lunes, 8 de febrero de 2021

AZAR

 

                                           AZAR

 

Desde que entendia por gente, sempre tivera um azar monumental, nunca nada dava certo, a começar que tinha sido abandonado na porta de uma igreja de madrugada, depois foi levado a um orfanato, estava desnutrido, depois de exames, teve que ficar muito tempo sob observação, segundo a irmã que o cuidou não foi nada fácil.

Quando tinha uns cinco anos, começou a crescer normalmente, de feio que era ficou um garoto bonito.   Logo todos queriam adotá-lo, mas as irmãs eram restritas com as famílias, era necessário, realmente ter condições.

A primeira família que tentou adotá-lo logo caiu sobre suspeita, não eram o que aparentavam, justo no dia que ia ser entregue, a polícia os pegou na porta do orfanato.   O faziam em vários estados para depois vende-los a pédofilos.

Durante as visitas ele até tinha se encaprichado pela senhora, que era muito bonita, bem vestida, cheirava bem.   Mas depois escutou que ela era a chefe da quadrilha, como podia uma pessoa ser assim.

Finalmente com oito anos foi adotado, mas logo levado para uma das cidades perto de San Diego, tinha uma pequena praia, mas a família o queria para realmente trabalhar como um escravo, quando não fazia o que pediam, lhe davam uma surra de cinturão.   Aguentou o quanto pode, mas um dia que tinha levado uma bela surra, porque tinha deixado cair uns pratos, de madrugada se mandou.     Foi se esconder perto de um parking de trailers, gente que trabalhava numa fábrica.

Uma senhora com uma boa cara, com os cabelos amarados em rabo de cavalo o descobriu morto de fome.   O levou para seu trailer, curou suas feridas nas costas, lhe deu comida, quando chegou seu marido que estava fazendo o turno da noite, ficou impressionado, mostrou para ele uma foto, era igual ao filho que tinham tido, explicou que tinha morrido em outra cidade.  

Quando a polícia procurou trailer por trailer, o apresentaram como seu filho, mostraram os documentos, suas fotos desde criança, a partir desse dia passou a se chamar John Chevalier, era bem cuidado, ajudava a senhora que agora chamava de mãe, todos os dias, mas ela logo o colocou numa escola ali perto, descobriu que ele não sabia nem ler, nem escrever.   Sabia na verdade um básico que tinha aprendido no orfanato.

Ao entrar na escola, o mandaram sentar numa carteira, que ao parecer ninguém queria sentar-se, descobriu depois que o menino que se sentava ali, tinha morrido.  Com isso ninguém se aproximava dele, como se fosse um estigma.

Alguns mais velhos o ameaçaram, mas o que era agora seu pai, como já imaginando que isso aconteceria, por ele ser bonito, tinha lhe ensinado a se defender.  Lhe ensinou truques de boxe, ou mesmo uma autodefesa um tanto dura, tipo dar um chute no saco do outro, ou meter os dedos nos olhos, essas coisas.

No primeiro ataque que lhe fizeram se defendeu, por sorte um professor viu tudo, pois o outro garoto era filho do diretor.  Abusava disso, por pouco não lhe expulsam da escola, tinha lhe dado um belo pontapé no saco.

Ninguém mais se atreveu a molestar, não se incomodava de ficar sozinho no recreio, pois a maioria se dedicava a encher o saco dos outros.  Aproveitava para ler, estudar, precisava recuperar o tempo perdido.

Um dia vieram avisar que seu pai tinha sofrido um acidente na fábrica, acreditou imediatamente que era devido ao seu azar.   Sua mãe postiça, disse que nada disso, eram coisas que aconteciam, tinha caído uma viga que estava sendo transportada pelo ar, por acaso ele estava trabalhando justo embaixo.   A viga acertou justo sua nuca, fazendo com que caísse para frente em cima da máquina que usava, essa lhe serrou um pedaço da cabeça.

O caixão estava fechado para que as pessoas não ficassem bisbilhotando.   Como sua mãe Doriana dizia, a fábrica lhe pagaria uma pensão de viúva, assim não passariam necessidades.    Mesmo assim ela trabalhava todos os dias arrumando as casas dos chefes da fábrica para não faltar nada para ele.

