lunes, 11 de noviembre de 2019

TORMENT


                                            TORMENT



De novo o mesmo pesadelo, era algo recorrente, se repetia sempre que estava exausto, ou tinha tido um dia duro, que o cadáver apresentasse alguma coisa que o fazia se lembrar do seu passado. 

Anos frequentando psicólogos, terapeutas, psiquiatras, nada conseguia resolver a questão, ou seria ele que se apegava a isso para não se esquecer nunca o que lhe tinha acontecido.

No dia anterior, tinha feito a autopsia de uma menor de idade que tinham cortado a cabeça, metido num saco, mas enterrado junto com o resto do corpo. Também tinham cortado os dedos, mas colocado dentro de luvas para formar a mão, as tinha cruzada como um enterro normal.   Quem encontrou o cadáver, tinha sido um cachorro, que estava com seu dono, passeando no meio da floresta.

Foi chamado imediatamente, era o forense de New Port.  Sempre tinha se perguntado, porque tinha optado por essa ocupação, por seus estudos universitários, poderia ter sido qualquer coisa no ramo da medicina.

Sempre tinha sonhado em ser médico, embora se tivesse diplomado muito tarde, não tinha se adaptado a nenhuma coisa dentro da medicina.   Quando lhe perguntavam por que era forense, respondia rispidamente que era a única parte da medicina, em que os pacientes não reclamavam.

Durante muito tempo esteve em urgências, mas se estressava muito, a adrenalina lhe fazia ter crises de ansiedade, tinha sido aluno brilhante em cirurgia, mas estava sempre com medo de erar.

Se preparou a consciência para ser médico forense, passou sem a menor dificuldade.  Nunca deixava nenhum cabo solto no processo.  Analisava exaustivamente cada paciente, como ele chamava os defuntos.  Quando sabia o nome, falava com o mesmo mentalmente, examinando cada parte do cadáver.

Era respeitoso com o mesmo, quando o devolvia a família, algumas vezes falava com a mesma.

O detetive encarregado desse caso, veio falar com ele, a jovem vivia num orfanato, saia todos os dias do mesmo, para trabalhar num lar de pessoas maiores.  Queria ser enfermeira.

Quando soube disso, ficou impressionado, porque essa jovem não tinha sido adotada, era bonita. Cabelos loiros, olhos azuis, um corpo relativamente perfeito.  Quem a tinha matado, não tinha abusado sexualmente dela.

Explicou ao detetive, que não entendia ainda, porque cortar a cabeça, os dedos da mãos, parte por parte, voltar a colocar dentro de uma luva branca, cruzar os dedos com a outra mão.

Tinha mandado examinar as luvas, para ver se tinha alguma coisa de drogas. A primeira conclusão, era que tudo isso tinha sido feito, com a pessoa consciente, somente o corte final da cabeça devia ter acabado com a agonia da vítima.

Por isso teve pesadelo essa noite, tinha ido dormir tarde, porque ficou fazendo o relatório, detalhadamente, com fotografias, dados extensos.  Sabia que os detetives não gostavam de tantos dados, mas eram necessários num caso como este.

Verificou, no computador, para ver se na região, tinha acontecido anteriormente um caso assim.   Nada, nos registros.

Teria agora que consultar do estado inteiro de Oregon, depois os do FBI, da CIA,  para saber se havia algum caso similar.

Nessa noite o sonho recorrente, lhe parecia mais vivo, pois um dos primeiros momentos de consciência do que tinha presenciado, quando tinha 17 anos, tinha sido exatamente o corte dos dedos.

Voltava aquela sensação de angústia, de dor, o grito sufocado pelo adesivo que cobria sua boca.   Esse grito sempre repercutia em sua cabeça. Cada vez que desmaiava, o filho da puta, lhe jogava um balde de água, misturado com sangue, até que entrou num estado catatônico.   Foi assim que o encontraram, junto ao corpo, vestido como o torturador, com um bisturi nas mãos.  Não estava mais preso na cadeira, tampouco, podia se mover.  Levou meses internando num psiquiátrico. Estava sempre sentado, quando foi finalmente levado a julgamento, não podia falar, não conseguia verbalizar nada.   Mas o juiz tinha pressa, pois queria se aposentar com um grande caso.   As provas, lhe davam igual, lhe condenou a cadeia perpetua.   Demorou tempo para ir a prisão, quando foi transferido para a mesma, já podia dizer que ele não tinha matado a ninguém.  Mas já era tarde.

