HAKAN MEHMED
Sempre levei a
sério o meu nome, mas mais por culpa de meu pai, que dizia que eram
importantes. Era um grande comerciante
Turco. Sou filho do seu segundo
casamento, do primeiro tinha cinco filhos homens, dizia a todo mundo era
potente, pois só tinha filhos homens. Quando ficou viúvo, foi de férias a Mykonos,
aonde conheceu minha mãe, que era de uma quarta geração de turcos na
Alemanha. Tinha a pele muito clara, olhos castanhos
claros, um sorriso genial. Quando
nasci, todo mundo queria me ver, pois nasci com um olho negro como os dele,
outro claro como o delas. Virei o
brinquedo dos meus irmãos mais velhos.
Como quem cuidava
dos outros era uma irmã de meu pai, minha mãe exigiu uma casa a parte, aonde
mandasse ela. Era uma mulher europeia,
moderna, atual, lia jornais, fumava, gostava imensamente de música, na verdade
não tinha nada de turca. Tampouco era
religiosa, coisa que provocava verdadeira briga entre os dois.
Herdei dela a
paixão pelos livros. Comigo só falava
alemão, o que foi uma vantagem, pois aprender línguas ficou fácil. Vivíamos perto do Grande Bazar, aonde ele
tinha muitas lojas, da universidade.
Mas o que eu gostava mesmo, era que ao lado do Grande Bazar, existia um
mercado de livro. Era minha paixão,
logo conheci um senhor Irani, Bahar que me ensinou a ler, escrever em Farsi. Me conseguia livros antigos manuscritos, que
eram a minha paixão. Era um adolescente
diferente, não me interessavam os jogos, os negócios familiares. Alguns da família me criticavam, mas meu pai
me defendia.
Queria que um
filho fosse a universidade, que ele não tinha podido fazer, seus outros filhos,
estavam fadados aos negócios.
Um de meus irmão
levava uma loja de antiquário especializada, a cada nova compra, mercadoria que
chegava de algum lugar do oriente, me chamava para apreciar com ele, se tinha
alguma coisa escrita em outra língua eu era o encarregado de descobrir, para
que ele tivesse um ponto a mais de venda.
Com isso acabei
falando quase todas as derivações da língua árabe, entendia o significado da
escrita. Mas minha mãe não descuidava, me obrigou a
estudar, inglês, que ela falava corretamente, bem como o francês. Um sonho ela compartia com meu pai, que eu
fosse a universidade.
Fomos visitar sua
família em Berlin, voltei carregado de roupas europeias para ir à
universidade. Essa estadia, passei o
tempo todo falando alemão, meu pai, coitado ficava de fora, pois falava muito
mal. Sentava-se a seu lado, ia
traduzindo o que ele não entendia, este colocava o braços em cima de meus ombro
como gostava, sorria.
No primeiro dia
da universidade, todos me olhavam, pois ia desde sapatos feito a mão, a roupas
de primeira. Creio que foi quando tomei
gosto por isso. Minha mãe sempre dizia
uma coisa, ande sempre limpo, asseado, com as roupas limpas, as camisas têm que
estar perfeitas. Me ensinou como passar
as mesmas para que ficassem perfeitas. Tinha aulas de filologia, além de história, a
qual eu sabia tudo na ponta da língua.
Minhas notas eram ótimas, só durante o período depois da morte de minha
mãe, é que caíram um pouco. Fiquei
abalado, mas pior ficou meu pai, que criou uma dependência de mim imensa. Se negava a ficar na casa de nenhum de seus
filhos. Consegui contratar uma senhora
que fazia limpeza na universidade para pelo menos limpar a casa. Saia da Universidade, ia correndo para casa,
depois o levava a comer no restaurantes de amigos dele. Mas estava cada vez mais triste, ficava
sentado no salão que não tinha nada do estilo árabe, mas sim europeu, olhando a
poltrona aonde ela se sentava para ler, ou conversar com ele, a cada dez
minutos soltava um suspiro.
Conversava com
ele, sobre a história do pais, sobre os antigos Sultanato, ele sabia tudo, te
deixarei algo de herança. As vezes pela
tarde ia a loja do meu irmão, o arrastava comigo, este não gostava muito, pois
em seguida estava examinando seu livro de contabilidade.
Se estávamos no
Grande Bazar, me fazia ir com ele a todas as lojas que lhe pertenciam, vigiava
que não lhe roubassem. Mas no final do
dia, íamos tomar chá com meu amigo Bahar, ele se divertia nos vendo conversar
em Farsi, ou quando eu apreciava algum manuscrito que tinha conseguido para
mim.
No dia que
começou a passar mal, estávamos ali sentados, ele tinha conseguido através de
um conhecido em Teerã, um manuscrito, que falava de Mehmed o fundador da
dinastia em Constantinopla.
O levei
imediatamente para o hospital, enfiei o pequeno manuscrito no bolso me esqueci
dele. Do hospital ele não saiu. Era uma
verdadeira romaria, não só dos meus irmãos, como de seus filhos, amigos dele,
homens com quem tinha tido negócios a vida inteira. A maneira como se comportavam, eram como se
despedissem de um patriarca.