Quando começou a secundária, arrumou um emprego num armazém na parte da tarde, o filho do patrão, estudava com ele.   Nunca lhe dirigia nenhuma palavra, nem no armazém, tampouco na escola.   Quando o pai lhe dizia para dar uma ordem, chegava perto dizendo, o velho mandou você fazer isso ou aquilo.

No dia do baile de formatura, sua mãe, fez questão que ele fosse, seu pai ficaria orgulhoso de ti, com suas economias tinha lhe comprado um terno de segunda mão, que ficava perfeito no seu corpo, pois o trabalho no armazém lhe tinha feito criar músculos.

Ficou a maior parte do tempo sentado à parte, escutando as conversas, todos falavam em ir para a universidade.  Ele não tinha se candidatado a nenhuma bolsa de estudos, pois simplesmente era um aluno regular.   De notas altas, seu nível ficava entre 7, 8, quando muito 9, nada de tapinhas nas costas.   Dava um duro desgraçado, pois tinha certa dificuldade para se expressar.

No fundo tinha uma certa inveja, sua mãe vinha falando sobre isso, que talvez devessem se mudar de cidade, ir para mais perto de San Diego ou mesmo Los Angeles, ela tinha uma irmã que vivia em Venice Beach, não se viam a muito tempo, mas quem sabe.

Justo essa noite quando chegou em casa a encontrou morta, alguém tinha entrado para roubar, só podia ser alguém que fosse drogado, pois naquela casa tudo era o justo.

Sabia que ela tinha um esconderijo, mas disso ela só tinha mostrado para ele, para garantir nosso futuro dizia.

A polícia veio, mas se via que não iam fazer nada, ele se culpava que não devia ter ido ao baile, foi a única coisa que o detetive foi simpático, não adianta te culpar, pois se talvez estivesses aqui, teriam te matado também.      Por sorte uma vizinha viu quem tinha sido, um conhecido dali que ultimamente tinha se viciado em cocaína.  Não teve sequer que se vingar, pois encontraram o mesmo com uma sobre dose.

Como sua mãe pagava o aluguel adiantado, ainda poderia ficar mais um mês por ali.  Tinha que pensar no que fazer.   Esperou os ânimos se acalmarem, para ir buscar a lata que ela escondia suas economias.   Quando viu a quantidade, se assustou a princípio.  Daria para começar a vida em qualquer lugar.   Nada do outro mundo, para alguém como ele, que tinha o básico estava bem.   Ultimamente vinha usando as roupas do que tinha sido seu pai, pois tinha agora a mesma altura dele, bem como corpo.

Um dia ficou sentado na praia pensando no assunto, se deu conta que alguém se sentava perto, era o detetive que tinha atendido o caso.   

Em que estás pensando, para estar tão sério na tua idade?

No que vou fazer da minha vida, não sei que rumo tomar.  Tínhamos pensado em ir para Venice Beach aonde ela tinha parentes, apesar de não os ver a muitos anos.    Mas dizia que família sempre seria família.

Bom, nem sempre é assim, mas se você não os conhece, pode ser mais difícil, não gostaria de ir estudar?

Sim, mas não tenho notas para ir à universidade com uma bolsa. 

Mas poderia entrar para academia de polícia ou mesmo para o exército, embora eu não recomende esse último, serias bucha de canhão, lhe explicou o que queria dizer com isso, as pessoas pobres vão para serem mortos em lugar dos políticos que inventam essas guerras.

Se quiseres posso te indicar para a academia de polícia, passe amanhã na delegacia que eu faço uma carta para ti.

Assim fez, o homem foi extremamente simpático com ele, disse que não era dali, sim de Los Angeles, que estava ali só durante um curto período, substituindo um detetive que tinha sido assassinado.   Dentro de semanas voltava para Los Angeles, lhe deu seu número de celular.

Sentiu que sua sorte mudava, como se tivesse alguém o protegendo.

Juntou seu dinheiro, pediu as contas no armazém, colocou o pouco que tinha numa mochila, foi embora, não ia sentir falta daquele lugar, apesar de ter tido a sorte dessa boa família.