Foi abusado desde o primeiro dia.  Era jovem, bonito, tiveram que o manter em isolamento.  Todos que estavam ali, quando viam aquele rapaz de cabelos negros, sobrancelhas curvas, boca carnuda, um corpo jovem, o queriam para si.

Depois de vários vezes que esteve na enfermaria, acabou fazendo amizade com um enfermeiro que as vezes substituía o próprio médico.  Estava ali há tanto tempo, que sabia quase todos os procedimentos.

Conversou com ele, junto com o policial que distribuía as celas.   A melhor maneira, era que ele passasse por amante do enfermeiro.   Prometo não tocar em ti.

Lhe impressionava, era a quantidade de vezes que este rezava. Lhe explicou que era mulçumano, durante muito tempo não tinha sequer noção a direção de Meca, mas isso não lhe importava, o que lhe valia era a intenção.

Ahmed tinha se convertido dentro de uma outra prisão, mas mesmo confrontado com o fato de ter cometido um assassinato, tinha encontrado na fé, um caminho.   Alguns presos, rezavam com ele durante o dia. 

Dalton lhe perguntava como podia acreditar num deus, que o tinha abandonado desde infância.   Não conhecia seu pai, sua mãe tinha desaparecido logo depois que ele tinha nascido. Tinha sido criado pelos seus avôs, que lhe deram tudo, nunca comentava nada sobre sua filha.  Nem falavam mal da mesma, apenas diziam que tinha escolhido um caminho tortuoso para ir em frente.

Ele era o bicho raro da escola, sempre muito inteligente, o melhor aluno em tudo.  Desde jovem sonhava em ser médico, lia tudo que podia sobre o assunto.  Os abusadores de sempre, o tratavam mal.  Mas ele sempre conseguia escapar.  Era um bom jogador de futebol americano, isso lhe ajudaria talvez a entrar para a universidade.  Apesar que os professores lhe diziam que com as notas que tinha, não ia precisar.

Justamente no último ano, seus avôs morreram com uma diferença de semanas um do outro.   Ficou a cargo de uma vizinha até que fizesse 18 anos.

Foi quando tudo aconteceu.  Estava conversando com uma companheira de classe, quando foram agredidos, sedados, metidos num furgão.   Mas quando despertou, levou um susto, ali estava um dos filhos de papai da escola.  Somente ele, ninguém mais.  Estava preso numa cadeira, justo em frente a sua amiga, deitada numa cama de hospital, improvisada.

Ficou com os olhos arregalados. O que este louco estava fazendo. Começou um processo, infernal, sua companheira de classe, estava presa na mesa, ele ia cortando lentamente cada parte dos dedos das mãos, quando terminou, começou com os dos pés.  Ela gritava de dor.  Ele não podia gritar porque tinha uma fita adesiva fechando sua boca. Por duas vezes quase morreu sufocado, pois tinha começado a vomitar.   Este ria, dizendo eu sempre soube que não passavas de um gay de merda, um fracote.  Jogava água fria, com o sangue que ia recolhendo. Tentou gritar no momento que estava sem a fita adesiva na boca, mas levou um murro tão forte, que desmaiou, quando voltou a sim, estava outra vez sem poder falar.  O grito ficava dentro de sua cabeça.  Agora ele abria totalmente o corpo da garota, de cima até em baixo.  Tudo que se pergunta, aonde esse filho da puta tinha apreendido a fazer isso. Era perfeito com o bisturi. Acreditava que fora o momento que ela tinha morrido. Gritava com todas suas forças, mas ele mesmo não se escutava.  Até que os seus próprios gritos o ensurdeceram.   O outro ria muito, com os olhos dilatados, hoje pensava que por causa de alguma droga que tinha tomado.

