lunes, 17 de abril de 2023

TREASON

 

 

 

 

                                              

 

Como sentir amor, por quem te atraiçoa, essa era a pergunta que se fazia, ali no hospital, depois da operação no braço.  Tinham lhe retirado uma bala que tinha ficado presa no musculo do braço, normalmente essa bala teria entrado e saído, mas ficou presa entre o osso e musculo.

Ao mesmo tempo depois dos exames rápidos para a operação, o médico veio falar com ele, fez uma série de perguntas, sobre sua saúde, como se sentia, ele ficou com a pulga atrás da orelha, principalmente quando lhe perguntou se tinha companheiro fixo.

Sua resposta foi, como, o que quer dizer com essa pergunta?

Se tens companheiro fixo.

Respondeu que sim depois de perguntar se tudo isso seria confidencial.  O que morreu no tiroteio, ele tinha levado a bala justamente, porque tinha tentado proteger seu companheiro.

Aparentemente ninguém sabia que os dois tinham um relacionamento, nunca tinham vivido juntos, Tony tinha sido casado, tinha um filho desse casamento, sua mulher tinha se mudado para outra cidade.   Então queria liberdade.

Quando disse isso, o médico mandou imediatamente, já que o corpo ainda estava no necrotério fazer uma autopsia, principalmente exame de sangue.

Quando voltou a falar com ele, ficou pasmo, antes queria ter certeza, seu companheiro Tony tinha Aids, o senhor também, nunca tomaste cuidado.

Tinha sido companheiros durante cinco anos, Tony tinha sido seu mentor, ele recém-saído da academia, depois de anos como Policia Militar, trabalhavam os dois em investigações, um dia por acaso, logo no final do primeiro ano, aconteceu entre eles algo, no principio tomava cuidado, mas como Tony jurava que não tinha ninguém em sua vida, foi relaxando.

Por aí, acontece as coisas.  Nunca notaste nada diferente nesse tempo?

Não se preocupe, que no teu caso, isso parece ser recente, faremos mais provas, mas todo cuidado é pouco, hoje em dia o tratamento é efetivo, mas se vais fazer sexo com outra pessoa, é bom avisar.

Tinha as chaves da casa do Tony, mas nunca tinha ido lá, sempre era na sua.

Estava com a pulga atrás da orelha, quando perguntou ao chefe por que ninguém tinha reclamado o corpo dele, comentou que a ex-mulher disse que não tem dinheiro para isso, que no fundo são sua única família, nem ao enterro ela vira com os filhos, faremos uma cerimônia policial, nada mais.

Isso, lhe deixou preocupado, já tinha feito os exames, realmente fazia muito pouco tempo que tinha deixado de usar camisinha.   Tony na cama as vezes podia ser frustrantes, já pareciam aqueles casais que fodem uma vez ao mês, que era mais ou menos o que acontecia, se comportava como passivo, com aquele corpo imenso que tinha, os dois tinha a mesma altura, 1,80m.   Então ele esperava outro comportamento, mas nos ultimo ano, chegava na cama, depois de uns beijos, colocava a bunda para cima, pedia que lhe entrasse profundamente.

Depois se levantava as vezes, ia embora, já não ficava mais para dormir.

Resolveu como estava de baixa, pelo ferimento, ir até a casa dele.

Como detetive, começou a olhar tudo, no armário na parte mais escura, tinha um baby doll, de tamanho grande, numa caixa guardada em cima, vários tipos de penes de goma, bem como de metal.  Numa outra, coisas de sadomasoquismo.  Ficou gelado, como era possível isso, se nas conversas que tinham ele achava isso um absurdo.

Ficou sentado no sofá da sala, olhando pela janela, uma bela vista do Rio Hudson.  Como era possível essa segunda vida.  Basicamente estavam todos os dias juntos, durante as jornadas, as vezes saiam com os amigos para uma cerveja, claro no último ano, ele andava estranho, achava que tinha a ver com seu divórcio, bem como o fato de não ter a guarda compartida do filho, ou seja teria que se deslocar até a cidade aonde vivia agora sua mulher.  Mas normalmente ela não permitia que ele visse o garoto.

