava isso também.  Escolho sempre os jornalistas mais sérios, que me mandem a pergunta, aviso que só falo sobre o livro. Mas claro, a história é sobre ti mesmo, mas eu estarei contigo.

Pela primeira vez, apareciam juntos, sentados lado a lado, de mãos dadas.

Uma idiota, que tinha se colado através dos editores, fez uma pergunta ridícula, como era fazer sexo com um saco de colostomia.   André se levantou, a pegou pelo braço, a fez sair da sala, avisou ao publicista, avisa ao teu chefe que acaba de perder dois escritores.

Passou o resto do dia sem atender telefone, ao lado do Joel.  Este chorava como uma criança, pois os termos usados por ela tinha sido crus, como ele podia dar o cu, com o saco colocado.

Evidentemente o divulgador perdeu seu emprego.   Mas nunca mais dariam entrevista.

O seguinte livro dos dois, se completavam, falava do mesmo assunto, desde uma ótica diferente, André escrevia sobre como os meios de comunicação tinha virado uma coisa superficial, mas contava usando a história da própria entrevistadora, que ele foi rebuscar no lixo.   Quando publicou, está o quis processar.   Mas foi desaconselhada pelos próprios advogados.

Joel ao contrário, escreveu sobre as Fakes, pois tinha conhecimento de como funcionavam, uma notícia nunca era certa, ao ser expandida, se ia acrescentando cada vez mais, formou um personagem que sofria como um bullying de fakes, ao final já nem sabia o que era de verdade, não lhe restando escapatória, senão acreditar nos outros, pois ele mesmo tinha se perdido.

Os dois livros fizeram um sucesso imenso.   O do Joel, quiseram comprar para fazer um filme, ele aceitou, desde que o roteiro fosse dele como André.

Depois disso, foram os dois de férias, fazer uma viagem que os dois tinham construído o roteiro, tipo sem lenço nem documento.

Mas voltaram no meio da viagem, no momento mais feliz, quando Joel, pediu ao André, em casamento, não imagino minha vida sem ti.

Estavam viajando num carro, quando desceram numa posto de gasolina, André viu que Joel sangrava pelo anus.   Ele próprio não estava sentindo nada.

O jeito foi comprar um tipo de fraldas que usavam as pessoas de idade, voltarem para casa, ao hospital.    Tinha um tumor, que apesar da operação, tinha aparecido, novamente usar as bolsas, um novo martírio, mas não saiu de seu lado.  

André não podia conceber sua vida sem o Joel.  Tinha chegado a um limite no relacionamento deles, que se completavam até escrevendo.

Foi um processo doloroso.  Quimioterapia, direto, ele foi vendo aquele homem imenso, ir definhando a cada dia, ao final somente poderia aguentar com as drogas.

Joel se negou, eu não sai delas, para retornar ao fim da minha vida, é humilhante.  Seguiu escrevendo morto de dores, mas escrevia, quando lhe perguntava o que, lhe dizia, quando que já não esteja aqui, podes ler.

Dormia agarrado ao André, esse um dia despertou, estava frio, tinha morrido durante a noite.

Quando leu o que ele tinha escrito, chorou, tinha construído um personagem que escapa do processo de degradação, para retornar ao mesmo, para morrer.  Era um livro sem compaixão nenhuma, para que nunca lhe dissessem pobre de fulano.

Se ele conseguisse publicar, que esse dinheiro fosse para ajudar a jovens que saiam das drogas.

No dia do seu enterro, a quantidade de jornalistas era imensa, mas tinha pedido uma cerimônia simples, a pouco tempo tinha se reconciliado com a religião, como André era judeu, tinha se convertido.   A polícia foi chamada para colocar ordem.  Ele foi cremado, suas cinzas espalhadas pelo caminho que descia da casa deles até a praia.

André, passou a partir desse momento, horas olhando o que tinha escrito antes, vários livros sem publicar, modificando o mesmo, fazendo com que seus personagens fossem mais crus com a vida, nada era uma fantasia.   Nunca os finais seriam felizes.

Quando voltou a publicar, foi justo no momento que voltava a dar conferências, lhe perguntaram sobre isso.  A pergunta era capciosa, como um autor chega a isso.

Sua resposta foi, as primeiras histórias devem ter sido como os contos de fada, amaram-se para sempre, comeram perdizes.

