lunes, 28 de diciembre de 2020

SEVER SEPARAR

 

                                                    SEVER  -  SEPARAR

 

Joseph, despertou com um mal humor incrível, isso sempre acontecia depois de um tratamento contra um câncer, hoje estava curado, mas conforme a posição que dormia, ou se estava cansado ao despertar era o mesmo.

Esteve escrevendo até as três da manhã, um artigo que sobre sua última viagem a Israel, quase foi expulso do pais.   Sem querer começou a rir, pois se lembrou da cara dos agentes que o tinham levado ao aeroporto.

O assunto não interessava a ninguém, isso entre parênteses, nem ao governo de Israel, nem ao Vaticano, tinham encontrado um pequeno cemitério, durante as escavações de um monte, para poder passar uma estrada.   Nele se encontrou três sepulturas, uma tinha o nome de Jesus, outra José de Arimathea, a última de Maria.   Como estavam todas juntas, deu o que falar, ele disfarçado de funcionário das escavações, conseguiu fotografar.  No momento que se descobriu os nomes, é a data dos enterramentos, a coisa complicou, manteve sua fachada de funcionário, até que ao final, resolveram mudar o rumo da estrada, dando uma volta maior.   Seriam necessários anos para estudar o local.    Foi quando descobriram que ele não era funcionário, mas era tarde já tinha fotografado tudo.    Só não descobriram aonde estava o cartão da máquina fotográfica.   Quando a recolheram, estava vazia.

O fizeram ficar totalmente nu, diante de todo mundo, só de tênis e meias.              Idiotas pensou, estava colada na sola do seu pé.   Mal lhe deram tempo de recolher suas coisas no apartamento que tinha alugado em Jerusalém.  O levaram direto ao aeroporto, inclusive nem precisou pagar a passagem.

Mas quando chegou a NYC, a coisa ficou preta, pois começou a se sentir mal, foi para o hospital, aonde o câncer apesar de ser mortal, estava começando.  Achavam que ele tinha estado exposto a material radioativo.   Na camada superior do enterramento, tinham descoberto bombas antigas da guerra do Yom Kippur, que começou em 6-10-1973 a 24-10-1973, uma das múltiplas guerras rápidas dessa região.    O médico que o atendeu acreditou que podia ter sido isso.    Ele tinha fotos dessas bombas, todas corroídas, por um vazamento de esgoto, numa camada superior.  Soube depois que todos que tinham estado ali, tinham problemas.

À semanas, que para se ocupar, que ele olhava as fotos, analisando, ampliando algum detalhe.  Ainda não se sabia o fecha exata dos enterramentos, mas como sempre, se diriam que era de algum período antes ou muito depois de Cristo.

O Vaticano não tinha feito nenhum comunicado a respeito,

Estava embaixo do chuveiro, um lugar que as vezes usava para pensar, ali parado com a água escorrendo pelo seu corpo.

Quando saiu seu celular não parava de tocar, viu de quem era a chamada, a bendita secretaria do seu chefe.   Mas se vestiu tranquilamente, seu uniforme de campanha como chamava, uma calças jeans velha, bem como uma camiseta, como era inverno, roupas que usavam os esportistas, uma malhas que protegiam o corpo, colocou por cima uma camiseta de gola alta negra, tirou a jaqueta de couro macio do cabide atrás da porta de entrada.   Estava vestindo a mesma, procurando com os olhos um cachecol que tinha deixado por ali.  O encontrou, era daqueles típicos usado pelos árabes e judeus.

Atendeu o celular dizendo que já estava saindo de casa, logo na esquina entrou no Subway, em direção ao Jornal,   desceu duas estações depois, comprou café forte num Starbucks, grande, o café do Jornal era uma merda.   O tomava forte, sem açúcar para despejar a cabeça.

Subiu no elevador se deliciando do mesmo, quando chegou na última planta, já tinha basicamente bebido tudo.     A secretária do diretor, fez sinal que teria que esperar uns 15 minutos, colocou os auriculares,  ficou andando pela sala de espera, fazendo anotações no seu celular, mas falando em árabe, sabia que as outras pessoas ali não falavam essa língua.

Ele ao contrário, falava perfeitamente o hebreu, árabe, alemão, Frances, além do inglês é claro.

Pontos que devia agora revisar no texto que estava escrevendo.

Quando finalmente entrou, viu que junto com o diretor estavam mais duas pessoas.  Uma entendeu imediatamente quem era, o Cardeal de NYC, já sabia por aonde iam os tiros, mas de uma certa maneira, era uma pessoa razoável, pois o tinha salvado de algumas intrigas claves para sua carreira.

Lhe indicaram que se sentasse.   O cardeal perguntou como ia de saúde?

Bem, é os funcionários do Vaticano que estavam nas escavações?  Sobreviveram ou morreram para esconder tudo do mundo.

Tu como sempre direto ao assunto, verdade.    Vou ser como tu, queremos que o jornal não publique tua história.

Como?

Isso mesmo, pode fazer muita confusão nos nossos religiosos, bem como a maioria dos católicos.

Imagino que sim, descobrir que viveram em cima de uma mentira tão grande,  Deus nunca os perdoara, começou a rir, não podia parar.

Viemos discutir como podemos transformar tua reportagem numa coisa amena.

Bueno, podemos discutir, ou melhor talvez eu sequer publique, para não sofrer as maldições dos católicos.

Antes que me façam uma proposta, faço uma contraproposta,  quero uma entrevista com o Monsenhor Julius Rivera.   Se me deixam falar com ele, perfeito.

O cardeal o ficou olhando, soltando em seguida, por quê?

Assuntos pessoais, eminência, assuntos pessoais, nada mais.

Tinha descoberto depois de ver o Monsenhor numa reunião em Jerusalém, que eram idênticos, queria saber se ele era seu irmão gêmeo que tinha desaparecido.

Vou tentar, mas não prometo.  Se levantou, estendeu a mão para os homens que ali estavam beijarem, mas ele quando muito apertava a mão.   Nem a de seu finado pai tinha beijado, quanto mais de um cardeal, que não sabia aonde a tinha colocado antes.   Tampouco se inclinou, olhando bem em seus olhos, disse, se não consegues vou publicar de qualquer maneira.

Saiu da sala, foi para a sala geral dos repórteres, com seu chefe nos calcanhares, como ele tinha ousado a fazer chantagem com o Cardeal.

Da mesma maneira que ele faz chantagem comigo, contigo, com todo mundo, não se esqueça que tenho podres suficiente dele, bem armazenado.

Precisava falar com o filho de um dos jornalista que trabalhava ali com ele.

Passou pela sua mesa, este se levantou, não tinham se visto ainda, depois do seu problema, tinha ido ao hospital, mas ele não queria receber visitas.

Filho da puta, fui te visitar, me disseram que não querias receber visitas.

Meu caro, imagina o mal humor que tinha, a não ser que viesses com uma garrafa do melhor whisky, aquela que bebe escondido, aí talvez te recebia.

Preciso do celular do teu filho, preciso de uma ajuda dele com um problema do computador, ele nisso é um dos melhores.

Olha lá em que vai meter meu filho?

Deixa de ser um pai pesado, o rapaz tem 25 anos, já sabe pensar por si só, podes ou não me dar o contato com ele.

Escreveu num papel, lhe passando o número.

Nem foi a mesa que sempre usava, na biblioteca do jornal, simplesmente foi em rumo ao elevador.   Tinha jogado um blefe com o Cardeal.  Ainda não tinha nada escrito.

Tinha sim feito uma cópia das fotografias todas, guardado as mesmas num cofre forte do seu banco,   ali usava duas caixas das grandes, cheias de documentos, depois que tinham entrado em sua casa, era o melhor a fazer.

Tudo que tinha sobre o Cardeal, estava bem guardado.

Falou com Angel, marcou com ele, num dos lugares que gostavam de comer.

Nunca poderia falar com o pai dele, já dormi com teu filho, além de ter 25 anos, tem um bom piru, é fantástico na cama.    Tampouco podia dizer que no dia que tinha ido visita-lo, estava lá com ele.

Adorava o rapaz, embora tivesse quase 50 anos, nunca tinha tido um relacionamento como esse, os dois respeitavam o espaço um do outro.  Mas antes de tudo eram amigos, ele o tinha incentivado a seguir o que gostava, o pai queria que fosse jornalista, mas ele era um apaixonado pela informática.   Lhe sugeriu que fizesse as duas coisas, pois o futuro do jornalismo estava na informática. 

Como ele dizia, o FAKE, um dia tomaria conta do jornalismo, nunca mais iriam saber o que era verdade ou não no mundo.  Como ele brincando dizia,  No News, Fake News .

