WAY
Sua avó dizia sempre, que nada é o que parece, até que se
confirma a verdade. Assim tinha sido sua
vida, falsas aparências, solidão, batalhas imensas para chegar a algum lugar.
Imagina, seu pai um dos primeiro comandante negros da
história, um homem feito a si mesmo, reto como uma agulha como ele dizia, mas
incapaz de fazer um carinho, um gesto para nenhum dos filhos.
Exigia obediência, de seus filhos como os homens sobre seu
comando.
Para ele só existia uma única verdade, a sua, a dos outros
não lhe interessava. Desde que era
garoto, se chocavam, ele era o único filho homem criado no meio de 4 irmãs mais
velhas do que ele. Por instinto, cada ordem do pai, para ele que
nunca o via em casa, a não ser entre uma viagem e outra, aquele homem negro de
2 metros de alturas chegava em casa, começava a reclamar de tudo, dar ordens
como se tivesse num quartel.
Suas irmãs, bem como sua mãe, pareciam baratas tontas,
correndo de um lado para o outro para obedecerem. Ele desde pequeno, ficava parado olhando
criticamente aquele homem. Não lhe
obedecia, ou contrário o ignorava.
Para ele era um desconhecido.
Sempre se lembrava de uma pergunta que fazia em sua cabeça, lá vem esse
idiota querer mandar num lugar que funciona.
A coisa piorou com a idade.
Quando se mudaram para Washington,
aonde finalmente ele ia ter seu pouso de guerreiro, sua vida virou um
inferno.
Só faltava ter um homem em posição de sentindo tocando
corneta dentro de casa a cada ordem sua.
Desde que levantava, até a hora de dormir.
Ele o ignorava totalmente, se fechava no seu quarto a chave,
podia bater quanto quisesse que não abria.
Tinha escolhido esse quarto estrategicamente, pois sua janela dava para
uma árvore, podia sair dali tranquilamente, quando o velho conseguia abrir a
porta. Ele como era grande e com a idade
pesado, não se atrevia a pisar nas telhas.
Lex Willcox, ao contrário, parecia um pincel, era magro, alto
como seu pai, mulato claro, olhos azuis, como o de sua mãe, uma loira
impressionante. Suas irmãs eram como
ele, mulatas claras, como nunca tomavam sol, podia passar por brancas. Mas ele tinha traços de seu pais, nariz de
negro, boca grande com uns lábios grossos.
Ao contrário das irmãs, tinha cabelos crespos como se seu pai.
Tinha uma coisa que destoava de tudo, tinha um QI impressionante,
com 17 anos já estava na faculdade, contra a vontade do pai que queria que
fosse para West Point.
Nem pensar, aproveitou que seu pai estava viajando, visitando
tropas, quando voltou ele já estava na universidade, com uma bolsa de estudos, afinal
tinha sido um aluno exemplar desde criança, suas notas sempre eram as melhores.
Sofreu Bullying sempre, mas aprendeu a se safar sozinho. O
primeiro idiota que se meteu com ele, deu um murro na cara do sujeito,
rebentando seu nariz. O bom que como
tinha muitos ossos, uma cotovelada sua era como bater num muro. Era louco por música, não uma música
qualquer, clássica, jazz, todos os novos movimentos. Estava sempre com uma na sua cabeça.
Ao contrário, quando o velho estava em casa, nada de
música. Pensava, graças a deus existem
maneiras hoje em dia de se escutar música.
Quando o pai voltou, ele já não estava em casa, mas imaginou
a cena, o velho espumando porque estava estudando música na universidade. Tocava piano, violoncelo, sax, fagote amava o
som desses instrumentos. Um dia chegou
no seu dormitório, encontrou o mesmo acompanhado de sua mãe, lhe deu uma ordem,
arrume suas coisas, vais mudar de escola.
Ele tinha sido malandro, tinha aprendido com sua avô, lhe deu uns documentos da escola para
assinar, ele fez sem prestar atenção, estava vendo um noticiário que criticavam
a guerra, falavam mal do presidente que continuava mandando gente para a
frente. Lhe enfiou os documentos na
frente dele, assinou sem ler.
Tinha assinado sua emancipação, nunca lhe tinha dado mesada, mas a recebia de
sua avó, uma mulher negra, semi analfabeta, mas de uma inteligência raríssima. Além de ter uma das melhores bolsas de
estudos para estudantes de música.
Enfrentou a fera, não tenho porque o acompanhar, estou aqui
estudando, com uma bolsa de estudos, tenho meu dinheiro, além de que, não tenho
que realizar suas frustrações, ir para essa escola de idiotas, West Point.
