FATHER
Seu nome era
Trevor Fustemberg, embora sempre tivesse pensado que isso era um nome que seu
pai tinha inventado ao entrar nos Estados Unidos, pois lhe dava importância, anos
depois descobriu que era seu nome verdadeiro, de um judeu, que nunca ia a
nenhuma sinagoga, pois se sentia frustrado com a religião. Embora seguisse todos os preceitos da mesma.
Um dia contou a
ele, bem com a Helene sua irmã pequena, que seu pai era muito rico na França,
mas tinha muitos filhos, com a chegada de Hitler ao poder, mandou os filhos
para os quatro cantos do mundo, colocou à disposição de cada um, dinheiro para
começarem a vida. Mas ficou em Paris,
com sua mulher, pois essa se negava a sair dali, estavam velhos, porque iam
atrapalhar a vida dos filhos. Claro
morreram num campo de concentração nada mais ao chegar.
Seu pai o obrigou
a casar-se num desses casamentos arrumados, sua mulher também era de família
rica, recebeu um bom dote pelo casamento, ou seja começariam a vida em NYC, sem
problemas.
Um irmão foi para
a Argentina, outro para Australia, outro para Africa do Sul, mas com os anos
perderam contato entre si.
Ele mesmo tinha
tido seis filhos, mas seus preferidos eram Trevor e Helene, esta nasceu ao
mesmo tempo que morria sua mulher, um problema derivado de uma gestação
complicada, pois ela já não queria ter filhos.
Viviam num
apartamento imenso, com uma governanta, bem como empregados suficientes para
cuidarem deles.
Os dois cresceram
a parte dos irmãos, Helene era a filha que nasceu muito mais tarde, com uma
diferença dele de quase oito anos, era como seu brinquedo. A adorava, os dois estudaram em casa com
professores particulares, aprenderam a falar outras línguas antes de mais nada.
Os outros filhos,
seu pai tinha suportado, nenhum era brilhante como eles, maus estudantes, o
primeiro ia a universidade porque seu pai pagava.
Todos iam se
casando com casamentos combinados, com outras famílias ricas, o que se casava
recebia do pai um apartamento bom, de certo luxo. Um dinheiro para começar alguma coisa, mas
claro era mais fácil viver na sombra dele.
Já Trevor que
tinha o mesmo nome do velho, era ao contrário, era um excelente aluno, gostava
de estudar, mas ao contrário dos outros, quando descobriu que era judeu, passou
a ir a sinagoga escondido, as vezes levava Helene com ele.
O pai quando descobriu
não disse nada.
Trevor sempre
tinha gostado da música, usava os cabelos compridos, como todos os jovens de
sua geração, gostava do rock, de dançar, de fumar seus porros, ia aos concertos
de rock, escondido de seu pai.
Quando esse lhe
avisou que tinha que parar com isso, pois teria que ir à universidade, ao mesmo
tempo se casar, lhe falou que tinha combinado seu casamento com uma rica
herdeira judia. Ele quando viu uma foto
dela, a detestou ao momento, já a conhecia. Era uma idiota segundo ele, filhinha de papai,
que fazia todas suas vontades.
O pai insistia,
pois era um grande negócio. Ele fez uma
coisa que ninguém imaginou, foi de visita a casa de cada irmão, para ver como
viviam se eram felizes. Sentiu como se
abrisse uma geladeira, era pessoas frias, fúteis. Pensou não quero nada disso para mim.
O velho insistia,
dizia que ele tinha que se preparar para um dia assumir seu lugar, lidar com os
irmãos mais velhos.
Não havia muita
escapatória, já estavam quase no final da guerra do Vietnam, não teve conversa,
foi a um concerto de um pré grupo que depois fariam sucesso nos anos 70, Aerosmith,
no dia que se inscreveu usou esse nome, Trevor Aerosmith, em seguida sem muita
preparação, embarcou, nunca deu noticia a família, era como se tivesse desaparecido
da face da terra.
Voltou com a
última leva de soldados, feridos, tinha perdido basicamente seu batalhão
inteiro, numa guerra que já estava na final, tinha defendido já os ataques a Saigon,
voltou com um ferimento na cabeça, além de um braço meio inútil.
Quando apareceu
na casa de seus pais, foi um verdadeiro horror o encontro com a família, no
primeiro almoço saiu da mesa, tudo o confundia.
Dois dias depois
desapareceu. Ninguém sabia aonde estava.
Foi viver num
acampamento de homeless que ainda não tinha esse nome, embaixo de um viaduto,
conheceu uma garota que vivia ali, com seus pais, se enamorou dela, foram viver
de okupas numa velha fabrica. Quando ela
ficou gravida, ele ainda pensou voltar com a família, mas sabia que seu pai
jamais aceitaria isso, uma garota que basicamente tinha crescido pelas ruas,
uma família que vivia nas drogas.
Seus pesadelos
tinham fase, quando estava bom, trabalhava, trazia alguma coisa de dinheiro
para viverem. Deu o nome do filho de
Trevor Aerosmith, que era grupo que agora fazia sucesso. Seus pesadelos foram piorando, pois nunca
tinha tratado do mesmo, com o menino nas costas, iam mudando de lugar em lugar,
breve estavam nas drogas, pois era a única coisa que o fazia suportar os
pesadelos. Viviam numa barraca dentro de
uma velha fabrica.
O menino crescia
parecido com ele, mais moreno como sua mãe, mas o olhava, pensava, é uma cópia
de mim. Sempre dizia ao mesmo tens que ser tu mesmo
sempre, defenda teus valores, o garoto o olhava como se não entendesse. Ele achava que o menino aceitasse a vida que
tinham, passaram uma larga temporada num acampamento no meio do nada, só com
ex-combatentes, quando chegou o verão voltaram para NYC, pois o governador
mandou destruir o acampamento. Sempre
existiria o medo dos radicais.