Num dado momento, já nem conseguia ver, por causa das lagrimas que rolavam em sua cara. Tornou a lhe jogar água, porque queria que visse como cortava, com uma serra de madeira, a cabeça. 

Aí tinha sido demais, o grito que estourou dentro de sua cabeça, além do pensamento, em seguida fará o mesmo comigo.

Desmaiou, quando acordou, embora não estivesse atado, estava deitado no chão, lhe colocavam algemas, via dois homens pôr em cima deles.   Um deles lhe perguntava por que tinha feito isso. 

Mas não podia falar, seu último grito tinha sido tão forte, que tinha rompido as cordas vocais. Mas tudo isso ele via, como se não estivesse ali.

Em sua cabeça, sua única preocupação, era aonde estava sua companheira.

O homem pisava em seu peito, não lhe permitindo mover-se.

O outro lhe dizia que não podia ser ele o assassino, porque estava em estado catatônico.

Que nada, deve ter tomado drogas para poder fazer o que fez com esta, com as outras também.

Se perguntava que outras?

Só encontraria respostas muitos anos depois.

Depois de muito tempo, conseguiu ver jornais daquela  época, aí pode entender.  Tinha sido acusado de matar sua companheira, bem como outras quatro garotas, da mesma idade, mesmo tipo físico.      Acusavam a ele, porque tinham descoberto sua paixão pela medicina.  O Fiscal tinha usado isso como argumento.    Pelo visto seu advogado de defesa era um mequetrefe desses que não se esforçam para nada.  Segundo o fiscal, ele tinha tudo contra ele.  Se lembrava vagamente do detetive que depôs contra ele.   Só um, o outro que tinha visto não aparecia. Ainda procurou o outro lentamente pelo público, o viu sentado na última fila, com uma cara contrariada.  O julgamento foi rápido.  Prisão perpetua, ele não podia falar nada, as cordas vocais não funcionavam, tudo que escutou nesse momento, foi seu grito interior de sou inocente.

Ele nem sabia quem eram as outras vítimas. Anos depois conversando com Ahmed, chegou à conclusão que tinham se aproveitado dele, como bode expiatório.   Cada vez que tinha pesadelos na prisão, Ahmed, descia de sua cama, lhe segurava a mão, rezava.  Finalmente depois de um tempo, escutando sua voz rezando, se relaxava, dormia.

Aprendeu a fazer essa reza, embora não conseguisse desculpar Deus, pelo que lhe tinha acontecido. Ele com sua voz rota, pois tinha uma voz extremamente estranha.  A princípio lhe doía muito falar, mas com o tempo, essa dor desapareceu, ficou com uma voz de uma pessoa que fumou a vida inteira, mas nunca podia levantar a voz.  O tom era sempre o mesmo, monocórdio.  Por isso talvez, tivesse dificuldade de trabalhar atendendo pessoas.

Sob as asas de Ahmed, foi aprendendo tudo sobre enfermaria, sabia costurar a consciência uma ferida, ajudava em tudo ao outro.  Os dois rezavam sempre na cela que compartiam.

Quando Ahmed morreu, lhe disse antes, que nunca perdesse as esperanças, que ele estivesse aonde estivesse, estaria rezando por ele.

Ocupou seu lugar na enfermaria, lá tinha sido abusado pela última vez.

Desta vez se vingou, porque o mesmo que o tinha agredido, voltou semanas depois, ele aproveitou para lhe administrar um medicamente que sabia que acabaria com sua vida.   O outro saiu rindo da consulta, dizendo que ia conseguir que fosse compartir cela com ele, assim abusaria dele todas as noites.

Morreu nessa noite, de um enfarte, provocado pela medicação.

Fazia sete anos que estava dentro da prisão, não se lembrava mais quantos anos tinha, a sensação era que sempre tinha estado ali.  Tudo que fazia, era conseguir todos os livros de medicina para ler.  Tinha conseguido terminar seu curso, dentro da própria prisão.  O exame tinha sido excelente.

