Era um
sonho saber que agora podia voltar para casa, apesar de que, quase todos anos
vinha passar o natal com sua mãe, não era a mesma coisa, sabia que no dia
seguinte iria embora.
Desde
que era criança, esse lugar tinha sido seu espaço de fantasia, tinha escrito
vários livros em que o personagem habitava essas terras. Minha mãe a tinha herdado de meu pai, estava
entre Truxton e a Havasupai Indian Reservation, cerca de Grand Canyon, a
paisagem que me lembrava desde criança era fantástica.
Meu
pai criava cavalos, bem como plantava milho, pastos para os animais, a casa
como minha mãe dizia, era como um lugar tribal. Era ao contrário das outras casas da região,
muitas de adobe como na reserva, ou então tradicionais de madeira. Não sabia muito bem a origem de meu pai. Minha mãe dizia que quando ele tinha entrado
no pais, tinham trocado seu nome, por isso me chamava Michael Kingshot, que
mais ou menos seria Tiro de Rei, mas segundo dizem ele era um péssimo atirador.
Ah,
voltando a casa, era retangular no sentido de uma linha, tinha uma varanda
imensa na frente, no andar de baixo, existia uma lareira muito grande, que
parecia que ia aquecer todo um batalhão, no meio ficava uma cozinha das
antigas, de fogão de ferro, hoje tinha tudo que se podia pedir, naquela época
não tinha eletricidade ainda. No andar
de cima, ficavam um quarto imenso que era o deles, no outro extremo um quarto
grande que era o meu, no meio dois banheiros também grandes. Esses sofreram várias reformas seguidas, até
que hoje em dia eram modernos.
Tinham
mais duas casas, uma imensa, era a casa dos cowboys, um banheiro grande, muitas
camas, outra era a residência do administrador. Nesta vivia uma família grande, eram sete
garotos, todos mais velhos do que eu, o pai era um índio hualapai, casado com
uma mulher branca, que vivia de eterno mau humor. Minha mãe a aguentava, pois o marido era
excelente no que fazia.
Do meu
quarto, junto a janela, tinha uma árvore imensa, eu saia pela janela, subia no
mais alto, , parecia um ninho, era meu lugar favorito, para observar as
montanhas, bem como os cavalos nos diversos lugares do campo, o melhor,
observar o que as pessoas faziam.
Nunca
tinha entendido, porque minha mãe tinha se casado com meu pai, só fui descobrir
muitos anos depois.
Era
uma mulher com uma formação universitária, inteligente, adorava uma carta, se
correspondia com muita gente, não havia dia que o carteiro não viesse trazer
uma, reclamava da distância. Dizia que
ela devia ter uma caixa postal em Truxton, assim poupava ele de vir, ela fazia
que não escutava. Aliás uma
característica sua.
As
cartas começavam sempre com um Sue Elen, ou Sue, como gostava de ser chamada,
as lias todas as noites para mim.
Evidentemente descobri depois que fantasiava em cima delas, a mim
pareciam um conto de fadas.
Quando
percebeu que tinha facilidade de assimilar tudo, começou a me ensinar a ler,
escrever com 4 anos, quando chegou a época de ir à escola em Truxton, eu já
sabia tudo, me passaram logo para o segundo ano. Com 9
para 10 anos, estava pronto para ir a secundaria em Kingman, mas ela tinha
planos para mim. Os dois primeiros
anos, fiquei vivendo na casa de uma senhora conhecida dela, essa dizia que eu
não me adiantasse muito, porque quando chegasse o momento de ir à universidade,
teria que me mover para longe. Eu lhe
escrevia pelo menos duas cartas por semana, ela as respondia com sua letra
bonita, vinha a cada 15 dias, para me ver, a não ser que nevasse muito no
inverno. Reclamava da minha letra, as
vezes não entendia uma palavra por ter escrito na cama, a letra saia meio
complicada. Me fazia reler o que tinha
escrito para ela, consertar a palavra, lhe devolver em seguida para que a levasse embora, agora a lerei
outra vez, te respondo.
Com 16
anos estava pronto para ir a Universidade, sua amiga dizia que era muito jovem
para me enfrentar a esses marmanjos. Eu
estava na equipe de boxe, de basquete, era um jovem alto de cabelos compridos,
castanhos queimados do sol, olhos castanhos quase verdes. Em sumo era a cópia dela, tinha já nessa
idade 1,85 metros, não parei de crescer até que tive dois metros de altura.
Eu não
queria perder tempo. Nunca parava de
escrever tudo que me lembrava, detalhes de algo pela rua, alguma situação que
merecesse a pena contar.
O
jeito foi ir para Tucson, estudar. Ela
foi comigo até lá, tinha a opção de viver dentro da Universidade, mas lhe disse
que gostaria de ser independente, acabamos arrumando um pequeno apartamento em
cima de uma loja de ferramentas. Durante
o dia tinha barulho, mas no final da tarde tudo era um remanso de paz.
Minhas
cartas agora eram imensas, lhe comentava de tudo. Alguma cena que tivesse visto numa lanchonete,
alguma história que me tivesse contado algum colega de faculdade. Eu só tinha um problema, me custava muito me
relacionar com as pessoas.