Os conhecia, o garoto, era fantástico, lhe fazia mil perguntas, uma vez lhe perguntou por que não as fazia ao seu pai, lhe respondeu sério, quando está em casa, normalmente está dormindo.

Quando se divorciou, achou estranho, porque ele já tinha esse apartamento, simplesmente levou suas roupas para lá.   Quando lhe perguntou por quê?

Respondeu que vivia longe, que as vezes preferia dormir ali na cidade.

Encontrou sem querer, encaixada na almofada do sofá, uma agenda de contatos, começou a passar, todos eram nomes, exóticos, com uma anotação ao lado de um nome masculino. 

Desconfiou imediatamente que eram nomes de travestis.  Se lembrou que as vezes quando faziam turno de noite, alguns lugares que ele gostava de parar para comerem, eram lugares frequentados por travestis, que ele diziam que eram seus informantes.

Todos tinham número de celular.  Chamou o primeiro da lista, quem atendeu foi uma enfermeira, disse o nome do hospital, que a pessoa estava ingressada em contagiosos, com Aids.   Foi até lá.   Se identificou, lhe deixaram passar, como homem era bonito, moreno, forte, sorriu triste para ele, que circunstâncias nos falamos verdade?

Perguntou se conhecia Tony?

Claro que sim, sei quem eres, tinha um relacionamento contigo, comecei como seu informante de qualquer coisa suspeita que visse pelas ruas, ou tipos com os quais me cruzava. Me desculpe que te diga, cada vez que nos encontrávamos, me levava ao seu apartamento para fazer sexo, ele queria o que tinha no meio das pernas, que não é pequeno, mostrou para ele. Chegava a uivar de prazer, dizia que isso não podia fazer contigo, tampouco com sua mulher.

As vezes queria colocar minhas roupas, para fazer sexo.  Mas ultimamente queria coisas de sadomasoquismo.  Ia comprando coisas que via pela internet, queria experimentar.

Nunca falava da sua vida pessoal muito, sim de ti.   Dizia que eras um homem muito sério, que te amava, mas que não sabias satisfaze-lo realmente, que ele sempre tinha gostado de sexo pesado, coisas diferentes.

Não sei se pegou ou não Aids de mim, mas eu tomava cuidado, soube depois que fazia isso com todos que eram seus informantes.   Um dia lhe perguntei por que a maioria de seus informantes eram travestis.

Me respondeu que assim matava dois coelhos de uma vez, ao conversarem faziam sexo. Fui conhecendo alguns, todos diziam o mesmo, que ele gostava de violência, que queria ser agredido, que se aproveitavam dele para soltarem o que tinham dentro, a raiva da polícia.

Que isso vinha acontecendo a muitos anos, mas que ele levava como uma vida separada.

Lhe deu uma série de contatos, o mais recente é um rapaz que chegou do interior, andava nas drogas, mas segundo o Tony tinha um caralho imenso, que gostava também de violência, esse esteve internado aqui alguns dias, mas escapou, pelo que sei foi encontrado morto, uns dois dias antes do Tony morrer.

Creio que os dois tiros que levou, eram da arma do Tony, pois escutei dizer que o Tony estava furioso, pois lhe tinha passado aids, por causas de seringas contaminadas.

Lhe deu o nome do rapaz, ele foi até a delegacia que cuidava do caso, disse que pesquisava a pedido da família que vivia no interior.

Tudo que sabiam, era que a arma que o tinha matado, eram de policial, mas não sabiam de quem.   Esse rapaz era muito jovem, tinha uns 22 anos, se encontrou muita droga no corpo, bem como tinha aids, algumas marcas já começavam a aparecer.

Ficou de pedra, podia ser de aí, por aonde Tony tinha se contaminado, talvez ele o tivesse assassinado, pois andavam muito estranho nas últimas semanas.

