OTTO BRAUNSTICK
Tinha o mesmo nome do pai, um emigrante da
Alemanha de Leste, tinha mudado o seu sobrenome, assumindo o da mulher,
Elizabeth Braunstick, toda uma história por detrás disso tudo. Tinha escolhido Frederichsburg, por imaginar
que ali haveria uma colônia alemã grande, isso tinha sido no passado.
Segundo contou sua mãe no leito de morte,
ele tinha sido polícia na cidade que viviam, informante da KGB, tinha
denunciado, roubado, até assassinado pessoas em nome da Rússia, quando soube
que o muro ia cair, tratou de fugir na calada da noite.
Tinha dinheiro, documentos falsos,
passaporte incluído, em nome dele, sua mulher além do meu antecessor, um irmão
que morreu nessa fuga.
Foram a pé a maior parte do tempo, embaixo
de chuva, neve, o garoto não resistiu, segundo minha mãe, era uma cópia dele. Ela trabalhava como química numa fábrica de
cerveja da localidade. Só pararam quando
chegaram a um porto na Itália, o muro tinha caído, ninguém prestou muita
atenção nele até o felicitaram pela caída do muro. O primeiro navio que saia era para os Estados
Unidos. Tinha pensado no Brasil, mas o
medo foi maior, o jeito foi embarcar nesse barco para NYC. No caminho pesquisou, viu o nome de Frederichsburg,
imaginou que tinha sido fundada por alemães, que lá estaria a salvo.
Com todo dinheiro que tinha roubado, joias,
tudo isso, comprou um bom pedaço de terra, mas se negava a falar inglês, quem
falava era minha mãe. As terras que
comprou, era decadentes, mas as revitalizou, plantando,
milho/aveia/centeio/cevada, tudo que se precisava no processo de fabricar
cerveja. Vendia a maior parte do
produto colhido, para uma fábrica, mas o resto era para consumo próprio. Atrás da casa, existia uma quantidade enorme
de terras, que eram floresta virgem, no meio dela, montou uma destilaria, minha
mãe, produzia cerveja, que se vendia clandestinamente.
Mas vivíamos na beira da miséria, ele tinha
na sua neurose, com medo de que o descobrissem, impôs que vivêssemos com o
básico, comida pela manhã, um mingau de aveia com um pouco de leite, algumas
vezes colocava cevada. Roupas só quando
a que tínhamos no corpo acabasse.
Só minha mãe, que tinha uma roupa melhor,
que ficava sozinha no amplo armário de seu quarto, era para quando tinha que negociar
a venda dos produtos.
Em casa só falávamos alemão, nada de rádio,
televisão, tudo era terrivelmente simples.
Não permitia que eu fosse a escola.
Minha mãe, quando ia negociar, aproveitava para fazer compras em algum
grande supermercado, vinha com a caminhonete carregada, para meses. Mas tudo
era usado com parcimônia. Um dia uma
mulher alemã a viu discutindo com o xerife, que reclamava que o menino devia
estar na escola. Essa mulher foi meu
anjo da guarda, pois a convenceu que eu devia ir, senão não teria futuro. Quando ela disse que meu pai não ia permitir,
foi com o xerife até lá o ameaçando.
Por causa disso minha mãe levou uma surra.
Mas acabou concordando, dizia que na
verdade eu não devia ser filho dele, pois apesar dos olhos azuis, eu tinha
cabelos escuros como os dela, era mirrado, se descobriu depois que por culpa da
subnutrição que vivia.
Não me estava permitido ficar jogando com
meus companheiros, tampouco, ficar depois das aulas, tinha que trabalhar no
campo. Me comprou uma bicicleta de
segunda mão, que eu cuidava com todo amor, era meu bibelô predileto.
Essa mulher apesar de ter reconhecido meu
pai, por um cartaz de procura-se que circulava nas cidades que tinham cidadãos alemães,
não o denunciou, me dava roupas de seus filhos mais velhos para usar, tênis de
segunda mão, quando me sentava na minha carteira sempre tinha um sanduiche
embaixo, para o lanche, fazia para seus filhos e para mim. Esses me detestavam, pois era como se eu
estivesse roubando o carinho de sua mãe.
Volta e meia me pegavam, mas eu não reclamava, estava acostumado por
qualquer motivo a levar uma bela surra, tinha que faltar as aulas uns dois
dias. Apesar de tudo isso, eu era o
aluno com as nota mais altas, devorava tudo, inglês, matemática, ciências,
literatura, os meus livros era de seus filhos que estavam duas turmas na minha
frente. Em breve os alcancei, pois evoluía
mais do que eles nos estudos. Tinha
recuperado o tempo que não tinha estado na escola.
Apesar de extremamente magro, tinha uma
força incrível para minha idade, talvez devido ao trabalho no campo. Quando chegava em casa, guardava a roupa da
escola com muito carinho, vestia uma roupa velha, comia alguma coisa que minha
mãe tinha deixado sobre a mesa, verduras, um ovo, ou um tomate, ia para o campo
trabalhar. Ali a regra básica era,
trabalhe, não fale.