Talvez
porque esses anos todos, estivesse centrado em meu relacionamento com ela, era
como se fosse um cordão umbilical, mal desligado.
Mas
todos os anos voltava para o Natal,
agora como estava longe, passava uma semana, assim que tirei carta para
conduzir, com o dinheiro que tinha economizado de minhas pagas mensais, comprei
um velho jeep militar, de capota que se podia arriar.
Fucei
o motor com um conhecido que o pai tinha uma oficina mecânica, no final, sabia
aonde estava cada parafuso do motor. A primeira vez que fui dirigindo até a
fazenda, para mim foi toda uma aventura.
Tinha descoberto numa loja, uma gravador manual, ia com esse preso na
direção, qualquer coisa interessante que via, bastava apertar um botão,
começava a descrever o que tinha visto.
Quando
me formei em Literatura Comparada e Jornalismo, marcou um encontro com o
diretor de um jornal de Phoenix. Vim
descobrir depois que tinham sido companheiros de faculdade.
Ela
tinha mandado duas cartas minhas, relatando uma em que tinha ido a uma festa
tribal na reserva. Tinha registrado cada
detalhe, sobre a história oral, que tinha me sentado pacientemente para
escutar, as danças, os jovens a parte que não se integravam nessa festa, como
eram de minha idade, tinha ido conversar com eles, para saber o que pensavam da
vida, só um deles estava fazendo faculdade de veterinária. Tomamos um bom porre juntos, no dia seguinte
despertei completamente nu, metido junto com ele num grande saco de dormir.
Foi
minha primeira experiencia sexual. A
contei da mesma maneira que imaginava que tinha acontecido, tinha bebido
demais. No dia seguinte, ao despertar, esse
descendente de índios, riu, não te lembras de nada verdade?
Lhe
disse que sim, riu muito, agora poderia te colocar num aperto, mas não fizemos
sexo, tirei sua roupa porque caíste na água, não encontrei contigo nenhuma
mochila, retirei tua roupa, te coloquei aqui para dormir, eu durmo nu sempre,
mas não te preocupe não aconteceu nada, só um beijo.
Não
sabia se dar graças a deus, mas ele tinha me atraído muito, estávamos dentro de
um lugar fechado, começamos a nos beijar, finalmente fizemos sexo, eu não tinha
porra nenhuma de experiencia.
Trocamos
número de telefone. Voltei para a
Universidade pensando o tempo todo nisso, falando para a gravadora.
Ela me
perguntava rara vezes se não tinha
amigos, ou uma namorada, lhe dizia que não, mas quando lhe escrevi, lhe contei
tudo, como tinha acontecido.
Era
uma carta de vinte páginas, ela me respondeu com outra imensa, me contando que
antes de conhecer meu pai, tinha tido um relacionamento sério com uma
companheira da faculdade, que um belo dia a mandou a merda, foi quando conheci
teu pai. Nunca soube se o amei ou não,
pois ele foi meu salva vidas. Se é esse
teu caminho quero que sejas feliz.
Achei
interessante ele ter lido o que falava de minha experiencia sexual, mas depois
entendi, pois ele vivia junto com um homem a muitos anos. Nunca convivi com eles, com ele só a nível
laboral. Me mandava fazer vários tipos
de matéria, de tudo que acontecia pela cidade, ou em Tucson, sabia que eu iria apurar os detalhes. Um dia me mandou fazer um artigo, sobre um
assassinato, achei estranho mais fui.
Quando me permitiram entrar no lugar do crime, analisei cada coisa de
aonde tinha acontecido o ato de violência,
estava ali um inspetor, me viu olhando muito para uma coisa na
parede. Perguntou o que eu via, lhe disse
que ali devia estar uma terceira pessoa, pois se a vítima foi apunhalada nessa
posição, o sangue deveria ter coberto essa parede inteira, mas veja bem há um
contorno de uma figura na parede.
Ele
chamou imediatamente o pessoa que tinha analisado a cena do crime, tinham
passado por alto isso. Fiquei olhando
depois atentamente o tapete, lhe disse, esse tapete foi mexido de lugar, quem
fez isso teve tempo de mudar as coisas de posição, para a polícia pensar como
tinha sido cometido o crime, como se
tivesse um atacante externo, não sei se a vítima era casada, mas uma pessoa
assistiu isso passivamente.
Ele
fez analisarem atentamente o que tinha dito.
Devias ser policial, me deu seu cartão, achei interessante. Me apertou a
mão muito forte, como para dizer que ali ele era o poderoso. Lhe disse que era a primeira vez que fazia
uma reportagem a respeito de um crime.
Em sua cara dura como aço, surgiu um sorriso que o transformava em
humano.
Depois
podes me mandar uma cópia para que eu veja como pensas.
