lunes, 6 de septiembre de 2021

ZAKARIS

 

                                      ZAKARIS

 

Na época que usava esse nome, não era nada, ou talvez sim, um simples pastor de ovelhas com o qual subia todos os dias a montanha para que se alimentassem, o duro era no inverno, as vezes subíamos, não havia como descer, tinha que dormir num casebre que servia para isso.

O vento passava pelas frestas da parede, por mais que rebocasse, quando chegava o inverno caia.

Colocava as ovelhas num cercado, elas eram espertas em se colocarem todas as juntas para não passarem frio, eu se acontecia, tinha a companhia do meu amigo de infância Salim, adorávamos dormir juntos, nos abraçávamos falávamos dos nossos sonhos.  Imaginem dois jovens nos cafundós da Turquia fazendo isso.

O tinham conseguido casar, já tinha duas filhas, mas tinha verdadeiro horror a sua mulher, tinha sido escolhida pela sua família, pois seu dote, eram muitas ovelhas.

Eu ao contrário era o alzaimer da vila, pois a primeira noiva que tive prometida, um dia caiu num poço, a segunda que conseguiram a muito custo, morreu uma semana antes do casamento, se engasgando na hora que comia.    Eu ao contrário tinha respirado aliviado.  Era muito feia, gorda.     Minha mãe dizia que com a fama que tinha de azarado, era difícil alguma família me aceitar.     Eu ao contrário agradecia a Alah sempre.

Sonhava com sair dali ir para outro lugar, nos meus planos sempre aparecia Alemanha, aonde vivia meu irmão mais velho.   De um dia para outro escapou, embora, o tivessem casado, depois se casou com outra na Alemanha.

Juntava cada moeda que ganhava. Quando me sentava no alto da montanha, observando as ovelhas, chegava um momento que imaginava que estava em outro lugar, as vezes apareciam na vila, algum homem que passavam filmes, eu ficava alucinado, pois esse era meu sonho, fazer parte dessa realidade, quando passavam reportagens sobre Berlin, mostrando o bairro turco, eu ficava nervoso, esperava ver meu irmão, a que a muito tempo não via.

Nesse dia os dois conversávamos sobre isso, ele tinha juntado tudo quando podia. Tinha um sujeito que dava transporte aos jovens, mas claro os denunciava a suas famílias, o mesmo entrava no carro, ele virava na primeira rua, o deixando a mercê da família.

Eu já tinha planejado tudo, sabia como sair dessa enrascada.

A tempos andando pelas montanha, achei um arsenal de armas, escolhi, algumas para mim, as enterrei bem longe do local, antes de denunciar a polícia.

Nessa noite, depois de anos nos beijando, nos masturbando, fizemos sexo, ele tinha mais experiência pois já tinha se casado, com duas filhas.  Dizia que seriam sua desgraça.

De uma certa maneira, nos amávamos, pois fazíamos isso desde jovens.  Eu nesta altura tinha já quase 21 anos.

No dia seguinte antes de descer, nos beijamos, meu pai ficava furioso, pois misturávamos as ovelhas das duas famílias. Apesar de marcadas, dizia que eu era uma merda, pois segundo ele, as ovelhas da família do Salim eram medíocres.    Para mim eram todas iguais.

Quando chegamos a vila, as mulheres começaram a ordenhar as ovelhas, reclamavam que com o frio era difícil.

Desci, conversando com meu cachorro, que parecia entender de tudo, quando falei que ia embora, me olhou, como me dizendo, vais me deixar para trás.

Dormi o resto do dia, pois partiríamos de noite. Sai pela janela do meu quarto, naquele casarão de pedra, havia que tomar cuidado, pois qualquer ruído as ovelhas fariam ruído.

Foi andando pela noite com uma bolsa de couro, com uma cueca nova, que tinha comprado do mascate, bem como um par de meias de lã, tecidas pela minha mãe.

O carro estava esperando na praça, eu tinha recolhido quando descemos o revolver.

Se senti atrás, para que o sem vergonha não visse a arma. Bem atrás dele.   Quando o carro partiu, fez menção de virar na primeira esquina para voltar em direção a minha casa, coloquei o revolver na sua nuca, lhe dizendo, só vire na próxima, que era a estrada que passava pela vila, sabia inclusive a direção que devia tomar.

Não tirei a arma de sua nuca, até quase chegarmos a Istambul, tinha a mão doendo disso.

Ele parou num posto de gasolina, quando foi pagar, desci tranquilamente do carro, pois passava um ônibus, entrei nele, fui embora sem dar dinheiro ao sem vergonha, pensei comigo vingança pelo Salim.

Tinha a direção de um primo dele, que trabalhava no Grand Bazar, demorei para encontrar aonde trabalhava.  Era boa gente.

Me arrumou um lugar na sua casa, que dividiam com mais rapazes vindo do interior, no outro dia consegui um emprego da construção.   Trabalhar não me assustava, pelo contrário, precisava para juntar dinheiro para ir para a Alemanha.

Descobrir quase em seguida que nenhum ia a mesquita, que aproveitavam o final de semana para sair, beber, conhecer gente.

Eu levava um cabelo imenso, bem como uma barba grande de fazer gosto.  Com o salário da primeira semana, comprei calças jeans de imitação, bem como camisetas de manga comprida para ir trabalhar.

As cuecas, bem como as meias, as lavava de noite, colocava para secar no aquecedor da casa, como todos os outros.  No dia seguinte iam cortar o cabelo, com um parente de um deles, me olhou dizendo que eu ficava por último, pois daria mais trabalho.

Todos faziam gozação que tinham tido que sair escondidos, na noite para escapar da família, ele ao contrário com o jeito de frágil que tinha, o mandaram para Istambul, para se livrarem dele.

Quando chegou minha vez, me olhou, tens um cabelos bonitos, mas maltratados, ao contrario dos outros, lavou meus cabelos, começou a cortar, fez um corte especial, segundo ele moderno, me disse se fosse tu, raspava essa barba, garanto que eres bonito por baixo.

Fui honesto, nem sabia mais como era minha cara, tinha barba desde os 16 anos, mal cuidada com certeza.  Quando vi minha cara no espelho, minha cara devia ser de espanto, era uma pessoa que eu não conhecia.   Me disse, não eres bonito, mas simplesmente lindo, com essa cara de macho.

Fiquei surpreso com o comentário, ele fechou a barbearia, saiu conosco, todos comentavam do meu novo look.

Usavam as vezes palavras que não sabia.  Todos tentavam arrumar uma namorada, embora estivessem prometidos em suas vilas de origem.

Ele ao contrário não saiu do meu lado.  Quando o bar ficou cheio de fumaça dos cigarros, com o frio, ninguém saia, eu comecei a tossir, me disse, porque não vamos para fora.

Mal saímos nos metemos numa ruela, para escapar do frio, se abraçou a mim, dizendo, vivo aqui perto, venha vamos nos esquentar.

Entendi a mensagem, embora todos me achasse caipira, só era em algumas coisas.

Mal chegamos a sua casa, colocou lenha na lareira, ficamos sentados no chão conversando.

Ele tinha um sonho, juntava todo seu dinheiro para ir para Paris, queria ser um grande cabelereiro por lá.

Quando vi estava dentro dele, excitado com os gemidos dele. Passei a viver com ele, assim aguentei o inverno juntando dinheiro, ele disse que pelo menos tínhamos diversão, com isso queria dizer fazer sexo.

Quando tive dinheiro suficiente, fui olhar numa agência de viagem como fazia.  O bilhete mais barato era para Münich eu achei bem pois queria aprender a falar alemão antes de chegar a Berlin.  Tinha que me sobrar dinheiro pelo menos para os primeiros dias.  Comentávamos isso um com o outro, pois sabíamos desde o primeiro dia, que chegaria a hora da separação, nossos sonhos eram diferentes.

Fomos juntos tirar todos os documentos, ele me deu uma direção, tinha um velho amigo, riu quando disse isso, não tem o piru igual o teu, mas é bom na cama, que vive em Münich, hoje em dia tem um quiosque de comida turca.  Anotou, falou com o mesmo por telefone, esse ficou de ir me buscar.   Ia dizer que não precisava, pois me viraria, mas insistiu.

Depois entendi por que, tinha um velho carro, um Volkswagen, de segunda mão, mas que parecia um gato rosnando na estrada, disse que o aeroporto era muito longe da cidade, realmente era, um taxi custa uma fortuna, o ônibus, entra em todas as vilas ali perto.  Me levou para sua casa, um pequeno studio, perto do centro da cidade.   Morei em muita merda quando cheguei aqui, isso quem me conseguiu foi um professor que me ensinou a falar alemão.

Lhe falei isso, que precisava de um emprego, bem como aprender a língua, quando muito sabia dizer bom dia, boa noite.

Não se preocupe, meu ajudante um idiota polonês, se mandou outro dia, foi para a França, se enrolou com uma francesa que andava por aqui, foi embora com ela.   Podes ficar me ajudando, te pagarei o salário daqui.  Disse quanto era, o que significava em dinheiro turco.

Nessa noite estendeu um edredom no chão para que eu pudesse dormir, era como se soubesse que não duraria muito tempo por lá.

No dia seguinte, acredito que ele tenha avisado, apareceu para comer o professor de alemão, tinha entre 40 e 45 anos.   Não era nem bonito, nem feio, mas simpático, muito magro.  Me deu seu cartão, me disse aonde morava ali perto, dou aulas durante o dia na universidade, mas de noite estou livre.

O Ghost como se chamava o do restaurante, riu, gostou de ti.

Lhe disse que não tinha dinheiro para pagar as classes. 

Não se preocupe, não viste que ele te olhou de cima a baixo, quer é outra coisa, eu paguei em carne, não essa que vês aí atrás, mas apertou o piru. 

Ri muito.   Sério, pois me pareceu uma pessoa tímida.

Tímida, veras quando te sente em cima do teu caralho. Ele me tinha visto me lavar no studio, o banheiro era num corredor, que servia para todos.

Trabalhei o dia inteiro, de noite ele disse que eu me lavasse bem, aproveitei que não tinha ninguém tomei um banho quente como deus manda, nunca tinha tomado um assim.

Quando me deixou na porta do professor, ele disse na cara do outro, lhe ensine bem, não é só fazer sexo.

Já tinha a primeira aula, preparada em cima da mesa, graças a deus, tinha facilidade em aprender, tinha sido o melhor aluno na escola podre da vila, o que achei raro, porque as vezes me fazia comentários em árabe.  Quando lhe perguntei como tinha aprendido, ele soltou rindo na minha cara, com meus namorados.

Quando acabamos a lição, me elogiou, pela primeira vez posso dizer que essa lição está aprendida, se segues assim talvez te arrume para fazer um curso numa escola.

Sem mais nem menos meteu a mão dentro da minha calça, ri com a cara dele, quando sentiu o que tinha ali.  Como tinha dito o Ghost, quando sentou em cima, ficou como louco, chegava a ser bonito, vê-lo excitado.  Fizemos sexo duas vezes, ele me disse para dormir ali com ele, era uma cama grande, com colchão de plumas, se sentia assim quando dormia com as ovelhas, a diferença era que ele cheirava bem.   Me deu um banho, esfregando cada parte do meu corpo.

No dia seguinte quando saiu para trabalhar, riu, nem falei o meu nome para ti, me estendeu a mão, Georg Landau, sou filho de judeus, meus pais emigraram para Jerusalém, mas depois voltaram para cá.

Quando cheguei no trabalho, vi que minha mochila, estava no Quiosque, imagino que te disse para ir essa noite. 

Ri, sem dizer nada, não gostava muito de falar com os outros a respeito de sexo.  A vida era minha, não tinha que dar explicações.

Trabalhei dois anos ali, vivendo com o Georg, ele estava louco por mim, me comprava roupas, eu dizia que não fizesse isso, que eu não era um gigolo, estava com ele porque queria.

Realmente gostava de estar com ele, quando pude começar a ler um livro, me deu de sua estante dois livros para ler.   Os devorei, agora entendia tudo.  Depois nos sentávamos, discutindo o assunto.   Até tinha me esquecido de Berlin, se sentia bem estando ali, com muita discrição, conseguiu documentos de residência na Alemanha, sabia o quanto era isso difícil.

Amava as noites, que ficávamos, nus, sentando num tapete, comentando alguma coisa que tinha lido num jornal.   Me disse que nunca tinha se atrevido a sair com os que tinha dado aulas antes de mim, pois não sabiam se comportar.   Me ensinou como sentar-me numa mesa, comer com educação.  Como me vestir direito, agora ia numa escola pela manhã, para convalidar o que tinha aprendido, era uma escola para emigrantes.   Logo tinha um título escolar, os professores me elogiavam, como podia ter aprendido, como falava bem, além de me expressar com naturalidade.

Ghost, agora me fazia usar uniforme, porque minha roupas eram melhores que as suas.  Depois dos documentos, Georg me fez abrir uma conta num banco, meu dinheiro ficava totalmente intacto, pois dizia que o que ele ganhava era suficiente para manter a casa.  Agora quando apareciam outros querendo estudar com ele, dizia que não.

Agora fazendo sexo, me chamava de meu amor.  Eu não sabia se o amava ou não, mas estava agradecido por tudo que me tinha ajudado.

Estávamos agora estudando um texto de Bertold Brecht, “A vida de Galileo” que tínhamos visto no cinema de arte.   Ria feliz, nunca comparti nada com ninguém, os homens que tive antes, eram apenas para fazer sexo.  Mas contigo posso compartir coisas.

Já se iam fazer três anos que estávamos juntos, quando um dia indo trabalhar, estava buscando outro tipo de trabalho, pois me aborrecia com os ciúmes do Ghost, quando vi uma filmagem, parei para dar uma olhada, uma mulher me perguntou se eu poderia fazer o fundo de uma cena.

Me colocou dinheiro na mão, venha.  Me disse aonde colocar, de que ia o filme, me colocou numa posição que se me via de perfil.

Quando começaram a rodar a cena, vi que o diretor, sentando nunca cadeira alta, ao lado da câmera, mandava cortar.   Me mandou tirar dali que me levasse até ele.

Rapaz é impressionante, mesmo ao fundo, a câmera te ama, venha ver, mandou rebobinar, que eu olhasse. Não me impressionei, era eu mesmo.

Me disse que era o primeiro dia de filmagem, estavam filmando a pessoa de costa, pois o ator contratado não tinha chegado.   Perguntou se eu podia fazer um teste.

Claro disse, mas rápido pois tenho que ir trabalhar.

Me deu o texto, o li de cabo a rabo, tinha aprendido com o Georg a mentalizar, decorar rapidamente um texto, para poder repetir, as vezes ele me corrigia, mas ultimamente menos.

Entendi o raciocínio do personagem, quando numa sala ali perto, me mandou ler o texto, me disse, não se preocupe com a câmera, simplesmente leia.

Lhe respondi, já sei o texto.

Como sabes o texto?

O memorizei, só uma palavra não sei pronunciar direito, lhe disse qual era.  Me fez repetir várias vezes a mesma, perguntei o que queria dizer, me explicou.

Me colocou ao fundo, me disse que fosse andando normalmente falando o texto, tens que pensar que falas sozinho, me explicou realmente o que queria.

Como uma pessoa que esta sempre só, é isso.   Quase lhe solto, fiz muito isso, falando com meu cachorro, com as ovelhas, numa vida que me parecia completamente distante de hoje.

Sim, fiz o que ele tinha dito, só pronunciei mal a bendita palavra, mas porque era nova, não me parecia encaixar no texto.    Pedi se podia mudar o significado dela, me deixou fazer de novo, em minha cabeça estava na montanha, falando com meu cachorro, falei o texto.   Ele aplaudiu, isso mesmo.

Virou-se para uma mulher que estava ao seu lado, que estava de boca aberta, pois tinha visto a cena na câmera.   Falou ao seu ouvido, ela me perguntou se eu queria o papel, não era o principal, mas disse quanto me pagariam.   Era como ganhar na loteria.

Disse que sim, me deu, o texto completo.   Terás que estudar o texto inteiro para entender, até agora o personagem tem aparecido de costa, porque o ator que o faz, está doente.  Riu dizendo ficará furioso, amanhã trazes teus documentos, para firmarmos o contrato.

A primeira coisa que fiz, foi ir falar com Ghost, não lhe disse do filme, mas sim que tinha outro emprego.  Ficou furioso, me pagou o que devia do mês, apertei sua mão o agradecendo por tudo.   Isso eu sempre seria assim, ingrato jamais.

Fui correndo a Universidade, esperei na porta que o Georg saísse, de um folego só lhe contei o que tinha acontecido.

Riu, perdi o amor de minha vida.  Me pediu para ver o texto, vamos para casa trabalhar isso, foi a secretária, disse que hoje estava mal, que iria ao médico.

Me perguntou se tinha lido o contrato, lhe disse que não.   Amanhã antes de assinares qualquer coisa, leio para ver o que há entre a letras pequenas, me disse o que era.

Passamos o dia inteiro fazendo sexo, trabalhando o texto, me dei conta que se minha vida mudasse, eu o perderia, não tinha certeza ainda se o amava, mas estar com ele, era o melhor que me tinha passado, não queria abrir mão disso por enquanto.

Trabalhamos o texto sem descanso, até que entendi como ia a história. No dia seguinte, chegamos cedo para a prova de vestiário.  A mulher se surpreendeu, que eu viesse acompanhado, lhe apresentei o Georg, dizendo que ele me representava, se eu tinha que assinar alguma coisa, ele tinha que ler antes.

Leu o contrato todo, com uma caneta, sinalizou algumas coisas.  Virou-se muito sério para ela, dizendo que deveria revisar esses termos.   Quero saber quanto ganha o principal, pois esse valor me parece baixo. 

Para mim era uma fortuna, mas o deixei negociar.  Adorava esse seu jeito sério de analisar as coisas.    Me dei conta nesse momento que eu era um fruto de seu trabalho, que devia demais a ele.

O diretor queria fazer a primeira cena, disse ao Georg, seu representado, engole a câmera, veja como faz.

Me disse o que queria, eu deveria vir andando pelo jardim, falando sozinho, tenha os ombros um pouco curvados, acabas de receber uma má notícia.

Deves falar o texto até a linha tal, lhe disse que para o contexto as duas seguintes frases, encaixavam mais nessa linha de pensamento.   Ele olhou ao Georg, dizendo, ele entendeu perfeitamente o texto.

Me colocaram aonde devia estar, me esqueci completamente que tinha um microfone por cima de mim, disse uma frase, para saber se o som era bom, me disse, se não ficar bom depois fazemos como uma dublagem.  Me coloquei, tinha a imagem da cena na minha cabeça.

Imaginei como se não tivesse conseguido escapar da minha vila, que meu cachorro estava ao meu lado, que ia falando com ele.  Mas sem olhar para baixo, tinha um andar compassado, como fazia descendo a montanha, tinha que tomar cuidado.

Quando escutei corta, tinha falado as duas frases que tinha dito para ele que estavam dentro do contexto.

O câmera, me fazia um sinal positivo. 

Ele me perguntou se eu era capaz de repetir, pois queria me filmar desde cima, a mesma coisa, fizemos como ele queria, depois disse que tinha ficado impressionado, me perguntou se eu tinha feito cinema antes, pois tinha repetido as mesma entonações que tinha feito primeiro.

Tenho um bom professor, lhe indiquei o Georg.   Sou turco, ele me ensinou a falar alemão, ontem lemos mil vezes estas frases, buscando o sentido delas, analisando cada palavra, ele foi até o Georg, apertou sua mão, perguntou se ele podia estar nos outros dias da filmagem atendendo algum outro ator, pois um não era capaz de memorizar o texto.

Ele pediu um tempo na universidade, finalmente assinei o contrato, com o dobro de que tinha me dito a mulher.

Escutei a mulher dizendo a ele, assine um contrato como seu representante, pois tens um ator de muitos quilates na mão.

Nessa noite falamos sobre isso, algumas cenas serão aqui, mas o resto será em Berlin, se acabou o nosso.

Num ato instintivo, o abracei, lhe perguntei por que não vinha comigo, eu precisava dele, contigo entendo tudo, não quero me separar de ti.

Tens certeza disso, me queres como teu representante?

Sim quero, mas o importante é o que tu queres?

Adoraria, isso seria mudar minha vida, posso ajudar os outros atores, dar aulas de dicção aos mesmos.   Ia amar, sabes como gosto de cinema.

No dia seguinte como tínhamos uma cena mais tarde, fomos a um advogado, ele fez um contrato como o Georg como meu representante, o assinei sorrindo.  Depois fui provar a roupa que devia usar, enquanto ele ia a universidade batalhar por uma excedência.

Chegou justamente quando um outro ator, quase voava no meu pescoço, porque não conseguia falar sua frase, estava mais nervoso do que eu.  Isso que era um ator que eu tinha visto num filme recentemente.

Disse que tinha visto seu filme, que o achava monumental, isso pareceu o relaxar, me disse que o que lhe atormentava era uma palavra, me disse qual.  Eu ri, quem escreveu esse texto tem mania dessa palavra.   Quando me filmaram a primeira vez eu tinha que dize-la, tampouco conseguia, mudei para esta, ensaiamos, ficava melhor.

Não diga nada ao diretor, simplesmente diga como ensaiamos.

Fizemos a cena, o diretor, ficou apontando o dedo para mim, fizeste de novo.

Quem escreveu esse texto senhor.   Ele riu, eu mesmo.

Vejo que tem algum problema com essa palavra, o que significa para o senhor, começamos uma discussão, que acabou num restaurante. Até o Georg parecia estar no seu meio, pois discutia o uso da palavra.  Ao final lhe lançou uma pergunta, o senhor crê que a plateia, que é o objetivo final, vai entender essa palavra.

Ele riu, virou-se para sua ajudante, teremos que mudar o nome do filme.   Essa palavra aparecia tanto, porque era o título que tinha escolhido para o filme.   Ele fez uma coisa que ninguém esperava, ia de mesa em mesa, perguntando as pessoas, se sabia o que queria dizer a palavra, nos ficamos rindo aonde estávamos, porque todos balançavam a cabeça dizendo que não.

Só um respondeu que sim, porque era professor de literatura numa escola.

Tens razão Georg, me enganei.

As vezes chegávamos, ele chamava rapidamente o Georg para discutir algumas falas. O trabalho ficou mais fácil.

Eu agora entendia a história inteira, fazia logica na minha cabeça tudo o que tinha que falar.

O outro ator, disse que contracenar comigo era fácil.

Eu nem sabia o quanto era famoso, até que depois de chegarmos a Berlin, cada vez que saíamos para filmar, ele tinha que dar autógrafos, me dizia aprenda, tens que faze-lo, pois com eles ganhas o teu pão.

Estávamos hospedados num hotel de luxo, lhe disse ao Georg, que não me sentia à vontade lá.

Agora esta é tua nova vida, eu inclusive sou teu empregado, o gigolo agora sou eu.

Pediu um apart-hotel, pois eu não me sentia a vontade ali para ensaiar.  Os da produção gostaram, havia um ao lado do studio.

Dois dias depois, vi que ao lado do diretor, estavam um senhores, um deles discutia com o diretor, Georg que estava ali como se nada, escutava tudo.

Me contou depois que era os produtores, que o que falava era o representante do ator que eu tinha roubado o lugar.

Cancelaram a filmagem da tarde, nos fizeram sentar no fundo do lugar aonde reviam as cenas, mostrou porque tinha trocado de ator, se fosse pelo seu representado, ainda o estaríamos esperando até hoje.

Me ver na tela, me deixou nervoso, era como ver outra pessoa, que não era eu mesmo, entendia agora mais do que nunca o texto.  Mostraram a cena caminhando falando sozinho, quase podia ver meu cachorro ao meu lado, as lagrimas corriam pela minha cara, mas tarde confessei ao Georg o que tinha sentido.

Os produtores deram razão ao diretor, um deles veio falar com o Georg, em seguida, apontava para mim, lhe passando um cartão.

Mais tarde no camarim, me disse que era para fazer teste para outro filme.

Quando houve uma folga, fui procurar meu irmão.  Estava gordo, nem se parecia com quem eu me lembrava, tinha um comercio no bairro.    Me apresentou sua mulher, bem como a escadinha de filhos que tinha.  Lhe perguntei a parte como fazia para mandar dinheiro para lá, disse que nosso pai tinha uma conta no banco na cidade vizinha.  Que lhe mandava uma carta, que este ia comprando terras para ele.

Quando lhe contei que estava fazendo um filme, me abraçou, apertado, terei um irmão famoso, me parecia um absurdo.   Quando saímos de lá, pois tinha ido com o Georg, ele ria, não falaste nem um minuto em árabe, só em alemão.   Me dei conta que sim, que minha cabeça funcionava em outro idioma.

Na volta, me disse que lhe tinham mandado o texto, que estava lendo, que já me passaria, o melhor, é terminar essa filmagem, assim se veem o copião inteiro, será mais fácil discutir o salário. 

Continuávamos levando nossa vida, um dia me disse que tinha medo do dia que eu me cansasse dele.   O que não era uma verdade, eu logo pensava, com quem iria falar, discutir coisas.

Fomos ver uma montagem justamente no teatro Brecht, foi glorioso, eu estava emocionado demais, gostava, nunca tinha ido ao um teatro, lhe disse ao Georg, quero fazer isso.

Nada é impossível, tens o dom da palavra.  Vamos conseguir um professor para ti.

Nem pensar, meu professor eres tu.

Nessa noite o amei com paixão, pois ele tinha me dado esse mundo novo.   No final estava alucinado.  Me disse apenas, temos que manter uma aparência, não deves demonstrar nada em público, mas no nosso particular sempre.  

Teria agora que dar entrevistas, lhe disse que me negaria falar sobre mim. Posso contar minha vida antes da Alemanha, mas nossa vida particular era só nossa.   Ele já tinha percebido isso, que eu não gostava de comentar nada do que passava entre nós.

Talvez sem querer eu já preservasse minha intimidade.

Me disse que tínhamos que falar do próximo texto, terás cenas com uma atriz bem conhecida, tens que aprender a te relacionar com uma mulher, vou ver se consigo alguém para te ensinar.

Ele sempre pensava em tudo, conseguiu uma puta fina, para me ensinar a fazer as cenas, o mais importante, como beijar, demonstrar que tinha paixão, como estar nas cenas de sexo na cama.

Foram verdadeiras aulas.  Foram vários dias, me trouxe outras mulheres, nunca podes pensar só em uma.

No final, soltei na cara dele, prefiro estar contigo, como gostava de estar com o Salim.

Começamos a estudar o texto, para a prova.  Isso seria com a atriz junto. A mulher que ele tinha contratado, contracenou comigo, era muito mais velha do que eu, ele tinha sido experto, ela tem a mesma idade da atriz, só que essa já fez uns quantos consertos na cara.

O filme já tinha terminado, estávamos procurando um apartamento, teria que ter dois quartos, um para mim, outro para ele, montou o seu, como se fosse um lugar para estudar textos.

Era tudo muito simples, já vinha com tudo.

Fui fazer o teste, a mulher que me tinha ajudado, me disse, preste atenção, nas mãos dela, verás que não corresponde a idade da cara, bem como olhe aqui, mostrava os seios.

Era uma cena dura, ela estava com o texto nas mãos, não o tinha decorado, tinha uma mulher ao lado dela, que ia consertando o que dizia errado.

Mesmo assim cometia erros.

Eu ao contrário, tinha o texto na ponta da língua, era uma briga entre um casal, tinha que ser meio violento. Georg me disse como tinha que fazer, tinha ensaiado com a mulher, que se tornaria minha companheira de ensaios, depois conseguiria para ela, pequenas participações em filmes.   Me dizia, conseguiste arrumar minha aposentadoria.