Mas se pegamos a Bíblia, sacrificaram Jesus, depois os que lhe seguiam eram sacrificados nas arenas de Roma, como Pedro, depois veio a inquisição, as guerras nunca cessaram.   Quem pode dizer que depois das guerras, os que sobram por aí, tem um final feliz.  Se consegues ver assim, parabéns vives numa utopia.    Porque na verdade, desde que nascemos, estamos fazendo um esforço imenso para sobreviver a tudo.

Estava falando, em seguida do seu processo de escritura, que tinha uma quantidade de textos basicamente prontos, mas aos quais ele exercia o poder de revisar continuamente, conforme andava o mundo.

A mesma pessoa lhe perguntou por quê?

Bom, se paras para pensar, depois de um livro editado, não sou mais proprietário do personagem, ele ganhou vida própria, pode sair pelo mundo, distribuindo porradas a torto e direito.    O mesmo se paras para pensar, o governo não assume que os feridos, incapacitados, os que viram o horror da guerra.  Nunca poderão realmente se sentir como se nada tivesse passado, escondem dentro de si, feridas que jamais serão curadas.   Podem cometer crimes, como alguns que eu já descrevi, sem remorso nenhum.

Virou-se para quem fez a pergunta, o senhor, já cometeu algum crime, ou sofreu alguma coisa, ou passas pela vida como se tudo fosse um mar de rosas?

O homem se levantou, ficaram se olhando nos olhos, não perdi toda minha família, inventei um outro personagem para poder sobreviver, mas cada vez que leio seu livro, o li várias vezes, vejo que errei, em não aceitar que o que aconteceu foi real, pois o vazio é imenso.

Depois da palestra se aproximou, se apresentou. Gustav Adolf, tinha sido um grande atleta, tinha perdido toda sua família num acidente, o único que se salvou, tinha sido ele que vinha deitado no banco detrás dormindo.

Quando despertei estava no hospital, entubado, sem saber nada, todo que tinha em minha volta era branco, como significasse que estava igual, vazio.

Durante minha infância, juventude, sacrifiquei tudo pelo esporte, não tinha tempo para ter amigos, quando não estava treinando, estava estudando para conseguir uma bolsa de estudo por esporte.  Fui esportista olímpico, depois de competição.  Estava sempre como meus pais e meu irmão menor, que acreditava que eu era invencível, mas o acidente trucou tudo, perdi o movimento das pernas, tive que fazer várias operações, aprender a andar.  A única coisa que valeu a pena, foi esse personagem que criei, que tinha estudado, tinha um titulo universitário, mas que sua profissão não era a que queria, nos únicos momentos vagos da infância, adolescência e juventude como atleta, estava sempre com um livro na mão, criando fantasia, mergulhava nas histórias, como se elas fossem reais, sempre tudo acabava bem.

O bem, vencia o mal, eram sempre felizes para sempre.   Quando li os livros do Joel, depois os seus, vi que nada do que eu pensava era real.   Comecei a me cobrar, fui a psicólogos, a terapeutas, para esclarecer minha cabeça, alguns me tentavam fazer, ver o lado positivo da vida, mas eu tinha medo, medo de perder tudo outra vez.

Esse seu livro fala da perda, essa é a questão.   Pelo que o senhor fala, habitavam o paraíso, mas cada vez que saiam a crua realidade o atingia de frente.  Isso me acontece sempre, cada vez que alguém me reconhece, ao mesmo tempo se lembra do que me aconteceu, impossível esquecer, é como a sociedade não te deixasse ir em frente, colocasse uma ancora, tens que ficar aqui maldito, sofra.

Muitas vezes pensei no suicídio, mas sou covarde, nunca passei dos planos. Não perceberam que tinham saído do recinto, continuavam caminhando lado a lado, conversando.  Sentaram-se numa das muitas praças da universidade.   Se viam os jovens correndo, rindo, se beijando, saindo em carro do local.    A pergunta que me faço, eles são felizes, estão preparados para o que vem depois.

Depois alguns se casam, formam família, apreendem a sobreviver juntos, lutam, amam, desamam, sorriem, choram, se desesperam, a vida é isso um contínuo movimento, como as ondas, quem dizia isso era o Joel.

Por isso com ele, aprendi a fazer desse momentos raros, como se esticássemos uma goma, ele ia pedir que eu me casasse com ele, achava que isso nos faria eternos.