Foi direto ao endereço que ele o tinha dado, fez os exames, foi aprovado, nada de nota máxima, mas sim o justo para entrar.     Passou por todos as provas de calouros, aguentando ao máximo a barra de tudo isso.   Passou a levar o curso muito a sério, pois lhe interessava, era curioso, intuitivo, prestava atenção aos detalhes.   No primeiro semestre tirou uma boa nota, coisa que ele não esperava.  Se saia bem nas coisas práticas, o que era elogiado.  Quando começaram as aulas de tiro, todos ficaram surpresos, pois era excelente na pontaria.  Raramente errava uma, inclusive o levaram para um campeonato que participavam os melhores, ficou em segundo lugar, porque um sacana o distraiu ao momento.  Seu orientador lhe disse, vês, quando estas de serviço uma simples distração de segundos, pode ser fatal para ti.

Nesse dia, justo depois de receber a taça, o detetive se aproximou dele.   Bom vejo que não me enganei contigo, eres excelente, quem sabe depois que termine o curso não te consiga um lugar na delegacia que estou.

Seu professor, depois lhe disse, sei que foi o inspetor que te apresentou para os testes, esse homem é um dos melhores homens da polícia, como tu, tem uma pontaria certeira.  Sua vida está cheia de desgraças, perdeu a mulher, bem como um filho que estava por nascer.  Nessa vida que levamos, família é sempre um problema, nunca temos tempo para eles.

Travou uma amizade com o professor, este lhe contou que tinha optado por dar classes, por ter diversos ferimentos que lhe impediam trabalhar direito.

Num final de semana, tinha saído com os companheiros, encontrou o mesmo, num bar, os amigos de repente desapareceram, o deixando para trás.  Ficaram conversando os dois, quando viu tinha perdido o ônibus para voltar, tomou uma decisão, ficarei num hotel.

O professor o convidou para dormir em seu apartamento, não vivo na escola, mas sim aqui na cidade, amanhã fica fácil para ires desde lá.

Não será nenhum inconveniente para o senhor?

Nada, imagina, eres meu melhor aluno, como vai ser um inconveniente, começaram um bate-papo largo.       Quando viram estavam se beijando, foi franco com ele, nunca tive relações sexuais com ninguém, sou novo em tudo isso.

Mas tudo deu certo, de uma certa maneira agora passava os finais de semanas juntos, discretamente para não chamar a atenção.

Quando acabou a academia, foi chamado pelas suas notas, em termos de aproveitamento por várias delegacias, aceitou a do inspector, ele recomendou que primeiro fizesse trabalho de rua, foi o que aconteceu.  Um ano patrulhando a cidade, cada x tempo em um bairro.  Depois passou a compartir um carro com um companheiro.   O que veio genial.

Mas se destacou logo desde o início, por ser observador, mesmo sendo um simples polícia, levava luvas, protetores de calçados, para nunca sujar a cena de um crime.  Quando chegava os inspetores, tinha tudo anotado, as anomalias do local.  Isso impressionava, pois os outros policiais não tomavam cuidado, principalmente os que estavam a muito tempo em serviço, quando passou a andar de carro, tinha sempre um bloco para anotar as ocorrências, à parte, além do próprio computador do veículo.  Depois de três anos, fez concurso para inspetor, na prova escrita tirou uma nota média, mas ao mesmo tempo, na oral, entrevistas, se saiu bem, uma das perguntas claves, pois todos pareciam saber como tinha trabalhado todos esses anos, disse que anotava tudo que lhe parecia suspeito, as vezes no formulário não havia espaços para isso, mas ele memorizava detalhes. 

Foi ser assistente do inspetor que já o conhecia.  Os colegas não o receberam muito bem, pois era como apadrinhado do mesmo, mas se esforçou tanto em se sair bem no trabalho, que não se importou com isso.    Mantinha o relacionamento com o professor, embora tivesse agora um pequeno apartamento perto da delegacia.

Seu primeiro caso real, que o tornou de certa maneira famoso, foram chamados para atender um homicídio, numa mansão de um homem muito rico.   Era o fotografo das grandes estrelas do cinema, além de reportagem para grandes revistas.

