AZAR
Desde que entendia por gente,
sempre tivera um azar monumental, nunca nada dava certo, a começar que tinha
sido abandonado na porta de uma igreja de madrugada, depois foi levado a um
orfanato, estava desnutrido, depois de exames, teve que ficar muito tempo sob observação,
segundo a irmã que o cuidou não foi nada fácil.
Quando
tinha uns cinco anos, começou a crescer normalmente, de feio que era ficou um
garoto bonito. Logo todos queriam adotá-lo,
mas as irmãs eram restritas com as famílias, era necessário, realmente ter
condições.
A
primeira família que tentou adotá-lo logo caiu sobre suspeita, não eram o que
aparentavam, justo no dia que ia ser entregue, a polícia os pegou na porta do
orfanato. O faziam em vários estados
para depois vende-los a pédofilos.
Durante
as visitas ele até tinha se encaprichado pela senhora, que era muito bonita,
bem vestida, cheirava bem. Mas depois
escutou que ela era a chefe da quadrilha, como podia uma pessoa ser assim.
Finalmente
com oito anos foi adotado, mas logo levado para uma das cidades perto de San
Diego, tinha uma pequena praia, mas a família o queria para realmente trabalhar
como um escravo, quando não fazia o que pediam, lhe davam uma surra de
cinturão. Aguentou o quanto pode, mas
um dia que tinha levado uma bela surra, porque tinha deixado cair uns pratos, de
madrugada se mandou. Foi se esconder
perto de um parking de trailers, gente que trabalhava numa fábrica.
Uma
senhora com uma boa cara, com os cabelos amarados em rabo de cavalo o descobriu
morto de fome. O levou para seu
trailer, curou suas feridas nas costas, lhe deu comida, quando chegou seu
marido que estava fazendo o turno da noite, ficou impressionado, mostrou para
ele uma foto, era igual ao filho que tinham tido, explicou que tinha morrido em
outra cidade.
Quando
a polícia procurou trailer por trailer, o apresentaram como seu filho,
mostraram os documentos, suas fotos desde criança, a partir desse dia passou a
se chamar John Chevalier, era bem cuidado, ajudava a senhora que agora chamava
de mãe, todos os dias, mas ela logo o colocou numa escola ali perto, descobriu
que ele não sabia nem ler, nem escrever.
Sabia na verdade um básico que tinha aprendido no orfanato.
Ao
entrar na escola, o mandaram sentar numa carteira, que ao parecer ninguém
queria sentar-se, descobriu depois que o menino que se sentava ali, tinha
morrido. Com isso ninguém se aproximava
dele, como se fosse um estigma.
Alguns
mais velhos o ameaçaram, mas o que era agora seu pai, como já imaginando que
isso aconteceria, por ele ser bonito, tinha lhe ensinado a se defender. Lhe ensinou truques de boxe, ou mesmo uma
autodefesa um tanto dura, tipo dar um chute no saco do outro, ou meter os dedos
nos olhos, essas coisas.
No
primeiro ataque que lhe fizeram se defendeu, por sorte um professor viu tudo,
pois o outro garoto era filho do diretor.
Abusava disso, por pouco não lhe expulsam da escola, tinha lhe dado um
belo pontapé no saco.
Ninguém
mais se atreveu a molestar, não se incomodava de ficar sozinho no recreio, pois
a maioria se dedicava a encher o saco dos outros. Aproveitava para ler, estudar, precisava
recuperar o tempo perdido.
Um dia
vieram avisar que seu pai tinha sofrido um acidente na fábrica, acreditou
imediatamente que era devido ao seu azar.
Sua mãe postiça, disse que nada disso, eram coisas que aconteciam, tinha
caído uma viga que estava sendo transportada pelo ar, por acaso ele estava
trabalhando justo embaixo. A viga
acertou justo sua nuca, fazendo com que caísse para frente em cima da máquina
que usava, essa lhe serrou um pedaço da cabeça.
O
caixão estava fechado para que as pessoas não ficassem bisbilhotando. Como sua mãe Doriana dizia, a fábrica lhe
pagaria uma pensão de viúva, assim não passariam necessidades. Mesmo assim ela trabalhava todos os dias
arrumando as casas dos chefes da fábrica para não faltar nada para ele.