Era uma ditadura, me largava nas costas os
trabalhos duros, se reclamava, levava um bofetada na cara, tinha que engolir em
seco, tentar fazer o melhor possível. Ou
estaria fadado a levar uma bela surra.
Tinha já nessa época, duas marcas profundas da fivela do cinturão dele.
Nunca se aproximava de mim, nenhum
afago. Qualquer coisa dizia que meu
irmão teria feito melhor. Usava o nome
dele, por causa dos documentos que tinham guardado.
Quando tinha 16 anos, acabava a escola,
poderia ir a Universidade antes do tempo. Quando a senhora Marie, apareceu,
dizendo que eu tinha possibilidades de ir à universidade, com uma bolsa de
estudos, ele ficou uma fera. Estive dois
dias trancado no meu quarto, escapava por uma janela no teto do mesmo, descia
por uma árvore, me escondia na floresta, tinha meu lugar preferido. Mais acima, no meio da floresta tinha um
lago, nem ele sabia que existia, tinha descoberto com minha mãe, era nosso
segredo.
Quando ele tinha pesadelos, com as pessoas
que tinha matado, era o momento de desaparecer, escapávamos os dois para lá.
Eu adorava o meu lugar predileto, uma pedra
que ficava a uma certa distância da praia, tinha aprendido a nadar sozinho,
subia na pedra, ficava sentado, imaginando como seria a vida em outro
lugar. Me evadia totalmente, sonhava em
colocar distância dele, normalmente tinha as costas lanhadas pelo seu cinturão,
mesmo que estivesse em carne viva, ficava deitado na pedra ao sol, como se este
me cura-se.
Passava fome, mas me sentia protegido por
lá. De noite minha mãe, abria a porta
de mansinho, colocando um pouco de mingau de aveia, com um ovo em cima para
mim. Sabia que a estas alturas ele
estaria dormindo.
Para a festa de formatura, a senhora Marie,
me deu de presente um terno que seu filho tinha usado, ficava imenso em
min. Fui escondido, queria sentir o
sabor de ter terminado alguma coisa. Foi
meu erro, pois, quando terminou a entrega de diploma, riam de mim,
principalmente seus filhos que tinha contado que o terno era de seu irmão mais
velho, quando peguei a bicicleta para voltar para casa, me deram uma surra,
eram muitos, tinha raiva porque minhas notas eram as melhores, tinha direito a
bolsa de estudos, eles não.
Me arrebentaram a bicicleta toda, rasgaram
minha roupa, abusaram sexualmente de mim, não tinha como me defender. Cheguei em casa chorando, cheio de sangue
nas pernas, mas ele do campo me viu chegando, ficou furioso, me deu uma surra
de fazer gosto, até que cai desmaiado.
Me disse que deixava de ser seu filho, que
devia ir embora no dia seguinte. Nem sei como consegui chegar no meu lugar
preferido, sangrando por todos os lados, cheguei a minha pedra, lá estava a
salvo, ele não sabia nadar, ela tampouco.
Passei a noite chorando, me sentia
humilhado, o pior não tinha sido os garotos, tinha sido ele, que ao final, me
cuspiu na cara, dizendo que eu era a partir de agora um marica.
Não sei quantos dias fiquei lá em cima.
Tudo se apagou, tudo que escutava era o ruído de aves, nada mais. Mais uma vez que me salvou foi ela,
Marie. Quando soube o que os garotos
tinham feito foi a fazenda, meu pai a ameaçou, mas ela voltou com o xerife,
inclusive na frente dele o ameaço de denunciar, usou seu verdadeiro nome, ele
foi para sua destilaria. Minha mãe o
levou até o lago, mas não me via. O
xerife pediu auxílio, um helicóptero sobrevoou a zona, me localizaram, desceram
espantando as aves, que comiam minha pele.
Fui resgatado levado para um hospital.
O médico disse que eu estava catatônico, que depois de curado, devia ir
para um outro tipo de hospital.
Fiquei dois anos internado, nesse tempo,
minha mãe só veio uma vez, isso porque Marie a encontrou na cidade, a obrigou a
entrar no carro com a mesma ameaça, que ia denunciá-los.
Mas ela vinha me ver todas as semanas.
Ficava sentada numa cadeira ao meu lado, falando comigo. Quando comecei a
melhorar, trazia comida feita em casa, dizia que estava muito magro, subornava o
encarregado de comida, para que me desse carne.
No dia que me resgataram, tinha visto todas as marcas que tinha nas
costas, ficou tão furiosa, que a primeira coisa que pensou foi denunciá-lo
realmente. Mas isso implicaria que me
deportariam junto.
Sabe-se lá o que ele poderia fazer contigo,
me contaria anos mais tarde.
Quando fiz 18 anos, estava bem já para
sair, ia todos os dias falar com um psicólogo, contei tudo que sentia todos
esses anos. O medo que sentia dele, dos dias que tinha pesadelo, em que havia
que desaparecer de sua vista, para não levar uma surra por nada.