Enquanto esperava, se lembrou da historia do seu irmão, só ficou sabendo dela, quanto tinha uns 12 anos,  tudo por causa de um mal entendido.   Estavam os dois no berçário do hospital, um bebê que estava ao lado deles, morreu, a enfermeira sem querer colocou seu irmão nesse berço, de noite seu irmão desapareceu.

Nunca encontraram quem tinha feito isso.

Seus pais eram judeus, mas nunca iam a sinagoga, tampouco faziam qualquer festa judia, nem visitavam parentes próximos.   Moveram céus e terras, mas nunca encontraram seu irmão.

A mãe da criança morta, tinha também morrido no parto, portanto nada a ligava a ninguém, não tinha documentos.

Quando ele viu o Monsenhor Julius, em Jerusalém, teve que ficar quieto, eram idênticos, abaixou mais seu  boné, caso ele lhe olhasse, poderia destruir o trabalho que estava fazendo.

Tinha pagado um bom preço, para estar no lugar do homem que tinha substituído, para participar das escavações.

Quando Angel chegou, viu que estava mergulhado no fundo de sua cabeça.    Sentado no final do restaurante, assim podiam ver quem entrava ou saia, eles mesmo podia escapar pelos fundos.

Se beijaram no rosto, Angel pediu um café, ele já estava tomando um, que por acaso estava frio.

Como estas, te vejo estupendamente, creio que podíamos comemorar, com uma noitada especial.

Deixas de ser sem vergonha garoto, ficou rindo olhando seus olhos, quando querias apareça.

Bom preciso de um grande favor teu.   Preciso que descubra tudo sobre Monsenhor Julius Rivera.  De aonde saiu esse homem, se é seu nome verdadeiro, como sempre, até o cheiro do peido que dá.

Meu pai me disse que hoje tinham uma reunião com o Cardeal, eu lhe soltei que com certeza tinha relação sobre tua estadia em Jerusalém.

Lembra-se comentei contigo no hospital, é um assunto delicado.    Não creio, que o jornal queira publicar, mas pensava ir por fora, uma vez tu me disseste que deveria ter uma pagina na internet, com todos os artigos que nunca foram publicados, ou por pressão do governo, ou mesmo de alguma agencia ora o FBI ou CIA.

Estou pensando seriamente nisso, como agora poderia ter morrido, tudo isso está guardado numa caixa forte no banco.   Te deixarei de herança, assim publicas tu.

Ficaram conversando sobre isso, claro posso montar o site para ti.  Mas o faria de uma maneira que nunca iriam encontrar de aonde saia as publicações.

Rindo soltou, podemos trabalhar em tua casa, assim ficamos mais resguardados, mas claro antes teríamos que passar um rastreador para saber se não tens escutas.   Preparar o apartamento.

Acho melhor o seguinte, tenho no último andar do edifício, um pequeno studio, ninguém sabe que é meu, o comprei de uma senhora que precisava de dinheiro urgente, mas continua como se fosse dela.

Perfeito, até podemos montar uma antena para captar tudo em volta, faríamos a publicação do teu site aos quatro ventos.

Acho boa a ideia, estou meio farto do jornal, não quiseram pagar a conta do hospital, dizendo que eu ia por fora.   Por fora agora irei eu.

Quando terminaram de almoçar, se despediram, ele saiu pela porta detrás, não queria ser visto juntos.  

De noite Angel apareceu, com um pen drive.  Vamos olhar, tem tudo que eu consegui.

Monsenhor era natural de Monterrey, California, filho de dois emigrantes mexicanos, o pai morreu de um câncer complicado, levou anos enfermo.  Quando o pai morreu, entrou para um mosteiro, daí foi subindo, dizem que é super inteligente.   A mãe é viva, continua vivendo na mesma casa.    Ele foi para Roma fazer um curso, ficou por lá, já serviu a dois papas, ao último serve como carmelengo, dizem que será nomeado em breve Cardeal.

Ele se ocupa de todos os assuntos delicados do papa, controla tudo na cúria.

Depois de olhar tudo, inclusive coincidia a data de nascimento, os dois tinham nascido no mesmo dia, segundo um registro tinha nascido em casa.

Imprimiu cópia disto, na época os pais viviam na mesma cidade que seus pais.

Foram dar uma olhada no apartamento, é perfeito, soltou o Angel, podias emprestar para que eu pudesse montar meu local de trabalho, pois outro dia meu pai quase entrou na garagem que uso.

Estendeu as chaves, todo teu, rindo o beijou.

O Sexo entre eles era estupendo, se completavam, apesar da diferença de idade, a coisa ia bem, ele estava tomando todo o cuidado com o Joseph, para não tocar nenhuma das cicatrizes que tinha da operação.

Amanhã mesmo de noite começo a trazer tudo.

Pode ser que eu tenha que ir de viagem.  Nessa noite comprou por internet um bilhete para Roma, mas usando um dos seus documentos falsos, quando ia fazer algo diferente sempre usava um dos seus alias.

Justo no dia seguinte, quando estava no Aeroporto, o Cardeal lhe chamou, para dizer que dentro de dois dias poderia entrevistar-se com o Carmelengo. 

Agradeceu, não vai se arrepender.

Quando chegou a Roma, buscou um hotel pequeno, limpo, barato pela zona do Trastévere, um B&B – Trastévere House,  ficou num térreo, apesar de mais barulhento, tinha duas saídas, uma pela entrada, outra logo atrás do quarto, saindo pela cozinha.

Saiu vagabundeando pela cidade, mas no fundo, se dirigiu ao Vaticano, mais parecia um turista, com sua pequena câmera fotográfica, pendurada lateralmente ao corpo.   Na mochila levava blocos para escrever, uma vez que lhe roubaram esse bloco, devem ter-se se rasgado segundo ele, tinha feito um curso de taquigrafia, tinha uma maneira toda própria de escrever.

Se encostou numa coluna, por aonde passavam os carros que saiam do Vaticano, ficou escutando a conversa dos guardas.  Tinha em seu poder conseguido por Angel, um mapa do interior do Vaticano.

Depois de comer numa Tratoria, muito bem por sinal, estava cheia de pessoal que trabalhava na Cúria, nada de muito importante, até que chegaram duas mulheres, estavam nervosas, uma delas falava justamente de Julius Rivera, tinham levado uma bronca dele.   Imagina, me pediu para localizar o jornalista que estava nas escavações, disfarçado,  mas nem seu Jornal, tampouco em sua casa, como que desapareceu no ar.  Me pediu informações a respeito desse homem, mas claro só existem artigos que escreve para os jornais.   Todos polêmicos com certeza.    Me pediu alguma informação intima do mesmo, mas não existe fotos claras sobre ele.

A única coisa curiosa, é que nasceu no mesmo dia que o Carmelengo.

A mim sempre me tratou como seu eu fosse uma inútil, bom nos duas sabemos que essa historia da caridade, todas essas coisas da igreja não passam de balelas.   É grosseiro, duro, só tem um ponto em seu favor, não é hipócrita.    Defende o Santo Padre, como se fosse um guerreiro Ninja.

Tinha gravado a conversa das duas, no celular.  Para colocar em algum texto,

Quando saíram, foi atrás, para ver por aonde entravam, por uma porta lateral, de uma rua pouco movimentada.   Não pode se aproximar muito, porque justo ali, estava um homem com um aspecto lamentável.   Mal elas entraram, se endireitou todo, saiu andando normalmente.

 Filho da puta, passou pelo mesmo, como não quer nada, passou por ele, esbarrou, lhe roubando o celular.

Quando conseguiu entrar viu que tudo estava escrito em  russo, bem como as conversas que tinha com alguém.   Um espião russo que vigiava os funcionários, interessante isso.

Dois dias depois se celular avisou da entrevista, fazia muito frio, se abrigou bem, não levava nada nos bolso, a não ser um bloco para escrever, um porta minas de grafite, assim sabia que poderia usar.   No porta minas, a ponta superior, era na verdade um micro que gravava tudo, inclusive se a pessoa entrevistada falava por celular, guardava o número.

Estava preparado, chegou pontualmente na hora combinada, o foram levando por mil escadarias, bem como corredores.   Foi memorizando tudo.  O mandaram se sentar, o deixaram esperando pelo menos meia hora, mas não reclamou, foi prestando atenção em todas as conversas,   a maioria tentava falar com o Carmelengo para uma entrevista com o papa.

Finalmente o chamaram, um sacerdote com uma cara de azedo, perguntou o que queria saber do Camerlengo, disse que era um assunto a pedido do Cardeal de NYC.  Amigo particular do  Carmelengo.

Mal entrou, este estava sentado de costa, lendo um papel.

Quando se virou, ficou de boca aberta, era como se olhar num espelho.   Levou uns minutos para reagir, lhe deu todo tempo do mundo.

Quem é o senhor?

Uma larga história,  quando vi o senhor em Israel, pensei, se parece tanto comigo, que deve ser o irmão gêmeo que tive, que roubaram do berçário do hospital.