Quando
começou a secundária, arrumou um emprego num armazém na parte da tarde, o filho
do patrão, estudava com ele. Nunca lhe
dirigia nenhuma palavra, nem no armazém, tampouco na escola. Quando o pai lhe dizia para dar uma ordem,
chegava perto dizendo, o velho mandou você fazer isso ou aquilo.
No dia
do baile de formatura, sua mãe, fez questão que ele fosse, seu pai ficaria
orgulhoso de ti, com suas economias tinha lhe comprado um terno de segunda mão,
que ficava perfeito no seu corpo, pois o trabalho no armazém lhe tinha feito
criar músculos.
Ficou
a maior parte do tempo sentado à parte, escutando as conversas, todos falavam
em ir para a universidade. Ele não tinha
se candidatado a nenhuma bolsa de estudos, pois simplesmente era um aluno
regular. De notas altas, seu nível
ficava entre 7, 8, quando muito 9, nada de tapinhas nas costas. Dava um duro desgraçado, pois tinha certa
dificuldade para se expressar.
No
fundo tinha uma certa inveja, sua mãe vinha falando sobre isso, que talvez
devessem se mudar de cidade, ir para mais perto de San Diego ou mesmo Los
Angeles, ela tinha uma irmã que vivia em Venice Beach, não se viam a muito
tempo, mas quem sabe.
Justo
essa noite quando chegou em casa a encontrou morta, alguém tinha entrado para
roubar, só podia ser alguém que fosse drogado, pois naquela casa tudo era o
justo.
Sabia
que ela tinha um esconderijo, mas disso ela só tinha mostrado para ele, para
garantir nosso futuro dizia.
A
polícia veio, mas se via que não iam fazer nada, ele se culpava que não devia
ter ido ao baile, foi a única coisa que o detetive foi simpático, não adianta
te culpar, pois se talvez estivesses aqui, teriam te matado também. Por sorte uma vizinha viu quem tinha
sido, um conhecido dali que ultimamente tinha se viciado em cocaína. Não teve sequer que se vingar, pois
encontraram o mesmo com uma sobre dose.
Como
sua mãe pagava o aluguel adiantado, ainda poderia ficar mais um mês por
ali. Tinha que pensar no que fazer. Esperou os ânimos se acalmarem, para ir
buscar a lata que ela escondia suas economias.
Quando viu a quantidade, se assustou a princípio. Daria para começar a vida em qualquer
lugar. Nada do outro mundo, para alguém
como ele, que tinha o básico estava bem.
Ultimamente vinha usando as roupas do que tinha sido seu pai, pois tinha
agora a mesma altura dele, bem como corpo.
Um dia
ficou sentado na praia pensando no assunto, se deu conta que alguém se sentava
perto, era o detetive que tinha atendido o caso.
Em que
estás pensando, para estar tão sério na tua idade?
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No que vou fazer da minha vida,
não sei que rumo tomar. Tínhamos pensado
em ir para Venice Beach aonde ela tinha parentes, apesar de não os ver a muitos
anos. Mas dizia que família sempre
seria família.
Bom,
nem sempre é assim, mas se você não os conhece, pode ser mais difícil, não gostaria
de ir estudar?
Sim, mas não tenho notas para
ir à universidade com uma bolsa.
Mas
poderia entrar para academia de polícia ou mesmo para o exército, embora eu não
recomende esse último, serias bucha de canhão, lhe explicou o que queria dizer
com isso, as pessoas pobres vão para serem mortos em lugar dos políticos que
inventam essas guerras.
Se
quiseres posso te indicar para a academia de polícia, passe amanhã na delegacia
que eu faço uma carta para ti.
Assim
fez, o homem foi extremamente simpático com ele, disse que não era dali, sim de
Los Angeles, que estava ali só durante um curto período, substituindo um
detetive que tinha sido assassinado.
Dentro de semanas voltava para Los Angeles, lhe deu seu número de
celular.
Sentiu
que sua sorte mudava, como se tivesse alguém o protegendo.
Juntou
seu dinheiro, pediu as contas no armazém, colocou o pouco que tinha numa
mochila, foi embora, não ia sentir falta daquele lugar, apesar de ter tido a
sorte dessa boa família.