Sua companheira
nunca entenderia, porque passava horas contando ao seu filho, tudo o que tinha
sentido, lutado, para sobreviver.
As vezes repetia
uma mil vezes essa palavra sobreviver. Ele tinha uns 10 anos quando drogado
falou com o filho sobre essa palavra, sobreviver, os sentidos que tinha para
ele, mas sabia que ia gravar isso na cabeça do seu filho, criando nele um
instinto para sempre.
Sua companheira
era como uma criança, apesar de viver na rua não estava preparada para isso,
ele não entendia se sempre tinha vivido na rua, como buscava outra coisa.
Ali pelo menos
ele se sentia livre, ficava imaginando se descobrissem que ele era na verdade o
que aconteceria.
Um dia chegava a
uma praça, viu de longe Helene com uma foto, mostrando para as pessoas,
entendeu que ela o procurava, talvez fosse a necessidade que tinha de ir em
frente, se escondeu, a escutou falando com as pessoas. Tinha amadurecido rápido demais, mas ainda
era a garota de quem ele sem lembrava nas horas baixas, gostaria de lhe dizer,
livre-se do velho, faça algo, mas não podia.
Mal desconfiava
que era ela que sustentava tudo, tinha estudado para levar os negócios, mas se
negava a se casar como queria o velho, quando ele insistiu muito soltou na cara
dele, que não podia porque era lesbiana.
Soletrou essa palavra na cara dele.
Ele achava que se
casando resolveria isso, quando lhe apresentou um pretendente, um homem
imensamente rico, se enfrentou ao pai, dizendo ao homem que agradecia o
interesse, mas lhe perguntou se queria casar com uma mulher que gostava só de
sexo com outra mulher.
Diante do
escândalo, da fama que conseguiu com isso, seguiu solteira.
Nunca cessou de
procurar o irmão, o único que tinha certeza de que a entenderia.
Como os outros
irmãos, o pai lhe deu um apartamento, mas ela ao contrário dos outros, escolheu
um mais longe possível daquele lugar, se perguntou mentalmente aonde poderia
estar seu irmão, se resolvesse se esconder. Foi morar no Brooklyn.
Um dia a viu
falando com sua companheira, acariciando a cabeça do seu filho. Talvez por sorte não mostrou a sua fotografia
para ela.
Em vista disso,
foram morar em outro lugar, para os lados do Bronx, no meio de drogados, de
pessoas complicadas. Seus companheiros
militares, que tinham caído no mais baixo da degradação humana. Mas talvez por amar o filho, o levava para
tomar banho no verão, nas fontes das praças, lavava seus cabelos compridos, com
carinho, não queria que ele tivesse piolhos, como as outras crianças, roubava
nas lojas, sabonete, para que tivesse um banho agradável, o acostumou, ensinou
a se defender. Não podia imaginar que
seus ensinamentos o fariam ir em frente.
Agora tinha um
problema derivado de sua ferida, os ruídos lhe pareciam mais fortes, uma
brecada, ou um estouro, lhe faziam retornar a guerra.
Colocava seu
filho para dormir o mais longe dele, pois tinha a visão muitas vezes de uma
luta que tinha tido com um vietcong, que acabou matando, mas descobriu que no
fundo era um garoto, isso o destroçou por dentro, pensava ele devia ter me
matado, não ao contrário, não podia se perdoar por isso. Quando tinha esse pesadelo, tinha medo de
matar seu filho.
Cada vez estava
mais tempo em silêncio, sua companheira estranhava, só quando estava perto do
filho falava, era como se estivesse dando diretrizes para sobreviver.
As vezes drogado,
repetia outra mil vezes tudo relativo a essa palavra, seus significados, seu
filho lhe prestava atenção. Se fosse
outra criança, se afastaria, mas ele não ficava ali sentando segurando a mão do
pai como se temesse perde-lo.
No dia que
desapareceram, o deixou como sempre no acampamento tendo aula com o
professor. Estava se sentindo muito
mal, foram atrás de dinheiro, drogas, o ruido da cidade o atordoavam atrás da
orelha tinha um tumor, não sabia, isso diriam posteriormente os que fizeram sua
autopsia, um tumor imenso no crâneo que lhe devia provocar muitos problemas.
Ninguém tinha
entendido como se tinha metido no meio do tiroteio entre a polícia com os
traficantes de drogas, sua companheira foi quem primeiro levou um tiro na
cabeça, se sentiu outra vez em plena batalha, viu um traficante jogado no chão
com uma metralhadora, se apossou dela, saiu atirando para ambos os lados, até
que caiu varado por balas.
Foi enterrado
como Trevor Aerosmith, porque levava presa no pescoço uma placa do exército com
esse nome, número, mas não se encontrou nenhuma família com esse sobrenome.
Tampouco na ficha militar constava, quando a preencheu, não colocou parentesco
nenhum, como se tivesse saído de um orfanato.
Mal sabia que seu
filho, seguiria seus mandamentos, sobreviver de todas as maneiras, que teria um
caminho largo pela frente.
SAD
SMILE
Seu nome era
inventado, ou melhor roubado, vivia desde criança indo de uma acampamento a
outro de homeless, as vezes conseguiam ocupar algum edifício abandonado.
Tinha aprendido a
ler, escrever o básico, com um professor que vivia por ali, se ocupava das
crianças enquanto os pais iam conseguir algo de comer, que compartiam com
ele. Tinha tuberculose, mas não queria
tratar, as vezes quando alguém argumentava com ele, dizia, que adiantava, se
não tinha sonhos, nem futuro.