Não nasci num hospital.

Pediu licença o levou com ele até um espelho que estava ali.   Era cópia exata um do outro.

Contou o que sabia, que seu irmão tinha sido trocado de berço, que o bebê que estava ali, tinha morrido, que o roubaram.   A mulher que tinha parido o nato morto não tinha documentos, mas era mexicana.    Nunca descobriram quem era o homem que estava com ela, tampouco se ele levou a criança.

Hoje temos um exemplo ecumênico, tu um católico, eu um judeu, ateu.

Julius estava com a boca aberta.  Eu passei a vida inteira perguntado aos meus pais, se não era adotado, a partir de que era diferente deles.  Nunca responderam.

Apertou um botão, dizendo que não atenderia mais ninguém hoje. 

Me fale de ti, da tua infância, de teus pais?

Os dois te procuraram a vida inteira, ele já morreu, mas ela vive em Carmel, eu vivo em NYC.    Sou o jornalista que descobriram no meio das escavações, foi lá que notei nossa semelhança.    Mas quando voltei, me detectaram um câncer, talvez devido a terra em cima do enterramento.   

Que terra,  o que continha?

Contou o que sabia, que as pessoas que trabalhavam lá, todas tiveram problemas.

Perguntou se Julius estava disposto a fazer um teste de ADN, para terem certeza.   Eu honestamente adoraria ter esse irmão desaparecido, não me importa nada tua religião, não gosto de nenhuma delas, apesar de respeitar.

Ele chamou pelo interfone uma monja que veio em seguida.  Ela levou um susto em ver os dois juntos, a senhora conseguiria saber aonde posso fazer uma prova de ADN, sem que nada seja divulgado.

Claro aqui mesmo no hospital do Vaticano fazem.   Esperem, chamou um número, instantes depois apareceu um médico.  Para quem é o teste de ADN, mas quando viu os dois entendeu.

Tirou sangue dos dois, monsenhor, seria interessante, que este senhor ficasse aqui, hoje, pois nada deve sair daqui.

O outro o arrastou, para comer numa sala a parte, trouxeram um carrinho, com comida servida por monjas, todas de hábito negro.   Todas olhavam os dois juntos, sorriam.

Falou com a mesma de antes, disse para me arrumar um quarto ao lado do seu, se via que não o queria deixar.   Falaram dos estudos, contou quer era formado em filologia, além de jornalismo.

E tu?

Me formei em Direito Canônico, aqui mesmo em Roma.

Não queres que eu vá embora por quê?   Tens  medo de que eu faça alguma revelação, só estou interessado em descobrir o meu irmão roubado.

Não, quero conversar contigo, o que escreveste a respeito do que descobriste em Israel?

Nada, porque em seguida fui operado, tive que fazer quimioterapia, bem como radioterapia, só agora estou curado.    O Cardeal de NYC, fez chantagem comigo, o idiota não sabe que eu tenho todos seus trapos sujos muito bem guardado.   Como me chantageou, eu fiz o mesmo, dizendo que só não publicava nada, se me conseguisse uma entrevista contigo.

Te vi por lá, me escondi bem pois era impressionante nossa semelhança, acredito mesmo na possibilidade de sermos irmão.   Isso é totalmente pessoal, não penso em publicar nada a respeito, porque tem minha mãe, bem como a tua.   São pessoas de idade, podem se sentir mal, nunca faria nada contra minha mãe, uma mulher doce que sofreu muito na vida, buscando o seu filho roubado.    Além de ter perdido como eu toda a fé nas religiões.

Realmente eres ateu?

Sim, respeito a todos mas sou ateu.

Quem é ateu, a porta se abriu, entrando o Papa, estou a horas te chamando, preciso de ti, mas teu telefone ninguém atende, dizem que estas resolvendo um problema particular, quando viu os dois juntos, ficou com a boca aberta.

Não sabia que tinhas um irmão Julius?

Bom isso estamos tentando descobrir, o apresentou, Joseph Cohen, o jornalista de Israel.

Ah, que interessante, então eres tu o ateu?

Sim senhor, sou ateu, mas respeito quem seja religioso, mas não as religiões que foram corrompidas pelo homem.

Já escreveste o artigo sobre isso?

Julius se adiantou, Santidade, todos que trabalharam na escavações, contraíram câncer, pelo material radioativo que existia nas camadas superiores do que encontraram,  inclusive Joseph, que acaba de fazer uma operação, bem como um tratamento forte, por isso não escreveu nada.

O que pensas em fazer, perguntou, sentando-se num cadeirão que estava ali, fazendo sinal que se sentassem.

Ainda não sei Santidade, porque tenho, que analisar profundamente tudo.   Não sabemos da datação de carbono, ou pelo menos não foi divulgado.    O que sim coloca por terra terem encontrado José de Arimathea, bem como Maria, que não sabemos qual é. No mesmo lugar, isso contraria tudo que se conta, que Maria, Maria Madalena, os filhos de Jesus, bem como José de Arimathea, tenham chegado a França.  Ou se isso tudo também é lenda.

Infelizmente todas as histórias da bíblia, bem como de todas as religiões, foram manipuladas através dos séculos, pelo homem, ao seu prazer.   Isso um dia terá que acabar, pois no mundo moderno, já não passariam hoje de Fakes.

Fakes, murmurou o papa,  é uma verdade.

Mas não creio que publique nada nos jornais, talvez escreva um romance histórico, ou qualquer outra merda.

Julius pigarreou, como dizendo que a palavra merda era algo errado para se falar.

Ele como sempre, uau, não sabia que o Santo Padre não cagava,  uma das coisas que deviam perder, o tal do politicamente correto.    O mundo muda a passos gigantes, nada dura muito tempo.   O mundo real, vai a um ritmo louco, vocês estão fechado dentro de quatro murros, tentando que uma coisa que aconteceu, se é que aconteceu, a séculos atrás.   Hoje um jovem perguntaria, tens provas, foi filmado pelo celular, existe algum vídeo a respeito.  Não, é a resposta certa, portanto já não funciona mais.   A outra pergunta seria, pois os padres agitariam a bíblia,  os jovens vão perguntar se esta na internet, no Youtube, se não está, não existe para eles.

O papa só balançava a cabeça, grandes argumentos tens, concordo com o senhor, estamos completamente defasados.        Os velhos da Cúria, morrem de medo disso, da internet, da rapidez de tudo. Não entende, não sabem usar os novos meios de comunicação, estamos cada vez mais para trás.  Mas é duro lidar com eles, a não ser que fossem eliminados.

Santo Padre, soltou Julius, isso é uma blasfêmia.

Concordo com o senhor, blasfêmia, pecado, céu, inferno, umbral, todas essas coisas passaram de moda, o diabo hoje seriam os governantes do mundo inteiro, pois provocam as guerras, quem morre é um coitado, bucha de canhão.

Eu sou franco, não acredito em nenhum político, já entrevistei muitos, todos com uma falsa personalidade, ou mesmo uma máscara para enganar os eleitores.

De noite Julius, o chamou para fumar um cigarro, nenhum dos dois fumava, achou estranho, mas o seguiu a varanda.  Aqui tudo se escuta, tudo se sabe, além de ser motivo para fofocas.  Sem lhe dar tempo sequer para responder começou a falar da sua infância, sem querer agora entendi algumas coisas, minha mãe nunca se aproximava muito de mim, a não ser que meu pai estivesse por perto.   Mas ele estando em casa, me tinha todo o tempo com ele.  Nunca entendi no que trabalhava, mas era algo estranho, pois em casa não se falava no assunto.  Quando ele morreu, a primeira coisa que ela fez foi me enfiar num seminário, para pagar os pecados dele, segundo dizia.  Em seguida foi morar com uma irmã, nunca me visitou, passei as férias, aniversários, natal, ano novo, a ver navios, nunca esperava ninguém, quando me ofereceram para estudar aqui, aceitei, para ficar longe.

Mas o pior é que já vi que não me deixaram sair daqui, para ir confronta-la, tirou do bolso um papel, a irmã me entregou no corredor.    Somos realmente irmãos, mas além de ter a cabeça confusa, precisando sair daqui.   Mas veja bem, sou carmelengo, sei de todos os segredos daqui tu eres jornalistas, que tens a igreja presa ao que sabes.   Nessas alturas o papa já deve ter dito que não devo sair.

Já encontrarei um jeito, vamos fazer o seguinte invés de dormir aqui, vou para meu hotel, amanhã venho com tudo resolvido, esteja pronto bem cedo, pronto também para mudar de vida.

Julius o acompanhou até a porta de saída, lhe disse baixinho, amanhã, entregarei aqui um pacote, terás roupas como a minha e documento, vista e saia rapidamente, estarei esperando na esquina mais abaixo.