Seu enterro tinha
muita gente, a maioria tinham negócios com meus irmãos, quem vinha falar comigo
eram os professores da universidade, alguns tinham sido ajudados pelo meu pai.
Um advogado me
estendeu seu cartão, me disse que depois da leitura do testamento, eu fosse
falar com ele em particular.
Quando fomos a
leitura do testamento, a cada um deixou a loja que já cuidava, me deixou as
lojas que tinha no mercado do livro, pedia desculpas, mas os aluguéis eram
antigos, a casa que vivia que estava na verdade em nome de minha mãe. Teria que me apanhar, pois claro os outros
ficavam com muito mais dinheiro. Mas
não disse um pio, não reclamei, me faltavam meses para terminar a Universidade,
pensava em ir fazer um curso seguinte em Berlin.
Agora à primeira
vista não tinha dinheiro para ir fazer nenhum curso. Tentaria conseguir uma bolsa de estudo, mas
claro isso tinha sempre uma cunha política.
Um irmão de minha mãe tinha oferecido sua casa. Mas claro precisava de dinheiro. Os aluguéis não dariam para me manter
lá. Nem me atrevia pedir aos meus irmãos.
Me lembrei do
cartão do advogado, me recebeu prontamente, eu achava estranho, pois era muito
jovem, o do testamento era o seu advogado de toda vida.
Me explicou que
seu pai tinha sido funcionário do meu, toda vida, que levava uma das lojas de
tapetes. Ele pagou os meus estudos, reclamava dizendo que teus irmãos, eram
bons negociantes, mas não se interessavam pelos estudos.
Era uma verdade,
o que tinha a loja de antiguidade, me soltou na cara, que meu futuro seria
levar uma das lojas de livros, que não davam muito lucro.
Me estendeu, duas
caixas, uma grande, outra menor. Me
disse que o mais importante era a menor, que a abrisses na sua frente. Ele sempre tinha sido um apaixonado por
caixas de madeira, essa tinha um texto em Farsi, ele sabia que tinha paixão por
esta língua. Um texto falava do
futuro. Quando abri a caixa, tudo que
tinha eram uma carta, bem como uma chave.
A carta explicava
a outra caixa, diziam que eram diários de nossos antepassados, que eu
entenderia quando começasse a ler, a chave era de um apartamento em Berlin, que
tinham comprado na última visita, assim quando fosse para lá realizar meu
sonho, teria aonde ficar. Deves acompanhar o advogado ao banco, falava o nome
do mesmo. Era a filial de um banco
alemão, pedia desculpas que não era muito dinheiro, mas eram economias dele e
de minha mãe.
Fui com o
advogado, realmente não chegava aos pés do dinheiro que tinha ficado para meus
irmão, mas em contrapartida, me daria para começar em Berlin.
Como já tinha
aonde ficar, me dava autonomia de vender a casa dali, que isso eu nunca faria, ou
mesmo as lojas. Sabia que não valeriam
nenhuma fortuna.
Tinha minhas
economias também, fui até Berlin, numa viagem barata, fora de estação para uma
entrevista com os professores. Logo me
aceitaram, um em especial, que disse conhecer meu tio, me disse que poderia
conseguir, se eu trouxesse meus diplomas, que desse as classes de Farsi, embora
houvesse poucos alunos.
Aceitei, embora
não fosse muito dinheiro, era algo.
Fui ver o
apartamento, não era tão grande como nossa casa, é claro, uma sala
relativamente grande, pois estava sem móveis o que era bom, mas tinha uma
janela imensa que dava para um parque, o quarto era bom, bem como o banheiro,
um dia o reformaria, mas agora dava para o gasto, além de uma pequena
cozinha. Estava no meio de um bairro
de maioria turca. Então teria aonde comprar comida, bem como muitos
restaurantes.
O mesmo
professor, me soltou, se queres impressionar, já que te veste de maneira
europeia, corte os cabelos, raspe essa barba que caracterizam os turcos, te
comportes como um alemão. Chegaria à conclusão de que ele tinha toda razão, mas
claro, no bairro, tinha que falar turco para me entenderem, pensavam que eu era
um alemão pobre.
Voltei a
Istanbul, me despedi da família, pedi ao meu amigo Bahar, que fosse viver na
minha casa, que cuidasse dela, que continuasse me mandando os manuscritos que
sabia que eu gostava.
Aluguei um carro,
para levar meus livros, misturei os manuscritos no meio deles, para disfarçar, fui
cuidar da minha nova vida.
Só me dei conta
que não tinha aberto ainda a caixa dos diários de meus antepassados, quando
comecei a colocar os livros no lugar. Um vizinho me ajudou a montar as estantes,
tinha comprado os moveis todos em IKEA, esse riu comigo, dizendo um intelectual
turco, vai ensinar os alemães. Quando
abri a tal caixa, primeiro senti o cheiro dos livros, alguns eram ainda folhas
de pele de cabra, outros, tinham a capa belíssima, toda com um trabalho
artesanal, um papel suave, frágil. Os
fui arrumando por época, seria material do meu estudo dai por diante. Colocando
a roupa no armário, descobri o último manuscrito. Era mais ou menos da mesma época dos
primeiros que tinha herdade de meu pai.