Voltou ao médico, lhe contou o que tinha descoberto.   Este disse que não tinha mencionado, mas que tinha descoberto nos pés do Tony, marcas de picaduras de seringas, devia estar se injetando nos pés, para não serem visíveis.

Puta que pariu, pensou, mais essa agora.  Ou seja o Tony que ele amava, não passava de uma fachada, além de descobrir que era uma merda na cama.

Começou a fazer o tratamento, mas antes resolveu falar em particular com seu chefe, pois se o assunto vazava de outra maneira, seria pior.

Quando ia pedir para falar com ele, este o chamou.

Achou estranho, mas foi a sua sala, mandou entrar, fechar a porta, que o assunto não saísse dali.

Contou que tinham recebido o relatório da autopsia do Tony, o que tinha descoberto, bem como ao analisarem sua arma, esta matou uns dias antes um travesti.  Falou das drogas, que ainda circulavam pelo seu sangue.  O filho da puta se injetava nos pés, assim ninguém poderia ver.

Realmente, quando faziam sexo ultimamente, não tirava as meias.

Não notaste nada?

Foi franco, disse que tinham um relacionamento com ele, que este tinha transmitido Aids para ele.  Ainda não sei o que fazer, estou fazendo um tratamento, o médico disse que tenho sorte, pois as medicinas hoje, são eficazes, se o senhor quiser, pedirei transferência para outra delegacia.

Nada disso, eres um dos melhores homens que tenho, mas quero que tudo fique na surdina, não fale do assunto do Tony, se alguém te perguntar muito, melhor não comentar.

Falar nisso a ex-mulher dele, pediu a pensão para seu filho, claro já foi autorizado, mas a notei estranha, inclusive pediu teu número de celular, por isso não estranhe se te chama.

Se passaram dois meses, ele já estava na ativa outra vez, agora tinha uma companheira, se davam bem. 

Saia de serviço, quando recebeu uma chamada da ex-mulher do Tony, estava na cidade, precisava falar com ele, marcara num bar perto de sua casa.

Quando viu os dois, se balançou, o garoto era a cara dela, estava grande para sua idade, se abraçaram, ele beijou a cabeça do garoto, que o olhava com admiração.

Ele sabia que ela era uma mulher direta aos assuntos, uma das coisas que o Tony reclamava.

Você sabe que conheci o Tony no orfanato que vivíamos, por isso não tenho família, aqui só conheço a ti, o chefe de polícia, bem como Rogue Smith, um amigo do orfanato, que hoje é médico, ele é oncologo, para que entendas.

Meu problema é que não tenho seguro médico, perdi o da policia quando me divorciei do Tony, queria falar contigo para me ajudar, tenho dois tumores na cabeça, não sabem derivado de que, levaram muito tempo para descobrir, até que tive coragem de procurar o Rogue.

Seguinte problema, não tenho com quem deixar a guarda do Tony Junior, se me acontece alguma coisa.  Não posso pedir ao chefe de polícia pois ele tem uma família grande.

Nisso ele chegou, me desculpe disse ela, mas marquei com os dois, são os únicos que conheço.

O chefe já tinha feito sua sindicância, não encontrava solução, pois o sistema médico deles ultimamente era estrito.

Rogue, consegue fazer sua parte grátis, mas tem outras coisas que ficam impossíveis.

Sua cabeça explodiu nesse momento, as vezes ele era assim, entendia o Tony, porque ele tampouco tinha família.   Seus pais tinham morrido num acidente, quando ele tinha a idade do filho do Tony, foi criado por uma tia, que fez tudo por ele, apenas viu sua graduação na Polícia, pois em seguida faleceu justamente por isso, por não ter um seguro médico para pagar seu tratamento de Câncer.

Eu te ajudarei no que for possível, talvez a solução, seja um casamento fictício, eu sou solteiro, podemos fazer isso chefe?

Sim claro, inclusive fica mais fácil para teres a guarda do Junior.

Isso é claro se vocês dois quiserem.