Isso era enfiar o dedo na ferida, pois quase todos superiores
de seu pai, tinham ido, ele não teve que entrar no exército, ir subindo degrau
a degrau.
Você é menor de idade, tem que me obedecer, ao lado dele estava
o reitor da universidade, sinto muito,
disse ele, o rapaz é emancipado, tem 17 anos, quase 18, temos um
documento com firma reconhecida, o senhor assinou sua emancipação.
Sua mãe se atreveu a abrir a boca, é verdade, tu assinaste
sua emancipação, antes de ir de viagem.
Não assinei nada, impossível isso.
Ele sorriu, tinha vencido a fera, segui os conselhos da
senhora sua mãe, me disse que lhe entregasse para assinar, enquanto o senhor
estivesse vendo um noticiário, que falasse da guerra, o senhor não estaria
prestando atenção.
Ficou uma fera, só faltava espumar, sua mãe o conhecia bem
demais. Depois que começou a subir no
exército, basicamente se esqueceu que ela tinha lavado roupa, limpado casas,
feito da tripas coração, para manda-lo para a escola. Quando se casou, simplesmente já apresentou
sua mulher, tinha vergonha que ela aparecesse no casamento.
Pois ela acabou se casando com um professor universitário, mulato,
alto, com uma voz potente, quando ele apareceu para reclamar que ela tinha se
casado sem perguntar a ele. O homem lhe
deu uma bronca fantástica. Estas falando
com tua mãe, minha esposa, portanto mais respeito, se não sabe se comportar,
fora de minha casa.
Sua mãe levava os filhos para verem a avó, sempre que podia,
ele a adorava, bem como ao seu marido, o chamava de avô, ao contrário de suas
irmãs, na adolescência elas deixaram de ir, mas ele não. Eles já viviam em Washington, quando eles
mudaram. Então depois das aulas, sempre
ia para lá, sentava-se no salão escutando música com eles. Muito
Jazz, depois ficavam discutindo as interpretação, ele acabou gostando disso.
A avó o matriculou numa escola de música, ele juntou sua inteligência a um ouvido
espetacular que tinha, de escutar um tema, saber tocar, bem como improvisar em
cima do mesmo.
O velho ficou furioso, no dia seguinte voltou com duas
bolsas, com tudo que tinha no seu quarto, vim trazer os despojos de um filho
que morreu.
Ele pensou bem, riu na cara dele, me fizeste um favor, pois
assim não tenho mais que ver a cara de um sujeito desagradecido, ignorante, que
acha que a força manda mais que a inteligência.
Passar bem. Pegou as bolsas jogou na primeira lata de lixo que viu na
frente dele. O senhor acha que eu
deixei alguma coisa que podia necessitar na sua casa, isso dai é lixo, nada
disso me interessa.
Foi passar o final de semana com seus avôs, o velho se matava
de rir com a história.
Que bom que vieste, mandei a gravação daquele último tema que
me mostraste, acho que estar perdendo tempo aqui na universidade. Tens que ir enfrentar o mundo.
Tenho um grande amigo de infância que é professor da Juilliard
School em NYC, me disse que gostou demais, se quiseres ir para lá, consegues
que entre para a escola.
Mas aqui, tenho a bolsa que paga tudo, lá não terei.
Olha meu filho, eu e tua avó, estamos em final da vida, tenho
dinheiro que guardei esses anos todos, você é nosso herdeiro com respeito a
tudo, pois eres o único que sempre vem nos ver, compartilha conosco tua
vida. Nada mais natural que te ajudemos.
Resolveu ir até lá conhecer a escola, bem como o professor
Miguel Martinez, ele inclusive tinha dois discos dele.
Se apresentou, diante de uma banca, tocando ao piano jazz,
música clássica, perfeitamente.
Não temos muito para te ensinar.
Quero aprender composição, saber escrever direito as músicas
que tenho dentro de minha cabeça. Lhe
aceitaram.
Era época de férias,
Miguel disse que ele podia ocupar um pequeno apartamento que tinham em
cima do deles. Na W74th Street, para
cima da West End Av. Ele vivia no último
andar do edifício, mas tinham um apartamento pequeno no que seria a varanda de
cima. Era perfeito, podia estudar música
sem incomodar ninguém. Além de poder ia
para a escola ou de bicicleta, ou skate.
Logo estava tocando com companheiros da escola, ou mesmo
acompanhando o grupo do Miguel, mudou seu nome, mas antes pediu autorização ao avô, agora ele era Lex Avidan.