Quando fui
devolver o carro, o lugar vendia carros de segunda mão, fiquei apaixonado com
um velho Volkswagen de 1970, sua proprietária o tinha guardado numa garagem,
tinha o motor perfeito, era vermelho sangue, perfeito para mim.
Comecei tudo ao
mesmo tempo, a estudar, dar aulas, quando descobriram que falava quase todas as
nuances da língua árabe, me saíram mais classes.
Um dia estava
saindo da aula de Farsi, tinha um homem me esperando fora, se identificou como
sendo da biblioteca Estatal de Berlin, se apresentou como Hans Shueber, o
convidou para um café.
Começou com uma
conversa longa.
Senhor Hans,
vamos direto ao assunto, pois tenho trabalho a fazer, nunca perco meu tempo em
estender um assunto que não entendo.
Necessitamos de
alguém, para desenvolver um trabalho junto a quantidade de manuscritos que
temos em Farsi, as derivações de árabe antigo dos países que estiveram sobre o
julgo da União soviética. Podemos
contratar por horas ou mesmo como um emprego fixo.
Podemos lhe
mostrar o que temos, se lhe interessa, negociamos. O senhor acabaria sendo um funcionário do
governo.
Primeiro prefiro
dar uma olhada no que os senhores possuem, mesmo tendo que assinar um termo de
confidencialidade.
Tenho meu tempo
atualmente empregado, entre dar aulas, ter aulas de pós-graduação, bem como
textos de diários que herdei da família, que remontam a muitos anos atrás. Bem como sou devoto de manuscritos em Farsi,
bem como das outras línguas. Tenho um
pequeno acervo a respeito.
No momento
trabalho em um sobre a construção de uma mesquita em Teerã, que além de
desenhos, constam medidas, projetos.
Caramba, eres
justo a pessoa que procuramos. Te aconselho a registrar tudo que seja de sua
propriedade ou ter num cofre, sempre é bom ter uma proteção.
Marcou com Hans
para o dia seguinte a tarde, que teria livre.
Não podia reclamar, as coisas iam bem.
Falava com o seu amigo, cuidador de sua casa. Este lhe contou que um de seus irmãos tinha
ido falar com ele. Mas os conhecendo,
tinha deixado um papel com o Bahar, uma cópia com o advogado, em que explicava
que o homem tomava conta de sua casa.
Falou por acaso,
para ficar tranquilo com o advogado.
Esse disse que esse mesmo irmão o tinha procurado para discutir se não
tinham direito a essa casa. Quando soube
que sempre estivera em nome de sua mãe, não gostou muito. Qualquer coisa te informo.
Foi a Biblioteca
Estatal, no dia seguinte, disse que tinha hora marcada com Hans Shueber, o
levaram a uma parte subterrânea, aonde ele tinha um escritório, todo fechado
por vidro, a temperatura ambiente era própria para conservação dos livros. Parou na entrada, sentido o cheiro dos mesmo,
era como lhe dizer seja bem-vindo.
Hans lhe
apresentou ao diretor da biblioteca, estiveram conversando, lhe passaram um
manuscrito, ele em seguida começou a ler, quase se esquece da presença dos
outros. Leu o que estava escrito em alemão.
Explicou que havia uma palavra confusa, que ele podia ter duas
interpretações, mas creio que é como a pessoa o escreveu. Veja, foi apontando as palavras, anotando a
parte as mesmas, elas formam uma mensagem a quem for ler o manuscrito.
A ideia que esse
manuscrito, que discorda de uma séries de medidas tomada por um Íman, no ano de
1820, se refere a construção de uma mesquita que não estaria voltada para Meca.
Como, deixasse um
rastro de código para se poder ler o que escreve.
Tínhamos
consultado um imã, vimos que observou algo, mas se calou, como se nós
quiséssemos interferir em alguma coisa deles.
Perguntaram de
sua disponibilidade. Ele tinha analisado
com seu travesseiro no dia anterior, suas opções. Umas das turmas não lhe interessavam, pois
os alunos não estavam verdadeiramente interessados no tema, o professor que ele
estava substituindo, o levava de rédeas frouxas.
Posso negociar
isso, apenas necessito das manhãs, posso começar a trabalhar a partir das dez, dois
dias tenho aulas, três dou aulas, mas necessito 4 horas de noite para trabalhar
em casa.
Lhe ofereceram um
salário, bem como um contrato indefinido, que o ajudaria a ter nacionalidade
alemã que já tinha pedido, através dos documentos de sua mãe. Ajudariam inclusive nisso.
Lhe mostraram sua
sala, Hans Shueber, lhe indicaria os manuscritos que devia ler, traduzir, fazer
anotações pertinentes.
Amanha concreto
isso, pois necessito falar com a Universidade, não os quero deixar na mão, já
que me receberam tão bem.
Comentou com os
dois, que os pais tinham comprado esse apartamento para ele, no momento que
decidiu seguir os estudos em Berlin.