Um dia apareceu um guarda, lhe dizendo que tinha uma visita.

Ficou surpreso em encontrar o outro policial. Este lhe deu um sorriso triste, me desculpa ter demorado tanto tempo. Tive que esperar que o detetive que te perseguiu como um demônio, fosse assassinado num assalto, para poder reabrir teu caso.

O consegui, porque os assassinatos voltaram a acontecer, um novo fiscal, quando viu as provas que eu tinha, além do que continuava acontecendo.  Levamos teu caso, a um novo juiz, que ficou horrorizado.  Tinha sido um complô muito bem orquestrado, contra ti.

Precisavam um bode expiatório, para inocentar o filho de um dos homens mais ricos da cidade, um lunático, mas consegui pega-lo em fragrante.    Seu pai, me ofereceu mundos e fundos, se eu conseguisse outro bode expiatório.  Mas se deu mal, porque consegui que falasse do que tinha acontecido contigo.  Ele sabia do que o filho fazia, subornava o detetive, o fiscal, além do juiz.   Por isso teu julgamento foi rápido.

Na verdade, como uma execução sumaria.   Agora estão todos presos.  Precisava que tu pudesses comparecer como testemunha do que aconteceu com tua amiga.

Ela sequer era uma amiga, a tinha encontrado por um acaso, estávamos na mesma classe, quando parou um carro negro, nos sequestrou.  Creio que hoje me chamariam de vítima, que  estava no lugar errado, na hora errada.

Volto dentro de dias, com um advogado, que aceitou defender-te, num novo processo. Teu caso foi reaberto.

De fato, dois dias depois, ele apareceu com um advogado, um homem forte, muito sério.  Lamentou os anos que ele tinha perdido de sua vida.

Contou tudo que podia se lembrar, falou do grito que tinha dentro de sua cabeça, de não poder falar, para se defender, sabia pelos médicos que tinha estourado suas cordas vocais, por isso falava dessa maneira.

Falou do tempo que tinha estado no hospital psiquiátrico, os abusos que tinha sofrido na prisão durante todo esse tempo.  Quase cheguei a acreditar que tinha realmente feito tudo isso que diziam os jornais.  Pois só descobrir de tudo que tinha sido acusado, pelos jornais da biblioteca da prisão.

Não tinha ideia, quando falei com os daqui, disseram que meu caso não tinha apelação.

O advogado perguntou, quem lhe tinha dito?

O diretor da prisão, numa das vezes que fui com Ahmed denunciar os abusos, ele me respondeu, quem mandava eu ser jeitoso.   Não fez nada a respeito.

O advogado, pediu que ele tivesse paciência, reclamou com o diretor, dizendo que agora a coisa tomava novo rumo.  O melhor que o dito cujo fazia era colocá-lo numa cela especial.

Não gostou muito, mas como vinha acompanhado de um policial, atendeu.

Primeiro, a toque de caixa, revisaram todo seu processo, foi liberado.

Saiu num dia que caia uma chuva torrencial, ficou parado do outro lado da porta, não tinha ideia para aonde ir, tinha crescido um pouco, ou suas roupas tinham encolhido. Ficou um tempo encostado na porta de ferro, esperando que seus olhos se acostumassem a chuva.  Foi quando viu o advogado, junto com o policial esperando do outro lado da rua.  O policial desceu com um guarda-chuva, o levou até o carro.

Tinha como medo de andar na rua, quando desceram diante de um hotel caro.   Pediu se podiam ir para um lugar mais simples.  Tinha medo de ficar ali.  Todos apontariam para ele, não saberei o que dizer.

Queres ficar na minha casa, lhe perguntou o policial?

Não tens família?

Não, vivo sozinho.

Ok, se não incomodo, tudo bem.

Foram dois dias de julgamento, depois soube que, já tinham prendido, o juiz, o fiscal do caso.  O detetive não, porque tinha morrido antes.