Foi direto ao endereço que ele o
tinha dado, fez os exames, foi aprovado, nada de nota máxima, mas sim o justo
para entrar. Passou por todos as
provas de calouros, aguentando ao máximo a barra de tudo isso. Passou a levar o curso muito a sério, pois
lhe interessava, era curioso, intuitivo, prestava atenção aos detalhes. No primeiro semestre tirou uma boa nota,
coisa que ele não esperava. Se saia bem
nas coisas práticas, o que era elogiado.
Quando começaram as aulas de tiro, todos ficaram surpresos, pois era
excelente na pontaria. Raramente errava
uma, inclusive o levaram para um campeonato que participavam os melhores, ficou
em segundo lugar, porque um sacana o distraiu ao momento. Seu orientador lhe disse, vês, quando estas
de serviço uma simples distração de segundos, pode ser fatal para ti.
Nesse dia, justo depois de
receber a taça, o detetive se aproximou dele.
Bom vejo que não me enganei contigo, eres excelente, quem sabe depois
que termine o curso não te consiga um lugar na delegacia que estou.
Seu
professor, depois lhe disse, sei que foi o inspetor que te apresentou para os
testes, esse homem é um dos melhores homens da polícia, como tu, tem uma
pontaria certeira. Sua vida está cheia
de desgraças, perdeu a mulher, bem como um filho que estava por nascer. Nessa vida que levamos, família é sempre um
problema, nunca temos tempo para eles.
Travou
uma amizade com o professor, este lhe contou que tinha optado por dar classes,
por ter diversos ferimentos que lhe impediam trabalhar direito.
Num
final de semana, tinha saído com os companheiros, encontrou o mesmo, num bar,
os amigos de repente desapareceram, o deixando para trás. Ficaram conversando os dois, quando viu tinha
perdido o ônibus para voltar, tomou uma decisão, ficarei num hotel.
O
professor o convidou para dormir em seu apartamento, não vivo na escola, mas
sim aqui na cidade, amanhã fica fácil para ires desde lá.
Não
será nenhum inconveniente para o senhor?
Nada,
imagina, eres meu melhor aluno, como vai ser um inconveniente, começaram um bate-papo
largo. Quando viram estavam se
beijando, foi franco com ele, nunca tive relações sexuais com ninguém, sou novo
em tudo isso.
Mas
tudo deu certo, de uma certa maneira agora passava os finais de semanas juntos,
discretamente para não chamar a atenção.
Quando
acabou a academia, foi chamado pelas suas notas, em termos de aproveitamento
por várias delegacias, aceitou a do inspector, ele recomendou que primeiro
fizesse trabalho de rua, foi o que aconteceu.
Um ano patrulhando a cidade, cada x tempo em um bairro. Depois passou a compartir um carro com um
companheiro. O que veio genial.
Mas se
destacou logo desde o início, por ser observador, mesmo sendo um simples
polícia, levava luvas, protetores de calçados, para nunca sujar a cena de um
crime. Quando chegava os inspetores,
tinha tudo anotado, as anomalias do local.
Isso impressionava, pois os outros policiais não tomavam cuidado,
principalmente os que estavam a muito tempo em serviço, quando passou a andar
de carro, tinha sempre um bloco para anotar as ocorrências, à parte, além do
próprio computador do veículo. Depois de
três anos, fez concurso para inspetor, na prova escrita tirou uma nota média,
mas ao mesmo tempo, na oral, entrevistas, se saiu bem, uma das perguntas
claves, pois todos pareciam saber como tinha trabalhado todos esses anos, disse
que anotava tudo que lhe parecia suspeito, as vezes no formulário não havia
espaços para isso, mas ele memorizava detalhes.
Foi
ser assistente do inspetor que já o conhecia.
Os colegas não o receberam muito bem, pois era como apadrinhado do
mesmo, mas se esforçou tanto em se sair bem no trabalho, que não se importou
com isso. Mantinha o relacionamento
com o professor, embora tivesse agora um pequeno apartamento perto da
delegacia.
Seu
primeiro caso real, que o tornou de certa maneira famoso, foram chamados para
atender um homicídio, numa mansão de um homem muito rico. Era o fotografo das grandes estrelas do
cinema, além de reportagem para grandes revistas.