Quando chegou ao local do crime, entrou na sala, ficou parado, observando tudo, as coisas não encaixavam.  Começou a analisar o entorno.   O amante do fotografo, descia as escadas, com um celular na mão, prestou atenção, que estava borrando fotos.   Quando lhe perguntou se o celular era seu, ficou confuso.   O retirou de sua mão, colocando dentro de uma bolsa de provas.  Perguntou ao polícia que estava ali desde o princípio, se ele estava com a mesma roupa.  Disse que não, estava vestido todo de negro.  Mandou o mesmo ir buscar a roupa anterior como prova, o que ele estranhava, era que o morto, estava em cima de um tapete, este não tinha muito sangue, para um homem da altura que tinha, devia ter perdido mais.  Deu ordem que ninguém se movesse de seu lugar. Com a equipe técnica, mandou passar luminal na escada, não deu outra apesar de estar limpa, apareciam pontos de sangue.

A essas alturas já tinha dado ordem a um policial, para colocar algemas no amante.  Com sapatos protegidos, subiu.   No quarto verificou que o tapete estava grande demais para o espaço, quando levantaram o mesmo, havia resto de uma mancha de sangue.      O homem tinha sido assassinado no andar de cima, quando entrou no seu local de trabalho, era fácil perceber que tinham remexido o mesmo.  Tinha procurado alguma coisa, mas pelo visto não tinham encontrado.  Voltou ao quarto, a cama tinha sido arrumada recentemente, ficou parado no umbral, procurando alguma coisa que no primeiro momento tinha lhe chamado atenção.  Foi passando o dedo com a luva pelo marco da porta, até que encontrou o que achou diferente, um cartão fotográfico, pois na sala de trabalho, tinha uma câmera fotográfica, mas lhe faltava justo o cartão.   Colocou dentro de um saco plástico, mandou procurarem pela sala, um laptop ou qualquer tipo de computador.

No carro sempre levava um, pediu que o trouxessem.    Primeiro viu foi uma foto, o amante com outro homem em cima, depois um vídeo, os dois fazendo sexo falando, quando se via que eram descobertos, o outro era um famoso ator de cinema, casado, com uma família. Se via que se levantavam, talvez nesse momento, o morto tenha retirado o cartão, enfiado ali no marco da porta.   Quando seu chefe chegou, começou a relatar tudo.   Pediu ao mesmo policial que o tinha atendido antes, que dessem uma batida pelas lixeiras da rua, que era uma descida, ver se encontravam algum tapete por ali.

Os técnicos tinham já levado o corpo para examinar, ele foi relatando o que tinha suspeitado, primeiro o tapete não tinha muito sangue, segundo o amante apareceu impecável, tentando borrar coisas de um celular que não era o seu.   Tinha recebido o policial com outra roupa, negra, que já tinha ido para análise.  O escritório estava mexido, como se estivessem procurando alguma coisa que não encontraram, mas isso não era importante, sim o cartão fotográfico enfiado no marco da porta.

Se via totalmente a cara do outro.   O inspetor deu imediatamente ordem para irem a sua casa, que os acompanhassem a delegacia.   Bom trabalho inspetor, comentou o chefe.

Nesse momento chegava o empregado.  Quando soube o que tinha acontecido, soltou logo de uma vez.   Esse viado, sempre que o patrão se ausentava, trazia alguém para casa, me dava o dia livre.   Falei várias vezes isso com o patrão, mas não parecia lhe importar.  Pelo que escutei ele pensava se casar com o amante, já que não tem família.  Mas ultimamente estava mais desconfiado, deve ter voltado antes do que foi fazer.

Tens sua agenda de trabalho?

Sim sou eu quem organiza tudo.  Deveria estar em San Diego, depois iria a San Francisco para uma seção fotográfica que foi cancelada. Por isso voltou antes.

Os acompanhou a delegacia.    O amante, era um tipo desses que ao entrar em qualquer lugar, imediatamente chamam atenção, pois destilam sexo.   Além de bonito, um corpo atraente, mas o incrível era que tinha uma voz horrível.  Parecia de uma velha histérica.   Talvez por isso não tinha conseguido fazer cinema.

Foi chamado pelo patólogo, quando viu o cadáver, entendeu imediatamente, o homem tinha um piru de criança, por isso devia aguentar o outro, talvez aceitasse suas traições por não poder dar o que o outro também necessitava.