Explicou que os dois tinham morrido, pouco tempo um do outro.
Não podia
reclamar, dali foi direto a universidade, o reitor, já tinha recebido uma
chamada do diretor da Biblioteca, só pediu que ele continuasse até o final do
curso, com a pequena turma adiantada, pois estavam aprendendo muito com ele.
Agora com um
salário como o prometido, seria mais fácil, até poderia se mudar do bairro, mas
gostava de aonde estava.
Chegava logo
depois das aulas, se fechava com o manuscrito que estivesse trabalhando, ia anotando
a parte tudo que lhe chamava atenção, depois de terminado, escrevia a tradução
num laptop, bem como um original, o que era complicado, pois os laptops atuais,
não continham letras que representassem a língua antiga.
Hans as vezes
almoçava com ele, dizia que ele era rápido no assunto. Temos agora dois estudantes que estão
interessados em alguns temas, se puderes ajudar.
Um era seu aluno
na universidade, mas o outro, avisou em seguida ao Hans, me parece estranho que
um aluno iraniano, venha estudar aqui manuscritos de sua língua original, mas
busca algo em concreto. Melhor
investigar a pessoa.
Não deu outra,
era um agente do governo que queria saber o que possuía a Biblioteca, para
poder reclamar.
Estava agora
trabalhando um manuscrito muito antigo, as páginas feitas de pele de cabra, eram
perfeitas, a caligrafia era apaixonante, bem como o texto, poesias dedicadas a
alguém a quem pelo visto nunca mandava nada.
Falava de uma pessoa, sem se referir a sexo. A princípio pensou que era escrito por uma
mulher, mas a letra era masculina, sabia diferenciar. Ficou um pouco confuso. Releu mil vezes, a última com uma lupa,
para ver se a colocação das letras lhe davam alguma orientação. Falou com o Hans, a respeito, se não tinham
mais nenhum do gênero. Como mencionava
um lugar em específico, falou com seu querido Bahar, para ver se descobria algo
mais.
Bahar riu, quem
me mandou te ensinar tudo isso, agora aguento.
Estou te mandando uma caixa com alguns novos que consegui.
Mas o texto não
saia da cabeça, analisou as páginas finais, ali tinha duas interpretações, a
outra pessoa se casa, iria ter filhos, esqueceria do amigo. Aí, estava uma palavra, que tinha sido
borrada, reescrita. Chegou à conclusão
que tinha sido escrita de um homem para outro homem. Comentou isso com o Hans. Precisamos de uma lupa mais potente. Foi difícil descobrir que essa palavra, tinha
sido borrada, reescrita outra vez. Só
notei porque a letra é um pouco diferente.
Ia bem no
trabalho, no que desenvolvia para sua pós graduação, seguia recebendo uns
quanto manuscritos vindo de Bahar.
Recebeu um maior,
com uma carta escrita por ele, isso creio que é uma história inteira, ou um
romance. O li algumas vezes, mas sem
entender direito, como o aluno suplantou o mestre, espero que decifres tudo
isso.
Sem querer era a
complementação da poesia, mas agora contando em prosa, a história de um romance
proibido.
Registrou a
propriedade, para depois mostrar ao Hans, esse queria adquirir imediatamente
para a biblioteca.
Primeiro quero
ler, analisar, depois já pensarei.
Sem querer, tinha
encontrado o tema para sua pós graduação.
Quando comentou com o Hans, este foi direto, como ele gostava, queria
saber se ele era homossexual, para gostar do tema.
Confessou que tinha
tido experiencias, mas nunca amei ninguém, se isso que queres saber, mesmo
aqui, tive algumas aventuras, mas não passaram disso.
Admirava a forma
de amor de seus pais, mas nunca tinha se interessado por ninguém a esse ponto,
tampouco se sentia atraído por qualquer pessoa que conhecia.
Via a vida
noturna de Berlin de longe, sem saber muito bem como interagir, na verdade saia
pouco, talvez por falta de companhia.
Seu vizinho o tinha chamado várias vezes, mas as pessoas com que ele
conviviam não tinha nada aparentemente com ele.
Quando sabiam o que fazia, soltava um sorriso como dizendo o que faz
esse aqui com a gente. A maioria eram
trabalhadores braçais.
Hans ao saber
disso o convidou para sair com ele. Tinha
uma forma completamente oposta de vida, era um apaixonado da Opera, de sair
para um jantar calmo, aonde se pudesse falar de arte.
De qualquer
maneira, estava acostumado a viver sozinho, começou a conhecer os museus, a
observar principalmente obras de artes que as vezes ao seu entender estavam mal
catalogadas.
Anotava tudo que
lhe parecia mal catalogado, lia inscrições nas pedras, para posteriormente
ratificar se estavam certas as traduções.
Foi assim que encontrou um amigo do Hans, que o viu escrevendo ou
desenhando a inscrição de uma pedra, percebia que a maioria das pessoas que
estava ali, olhavam o conjunto, não os detalhes. Ficou parado ao seu lado, o observando.
Quando se voltou o cumprimentou, mas não se lembrava o nome dele.