Sai
dali, fui entrevistar os vizinhos, tinha
um jeito especial para perguntar as coisas, acabei descobrindo mais coisas que
a polícia. Todos diziam a polícia que
quem vivia ela um casal simpático. Mas
comigo se abriram, era um casal complicado, como se o marido estivesse
eternamente de mau humor. Uma das
mulheres que tinha escapado de dizer alguma coisa a polícia, aliás ninguém
tinha ido a sua casa, ficava justamente atrás da outra, a polícia não lhe
interessou porque o muro que separava as duas propriedades era alto
demais. Mas a senhora me mostrou o andar de cima, seu
quarto dava justamente para o vizinho, falou das eternas brigas, os gritos,
tinha visto muitas vezes ele bater nela, a chamando de puta. Uma vez, me mostrou uma foto, a estava estrangulando,
quase a jogando janela a fora. Fiz a
foto, falei com ela que deveria apresentar denúncia, mas ao falar em polícia,
tremeu, disse que nem pensar, que não queria nada com a polícia.
Pelo
nome da vítima, fiz uma busca, achei estranho, o nome não constava em nada, era
como se não existisse. Até que comecei
a usar um jogo de letras, como mudando o segundo nome, descobri que eram
testemunhas protegidas do FBI.
Telefonei
ao inspetor, marcamos de tomar um café.
Falei de tudo que tinha descoberto, não quero publicar sem saber se
realmente é verdade.
Vou
verificar isso, pois não aparecem nada em lugar nenhum, o marido continua
desaparecido.
Fiquei
quieto, ele me olhou inquisitivo.
Se
você fosse da máfia, aonde atiraria um cadáver aqui. Num desses lugares, sucata de carros, ou no
Rio Salado, que passa pela cidade.
Normalmente atiram a pessoa na água com pedras amarradas nos pés.
Começaram
a buscar, até que encontraram o homem, estava embaixo de uma ponte, do jeito
que tinha visto nos filmes.
Tornamos
a nos ver, me disse que podia publicar, que o FBI tinha se negado em colaborar,
fiz uma matéria inteira falando do assunto, das conversas com os vizinhos, o
trato com a polícia que tinha sido excelente, mas não mencionei seu nome.
Dia
depois esperando um fotografo para ir fazer uma matéria, sem me dar conta tinha
marcado no mesmo bar que tínhamos nos encontrado. Ficamos conversando, me disse que morava
justo no edifício ao lado. Anotou em seu
cartão o número, apartamento. Etc.
Sendo
como era, soltei de repente, por que me das teu endereço particular?
Porque
podes querer aparecer dia desses para conversar.
Só
isso?
Tu,
eres uma pessoa especial, me atrai, basta isso como resposta?
Sim,
agora está explicado, vou aparecer sim, hoje à noite estas livre?
Que
rápido, nem pensou duas vezes.
Ficamos
rindo os dois.
Nessa
noite começamos um romance, mas nunca fui viver com ele, sabia que era uma
pessoa que trabalhava por turnos, não queria estar sempre a espera. Algumas vezes ia ao meu apartamento, que ele
ria dizendo que mais parecia um ninho.
Lhe
contei que não precisava de um puto apartamento, não queria estar preso, não
sabia o dia de amanhã. Lhe contei a história
do ninho que tinha na árvore ao lado do meu quarto. Creio que foi aí, que aprendi a observar
tudo.
A
reportagem acabou sendo publicada também no NY Times, fizeram isso com mais
duas ao longo de dois anos, um dia me chamaram para ir a uma entrevista. Mas antes fui até em casa falar com minha
mãe. NYC estava do outro lado do pais.
Ela riu,
nos falamos mais por carta que quando estas aqui. Nunca falhas, gosto imenso de ler o que
escreves.
A
culpa é tua, todos os anos da minha infância lendo cartas para mim de outras
pessoas como se fossem contos de crianças.
Fui a
entrevista, fui contratado, me deram uma semana para começar. Só tive tempo de ir a Phoenix, pedir
demissão, dizer adeus ao meu amigo inspetor.
Ele
colocou as mãos sobre meus ombros, dizendo que tinha sido os dois melhores anos
de sua vida, que eu era mais jovem que ele, devia aproveitar as
oportunidades. Creio que estarei cada
vez mais de mau humor a partir desse momento.
Arrumei
um pequeno apartamento, com vista para o Rio Hudson, o duro era aonde deixar
meu Jeep. O jeito foi pagar uma garagem
a parte. Tinha no salão uma janela
imensa, com vista para o rio, nada de cortinas, ali, coloquei uma mesa de
trabalho, assim quando estivesse escrevendo de vez em quando podia levantar a
cabeça e ver o rio.
Fizeram
a mesma coisa, para que fosse conhecendo a cidade, me mandavam escrever o mais
variado tipo de reportagem, desde a inauguração de uma exposição, seja numa
galeria ou num museu, até um desfile de moda.
Eu sempre levava junto uma câmera de fotos, assim podia fotografar as
pessoas que me pareciam interessantes,
as entrevistava, anotava seu nome, assinalando como se vestia, depois
escrevia a respeito. Até o primeiro
crime demorou, pois tinham um jornalista que estava a anos no cargo, mas se
aposentava. Não lhe cai bem no primeiro
momento, me disse que era muito bonito para esse tipo de trabalho.
Me
fizeram o acompanhar durante dois meses, ele sempre levava um fotografo. Nas
primeiras vezes, me fazia ficar mudo, que não me movesse do lugar. Mas meus olhos, ouvidos, meus sentidos não
estavam ao seu serviço. Estava atento a
tudo, analisava cada ângulo, sem dizer palavra nenhuma, escrevia o meu
texto. Ele escrevia o dele. Um dia me viu atento escrevendo o texto,
veio por detrás, me mandou imprimir o que tinha escrito.