O policial que tinha revistado o quarto encontrou, estava ali numa maleta, objetos sexuais, que deviam usar durante o relacionamento sexual.

Voltou a delegacia, o amante, disse que ele só tinha ajudado nada mais, quem tinha matado o fotografo, tinha sido o ator.  Afinal tinha uma reputação a zelar.

Acabou confessando o que ele suspeitava, sim que tinha amantes, pois o seu companheiro não era capaz de satisfazê-lo, que pensavam em se casar, mas que ele vinha adiando sempre o compromisso.     Que o ator era seu amante a muito tempo, tinha prometido ao outro, que não iam mais se encontrar, por isso este tinha ficado furioso.

O ator ao ser confrontado com tudo, negou o assassinato, disse que tinha sido o outro.  Justo estavam no interrogatório, quando o policial que ele tinha mandado vistoriar as lixeiras, avisou que tinha encontrado a arma do crime.   A escultura de um Oscar, que o mesmo tinha ganhado pelas fotografias de um filme.

O caso resolvido foi um escândalo, os dois condenados a prisão, ficaram os dois num jogo de empurra, até que quando o empregado disse que ele tinha outros amantes, o ator, contou outra versão.

De qualquer maneira as manchetes dos jornais, fizeram muito propaganda em cima dos inspetores.   Mas ele tirou o corpo fora, quem deu as entrevistas foi seu chefe.

Os outros inspetores, passaram a respeitá-lo, bem como pedir auxílio de vez em quando.

Como tinha anotado tudo a respeito do crime, conseguiu conversar com o amante, relatando sua vida antes, durante até o crime.  O mesmo fez com o ator, acabou escrevendo um livro na surdina, mostrou para o inspetor, que gostou muito.   A anos atrás tinha salvado de um sequestro, o filho de um produtor, mandou o texto para ele dar uma olhada, ver se valia a pena, pensar num filme.

Este telefonou em seguida, dizendo que estava interessado em comprar seus direitos autorais.

O melhor que fazes, contrata um advogado para isso.   Esses contratos são sempre enganosos.

Ao mesmo tempo ele tinha mandado o texto para uma editora, que estava interessada.

Com todo esse dinheiro, comprou uma casa, nas encostas, com vista privilegiada da cidade, mas tudo era simples, ele não tinha luxos, enquanto os outros se esmeravam em usar trajes caros, ele apesar de não ter família, pensava no dia de amanhã.

Como dizia sempre para seu namorado, quem saiu da merda, tem que tomar cuidado, pois pode voltar a ela.

O namorado, tinha um certo ciúme do seu sucesso, agora se encontravam menos, um belo dia, pelo celular, anunciou que tinha sido convidado para a escola de Quantico, que partia no dia seguinte.   Ia viver sua vida.    Ficou desolado, não sabia dizer se o amava, ou se tinha se acomodado na situação, de não ter que procurar aventuras por baixo do pano.

Sair do armário, sempre era um problema.    Teve mais dois casos, complicados, como sempre escrevia tudo, a respeito, um deles teve tamanha repercussão mediática, que se viu de repente cercado de jornalista, a cada lugar que ia.   Descobriu depois que alguém vinha dando informações a respeito do caso, os passos que ele podia dar.

Era um dos muitos colegas invejosos de seu talento para resolver os casos.   Combinou com seu chefe que só se reportaria a ele, assim não teriam vazamentos.

O caso era complicadíssimo, pois implicava políticos, gente de cinema, da alta sociedade, novos ricos.    Acabou destapando uma rede de sequestro, abusos sexuais, posteriormente morte de uma série de adolescentes, todas pensando em fazer carreira cinematográfica.

Incluía inclusive uma madame que fornecia as jovens para essas festas, em que rolavam drogas, mas na verdade quem cometia o crime final, era um homem que trabalhava para um deles, cujo trabalho era devolvê-las a madame.

Quando acabou de escrever a história, muitos produtores estavam interessados, para fazer um filme.    Ele esperou primeiro lançar o livro, que foi um sucesso, assim poderia pedir mais pelo texto para o cinema.