Mas o
interessante que insuflava nas crianças a ideia de sonhos a serem realizados.
Um dia seus pais
não voltaram, ficou vivendo no mesmo edifício abandonado, agora ele ia pelas
ruas pedindo dinheiro, ou mesmo como lhe dava vergonha, recolhia comida jogada
em algum restaurante, tinha já uns 12 anos, apesar de tudo era alto, magro,
aparentava mais.
Viu um cartaz
procurando um ajudante de cozinha, perguntou ao homem que estava ali fumando se
ele podia se candidatar.
Procurava andar o
mais limpo possível, ali tinha uma garagem, o levou até ali, com uma máquina
raspou sua cabeça, embora ele explicasse que lavava a mesma, mesmo que fosse
num parque. O mandou tomar banho, lhe
deu uma toalha pequena, uma muda de roupa branca, lhe explicou como amarrar um
lenço na cabeça, assim começou a trabalhar para ele, era um restaurante de
comida para levar, havia que estar cedo, preparar sanduiches para os que iam
trabalhar, depois ajudava a fazer o café, tudo era colocado num saco para a
pessoa, o chefe ficava no caixa enquanto isso.
Foi aprendendo em breve manejava muitas coisas sozinho.
Tempos depois,
consegui alugar um pequeno apartamento, velho, caindo aos pedaços, mas era
jovem para subir os cinco andares sem elevador.
Aprendeu uma
coisa, dizer sempre bom dia, para todo mundo, mesmo que seu sorriso fosse
triste, sorrir, desejar aos outros o que ele não tinha, no fundo não tinha
importância, sabia que dependia dele sobreviver.
Agora afastado
dos homeless, ficava com pena do pessoal que tinha desistido de lutar, mas
pensava, quem sou eu para julgar, cada um escolhe o seu caminho, não sei de
aonde saiu a maioria, que sonhos tinham.
Ele queria sim
ter um teto seguro para viver, aonde vivia tinha o mínimo, como comia, no
restaurante, trazia para casa o que sobrava, para aquele dia, pois não tinha
geladeira, se deu ao luxo de comprar um edredom barato, trouxe do acampamento,
um saco de dormir, que lavou, desinfetou, era nele que dormia no chão, mas
tinha uma coisa, limpava o lugar muito bem, não era porque era pobre que ia
viver sujo.
O patrão tinha o
mesmo tamanho que ele, lhe deu uma porção de roupas que não usava mais, ele não
se incomodava, estavam sempre limpa, lavava tudo na pia do pequeno banheiro,
deixava secando no verão com a janela aberta, no Inverno era um problema mas se
apanhava.
Não era
registrado, ganhava por fora, guardava cada gorjeta que lhe davam, o dinheiro
que o homem lhe pagava, escondia, num velho armário do banheiro, por detrás,
num saco plástico, gastava o mínimo possível.
Quando acreditou que fazia 17 anos, procurou ajuda de uma ONG para tirar
seus documentos, a muito custo, conseguiu que colocasse que tinha 18 anos. O patrão era malandro, achava que o tinha
ajudado, mas ele de tonto não tinha nem um pelo, procurou nas horas vagas algum
lugar, quando conseguiu, com um salário melhor, ser registrado, foi franco com
o homem, agradeceu muito a ajuda dele, não ia fechar a porta nunca se sabia do
futuro. O homem se surpreendeu, pois
soltou que normalmente as pessoas nem apareciam para acertar o resto do
salário. Por isso lhe pagou o mês
completo.
Agora aprendia
cozinhar outro tipo de comida, era honesto no que fazia. Aprendia corretamente, nesse trabalhou
durante quase dois anos, seguiu assim, quando saiu, procurou outro diferente.
Quando avisaram
que tinham que sair do edifício, pois ia ser demolido, recolheu suas poucas
coisas, enfiou num saco, escondeu bem o dinheiro, arrumou outro lugar similar,
um pouco melhor, pois tinha agua quente, para o inverno, além de calafetação, o
caseiro lhe arrumou alguns moveis, que algum antigo morador tinha deixado, uma
velha poltrona, um estrado para colocar um colchão, pelo menos tinha um
elevador velho, mas que funcionava.
No verão subia
para dormir na varanda que tinha em cima. Gostava de dormir olhando as estrelas
pensando no que poderia fazer com seu futuro.
Seguia guardando
todo o dinheiro que podia.
Escutou um dia,
um dos cozinheiros falando de um curso de cozinha francesa, reclamava que era
caro o curso, mas foi se informar. Lhe
atenderam bem, explicou sua situação, sobrava uma vaga, como se fosse uma bolsa
de estudos.
O francês se
interessou por ele, tinha um restaurante em Toronto, viu que ele se esforçava
para aprender. Um dia se insinuou para ele,
demorou para entender, não tinha traquejo sexual, nem vivência no assunto,
estava sempre preocupado em sobreviver, para pensar nisso.
Foi honesto com o
homem, me desculpa, devo estar entendendo mal, sou honesto, não tenho nenhuma
prática sexual, em nenhum âmbito, estou mais preocupado em sobreviver.
O professor ficou
de boca aberta, pois viu que ele estava sendo honesto.
Perguntou se ele
tinha algum dia livre, vou cozinhar no restaurante de um amigo, vejo que me
entendes, se eles te veem trabalhar, pode ser que te contratem.
Pediu um dia de
licença aonde trabalhava, foi com o professor.