Foram, dois dias, de interrogatorio, quando se cansou no primeiro dia, a emoção de recordar agora falando, do que tinha visto, o grito que não podia sair. Tudo que tinha acontecido na prisão, principalmente dos abusos, em que o diretor não tinha feito nada a respeito.

Tudo dessa vez ficou esclarecido.

Depois depôs no processo dos outros acusados, ele não conhecia nem o juiz, o fiscal, tampouco o pai do assassino.

Esse quando o viu, disse que tinha errado, devia ter-lhe deixado morrer com seu próprio vomito. Riu muito, como se tivesse contado uma anedota.

Disse ao juiz que não sabia quem os tinha sequestrado, somente sabia que eram duas pessoas altas, vestidas de negro, que lhe tinham injetado alguma coisa.

Que quando tinha despertado, o acusado já estava cortando os dedos da vítima, o tinha reconhecido, como um companheiro de escola, embora nunca tivesse estudado com ele.

Contou tudo novamente, mas sem olhar diretamente ao acusado, pois esse tinha um sorriso na cara, como se o que contasse lhe dissesse que era o melhor.

Seu advogado defendia que ele devia ir para um hospital psiquiátrico.  Mas acabou mesmo indo para cadeia perpetua, como tinham feito antes com ele.

O acusado, dizia que sabia exatamente o que estava fazendo, pois tinha estudado nos livros de medicina de sua mãe. Durante o processo, contou que sua mãe, consciente ou inconsciente tinha matado vários pacientes num hospital de Seattle, depois se casou com seu pai.  Desde que nasci, ela nunca saiu do seu quarto, passava o dia inteiro fechada nele. Fui criado pelos empregados, meu pai estava totalmente preocupado com seus negócios.

O único dia que vi a porta do quarto aberta, foi o dia que chegou a polícia, pois tinha se suicidado.

Herdei todos seus instrumentos, ou melhor os roubei do armário aonde estavam escondidos, passei a usa-lo com pequenos animais abandonados.   O primeiro ser humano que usei, foi uma menina de uma escola perto da minha. Mas só lhe cortei os braços, os dedos da mão.  Pois me faltavam um serrote especial para ossos.

Contou tudo como fazia no julgamento, sem mover um musculo da cara.

Depois de semanas se recuperando, o advogado o aconselhou a pedir o que quisesse ao governo.

Tudo o que eu quero é mudar de nome, que me deem um certificado para poder entrar na universidade, bem longe daqui, aonde ninguém me conheça.   Vender a casa dos meus avôs, para poder começar uma vida nova.

Conseguiu tudo isso, embora a casa dos avôs, estava em ruinas, o valor não era muito alto, mas daria para começar a vida em outro lugar.

Quando embolsou o dinheiro, na surdina da noite, com seus novos documentos em nome de Dalton Malcon, não sabia por que tinha escolhido esse nome.  Eram dois personagens que o intrigavam Danton e Malcon X, lutadores pela liberdade.

Queria ir mais longe possível.  Conseguiu entrar para estudar Medicina na universidade de Oregon.  Foi um aluno brilhante, embora fosse o mais velho da turma.   Em seu primeiro dia de uma aula de anatomia, quando viu o professor ensinar como cortar um cadáver, desmaiou.  Foi a chacota do dia, mas se recompôs.   Quando teve que fazer o mesmo, foi a perfeição.

Durante o curso, se esforçava ao máximo, sabia que tinha que guardar dinheiro para quando chegasse a época que tivesse que estar interno num hospital.

Por isso, ia a Universidade, depois trabalhava num restaurante antigo, numa zona que estava ficando deserta. Lojas fechadas, decadência.  Mas foi aonde encontrou emprego sem muita dificuldade, vivia numa pensão perto.

Um dia um velho cliente, que vinha todos os dias no mesmo horário para jantar, se engasgou, ele socorreu o homem, que lhe agradeceu muito.  Passou a falar com ele, a lhe deixar gorjetas.   Um dia o viu estudando, estava com um livro nas mãos, na verdade um tratado sobre câncer de pulmão.  O homem curioso se perguntou, porque se interessava pelo assunto.