Se esquecia das nossas diferenças de idade, eu poderia ser seu pai, mas o amava acima de tudo, pois me ensinou a amar de novo.   Antes de morrer me dizia que eu não devia ficar sozinho, que devia compartilhar o que escrevia.    Um dos motivos por que escrevo, reescrevo, nem sei se tudo que tenho guardado, um dia será publicado, mas não importa, foram maneiras minha de me expressar, de criar vida para meus personagens.

Hoje tento que sejam reais, como uma maneira de irem sobrevivendo dia a dia, choro com eles, quando leio suas histórias, pois deixaram de ser minhas, estão guardadas, mas estão vivas.

Sorriam um para o outro, olhou para o relógio, tenho que ir, meu caminho é longo até em casa, a não ser que querias vir comigo.  Gustav se levantou como num salto, claro que sim, mas só tenho essa roupa.

Tens meu tamanho te empresto algo.

Chegaram à noite estava fechada, mas a lua brilhava sobre a pequena baia.  

Gustav soltou que quase podia ver como o Joel a descrevia.

Ficaram conversando na varanda, um bom tempo, depois o levou até o quarto de convidados, lhe instalou.

Fazia muito tempo que não dormia assim, relaxado, como se o fato de ter falado tanto o deixasse a descoberto.

Quando despertou, não viu movimento nenhum na casa, se levantou, Gustav não estava dentro de casa.  Passou por sua sala de trabalho, tinham removido a mesa, as pessoas quando são sistemáticas tem tudo em ordem.  Tinha um segredo, seus texto ficavam guardados num cofre imenso, atrás de uma estante que se movia.

Olhou para a praia, o viu sentado numa pedra.   Desceu até lá, com duas canecas de café.

Desculpe, levanto cedo, sem querer, fui ao teu escritório, ser se tinha algum texto novo, para ler, mas não encontrei nada.

Sorriu, nunca deixo nada a vista, quando vou de viagem, guardo tudo.

Fiquei curioso por se acaso tinha algum texto do Joel.

Sim, tem, uma cópia está com o editor, a outra num cofre num banco.

Posso ler?

Não, só depois de publicado.

Estás diferente?

Hoje de manhã, me lembrei de aonde te tinha visto antes.   Estavas no hospital, quando Joel esteve internado pela primeira vez.   Ele comentou que uma pessoa tinha entrado no quarto, para falar de seus vídeos.

Achou estranho, se dizia seu fã.

Qual a tua ideia se aproximando de mim?

Queria saber que tipo de homem pode amar tanto uma pessoa que se submeteu a tanta violência.

Por favor te vista que te levo a cidade.   Estava furioso, se sentia invadido em sua privacidade.

Depois de o levar até a entrada da cidade, apesar de saber que não o deixaria em paz, alguma coisa o inquietava, qualquer coisa não encaixava.

Tomou uma decisão, retirou todos os textos que estavam no cofre, textos não publicados, os levou a um banco, alugou duas caixas imensas, guardou tudo lá.

Seguiu seu instinto, mandou colocar um sistema de segurança, reforçou portas, janelas, avisou ao xerife.

Foi para sua casa de Malibu.   Dias depois, entregou um texto que estava trabalhando para a continuidade de uma série, resolveu terminar a viagem que tinha começado com Joel.

Estava em Barcelona, pronto para embarcar para Tel Aviv, quando o xerife conseguiu falar com ele.

Gustav tinha tentado entrar pela segunda vez na casa, mas desta vez o tinham pegado em flagrante, queria saber o que devia fazer.

Disse que essa pessoa o estava acossando, que o deixasse de molho, procura-se saber se tinha estado em algum hospital psiquiátrico.

Embarcou para Israel, aonde ficou mais tempo que pensava, acompanhando uma história, que lhe dava margem a escrever um livro.   Um casal que raptava bebês, ou os comprava, para jovens casais ultra ortodoxos, que eram parentes consanguíneos, para evitarem terem filhos com problemas.

Como sempre se desligou o celular, para poder se dedicar corpo e alma a história.

Só quando voltou carregado de anotações, reportagens, entrevistas que tinha feito, algo de texto começado sobre essa nova história, que soube que o xerife o tinha chamado várias vezes.

Tinha descoberto que Gustav, nem se chamava assim, era o irmão mais jovem que tinha sobrevivido ao acidente, usurpando a identidade do outro.  Estava internado, mas tinha pedido que fosse vê-lo.    Só falaria com ele.