Sabia que estava sendo seguido, mas fez como se nada, a estas alturas, já deviam saber aonde estava hospedado.    Chegou ao hotel, tomou um bom banho, não perdeu muito tempo pensando no que fazer, afinal era um homem de ação. Estudou a melhor maneira,   Comprou dois bilhetes de avião,   a primeira compra, fez em seu nome secreto, um voo Roma/Miami, esperou um pouco, para ver que o mesmo aparecia em seu celular.   Depois do fundo de sua maleta, tirou do forro, outro passaporte, com outro nome, comprou outro bilhete na mesma, Roma /Miami, esperou chegar, separou roupas para Julius, se preocupou com tudo, inclusive incluiu seu melhor tênis.   Colocou dentro de uma bolsa grande, separou outra para ele no dia seguinte.  Mas não ficou no hotel, saiu pelas traseiras, através da cozinha, viu ao longe um carro parado em frente ao hotel.    Tranquilamente foi em direção ao Vaticano, se registrou em outro hotel, com seu nome falso, se jogou vestido na cama.  Eram as cinco da manhã, chegou a porta que tinham combinado, entregou a um guarda a bolsa, passou dinheiro para a mão dele, disse, é importante que o Camerlengo receba isso imediatamente, sou seu irmão.  O homem avisou ao outro que tinha que fazer uma entrega.  Tinha lhe molhado a mão como se dizia, muito bem.   Eram as cinco e meia, quando Julius apareceu, estava totalmente diferente, saiu tranquilamente, ele estava esperando sentado num taxi, quando ele entrou, disse que os levassem ao aeroporto o mais rápido possível.

Quando chegaram, já estavam chamando para o embarque do voo para Miami.   Passaram rapidamente, separado por umas quantas pessoas, primeiro passou Julius, ele ficou para trás para observar qualquer coisa.

Dentro do avião em classe turística, pediram para se sentar juntos, eram irmãos, as pessoas quando olhavam sorriam.  Foram no último assento, já no rabo do avião.

Chegaram de noite em Miami.    Foram a um outro balcão compraram um voo para San Francisco, chegaram já de madrugada, mas conseguiram alugar um carro, na estrada pararam para tomar um café, comer algumas coisas, os dois gostavam do mesmo, torradas, ovos fritos, café forte sem açúcar.

Só então perguntou ao Julius como se sentia.

Bom primeiro não conseguia dormir, o papa deve estar se sentindo traído, mas preciso saber quem sou, se minha fé é verdadeira.  

Isso já conversaremos muito, meu irmão, se deram um largo abraço, só queria avisar sua mãe, quando fossem a sua casa.   Primeiro iriam a Monterrey, para que ele falasse com sua suposta mãe.

Quando chegaram ela estava se levantando, levou um susto em ver os dois juntos, sua irmã teve que ajudá-la a se sentar.

Vejo que não preciso falar muito.   Contou tudo que sabia, eu nunca quis ter filhos, para que não passassem o que tinha passado, ser uma clandestina nesse pais.  Conheci teu pai, justamente numa travessia, ele era um coyote, passava as pessoas de um lado para o outro, ganhava muito dinheiro com isso, além de roubar essas pessoas.   Eu vinha com minha irmã, ele nos trouxe para sua casa, pois não tínhamos ninguém, nem lá, nem cá.

Se casou comigo, mas eu tinha um aborto atrás do outro espontâneos, ele queria um filho de qualquer jeito.   Abusou de uma garota que trazia de lá, a manteve em cativeiro até chegar a hora do parto, ia ser em casa mesmo, mas na ultima hora complicou, a levou a uma urgência, ficou espreitando,  só percebeu que tinha tirado uma criança errada, quando começaram a te procurar.   Ai já era tarde, estava apaixonado por ti.   Eu ao contrário, morria de medo, não era sequer filho dele.    Me ameaçava cada vez que ia atravessar gente, se eu falasse alguma coisa, me mataria.   Por isso te odiava, sem saber eras meu carcereiro.   Minha irmã tinha se casado, ameaçava inclusive a ela e aos seus filhos.   Quando morreu foi um alívio, por isso te meti no seminário, queria me livrar de qualquer vínculo contigo.

Na verdade, tinha bastado a cara de horror quando viu os dois juntos para saber o que mais ou menos tinha acontecido.

Foram se sentar numa praia para Julius digerir tudo isso.   Agora entendo como me tratava, no fundo tinha medo.   

Se levantou, a praia que tinham parado era imensa, estava deserta, tirou toda a roupa, se jogou na água, eu lhe disse, estas louco essa água esta fria.   Precisava me limpar de tudo que estava sentindo.    Dali foram para Carmel, aonde vivia sua mãe, sabia que essa hora devia estar fazendo comida.   A chamou por celular, disse que estava chegando, se podia levar um amigo para comer.

Quando entraram os dois na cozinha, desmaiou, a levantaram a levando para o sofá, ele chamou imediatamente seu médico.

Mas ela já estava se recuperando, foi só um desmaio.

Se agarrou ao Julius, o beijava, o olhava, juntava os dois um ao lado do outro.  Perguntou como o encontraste.   Uma larga historia mãe,  sentiram cheiro de comida queimada, correram para a cozinha, mas já era tarde.

Tomamos um banho, saímos para comer, mais fácil.   O médico de família apareceu, quando os viu junto, riu, quanto tempo te procuramos meu filho, sempre me senti culpado por terem te roubado, mas naquela época tínhamos muito trabalho no hospital.

Foi almoçar com eles, ele era amigo de família, Julius mostrou o certificado de ADN, para o médico,  agora teremos que colocar teu nome verdadeiro.   Prefiro ficar com o meu mesmo, Julius, o sobrenome sim podemos trocar.   Aliás prefiro, para sair dessa larga mentira.

Viram nas notícias do telejornal, que o Carmelengo, tinha desaparecido, mas as fontes do Vaticano não soltavam nenhuma informação.   Eles compraram um celular desses descartáveis, carregaram ele ligou diretamente ao papa, avisou que estaria fora um bom tempo, resolvendo assuntos pessoais.    O mesmo soltou, sabia que eu não ia permitir que saísse daqui, não é?

Pela primeira vez o tratou de senhor, nada de santidade, desconfiei, mas precisava saber da verdade.    Agora já sei que sou um judeu, terei que me encontrar primeiro, depois resolvo o resto.

A mãe quando realmente entendeu que ele era um Carmelengo, que trabalhava para o Papa, riu, não tem importância meu filho, eu só quero desfrutar de ti algum tempo, não me importo que sejas católico, eu sou ateia, piorei com isso depois que desapareceste.

Eles teriam que comprar roupas, o mais interessante, eram os movimentos, faziam tudo igual, escolhiam as mesmas camisas, como se essa igualdade tivesse gerado isso, que seus instintos de irmãos aflorassem

O médico disse que tinha um lugar especial que ninguém sabia que era seu, perto de San Francisco, na praia, podia ficar lá até colocarem tudo em dia.

Falou com Angel, esse primeiro soltou que estava morrendo de saudade, queria saber aonde estava, perguntou se estava se cuidando,  entraram na tua casa outra vez, levaram um susto, pois instalei um sistema, no mesmo instante se acederam as luzes, foram filmados, as portas se fechara, eu quando montei esse sistema, pensei num daqueles filmes de terror.   Só conseguiram sair, porque deram um tiro na fechadura, mas a polícia estava do outro lado, atingiram um policial na perna.  O ruído despertou todos os vizinhos.    Depois te mando a gravação, sei  que não tinhas nada lá.  Estavam furiosos, tontos com o barulho, estridente que coloquei.   Se negam a falar quem são.   Apareceu um advogado, mas continuam presos por terem ferido um policial.

Melhor que não sabias aonde estou, a busca terminou, eu encontrei meu irmão, também sinto tua falta, logo nos vemos.

Com quem falavas, perguntou Julius.

Resolveu ser franco, com um rapaz, com quem mantenho um romance, é muito mais jovem do que eu, mas nos entendemos muito bem, além de ser uma pessoa super inteligente.

Contou o que tinha acontecido, viu que tinha chegado o vídeo. Achavam que tinha sido homens a mando do Cardeal.  Pois no Vaticano não contratamos gente assim.

Telefonou para a polícia, agradeceu o chefe da polícia, disse, eles não iam encontrar nada lá, pois tenho tudo em bancos diferentes.   Creio que quem esta atrás de tudo isso, é o Cardeal de NYC,  solte só isso na frente desses homens, diga que o Cardeal, não se responsabiliza por terem atirado num policial, veja como reagem.

Quando tornou a chamar outra vez, o chefe disse que tinha soltado a língua, tinha sido o mesmo.

Chegou a hora de contra atacar, ele iria a NYC, que Julius ficasse com a mãe.  Depois ele voltaria.   A primeira coisa que fez ao chegar a NYC, foi ir ao banco, retirar um envelope, fazer fotos ali mesmo, guardar de novo o envelope.