Analisou
profundamente, veio até minha mesa, eu
esperando uma bronca monumental, sorriu tristemente, soltou uma coisa que nunca
pensei em escutar. Quando te vi jovem,
bonito, pensei esse filho da puta deve ser um merda, chegou aqui indicado por
alguém. Depois li os artigos que tinhas
escrito, mudei um pouco de opinião, pois não só retratavas as pessoas, mas as
analisava. Nisso ganhaste um ponto
comigo, mas pensava esse desgraçado vai ficar no meu lugar, confesso que fiquei
com ciúmes. Mas porra escreves muito
bem, observas detalhes que eu com a idade, passo por alto. Questiona o que aconteceu, procura vários
ângulos do assunto, escreveste melhor essa reportagem, venha comigo. Fomos ao gabinete do diretor, disse que
mandasse parar a rotativa, queria que tirasse seu artigo, que incluísse o
meu. Ele descreve melhor o crime do que
eu fiz.
Ficamos
amigos, me ensinou a me mover pela cidade, qual a melhor forma de chegar rápido
a um lugar, um final de semana me convidou para ir passar um final de semana
numa cabana que tinha, eu lhe disse vamos no meu carro. Quando apareci com o Jeep, riu
muito, encaixa contigo.
Fomos
para as montanhas, ele pensava que eu era o típico garoto de cidade, mas
divertiu me ver montado a cavalo, galopando.
Quando
voltamos, disse, um segredo, esses filhos da puta, vão fazer uma puta festa
surpresa, pela minha aposentadoria, mas vão se dar mal.
No dia
seguinte tinha desaparecido, o único que desconfiou fui eu, pois tinha visto
uma carta com uma marca em cima, ele se engajava a uma equipe que percorria
Africa para ajudar as pessoas.
A
festa foi para a casa do caralho.
Passou a me escrever sempre, era como minha mãe, gostava de escrever no
papel, nada de e-mail.
Eu
separava em gavetas as cartas dela, bem como as dele, recebia uma vez por mês
uma carta sua, a ele lhe mandava cópia do que tinha escrito.
Foram
as duas pessoas que leram em primeira mão um livro que escrevi sobre o que
tinha visto nos meus primeiros dois anos em NYC, analisava a cidade, as gentes,
o que acontecia por ela.
Os
dois disseram, publique, ele me mandou o nome de um editor.
Quando
o livro ficou pronto, mandei uma cópia para ela, outra para ele, a dele voltou,
procurei saber tinha falecido de malária, na Africa do sul.
Juntei
todas suas cartas, num ficheiro, comecei a ler cada uma, cada história ou
acontecimento que tinha visto pelo caminho que tinha percorrido. Escrevi um livro, contando como o tinha
conhecido, bem como eram as cartas que me mandava, mas explicava que o texto na
verdade era dele, eu só fazia comentários.
Fui
chamado para uma série de entrevistas, a primeira pergunta era sempre, que eu
explicasse isso.
Bom o
prologo é meu, tenho o hábito de escrever semanalmente a minha mãe, ela não
gosta de laptop, ele era igual, usava no trabalho, mas gostava de escrever tudo
a mão. Durante esse tempo, que ele se
foi de viagem, me escrevia sempre, eu lhe respondia, quando soube que tinha
morrido, coloquei todas as cartas por
ordem de datas, as reli inteira, fiz como se fosse um diário, aonde ele me
contava as coisas interessantes que tinha visto, com esse seu olhar matreiro de
jornalista.
O
entrevistador, disse que por causa desse livro, tinha lido o anterior, em que
eu falava da cidade.
Veja,
fui criado primeiro numa fazenda no Arizona, depois estudei numa cidade
próxima, depois fui para Tucson estudar, mais tarde comecei a escrever num
jornal de Phoenix, vir para NYC, era como sair de uma cidade do interior que eu
conhecia, a chegar numa grande cidade que além da mistura étnicas, o movimento,
a agitação, fui conhecendo os lugares, o mesmo nos meses que trabalhei as ordens
dele, me foi ensinando como cada parte da cidade funciona. O que é uma verdade,
a cidade inteira é como caixas de
surpresa, para entender, há que observar quem vive nesse pedaço. Isso eu fiz, para entender como escrever
qualquer artigo sobre ela.
Ele
recomendou os dois livros aos espectadores. Logo surgiram várias
entrevistas, que fizeram que se publicasse uma segunda edição do primeiro. O melhor foi o seguinte, pois me pediram
para transformar o primeiro num roteiro de uma série de televisão. Criei
um personagem jornalista novato que tinha que escrever notícias desses
lugares. Transformei em histórias que
depois tinha escrito em alguma reportagem sobre aquele parte da cidade.
As
pessoas gostavam, pois ele falava do bairro deles, mencionava aonde se comia
bem, o que acontecia por ali, um crime, ou um acontecimento que tinha mudado a
maneira das pessoas verem as coisas.