Estava para sair, quando Marie apareceu com
o xerife, um bom homem por sinal. O
psicólogo estava junto, o xerife contou que tinha havido uma explosão nos
alambiques que tinham escondido na montanha, que a cidade toda escutou, quando
chegamos, ele já estava morto, cortado pela metade, sua mãe está muito mal no
hospital. Viemos te buscar, pois ela
quer falar contigo.
Marie trazia como sempre uma roupa para que
eu vestisse, mas dessa vez, era tudo novo, cuecas incluídas, pois a gozação dos
garotos era que eu nunca tinha cuecas.
Me deu lastima de ver minha mãe em cima da
cama, toda queimada, ainda resistiu dois dias, teve tempo de passar tudo para
meu nome, inclusive da conta do banco.
Me contou toda a história deles, que eu tinha nascido nada mais ao chegar
aos Estados Unidos, mas que tinha saído a família dela. Contou todas as maldades que ele tinha feito
durante o regime comunista no Leste, como ameaçava as famílias que não lhe
davam dinheiro, os denunciava, roubava, até mesmo matava.
Por isso tínhamos dinheiro quando chegamos
aqui. A tua vida agora é só tua, faça
uma universidade, estude, eres inteligente, podes ser uma pessoa diferente.
Quando morreu a enterramos no cemitério,
mas fiz uma maldade, a enterrei o mais longe dele possível. Ele que ficasse sozinho lá no fundo do
cemitério.
A fazenda agora era minha, poderia fazer o
que quisesse com ela, fui ao banco com um advogado, fiquei de boca aberta com o
valor que havia em deposito, tínhamos passado miséria a vida inteira, fome, mas
a conta tinha um valor incrível.
Teríamos podido viver bem a não ser pela neurose dele. Fiquei uns dois dias bloqueado, preocupado
comigo mesmo. De novo ela me ajudou,
sentou-se comigo, conversamos longamente sobre o que eu gostaria de estudar.
Sempre tinha gostado de escrever, de ler os
livros que em casa não existiam. Apesar
de me sair bem em matemática, física, química, não era o que eu gostava.
Me recomendou que eu fosse para San
Francisco, ou Dallas para estudar. Eu
preferia estar o mais longe possível. O
xerife me falou de uma família que gostaria de explorar as terras, o advogado
que Marie tinha conseguido, negociou os termos, o aluguel da mesma, a
porcentagem dos lucros da exploração.
Agora já não precisava da bolsa de estudo,
podia eu mesmo bancar minha universidade, ela contatou uma família que era
conhecida, para me hospedar nos primeiros tempos, até eu conseguir um lugar
para viver.
Antes de ir embora, fui falar com o
psicólogo que me acompanhava, ele me sugeriu que eu continuasse a frequentar
um. Me falou de um amigo de
universidade, me deu seu cartão, para procurar por ele.
Comprei roupas pela primeira vez na minha
vida, duas mudas de roupas, uma calça jeans normal, outra negra, camisetas,
cinzentas, negras, roupa interior, dois tênis, cabiam tudo numa maleta
pequena. Essa seria minha bagagem para
o resto da minha vida.
Consegui me matricular, em filosofia,
literatura, nesse tempo tinha conseguido um pequeno apartamento em Ashbury
Heights, uma casa antiga, reformada, em que a parte de cima tinham transformado
em apartamento. Tinha um pequeno hall
embaixo, depois a escadaria, tinha dois quartos, uma sala, banheiro, pequena
cozinha. Estava mobiliado, só pedi que
tirassem tudo do quarto menor que seria meu escritório, gostei tanto do lugar
que paguei o aluguel de seis meses.
Perto tinha de tudo, inclusive restaurantes. Me deliciava comendo hamburguesas, coisas
que nunca tinha comido quando criança, nem em minha juventude.
Descobri escutando alguns alunos na
biblioteca da universidade, falando de um local que vendia roupa de segunda
mão, falava em roupas do exército, da marinha, roupas para o inverno que ia
chegando. Pedi licença, perguntei aonde
era, uns dois rapazes ia até lá fui com eles, descobri que seriamos
companheiros na faculdade.
Comprei um casaco da marinha de lã, negro,
bem como uma parka do exército, inclusive impermeável. Retirei qualquer vestígio que fossem militar,
além disso comprei botas para chuva.
Estava preparado para o inverno.
Pela primeira vez pude comprar livros. Os lia como se estivesse bebendo água para
matar minha sede de saber das coisas, nos primeiros dias de aula vi que todos
tinham um laptop, enquanto eu anotava tudo com lápis numa agenda.
O professor riu, dizendo que eu era o único
aluno que prestava atenção, anotando o que realmente ele destacava. mas me aconselhou a comprar um laptop, para
escrever os trabalhos que pedia.