Logo estava tocando fixo no grupo, se revezava com Miguel Martinez no piano, mas tocava o
violoncelo super bem.
Miguel lhe avisou que a Orquestra do Lincoln Center, fazia
provas para novos contratos, ele se apresentou para piano, bem como para
Violoncelo, Fagote, passou para as três, o diretor disse que podia dispor dele para qualquer emergência nesses
instrumentos. Agora passava o dia
metido em ensaios, ora com a orquestra, ou com o grupo do Miguel.
Quando saíram as críticas do primeiro concerto do Lincoln
Center, destacavam seu trabalho, dizendo que um jovem aparecia no cenário
americano com um futuro brilhante.
Logo saiu um disco com o grupo do Miguel, nesse os críticos
comentavam de sua versatilidade.
Saiu de turnê com a orquestra do Lincoln Center, fizeram San
Francisco, Los Angeles, Chicago, logo era convidado para tocar com todas as
orquestras. Sua avô, com Avidan, vieram
para NY.
Avidan alugou um grande apartamento, foi viver com eles, este
cuidava de sua agenda, lhe ensinou a aplicar dinheiro, a levar uma vida com os
pés no chão.
Sabia de sua mãe, por sua avô, lhe contou que tinha pedido
divorcio de seu pai, mas que esse se negava a conceder. Agora iriam a juízo.
Se manteve afastado, pois não queria se ver envolto em
problemas alheios.
Saiu de turnê com o grupo de Miguel, retornou a San
Francisco, depois a Chicago, por último, faziam uma serie de show em Memphis, New Orleans, aonde eram para ficar uma semana,
já estavam a quinze dias.
Na última semana, o cantor do grupo tinha faltado, por um
grave problema de doença, um dia não viu que seu microfone estava aberto,
estava tocando, cantando a música ao mesmo tempo.
Foi um sucesso. Ele
sabia todo o repertorio. Saiu em todos
os jornais. Nem sabia que tinha essa
possibilidade.
Saiu num intervalo para descansar, no beco ao lado da casa de
jazz que estava fazendo show, quando se viu cercado de três homens negros, com uniforme militares,
tinha uma quarta figura na sombra.
Tentou escapar, mas lhe conseguiram pegar. A surra foi imensa, pior foi ver o pai sair
das sombras, com uma barra de metal, bater em todos seus dedos. Agora quero ver se vais te sentir como um rei
da música, sem esses dedos para tocar a merda desse piano.
A surra foi a pior, pois este lhe dava chutes, não eras meu
filho, eu sabia. Filho da puta.
Depois o jogaram na água, desacordado levou um choque, não
sabia nadar, por sorte uma corrente arrastou seu corpo, para um canal, ficou
preso num embarcadouro rudimentar de um pescador.
De manhã o filho deste o encontrou, chamaram rapidamente a
polícia, bem como os bombeiros.
Foi levado já nas últimas a um hospital. Os do grupo já tinham comunicado de seu
sumiço, inclusive a polícia dizia que devia como todos os músicos, ter ido
cheirar cocaína. Mal sabia que ele não
bebia, tampouco usava drogas.
Ficou em coma uma semana, tinha colocado seus dedos no lugar,
bem como um novo sistema para que não perdesse os movimentos. Ter estado na água, com as mãos para baixo,
preservou tudo.
Quando seus avôs chegaram, bem como sua mãe, mal saiam do
hospital.
O idiota de seu pai, não sabia que o Club de jazz tinha um
sistema de vigilância do beco, foram gravados, estavam preso, o velho, gritava
se sabiam com quem estavam lidando. Que
não ia aturar que nenhum bastardo lhe amargasse a vida.
Quando voltou a si, estava confuso. A polícia nem precisava dele para
declarações, tinham os vídeos que acusavam seu pai, bem como os outros
militares que obedeciam ordens dele.
Quando ficou a sos com sua mãe, verbalizou isso, como um pai
podia fazer isso contra um filho.
Ele não é teu pai, teu verdadeiro pai, morreu no Iraque, eu o
conheci durante um período que teu pai estava fora, me sentia sozinha. Agora estão tentando esclarecer a morte dele.
Tudo saiu a luz no julgamento de divórcio. Finalmente o Juiz me concedeu o
divórcio, o qual ele não aceitou.
Quando ele começou a argumentar que eu tinha estragado seu filho,
perdi a paciência lhe disse que tu não eras filho dele, se quisesse fizesse um
teste de ADN. Ficou furioso, como eu
podia falar isso em público.