Quando chegou foi direto ao andar de cima, aonde o Angel estava trabalhando, se abraçaram, além de muitos beijos.  Acabaram na cama.  Sentia fome de estar com ele.

Depois mostrou as fotos para o Angel, era o Cardeal, com garotos.  Tinha copiado o número do celular do papa, particular,  mandou as fotos para ele, bem como para o Cardeal, dizendo que agora queria ver como se saia, tenho muito mais, ou renúncias, ou soltarei tudo pelo jornal.

Mas sabia que o outro iria tentar ganhar tempo, escreveu um artigo, que Angel colocou na internet, borrando a cara dos jovens.  O título era, assim se comporta o Cardeal de NYC, as custas dos paroquianos.   Ninguém assinava o artigo.

Só souberam que o Cardeal tinha embarcado num avião especial do Vaticano que o tinha vindo recolher.    As notícias depois era que renunciava ao seu cargo, viveria em retiro espiritual.

A igreja não muda nada.   Foi ao banco, com Angel, escolheram fotos piores que as anteriores, a melhor era o Cardeal dando o rabo para um negro imenso, em termos de sadomasoquismo.

Tudo foi publicado, mandou para o papa dizendo que se o cardeal não fosse julgado, ele tinha piores, além claro da matéria de Jerusalém.    Ou o Cardeal era julgado pela justiça comum ou faria isso.

Meu carmelengo quando volta?

Tudo que respondeu, foi, não tenho a menor ideia.

Tomou um avião com Angel, foram os dois para lá, no dia antes, tinha perguntado para ele, se queria oficializar a relação dos dois.   Ele rindo na cama, disse que sim, eres o homem da minha vida, não vou te deixar.

Primeiro marcaram um jantar no restaurante de sempre com o pai dele.   Ele quando chegou os viu juntos,  desconfiava que vocês dois eram os causadores desse escândalo todo.

Em que meteste meu filho?

O que queremos conversar com o senhor não tem nada a ver com isso. Queríamos que o senhor soubesse de primeira mão, vamos assumir nosso relacionamento.  Nos amamos.

A cara do velho, era ótima.  Além de toda essa confusão isso.  Ficou olhando para os dois, olhou direto para o filho, dizendo, sabes com quem estas te metendo.

Claro que sei, trabalho com ele a anos.

Então quando me pediste o número do celular de meu filho, era como um aviso?

Sim.

Espero que sejam felizes, cuide bem do meu filho, senão vou atrás de ti.

Contou ao amigo o encontro com o irmão, o Vaticano tem mais um problema, um carmelengo que é judeu.   Mas será ele que tem que resolver tudo.

No dia seguinte de manhã tomaram um avião para San Francisco, de lá para aonde estava sua mãe, bem como Julius.

Apresentou Angel para a mãe, dizendo, a senhora sempre soube que eu era gay, esse garoto é a primeira pessoa que amo verdadeiramente.   Ela o abraçou, dizendo seja bem vindo nessa família, que cresce mais.

Julius o recebeu de braços abertos, contou do Cardeal, do contato com o Papa, copiei o número do seu celular.

Ele foi claro, não quer que ninguém saiba que eres judeu.

Chegas tarde meu irmão, mandei ontem uma carta para ele, pedindo meu afastamento definitivo da igreja, fiz muita coisa que não sinto orgulho, por ela, vejo que não valia a pena, já resolvemos o problema do meu nome, volto a ser Julius Cohen,  por enquanto ficarei aqui com nossa mãe.  Tenho que desfrutar o que não tive na minha infância, juventude e maturidade.

Sabia que ali acabariam sendo descobertos, o jeito foi mudar de lugar, alugaram uma casa na praia em nome de Julius Cohen, que para todos efeitos ninguém conhecia.  Estiveram ali discutindo os três como fazer com que tudo parasse.

Angel, tinha criado um sistema, que podiam ver a notícias do mundo inteiro, para analisar, não se falava mais no caso de Jerusalém,  era como se pelo bem da humanidade, tudo estivesse na sombra.   Conseguiu entrar no sistema de Jerusalém,  a analise do carbono 14 tinha sido manipulada, o jeito foi procurar saber quem tinha feito a mesma, copiar as duas cópias da mesma, a original, a datação era correta, era da época real, a de Maria, anos depois, o por último era de José de Arimathea.   Escreveu uma reportagem, mandou para todos os jornais do pais, ninguém ousou publicar.  O jeito foi a publicação na internet, o Vaticano dizia que era uma Fake, mas as provas estava ali, todo mundo começou a discutir sobre o assunto.

Angel era excelente no que fazia, entraram no computador particular do papa, ele confundiu Joseph com Julius, era como se tivesse falando por Skype, não sabia que estava sendo gravado, perguntou quando voltava, que tinha que convencer seu irmão de parar, pois a Igreja cambaleava.   Ele começou a argumentar, porque pensas assim.  Talvez ao contrário, agora que possuímos o verdadeiro corpo de Cristo, pudéssemos dar uma volta a situação.

Já pensamos nisso, mas como explicar uma ascensão da Virgem que nunca existiu, ou mesmo toda a polemica em volta disso,  conforme ele argumentava, o papa parou de repente, não eres Julius, ele nunca ousaria discutir o que estou falando, eres Joseph.

A linha foi cortada antes que mandasse verificar de aonde vinha.

Depuraram toda a entrevista, no tocando a Julius.  Foi publicada via internet, para todo o mundo, o papa reconhecia que o corpo era de Cristo, bem como de Maria, que nunca tinha existido uma ascensão.   Os cardeais queriam a cabeça do Papa, pediam sua renuncia por não saber lidar com o que estava acontecendo.  Mas quando eram entrevistados, deixavam a coisa pior do que antes.    

Mudaram outra vez de lugar, indo para um praia deserta no Oregon, a casa estava situada de tal maneira, que veriam a chegada de qualquer pessoa.

Quando toda a poeira assentou, pois agora os jornais publicavam notícias a respeito, a igreja reconhecia tudo isso,  que muitas coisas tinha sido manipuladas com os anos.

A juventude, como ele dizia, tinha acreditado, pois tinha saído na internet, mas na verdade não lhe interessava, pois nunca tinha acreditado nesse conto de fadas que era a bíblia, tampouco acreditavam agora, nas igrejas, só sobravam os sacerdotes velhos, pois  não tinham para aonde ir.    O papa já não tinha voz no mundo, os cardeais menos ainda, eram um mero símbolo do passado que ninguém mais respeitavam.

Ninguém sabia como, os documentos dos arquivos da Igreja começaram a aparecer em muitos jornais, o apoio aos nazistas católicos, o rabo preso com todos os governos ditatoriais, máfia, dinheiro, tudo que tinha sido ventilado antes, mas que as provas nunca tinha aparecido.

Se poderia dizer que agora só faltava acontecer a apocalipse, mas nada aconteceu, o mundo seguiu girando como se nada acontecesse, o dia e a noite era imutáveis, dentro em breve as igrejas  estavam vazias, na verdade os jovens tinham hoje como seus deuses a internet, os fake, as falsas noticias aconteciam em segundo, minutos depois já eram historia passada, tudo era rápido.

Eles ao contrário, tinha aprendido a conviver entre eles, velaram quando sua mãe morreu, a enterraram numa caixão de pinho, envolvida num sudário.   Fizeram o enterro, junto a uma árvore num monte, que estava por cima de um promontório na praia aonde viviam.            Rezaram os dois o Kadish por ela.

Nem sequer cogitavam voltar a civilização, na vila mais próxima, depois de um tempo, todo mundo levava uma vida simples para sobreviver.   O mundo estava assolado de vírus, se dizia que manipulados pelo homem.

Eles sobreviveram a tudo isso, depois de quinze anos a população do mundo tinha sido reduzida a 40%, os valores tinham mudado, as religiões que achavam que o que tinha acontecido com a católica não os atingiria, se lascaram, pois os seus fiéis, já não se modernizaram, tampouco se preocupara com os enfermos vitimas dos vírus, foram abandonando esse historia que precisamos de deuses.

Julius se casou com uma mulher da vila, um pouco mais jovem do que ele, mas nunca quiseram filhos, o mundo era muito inseguro segundo ela.   Joseph e Angel, podia se dizer que tiveram uma vida simples, mas completa. 

Anos depois quando se atreviam a falar numa nova guerra mundial, os países tinham um problema, não encontravam jovens dispostos a serem bucha de canhão, então passou a ser uma guerra de políticos.   Cada político que provocava uma confusão, em seguida desaparecia do poder.

Joseph dizia que finalmente os problemáticos políticos, agora se matavam entre si.