Ele tinha razão o chefe, disse que era raro um americano se esforçar
tanto. O contratou, ganhava mais, mas
nem por isso mudou de casa, seguia economizando. Como ele dizia, não queria que o mundo o
pegasse de calças curtas.
Fez tudo para
seguir em frente, mesmo nesse lugar. Agora já comprava roupas simples para ele,
mas descobria aonde comprar mais barato, nada de roupas de marcas como via os
outros fazendo. Para ele o mais
importante era andar limpo, por sorte a roupa que usava na cozinha, era lavada
no próprio restaurante, por isso estava sempre limpo, ao começar o dia
trabalhando.
Aprendeu nova
maneiras de cozinhar, agora mais refinada, era intuitivo.
Um dia lhe perguntaram
se cozinhava em casa, riu, disse que tudo que tinha na cozinha era uma
cafeteira para o café, duas taças, um prato, que nunca cozinhava em casa.
Mantinha como
desde o primeiro dia seu cabelo rasurado, pois assim não ficava com o cheiro da
cozinha. O mesmo fazia com sua roupa, as colocava dentro de um saco de plástico
hermético, assim não ficavam com o cheiro da cozinha. Este lugar tinha um banheiro para tomarem
banho depois de sair.
Deste foi
convidado, o que para ele era como se sentir subindo na vida, num outro
restaurante que só abria de noite, mas tinha que deixar a maior parte da comida
elaborada, então trabalhava da tarde até as duas da manhã, quando saia deixando
sua parte da cozinha limpa, brilhando, ninguém precisava dizer que o fizesse, entendia
que era parte do seu trabalho.
O proprietário o
observava.
Finalmente como
lhe pagava o salário num banco, colocou todo seu dinheiro lá, mas quando lhe
ofereceram um cartão de credito, não se interessou, fazia uma coisa, sabia mais
ou menos quanto gastava por mês, isso ele tinha seu esconderijo, para o dia a
dia.
Um dia que foi ao
banco, um gerente lhe sugeriu que aplicasse seu dinheiro para ir rendendo,
tinha já escutado muitas conversas, sobre aplicações, gente que comprava ações,
que se podiam perder, aceitou um sistema, que ele nunca perderia o dinheiro que
tinha.
Na parte da
manhã, fazia todos os cursos possíveis, aprimorava tudo que sabia, no momento
fazia um de doces, coisas delicadas francesas.
Quando o que
fazia isso no restaurante saiu, ele imediatamente se ofereceu para o lugar, lhe
fizeram o teste, de fazer tudo que estava na carta. O fez, mas perguntou se podia sugerir fazer
algumas mudanças, disse que analisaria no mês o que saia mais, o que saísse
menos, colocariam receitas novas.
O chefe estava
encantado com ele, pois chegava mais cedo, preparava tudo, depois ia fazer seu
trabalho normal, não precisou pedir, nem que o próprio chefe da cozinha o
fizesse, recebeu um aumento.
Os anos foram
passando, ele achava engraçado em notar, que as pessoas o olhavam, mas ele
nunca estava interessado nelas, seguia sendo virgem, não tinha pensado nisso
ainda, nem se interessado por ninguém.
Na cozinha
gozavam dele, mas não era com ele. Escutava
sim os outros falando das decepções, os romances de uma noite, o frustrados que
ficavam. Alguns reclamavam que buscavam
um amor, ou alguém com quem pudessem compartir uma vida.
Um dia lhe
perguntaram a respeito, num respiro, antes de começarem o serviço noturno.
Não sabia se
dizer a verdade ou mentir. Por sorte foi
salvo pelo gongo, pois o chefe lhe chamou para uma reunião, o restaurante no
final de semana, teria uma parte fechada para uma festa, queriam saber o que
ele poderia sugerir de doces para o final.
Perguntou se era
um aniversário, embora ele nunca tivesse tido nenhum, sabia como preparar.
Sim comemoram o
aniversário do patriarca de uma família.
Deu uma série de sugestões
de pratos, viria uma senhora experimentar tudo.
Achou estranho,
que ela o olhasse muito, mas estava atendo em saber se ela gostava ou não.
Preparou tudo
como ela pediu, algumas coisas com um dia de antecipação, no dia da festa,
preparou o resto logo cedo. Depois
passou a ajudar o chefe da cozinha a preparar o resto, sem reclamar como alguns
estava fazendo.
Se escutava claro
que eram muitas pessoas.
Quando acabaram o
serviço, o patriarca, pediu ao dono do restaurante, que chamassem os
cozinheiros, para elogiar o trabalho.
Quando o viu
ficou de boca aberta, perguntou seu nome?
Meu pai sempre me
chamou de Trevor Aerosmith, mas descobri depois que esse não era seu sobrenome,
que nunca soube qual era, mas mantive esse quando tirei os documentos.
Aonde anda seu
pai?
Não tenho a menor
ideia senhor, os dois um dia desapareceram, nunca mais os vi. Não sei portanto
se morreram ou não.
O dono do
restaurante não entendia, então fez um sinal de que podiam ir para a cozinha.
Nesse dia todos
receberam uma boa gorjeta. Que como
sempre foi parar no banco.
Dias depois
estava para entrar cedo para fazer as sobremesas, viu na porta um senhor
bem-vestido. Perguntou se ele era o
Trevor Aerosmith?
Sim sou eu, algum
problema?
Podemos tomar um
café?
Sim, foi com o
homem ao café em frente do restaurante.
Este lhe explicou que o senhor que tinha estado no restaurante, ao qual
tinha sido oferecido a festa, disse que tu eres igual ao filho que desapareceu,
depois de voltar da guerra. Se podias
fazer um teste de ADN.