Quando
chegou ao local do crime, entrou na sala, ficou parado, observando tudo, as
coisas não encaixavam. Começou a
analisar o entorno. O amante do
fotografo, descia as escadas, com um celular na mão, prestou atenção, que
estava borrando fotos. Quando lhe
perguntou se o celular era seu, ficou confuso.
O retirou de sua mão, colocando dentro de uma bolsa de provas. Perguntou ao polícia que estava ali desde o princípio,
se ele estava com a mesma roupa. Disse
que não, estava vestido todo de negro. Mandou o mesmo ir buscar a roupa anterior como
prova, o que ele estranhava, era que o morto, estava em cima de um tapete, este
não tinha muito sangue, para um homem da altura que tinha, devia ter perdido
mais. Deu ordem que ninguém se movesse
de seu lugar. Com a equipe técnica, mandou passar luminal na escada, não deu
outra apesar de estar limpa, apareciam pontos de sangue.
A
essas alturas já tinha dado ordem a um policial, para colocar algemas no
amante. Com sapatos protegidos,
subiu. No quarto verificou que o tapete
estava grande demais para o espaço, quando levantaram o mesmo, havia resto de
uma mancha de sangue. O homem tinha sido assassinado no andar de
cima, quando entrou no seu local de trabalho, era fácil perceber que tinham
remexido o mesmo. Tinha procurado alguma
coisa, mas pelo visto não tinham encontrado.
Voltou ao quarto, a cama tinha sido arrumada recentemente, ficou parado
no umbral, procurando alguma coisa que no primeiro momento tinha lhe chamado
atenção. Foi passando o dedo com a luva
pelo marco da porta, até que encontrou o que achou diferente, um cartão fotográfico,
pois na sala de trabalho, tinha uma câmera fotográfica, mas lhe faltava justo o
cartão. Colocou dentro de um saco
plástico, mandou procurarem pela sala, um laptop ou qualquer tipo de
computador.
No
carro sempre levava um, pediu que o trouxessem. Primeiro viu foi uma foto, o amante com
outro homem em cima, depois um vídeo, os dois fazendo sexo falando, quando se
via que eram descobertos, o outro era um famoso ator de cinema, casado, com uma
família. Se via que se levantavam, talvez nesse momento, o morto tenha retirado
o cartão, enfiado ali no marco da porta.
Quando seu chefe chegou, começou a relatar tudo. Pediu ao mesmo policial que o tinha atendido
antes, que dessem uma batida pelas lixeiras da rua, que era uma descida, ver se
encontravam algum tapete por ali.
Os
técnicos tinham já levado o corpo para examinar, ele foi relatando o que tinha
suspeitado, primeiro o tapete não tinha muito sangue, segundo o amante apareceu
impecável, tentando borrar coisas de um celular que não era o seu. Tinha recebido o policial com outra roupa,
negra, que já tinha ido para análise. O
escritório estava mexido, como se estivessem procurando alguma coisa que não
encontraram, mas isso não era importante, sim o cartão fotográfico enfiado no
marco da porta.
Se via
totalmente a cara do outro. O inspetor
deu imediatamente ordem para irem a sua casa, que os acompanhassem a
delegacia. Bom trabalho inspetor,
comentou o chefe.
Nesse
momento chegava o empregado. Quando
soube o que tinha acontecido, soltou logo de uma vez. Esse viado, sempre que o patrão se
ausentava, trazia alguém para casa, me dava o dia livre. Falei várias vezes isso com o patrão, mas não
parecia lhe importar. Pelo que escutei
ele pensava se casar com o amante, já que não tem família. Mas ultimamente estava mais desconfiado, deve
ter voltado antes do que foi fazer.
Tens
sua agenda de trabalho?
Sim
sou eu quem organiza tudo. Deveria estar
em San Diego, depois iria a San Francisco para uma seção fotográfica que foi
cancelada. Por isso voltou antes.
Os
acompanhou a delegacia. O amante, era
um tipo desses que ao entrar em qualquer lugar, imediatamente chamam atenção,
pois destilam sexo. Além de bonito, um
corpo atraente, mas o incrível era que tinha uma voz horrível. Parecia de uma velha histérica. Talvez por isso não tinha conseguido fazer
cinema.
Foi
chamado pelo patólogo, quando viu o cadáver, entendeu imediatamente, o homem
tinha um piru de criança, por isso devia aguentar o outro, talvez aceitasse
suas traições por não poder dar o que o outro também necessitava.