Estudo medicina de manhã, depois venho trabalhar, aproveito os momentos de menos movimento para estudar.

O velho lhe fez várias perguntas, principalmente aonde vivia.

Quando lhe contou que era a volta da esquina, numa pensão que caia aos pedaços.

Rindo lhe disse, se fosse por isso, ele poderia lhe alugar um pequeno apartamento, no edifício que vivia.

Venha, não é longe, vamos até lá.

Realmente era no quarteirão seguinte. Restavam poucos edifícios no quarteirão, a maioria tinha sido demolida para dar lugar a novas construções.

Embaixo tinha uma loja fechada, o homem ou melhor Marcus lhe esclareceu que era sua, tem muita coisa dentro ainda para vender, mas um dia desses me expulsaram para demolir o edifício.

O apartamento era pequeno, mas excelente, ainda funcionava tudo.  Podes ficar com ele se te agrada, não precisa pagar aluguel.

Passou dois dias limpando o pó do mesmo.   Pó das demolições em volta.

Agora pela tarde trazia comida para o velho, pois quase não conseguia andar.  O levou várias vezes ao hospital aonde por fim fazia práticas em urgências.

Foi quando chegou a conclusão que amava a medicina, mas não o contato com os pacientes.  Tinha um bloqueio a respeito. Inclusive consultou um psiquiatra do hospital a respeito.

Pouco tempo depois, conversando com o velho, pois já tinha passado por várias especialidades, não encaixando em nenhuma.   Vendo um filme com o velho, contava a historia de um médico forense.   

O velho comentou, que talvez devesse experimentar, eram clientes que nunca iriam reclamar, se algo saia errado.

Gostou da ideia, começou a se especializar, funcionava, a pessoa estava morta, já não falava, nem fazia perguntas.

O velho morreu tempos depois, um dia que ele estava até tarde da noite trabalhando.   Lhe deixou o edifício, dizendo que o melhor era vender logo de uma vez ao melhor postor.

Tinha saído o posto de New Port, vendeu o edifício, pode assim alugar uma boa casa, com vista ao mar, um carro pequeno.  Todos sempre comentavam sobre seu trabalho, tudo muito sério, cuidadoso.   Mas conviver com os outros, nem pensar.

Nada de romances, tinha sofrido tantos abusos sexuais, que ainda lhe faziam a vida complicada neste aspecto.

Seu grande prazer era velejar, tinha comprado um barco pequeno, aprendido a manobrar o mesmo.  Amava sair a mar aberto, sentir o poder do mar.

Voltou a realidade, depois de verificar que sim, havia casos isolados no estado.  Cidades diferentes, modus operandi, diferentes.

Lhe parecia uma única pessoa.   Ou está copiando uma parte do que sabia que estava na cadeia, ou não sabia o que pensar.

Revolveu chamar o detetive que o tinha ajudado, o telefone sempre chamava, mas ninguém atendia. Quando finalmente conseguiu falar, quem atendeu foi uma voz diferente.

Perguntou pelo detetive, a voz explicou que infelizmente tinha sido assassinado.

Após um minuto de susto, se identificou como o forense de New Port, que tinha lido o processo do assassinato da 5 garotas, tinha no momento um caso parecido.

Perguntou como tinha morrido.  Ficou com os pelos do corpo inteiro eriçados.  Tinha sido seu torturador.

Mas não estava preso?

Mas conseguiu escapar, matou seu pai, o inspetor da mesma maneira.   Com o inspetor foi pior, pois fez um buraco na cabeça, enfiando o cabo da arma em sua cabeça.

Depois desapareceu.  Mas seu modo operandi, mudou, agora se filma fazendo tudo isso, depois coloca nas redes sociais de internet.

Pediu uma foto do mesmo na atualidade, ao mesmo tempo uma cópia do processo.

O recebeu em seguida via fax, imprimiu.

Agora tinha uma vantagem, sabia quem ele era. Podia identifica-lo, teria que se preparar para caça-lo. 

Tinha uma dúvida, se contar isso ao detetive que estudava o caso da cidade.   Mas somente lhe alertou dos outros casos.