André tomou seu tempo, escreveu sobre a história de Israel, sabia que havia um personagem que tinha desencadeado tudo isso, que vivia em NYC, pediu uma entrevista, enquanto aguardava, escreveu, reescreveu a história, analisando de vários ângulos, inclusive falava do casal, a mulher tinha morrido de um enfarte, mas seu marido, o rabino que comandavam essa rede, estavam presos, os tinha entrevistado.   O rabino, era completamente fora do normal, um homem de quase dois metros de altura, cabelos imensos, um olho verde, outro azul, se achava um enviado de deus, para criar uma comunidade perfeita.

Levantou toda sua história, de aonde tinha saído esse homem.  Ao final foi descobrir, que sequer era judeu, tinha vindo da Rússia, escapando do regime.  Se fez passar por judeu, acabou acreditando na sua própria versão.  Estava condenado a cadeia perpetua, por roubo, por instigar as pessoas a cometerem um grave delito.

Quando foi a NYC, entrevistar ao personagem que sem querer tinha destapado tudo, foram três dias de conversa, principalmente como ele tinha conseguido sobreviver a tudo isso, como tinha sem querer descoberto que não era filho do casal.  Sim um garoto comprado, só não tinha sido adotado, pois pensavam que a mãe era viciada em drogas.   O que não era certo, depois de uma análise de seu corpo.  Tudo tinha sido doloroso, mas tinha superado, inclusive encontrado seu pai verdadeiro.

Ficou ainda dois dias no hotel, escrevendo tudo isso.

Tinha avisado ao hospital psiquiátrico que iria visitar o Gustav.  Embora soubesse que esse nome não era o seu verdadeiro.

Lhe retificaram no hospital, ele na verdade se chamava Xavier Adolf, pois tinha nascido em Barcelona.  A diferença de idade entre os irmãos era grande.   Quem primeiro tinha desconfiado dele, tinha sido o terapeuta, pois não tinha músculos de atleta, tampouco sua massa muscular condizia.   Foi quando desapareceu, assumindo a identidade do irmão.

Conversou muito com o médico que acompanhava o caso.  Se negou a contarmos sua versão, disse que só a contaria ao senhor, porque o entenderia.

Quando o viu, ficou com uma certa lastima, o homem que tinha conhecido, tinha os olhos brilhantes, esse eram apagados.

Ah dois dias que não permito que me deem medicamentos, queria estar com a cabeça despejada quando falasse contigo.

Mal ele se sentou, com uma voz de comando, lhe disse que gravasse ou anotasse tudo.

Ele fez os dois ao mesmo tempo, seria importante depois escutar a voz falando.

Tudo começou quando nasci, meus pais não queriam mais um filho, pois tinha o outro para treinar, educar.  Viviam de explorar sua capacidade técnica, era um adolescente pronto para conquistar o mundo do esporte.   Podia correr, disputar triátlon, competição de natação.

Fui relegado a segundo plano desde bebê, me alimentava, mas eu era um espectador de tudo que acontecia.  Mal tive infância, ou adolescência, estávamos sempre nos movendo de um lado para o outro, foi Gustav quem me ensinou a ler, escrever, me passava seus livros, discutíamos as histórias de noite, no escuro do quarto, em sussurro.  Pois se nos pegasse acordados, era eu que levava a surra, por estar incomodando a ele.

Mas me defendia, uma vez tentou que pelo menos me internassem numa escola, para estudar, diziam que não queriam gastar dinheiro da sua aposentadoria com um inútil.

Porque para o esporte eu não tinha tendência nenhuma, não gosto de nadar, correr me parece uma inutilidade, as outras coisas nem de longe.

Gustav estava farto de tudo isso, queria ter sua própria vida, construir seus sonhos, descobriram que estava tendo uma relação com um companheiro, fizeram um escândalo enorme, o outro era que tinha corrompido seu bibelô.

Quando o acidente aconteceu, íamos de uma competição a outra, discutiam porque Gustav tinha ficado em segundo lugar, não em primeiro.  Eu estava sentado atrás, farto de tudo isso, foi quando o filho da puta do velho soltou que se pelo menos eu não fosse um inútil, se tivesse alguma capacidade atlética, eles poderiam ter sua aposentadoria de ouro, que tinham tido o Gustav simplesmente para isso.   Eles eram descendentes de raças pura, claro eram alemães, acreditavam em Hitler, daí o nome do Gustav.     O sobrenome Adolf nem existia, tinha sido inventado por eles, como uma homenagem ao seu ídolo.