Quando pediu que baseado num livro,
escrevêssemos uma história a partir de uma frase que nos deu. Leiam o livro, quero ver quem não se deixa
influenciar por ele. A partir dessa
frase, escrevam uma história. Li o livro
de cabo a rabo, a frase ficou martelando na minha cabeça, era um final de
semana, fiquei sentado numa varanda em Castro, escutando as pessoas falando em
volta, ou passando na rua, construí a história em cima de dois rapazes que
comparavam suas experiencias sexuais, esse era o ponto de partida, depois
analisei cada personagem individualmente como duas pessoas buscando
desesperadamente uma relação verdadeira, o que falavam era puro esnobismo, tipo
eu faço mais que tu, mas quanto disso tinha um fundo de verdade. Inventei a verdade de cada um, a solidão de
viver, sem conseguir realmente ter um relacionamento verdadeiro.
O professor ficou impressionado, não tinha impressora,
tive que imprimir na biblioteca. Veio me
perguntar se me baseava em mim alguma das histórias.
Fui honesto com ele, que tudo era
imaginação minha, pois minha experiencias sexuais não passavam do que lia nos
livros. Que eu mesmo além do abuso que
tinha sofrido, nunca tinha feito sexo com ninguém, tampouco amado para saber
como era.
Sorriu dizendo se já escreves assim,
imagino como será quando realmente tenhas experiencias.
A maioria tinha aproveitado um dos
personagens do livro para escrever uma história, ele sorriu, de todos vocês o
único que realmente criou personagens diferente foi o Otto.
Teríamos que escrever agora um conto
policial para um concurso que uma editora fazia para toda a universidade. Baseado no que sabia, escrevi sobre meu pai,
com seu nome verdadeiro, Otto Branswaden, procurado pela polícia internacional,
pelos crimes que tinha cometido na Europa de Leste, como tinha fugido, vivendo
nos Estados Unidos.
Quando leu, me perguntou como tinha
imaginado isso, lhe respondi sinceramente que era a história de meu pai, um
sujeito muito retorcido. Com essa
história ganhei o concurso, que ia além de sua publicação, a um valor em
dinheiro.
Mandei uma cópia para Marie.
Ela me escreveu dizendo que se queria a
história inteira, deveria ir a cidade de aonde ele tinha saído, mas que tomasse
cuidado.
Com os documentos que tinha estado
escondidos pela minha mãe, sabia que era algum lugar perto de Chemnitz, cerca
de Dresde, mas estudando direito, fiquei tentando por Freiberg, pois isso o
teria levado a escolher nossa cidade pois começava por “FRE”, busquei
informações sobre ele, porque era procurado.
Cheguei incógnito a cidade de Dresde, a
estavam reconstruindo totalmente, vi uma exposição como era na época comunista,
foi depois para Chemnitz, ali sim falando com os velhos, pude conhecer um pouco
a história, fui a universidade falar com um professor, este sabia tudo sobre os
informantes da KGB, sobre meu pai, falou horrores sem que eu tivesse perguntado
nada, lhe contei que estava escrevendo um livro, baseado que muitos tinha
escapado para os Estados Unidos, para o Brasil.
Me falou demoradamente sobre cada um.
Vivemos nosso inferno aqui, esse homem era retorcido. Perguntei sobre sua mulher.
Dela pouco se sabe, a escondia de todos,
talvez por medo a uma represália, sabemos que era aqui da universidade, mas
quem não sabemos, muitas professoras, desapareceram depois, eu mesmo já
baralhei muitas, me deu um dossier com o nome da várias delas.
Depois fiz o caminho que minha mãe tinha
descrito de fuga, aluguei um furgão, pedi para tirarem os bancos detrás,
comprei um colchão, um edredom, fui seguindo o caminho, conforme ela tinha
escrito, inclusive aonde tinha morrido meu irmão. Perguntei sobre o assunto, me mostraram um
jornal da época, que falava de um garoto encontrado depois do degelo da neve,
sem documentos, me mostraram a foto.
Tirei cópia de tudo, na minha cabeça, como estava morto para ele,
deixava de existir, porque sequer fez uma sepultura para o filho.
Quando cheguei a Itália fiz o mesmo caminho
deles, a maior parte do tempo caminhavam de noite, a não ser quando chegaram a Milão
aonde roubou o carro velho para fazer o resto do caminho.
Parei em Florença, fiquei num pequeno
hotel, fiquei pensando muito no que tinha descoberto, como um pai faz isso, se
descarta de seu filho, como se fosse um saco de lixo, me veio na cabeça o que
tinha feito comigo. Mas não deixei a depressão
tomar conta da minha cabeça.
Já sabia tanto sobre ele, de aonde tinha
saído, como tinha chegado a polícia, depois da guerra, já colaborava com os
comunistas, desde que se separou por zonas.
Ele tinha sido um dos jovens da SS, estava acostumado as barbáries, era
fácil então não ter escrúpulos. Talvez
minha mãe tenha escondido que era sua informante na universidade. Mas dizia que o tinha conhecido através de
uma amiga.