Fui
guardando dinheiro, o mais interessante, quanto a minha vida pessoal, tinha
romances, que acabaram rindo de mim, pois sabia que era conhecido, com dois
livros, quando viam meu apartamento se desapontavam. Pois imaginavam um lugar cheio de glamour. Se decepcionavam, pois, eu não era uma pessoa
glamourosa, me vestia da mesma maneira sempre, ia os lugares, era mais um
ali. Assim podia observar quem queria.
Por
isso, quando muito chegava ao terceiro encontro, nada mais do que isso. Mas honestamente não me preocupava porque
sabia que era assim mesmo. As relações
eram superficiais, escrevi sobre um assassinato de um homem homossexual, o fiz de tal maneira, checando tudo sobre
ele, como vivia, como se sentia, conversei com amigos, inimigos, até chegar a
uma conclusão, era um solitário, seus romances não passavam como os meus de uma
noite. Estava mais preocupado em ficar rico de
qualquer maneira, para atingir isso, usava qualquer meio. Sem querer descobri seu assassino, entre as
pessoas que tinham falado dele.
Escrevi
um livro sobre isso, mergulhei no mundo gay da cidade, para saber por que a
maioria era assim, uma noite em cada cama.
A solidão das pessoas numa cidade grande. Levei mais de um ano, entrevistando, falando
com as pessoas, com algumas fui para a cama.
Uma delas me definiu bem, na cama eres como uma criança. Pareces acreditar no eterno romance, nada é
assim. Me levou pelo mundo do couro, do
sexo duro, da insatisfação sexual de algumas pessoas. Acabei lhe agradecendo por me analisar. Nunca realmente, tinha sofrido, ou me
atirado num relacionamento para saber como era. Não tinha tempo de conviver com as
pessoas. A minha vida passava rápida demais.
Justo
quando lançava o livro, dava entrevista a respeito, soube que minha mãe estava
mal.
Pedi
umas férias, fui para ficar perto dela, avisei que estaria fora um mês, que se
transformaram em seis meses. Fiquei ali
cuidando dela. Lá também o mundo tinha
mudado, já tínhamos celulares, torres de
transmissão em todos os lugares. Então
segui escrevendo.
Contratei
uma enfermeira, embora ela achasse uma besteira, para me ajudar a cuidar dela,
se negou terminantemente a se tratar, queria morrer consciente de quem era.
Aprendi
junto ao administrador, a olhar as contas, como ela fazia, achei que pagava
pouco aos empregados. Ele riu, ela diz
que se paga mais, gastarão o dinheiro em bebida. O que não deixa de ser verdade.
Quando
ela morreu, ao saber do testamento, me vi numa sinuca. O que fazer da minha vida, tinha que
analisar realmente o que queria. Me
deixava a fazenda, bem como uma boa soma de dinheiro no banco. Mas eu também tinha o meu dinheiro. Mas nesses meses, que tinha estado ali,
tinha encontrado uma certa paz. Tinha reaprendido a observar inclusive um
mosquito, ou uma abelha, que nem sabia que existiam mais.
Tomei
uma decisão, não precisava me mover dali, para seguir escrevendo. Fui a NYC, pedi demissão, mandei todas minhas
coisas para casa, todas as cartas dela, comprei coisas que nunca tinha pensado
em comprar, para disfrutar.
Comecei
a reformar a casa, modernizar a cozinha, os banheiros, uma parte que era o
antigo salão transformei na minha biblioteca, mas era tudo aberto, queria que
fosse como sempre, os homens solteiros ainda tinham o hábito de vir comer na
casa, contratei uma mulher, para cozinhar, cuidar da casa, isso eu não gostava
de fazer.
Em
cima, no quarto dela, montei um belo lugar para trabalhar. Assim ninguém me
incomodaria. O
administrador veio me dizer que os cowboys tinham o hábito de ir à comemoração
dos festejos na reserva. Me lembrei da minha vida, fui, me diverti
muito, conversando com as pessoas.
Hoje
não vais beber muito verdade, assim não despertarás dentro do saco de dormir
alheio, levantei a cabeça, ali estava ele, meu primeiro homem. Me levantei, nos abraçamos, perguntei o que
tinha sido dele.
Bom
estive de rodeio em rodei, fiz sexo com homens com mulheres, tenho um filho,
que vive comigo, mas sou honesto, nunca me esqueci de ti. Tenho teus livros.
Ficamos
ali até tarde da noite, os dois sentados em volta de um fogueira falando da
vida, me perguntou se tinha alguém, contei a verdade, quando lhe disse o que tinha falado ao meu
respeito, me disse, então mudaste muito, porque nosso encontro foi fantástico.
Talvez
tivesse sido isso, o primeiro estava livre de ataduras para experimentar. Acabamos dormindo juntos essa noite, confesso
que a muito tempo não me sentia tão excitado com alguém.
No dia
seguinte conheci seu filho, era um dos empregados da fazenda. Lhe perguntei por que não vinha comigo, o
administrador estava velho, eu não entendia nada de fazenda, sempre tinha sido
mantido a margem de tudo. Só me perguntou pelo velho jeep.
Está
em plena forma.
Teria
que conversar antes com meu filho, nunca estivemos muito juntos, pode ser que
lhe incomode minha presença.