O queriam contratar para acompanhar a filmagem, mas se negou, dizia que depois de ter vendido o livro, bem como o roteiro de cinema, era como um filho que se coloca no mundo esperando que cresça, siga adiante.

O seguinte caso, chamou depois de Perfume.   Quando entrou no lugar do crime, a casa de um perfumista, havia um cheiro no ar.   Era diferente, prestou atenção nos detalhes da cena, tinha a sensação de que o homem teria atirado o frasco com a essência no chão de proposito, para que não pudessem roubar a ideia.   Era um homem alto, forte, deve ter lutado, pois se via que na luta, muitas coisas tinham caído no chão.      Mandou examinar embaixo das unhas, tinham lhe esfaqueado várias vezes.   O legista achava que a primeira tinha sido nas costas, que então ele tinha se virado, deve ter reconhecido a pessoa, pois o perfume caiu ao chão, ele começou a imaginar a cena.   Prestou atenção na sequência que podia ter acontecido.

Pode ter sido uma mulher, pois as duas primeiras facadas não foram muito profundas, se via que tinha queimado alguma coisa num cinzeiro grande.   Talvez a fórmula, pois se notava sangue na peça de vidro.   Ele tinha tido tempo de se defender, bem como proteger sua fórmula.

Quando a empregada, uma senhora de idade Mexicana chegou, ficou aos prantos, disse que tinha despedido dias antes sua ajudante, pois achava que ela estava copiando os experimentos dele.   Que ali faltava seu laptop, este estava sempre em cima da mesa.   Creio que o senhor usava um código próprio para escrever, pois a última discussão dos dois foi sobre isso.

Foram até a casa da ajudante, a pegaram com a mão na massa, tentava decifrar a maneira como ele escrevia, viu as unhas dela, tinha a sensação, que estava sujas.

Mandou o legista analisar se tinha alguma coisa embaixo da unha.

No interrogatório, ela disse que o tinha encontrado morto, que tinha recolhido o laptop, para saber se estava ali a lista de produtos do seu último perfume.

Por enquanto era a única suspeita.   Alegou que apesar de a ter despedido, eram próximos um do outro, que trabalhava com ele a anos.

Que agora estava trabalhando num perfume para uma marca italiana.

Poderia a ter incriminado simplesmente por isso.  Mas algo lhe dizia que nada era tão simples assim.  Mandou examinar o laptop do assassinado.

Descobriram que não estava no seu melhor momento, que estava desenvolvendo perfumes para cadeias de boutiques, pois o seu auge com as grandes marcas tinha passado.  Que além de estar devendo muito dinheiro pelo trem de vida de levava, com gastos altíssimos, estava sem caixa.

Esse novo perfume seria sua ressureição.

A ajudante confirmou que as duas primeiras facadas tinham sido dela, mas que as outras não, quando sai, ele estava vivo, só levei o laptop.  Discutimos, pois na verdade, algumas coisas do perfume novo, tinha sido sugestão minha, mas como sempre ele iria levar a glória sozinho.  Sempre fazia isso com todos os ajudantes.   Fiquei furiosa, pois não me escutava.

Mas claro, ele tinha misturado algumas outras coisas, como marca própria, coisas que nunca contava a ninguém, que estavam sempre em seu laptop.

Enquanto discutíamos depois das duas facadas, ele queimou a fórmula que estava escrevendo, dizendo que tudo estava em sua cabeça.   Sua origem é árabe, por isso creio que está escrito em árabe ou farsi.

Mas fora, ele tinha muitos inimigos, a quem devia muito dinheiro, principalmente nos cassinos de Las Vegas.  Creio que descobriram que já não estava no seu auge, pois demorava para pagar suas dívidas. 

Mas vocês olharam o sistema de segurança, que tinha fora da casa?

Com muito custo descobriram aonde estava, revisaram a casa pelo menos umas duas vezes, estava num armário com fundo falso.  Uma pequena saleta, que tinha cofres, além do sistema de vigilância.     Se via a assistente entrando, depois saindo com o laptop, o horário confirmava que ainda estava vivo.    Depois um carro chegando, descendo dois homens, chineses de algum cassino de Las Vegas.  Saiam discutindo, falando alto.   Mandou a gravação para um intérprete.