Voltei agora, pelas estradas oficiais, fui
a cidade de novo, caia uma nevasca de fazer gosto, procurei sobre o endereço
que ela tinha. Encontrei uma família, o
chefe da casa, disse que era seu irmão, perguntei sobre sua fuga. Eles tinham se surpreendido, a partir da
Universidade, desapareceu. Vivia
escondida em algum lugar, quando teve o filho, nunca o vimos, se falava muito
com quem andava, mas tínhamos medo, qualquer coisa aqui, servia para uma
denúncia, talvez fosse a maneira dela nos proteger. Todos desde jovem trabalhamos numa fábrica de
cerveja, ela era a mais inteligente, conseguiu que lhe pagasse para estudar
química, dizia que assim poderia ser uma boa maestra cervejeira.
Quando tanta gente desapareceu, imaginamos
que tivesse ido com as pessoas que denunciavam os outros para a KGB, mas no
fundo, imagino que quis nos proteger.
Perguntou por que queria saber tudo isso. A ele em particular lhe contei quem era, com
quem ela tinha fugido, que meu irmão tinha morrido no caminho, que nasci logo
que chegaram aos Estados Unidos.
De meu pai ele falou horrores. Era de uma família, que aderiu ao Nazismo
imediatamente, perseguiram os judeus, a toda custa, ganhavam dinheiro fazendo
isso, quando chegou ao seu auge era a única família que tinha privilégios por
aqui. Mas no final da guerra, sobrava
poucos, ele passou logo para o lado dos vencedores. Seguiu com o que tinha aprendido com a
família.
Voltei para casa, no dia seguinte fui ao
psicólogo, tinha que analisar com alguém tudo que tinha descoberto. Uma das coisas que me disse, era que
talvez muitos emigrantes, borravam seu passado, justamente por isso, para
esconder o que tinha feito em outro lugar.
Assumem a nova vida de maneira extremamente complexa, como teu pai
fez. Vivendo quase na pobreza, para
compensar o que tinha feito, os pesadelos, sua agressividade, como querendo que
vocês pagassem com ele todo o mal que tinha feito.
Sem querer comecei a me lembrar de palavras
que dizia quando me dava uma surra, sempre em alemão, fui anotando todas, para
estudar realmente o que queriam dizer.
Me dei conta, que me acusava justamente
disso, dos seus erros, quando na noite anterior tinha seus pesadelos, tudo isso
era pior.
Passei a sonhar com isso, me despertava, me
sentava na cama, escrevia tudo numa caderneta, tudo o que me dizia. Agora me dava conta, me confundia com os que
tinha matado, mas sempre eles eram os culpados, ele nunca.
Conversei com meu professor, mostrei os
vários caminhos que poderia tomar.
Foi franco, qual seja o caminho, se
consegues publicar, vão te perguntar sobre isso, o melhor é falar a
verdade. Talvez seja melhor uma versão catártico
em que contas como era sua cabeça, o que fez contigo.
Falei com Marie por telefone, queria saber
se poderia ler o que eu tinha escrito, para saber o que pensava do
assunto. Me disse não venha, eu vou me
encontrar contigo.
Quando chegou, entendi por que, disse que
seu filho mais velho tinha encontrado o seu diário que falava de tudo sobre mim,
que tinha ficado furioso, por ter-me me ajudado, quando podia ter denunciado
meu pai. Mas como ela dizia, nunca
tinha feito por eles, mas sim por mim.
Leu tudo o que eu tinha escrito, lhe deixei
usar meu dormitório, dormia num colchão no meu studio. Leu mil vezes, fazendo anotações ao lado num
papel. Me mostrou depois, ajustava
coisas. A sua família ele tinha
perseguido, porque tinham escondidos judeus, ajudavam muitos a escapar. Antes de vir para cá, o que sobrou da minha
família teve que ir para Israel, embora não fossemos judeus. Eu trouxe meu diário, quero que leias, para
entender. Te abrira uma outra visão
disso tudo.
Quando foi embora, agradeci tudo o que
tinha feito por mim. Nunca poderei esquecer, que sem a senhora, eu não estaria
vivo. Escrevi uma carta ao filho dela,
pedindo perdão, por em termos ter roubado sua mãe.
Comecei o livro com ela descobrindo meus
pais, mas que quando me viu ali naquela miséria, disse que meus olhos pediam
socorro. Resolveu que tinha que me
ajudar, passando por cima de todo o ódio que tinha a ele. Como tinha forçado, ameaçado, falei tudo que
tinha feito, depois coloquei a visão minha de garoto que não entendia a razão
de tanta brutalidade, das surras que levava depois dos pesadelos dele,
transcrevi tudo que tinha recuperado da minha memória, o que ele dizia enquanto
me dava uma surra, por ser moreno como o resto da população, que eu não tinha
sangue ario como ele, que a culpa era da minha mãe que era impura, ele nunca tinha
culpa de nada.
Depois tive que falar o que tinha
acontecido no final, como o tinha deixado enterrado sozinho no fundo do
cemitério, para que estivesse relegado a segundo plano.
Por último falava da minha busca da
verdade, indo a Alemanha, da busca da história toda.
Um dia me chamaram a porta, quando abri era
o filho da Marie. Ficou parado na minha
frente, viu a cara de horror que coloquei, pois o reconheci imediatamente, como
um dos que tinham abusado de mim naquela noite, fiquei estático com a lagrimas escorrendo
pela cara. Nunca tinha podido me
aprofundar nessa parte de minha história, primeiro porque não sabia quem tinha
feito isso. Só tinha gravado a cara
dele.