Devia estar operando na região, pois tinha acontecido em várias cidades em volta de  New Port.

Passou o retrato para o detetive que se ocupava do caso, mandando o relatório que tinha recebido.

Em momento algum falou de si mesmo, não lhe interessava chamar atenção para sua pessoa.

Ele tampouco seria reconhecido, tinha mudado completamente, usava outro nome, usava cabelos largos, a grande maioria brancos, tinha mais força, se exercitava a diário, talvez um pouco mais esperto.

Passou a patrulhar as ruas com um 4X4, grande, com os vidros tintados.   Uma noite viu que o detetive seguia alguém, resolveu seguir para ver o que fazia.  Tinha acurralado uma pessoa.  Em comparação com o outro, a figura do detetive era frágil.  Estavam num beco sem saída. O outro quando se sentiu acurralado, investiu sobre o detetive, o apunhalando.

Dalton não teve conversa, lhe disparou com uma pistola elétrica, no momento que começava a se levantar, caiu de costa.  Chegou perto, lhe administrou um sedante para cavalo, por via intramuscular.

Com esforço, conseguiu levar o mesmo até o carro, o deitou na parte traseira.

Tomou o pulso do detetive, estava apenas desmaiado, chamou uma ambulância, saiu dali correndo.

Levou seu carniceiro, para o seu local de trabalho.  A estas horas da noite estava tudo deserto.  O colocou com uma certa dificuldades num carrinho. Deu-lhe mais sedantes, tirou  o carro dali o deixando a um quarteirão.

Retirou a roupa do sujeito, o colocou numa gaveta para os mortos, tinha lhe aplicado tanto tranquilizante, que imaginava que dormiria até o dia seguinte.

Tinha que se preparar para o que tinha pensado fazer.

Durante o dia lhe aplicou mais tranquilizantes, ao mesmo tempo que fez com ele exatamente o mesmo que tinha feito quando o tinha como prisioneiro.

Ficou sabendo notícias do detetive, este tinha encontrado o homem, tentando caçar uma jovem. Está o delatou.  Ele só se lembrava até a entrada do beco, quando o outro tinha investido contra ele, o apunhalando.

Toda cidade estava buscando o assassino, principalmente agora que tinha quase matado um detetive do corpo de polícia.

Quando chegou a noite, passavam das dez, acreditava que agora ele estaria consciente, tinha fechado o edifício inteiro.  Não fazia parte do mesmo edifício da polícia.

O retirou da gaveta, o colocando em cima da mesa, tinha o bem atado a mesa. A boca coberta com uma cinta adesiva.

Esperou que ele recobrasse consciência, queria que ele sentisse o que suas vítimas sentiam. Quando retirou a cueca que era a única peça que tinha ficado no corpo.  Finalmente entendeu por que ele não agredia sexualmente as vítimas, daí talvez sua raiva com elas.  Tinha o membro de um garoto, tinham lhe capado, não tinha os ovos.

Quem será que tinha feito isso, seu pai ou sua mãe. Ficou olhando sua cara, queria que ele visse quem fazia o mesmo com ele.

Olhava para ele, buscando quem o tinha assim amordaçado, manietado.  Mas não entendia.

Então lhe mostrou uma foto sua de jovem.

Viu que o outro entendia agora, Começou a rir, como se fosse algo cômico. Mas a cinta adesiva não permitia soltar a gargalhada.

Lentamente cortou seus dedos das mãos, os do pés, via que este gritava, mas não saia nenhum som.  Isso senti eu quando fazias isso com minha colega de escola, lembra-se.  Me jogavas água, misturada com sangue, cada vez que desmaiava. Agora serei eu que vai te maltratar.  Cada vez que sentia que ele ia desmaiar, lhe jogava água fria na cara.

Perguntou, balance somente a cabeça, quem fez isso com teu membro, teu pai?

Ele balanço negativamente a cabeça.

Tua mãe, ele balançou afirmativamente.   Ou seja, seu ódio pelas mulheres viam daí.