 

 

 

 

 

 

  

 

 

 

 

  

 

 

 

 

 

 

 

   

 

lunes, 21 de diciembre de 2020

DE REPENTE

 

                                             DE   REPENTE

 

Estava escutando pela rádio, era a única coisa que podia ter ali naquele quarto escuro, que fazia um calor imenso.  As janelas fechadas porque a diretora achava que assim ninguém escapava.

Começou a escutar uma música do Lulu Santos, música de sua juventude, porra pensou isso é uma maldade, mas se tocou numa estrofe.

“Eu dou a volta, pulo o muro

  Mergulho no escuro

  Sarto de banda

  Na minha vida ninguém manda não

  Eu vou além desse sonho.....”

Sentou-se na cama, há dias estava melhor, tinha deixado de tomar os remédios que lhe davam, fingia que engolia, mas cuspia de lado. Talvez por terem estado na sua boca, ficava zonzo uns momentos, mas depois lhe voltava toda a energia que precisava.

Estava em cuidados paliativos, tinha se negado a tomar Quimioterapia, Radioterapia, o escambau, isso não era com ele, tinha enfrentado a vida sempre de frente, ou fugido pela tangente, isso também tinha feito.    

Sua família o tinha internado nessa residência, para se livrar dele, mas não os culpava, tinha sido uma pessoa intransigente, nunca tinha suportado a mediocridade.  Era como se sentia nesse momento medíocre.   Primeiro tinha deixado fazer o que quisessem com ele por estar pela primeira vez em sua vida deprimido.

A única coisa que a família não tinha podido fazer, era colocar a mão no seu dinheiro, bem como autorização para usarem seu apartamento.  Tinha se negado totalmente a isso, ainda não morri, soltou furibundo.

Se levantou com dificuldade, mas tirou os tubos que tinha preso no braço, colocou uma camiseta de mangas compridas que estavam no armário, calças jeans, tênis, seu uniforme de toda a vida.  Tampouco tinha entregado sua carteira no hospital, estava fechada nesse armário, que ele tinha a chave.   Tinha pouco dinheiro, mas bastava.

O resto de roupa que estava ali, não lhe importavam.

Ainda era alto, magro, não só pela doenças, mas por ter feito surf a vida inteira.

Saiu de fininho, as enfermeiras, estavam de conversa mole, davam comprimidos pesados para os enfermos dormirem, depois ficavam de papo.

Saiu por uma porta lateral, que tinha observado o dia que o homem colocava óleo para que abrissem sem fazer ruído.  Passou rapidamente pelo jardim, estava escuro, mas nessas semanas ali, tinha observado tudo.    Saltou o muro baixo, logo estava na rua, por sorte viu um taxi, coisa rara nessa hora.

O homem ainda lhe perguntou se tinha vindo visitar algum parente de emergência, disse que sim, que tinha batido as botas.

Isso era uma verdade, nos últimos anos, tinha ido a tantos enterros, que ao final deixou de ir.

Lembrou-se de outra estrofe

“A vida passa lentamente

  E a gente vai tão de repente

  Tão de repente que não sente

  Saudades do que já passou.....”

Era uma verdade sem tirar nem pôr, os últimos anos tinham passado lentamente pelos seus olhos, quando se aposentou, pensou, agora vou viver para o mar, só pensava nisso, surfar, mas claro um câncer de pele afeta qualquer um que passa o dia inteiro na água, com o sol batendo todo o tempo.    Adorava essa sensação, lhe importava uma merda que lhe dissessem que ia ter problemas futuros.   Sua pele era uma crosta de pele grossa, quando chegava o verão, podia ficar o dia inteiro na praia, sua paixão.

Ficou cantarolando a música, realmente batia com ele.   Agora estava calvo, mas tempos atrás tinha um cabelos compridos, sem cor definida, queimados do sol, adorava sair de um mergulho, balançar a cabeça como um cachorro, ter as pernas dentro da água, isso era o paraíso.

Nunca tinha sido de papos tontos com os outros surfistas, era muito serio para isso, queria estar ali simplesmente, deixando sua mente divagar, para depois colocar no papel.

Ainda devia um texto para a editora, estava pela metade quando descobriu o câncer por um acaso, estava na água, desmaiou, um outro surfista viu como caia.   O devia ter deixado ficar, para que a água o tragasse, esse era seu sonho morrer no mar.

Quando voltou a si o chamou de filho da puta, acharam que estava delirando.

Quando toda a família apareceu, aí sim quis morrer, horas de discussão, como se ele não estivesse presente.   Se aproveitaram.

Ninguém vai estragar meu propósito de vida pensou, não vou permitir, como não permiti nunca.

Só um dos seus sobrinhos, como sempre o defendeu, mas era minoria em comparação com os outros, tinha vindo visita-lo todos os dias, era o único. 

Os outros iam ver quando abrissem seu testamento, deixava tudo para ele.  Era o único que o entendia, quando não fazia um esforço para isso.

O taxi parou diante de sua casa.  Pagou, agradecendo o homem, tenha um bom trabalho, era o que dizia sempre.

Respirou fundo, o mar hoje tinha maresia, como sentia falta disso.

Naquele lugar lá no cafundó do judas, só iriam notar que não estava de manhã.

A estas horas não tinha porteiro, abriu a porta do edifício, subiu até o seu apartamento, foi abrindo as janelas para o ar do mar entrar.    Tinha juntado muito dinheiro para comprar esse apartamento.   Era seu sonho desde jovem.

Menos mal que nunca tive família, filhos, nenhum compromisso com ninguém.   Na verdade, nunca tinha amado ninguém.  Aliás nunca tinha entendido o valor dessa palavra, a única pessoa que sentia falta era de sua mãe, que da família era a única que não era hipócrita.

Vou seguir seu exemplo, pois ela depois de ter passado muitos problemas, chegou um dia, disse “até aqui vou”, morreu.

Isso era perfeito, tinha lhe dito que quando muito tinha semanas ou meses de vida, muita dor isso sim.   Mas ele aguentava.

Voltou a pensar no amor, ele tinha sempre uma técnica, quando estava com alguém, seja homem ou mulher, começavam a chama-lo de meu amor, caia fora.

Riu, dei muito susto nas pessoas, mas a verdade era que não sabia como retribuir esse sentimento, queria estar junto, mas compromissos nenhum, tinha horror a isso, bastava o compromisso de ter que trabalhar de segunda a sexta feira.   Diziam que ficava esperando a sexta-feira, que saia do trabalho, andando nas nuvens rezando que o tempo fosse bom para surfar, mas se chovesse lhe dava igual, colocava um Neoprene, entrava na água com todo o prazer do mundo.   Era isso, nada lhe dava mais prazer que isso.   Um dia soltou que se pudesse fazer sexo com o mar, o faria.   Umas garotas que estavam por ali, ficaram horrorizadas, queriam ser modernas, mas no fundo buscavam um idiota para casar.

Olhou seu apartamento era um apêndice dele, livros por todas as partes, até no corredor tinha estantes até o teto cheio de livros, isso sim, tinha lido todos, os que não conseguia passar da 10 página, mandava para o lixo.    Depois com o tempo, com pena deles, passou os deixar esquecido num banco de uma praça, no ônibus, num bar.  Se lhe viam devolver, dizia, isso não é meu, já estava quando cheguei.

Ia embora contente da vida.   Pelo menos não tinha acabado numa lixeira.

A estante de seus livros preferidos, que o acompanhavam desde a infância, passou a mão pela lombada dos mesmos, vocês alimentaram meus sonhos.

Tinha descoberto o surf por acaso, um dia passeando na praia procurando uma sombra para ler, encontrou um colega da escola, lhe perguntou se não gostava de surf.

Nunca experimentei, o outro insistiu, por baixo da bermuda careta, usava uma sunga de praia, acabou acompanhando o outro que tinha um corpo espetacular.  Lhe ensinou tudo que tinha que fazer, conseguiu uma outra prancha emprestada, o acompanhou entrando no mar.  Este dia teve sua primeira paixão, seu primeiro orgasmo mental como dizia.

Com suas economias, comprou uma prancha de segunda mão, ia todos os dias depois das aulas para a praia.   Seus pais ficaram contentes, finalmente saia ao mundo.

Quando estava esperando alguma onda, sua cabeça flutuava no espaço, uma vez viu um filme fantástico, em que a cabeça pensando estava dentro de um líquido, soltou aos amigos, o meu líquido é o mar.

Riram dele, mas não se importou, tinha falado uma verdade.  Quando estava sem inspiração para escrever, bastava ficar ali esperando sua onda, que lhe surgia alguma coisa para tocar o barco em frente.

Quando lhe apresentaram seu único vício, a tia maria como chamava o baseado, enquanto aos outros lhes dava sonolência, a ele, fazia sua cabeça funcionar a mil.