Estava ali de braços caído, meu impulso era
de fechar a porta, outro de soltar todos os palavrões possíveis. Mas ele educadamente me pediu se podia falar
comigo.
Conversei com minha mãe sobre aquela noite,
o ódio que alimentava com relação a ti, quando te via vestido com uma roupa que
era minha, ou uma camiseta do meu irmão, sabia do sanduiche que ela deixava na
tua carteira. Não entendia por
quê? Quando lhe perguntava, dizia que
nossa obrigação era ajudar os menos favorecidos, mas na escola tinham outros
como tu. Vi todos os escândalos que
fazia com teu pai, tua mãe, como em casa não falávamos alemão, não sabia do que
falava. Fantasiava que teu pai era um
oficial nazista escondido, que tinha alguma coisa a ver com o passado da
família, que meus avôs escondiam de todas as maneiras, que não entendia por
quê.
Agora entendo, me explicou tudo. Venho te pedir perdão pelo que fiz.
Na minha cabeça, lhe respondi, tudo isso
virou uma grande barafunda, pois misturei isso, com a surra que levei em
seguida, dos dias que fiquei em cima da pedra, queria que os pássaros me
comessem lentamente, para acabar com toda essa história. Mas foi tua mãe, que mais uma vez foi em meu
socorro, quem movimentou a polícia, quem me visitava no hospital, minha mãe só
foi uma vez, porque ela obrigou, tinha medo do meu pai.
Tua mãe, foi mais minha mãe, que a minha
própria. A tenho num pedestal. Aproveite, já que estas aqui, leia tudo que
estou escrevendo sobre o assunto.
Ele ficou lendo, fomos comer num
restaurante que ia sempre, os dois não dizíamos nenhuma palavra, era que como
se ele estivesse ruminando o que tinha lido até agora.
Voltamos, lhe disse para dormir em meu
quarto, mas ele disse que dormiria no colchão no studio. De noite despertei no meio de um pesadelo,
com ele segurando a minha mão, escutei o ruído que fazias com teu pesadelo. Me levantou, ficou me abraçando, me dizendo
que tivesse calma que ele ia me proteger.
No dia seguinte quando me levantei, tinha
ido buscar café, croissants. Ficamos os
dois conversando, levamos dias fazendo isso.
Só quando colocamos tudo para fora, foi que paramos de falar. Algumas vezes fazia como sua mãe, me
segurava a mão, principalmente quando a lembrança era dolorosa.
No final disse que o que sentia por mim
nessa época se dividia em duas coisas, de um lado não entender por que sua mãe
me ajudava, ela tinha reconhecido para ele que pensava que assim os
protegia. De outro lado a inveja, ao
mesmo tempo admiração pela minha inteligência, com eu absorvia tudo, a ele
custava muito a entender tudo que nos ensinavam. O fato que no final ganhei a bolsa de
estudos, frustravam os sonhos dele, de conseguir uma para estudar fora, tinha
conseguido pelo esporte. Mas nunca pude
esquecer quando estive fazendo sexo contigo, creio que meus sentimentos eram
uma loucura, ódio, se não fossem os outro juntos eu te abraçaria, te chamaria
de amor. Mas fui só eu que consumou o
ato, não permiti que ninguém mais tocasse em ti. Eras meu de qualquer maneira, tudo que tinha
ansiado durante muito tempo.
Arruinei minha vida, fui embora, fiz a
universidade, mas sempre que ia fazer sexo, pensava em ti, não me livrava da
tua imagem, começava a chorar, riam de mim.
Agora era eu que o consolava. Me contou que de todos os filhos dela, era o
único que não tinha casado, nem tinha filhos.
Não posso me esquecer de ti.
Nessa noite ficamos abraçados na cama,
conversando, nem tentamos fazer sexo, lhe expliquei que ele tinha sido o
único. Que levaria tempo para conseguir
algo, que ainda falava com meu psicólogo sobre o assunto.
Escutei pela manhã que conversava com sua
mãe, que chorava muito, mas lhe permiti, esse momento somente dos dois.
Foi embora me dando um beijo na boca, que
ficou ali, guardado.
Nós falávamos sempre. Terminei a universidade, apresentei o livro,
meu professor que o tinha lido, dizia que eu tinha tido muita coragem, mas sua
preocupação, era o que iria escrever em seguida. Lhe mostrei outra historia que estava
escrevendo, que não tinha nada a ver com a minha. Gostou muito.
Não se preocupe. Fui em busca da
verdade, tinha que colocá-la para fora.
Queriam publicar meu livro, falei com Marie, ela já o tinha lido, bem
como o Georg seu filho, me disse que sim que devia publicar.
Aceitei, mas falei com meu advogado, inclui
cláusula que nunca poderia ser vendido como roteiro de cinema, nem para a
televisão. Tampouco daria entrevistas
sobre o livro. Quem quisesse publicar teria que aceitar isso. Não estava disposto que minha vida virasse
um circo mediático. Inclusive na
história, falava de outra cidade.