Eu já disse ao
senhor que não tenho ideia aonde estão meus pais, me deixaram num acampamento
de Homeless, a partir desse momento, fui sobrevivendo, fui aprendendo a
cozinhar, essas coisas.
Mas porque ele
quer fazer isso, já procurou seu filho?
Nunca foi encontrado.
O homem insistiu
muito, ele tem uma boa idade, gostaria como ele diz, de morrer tranquilo,
sabendo ou não que eres seu descendente.
Combinou com o
homem, no dia seguinte foi ao médico com ele logo de manhã.
Duas semanas
depois apareceu, perguntou se ele tinha livre a manhã do dia seguinte.
Ele lhe explicou,
que usava as manhãs para preparar os doces, assim ganhava um dinheiro extra.
Mas no domingo de
manhã, como não abrimos, estou livre.
O advogado
comentou, que outra pessoa estaria ansiosa.
Ele depois de
tirarem seu sangue, seguiu como se nada tivesse acontecido, nunca tinha
precisado de uma família, não ia ser agora que sairia procurando, afinal ele
nem sabia o sobrenome de seu pai.
Mas no domingo,
se arrumou como sempre, nenhuma roupa especial, fez a barba, rasurou a cabeça
como sempre fazia, lavou sua roupa interior, depois foi até o restaurante,
aonde o advogado lhe esperava. Não
tinha dado a ele o endereço da sua casa, isso era uma coisa que ele não fazia.
Foram para a
parte mais fina da cidade, com edifícios residenciais de luxo.
Quando entrou,
viu que a família toda estava ali.
Disse bom dia a
todos, espero que todos estejam bem.
Foi levado a uma biblioteca,
aonde estavam sentados o senhor, além da senhora que tinha conhecido no dia da
prova do restaurante.
Ela se
apresentou, bem como seu pai, lhe perguntou se o sobrenome lhe dizia alguma
coisa?
Isso eu já
respondi, não, se tem a ver como meu pai, eu só tinha meu nome anotado num
pedaço de papel, pois o homem que nos ensinava a ler, escrever, no acampamento
perguntou um dia, riu muito quando ele disse Trevor Aerosmith, só muito tempo
depois fui descobrir que era o nome de um grupo musical, que aliás não gosto.
Gostas de música?
Ele ainda pensou
por que tanta pergunta. Mas respondeu
nunca tive tempo para parar para ficar escutando nada. Agarrei a primeira oportunidade que tive,
aos doze anos, para aprender a cozinhar, para deixar de comer comida do lixo,
me dava muita vergonha pedir dinheiro na rua para comprar comida, então comia
do lixo dos restaurante.
A cara dela era
impressionante.
Bom, fez um sinal
ao seu pai.
Meu filho, o
resultado dos teste deu positivo, fizemos em outro laboratório também, deu a
mesma coisa. Ao que parece você é filho
do meu filho Trevor, que desapareceu, logo que voltou da guerra.
Ele ficou olhando
serio o homem, não sabia o que dizer.
Sinto muito, eu
não preciso de uma família a estas alturas da vida, vejo pelo lugar em que
vivem que devem ter dinheiro, mas sou honesto de dizer que não me interessa
nada de vocês.
Se levantou,
disse bom dia, apertou a mão do homem que devia ser seu avô, desculpe
decepciona-lo, mas meus pais, um belo dia saíram para comprar drogas, nunca
voltaram, eu aprendi a viver, me defender sozinho, posso dizer que sobrevivi.
Virou as costas,
saiu, atravessou o salão interior, até a porta de saída, com todo mundo olhando
para ele, foi dizendo até logo, passem bem.
Desceu pelo
elevador, nem sabia como ir embora dali, foi até uma entrada do metro, viu qual
lhe serviria, foi embora.
Pela primeira vez,
chegou em casa, se jogou na cama como estava, cruzou as mãos atrás da cabeça
como sempre fazia, tinha pegado esse hábito, porque inicialmente não tinha
travesseiro, depois por hábito para pensar.
Não tinha com
quem falar sobre o assunto. Mas claro era
bom observador, viu a cara da família que o observava ao entrar, com certeza
pensavam mais um para compartir a herança do velho.
Tomou uma
decisão, tinha o telefone do dono do restaurante, sempre o tinha tratado bem, o
chamou, perguntou se podia conversar com ele.
Foi até sua casa,
contou o que tinha descoberto, não quero nada dessa gente, meu medo é que
comecem a aparecer pelo restaurante, preferia me afastar daqui.
De uma certa
maneira, lhe contou como tinha sido sua vida, não quero nada deles.
O que o senhor
recomenda?
Eu não gostaria
de perder meu melhor empregado, se eu fosse você enfrentaria a família, se
começam a incomodar, peça uma ordem de afastamento, isso posso conseguir com o
advogado da empresa. Mas não fuja, não
faça como teu pai, pois no momento que faças isso, nunca mais deixaras de
fazer.
Agradeceu muito
ao homem.
Esse disse que
tinha uma curiosidade a respeito dele, nunca te vi perdendo tempo, falando em
romances, ou discutindo futebol, ou mesmo parando o trabalho para sair para
fumar um cigarro.