Ficou surpreso com a maturidade do garoto, minha mãe nunca escondeu nada de mim, depois sei que o senhor foi amigo do meu pai, além de companheiro.  Sei que cuidará de mim, se acontece alguma coisa.

O chefe, disse, que conhecia um juiz, que podia agilizar tudo, falo com ele, amanhã mesmo, podem se casar, darei a entrada no sistema, assim Narciso, terá um sistema médico.

Foi o que fizeram, eles estavam num hotel daqueles que até bandido passa longe, os levou para sua casa, deixou seu quarto para eles.   Depois da morte do Tony, ele tinha trocado tudo lá, não queria nada que lembrasse dele.  Não havia nenhuma foto dos dois exposta, como antigamente.

Eu durmo no sofá, sem problemas.

Quando foram a primeira consulta com o Dr. Rogue, ele ficou de boca aberta, esse era tão alto como ele, com uns cabelos imensos, crespos, muito moreno, estenderam as mãos, apertaram forte.   Obrigado pelo que está fazendo pelos dois.

Narciso, ficou no hospital, para os exames, ele levou Junior para casa, iria arrumar sua transferência de escola, sua mãe tinha lhe entregado os papeis.  Ele como vivia relativamente perto da delegacia, sabia que por ali, havia uma escola, se informou com o porteiro do edifício, aonde era, foi com Junior até lá.   Sem querer conhecia a diretora da escola, pois a tinha ajudado num caso de venda de drogas na escola, tinha conseguido, que nos horários de máxima frequência de alunos, entradas e saídas, houvesse um carro de polícia na frente da mesma.

Tinha se esquecido completamente disso.   Ela disse que sem problemas, viu as notas do Junior, eram muito acima da média.  O colocarei na turma mais adiantada, não se preocupe.

O problema agora, era com quem ele ficava nos horários da tarde.

Ele conhecia pouca gente no edifício, mais de bom dia, boa noite, pois eram os horários que entrava e saia do mesmo.  Falou de novo com o porteiro.  Ele lhe disse que no último andar, vivia um professor, que dava aulas particulares pela tarde.  Foi falar com este, tinham cruzado várias vezes na entrada.

George Bronson, disse o outro estendendo a mão, devia ser uns dez anos mais velho do que ele.

Sim posso ficar com o garoto, mas pelas suas notas, tenho pouco que ensinar, mas assim ele me ajuda com os outros alunos.  Combinaram quanto cobrava, os horários que o Junior estaria ali.

Comprou para ele um celular, desse que ser carregavam, assim lhe podia chamar qualquer caso.

Agora que minha mãe, não está, posso dormir no sofá, lhe disse o mesmo, estavam no supermercado, ele nunca comia em casa, mas tinha que deixar coisas para o garoto se virar, para fazer algum sanduiche, coisas assim.  Leite, café, lhe ensinou a usar a cafeteira que tinha, depois compraria uma mais moderna.

Viu que suas roupas estavam curtas, aproveitou que no dia seguinte estava de folga, foram ver Narciso que ainda fazia exames, o Rogue o chamou a parte, disse, que seria uma operação muito arriscada, que talvez pudesse tirar dois tumores, mas nos exames, aparecia um que estava muito dentro, que nem sabia o que isso afetaria, se o fizessem ela poderia ficar paralitica.

Faça o que for necessário Dr. Rogue, esse menino, precisa de uma família.

Vejo que te dás bem com ele, eu no orfanato, era o menor, Narciso e Tony sempre me defenderam, mas saíram antes, graças a deus fui adotado, assim pude estudar, seguir em frente.

Foram de compras, comprou roupas novas para o Junior, que estava louco para ter calças compridas, já vi que meus companheiros na escola todos usam calças assim.  Camisetas, pois as suas estavam pequenas, minha mãe, só ganhava o suficiente para pagar o aluguel, bem como comprar comida, nunca tocava no dinheiro da pensão do meu pai, esse ia para uma conta, que ela montou, para que no futuro eu pudesse estudar.

Teria que conversar com ela a respeito.

No dia seguinte enquanto ele estivesse na escola, ele faria isso, tinham coisas para acertar.