Foi publicado, era um sucesso, quase todos
os dias a editora me chamava, para tentar me convencer a dar uma entrevista, me
neguei sempre, quando foi para a terceira edição, finalmente concordei, eu
agora era professor estagiário na universidade.
Com uma condição, que podia me recusar a
responder a perguntas capciosas. Foi o
que fizemos. Quando levavam a pergunta
para meu âmbito particular, eu não respondia, uma das pessoas me perguntou se
realmente meu pai me pegava. Lentamente
tirei o meu casaco, com se estivesse fazendo um strip-tease, tirei a camiseta,
me virei de costa para a plateia. Foi um
OH, generalizado, as marcas continuavam ali.
O livro chegou a quinta edição, o editor
queria colocar na capa uma foto publicada no jornal das minhas costas, me
neguei terminantemente, com o risco de romper o contrato com a editora.
Meu segundo livro saiu, fez mais sucesso
que o anterior, a historia não tinha nada a ver com minha vida. O terceiro foi igual.
Mas se nas entrevistas me faziam perguntas
da minha vida pessoal, me negava a responder.
Fui ao enterro da Marie, me reencontrei com
o Georg, falamos, me disse que estava vivendo em San Francisco, já a seis
meses. Concordei em voltar com ele no
carro.
Estávamos os dois na casa dos 30, como
dizia um de seus irmão, solteiros e invictos, quem vai querer casar com vocês
dois.
Fui dar uma olhada com ele na fazenda,
continuavam cultivando o campo, agora com máquinas, a casa nunca tinha sido
usada, caia aos pedaços, mandei arrasá-la.
Viemos conversando o tempo todo da viagem,
descobri que agora ele pintava, seu sonho de juventude. Fui conhecer seu studio. Era pequeno, apertado, mas na sala de sua
casa, tinha um retrato meu, feito de memória.
O beijei. Começamos um
relacionamento, mas cada um na sua casa, algumas vezes ele dormia na minha,
outras eu na dele.
Descobri que gostava de escrever, mas não
de dar aulas. Falei com ele, creio que
tenho que mudar minha vida. Preciso de
um lugar tranquilo para escrever.
Voltamos juntos a cidade, resolvi construir, uma casa moderna, já não
sobrava nada daquela anterior, tinham inclusive plantado em cima da mesma, num
dos claros, no caminho para o lago, na parte alta, dava para ver o mesmo,
construí nossa casa, fizemos um caminho até lá.
Tinha uma lateral que era seu studio de pintura, no extremo oposto,
aonde eu trabalhava, olhando a minha torre a pedra aonde costumava sentar.
A primeira vez que o levei até lá os dois
suamos para subir, reclamava que já não éramos crianças para subir por ali, o
jeito seria mandar construir uma escada.
Me neguei, aquele lugar era só meu, a partir de agora estas proibido de
subir.
As vezes seus irmãos apareciam. Um deles tinha um filho, que era a cara da
Marie, vinha passar férias conosco.
Tanto gostava de pintura como de escrever.
Esse seu irmão, trabalhava para a fábrica
de cerveja que comprava toda a produção da fazenda, o mais interessante era que
tanto eu como o Georg não bebíamos. Seu
irmão por causa disso, voltou a viver na casa que tinha sido de sua mãe, seu
filho subia sempre de bicicleta para estar conosco.
Era desse irmão que normalmente eu herdava
todas as roupas, agora ele era gordo, riamos disso, dizia que lhe fazia graça
naquela época, me ver vestido com suas roupas, que ele já tinha herdado dos
outros irmãos, que em mim ficavam imensas.
A pintura do Georg fazia sucesso, mas ele
se negava a sair dali, íamos para as vernissage, mas voltávamos para nossa
casa. As vezes íamos de viagem pela
Europa, loucos para voltar para casa.
Para criançada, era um tio a mais, quando
nos casamos, fizeram uma festa imensa, seus irmãos achavam natural, diziam que
o Georg sempre tinha sido o queridinho da mamãe, que gostava de desenhar, que
não tinha amigos, que estava sempre me seguindo no recreio, que ficava de longe
me olhando.
Eu não sabia, ele rindo me dizia que já me
amava, sem saber.
Se por acaso falávamos de meus pais, ele
dizia em seguida que eu não tinha culpa nenhuma do passado deles.
Um dia apareceu um alemão, querendo falar
comigo. Já o conhecia de nome, queria
fazer um filme sobre a família do meu pai, relatando o acontecido daquela
época. Me perguntou se queria escrever o
roteiro.
Lhe disse que poderia lhe dar meus
apontamentos, mas escrever sobre isso nem pensar, tinha ficado no passado,
insistiu muito, mas me neguei.
Já purguei minha vida anterior, estava escrevendo um roteiro de
cinema para meu terceiro livro, isso sim me interessava, meu agora sobrinho
Carl era meu auxiliar, eu escrevia, ele fazia a primeira leitura, me criticava
com um olhar totalmente diferente do meu.