Nunca tive
romances, o resto incluído, tinha que sobreviver, quando comecei a trabalhar no
primeiro restaurante, foi porque o dono me pegou fuçando no lixo atrás de
comida, tinha vergonha de pedir dinheiro, era alto, tinha 12 anos, me deu o meu
primeiro trabalho, mas sem registro. Quando fiz 17 anos, ou acho que tinha essa
idade, nunca soube quantos anos certos que tinha, procurei uma ONG, eles
arrumaram minha documentação, foi então quando descobrir que o meu sobrenome
era de uma banda de música, deixei igual, embora quando escutei os dito cujos,
não gostei. Nunca procurei pelos que
seriam meus pais, pois imaginei já que andavam nas drogas, ou tinham morrido,
ou desaparecido. Eu não queria ir para
um orfanato, primeiro vivi num edifício de okupas, depois quando já tinha
dinheiro, fui mudando, agora vivo num lugar decente, simples mas decente. Meu primeiro patrão me ensinou que eu devia
andar sempre limpo, pois isso, coloquei na minha cabeça, que o meu espaço de
casa, bem como aonde trabalho sempre devem estar limpos.
No dia seguinte
quando chegou, o advogado estava lá com a senhora, que pelo que tinha entendido
era sua tia. Disse que se não o deixava
em paz, pediria uma ordem de afastamento, não estou interessado no vosso dinheiro,
quero somente seguir meu caminho, tinha pensado em fugir da cidade, mas meu
chefe me disse que não devia fazer isso.
Não sabia,
tampouco imaginei qual seria o nome do meu pai, ou da minha mãe, por isso,
sempre manterei o de Aerosmith, não quero vosso sobrenome. Financeiramente estou bem, não preciso de nada
mais do que eu já tenho.
A cara da senhora
era espetacular, sem saber ou não se acreditava nele. Pediu desculpas, mas tinha que trabalhar,
espero que disfrute de vir comer aqui, mas jamais me chamem. Por favor.
Entrou para
trabalhar, tive que se concentrar, tinha medo de errar alguma receita.
Nunca mais os
viu, tempos depois escutou o dono do restaurante falando de um curso em Paris,
perguntou em particular a ele se podia fazer, tinha dinheiro guardado.
O homem lhe disse
que lhe daria uma resposta no dia seguinte.
Se sentou com
ele, perguntou se ele pensava em voltar?
Sim, só quero
saber mais, veja as sobremesas, eu desfruto muito fazendo, mas acabam sendo
repetitivas, eu gosto sempre de fazer coisas novas, descobrir como fazer.
Então tenho uma
proposta, pago a metade do curso, bem como a viagem.
Agora quem tem
que pensar sou eu. Pois ficaria em
divida com o senhor, nunca gostei disso, ter divida com ninguém, nunca comprei
nada a prestação, ou como o senhor possa imaginar. Prefiro eu mesmo pagar tudo,
tenho dinheiro economizado para isso, já olhei inclusive um voo que me saia
barato, um pequeno hotel, afinal o curso são só vinte dias. Deixarei a maioria dos doces congelados,
assim cada dia, teria que retirar somente o que se fosse usar.
A cara do homem
era fantástica, acabou contando que a família o tinha procurado para que ele
intercedesse, mas rejeitei, depois se ofereceram para comprar o restaurante em
teu nome, de novo rejeitei.
Por favor nunca
ceda a eles, porque senão eu iria embora.
Preparou tudo, só
comprou abrigos de segunda mão, porque seria inverno em Paris.
Conjugou fazer
curso, com ir pelos lugares mencionados pelo professor que tinha tido, para
comer, imaginar como se fazia isso ou aquilo.
Ao mesmo tempo
conheceu os lugares emblemáticos, um belo lugar para acabar a velhice, ao mesmo
tempo que pensava, que idiotice, tinha visto tanta gente morrer jovem no
acampamento, nunca tinha tirado da memória, um jovem ao qual faltava uma perna,
morto com a seringa ainda presa ao braço.
Por isso tinha horror a palavra drogas.
Quando voltou, os
senhores do edifício, lhe fizeram uma festa imensa. Achou estranho, mas acabou descobrindo, o
caseiro lhe disse que tinham lhe oferecido dinheiro para entrar no teu
apartamento, eu me neguei, nunca mencionaste essa senhora que chegou aqui com
um carro com chofer. Me soltou que
queria melhorar teu apartamento. Lhe
disse que sem tua autorização nada feito.
No restaurante
lhe fizeram uma festa, nesse mesmo dia, preparou uma receita nova, que o chefe
da cozinha provou, bem como o dono do restaurante. Uau disse ele. Como pretendes fazer?
Bom aprendi muita
coisa, bem como imaginei não gastar todas a ideias de uma vez. Se mudamos radicalmente a carta, os clientes
vão estranhar, então penso que o melhor seria, fazer de uma maneira simples, cada
semana retiramos o menos vendido, incluímos uma coisa nova, se faz sucesso,
continua na lista, senão cancelamos, incluímos outra.
Mas seguiu sua
vida como se nada.
Um dia o
proprietário o chamou ao escritório, lá estava a senhora, ela estendeu a mão,
sou tua tia Helene, meu pai está muito mal, quer te ver antes de morrer, te
peço por favor que vá visita-lo, arrumarei de uma maneira que toda a família
não esteja lá para te incomodar.
Assim fez, ele
ficou com pena do velho, deitado numa cama imensa, num quarto que era maior que
seu apartamento.
Segurou a mão
dele, ele pediu que ele se aproximasse para olhar bem seu rosto.
Pediu que abrisse
a mesa de cabeceira, tens aí uma carta, minha para ti, mas só abra depois que
eu morrer. Peço desculpas por tudo.
O senhor não tem
que me pedir desculpas, talvez eu tenha sido mal-educado, mas cresci me virando
sozinho, uma ideia de família me aterra, não saberia como me comportar com uma
família como tem o senhor.
Me fale de sua
viagem a Paris?
Contou dos cursos
que tinha feito, coisas que tinha aprendido.
Lhe perguntou se
tinha aprendido a fazer um doce que quando ele ia, visitava esse restaurante
para isso.
Ele riu pela
primeira vez, meu professor daqui falava nesse doce, fui lá provar, depois
aprendi a fazer no curso que fiz.
Como amanhã é
domingo, mandarei alguém trazer para o senhor, ou sua filha pode ir buscar.
A filha que
estava ali, sorriu, eu irei papai.
Ele segurou sua
mão outra vez, disse nela podes confiar, sempre respeitara tua vontade, sua
grande lastima, foi nunca ter conseguido encontrar teu pai.
Se despediu dos
dois, ela queria mandar o motorista o levar, ele disse que não se incomodasse,
pegaria o metro. Só pediu que ela nunca
voltasse aonde ele vivia, isso o incomodava.
Foi embora, no
dia seguinte preparou o doce, pediu para o proprietário avisar sua tia. Um carro veio buscar, no final do dia, lhe
chamaram para atender um telefonema, era o velho para agradecer, foi o meu
melhor presente em muitos anos, obrigado meu filho.
Ele agora uma vez
por semana mandava para o seu avô o doce mas não ia até la, não tinha nada para
falar com ele.
Sua tia Helene,
lhe avisou da sua morte, pelo menos morreu em paz, em saber que tem um neto que
é melhor que os filhos que ele criou.
Lhe avisou da
cerimonia do enterro. Foi com o
proprietário do restaurante. Assistiu a
mesma, mas quando lhe convidaram para a recepção, pediu desculpas mas tinha que
trabalhar.
Dois dias depois
o proprietário lhe chamou, estava rindo, te livraste de uma boa.
Porque perguntou
ele.
Teu avô deixou a
empresa para tua tia, que não tem filho nenhum, além de deserdar todos os que
nunca fizeram nada na vida, que sempre viveram pendurados nele.
Todo o dinheiro
que tinha será repartido por ONGs, que cuidam dos homeless, em nome do teu pai
Trevor Fustemberg.
Nem ele sabia que
esse era o sobrenome de seu pai. Ele
tinha firmemente decidido que seguiria usando o seu Aerosmith.
Um dia foi ao
banco para analisar suas finanças, quando lhe apresentaram, tinha um valor
incrível, falou como gerente, não tenho todo esse dinheiro.
Ele foi
depositado a mando do senhor Fustemberg, quando fizeram isso, disse que tinha
deixado uma carta para ti.
Ele tinha se
esquecido completamente da carta que tinha entregado em mãos, a tinha guardado.
Quando chegou em
casa a localizou numa mesa que guardava suas coisas, tinha se esquecido
completamente dela.
Apesar de ser
tarde, estar cansado, leu.
Querido neto,
Me deste uma
lição muito merecida, eu sempre comprei meus filhos com meu
Dinheiro, teu pai
foi o único que sempre foi rebelde a isso.
Entrou para o
exército, como uma maneira de fugir de meu controle.
Voltou
destroçado, eu queria que fosse para um hospital particular, para que ele
Não tivesse que
conviver com a gente que estava ali, que me horrorizava, mas ele
Escapou, indo
viver nas ruas com os que tinha passado pelo mesmo que ele.
Nunca mais o
encontrei, imagino que tenha adotado o sobrenome Aerosmith que
Era seu grupo de rock
favorito.
Minha filha
Helene, nunca me perdoou por isso, ela amava o irmão, o procurou como uma
louca, por isso confie nela.
Os outros ao
longo dos anos, desfrutaram de todo meu dinheiro, já lhes dei dinheiro
suficiente a vida inteira. No dia que
apareceste aqui, me perturbaram, tinha medo de que te favorecesse.
Por isso no meu
testamento, não consta para nada, mas não sou um velho tonto. Sei que um dia iras querer realizar teu
sonho, ter um belo restaurante francês, por isso te deixo um pouco de dinheiro
para isso, não corresponde nem a um terço do que o resto já usufruiu.
Minha filha
Helene, ira contribuir com ONGs em nome de teu pai, para ajudar aos
incompreendidos que estão pelas ruas do pais inteiro.
Que eu mesmo
nunca entendi. Nem podia imaginar que
meu filho vivesse assim.
Perdoe esse velho
egoísta, que sempre pensou que sabia de tudo, acabou que descobri que não sei
de nada.
Deus te abençoe
Trevor pai.
Ficou emocionado,
a guardou bem guardada, a iria colocar num cofre do banco, bem como esse dinheiro,
não queria que estivesse na sua conta.
Sem querer do
envelope caiu uma corrente com um coração, ali estava uma foto de seu avô
quando jovem, com sua avô,
No dia seguinte
foi ao banco, alugou uma caixa forte, retirou o dinheiro da sua conta, bem com
o envelope, guardou tudo ali.
Uma vez por mês
sua tia Helene vinha jantar, depois esperava para comer com ele, alguma receita
nova de doce.
Contava como ia
as ajudadas, entendi que não posso modificar a vida de todos, mas sim colocar
uma espécie de ambulatório por perto, que os ajude, bem como um albergue, para
tomarem banho, cortarem cabelos, que tem um consultório médico, o primeiro a
funcionar é aonde você me disse que vivia.
Já esta funcionando, ninguém reconhece o nome do teu pai, como apelido da
família, por isso, optei a usar o de Trevor Aerosmith. Que no fundo é bom, pois meus irmãos e
sobrinhos não entendem.
Todos fizeram
universidade, agora fora os benefícios que sempre tiveram do meu pai, cada um
tem um bom apartamento, uma mesada, mas tem que trabalhar, estão tendo
dificuldades, pois nunca fizeram isso.
Estou liquidando
toda a empresa como ele me pediu, investindo o dinheiro nas ONGs por todo o
pais, quando funcione sozinho, vou realizar o sonho de minha vida, viver um
tempo em Paris, estudar história da arte que foi meu sonho.
Um detalhe, teu
pai adorava ficar na cozinha vendo as senhoras que trabalhavam ali, fazerem
comida, dizia que um dia seria um grande cozinheiro, achei essa foto no meio de
suas coisas.
Se parecia a ele,
na mesma idade, ele no meio das cozinheiras.
Agradeceu a foto,
comprou um porta foto, a colocou na sua mesa que usava para estudar.
Agora fazia um
curso de francês, queria saber falar direito para um próximo curso.
Tempo depois o
proprietário, alegando que estava ficando velho, sem herdeiros, propôs a ele,
bem como ao chefe da cozinha uma sociedade.
Foi ensinando aos
dois como administrar o restaurante.
Primeiro pensou
que estava apaixonado por ele, pois era a primeira pessoa que se preocupava por
ele, era mais velho que ele vinte anos, um dia lhe disse isso, sei que o senhor
é gay, esta sozinho, podia me ensinar a fazer sexo.
A cara dele foi
ótima, Jean Paul Lausde, disse que a muito tempo se interessava por ele, mas
tinha medo, pela diferença de idade.
Mas se completavam, só refutou muito ir viver com ele, mas acabou
aceitando, ou melhor entraram num acordo, um outro apartamento, aonde passariam
a viver, mais simplesmente. Pela
primeira vez, preparava um café da manhã para outra pessoa, Jean Paul dizia que
estava vivendo uma segunda juventude.
Lhe ensinou
muitas coisas, viveram juntos mais de 15 anos.
Quando ele morreu, deixou o restaurante para os dois sócios. Mas seu chefe de cozinha, queria partir para
outros voos, concordaram em vender o mesmo.
Ele iria passar
uma temporada em Paris, tinha ido duas vezes com Jean Paul, nas férias quando
fechavam o restaurante, tinha conhecido agora a cidade de outra maneira. Com o patrimônio que tinha construído, nunca
mexeu no dinheiro do avô poderia ter uma vida por um tempo por lá bem simples.
Procurou pela
tia, para dizer o que tinha resolvido, soube que já fazia tempo que vivia em
Paris, conseguiu seu endereço.
Arrumou uma
bagagem, simples, alugou um apartamento, pequeno, mas como ele gostava, limpo.
Quando a
procurou, deu que ela tinha uma loja de antiguidades, tinha até remoçado, pela
primeira vez a deixou abraça-lo, tinha aprendido isso com Jean Paul. Antes dele morrer tinham se casado, para ele
não ter problemas com o apartamento que tinham juntos, bem como a parte do
restaurante.
Agora uma vez por
semana se encontravam para almoçar ou jantar.
Ele estava aproveitando para fazer pequenas viagens para conhecer melhor
o pais.
Um dia sua tia
lhe contou que eles eram judeus, que na verdade seu pai Trevor, tinha adotado
esse nome ao entrar nos Estados Unidos.
Toda nossa cultura era de aqui.
Aqui voltei a frequentar a sinagoga, que ele odiava.
O foi apresentando
para muita gente que ela tinha conhecido.
Foi quando teve uma paixão impressionante com um escritor, riu muito
quando este lhe fez um comentário.
Ela lhe disse
como podia ele ter impressionado a pessoa mais chata que ela conhecia, a Flaubert
Jean, ele inclusive usa o nome invertido, loucura da cabeça dele. Me pediu o número de celular. Deve ter ficado mais surpresa ainda, quando
ele disse que podia dar.
Começaram os dois
a se encontrar para comer, um verdadeiro namoro. A primeira vez que estiveram na cama, foi como
uma explosão, Flaubert dizia que com ele podia falar, sem ter uma postura de
intelectual, pois lhe entendia. Agora
iam a todos os lugares juntos, ele na cozinha da casa dele, preparava pratos
para ele. Ele que era muito magro dizia
que ia engordar, não somos jovens assim para esse tipo de comida.
Demoraram a irem
viver juntos. Mas chegou o momento que
um já não sabia viver sem o outro, os conhecidos estranhavam, estavam
acostumados ao mal humor que sempre tinha, agora era agradável, sorria, quando
não queria dizer nada.
Quando começavam
alguma conversa sobre filosofia, ou outra coisa, ele voltava ao seu ataque de
mal humor, se vocês nunca viveram, a maioria nunca trabalho, como podem querer
consertar o mundo.
Trevor se matava
de rir, pois ele pensava a mesma coisa.
Trouxe todas suas
coisas que NYC, agora convivia mais com sua tia Helene, que sempre lhe contava
alguma coisa de seu pai. Ela não se
perdoava, ter aceitado a vontade de seu pai, com relação ao irmão, ele antes de
fugir para o exército, meu pai já tinha um casamento combinado para ele, bem
como que assumisse suas empresas.
Quando ele
desapareceu, fiquei desesperada, perdia o único irmão com quem podia falar,
sonhar, compartir desejos, claro nenhum deles encaixava nos objetivos de teu
avô.
Mas nunca
descobri aonde poderia estar, pois usava esse novo sobrenome, aliás pelo que
descobri, foi com ele ao exército.
Depois que te conheci, procurei descobrir quem era tua mãe, mas nada foi
possível. Nos acampamentos nunca estão
interessados na vida das outras pessoas. Ninguém sabia nada.
Sabe as vezes
penso, que com isso ele me ensinou a sobreviver, o pouco que me lembro, era que
sempre dizia bom dia para todo mundo, estava sempre sorrindo, me dizia mesmo
que teu sorriso seja triste, não importa, sorria.