O abriu de cima abaixo. Lhe deixou aberto.  Não queria que morresse ainda.  Aproveitou que tinha desmaiado, tirou a cita adesiva da boca, puxou a língua, a cortou.  Lhe jogou água fria para despertar, lhe mostrou sua língua.

Depois lhe deu um sedante novamente. Colocou tudo dentro de um saco negro, além do resto do corpo.  Trouxe o carro, até o armazém de cargas para defuntos. Colocou na parte traseira.

Voltou a morgue, limpou todo o resto de sangue que poderia estar ali.  Normalmente era o único empregado, mas não queria correr risco. Lavou inclusive a gaveta aonde ele tinha passado o dia.   Colocou seu traje de trabalho na máquina de lavar roupa, como fazia todos os dias ao acabar o trabalho.

Entrou no carro, foi em direção ao porto, contornando pela vias secundárias, escutando a radio da polícia, com seus boletins.

Todos diziam que estava tudo tranquilo nas ruas.

Quando chegou ao porto, num carrinho de supermercado que sempre estava por ali, levou o corpo para o barco.  Saiu do porto para alto mar.   Abriu a bolsa, para que o outro respirasse bem.

Viu que estava desperto, com uma pergunta na cara, o que ia fazer com ele.  Tinha lhe estancado as extremidade, para que não dessagrasse.

Uma hora depois, parou o barco, o incorporou, foi jogando pela borda, com as mãos protegidas por luvas, os dedos, um a um olhando em sua cara.  Nunca cometeste o crime perfeito, esta zona sempre está cheia de tubarões.  Depois de jogar os dedos, viu que o sangue tinha atraído os mesmos. Agora vais tu servir de comida para eles.  A cara de pavor que o outro fez, até lhe causou pena.

Devias ter pensando a muito tempo no mal que fazias, isso vai pelo meu amigo, que mataste, por todas tuas vítimas, por mim que perdi sete anos de minha vida, por um crime teu.

O arrastou para a borda, fez com que olhasse os tubarões que rondavam por ali. Sem contemplação nenhuma, o atirou ao mar. Viu que no lugar havia como uma batalha.

Afastou o barco, ficou olhando, se dirigiu a outra direção, passou o resto da noite pescando.

Quando voltou ao porto, já era de manhã, foi cumprimentando os conhecidos, que apreciavam seus peixes.

Tinha limpado o barco a consciência, para não deixar nenhuma prova.

Dias depois, levou o saco de cadáveres limpo, outra vez para a morgue.  Visitou o detetive no hospital, este depois da operação que lhe tinham feito, estava se recuperando.

Não se escutou mais falar no assassino.

Ele muito quieto, continuou sua vida normalmente, até que conseguiu uma transferência para trabalhar em San Francisco.

Lá tentou refazer sua vida, embora seus pesadelos continuassem, seu torturador, agora aparecia sem rosto, já não via quem fazia essas maldades.

Agora frequentava a mesquita a miúde, ia quando estava vazia, rezava pensando em Ahmed, fazia como ele tinha ensinado, pedindo perdão.  No caso pela sua vingança, ao mesmo tempo se sentia tranquilo por ter livrado o mundo de um ser maligno.

Entendia que o mesmo, reagia aos impulsos das maldades que sua família tinha feito com ele, mas as outras pessoas não tinha nada a ver com isso.

Anos depois viu uma jornalista entrevistando um escritor na televisão, este escrevia a história do mesmo, tinha descoberto as maldades da família.  Algum empregado ou alguma mulher que o tinha criado contava como tinha sido sua infância.

Deveria ser terrível viver com uma mãe louca, um pai dominador, sua escapatória era praticar maldades com outras pessoas para descontar o que lhe passava.

Ele apenas estava no lugar errado, no momento errado, tinha pagado por um crime que não tinha cometido, embora agora se descobrissem não lhe importava.

Tempos depois descobriu que tinha um câncer na garganta, tranquilamente tomou uma decisão de não fazer tratamento nenhum.  Viveu os restos de seus dias, em seu barco.  O mar sempre lhe dava tranquilidade.

































 












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