Seja
franco, honesto com ele, comente como nos conhecemos, nunca gostei de mal
entendidos.
O
rapaz veio falar com ele, não me importa o seu relacionamento com meu pai, mas
o que ele não viu que isso seria uma oportunidade de nos conhecermos
realmente. Lhe disse que seria
bem-vindo.
Creio
que encontraras uma maneira de ir se comunicando com ele. Tive algo em minha vida de fazer inveja a
muita gente o relacionamento que tinha com minha mãe, baseado justamente numa
coisa, conversar, falar abertamente tudo.
Contou ao rapaz que tinham sido anos e anos, de cartas em ambas
direções. Eu sempre lhe contei
absolutamente tudo. Ela podia não
gostar, mas tentava dialogar comigo.
Quando
voltaram, tocou a ele falar com o velho administrador, era difícil falar com
uma pessoa que tinha estado sempre a frente de tudo, seus filhos todos tinham
ido embora, então nem podia esperar que algum o substituísse. Aceitou rapidamente a presença do Marco,
este logo se entendeu com ele, tinham algo em comum, amavam os cavalos.
Na
feira de animais de Tucson, venderam metade da manada, para começar outra leva
grande de animais.
Eu
agora saia todos os dias para cavalgar com os dois, Marco dizia que eu parecia
um centauro, pois era como parte do mesmo.
Depois
me fechava no meu lugar de trabalho, abrindo todas as cartas que tinha escrito
para minha mãe, colocando num arquivador, por ano, Buscava nas minhas as cartas dela, fazia a
mesma coisa, depois montava o diálogo de um com o outro. Os assuntos que tratávamos, algumas vezes ria
muito, outra chorava. Mas as que me
interessavam era nas que tratávamos de falar sobre nossas vidas
particulares. Assim fui alinhavando
quem ela era realmente.
Porque
sempre soltava um pouco de sua vida passada. Eu lhe contava da minha vida atual, ela de
seu passado. Me dei conta que algumas
coisas que dizia eu tinha passado por alto, talvez a desculpas fosse, estava
metido em cheio em algum artigo, ou história.
Foi
como reconstruir a vida de duas pessoas, que nem sempre liam realmente o que o
outro dizia inclusive nas entre linhas.
Levei
meses fazendo isso. Fiz uma quantidade
absurda de borradores a respeito do que falávamos, o duro era ver que tinha
passado nas entre linhas alguma coisa, ou não tinha dado importância ao fato.
Uma
das coisas interessantes, foi comentar uma vez que tinha ódio da fazenda,
quando se mudou para lá, mas com o tempo aprendeu a apreciar a simplicidade da
vida ali, a valorizar essa solidão auto imposta.
Um
detalhe, que já tínhamos conversado em várias visitas, era o fato de ela ler
cartas dos amigos que tinha pelo mundo, me contando como se fosse um conto
infantil.
Quando
o livro ficou pronto, vi que tinha uma quantidade de páginas imensa, mandei
mesmo assim para o editor, que me sugeriu fazer em duas vezes. Contar desde minha saída de casa, até a
universidade. Depois uma segunda parte,
até minha vida adulta.
Experimentamos
uma primeira edição assim.
Quando
foi lançado, tive que sair de turnê por muitos lugares, mas me dava conta que
ficava louco para voltar, agora ali era meu refúgio. Marco ria disso, dizia, que desde jovem
estivera de rodeio em rodeio, que nunca tinha encontrado uma casa, a primeira
vez que me senti bem, foi quando te tive no meu saco de dormir, agora que vivo
contigo, tenho a sensação que estou no meu ninho.
O fiz
subir, abri a janela, venha, ele riu dizendo estamos velhos demais para subir
nessa árvore, lhe mostrei aonde tinha meu ninho, daqui observava tudo, os
cavalos, os que faziam os cowboys, se conversavam, imaginava a conversa. Ri,
pensando, creio que devia escrever uma história sobre isso.
O
livro sobre as cartas fez sucesso, queriam transformar em série, conversamos,
que haveria uma segundo livro, se interessaram mais. Quando falei que a próximo seria do meu
refúgio infantil, o meu ninho, a ideia tomou forma. A discussão era, essa parte devia ser o
começo ou o final, explicando tudo. O
como meu personagem, adquiriu um senso de observação.
Falei
com o pessoal, que ia transformar em roteiro, das entre linhas de muitas
cartas, então me contrataram para reescrever essas partes, tornando uma parte
contada dentro da história.
Isso
gerava uma construção da história de maneira diferente, duas pessoas que tem liberdade de falarem tudo, mas que as
vezes comentam coisas nas entre linhas, para não se desnudarem totalmente.
Cada
capítulo, os roteiristas, passavam 10 a 15 dias, instalados em casa, os
obrigava a sair a cavalo conosco todos os dias,
um deles ficou interessado no Marco, mas quando percebeu que vivíamos
juntos, nunca mais tocou no assunto.
Nos
dois rimos muitos, ele soltou, se não estivesse tu, até poderia, mas seria
aquela famosa história de uma noite.
Volta e meia fazíamos uma excursão ao deserto, só pelo prazer de dormir
os dois no mesmo saco de dormir.