Ao pensar nisso, sentou-se na mesa de trabalho, abriu uma gaveta, lá estava sua caixa de Maria, preparou dois baseados bem grandes, sentou-se na pequena varanda, olhando o mar, sentido seu cheiro, já vou mermão, já vou.

Quando acabou, colocou uma bermuda, camiseta, sandálias de dedo, na entrada estava sua prancha preferida, que não era a última, mas sim uma muito velha que o tinha acompanhado por muitos lugares.

Caminhou para a praia, quando ia saindo, chegava o porteiro, ah o senhor já voltou para casa?

É o que parece seu José, agora vou trabalhar, enquanto a praia não está cheia de garotos.

Fazes bem, ele sempre que saia de manhã com a prancha o José lhe dizia, já vai trabalhar.

Ficou parado na beira da água, com as ondas batendo aos seus pés, não saberia dizer a sensação que sentia, era como se tivesse chegado em casa.  Deu um suspiro largo, encheu os pulmões danificados de ar, foda-se velho amigo aguente.

Entrou na água, as ondas estavam tranquilas, ele achou bem, pois assim não tinha que fazer muito esforço, foi remando pausadamente, sem olhar para trás, quando se cansava, ficava ali deitado.   Se pudesse escolher, pediria um enterro viking, que o colocasse num barco, em cima de uma pira, esses sim sabiam o que era um enterro.   Nada de ficar apodrecendo embaixo da terra, comida de gusanos, preferia que os peixes o comessem.    Sentiu uma das correntes que as vezes tornavam essa praia perigosa para os surfistas.   Sabia qual a direção que ela tomava, se deixou levar.

Se deitou de costa, olhando o céu, o dia daqui a pouco começaria a nascer, isso era outra coisa que ele amava, ver o dia amanhecer, bem como o final do dia na praia.  Tinha um sabor a remanso, a paz interior.

Fechou os olhos, se deixou levar, quando um barco pesqueiro o encontrou uns vinte dias depois, não entendiam como ele podia estar ainda em cima da prancha, que os peixes não o tivessem comigo.   Um dos mais velhos, disse, esse veio descansar no seu lugar preferido, o mar.   Eu o deixaria seguir seu rumo, mas os outros discordaram, a família pode estar preocupada.

Avisaram a polícia marítima, que logo veio resgata-lo.  A polícia sabia que tinha saído de casa com sua prancha, o porteiro disse que ele tinha dado intenção que estava curado, que ia fazer o que mais gostava.

O único que não dizia nem um pio era seu sobrinho preferido.   Tinha entendido o que ele estava fazendo.    Com o corpo recuperado, leram suas últimas vontade, que fosse cremado, depositando suas cinzas no mar.    Sem cerimônias, nem nada.   As irmãs, super católicas, reclamaram, mas nem uma missa.   No papel, isso elas podiam fazer no enterro delas, o dele não.  Seu sobrinho foi buscar suas cinzas, combinou com todos os amigos surfistas, afinal seu tio o tinha iniciado nesse amor pelo mar.  Foram remando todos, até o ponto aonde ele gostava de ficar, ali soltaram sua urna. 

A leitura do testamento, ele assistiu de camarote, sentado em cima da mesa do advogado.

Só tinha uma quantas frases, tudo que é meu, apartamento, dinheiro no banco, livros, revistas pornográficas, isso para incomodar as irmãs, fica para o meu sobrinho, José.

A cara dos outros, loucos para passarem a mão naquele apartamento, valia uma fortuna hoje em dia.

José não disse uma palavra, deixou simplesmente uma lagrima escorregar pela cara, mentalmente pensava, preferia que ele estivesse aqui para conversar.   Isso era um hábito dos dois, ficarem horas e horas falando, sobre algum assunto.   Sobre o que ele estivesse escrevendo no momento.   Os dois amavam as mesmas coisas, livros, o velho mar.  Aliás a primeira vez que conversaram, foi depois que ele o tivesse presenteado com um livro, “O velho e o Mar” de Ernest Hemingway, levaram semanas debatendo isso.   Seu pai era o irmão mais velho de seu tio, quando ele morreu, seu tio tinha cuidado dele.  Era marginado por toda a família, pois era filho de pai solteiro.   Tinha tido uma aventura com uma estrangeira, ficou gravida, pariu, depois desapareceu.   Seu pai só sabia o nome dela, Helga, nada mais.

Os dois irmão se dedicaram a cuidar do garoto, seu tio principalmente que tinha mais jeito, seu pai era um desastrado.

Eu sim tive uma família, esses dois me amaram.  

Cada um foi se levantando para ir embora, sem sequer olharem em sua direção, bando de hipócritas pensou, nunca foram o visitar na clínica, nem respeitaram seus desejos de ficar tranquilo em sua casa.

Com as chaves na mão, foi para lá, o do banco sem problemas, pois ele administrava os bens do tio.  Viu que ele tinha mexido na mesa, riu, esteve aqui fazendo o que gostava.  A mesa estava virada para o mar.    Entendo que gostasse de escrever aqui, a cada frase que parava para pensar, levantava a vista, tudo que via era a imensidão do mar.

Um dia, já algum tempo tinham conversado sobre um assunto espinhoso.  De ter amado alguém na vida.   Ele poderia dizer que sim, tinha amado seu pai, bem como seu tio, os dois o aceitavam como era.

Super inteligente, gay, moreno do mar, com os cabelos loiros, mais para brancos de tão queimados.

Na mesa viu um bilhete, desfrute de tudo, entregue esse texto ao editor, vim fechar meu último livro.  

O personagem fazia exatamente o que ele tinha feito.  Como dizendo o que fiz fui consciente.

Ficou encostado na janela, olhando a direção aonde ele gostava de fazer surf, além da ondas, havia alguns companheiros esperando a famosa onda ideal da manhã.

Vá em paz, meu velho, vá em paz.

  

 

 

 

 

                                                      REVIVAL

 

Como num “revival”, ficou ali encostado olhando fixamente o mar, relembrando coisas que a muito estava ali guardadas.  Quando era criança, não entendia, todo mundo dizia que tinha dois pais, aonde estava sua mãe.  Tentava explicar que um era seu pai, o outro o queria como, mas era seu tio. 

Seu pai era jornalista, passava muito tempo fora, então quem o levava na escola era seu tio, quando por acaso encontravam alguma das suas irmãs, elas logo torciam o nariz, como ele fosse um apestado.   Uma vez uma delas perguntou por que não tinha dado o garoto em adoção, seria melhor.  Riu, seu tio soltou, porque não enfias essa língua venenosa no cu, vagabunda.

Fez cara de ofendida, falei com o padre da minha igreja, ele diz que uma criança não pode ser criada por dois homens.

Claro que ele só pode pensar isso, é um viado renomado, garanto que já deu o cu fedorento para um dos teus filhos que é puxa saco dele.

Viraram as costas, o saiu arrastando dali, sentaram numa confeitaria, ele rindo soltou, depois de toda essa maldade nada como um Milkshake de ameixas.   Era o preferido dele.    Quando era muito pequeno, seu pai ficava muito tempo viajando, chegou a pensar que seu tio era seu verdadeiro pai, pois estava sempre com ele.

Trabalhava numa editora, revisava textos, lia mil vezes os mesmo, procurando um ponto falho do escritor.     Por isso antes de sair, o levava ao colégio, mas sem falta o estava esperando na saída.  Um dia um companheiro dele, muitos anos depois comentou, que ele era como um relógio, dava a hora de sair, ele já estava pronto, se o chefe pedia para ficar mais, dizia que era impossível, tinha um compromisso importante.

Da escola iam para esse apartamento dele, que ele também adorava, de seu quarto também via o mar.  Trocavam de roupa, iam os dois com suas pranchas, ele surfava desde que tinha cinco anos.  Todas as perguntas importantes de sua vida, tinha feito ao tio, justamente enquanto esperavam uma onda.

Coisas que escutava dos maiores na escola, que tinha vergonha de perguntar para eles, sobre masturbação, fuder, gozar, porra, todas essas coisas tinha perguntado para ele, as respostas sempre eram as mais simples.

Quando me apaixonei por um garoto da minha turma no segundo ciclo, contei para ele, esperava que risse na minha cara, que me chamasse de viado ou coisa assim.  Mas que nada me explicou que isso nos acontecia, não fique com vergonha disso, resta saber se ele te corresponde, se interessa por ti.

Nada disso aconteceu, o sujeito nem me olhava.   Mas depois já no final, chegou um cara novo na escola, vinha transferido de outra, pois tinham mudado de cidade, nos tornamos amigos, nos beijamos, fizemos algumas coisas.   Depois corria para contar para o meu tio, se meu pai estivesse por perto, lhe dizia se não gostaria de ir surfar.    Quando trouxe o Rob, diminutivo de Roberto, para ir surfar, o cara ficou louco.  O mais interessante é que se apaixonou pelo meu tio, esse tirou de letra, lhe explicou que isso não era assim, que ele podia ser seu pai, que esperasse seu tempo.