O
policial que tinha revistado o quarto encontrou, estava ali numa maleta,
objetos sexuais, que deviam usar durante o relacionamento sexual.
Voltou
a delegacia, o amante, disse que ele só tinha ajudado nada mais, quem tinha
matado o fotografo, tinha sido o ator.
Afinal tinha uma reputação a zelar.
Acabou
confessando o que ele suspeitava, sim que tinha amantes, pois o seu companheiro
não era capaz de satisfazê-lo, que pensavam em se casar, mas que ele vinha
adiando sempre o compromisso. Que o
ator era seu amante a muito tempo, tinha prometido ao outro, que não iam mais
se encontrar, por isso este tinha ficado furioso.
O ator
ao ser confrontado com tudo, negou o assassinato, disse que tinha sido o
outro. Justo estavam no interrogatório,
quando o policial que ele tinha mandado vistoriar as lixeiras, avisou que tinha
encontrado a arma do crime. A escultura
de um Oscar, que o mesmo tinha ganhado pelas fotografias de um filme.
O caso
resolvido foi um escândalo, os dois condenados a prisão, ficaram os dois num
jogo de empurra, até que quando o empregado disse que ele tinha outros amantes,
o ator, contou outra versão.
De
qualquer maneira as manchetes dos jornais, fizeram muito propaganda em cima dos
inspetores. Mas ele tirou o corpo fora,
quem deu as entrevistas foi seu chefe.
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Os outros inspetores, passaram
a respeitá-lo, bem como pedir auxílio de vez em quando.
Como
tinha anotado tudo a respeito do crime, conseguiu conversar com o amante,
relatando sua vida antes, durante até o crime.
O mesmo fez com o ator, acabou escrevendo um livro na surdina, mostrou
para o inspetor, que gostou muito. A
anos atrás tinha salvado de um sequestro, o filho de um produtor, mandou o
texto para ele dar uma olhada, ver se valia a pena, pensar num filme.
Este
telefonou em seguida, dizendo que estava interessado em comprar seus direitos
autorais.
O
melhor que fazes, contrata um advogado para isso. Esses contratos são sempre enganosos.
Ao
mesmo tempo ele tinha mandado o texto para uma editora, que estava interessada.
Com
todo esse dinheiro, comprou uma casa, nas encostas, com vista privilegiada da
cidade, mas tudo era simples, ele não tinha luxos, enquanto os outros se
esmeravam em usar trajes caros, ele apesar de não ter família, pensava no dia
de amanhã.
Como
dizia sempre para seu namorado, quem saiu da merda, tem que tomar cuidado, pois
pode voltar a ela.
O
namorado, tinha um certo ciúme do seu sucesso, agora se encontravam menos, um
belo dia, pelo celular, anunciou que tinha sido convidado para a escola de
Quantico, que partia no dia seguinte.
Ia viver sua vida. Ficou
desolado, não sabia dizer se o amava, ou se tinha se acomodado na situação, de
não ter que procurar aventuras por baixo do pano.
Sair
do armário, sempre era um problema.
Teve mais dois casos, complicados, como sempre escrevia tudo, a
respeito, um deles teve tamanha repercussão mediática, que se viu de repente
cercado de jornalista, a cada lugar que ia.
Descobriu depois que alguém vinha dando informações a respeito do caso,
os passos que ele podia dar.
Era um
dos muitos colegas invejosos de seu talento para resolver os casos. Combinou com seu chefe que só se reportaria
a ele, assim não teriam vazamentos.
O caso
era complicadíssimo, pois implicava políticos, gente de cinema, da alta
sociedade, novos ricos. Acabou destapando
uma rede de sequestro, abusos sexuais, posteriormente morte de uma série de
adolescentes, todas pensando em fazer carreira cinematográfica.
Incluía
inclusive uma madame que fornecia as jovens para essas festas, em que rolavam
drogas, mas na verdade quem cometia o crime final, era um homem que trabalhava
para um deles, cujo trabalho era devolvê-las a madame.
Quando
acabou de escrever a história, muitos produtores estavam interessados, para
fazer um filme. Ele esperou primeiro
lançar o livro, que foi um sucesso, assim poderia pedir mais pelo texto para o
cinema.
O
queriam contratar para acompanhar a filmagem, mas se negou, dizia que depois de
ter vendido o livro, bem como o roteiro de cinema, era como um filho que se
coloca no mundo esperando que cresça, siga adiante.
O
seguinte caso, chamou depois de Perfume.
Quando entrou no lugar do crime, a casa de um perfumista, havia um
cheiro no ar. Era diferente, prestou
atenção nos detalhes da cena, tinha a sensação de que o homem teria atirado o
frasco com a essência no chão de proposito, para que não pudessem roubar a
ideia. Era um homem alto, forte, deve
ter lutado, pois se via que na luta, muitas coisas tinham caído no chão. Mandou examinar embaixo das unhas, tinham
lhe esfaqueado várias vezes. O legista
achava que a primeira tinha sido nas costas, que então ele tinha se virado,
deve ter reconhecido a pessoa, pois o perfume caiu ao chão, ele começou a
imaginar a cena. Prestou atenção na
sequência que podia ter acontecido.
Pode
ter sido uma mulher, pois as duas primeiras facadas não foram muito profundas,
se via que tinha queimado alguma coisa num cinzeiro grande. Talvez a fórmula, pois se notava sangue na
peça de vidro. Ele tinha tido tempo de
se defender, bem como proteger sua fórmula.
Quando
a empregada, uma senhora de idade Mexicana chegou, ficou aos prantos, disse que
tinha despedido dias antes sua ajudante, pois achava que ela estava copiando os
experimentos dele. Que ali faltava seu laptop,
este estava sempre em cima da mesa. Creio que o senhor usava um código próprio
para escrever, pois a última discussão dos dois foi sobre isso.
Foram
até a casa da ajudante, a pegaram com a mão na massa, tentava decifrar a
maneira como ele escrevia, viu as unhas dela, tinha a sensação, que estava
sujas.
Mandou
o legista analisar se tinha alguma coisa embaixo da unha.
No
interrogatório, ela disse que o tinha encontrado morto, que tinha recolhido o
laptop, para saber se estava ali a lista de produtos do seu último perfume.
Por enquanto
era a única suspeita. Alegou que apesar
de a ter despedido, eram próximos um do outro, que trabalhava com ele a anos.
Que
agora estava trabalhando num perfume para uma marca italiana.
Poderia
a ter incriminado simplesmente por isso.
Mas algo lhe dizia que nada era tão simples assim. Mandou examinar o laptop do assassinado.
Descobriram
que não estava no seu melhor momento, que estava desenvolvendo perfumes para
cadeias de boutiques, pois o seu auge com as grandes marcas tinha passado. Que além de estar devendo muito dinheiro pelo
trem de vida de levava, com gastos altíssimos, estava sem caixa.
Esse
novo perfume seria sua ressureição.
A
ajudante confirmou que as duas primeiras facadas tinham sido dela, mas que as
outras não, quando sai, ele estava vivo, só levei o laptop. Discutimos, pois na verdade, algumas coisas
do perfume novo, tinha sido sugestão minha, mas como sempre ele iria levar a
glória sozinho. Sempre fazia isso com
todos os ajudantes. Fiquei furiosa,
pois não me escutava.
Mas
claro, ele tinha misturado algumas outras coisas, como marca própria, coisas
que nunca contava a ninguém, que estavam sempre em seu laptop.
Enquanto
discutíamos depois das duas facadas, ele queimou a fórmula que estava
escrevendo, dizendo que tudo estava em sua cabeça. Sua origem é árabe, por isso creio que está
escrito em árabe ou farsi.
Mas
fora, ele tinha muitos inimigos, a quem devia muito dinheiro, principalmente
nos cassinos de Las Vegas. Creio que
descobriram que já não estava no seu auge, pois demorava para pagar suas
dívidas.
Mas
vocês olharam o sistema de segurança, que tinha fora da casa?
Com
muito custo descobriram aonde estava, revisaram a casa pelo menos umas duas
vezes, estava num armário com fundo falso.
Uma pequena saleta, que tinha cofres, além do sistema de
vigilância. Se via a assistente
entrando, depois saindo com o laptop, o horário confirmava que ainda estava
vivo. Depois um carro chegando,
descendo dois homens, chineses de algum cassino de Las Vegas. Saiam discutindo, falando alto. Mandou a gravação para um intérprete.
Quando
escutaram, eles estavam surpresos com a reação do homem, pois os tinha atacado,
dizendo que já não havia nada para roubar.
Mandou
os retratos dos dois homens para Las Vegas, bem como o nome do cassino que
costumava frequentar.
O
negócio era mais complicado, tinha prometido desenvolver um perfume para uma
empresa chinesa que a lançaria no mercado internacional, mas não tinha cumprido
o trato, se dedicando a fazer o perfume de sua vida. Os atacantes já não estavam mais em
território americano, bem como o que tinha dado a ordem.
De
qualquer maneira a secretária foi acusada de agressão. Cumpriria condena muito
tempo.
Era um
caso de muitas voltas. Desta vez
escreveu a história, mas sem poder levá-la adiante, havia uma queixa de seus
colegas que usava dados dos crimes que resolvia para ganhar dinheiro.
A
editora, lhe cobrava que escrevesse mais histórias, usou sua imaginação,
criando um detective que em nada se aparecia a ele. Pura obra de ficção, tirada de crimes
publicados nos jornais.
Não
lhe puderam acusar de nada, inclusive um, que o crime tinha acontecido em
Miami, ao conversar com os colegas, pois o caso estava parado. Perguntou se
precisavam de ajuda, ele ia sair de férias.
Foi até lá ajudou a resolver o crime.
O
livro foi um sucesso, uma produtora, lhe perguntou se queria escrever os
roteiros de uma série, baseada em seu personagem. Conversou muito com seu mentor, este disse
que devia acertar, pois o trabalho deles era incerto, bem como a pensão por
aposentadoria, irrisória.
Justamente
nesse momento, foi ferido perseguindo um bandido, lhe destroçou o ombro já não
poderia atirar com esse braço. Ficou os
primeiros meses chateado, sem poder trabalhar, resolveu então aceitar, fez um
curso, para aprender a escrever os roteiros ele mesmo.
Se
destacava entre os alunos pela sua imaginação.
Se dedicava de corpo e alma a escrever, pois sua vida amorosa era sempre
um desastre. Nunca durava muito tempo
com ninguém.
O
único que o tinha visitado no hospital, foi o seu amigo inspetor, esse disse
que se aposentava, iria viver um tempo na Itália, aonde costumava passar suas
férias. Um dia lhe levou a sua casa, uma
caixa cheia de blocos de anotações dos crimes que tinha investigado, era como
ele detalhista. Não tenho o dom de
escrever, mas tu sim, aproveita.
Para a
série, aproveitou, criou um companheiro para seu personagem, o amigo inspetor,
eram duas pessoas muito diferentes uma da outra, quando trabalhavam juntos,
estava sempre discutindo os detalhes. O
primeiro livro bem como o roteiro, lhe mandou para Itália. O velho telefonou, rindo, dizendo que tinha
se divertido com a história, era como ver em sua mente os dois discutindo os
casos.
Comprou
uma casa com seu dinheiro em Malibu, de frente para o mar, quando o inspetor
voltou, o convidou para ficar lá. Havia
espaço suficiente para os dois.
Começaram a escrever os dois juntos.
Um caso do jornal lhes chamou atenção, resolveram investigar por conta
própria, acabaram eles descobrindo o culpado, pois a polícia acusava outra
pessoa.
Algumas
pessoas os procuravam agora para investigar algum caso.
Se entendiam tanto, que
pareciam mais um casal de amantes. Um
dia discutindo isso, pois comentavam que entre eles existia algo. O velho inspetor disse que sempre o tinha
querido, mas tinha medo, não tinha experiência além dele ser mais jovem.
Foi um
relacionamento produtivo em todos os sentidos, se entendiam de maravilha no que
faziam, embora John tivesse medo de mais uma vez por azar perder quem amava. O
outro dizia que isso era besteira, que o dia que tivesse que morrer, era porque
tinha chegado sua hora, nada mais certo, como um mais um são dois.
Mesmo
assim viveram muitos anos, chegaram a ganhar um Oscar por um roteiro, de um
filme que nunca pensaram que chegaria tão longe.
Quando
John morreu, antes do homem que amava, que era mais velho que ele, na cerimônia
o velho inspetor mencionou, tinha tanto medo de me perder, quem perdeu fui eu.
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