De tarde como tinha médico, o deixou com o professor George, que sorria para ele.

O médico, lhe deu uma nova leva de medicamentos, para ele provar, terás que me fazer um relatório, se algum de dá vômitos, ou te deixa tonto.  Depois de um tempo com esses remédios, já veremos o que faremos, pode ser como tudo teu foi detectado antes de começar a dar problemas, se controle, mas se fizer sexo, tens que usar camisinha, nunca se esqueça disso, bem como o parceiro que tenhas.

Isso o deixava nervoso, quando voltou para casa, George pediu para falar um pouco com ele.

Deu as chaves do apartamento que tinha mandado fazer ao Junior, disse que já desceria.

Sentaram-se no salão, ele estava com a bolsa de medicamentos ao seu lado.

George perguntou se estava fazendo algum tratamento, disse que sim, que tinha Aids.

Não queria esconder nada para ninguém.

Perfeito, vou ser franco contigo, eu conhecia o Tony, as vezes ele saia de tua casa vinha até aqui, me dizia que precisava de mais, eu nunca entendi isso, não sei nada sobre o passado dele, queria brutalidade, depois da primeira vez, lhe disse que não viesse mais.

Mas o motivo que quero falar contigo, são as perguntas do Junior, creio que escutou alguma conversa que sua mãe teve com o chefe de polícia, sobre porque tiveram que fazer autopsia no Tony.   Ela sabia dessa parte da vida dele, por isso se divorciou, como nos últimos anos, o que ele andava fazendo.  Ou seja ele sabe isso por cima, mas creio que alguém devia esclarecer isso tudo para ele.

Veja bem, eu tive dois encontros com o Tony, depois lhe disse que não queria nada com ele, sabia que tinha um relacionamento, que tinha sido casado, mas o da brutalidade que ele queria me assustava.  Depois ele só queria ser passivo, eu achava estranho, sendo o homem que era.

Obrigado por sua sinceridade, eu passei uns tempos muito mal, primeiro por saber que não satisfazia totalmente o homem que estava comigo, mas creio que ele desconfiava que não conseguiria nada disso comigo, eu vejo o dia inteiro brutalidade, merdas em família, tiros, coisas assim, quando fazia sexo, queria paz, romance, que sempre me faltou.

O pior foi descobrir, que eu lhe era fiel, mas ele não, por isso tenho Aids.

Ok, achas que devo ser aberto com o garoto?

Sim, ele é muito inteligente para sua idade, além de saber das coisas, para ele, existe algo que ninguém quer que ele saiba.

Desceu, Junior estava vendo um filme, na velha televisão da sala.  Comentou com ele, precisamos de uma nova, eu nunca vejo televisão, prefiro ficar lendo, do que ver noticias ruins que já vejo o dia inteiro.

O que o prof. George queria contigo?

Me falou das tuas perguntas.

Sim eu escutei uma conversa da minha mãe com o chefe de polícia, fiquei com a pulga atrás da orelha.  Porque tinha tido que fazer uma autópsia em meu pai.

Posso ser honesto contigo?

Sim, eu o conhecia pouco, deixei de vê-lo quando tinha cinco anos, ele nunca foi aonde vivíamos, se limitava a mandar dinheiro, como pessoa, não o conheci.

Tiveram que fazer a autópsia, nele, por minha causa, no que fui operado, descobriram que eu tinha Aids, sabe o que é isso?

Não, te explicarei, contou para o Junior o que era, antigamente se morria por isso, hoje não, vês todos esses remédios, é por isso.

Quanto o porquê da autópsia, é que nesses últimos cinco anos, eu tinha uma relação com teu pai, ele nunca viveu comigo, sempre teve sua casa, então saia daqui, tinha relações com outras pessoas, ele contraiu a doença, sabia, mas não me disse nada, me contagiou.  Quando descobri fiquei arrasado, algo aconteceu no passado do teu pai, que ele nunca me falou, que o fez ficar assim.    Primeiro o culpei, fiquei desesperado, pois o amava.  Descobrir que não era correspondido na verdade doeu muito, mas agora estou bem.   Ao mesmo tempo, foi meu melhor amigo nesses cinco anos que trabalhamos juntos, por isso estou ajudando tua mãe, bem como a ti.