Eram
as melhores fodas que tínhamos, lhe
disse que deixaríamos de dormir na cama, que passaríamos a só dormir neste
saco. Acho que ele é magico, pois depois
de um final de semana assim, me sentia revigorado.
No
final da primeira temporada, ganhamos dois prêmios, sobretudo pelo texto, pela
maneira de manejar o mesmo.
Algumas
vezes ia assistir a rodagem, via o ator que tinham escolhido para ser o meu
“eu”, era realmente era parecido comigo.
Marco ficava com ciúmes, o que eu
adorava.
Numa
das entrevistas que via pela televisão, ao entrevistarem o ator que tinha uma
fama de uma vida totalmente reservada, lhe perguntaram que se não tinha
problema de enfrentar um personagem que estava vivo, além de ser gay.
A
resposta me surpreendeu, respondeu com outra pergunta, se o entrevistador já
tinha conversado comigo alguma vez. Já
quiséramos todos, poder ter esse diálogo que ele tinha com sua mãe, muito não
teríamos esse prejuízo da tua pergunta. Hoje em dia a quem importa o que fazemos na
cama com alguém, a não ser os paparazzis, as revistas sensacionalistas. Mas veja bem, as pessoas leem o que se
escreveu sobre essa pessoa, olham as fotos, mas ao virar a página da revista,
se dão com outra história mais ridícula que a primeira.
Se
passamos a um nível mais baixo, quantos famosos, vivem hoje disso, de vender
exclusivas, pois encontraram uma maneira de vender sua própria vida.
Quando
Marco comentou do ciúmes, lhe disse que não fosse por aí, imagina, seria como
fazer sexo comigo mesmo, de certa maneira somos muito parecidos.
A
série ia para o sexto ano, quando Marco ficou doente, tinha caído de um cavalo,
escondido que tinha se ferido, em duas costelas, quando não aguentou mais,
reclamou, já era tarde, tinha um problema sério. Entrou no hospital para uma operação de
emergência, mas não saiu.
Fiquei
atontado, como se tivesse levado uma porrada na cara, não tinha nem vontade de
falar, tinha sido minha primeira experiencia, reencontrado o bom que tinha
sido. Esses últimos anos tinham sido
fantástico, pois era uma pessoa que eu podia falar de tudo. Quando não entendia algo, eu percebia que
estava falando sem objetividade, tinha que ser mais claro.
Lia os
textos, quando me passava a querer analisar intelectualmente, me cortava na
maior dizendo, crês que as pessoas vão entender essa frase ou essa análise do
que escreves.
Pior
era que agora teria que reescrever, ou melhor criar o meu mundo em cima do
ninho, não tive dúvida nenhuma, subi, para ficar ali pensando. Me chamaram de louco, pois podia cair.
Ali,
pude pensar para escrever como eu fazia nessa época, tentar voltar a uma fase
da minha vida que tinha sido imensamente feliz, mas não me tinha dado conta
disso. Cheguei inclusive a lembrar-me de
ideias que tinha quando via duas pessoas falando. Observava seus movimentos de cabeça, de
braços, um simples girar de tronco para olhar um cavalo, ou algum cowboy.
O
mesmo, tinha as cartas que ela me lia, tentei recordar o que contava de cada
uma, ri muito, bem como chorei como um possesso, pois as vezes nem vinte por
cento estavam realmente ali, se podia dizer que ela o tinha inventada,
imaginado, ou tinha entendido nas entre linhas.
Tinha
tudo tão organizado, que fiquei imaginando quem eram essas pessoas. Tentei fazer contato com algumas, pois tinha
os endereços. A maioria tinha morrido, as
com quem podia conversar, fui
visita-las, levando suas cartas, algumas tinham as que minha mãe tinha
escrito falando de sua vida, de mim.
Mas
quando comentava com essas pessoas como ela lia as cartas, como se fossem
contos infantis, riam muito.
Alguns
me cederam as cartas que ela tinha escrito, outros que as queriam, tirei
copias, organizei tudo isso, para escrever uma história, agora o personagem era
ela. O ator que tinha feito até agora
meu personagem um dia veio me visitar.
Ficamos conversando, ele disse que tinha uma certa inveja de mim.
Lhe
perguntei por quê?
Fui
criado num orfanato, ficava imaginando como seria minha mãe, conversava com
ela. Mas você teve uma mãe fantástica,
com quem podia falar qualquer assunto.
Quando
falei que o Marco tinha ciúmes dele, me deu uma resposta que me deixou sem
jeito.
Eu
também tinha dele, pois via que não tinha chance nenhuma.
Pois é
lhe comentei que se fizesse sexo contigo, seria como fazer comigo mesmo, pois
somos muito parecidos fisicamente.
Não acho,
temos algumas coisas em comum, mas de outro ponto de vista, somo completamente
opostos. Es uma pessoa franca, pela
educação que tiveste, eu ao contrário, sempre tive que ter dupla personalidade,
a do ator, deixando para trás a pessoa que sou realmente. As vezes fico farto, escapo, como agora.
Vim
aqui pedir que escrevesses qualquer coisa especialmente para mim.