Mostraria sempre ao mundo que eram uma raça superior.   Que eu devia ter genes errados, ou me tinha trocado no berçário, pois era mais moreno, olhos castanhos, nada parecidos com os deles.   Gustav teve um ataque histérico, começou a gritar que parassem o carro, estávamos numa estrada cheia de curvas.

Com a ideia de parar o carro, agarrei o pescoço do nosso pai, o comecei a estrangular com todas minhas forças.   Gustav lutava com ela, tentando abrir a porta do furgão, que era ao mesmo tempo tudo o que tínhamos, vivíamos basicamente nela.  Nada de gastar dinheiro com hotéis, restaurantes de primeira, nada.

Fui apertando cada vez mais o pescoço dele, até que este estalou, o furgão ficou descontrolado, caímos por um barranco imenso.  Caiu de frente no chão, muito mais abaixo.  Os que estavam diante morreram no ato, menos meu pai que já estava morto.

Eu adorava o Gustav, por um acaso estava com a camiseta do último campeonato que participara, então me confundiram com ele.   Deixei, até que o fisioterapeuta descobriu que não era desportista.

Desapareci no mapa, troquei de nome definitivamente, assumi tudo dele, consegui recuperar o dinheiro que meu pai tinha escondido,  nunca dariam nada para o Gustav, não sei o plano que tinham, se era matar os dois, para usufruírem a vida deles simplesmente quando ele deixasse de render, ganhar dinheiro nos colocassem na porta da rua.

Foi quando li os livros do Joel.    Me apaixonei por ele, ao saber sua história, procurei pelos vídeos, me sentia loucamente enamorado, me masturbava todas as horas, olhando esses vídeos.

Quando soube que estava no hospital, fazendo a operação, fui lá.  Esperava que saísse, para tomar um banho, ou resolver alguma coisa, para me aproximar.

Consegui falar com ele, me declarei.    Ficou muito assustado, disse que eu fazia confusão, que ele não estava mais nessa vida, lhe ofereci dinheiro, mas disse que te amava, que por nada no mundo ia te perder.

Passei a observar de longe, como o cuidavas, senti inveja dele, nunca ninguém tinha me tratado assim.

Depois vocês desapareceram, só voltaram a aparecer quando lançaram os livros falando do mesmo assunto com visões diferentes, fui a entrevista.

Mas tornaram a desaparecer, quando ele morreu, fui a cerimônia, mas não me deixaram passar, eu não entendia, o amava, talvez mais que tu a ele.

Finalmente consegui me aproximar, não dele como queria, mas de ti.   Queria saber se no novo livro, ele falava do nosso encontro?

Não, estendeu para ele o último livro do Joel.   Em momento algum fala de ninguém, fala sim do sentimento de saber que vai morrer, não tinha desta vez por aonde escapar.

Fala da frustração de ter suplantado mil coisas, do amor, da petição de casamento que me tinha feito.   Nos casamos no último dia que estava lucido, no hospital.   Depois fomos para casa, ele queria morrer lá.

Sei que o salvaste de si mesmo, esperava quando te encontrei isso, mas claro minha curiosidade era maior, por isso mexi nos papeis, para ver se encontrava alguma coisa.  Pensei que o tinha impressionado.

Ele só me comentou que um homem o tinha ido ver, que lhe tinha proposto viverem juntos, para fazerem sexo.    Mas ele, tinha passado por uma operação dolorosa, usava a bolsa, não podia pensar nisso.

Como desconfiaste de mim?

Alguma coisa não encaixava, resolvi atender aos meus instintos.

Tinham sido dois dias conversando, Xavier, me contou detalhes da vida dele como irmão, que ao não ser permitido que tivessem amigos, Gustav, tinha relações sexuais com ele, por isso o amava tanto.

Ia para a terceira entrevista, quando o hospital me avisou que tinha se suicidado, como o vimos mais relaxado, imaginamos que não precisava de tanta vigilância.

Fui o único presente além de advogado, médicos, enfermeiros ao seu enterro, ficaria num tumulo raso ali mesmo no psiquiátrico.

Quando acabou o livro sobre o caso de Israel, o revisou como sempre mil vezes, mandou uma cópia para o rapaz de NYC, quando deu visto bom, publicou o livro.

Só então mergulhou na história de Gustav/Xavier, começou a buscar indícios sobre seus pais, foi relativamente complicado, pois os dois tinham mudado de nome ao entrarem nos Estados Unidos como emigrantes.    Pertenciam a uma célula Neo-nazi, afincada nas afora do Estado de New York, no campo, uma pequena vila.

O pai, tinha vivido toda sua vida, na Europa de leste sobre o mando comunista, colaborava para sobreviver, até que conheceu sua mulher.  Quando fugiram delinearam seu plano, um filho que pudesse levar o nome do venerado Adolf Hitler, dai o sobrenome Adolf.

Realmente o segundo filho não era esperado, fizeram um escândalo, pois a criança segundo os dois não se parecia com eles.   A paixão do irmão mais velho pelo pequeno, muitos outros atletas confirmaram em entrevista, que Gustav estava sempre ensinando seu irmão, que os dois estavam sempre com algum livro na mão, discutindo a história que liam.

Que o pai, quando os pegava fazendo isso os ameaçava, mas falava alemão o tempo todo com os dois.

Um deles comentou que uma vez tinha visto Gustav com outro atleta nos chuveiros, lhe deu o nome.

Este a princípio negou tudo, mas depois o foi visitar no hotel, não podia falar em sua casa, pois estava casado, tinha filhos.   Contaria se ele prometesse nunca colocar seu nome na história.

Contou que tinham se apaixonado, mas que o velho fez um escândalo, quem nos denunciou foi Xavier, pois Gustav lhe contou que tinha com ele, relações sexuais, pois o pai, nunca permitia que tivesse com outros.

A família nas últimas competições, aonde Gustav ganhava muito dinheiro, discutiam por isso, vi seu pai lhe ameaçar com um cinturão, não entendia por que não se defendia, pois era mais alto, mais forte.  Talvez porque tinha que proteger Xavier.

 

Levei um tempo para refazer minha vida, seu pai sempre tentava boicotar minha presença em alguma competição.   Na sua última competição, perdeu justo para mim, creio que fez de propósito, pois era melhor do que eu.

O velho montou um escândalo, não aceitando o resultado.    Realmente podem ter feito um engano, pois todas as roupas do Gustav, depois passavam para o irmão.    Este o seguia como um cachorro, ansiando por um instante de atenção, pois os pais o ignoravam.   Vi muitas vezes em algum restaurante, que ele comia a comida deixada de proposito por Gustav, ou comia o resto dos pais.   Seu ódio por eles devia ser imenso, principalmente pelo velho que os maltratava os dois.    Pelo que Gustav me contou, não tinha acesso nenhum ao seu dinheiro, pois o velho controlava tudo.   Imagine a figura da mulher, com os cabelos loiros esticados, ao máximo, apertados num coque, como uma professora solteirona.  Claro entre eles estava o Xavier.   

Fui a cidade na antiga Alemanha de Leste, de aonde tinham saído.  Todos os dois tinham sido jovens da juventude Hitleriana, depois da guerra, ficaram do outro lado do muro, ela se casou com um médico, ele era da polícia.

Ela usava o que descobria através do marido, para denunciar as pessoas, ele era seu contato, se transformaram em amantes.

A última vítima dos dois foi justamente o médico, que foi assassinado, antes de fugirem.

Ele tinha preparado documentos que trocavam seu sobrenome para Adolf como uma homenagem a Hitler, coisa da cabeça deles.    Quando perceberam que o filho tinha possibilidades, ele que nunca parava em emprego nenhum pois se considerava superior aos demais, viu nisso uma oportunidade.  Gustav não tinha escapatório, estava fadado a ser o maior.

O Xavier, ela o teve durante a menopausa, quando descobriu que estava gravida, não com um problema que a fazia engordar, não podia abortar.

Fizeram inclusive teste de ADN, para saber se o garoto era mesmo filho deles.  Mas o consideraram um estorvo.

Na Alemanha, quando se tocava no nome dos dois se falava horrores, de famílias que tinham perdidos familiares, das chantagens que faziam, alguns gritavam inclusive “filhos da puta”.  Que tinham denunciado o marido dela, como informador dos americanos, pois tinha familiares na américa.

Escreveu o livro, analisando cada personagem, o retorcido que era a família.

Decidiu que seria seu último livro, já estava com muito idade, pois se movimentar tanto para saber a verdade era complicado.

Se isolou na casa, destinou seu dinheiro para ajudar aos que necessitavam, como tinha pedido o Joel.

Viveu o resto de sua vida tranquilo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  

 

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