Quando escutaram, eles estavam surpresos com a reação do homem, pois os tinha atacado, dizendo que já não havia nada para roubar.

Mandou os retratos dos dois homens para Las Vegas, bem como o nome do cassino que costumava frequentar.

O negócio era mais complicado, tinha prometido desenvolver um perfume para uma empresa chinesa que a lançaria no mercado internacional, mas não tinha cumprido o trato, se dedicando a fazer o perfume de sua vida.     Os atacantes já não estavam mais em território americano, bem como o que tinha dado a ordem.

De qualquer maneira a secretária foi acusada de agressão. Cumpriria condena muito tempo.

Era um caso de muitas voltas.   Desta vez escreveu a história, mas sem poder levá-la adiante, havia uma queixa de seus colegas que usava dados dos crimes que resolvia para ganhar dinheiro. 

A editora, lhe cobrava que escrevesse mais histórias, usou sua imaginação, criando um detective que em nada se aparecia a ele.  Pura obra de ficção, tirada de crimes publicados nos jornais.

Não lhe puderam acusar de nada, inclusive um, que o crime tinha acontecido em Miami, ao conversar com os colegas, pois o caso estava parado. Perguntou se precisavam de ajuda, ele ia sair de férias.   Foi até lá ajudou a resolver o crime.

O livro foi um sucesso, uma produtora, lhe perguntou se queria escrever os roteiros de uma série, baseada em seu personagem.   Conversou muito com seu mentor, este disse que devia acertar, pois o trabalho deles era incerto, bem como a pensão por aposentadoria, irrisória.

Justamente nesse momento, foi ferido perseguindo um bandido, lhe destroçou o ombro já não poderia atirar com esse braço.  Ficou os primeiros meses chateado, sem poder trabalhar, resolveu então aceitar, fez um curso, para aprender a escrever os roteiros ele mesmo.

Se destacava entre os alunos pela sua imaginação.  Se dedicava de corpo e alma a escrever, pois sua vida amorosa era sempre um desastre.    Nunca durava muito tempo com ninguém.

O único que o tinha visitado no hospital, foi o seu amigo inspetor, esse disse que se aposentava, iria viver um tempo na Itália, aonde costumava passar suas férias.  Um dia lhe levou a sua casa, uma caixa cheia de blocos de anotações dos crimes que tinha investigado, era como ele detalhista.   Não tenho o dom de escrever, mas tu sim, aproveita.

Para a série, aproveitou, criou um companheiro para seu personagem, o amigo inspetor, eram duas pessoas muito diferentes uma da outra, quando trabalhavam juntos, estava sempre discutindo os detalhes.   O primeiro livro bem como o roteiro, lhe mandou para Itália.  O velho telefonou, rindo, dizendo que tinha se divertido com a história, era como ver em sua mente os dois discutindo os casos.

Comprou uma casa com seu dinheiro em Malibu, de frente para o mar, quando o inspetor voltou, o convidou para ficar lá.  Havia espaço suficiente para os dois.   Começaram a escrever os dois juntos.   Um caso do jornal lhes chamou atenção, resolveram investigar por conta própria, acabaram eles descobrindo o culpado, pois a polícia acusava outra pessoa.

Algumas pessoas os procuravam agora para investigar algum caso.

Se entendiam tanto, que pareciam mais um casal de amantes.  Um dia discutindo isso, pois comentavam que entre eles existia algo.   O velho inspetor disse que sempre o tinha querido, mas tinha medo, não tinha experiência além dele ser mais jovem. 

Foi um relacionamento produtivo em todos os sentidos, se entendiam de maravilha no que faziam, embora John tivesse medo de mais uma vez por azar perder quem amava. O outro dizia que isso era besteira, que o dia que tivesse que morrer, era porque tinha chegado sua hora, nada mais certo, como um mais um são dois.

Mesmo assim viveram muitos anos, chegaram a ganhar um Oscar por um roteiro, de um filme que nunca pensaram que chegaria tão longe.

Quando John morreu, antes do homem que amava, que era mais velho que ele, na cerimônia o velho inspetor mencionou, tinha tanto medo de me perder, quem perdeu fui eu.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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