Não gostou muito, fez amizade com outros surfistas, passou do baseado a cocaína, se fudeu no mundo.                Morreu jovem, nem chegou a ir à universidade, pois nas férias antes, teve uma overdose.   Meu tio fez amizade com o pai do rapaz, conversou muito com ele.           Depois me explicava que o rapaz o tinha visto como seu pai, pois eram parecidos.

Tudo para ele tinha uma explicação simples, olhava as coisas de todos os ângulos, por isso gostava de conversar com ele, meu pai ficava com ciúmes.

Quando terminei a faculdade, meu pai me conseguiu uma bolsa de estudos, para fazer uma graduação nos Estados Unidos, nunca senti falta dele, mas do meu tio sim, nossas conversas agora era por e-mail, mas seguimos conversando.

Quando terminei, recebi uma oferta para trabalhar em San Francisco, meu tio me deu a maior força.   Já estava a dois anos trabalhando por lá.  Foi quando descobri que meu pai já estava doente a um ano.   Tinham me escondido porque sabiam que voltaria imediatamente.

Meu pai, voltou de uma viagem passando mal, no que foi fazer um exame, tinha um câncer na cabeça, num lugar que ninguém na época se atrevia a operar.   Fez todos os tratamentos possíveis, justo nessa época meu tio se aposentou, tinha sonhado fazer outra coisa, mas ficou lá cuidado do irmão.    Meu pai como filho mais velho tinha sempre vivido na casa dos meus avós, mas bastou ele ir para a casa do meu tio, que as irmãs como eram, entraram com um pedido no fórum, pedido direito da vender e dividir os bens. 

Meu tio queria brigar, mas meu pai não, para que, não vou levar essa merda de apartamento para o outro lado.    Morreu justo quando vendiam o mesmo.  Ai outra briga, não queriam dar minha parte.  Meu tio fez um escândalo de proporções imensas.    Passei só o último mês de vida de meu pai, ali ajudando meu tio cuidar dele, lhe dar banho, limpar quando cagava, se mijava durante a noite, chorava como uma criança.    Morreu nos braços dele, meu tio cantando uma música de criança.   Me disse que era a música que ele cantava para ele dormir.

Os dois eram filhos do primeiro casamento do meu avô, as outras filhas do segundo, por isso sempre tiveram ciúmes, pois meu avô adorava os filhos.

Meu tio fez uma coisa, seguiu o que meu pai tinha pedido, um enterro simples, só avisou os amigos do meu pai, do jornal.   Não avisou as irmãs.  Que fizeram um escândalo de merda, não esperavam o que ele soltou.   Não sejam hipócritas, o odiaram a vida inteira, por ele ter ficado com o apartamento do meu pai, estava no testamento, agora querem dar de piedosas, vão se fuder suas jararacas.

Um dia colocaram um papel por baixo da porta, uma missa de sétimo dia, meu tio fez uma coisa que depois levariam anos sem se falar, contratou uma porção de putas para irem à igreja, todos seus amigos gays.   Todos deviam comungar, o padre ficou assustado, elas escandalizadas.

O padre ainda caiu na asneira de perguntar se alguém queria dizer algumas palavras.  Meu tio se levantou, foi até o altar, o enganaram senhor padre, meu irmão, não era católico, mais bem um homem que entre escolher a igreja e ir de puta, preferia a segunda. Odiava essas hipócritas que fizeram tudo para o sacanear no final da vida, lhe roubando a casa que vivia.  Por isso só posso dizer uma coisa em nome dele.  Fodam-se todas bem como suas famílias.

Saiu da igreja as gargalhadas, levou todo mundo para um bar, fez uma festa como meu pai gostaria.    Nesse dia justamente ali, conheci o homem que seria o amor de minha vida.  Um dos amigos do meu tio.  Veio falar comigo, era surfista, já o tinha visto na praia, tinha saído do armário a pouco tempo.  Estava meio perdido, conversando me contou, que tinha ido falar com meu tio, que este o tinha ajudado muito.

Nos gostamos desde esse momento, ele era alto funcionário público, mas tinha deixado tudo para sua mulher, não tinham filhos.   Vivia num apartamento modesto no posto 6 em Copacabana, acabou virando minha casa.  Agora éramos três a fazer surf juntos.  Meu tio insistia que eu voltasse para Estados Unidos, lá teria mais chances que no Brasil.

Mas estava apaixonado, a coisa durou até um pouco antes de meu tio ficar doente, quando ele começou a falar comigo em relação aberta, entendi o que queria, fazer sexo com outras pessoas, que nossa vida tinha virado monótona.   Meu tio, soltou na praia para mim, minha casa sempre está aberta para ti.

Me mudei no dia seguinte, fiquei lá até arrumar um pequeno apartamento na Rua Francisco Otaviano, pequeno era pouco, era uma kitchenette, mas na verdade eu só vinha dormir em casa, chegava do trabalho lá na ilha do Fundão, na universidade Federal, ia fazer surf, jantava com ele, voltava para casa, como ele, eu escrevia.   Ele era a primeira pessoa el ler, corrigir, me dar dicas.

Quando ficou mal, mal me deu tempo de fazer alguma coisa, as jararacas tomaram o poder como ele dizia, o internaram, mas não esperavam o retorno dele.

Na leitura do testamento, me sentei afastado, afinal mal sabia o nome dos meus primos, só o filho de um deles veio falar comigo, era meu aluno, excelente por sinal.  Me apertou a mão, sinto muito isso tudo professor, essa família é uma merda, não vejo a hora de acabar a universidade para dar no pé.   Ele seria posteriormente um brilhante jornalista fora do Brasil.

Viver outra vez na casa do meu tio, me fazia ilusão, ali sempre tinha sido feliz.  O dinheiro no banco ele tinha sido experto, quando se colocou mal, fomos os dois lá, me colocou como responsável pelo seu dinheiro, se me acontece alguma coisa o que tiver, é teu.

Tinha já transferido tudo para minha conta particular.   Estava pensando seriamente pedir uma excedência para voltar a fazer um curso de doutorado na universidade aonde tinha estudado e trabalhado.   Me concederam uma bolsa de estudos, eles, não o governo do Brasil, tinham interesse em mim.

Pensei inicialmente vender o apartamento, mas o valor sentimental era grande, paguei, sempre lhe mandaria dinheiro ao seu José, para abrir o apartamento, mandar sua senhora limpar o mesmo, cuidar dele. 

Um dinheirinho extra sempre vai bem, minha mulher sempre cuidou do apartamento do teu tio, por isso não se preocupe, me deu seu número de conta no banco, assim depositava dinheiro desde aonde estivesse.

Em San Francisco, foi como voltar para casa, tinha bons amigos na universidade, bem como fora dela.   Tinha alguns namoros, mas nada importante.  Achava que nunca mais iria me apaixonar outra vez.   Um dos motivos era que sempre atraia gente complicada, cortava logo dizendo que não me sobrava tempo para uma relação.    Ficava por isso mesmo, não complicava minha vida.  As vezes tempos depois encontrava a pessoa, que tinha ficado louca de atar, fazendo sexo com deus e todo mundo.    Eu prezava minha intimidade.                      Um dos meus companheiros da universidade se divorciou, veio falar comigo.   Ele era do interior, disse que tinha feito duas merdas na vida, uma estudar o que não queria, apesar de ser excelente no que fazia, outra ter se casado com uma pessoa que não amava, além de ser possessiva.   Começamos a sair, até que rolou alguma coisa entre nós.  Ficamos muito tempo naquele namoro sem consequências, ele na casa dele, eu na minha.   Até que veio viver comigo.   Fomos passar os meses de férias no Rio, ele amou fazer surf lá, mas me deu firmeza, pois era bonito, mas olhava os homens brasileiros, que se insinuavam para ele, dizia, isso não passaria de uma foda.  Não é para mim, tenho a melhor foda do mundo, para que vou estragar.

Nossa relação foi ficando mais séria, escrevemos um livro como um desafio, eu escrevi um capítulo, ele era obrigado a escrever o seguinte, seguindo o roteiro do capítulo anterior.

Assim fizemos um curso sobre roteiro para cinema, ou séries,  logo inventamos uma, o que era legal, eu escrevia um capítulo, como ele acompanhava o que eu escrevia, ia escrevendo o segundo.  Vendemos a ideia a um produtor, logo virou sucesso.

Ficamos seis anos escrevendo essa série, até que nos fartou, afinal era muito tempo, os personagens era como nossos filhos.   Riamos sempre dessa ideia.

Tiramos uma larga férias para pensar no que fazer.   Agora éramos do grupo dos senhores maiores na praia, fazendo surf.