Não nos odeias?

Jamais, eu só vi tua mãe, bem como a ti, uma vez, que foi durante o processo de divórcio.

Como fica isso na tua cabeça?

Estou confuso, ou seja meu pai era gay, tinha problemas, será que terei também?

Nada disso, veja, teus pais viveram num orfanato, com tua idade, eu também perdi os meus, mas tive a sorte de ser criado pela irmã mais velha da minha mãe, ela fez tudo que pode para me criar.  Devo o que sou a ela, meus pais não tinham seguro de vida, tampouco me deixaram nada.  Então seria normal que eu também fosse para um orfanato, mas tive essa sorte.

Nos orfanatos, nem tudo são rosas, pode ter acontecido alguma coisa lá, ou quando saíram.

Tony, nunca tocava nesse assunto, por isso não sei.

Veja o Dr. Rogue teve sorte, foi adotado por uma família que lhe deu estudos, por isso é médico.

Eu, sempre quis ter um filho Junior, espero que o seja para mim.

É você esta me tratando muito bem, se preocupou com tudo, casou com minha mãe para ela poder se tratar.  Rezo para que se recupere.

Sempre que tenhas perguntas, podes falar comigo, eu sempre serei honesto contigo.

No dia seguinte antes de ir trabalhar, passou pelo o hospital, isso agora seria uma coisa que faria durante muito tempo.

Comentou com Narciso, as perguntas do filho.

Eu sabia que ele tinha um relacionamento contigo.  Na verdade, quando saímos do orfanato, eu fui trabalhar na casa de uma família, o Tony, ficou por aí, quando podíamos nós falávamos, me falou que estava se prostituindo para sobreviver, alguém o ajudou a entrar para a academia de polícia.  Mas não sei quem foi.  Quando finalmente começou a trabalhar, nos encontramos novamente, me pediu em casamento, mas isso só aconteceu, quando realmente ficou firme na polícia.  Ele sempre teve um lado escuro, as vezes desaparecia dias, nunca sabia aonde ele estava, quando Junior fez cinco anos, o achei mais violento, um dia lhe perguntei por que desaparecia.  Ficou uma fera comigo, me ameaçou, foi quando pedi o divórcio.  Eu não queria passar pelo que aconteceu com a minha família, meu pai matou a minha mãe, porque era violento, eu não queria isso para meu filho.

Foi quando no divórcio, me falou de ti, sempre falávamos quase tudo, me disse que tinha encontrado uma pessoa que o queria, que não sabia se te amava, mas que eras seu melhor amigo.   Sempre teve pesadelos, dizia que era desse tempo que esteve na ruas, que teve que suportar muitas coisas, para sobreviver, dizia que era essa a parte negra de sua vida.

Ele resolveu olhar a ficha do Tony, para saber que o tinha indicado para a polícia, quando falou com o chefe, esse deu um sorriso triste.

Fui eu.   Uma vez o prendi por estar se prostituindo pelas ruas, me contou que vivia de ocupa num edifício, que se prostituia para comer.  Que ninguém lhe ajudava.

Fiquei com pena dele, consegui que fizesse prova para a academia de polícia, quando ele terminou, consegui que viesse trabalhar aqui, não o podia levar para minha casa, pois tenho cinco filhos.  Lhe conseguia as roupas que meus filhos não queriam mais.

Ele me contou que muitas vezes tinham abusado dele, que isso o tinha transtornado muito.

Mas pensei que tinha alcançado alguma estabilidade com Narciso, quando se casou com ela, mas me enganei.  Várias vezes o vi em companhia de pessoas diferentes.

Mas quando chegaste aqui, o coloquei para trabalhar contigo, pareceu ter esse equilíbrio, vocês ficaram amigos.  Mesmo depois do seu divórcio, estava sempre contigo.