Já sei, como todo
mundo, que é apresentado em volta de uma mesa, é difícil guardar os nomes, Tom
Von Bode, um descendente do homem que coordenou o museu que leva o seu nome.
Trabalhas aqui?
Nem pensar, sou
arquiteto, mas interessado em arte em geral, mas me dedico a restauro de casas antigas,
no momento estou restaurando uma casa aqui perto, quase um castelo que ficou
muito anos, sendo usado só uma parte. Como
o governo o comprou, para montar mais um museu, estou olhando o trabalho de
reformas da Ilha dos Museus, para pensar como fazer o projeto.
Ficaram
conversando, pois no dia que se conheceram não tinham tido oportunidade. Falaram de muitos assuntos. Hans nunca fala do seu trabalho, com medo
que possamos depreciar, mas eu considero uma arte saber ler em outras línguas
que sequer temos conhecimento.
Lhe pareceu que
falava nisso para ele se abrir. Por
precaução, desviou o assunto. Eram o
extremo oposto fisicamente. Pois Tom,
era extremamente branco, quase o padrão ario do homem puro. Ele ao contrário, por mais que se parecesse
alemão, com seus cabelos crespos rebeldes, sua tendência a ter uma barba
fechada e escura.
Acabaram na cama,
Tom era um tanto agressivo na cama, o que não lhe gostou muito, não se sentia à
vontade. Comentou isso com Hans, esse
se matou de rir, ele adora sado masoquismo, vive se vangloriando disso. Talvez por isso sempre está sozinho, vá com
calma com ele.
Passou a
evita-lo, se por acaso se encontravam num jantar se sentava no lado oposto a
ele, veio falar com ele a respeito.
Dias depois soube que tinha comentado com alguns que ele na cama era
como estar com uma mulher barbada.
Pensou em tomar uma satisfação, mas decidiu que o melhor era ficar quieto.
Deixou
simplesmente de sair com o grupo do Hans.
Se dedicou plenamente ao seu trabalho, quando apresentou o projeto de
pós graduação, logo apareceu uma editora querendo editar o trabalho. Era uma análise profunda de dois
manuscritos, tinha feito um trato com a biblioteca, se deixavam usar o que eles
tinham, posteriormente doaria o seu.
Foi convidado
para uma apresentação num congresso sobre linguística patrocinado pela
Sorbonne. Tirou férias para ir. Agora que tinha terminado o curso de
pós-graduação, estava mais livre para seu trabalho. Mudariam seu contrato.
Quando apresentou
seu trabalho em Paris, pensaram que ele faria a apresentação em alemão, mas a
fez em francês, foi super aplaudido no final.
Não usava nenhuma palavra em alemão.
Lhe perguntaram
se tinha algum vínculo permanente com Berlin, respondeu apenas que tinha lá um
apartamento, bem como sua documentação hoje em dia era alemã, visto sua mãe ter
nascido lá. Não acredito que estarei
preso nunca a lugar nenhum, pois meu interesse é ir em frente.
Quem lhe tinha
feito essa pergunta, era o coordenador do encontro. Logo o apresentou a pessoas importantes do
departamento de línguas da universidade, bem como da biblioteca nacional. Temos uma quantidade imensa de manuscritos da
tua área, mas os professores não se interessam em coordenar os mesmo, tampouco os
alunos.
Lhe deu um
cartão, para que fosse conhecer o local. Era tudo ao contrário de Berlin, se
sentia como se estivesse no mercado do livro de Istanbul, por estava tudo sem
registro, sem coordenação, ali não existia uma sala fechada, mas sim uma mesa
imensa, que se via fora de uso, pela poeira que acumulava. O primeiro que pegou foi um manuscrito em
árabe, que falava do descobrimento uma fortaleza, inclusive dando
coordenadas. Perguntou ao diretor se
tinha verificado isso.
O acompanhou ao
departamento de arqueologia, deu de cara com um homem mais velho que ele, com
uns cabelos crespos como o seu, parecia a juba de um leão enfurecido. Os olhos eram sagazes. Apertou sua mão tão forte que doeu, se
apresentou com Jean Leon, em seguida estava debruçado em cima de um mapa
estudando as coordenadas.
Que coisa mais
rara, aparentemente aqui não existe nada, simplesmente é o promontório de um rio,
pode ter sido habitado por várias civilizações.
Vou pesquisar a respeito,
inclusive posso ir até lá, esbarro no meu problema de sempre, preciso de um
tradutor, pois tenho dificuldades para aprender línguas. Se virou rindo para ele, sacudindo a juba,
porque não vens comigo, se estas de férias, iriamos mais rápido, ficou rindo,
comigo sempre é assim, é como estar num turbilhão. Voltaram a biblioteca, queria ler tudo que
estava escrito.
Analisou cada
palavra, bem como sua colocação num contexto.
Quem escrevia não tinha comunicado a ninguém a respeito, pois temia que
sua vida plácida fosse invadida. Pelo
que escrevia eram dias turbulentos.
Conseguiu datar a escritura por volta do fim do século XVIII, telefonou
para o Leon como o chamaria sempre. Marcaram de se encontrar essa noite, mal
sabia que estava fazendo.
Ele quando
falava, olhava diretamente nos olhos da pessoa, falaram horrores, ele tinha
levado apontamentos, disse que só teriam que avisar as autoridades Turcas, que
iriam pesquisar nessa zona. Pois não constava nada nos mapas.
Saíram essa
noite, foi lhe mostrando os lugares que amava, se sentaram na Pont Des Arts,
observando a noite. Perguntou em que
hotel estava, lhe disse. Venha minha
casa, esta aqui perto. Era um terceiro
andar em Saint Germain de Prés, o apartamento tinha livros por todos os lados,
mas ordenados, falando sobre vários assuntos, mas a sala era como estar num Oásis,
pois dava para uma pequena varanda.
Cheio de plantas. Quando se
voltou para dizer que o lugar era maravilhoso, deu de cara com o Leon, o
atraiu, o beijou com delicadeza, depois foi dando lugar a um beijo
apaixonado. Quando viu estava na sua
cama. Eram parecidos fisicamente, disse
que sua mãe era argelina, talvez por isso.
Nunca tinha estado tão a vontade com ninguém, sempre um sexo rápido, com
ele, apesar da aparecia de um leão enfurecido, de todo o caos com que
trabalhava, estar com ele na cama era como estar explorando a fundo seu corpo.
Quando
terminaram, ficaram rindo um com o outro.
Foi sincero, nunca estive assim com ninguém.
Pois eu já te
esperava a tempo, sabia que um dia encontraria uma pessoa como tu.
Dois dias depois
partiram, comunicou a Berlin, que se atrasaria, pois tinha se metido numa
exploração a partir de um manuscrito.
Quando chegaram a
Istanbul, ali já o tinha esperando toda sua equipe, analisaram um mapa da
época, partira para o lugar, no segundo dia deram com uma ponta do Iceberg como
ele chamaria. As terra hoje eram
inexploradas, restava agora conseguir autorização das autoridades para
escavar. Ele serviu de intermediário,
bem como de tradutor. O levou para sua
casa, quando o apresentou a Bahar, este lhe mostrou vários mapas antigos sobre
essa zona.
Aparentemente
tinha sido uma cidade fenícia, de aonde partiam comerciantes por todo o
mediterrâneo, pois estava guardada pela enseada do rio, dali também saiam barcos
rio acima. Para buscar mercadorias com que comercializar.
Foi bom ver
Bahar, estava ficando velho, melhor que tenho essa casa para viver, senão
estaria na rua.
Voltaram a Paris,
em seguida recebeu o convite para cuidar desses livros, inclusive com a oportunidade
de formar uma equipe, lhe permitiam inclusive participar da escavação, visto
ter sido dele a descoberta.
A relação dos
dois era impressionante, um começava um gesto o outro terminava. Podes ficar na minha casa se quiseres, tudo
que é meu é teu.
Voltou a Berlin,
por algumas coisas, colocou numa caixa os manuscritos que estaria trabalhando,
levaria os da família, bem como alguns outros, selecionou roupas, os demais
manuscritos colocou num banco, numa caixa forte.
Hans não gostou
muito, mas reconhecia que a oportunidade era única, se não der certo volte.
Foi para Paris,
no seu velho Volkswagen, que Leão, amou desde o primeiro momento. Começou a organizar todo seu trabalho na
biblioteca, conseguiu dois estudantes de línguas para ajudar, o primeiro mesmo
era limpar com sumo cuidado tudo que estava ali abandonado.
Se tinha que usar
luvas especiais para tudo isso, nesse ponto era metódico. Iriam para a escavação dentro de meses. Viver com o Leon, era como estar sempre em
movimento, pois era uma pessoa simplesmente ativa. O arrastou para todas as grandes bibliotecas
existentes na França, ele como lhe mostrar um mundo novo.
Foi com ele para
a escavação, levando dois manuscritos da família, para seguir seu trabalho,
Bahar veio ficar com eles, não fez nenhum comentário a respeito da relação
deles. Apenas disse que tinha
encontrado um amigo a altura dele.
Ajudava com os
trabalhadores locais, aos que colocava em ordem. Convenceu o Leon, que os
horários de rezas eram fundamentais, um dia apareceu com um Íman ali da região,
que veio trabalhar junto aos homens, depois dirigias as preces.
Uma primeira
parte começava a aparecer, era como uma torre de vigia, que estava afincada na
pedra, foram descendo com a escavação lentamente, até chegarem à base, agora
tocava, seguir o resto. Quando
terminaram a temporada, veio o ministro de cultura, elogiou o trabalho, pelo
que tinha podido analisar, o lugar chegava até antes dos fenícios.
Cada coisa que
tinham encontrado era analisado, fotografado, desenhado, como tudo numa
escavação, só podiam levar isso, o resto ficaria guardado em Istanbul.
Leon e ele
voltariam várias vezes para analisar alguma peça, que tivesse alguma escritura.
Foi como
mergulhar num mundo novo, que ia além do papel.
Por instinto
tinha o cuidado necessário ao tocar cada peça, a analisava, as vezes chamava
atenção para algum detalhe.
Me completaste
soltava Leon, pois necessito disso, alguém que possa compartilhar as coisas.
Estavam ultimando
os últimos detalhes da temporada, registrando tudo, tinham avançado bastante,
mas na verdade a escavação duraria anos.
Foram chamados a
Istanbul, o departamento de cultura, queria que olhassem um lugar novo, dois
edifícios antigos, numa região conhecida como um refúgio de judeus, na hora não
entenderam, quando chegaram a retirada dos escombros tinha parado, pois tinha
encontrado algo no subsolo. Pelo visto
nem sabiam da existência dessa parte. Um poço, com uma escada circular. Foram
descendo, quando chegaram embaixo iluminaram tudo, ficaram de boca aberta, pois
havia uma verdadeira biblioteca parada no tempo. Alguém tinha escondido livros ali, por algum
motivo desconhecido. Enquanto
iluminaram tudo, viram que a quantidade era grande, mas o túnel seguia adiante. Leon seguiu adiante com alguns homens,
achavam que o túnel passaria por debaixo da muralha da cidade.
Ele ficou ali,
fotografando tudo com muito cuidado. A
coisa era, alguns precisavam de cuidados pois estavam por causa da humidade em
péssimas condições, outros nem tanto.
Quando voltaram a
parte de cima, Jean Leon, disse que deviam cobrir a entrada do poço, para
prevenir qualquer coisa. No
departamento os tinha chamado porque sabiam que eu era um experto no
assunto. Lhes disse que se me
arrumassem um local, poderia trabalhar, nunca me negaria atender ao chamado da
minha terra. Falei com Bahar, este logo me arrumou dois
ajudantes, o problema era conseguir um lugar em boas condições,
climáticas. Cada volume era levado com
cuidado, dentro de uma bolsa térmica, levamos mais de uma semana fazendo isso.
Eu ia recebendo
cada volume, tirando da bolsa, o classificando.
Tínhamos ali códices muito antigos, bem como manuscritos em uma anterior
língua de Israel, até mesmo algo egípcio, era uma coleção incrível. Encarreguei o meu advogado de descobrir a
quem pertencia o solar, sua época de construção, toda informação possível era
importante.
Depois de semanas
de pesquisa se descobriu que durante a primeira guerra, a casa existente tinha
caído, por cima se construiu os dois edifícios pequenos. Depois de tudo retirado, se descobriu ao lado
do poço, uma oliveira, pedimos que se possível datassem a mesma.
Depois da
retirada da biblioteca Nazari, nome que dei a ela, pois encontrei manuscritos
que vinha de España, justamente falando dos árabes residentes em Granada.
Jean Leon,
começou a retirar as pedras que fechavam o túnel, a estrutura de madeira que
sustentava o teto do túnel, era incrível, era um cruzamento de vigas imensas das
que tinham caído uma foi mandada para uma prova de carbono 14, assim se poderia
saber a quanto tempo estavam ali. Eu achava interessante, tinha ido pelo mundo,
mas voltava para trabalhar no meu próprio pais.
Meus irmão se aproximaram para
saber se podiam negociar com alguma das peças encontradas. Lhes mandei falar com o encarregado do
governo, pois o que não fosse livros, ou manuscritos, esses com certeza iriam
para um museu.
O trabalho seria
imenso, discutimos primeiro, a forma de me pagar, pois deixava um emprego bem
remunerado na França. Chegamos um acordo,
como não precisava de casa, poderia cobrar menos.
Bahar estava
comigo todo o tempo, parecia ter remoçado, estava no seu ambiente. Estava sempre atendo a tudo. Alguns
manuscritos estavam com as folhas coladas pela humidade, era necessário todo um
processo para poder chegar a abrir o mesmo.
Lhes ensinei como fazer, tomava seu tempo, mas as vezes depois de 15 a
20 dias se podia abrir algumas páginas.
Outra coisa
importante era a iluminação, tudo isso estivera tanto tempo sem iluminação
nenhuma que era necessário luz tênue, óculos especiais, bem como luvas que não
arranhassem a pele ou papel.
Finalmente se
descobriu quem era originalmente o dono durante o período da primeira guerra,
um judeu que era professor da universidade de Istanbul.
Jean Leon, finalmente
abriu a passagem, dando a um cruze de tuneis que ia dar ao porto. Corria por
debaixo de toda a cidade.
Formou grupos
para explorar os mesmo para ver aonde davam.
Um inclusive dava a Igreja de Santa Sofia, com uma extensão ao Palácio
Topkapi, saindo quase dentro do harem.
Quase se podia
percorrer a cidade, pelo subsolo. Alguns
tuneis, tinham com os anos desabado, tornando impossível verificar aonde
levavam. Mas todos ao parecer levavam
ao porto.
O colecionador,
tinha uma quantidade imensa de manuscritos que era difícil saber de aonde tinha
tirado tudo isso. Apenas se sabia isso,
tinha sido professor na universidade.
Como tinha
morrido nessa guerra, o local foi basicamente soterrado, se construindo por
cima.
O governo agora
teria que decidir, se utilizava essa descoberta para uma espécie de turismo
subterrâneo, ou simplesmente construía em cima.
Eu levaria pelo
menos dez anos em conseguir classificar tudo isso, ao mesmo tempo Jean Leon,
estava cada vez mais aferrado a escavação da cidade, ia surgindo quase completa
no meio de um penhasco. Quando
finalmente encontrou uma parte da muralha que a protegia, ficou imensamente
contente.
Estávamos sempre
trocando informações.
Foram chamados
para dar uma ajuda aos pesquisadores franceses que digitalizavam o que tinha
sido salvo da imensa biblioteca de Tombuctu, era uma decisão complicada, abrir
mão do que estava fazendo, ficava meio ano em Istanbul, meio ano em Paris,
agora que finalmente tinha classificado tudo, teria que começar realmente a
trabalhar.
Os dois
conversaram muito, chegaram à conclusão falando com os amigos da universidade,
que a quantidade de estudiosos envolvido era muita, se por acaso tivessem
dificuldade reais de entendimento os chamariam.
Encontrou num dos
diários familiares justamente anterior a primeira guerra, falava da rede de
tuneis, em que as famílias com poder aquisitivo alto, escondiam no subsolo de
Istanbul suas riquezas particulares, esculturas, tapetes, livros, manuscritos,
tudo que tivesse valor, ou pudesse ser saqueado. Mas não se falava no depois. Na verdade, só tinham encontrado uma arca com
moedas da época do último sultan, na parte embaixo do Palácio Topkapi.
Tinham passado 15
anos desde que se conheciam, a vida dos dois era compartir, se amavam acima de
tudo. Bahar agora muito velho agora
dizia que sentia inveja disso, um entrosamento a todos os níveis. Se um era obrigado a ficar mais dias em
Paris, ou Istanbul, sentiam falta imensa um do outro.
Nunca tinha
perdido contato com Hans, que vinha as vezes visita-los, da última vez tinha
trocado ideias, pois nos achados do poço, tinha encontrado um amarrado de mapas
que datavam de mais ou menos da época da conquista de Constantinopla, tinham
levado quase um ano, para conseguir separar as folhas imensas de cada peça,
todos eram de pele muito fina.
Teve que estudar
muito como se fabricava esse tipo de material, para conseguir separar cada
mapa, sem danificar o mesmo.
Eram os mapas de
Mehmed I, que tinha feito um cerco demorado para conquistar a cidade. Foram
analisados por ele, por especialistas do mundo inteiro, que se deslocaram a
Istanbul para isso. O governo os
condecorou por esse achado, pois tudo isso colocava a cidade outra vez nos
olhos dos estudiosos.
Agora duas vezes
por semana dava aulas na universidade aonde tinha começado. Eram palestras sobre como funcionava tudo que
tinha achado. Mandava filmar em vídeo
para poder guardar para o futuro.
Em Paris, era
diferente, era como viver em dois mundos completamente opostos, aonde um ele
tinha todo o material mais moderno do mundo para pesquisar, em contrapartida no
outro tinha que improvisar.
Pela primeira vez
ficariam separados, no começo da temporada, ele voltaria a Istanbul, Jean Leon,
iria dirigir durante um tempo uma escavação no subsolo de um mosteiro
cisterciense na Bretanha, no meio de um imenso campo.
Alguém lhe
mandava fotos, abraçado com o Jean, não tinha ideia de quem era, mas ficou com
ciúmes. Remeteu as fotos ao Jean, que
veio como uma fera. Tinha sido um de
seus alunos, que querendo ter um romance com ele, sem nada conseguir tinha
urdido isso.
Nunca mais vamos
nos separar, assim não temos desconfianças.
Nunca poderei amar outra pessoa que não seja tu.
Logo em seguida, foram
avisados que o pai de Jean falecia na região de Albi, aonde tinha uma fábrica
de tecido. Os dois não se falavam, pois
Jean Leon foi para Paris estudar estamparia, mudou o rumo de sua vida, se
dedicando a Arqueologia. Chegaram num
último momento para o enterro. Quem
levava tudo era um primo dele, pensou muito, abriu mão da herança, pois o pai
até o último momento achava que ele cederia, deixaria tudo para dirigir a
fábrica.
Conversou com seu
primo, afinal ele merecia, tinha dirigido a fábrica nos últimos anos. Tinha
sido criado dentro dela. Este se
preparava para disputar com ele a herança, não esperava isso.
Esse não é o meu
mundo, eu escolhi o meu caminho no dia que deixei essa cidade.
Só então veio
conhecer a história da juventude do Jean Leon, que usava inclusive o sobrenome
Leon de sua mãe.
Retornaram ao seu
trabalho em Istanbul, a cidade escondida, agora se preparava para receber
turistas, mas que a viam desde uma parte alta, para não corromper tudo que tinha
sido preservado durante séculos.
Nunca saberiam
aonde gostavam mais de viver, pois tinham um processo todo especial, quando
estavam em Paris, eram franceses, quando estavam em Istanbul árabes. Funcionava
bem, nunca faziam comparações entre um lugar e outro, sabiam que eram
diferentes.