Lhe
ensinei o texto do ninho, ele achou
fantástico. Subiu ao ninho na árvore,
cheio de medo de cair, mas quando se sento lá, disse que me entendia. Subi também, nos demos o primeiro beijo.
Reescrevi
totalmente o texto, imaginando um adulto querendo recuperar seu lugar magico de
infância. Mas que nada é o que parece,
pois tudo tem uma sub texto.
Nos
vimos muito durante a gravação do filme, pois queria que eu estivesse presente,
fazíamos sexo em vários lugares, as vezes me sentia olhando num espelho. Mas no seguinte momento estava com uma pessoa
completamente desconhecida.
Quando
foi nomeado ao Oscar, me convidou como seu acompanhante. Nunca tinha ido, tinha visto pela televisão,
quando morava em NYC, mas ir assim de convidado, fiquei surpreso.
O
filme ganhou pelo texto, efeitos especiais sobre o ninho, ele acabou ganhando o
Oscar de sua carreira. Ao agradecer,
foi direto a mim, apesar de sermos parecido fisicamente, somos os opostos em
termos de personalidade. Foi analisando
nossa relação. No final soltou, eu te
amo, obrigado por esse presente.
Agora
passava mais tempo na fazenda, pois não lhe apareciam texto que gostasse, lhe
disse por que não aproveita o texto, fazes um monologo no teatro. Fui a estreia em NYC, me disse que estava
nervoso. Uma coisa é fazer um filme,
que não tem publico presente, outra é isso.
Queria
que eu ficasse em NYC, lhe disse que nem pensar, estava no meio de um novo
livro, ali, não ia dar certo.
O
espetáculo durou dois anos em cartaz, nos fomos afastando delicadamente sem
ofender um ao outro.
Já
estava escrevendo um roteiro, sobre a minha amizade com o Marco, não me
interessava contar nosso relacionamento, mas sim, nossas conversas. Os cowboy me convidaram para ir novamente ao
festival. Quando ele era vivo, sempre
ia com ele. Estava ali sentado
conversando com os da tribo que eu conhecia quando um homem de seus 35 anos, se
aproximou perguntando se podia falar comigo.
Num primeiro momento fiquei de sobreaviso, era um tipo rude, desses
cowboys índios, mas cai do cavalo, era um professor da reserva.
Eu
conheci o Marco a muito anos, logo depois que ele te conheceu, me contou a
historia do saco de dormir. Ele amava
estar nos rodeios, ser cortejado por homens, mulheres, os que queriam fazer
sexo com ele. Se deslumbrou com isso,
afinal era bonito. Mas sempre me
dizia nunca esqueci o primeiro homem,
que eras tu.
Tentei
ter um relacionamento serio com ele, mas não consegui, acabei me casando, foi
uma merda, não deu nada certo. Graças a
deus não tivemos filhos.
Li
todos teus livros, ele sempre falava no mesmo, que conversar contigo, era fácil,
pois sempre dizias tudo que sentias, que prestava atenção, que até mesmo quando
se falava complicado, abrias o jogo.
Queria
te convidar para dormir no meu saco de acampamento, como fizeste com ele,
queria sentir isso que ele sentia por ti.
Fiquei
surpreso, pois não esperava nada disso. Subimos
no velho jeep, fomos para uma área deserta, acendemos uma fogueira, ficamos os
dois encostados num tronco conversando sobre sua vida, sobre a minha. Mas no
momento que nos beijamos, foi algo maravilhoso, se fosse um filme, aconteceria soltarem
fogos de artificio. Dai para o resto foi
um passo.
Agora
entendi, me disse, nem sabes meu nome, me chamo Clay Roman, sou filho de índia
com um mexicano, mas fui criado na tribo. Só sai para estudar fora. Mas voltei para dar aulas para as
crianças.
Fomos
nos conhecendo aos poucos, encontrei minha cara metade, éramos diferentes em tudo,
mas numa coisa era impressionante, ele lia os textos, sabia aonde estava o que
eu queria dizer. Um dia pegou o livro das historias das cartas, que minha mãe
usava como contos, quando li esse livro, me lembrei de minha mãe que era
analfabeta, mas me contava historias maravilhosas, sobre como eram os índios,
como viviam antes, falava de caça dos animais, o significado da águia que tudo
via. Uma vez me levou com ela a uma
parte aqui da reserva, nas montanhas quase chegando ao Grand Canyon, entramos
num lugar especial, cheio de desenhos, era um lugar sagrado. Eu só pedi uma coisa, que um dia tivesse uma
pessoa especial na minha vida.
Demorou,
mas aconteceu, no dia que te vi na reunião do festival, sabia que não podia
perder a oportunidade de te conhecer.
Não me enganei.
Veio
com o tempo viver comigo, o filho do Marco o chamava de tio, mas me disse que
era assim porque o tinha apresentando
assim ao filho.
Sexualmente
nunca tinha tido nada igual, erámos um complemento um do outro. Ia todos os
dias dar aulas, depois voltava, ficávamos conversando na cama pelas noites.
Tinha
era muito medo dessa felicidade toda, mas os anos me fizeram entender, que o
nosso era para o resto de nossas vidas.
Nada
mais simples do que isso.
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