Se vamos ver essa imagem na televisão ou no cinema, as pessoas vão
pensar em outra coisa. As vezes podíamos
discutir horas, até que Georg vinha se meter no assunto rindo.
Os dois mais parecem pai e filho discutindo
algum assunto.
A empresa de seu irmão foi comprada por uma
fábrica alemã de cerveja, veio perguntar se Carl podia ficar conosco durante a
ausência deles, iam os dois.
Dias depois o novo xerife subiu para avisar
que tinha existido um atentado no complexo turístico aonde faziam a convenção
da empresa, não se sabia exato o número de mortos, eu falei com o Carl o que
acontecia. Me abraçou pela cintura,
ficamos ali parados olhando a pedra no lago, tinha lhe contado que a subia,
para ficar pensando.
Quando nos informaram que os dois tinham
falecidos, pedimos imediatamente a guarda do Carl, afinal ele era como nosso
filho. Um dia de manhã o vi na pedra,
desci até o lago, fui nadando até ele, me jogou uma escada de cordas que eu
escondia tinha colocado lá para me facilitar.
Agora compartia com ele horas de silêncio pensando nas coisas da vida.
Se alguém falasse alguma coisa, estando os
dois juntos, erámos como pai e filho de tanto que nos entendíamos. Enterramos seus pais, no outro lado da
montanha, aonde anteriormente existia o alambique de meu pai. Amava aquela
pequena floresta, a paz que existia ali, era impressionante.
Eu as vezes ia com ele, ver o tumulo dos
seus pais, ficávamos ali conversando, como se eles estivessem presente. Carl era o melhor aluno da escola, como eu
tinha sido, sua inteligência era impressionante. Descobrimos na pedra um jogo, eu começava a
contar uma história, ele tinha que seguir com os personagens, desenvolvendo a
mesma, até que me passava a bola outra vez para continuar.
Montamos os dois um livro, chamado jogo de
bola, muita gente pensava que era sobre futebol, era as historias mais loucas
que duas pessoas podiam inventar, começavam sem pé nem cabeça, iam tomando
forma, acabava de uma maneira totalmente diferente. Tínhamos passado a gravar essas histórias
para depois passar para o papel.
Georg ria muito dessas histórias, foi
editada como livro de contos para jovens, com o nome dos dois. Na primeira entrevista ele estava eufórico,
tinha algo para mostrar para o mundo.
Quando chegou a época de ir a Universidade,
tinha em sua cabeça totalmente definido o que queria fazer. Foi estudar historia da arte e literatura.
Queria vir todos os fins de semana, combinamos que um final de semana iriamos
nós para curtir San Francisco. Teatro,
museus, livrarias.
Quando a quantidade de livros espalhados
pelo chão era imensa, conversando com ele, pensamos, ao lado da escola tinha
uma casa abandonada, que a os mais velhos usavam para ir fumar. Comprei o local, mandando construir uma
biblioteca moderna, que demos de presente para a cidade. Ele inventou uma coisa, pediu um lápis para
os arquitetos, desenhou um local para que os maiores pudessem ir fumar, havia
uma espécie de parede, aonde podiam fazer grafites, se fotografava, depois se
borrava para começarem tudo de novo.
Quando terminou o curso, quis voltar para
ser diretor da escola. Inventou, me
convenceu de construir um pavilhão, aonde os jovens pudesse estudar artes,
inclusive cinema, conseguiu professores para isso. Assim os mais jovens, já que
a cidade crescia, podiam sair dali, já com carreiras dedicada a artes mais
definidas.
Quando Georg morreu, as obras de artes que
ele tinha em casa, foram para um pequeno museu que construímos em sua memória,
todo seu dinheiro foi dividido entre os outros sobrinhos, ele sabia que Carl
era meu herdeiro. Me preparei a
consciência para isso fizemos minha última ida a pedra, falei tudo o que queria
que ele fizesse, gravamos e claro, para valer diante de um juiz. Eu seria enterrado ao lado do Carl, junto aos
pais dele, mas tudo que era meu iria para ele, bem como uma parte iria para a
escola, que tinha sido minha tabua de salvação.
Tinha sido ampliada com as doações que
conseguimos da fábrica, já que a maioria dos empregados viviam lá. As doações dois anos depois foram para uma
quadra de basquete, piscina fechada para o inverno, tudo para o esporte dos
jovens.
Como lutávamos tanto pela cidade, queriam que
ele fosse político, mas se negou, nessa época conheceu a que seria sua esposa,
seu primeiro filho se chamou Georg.
Quando estava gravida do segundo, num inverno impressionante. Resolvi que não podia mais viver sem o
Georg, estava velho demais, fui de barco até a pedra, o lago estava começando a
se congelar, subi, fiquei deitado ali, como no dia que quase morri, mas desta
vez, ninguém iria me salvar.
Acredito que ele tenha sido como sua avô o
primeiro a imaginar quando não me encontraram aonde eu devia estar. Uma parte das minhas cinzas deveriam ficar
lá escondida entre as pedras. Sabia que
estava já como Georg.
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