Mas vejo que me enganei, tinha outros problemas que nunca vi.

Contou que o Junior tinha perguntado para ele, esse garoto é surpreendente, gosta de honestidade, já o quero como o filho que nunca tive.

Todos os dias conseguia entrar de noite no hospital, com o Junior, para que visse a mãe, lhe contava da escola, como ia em minha casa.

Um dia a caminho soltou que nunca tinha tido um quarto só para ele.

Perguntei ao porteiro, esse me disse que no andar debaixo do professor, tinha um apartamento de dois quartos, podia olhar.

Os dois olhamos, gostamos, rindo pintamos os dois, estava muito sujo, o porteiro conseguiu uma senhora para limpar.

Ela se ofereceu para cuidar do apartamento, pela manhã cuidava de um apartamento que vivia uma senhora sozinha, de tarde estava livre, a contratei para ficar com o Junior, enquanto trabalhava.  Assim cozinhava para nós dois, de noite nos sentávamos para comer, ele comentando seu dia.

Narciso, não conseguia ficar boa, estava cada vez mais fraca, um dia Dr. Rogue me chamou, falou claramente, que as possibilidades eram poucas, ou seja cada vez menores, o tumor que não tinha podido retirar, estava causando uma série de problemas.

Um dia, não despertou, de qualquer maneira, creio que prevendo isso, eu tinha acelerado a adoção do Junior, depois de conversarmos os três, para ela, seria uma tranquilidade saber que ele estava com alguém.

No dia do seu enterro, erámos poucas pessoas, o chefe de polícia com sua mulher, Dr. Rogue, o professor George, nos dois.

Depois fomos tomar um café, nada desse enterros que depois fazem uma festa.

Dr. Rogue me entregou um cartão, segurando minha mão, me disse que gostaria de me conhecer melhor.  Devo ter ficado com a boca aberta.

Mas foi ele que me telefonou dias depois.  Marcamos para um café num horário que ele estava livre.   Me soltou em plena cara, que tinha se interessado por mim, desde o dia que tinha me visto com Narciso.  Que ela tinha lhe contado minha história com o Tony, além do que tinha acontecido comigo.   Nesse momento, eu também estava saído de um relacionamento complicado com outro médico.   Não tinha dado certo.  Agora também estou livre.

Lhe expliquei o que tinha, que estava em pleno tratamento, que estava bem, que nunca tinha efeitos colaterais com os remédios.

Começamos a sair, um verdadeiro namoro, queríamos ir com calma, embora, sempre estivéssemos excitados, fomos juntos ao meu médico, ele nos orientou.

Mas nunca imaginei o que ia acontecer na nossa primeira vez.  Fiquei alucinado quando o vi sem roupa, eram muito másculo, nos demos bem aí também, na cama.

Mas antes de seguir adiante, contei para o Junior.  Ele em breve faria 12 anos, mas parecia ter mais.  Riu, eu percebi sempre como ele te olhava.  Achava interessante isso.

Por mim, bem, tens que pensar que tens direito a tua vida.  Não só viver para me cuidar, além de que ele foi o único médico que ajudou minha mãe.

Quando passamos a viver juntos, formávamos uma família, os horários as vezes eram complicados, mas nos apanhamos.   Acabamos depois de anos, nos casando, eu tinha sido ferido novamente, fiquei com medo que se me acontecesse alguma coisa, Junior ficasse desamparado.

Hoje Junior é médico, faz prática em urgências, chama os dois de pai. Nosso único luxo é uma cabana na praia, para passar os finais de semanas que coincidimos, eu agora sou chefe de polícia.   Dizem que o primeiro assumidamente gay.  Quanto ao Aids, hoje não que esteja curado, mas tudo ficou remetido, mesmo quando nos liberaram para fazer sexo sem proteção, achamos por bem continuar.

Afinal a família há que proteger.

Junior sai com outra médica, mas diz que ela não quer nada sério, espero que um dia me dê netos.

 

 

 

 

 

 

 

 

No hay comentarios: