WILDER
Wilder Van
Heldfer, tinha terminado o curso para ser policial, tinha estendido o maior
tempo possível, pois já saia como inspetor.
Durante o curso tinha sido o alzaimer do grupo, pois era o mais velho de
todos os candidatos. Além de levar a
sério tudo, tinha se destacado em mil coisas, lutas, inteligência, era o melhor
aluno, questionava os professores para entender direito o que explicava, isso
aborrecia os outros que na verdade queriam um emprego fixo, mas claro ele
queria mais.
Tinha retirado o
Van de seu nome, pois sempre causava problemas, ele se identificava como Wilder
Heldfer, ficava mais fácil, não tinha que dar muitas explicações.
Era der Arnhem,
mas tinha passado os últimos seis anos, viajando fora do pais. Tudo tinha a ver com sua infância. Sua mãe era a última de uma família, que
tinha perdido quase tudo durante a guerra, era filha de um oficial alemão, que
abusou de sua mãe, primeiro porque usavam a mansão familiar, como posto
avançado da Gestapo.
Quando acabou a
guerra, ela foi tratada como uma colaboradora, acabou sendo criada pelo seu
avô. Cresceu rodeada de problemas,
ninguém queria nada do velho, que tinha um humor horrível. Na mansão só viviam ele, uma mulher que
cuidava de tudo, além da minha mãe, ela estudou um pouco para não ser
analfabeta. Mas já com 18 anos, era uma
pessoa amargada, o jeito foi ir para a Alemanha, viveu anos em Berlin, um dia
voltou gravida. Não sabia quem era o pai
da criança, tinha sido uma pessoa que fazia sexo com todos os homens que lhe
interessavam. Quando seu avô morreu
antes de ele nascer, ela herdou tudo, terras, dinheiro, a mansão. Anos mais tarde passou a viver com o homem
que foi um pai para ele. Um antigo
marinheiro, que lhe contava história dos países por aonde tinha estado. Esse homem ajudava a cultivar um pouco de
terras, para sustento deles, quando ele foi a escola, quem o levava era o Hoof,
viu que os garotos queriam abusar dele, o ensinou a se defender, boxe, karate,
outros sistemas de defesa, com dez anos ele cresceu demais, as calças eram
sempre curtas para ele.
Usavam uma
pequena parte da mansão, tudo acontecia na grande cozinha, que era a parte mais
quente da casa no inverno, a mais fresca no verão. Ali só existia uma rádio, nada mais,
televisão nem pensar. Com os anos
ajudou sua mãe, que quando não estava bêbada, cuidava do Hoof, ele se fez forte,
pois agora cuidava sozinho do pouco de campo que exploravam, ficou grande
musculoso, era o melhor aluno da escola, se saia bem em línguas, amava a
geografia, bem como a história, ciências, tudo que podia aprender. Não havia dinheiro para ir à universidade, se
matriculou para estudar enfermaria, que era o que existia na cidade. A prática era cuidar de sua mãe, quando esta
morreu, ele tinha 20 anos. Resolveu
realizar seu sonho, a partir das histórias do Hoof. Ele tinha falado de uma companhia de navegação,
falava sempre do dono, procurou por este, queria trabalhar nos navios. O homem disse que o contratava, a primeira
pergunta que lhe fez, aonde anda esse maldito comandante Hoof, o melhor homem
que eu tive.
Quando falou que
tinha cuidado dele até morrer, que o tinha enterrado no pequeno cemitério da
mansão, o homem o abraçou.
Fez uma coisa que
tinha pensado muito, mesmo conversado com sua mãe antes dela morrer.
Havia gente
interessada na mansão, bem como nas terras cultivadas, atrás de tudo tinha um bosque.
Falou com o
advogado, vendia essa parte a mansão, as terras cultivadas, mas o bosque não,
queria o manter intacto, pois ali estava o cemitério da família.
Pagaram todos os
impostos atrasados, lhe sobrava muito dinheiro, colocou tudo num banco para render,
em seguida embarcou em sua primeira viagem.
Um barco que estaria muito tempo fora, foram descendo, o primeiro porto
foi na Irlanda, depois Portugal, vários lugares de Africa. Ele era o enfermeiro de bordo, bem como
ajudante do comandante, além de ajudar quando estava livre na cozinha. Em cada porto, os homens desciam para ir de
putas, tomar uma boa bebedeira, que ele cuidava depois. Ele ao contrário, descia, ia conhecer a
cidade, na Africa chamava muita atenção, muito branco, enorme, tinha 1,98
metros, com sapato dois, ombros largos, pernas imensas, uns braços que pareciam
troncos, ninguém se metia com ele, não gostava de beber, pois tinha visto os
estragos tanto no Hoof como em sua mãe, tinha provado todas as bebidas, para
saber que não gostava.
O comandante ria
muito com ele, por isso, tinha conhecido o Hoof quando era jovem. Imagino que ele te contou muitas histórias,
ele viajou pelo vasto mundo depois da guerra, conhecia todas as rotas. Quando tinha tempo livre, estudava com o
comandante os mapas, adorava as noites de céu aberto, para estudar as estrelas
como o homem gostava.
Os outros
marinheiros tinham um certo ciúmes dele, pois achavam que ele tinha alguma
coisa com o comandante. Foram até a
China, retornaram, ele agora tinha a pele mais escura dos dias de sol
trabalhando com os outros marinheiros, aprendeu a jogar poker com eles. Todos comentavam que ele era sério
demais. Mas o respeitavam, pois cuidava
deles quando estavam de porre, ou quando tinham algum problema, aprenderam a
contar seus problemas para ele, pois sabiam que ele nunca comentava nada.
A grande
incógnita era o que ele fazia quando descia do navio, algumas vezes o seguiram,
mas viram que ele apenas descobria as cidades, que ia anotando tudo que via num
livrinho de notas.
Quando voltaram
depositou na sua conta uma parte do dinheiro ganho durante todos esses
meses.
Conversou com o
proprietário, a viagem seguinte seria diferente, atravessariam o canal de Panamá,
para irem ao Japão, ele perguntou se podia ficar um tempo lá. Iria num barco, ficaria seis meses, voltaria
no seguinte, que faria um outro roteiro.
O homem conseguiu para ele, que no seu passaporte tivesse um visto para
esse tempo.
No barco, tinha um
japonês, velho, bem curtido, ele lhe foi ensinando um básico em japonês, se
admirava da facilidade dele. Era o
cozinheiro, se chamava Saturo, lhe ensinou a fazer uma boa sopa japonesa, como
gostava o comandante, estudou roteiros com ele, falava tanto dos lugares, que
lhe bateu saudade, pode ser que desembarque contigo, não vou ao meu pais a
anos. Lhe deu endereço de sua família,
bem como cartas, pequenos pacotes para entregar.
Desceu no porto
de Yokohama, se despediu de seu amigo, foi primeiro conhecer a cidade, dali foi
para Tokyo, passou seis meses viajando, acabou ficando mais tempo, agora tinha
nas costas um imenso peixe Koi, uma tatuagem imensa, em cada lugar que ia, o
primeiro lugar que procurava era um local de artes marciais.
Aprendeu mais
sobre a língua, visitou o pais inteiro, tinha anotado todos os lugares que
falava o Hoof, agora tinha sua própria ideia sobre o lugar, bem como o que era
fantasia do outro.
A seguinte viagem
que fez, desceu em San Francisco, atravessou até NYC, levou meses fazendo isso,
comprou uma moto, fez todo o caminho assim.
Lá com outro barco voltou para casa, levando sua moto. Foi quando entrou para a academia de
polícia. Quando o designaram para
trabalhar em Amsterdam, conhecia bem a cidade.
Falando com a dona do pequeno hotel que ficava, lhe perguntou se tinha
algum lugar para alugar ou para vender.
Ela lhe falou de um apartamento, é um primeiro andar, na parte baixa
vive meu filho, não creio que lhe incomode que deixes a moto na entrada.
Foram até lá, a
senhora lhe avisou, não se assuste com meu filho, não disse mais nada.
Era como se fosse
uma loja no andar de baixo, com os vidros todos tapados de tinta branca,
apertou a campainha, quem abriu a porta foi um homem tão alto como ele,
barbudo, mas com os lábios pintados de vermelho, com as unhas pintadas de
negro, o fez entrar, abraçou a mãe, lhe dando um beijo na cabeça. Venha, ele vivia na parte de trás da loja,
pelo visto era uma antiga alfaiataria, este estava costurando um vestido cheio
de lantejoulas, mas ao mesmo tempo aquilo estava abarrotado de livros, ele
disse minha perdição.
Disse a mãe,
deixa que eu mostro o apartamento para o senhor.
Nada de senhor me
chamo Wilder, ou Wil, simplesmente. Meu
único problema é minha moto.
Sem problemas,
podes deixar na parte da frente, te darei uma chave.
A senhora foi
embora, dizendo podes combinar tudo com Andrew, quando subiram a escada, viu
que ele estava descalço, com um pé imenso.
Tenho dores no
pé, pois estive a noite inteira de sapatos alto, tenho um bar gay, mas tenho
que tomar conta todas as noites.
Quando perguntou
o que ele iria fazer na cidade, riu quando ele disse que era policial.
Imagina um
travesti vivendo lado a lado com um policial.
Não vejo
problema, cada um tem, direito a viver como quer.
Desde o primeiro
momento amou o lugar, estava em frente a um dos muitos canais, era um
apartamento comprido, sem nenhuma divisória, como se fosse um loft, a única
coisa fechada era um banheiro grande, como ele gostava, contou que tinha
passado apertado em muitos navios pelo tamanho dos banheiros.
Navio, perguntou
o Andrews.
Sim trabalhei
muito tempo em navios, andando pelo mundo.
O outro disse que
ia adorar, montar um puteiro num navio.
A única coisa que
não gostou, foi a cor das paredes. Posso
pintar tudo de branco.
Claro que sim,
disse o preço do aluguel, colado a parede do banheiro tinha uma pequena cozinha
americana.
Terei que trazer
uns moveis que tenho guardado num armazém a anos em Arnhem, aonde vivi toda
minha vida.
Antes de começar
a trabalhar, começou a pintar o apartamento, tinha pedido que lhe mandasse os
moveis, a única coisa que comprou foi uma cama imensa, pois como era grande
queria espaço.
Quando chegaram
os moveis Andrew lhe ajudou a arrumar, ainda lhe conseguiu uma estante para
livros, pois tinha comprado várias numa livraria que tinha sido reformada.
Riu muito quando
viu a maioria dos livros, todos falavam de viagens.
Porque agora,
resolveste ficar definitivamente em terra firme.
Vi o que queria
ver. Colocou nas estantes suas
cadernetas todas, que anotava as coisas que via.
Quando Andrew o
viu sem camisa, ficou de boca aberta, seu corpo era músculos puros, a tatuagem
que tomava toda sua costas, o impressionaram, perguntou se podia passar a mão,
quando viram se beijavam, fizeram sexo ali mesmo no chão.
Caralho, terei um
amante no andar de cima.
Vá com calma, não
gosto de estar preso a ninguém, gosto de mulheres também, portanto, vamos com
calma.
Quando o
apartamento ficou como ele queria, o Andrew lhe fez umas cortinas fantásticas
para poder dormir de noite, pois havia um poste de luz justo na frente.
Quando viu suas
roupas, amou um jaquetão de marinheiro americano, bem como as calças de lã a
famosa de seis botões na frente.
Isso nem existe
mais.
Sim comprei numa
loja que vendiam coisas velhas, por um acaso, encontrei do meu tamanho, serviu
para atravessar os estados unidos, bem como uma calça de couro.
Foi no primeiro
dia com um traje que o Andrew lhe emprestou, mas quando viu que todo mundo
trabalhava a paisana, no outro dia foi com uma calça de couro, bem como um
casaco de couro também daqueles antigos de motociclista.
Quando parou sua
moto na frente da delegacia, um policial lhe disse que não podia parar ali,
mostrou sua placa o outro engoliu em seco.
Se apresentou ao
que seria seu chefe, este tinha na sua frente todo seu curriculum. Ou seja eras o mais velho de sua promoção,
pelo que vejo aqui, andaste viajando uma bela parte do mundo.
Lhe contou do Hoof,
ele tinha sido marinheiro, me falava tanto desses lugares exóticos, que tinha
que ver por mim mesmo.
Lhe apresentou o
homem que seria seu parceiro no trabalho, era muito mais velho do que ele, o
homem o examinou de cima a baixo, riu do seu cabelo cortado curto, parecia que
era calvo, pois seu cabelo loiro era tão claro que parecia branco.
Na primeira
saída, o outro lhe explicou que estavam caçando, esse foi o termo, caçando um homem
que vendia drogas a menores de idade.
Visitaram os
pontos aonde se dizia que o mesmo atuava, o dito cujo era esperto, conhecia com
detalhes as ruelas do centro da cidade.
Ao parecer ele atuava principalmente nas ruas conhecidas como vermelhas,
por ser lugar de prostituição.
Essa noite
ficaremos observando. Nisso ele era bom, tinham sempre muitos jovens
andando por ali, contando seu dinheiro para ir de putas. Finalmente viu o homem, era magro, meio
desdentado, parecia um mendigo, dava a sensação que pedia esmola, mas vendia
drogas.
Ele com seu andar
descuidado, foi se aproximando, quando esteve perto do homem, este lhe ofereceu
drogas, fez que ia comprar, mas este quando viu, já estava com algemas no
braço.
Nisso viu um
outro, que era quem lhe dava a droga para vender, tentar escapar. Deixou seu
companheiro com o homem, saiu atrás do outro, se o outro conhecia as ruelas,
ele também conhecia, correr era com ele mesmo.
Quando o outro pensou que estava livre, olhando para trás não viu que
aquele homem imenso estava na frente dele.
Levou um susto tremendo,
primeiro quis suborna-lo, mas era tarde já estava algemado.
Puta merda falou
seu companheiro, levou um mês atrás desse filho da puta, o consegues pegar no
teu primeiro dia.
Seu companheiro
se chamava Bonny, de Bonifácio, era descendente de portugueses.
Ficaram amigos,
discutiam cada caso até a exaustão, no caso das drogas, o que entregava para o
velho era apenas um intermediário, tinham que resolver como segui-lo.
Ele teve uma
ideia, colocaram um sinalizador na barra das calças do outro, bem como no salto
do sapato outra.
Alguém pagou sua
fiança, como não tinha antecedentes, o liberaram. O velho dava pena, era um sem-teto, era sua
maneira de ganhar alguma coisa para comer.
Ninguém pagou sua fiança, iria para a prisão, como começava o inverno,
soltou, pelo menos terei comida, um lugar para dormir. Ele não sabia de aonde o outro tirava
drogas.
Começaram a
seguir o outro, precisavam pegar o cabeça do negócio.
No seu primeiro
final de semana foi conhecer o lugar que era do Andrew, era uma pequena casa de
show, ele disse que não atuava mais, mas montava os espetáculos.
Tinham feito sexo
mais umas duas vezes, mas depois o Andrew descia para dormir na sua casa.
Um dia entrou o
viu na cama com uma mulher, nunca mais subiu, disse depois que não sabia dividir
as pessoas, por isso sempre estava sozinho.
Na verdade, ele
sabia disso, era uma maneira de dizer ao outro que era livre.
Gostava mais de
fazer sexo com homens pois para ele era como uma luta livre.
Dias depois,
encontraram o traficante morto num beco, alguém tinha liquidado o cabo solto.
Seguiram
trabalhando, observando, até que conseguiram chegar ao chefe, era um chines,
que importava drogas da china, de outros países asiáticos.
Não gostava de
conduzir carros em Amsterdam, quando seu companheiro foi ferido numa redada
contra as drogas, ele perguntou ao chefe se não podia trabalhar sozinho, assim
iria mais rápido na sua moto. Esse
perfil também lhe ajudava.
As vezes chegava
em casa cansado, tomava um banho, se podia dormir a mais, fechava as cortinas
deixando o apartamento as escuras, se jogava nu na cama, colocava antes o
despertador, dormia a pernas soltas.
Andrew nunca mais
subiu, mas ele seguia indo ao seu local nos dias que tinha livre, ficava
observando as pessoas, nunca bebia, quando muito uma coca cola.
Um dia estava na
barra, entrou um homem mulato, do seu tamanho, vestia uma roupa diferente,
muito formal, de terno, gravata.
Se encostou na
barra, ficou como ele observando. Sem querer começaram a conversar, pois estavam
um observando o outro.
O outro se
apresentou como Bill Bernstein, ficaram ali conversando, lhe contou que era
editor de livros, que tinha se divorciado a pouco tempo.
Saíram para
conversar fora porque o barulho era imenso.
No beco ao lado se beijaram, o outro era ardente. O levou para sua casa,
os dois nus era impressionante. Na cama
era como uma batalha, tinham os mesmos gostos.
Dormiu pela primeira vez abraçado a outra pessoa.
Tomaram café da
manhã juntos. Cada um contando a sua
vida. Bill disse que tinha um filho adolescente,
que vivia com a mãe, eu voltei a viver na casa da minha mãe, mas é um inferno,
pois me acusa o tempo todo de não ser um bom pai. O pior é que me compara com o meu, que era um
bom filho da puta.
Mas não fui eu
que pedi o divórcio, sim ela, pois conheceu outro homem, vai se casar com ele,
tem muito dinheiro.
Bill foi ficando,
se encontravam várias vezes durante a semana, o chamava pelo celular, para
dizer quando estava livre, vinha dormir com ele.
Um dia se
despertou pela manhã, ele estava lendo um dos seus cadernos de anotações sobre
o Japão. Impressionante, gosto como
escrever, podias ampliar isso, escrever um livro sobre esses seus passeios, as
observações que fazes.
Mesmo com os
elogios, Wilder não gostou, era como tentar descobrir no fundo quem ele era,
nunca fazia perguntas sobre a vida do Bill, tampouco tinha feito de outras
pessoas que convivia, porque senão, teria que investigar, isso já bastava o
trabalho que tinha.
Disse claramente
ao Bill, isso, não gosto que mexam nas minhas coisas, por favor, deixe essa
livreta no lugar que a encontrou.
Bill, não
entendeu, mas estou elogiando tua maneira de escrever, as observações que
fazes.
Por isso estou na
polícia, pois sou bom em observar, perceber as coisas, mas na minha vida
intima, não gosto que procurem saber quem eu sou. Isso é um direito meu. Virou as costas, foi tomar banho para ir
trabalhar, passou o dia inteiro irritado.
Evitou o Bill
durante uma semana, sempre tinha uma desculpas, embora tivessem se dado bem,
não gostava de certos comportamentos.
Comentou isso com
o Andrew, seria o mesmo que eu estivesse buscando na tua vida, coisas intimas,
quando fizemos sexo, em momento algum me preocupei sobre quem eras, queria sim
disfrutar do momento, não gosto que queiram se apossar de minha vida.
Justo nesse dia,
se falou do terremoto no Japão, que tinha arrasado várias cidades,
principalmente Kyoto, uma cidade que tinha amado, que tinha conhecido sua parte
antiga, cada rua, ruelas, os tipos de pessoas que ali viviam.
Soube que uma
equipe de bombeiros iria até lá para prestar ajuda, se informou, se candidatou
a ir junto, tinha a vantagem de falar a língua.
O aceitaram, deixou dinheiro com o Andrew, para o apartamento, arrumou
um saco de viagem, se incorporou no grupo.
No avião, que ia
via Paris, notou um japonês que estava muito aflito, sentava-se ao seu lado,
começou a falar com o mesmo. Este vivia
em Paris, seus avôs, pelos quais tinha sido criado, viviam justo na parte
antiga da cidade. Lhe disse aonde estariam, se puder ser de ajuda,
me avisa.
Mal chegaram se
viram desbordados pelo caos, embora organizado, como eram os japoneses, sabia
que isso era normal, se apresentaram as autoridades, ele informou que conhecia
muito bem a parte antiga da cidade. Com
um mapa, guiou os bombeiros, começaram a ajudar as pessoas, se encontrou com o
rapaz do avião, olhava desesperado, uma pequena casa num beco da qual não
sobrava nada, o ajudou a começar a retirar as coisas, notou um homem que se
aproximou, começando a ajudar sem falar uma palavra. Acabaram encontrando o
casal, abraçados, na parte baixa da casa, mortos, tinha havido um escapamento
de gás.
Só então entendeu
que o homem era o pai do rapaz. Tirou
sua camisa, para tapar a cara dos velhos, viu que ele devia ser da Yakuza, pois
tinha o corpo todo tatuado. Encaminharam
os velhos para um lugar, para lhe darem sepulturas.
O homem sem uma
palavra não saia de seu lado. Viu que ele dava ordens em japonês, só então
falou com ele, trabalhavam vários dias ali, lado a lado.
Entre pai e
filho, não escutou nenhuma palavra. Num
momento de descanso, quando os voluntários trouxeram comida, se sentaram lado a
lado, o rapaz o mais distante possível.
Meu filho nunca
aceitou meu modo de vida, sou tatuador, além de ser gay, me casei por exigência
de meus pais, depois que tive o neto que queriam fui viver minha vida, meu pai
não aceitou isso, estava acostumado a que suas ordens fossem obedecidas, o
resto dos meus irmãos emigraram para o Brasil, ou para Estados Unidos. Meu filho estuda em Paris, mas se nega a
falar comigo, diz que sou mau pai. Mas
sou eu que pago todas suas despesas.
Ele entendia,
começaram a conversar, a cada tempo que tinham livres.
Comentou com ele
que era policial, que vivia em Amsterdam.
Estive lá uma
vez, num encontro de tatuadores.
Levantou sua
camisa, mostrando o tatuagem que tinha nas costas.
Ele foi direto,
disse quem tinha feito a mesma, tem um estilo próprio como eu.
Acabaram ficando
amigos, Tanaka, vivia uma parte do tempo em Kumamoto, numa ponta do pais. Demorei para decidir vir, pois meus pais não
falavam comigo, embora eu os sustentasse.
Quando acabaram
tudo, avisou a delegacia que ficaria mais um tempo, foi com Tanaka a Kumamoto,
ficou maravilhado com sua casa, vivia no meio de uma bosque, em uma casa
construída por ele mesmo, era pequena, mas totalmente original, como as casas
antigas, com todas as tradições. Quando fizeram sexo, foi como estar numa
guerra, nenhum dos dois eram frágeis, mas se entendiam na cama.
O filho veio
falar com o pai, quando deu de cara com o Holandês, não gostou muito, trazia as
cinzas dos avôs para serem colocadas num altar, aonde já estava sua mãe, ali no
meio do bosque.
Se despediu,
agradeceu a ajuda, mais nada.
Entendo teu
comportamento Wilder, não interfere nos problemas alheios, isso é bom, nunca
devemos devastar a vida dos outros. Ah
partes que são intimas.
Os dois se
entendiam sem falarem muito. Inclusive,
fez duas tatuagens lhe cobrindo os dois braços. Como se ele soubesse de sua vida anterior, foi
descrevendo nas tatuagens sua vida.
Wilder ficou
impressionado. O mesmo acontecia com as
pessoas que vinham fazer algum tatuagem, ele não tinha nenhum mostruário de
desenhos, a pessoa se sentava ou deitava, ele começava a trabalhar em
silencio. Sempre surpreendia as mesma
por esse detalhe, contava suas vidas, seus desejos.
Wilder estava
amando ficar por lá, enquanto o outro trabalhava, ele escrevia sobre tudo que
tinha visto, inclusive falava desse sentido das pessoas não precisarem falar
muito, mas sim observar a outra. Pela
manhã, o acompanhava nos seus exercícios de concentração, sentia que estava
liberando uma parte dele mesmo.
Sentia-se em paz com tudo em sua volta.
Um dia falou do
bosque que era de sua propriedade, o único que não tinha vendido. Pela primeira vez, Tanaka disse que gostaria
de explorar esse lugar.
Posso ir contigo?
Claro que sim,
tinha decidido não seguir na polícia, aliás acreditava que tinha perdido seu
trabalho pelo tempo que estava ausente, não tinha notado o tempo que estava lá.
Quando embarcaram,
um policial lhe disse que seu tempo de permanência tinha sido extrapolado, que
da próxima vez pedisse um tempo maior de permanência.
Levou Tanaka para
seu apartamento, falou como Andrew, que olhou os dois, disse que tinha
entendido por que ele tinha demorado tanto tempo.
Lhe comentou que
Bill o tinha procurado várias vezes, foi falar comigo no bar, lhe disse que
estava fora do pais. Creio que esta
enrolado com um jovem, não gosto muito do mesmo, mas claro não interfiro, cada
um deve saber o que fazer da sua vida.
Deixou Tanaka no
apartamento, lhe explicou que tinha que resolver seu problema na delegacia,
depois iriam para seu bosque.
Claro já tinham
feito um processo por abandono de trabalho, foi fácil finalizar tudo, pedindo a
demissão. O chefe lamentou sua perda,
pois tinha como um dos seus melhores homens, lhe perguntou se ia retomar suas
viagens.
Lhe respondeu que
ainda não sabia, seus companheiros queriam ver suas novas tatuagens. Quando
comentou que o tatuador estava ali, todos queriam fazer tatuagem, quando falou
com o Tanaka, ele disse que sim, que precisava de uma cadeira, uma cama de
armar, tinha trazido seu material de trabalho.
O primeiro a fazer um tatuagem imenso foi o Andrew, quando ele quis
dizer o que queria, lhe explicou como funcionava a coisa, que ele tampouco
falava enquanto trabalhava. Trouxe uma
mesa pequena para baixo, ali se sentava, escrevendo, sem falar.
Andrew disse que
como era possível duas pessoas se entenderem sem falar muito.
Lhe explicou,
desfrutamos disso, Andrew, através de nosso silêncio nos comunicamos.
Depois tiraram o
final de semana para irem ao bosque, arrumou a moto, se vestiram como deviam,
gostava desse contacto dele sentado atrás abraçado a ele, pela cintura.
Tanaka era mais
baixo, mas inclusive para um japonês tinha uma boa estatura.
Quando chegaram
mostrou ao Tanaka a mansão aonde tinha sido criado, lhe explicou que só usavam
uma mínima parte da mesma, hoje era um hotel de luxo.
Tinham levado uma
tenda, bem como sacos de dormir para acampar, avisou ao do hotel que não
estranhassem, pois estariam acampado no bosque.
O dono lhe disse,
que muitos clientes lhe tinham perguntado se podia caçar ali?
De maneira
nenhuma, quero que o lugar siga como está.
Tanaka dava dois
passos parava, para observar tudo em volta, começou a fazer como ele, isso o
fez lembrar-se de coisas de sua infância, quando se escapava para o bosque,
quando não aguentava mais sua mãe, que nessas alturas estava completamente bêbada,
foi lhe mostrando seus lugares prediletos, o pequeno cemitério da família,
foram cada vez se adentrando mais no bosque.
Chegaram a uma clareira que ele não se lembrava mais, em que um pequeno
riacho em determinado momento, entrava por uma fenda. Tanaka que até então estava em silencio, comentou
que embaixo devia ter uma gruta, montaram as coisas, começaram a explorar, até
que encontraram mais abaixo uma entrada, que estava tapada por arbustos.
Com muito custo
conseguiram entrar, levavam lanternas poderosas, que tinham trazido, dava
primeiro para uma pequena cova, mas seguindo o ruido da água que caia, foram
entrando por um corredor estreito, acabaram num grande salão aonde caia a agua
do riacho como uma cascata. Ficaram
surpresos, porque encontraram ali, caixas de armas, de munições, a maioria
estragadas pela humidade. Eram armas
alemãs, com certeza escondidas ali, pelos partisanos dessa zona.
Não se via que
outras pessoas pudessem ter entrado ali. Aproveitaram para se banhar no pequeno lago
que fazia a partir da cascata. Como
sempre que estavam nus, fizeram sexo ali mesmo.
Resolveram
acampar, justo na primeira parte da cova, assim estariam protegidos caso
chovesse.
No dia seguinte
foram até a delegacia da pequena cidade, comentaram com o inspetor chefe do que
tinham encontrado, rapidamente, juntou um pequeno grupo, recolheram tudo que
estava ali, a partir de agora seria o pequeno paraíso deles.
Tanaka, ajudado
por ele, construiu uma pequena cabana, justo na frente da entrada da cova, era
mais um despiste para evitar a entrada de estranhos, comprou uma mesa, para
poder escrever, bem como um laptop, com uma bateria a mais, quando iam a vila,
carregava as mesmas.
Tanaka construiu
um fogão de lenha rudimentar, para fazer a comida deles, o dia começava com um
bom exercício, depois iam andar pela floresta, caçar, que faziam com arco e
flecha, nada de armas de fogo.
Perdeu a conta
dos dias da semana, meses, anos que viviam ali.
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