Creio que tudo isso não passou de uma vingança, pois tinha um
novo cargo, perdeu tudo pela sua arrogância, agora piorou ainda mais por isso
que fez. Ira para prisão militar, pois
esse atentado, o idiota estava vestido como comandante.
Seu medo agora era a recuperação de suas mãos. A preocupação dos médicos, era a
fisioterapia. Mas ia bem, recuperava.
Quando saiu do hospital, voltaram para NYC, enquanto se
recuperava, ficou como cantor do grupo.
Teria problemas para tocar música clássica. Mas ele não ia desistir.
Passava o dia fazendo exercícios, tocando piano, embora
algumas vezes não conseguisse tocar como queria.
Gravou dois discos com o grupo, cantando músicas novas. Apareciam em programas de televisão devido ao
sucesso. Mas se negava a falar em
qualquer assunto nas entrevistas que se referissem ao seu suposto pai.
Sua mãe lhe contou quem era seu pai verdadeiro, o tinha
conhecido no Club militar, justamente tocando piano.
Ele era órfão, não tinha parentes que soubesse.
Resolveu falar com o avô Avidan, lhe disse que gostaria de
continuar usando seu nome, assim fizeram trocou definitivamente de sobrenome.
Quando recuperou os movimentos dos dedos, preparou uma das
peças mais complicadas para piano, o concerto nº3 de Rachnaninoff, que o
consagrou. Sendo inclusive gravado pela sua discográfica. Tinha levado quatro meses estudando pelo
menos 8 horas por dia esse concerto.
Durante a Turnê, estavam em Los Angeles, quando soube aonde o
que pensava que era seu pai estava preso.
Um advogado lhe contou que tinha passado mal na prisão
militar, pois maltratava todos seus soldados, tinha sido agredido várias vezes. Gostaria de te ver.
Mas eu não a ele, nunca foi um pai para mim, tampouco para
minhas irmãs. Sinto muito.
Voltou para NYC, comentou com sua mãe, que agora vivia com os
avôs. Era interessante, pois ela mais
parecia filha deles que seu ex-marido.
Suas irmãs tinham ficado em Washington, aonde faziam a
universidade.
Um dia conversando com sua mãe, perguntou se ele sabia desde
que tinha nascido, que não era seu filho.
Isso pensei eu durante muito tempo, mas não, disse que nunca
tinha suspeitado disso, mas não admitia teu comportamento com ele, pois na
verdade nunca o tinha respeitado. Isso
ele não admitia. Seus ordens eram leis.
Nada é perfeito, mas o que eu gosto é que fizeste uma coisa
que eu sonhei durante muito tempo, ser livre, fazer o que quisesse de minha
vida. Mas estava presa por um amor de
minha juventude, não sei o que aconteceu, quando o conheci, era um jovem
promissor, fez tudo para me conquistar,
anos depois com as guerras foi mudando, ignorando totalmente sua mãe,
principalmente quando se casou com Avidan, não a podia perdoar, mas ele ao
mesmo tempo tinha colocada a ela em segundo plano. Não sabia que visitávamos os dois. Sempre foram fantásticos comigo.
Creio que as guerras todas que participou, foram deteriorando
sua cabeça, se achava acima de bem e do mal.
Mas sabia que nunca chegaria ao topo por ser negro. Então sua maneira era não permitir que
ninguém desafiasse suas ordens, inclusive em sua própria casa.
Me mandou uma carta pedindo desculpas, mas nas entre linhas,
existem mais acusações do que desculpas, não respondi.
Foi de turnê com o grupo do Miguel, aproveitou a levou com
ele, assim ela se distraia, em Paris como ficaram mais tempo, conheceu um homem
de sua idade, eles voltaram, ela ficou para trás, tentando refazer sua vida.
Ninguém sabe como seu pai ficou sabendo, talvez através de
suas irmãs, que tinha se casado com esse homem. Lhe escreveu uma carta, completamente
louca, exigindo que fosse lá, a matasse, já que ele estava preso por sua culpa. Ela tinha ousado o desafiar.
Tirou uma cópia, mandou para sua mãe, outra para o advogado
dele, dizendo que acreditava que estava louco.
Acabaria assassinado
dentro da prisão por um dos soldados que tinha maltratado, não sobreviveu aos
ferimentos de arma branca.
Só suas irmãs foram ao enterro, quando lhe avisaram, lhes
disse que como não era seu pai, não tinha por que ir. Tampouco teve glorias militares, foi tudo
sem chamar a atenção.
Ele seguiu sua vida.
Agora era pai de duas crianças que tinha adotado, lhes dava todo amor
possível, tudo que tinha lhe faltado.
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