Me explicou como eu devia fazer, a segurar, mas com um simples toque dizer quem mandava na situação, a atriz se surpreendeu tanto que perdeu a fala.

Finalmente encontro alguém que sabe contracenar, mostrando a violência, sem me maltratar.

Logo chegou à estreia do filme, meu nome aparecia Zakaris Stikir, me entrevistaram, não podia esconder minhas raízes turcas, claro era mais moreno que os outros.

Quando depois falavam como ia o filme nos cinemas, o diretor dizia que fazia muito sucesso nos bairros turcos de todas as cidades.  Que já tinha vendido o mesmo para a Turquia.

Fomos selecionados para Cannes, para o próximo filme o salário era maior, Georg, recebia de mim, conforme nosso contrato, 15%, mas fazia questão, que ele recebesse 20%.  Na cama dizia tenho que satisfazer, meu senhor melhor.   Seguíamos nos descobrindo sexualmente, nunca imaginei fazer isso que fazemos com os que ensinei alemão.

Estudamos o texto como loucos, havia cenas que não gostava, mas estavam dentro do contexto, fui anotando palavras, que sabia que as pessoas normais, não iam entender, quando falei com o diretor, abriu a boca, pensou para falar.

Mas argumentei, como tinha feito antes, uma das falas da atriz que eu me devia sentir ultrajado, lhe perguntei se tinha mulher, se tinha alguma vez discutido com ela a respeito, se usava essas palavras, no cenário todo mundo dizia que eu tinha razão.

Ele me respondeu, com outra pergunta, tens mulher?

Não, mas duvido que alguém falasse assim com a sua, andei consultando mulheres nos supermercados, nas praças, para compor meu personagem, nenhuma disse que usaria essas palavras.

Irritado, virou-se para mim, perguntado se eu tinha conversado com turcas.   Entendi a ofensa, ri, não senhor, o personagem é uma alemã, uma turca seria submissa, esse texto não encaixaria na vida delas.

A atriz concordou comigo.

Fizemos todas as cenas, ela disse ao final da primeira cena na cama, que eu tinha um jeito especial de tratar as mulheres.

Havia uma cena com uma puta, Georg, colocou nossa amiga Valeria, ela era de ascendência italiana, para fazer a mesma, antes combinamos, o homem estaria mais livre nessa cena que com sua própria mulher.   A cena ficou boa na primeira toma.

Uma cena teria especial dificuldade, era o marido conversando com os filhos, porque saia de casa, eram crianças, tinha contracenado com eles em cenas corriqueiras.

Eu tinha o sentido da mesma, mas os meninos eram indóceis, o diretor teve que falar várias vezes com eles, um deles soltou, nenhum pai fala assim com seus filhos, essa cena parece de Disney.   Eu concordei com o garoto, acabei ensaiando com eles a parte como pensavam, pedimos liberdade ao diretor para fazer, era o filho mais velho, ele tinha criado um argumento em cima do texto, dizia que vinha justamente disso, pais separados.

Quando o fizemos, foi de uma toma só.  Até o diretor aplaudiu.  Como conseguiste isso, me perguntou?

Lhes dei liberdade para discutirmos isso, os garotos de hoje, não são idiotas como os da nossa geração, embora o diretor fosse mais velho.  

Tens razão, o escritor tem uma certa idade, não me dei conta disso, ao transportar para os dias atuais um texto antigo.

Um dia nos avisou que teríamos uma entrevista na televisão, teríamos que estar sentado, como se fossemos uma família.

Uma dessas jornalista de revista do coração, fez as perguntas mais idiotas possíveis, o garoto que era um adolescente, quando lhe perguntou uma coisa idiota, lhe respondeu com todo respeito, a senhora crê que um jovem da minha idade lê a sua revista, ela esta dirigida só as senhoras velhas, solteironas, que não tem vida própria, nossa geração lê outras coisas mais interessantes.  Porque a senhora só faltou me perguntar qual a cor da minha cueca, abriu a braguilha para mostrar.  Acabou que os outros jornalistas riam.  Quando me perguntou sobre minha vida particular, mudei de assunto como o garoto.

Virou-se então perguntou para minha parceira, como era comigo nas cenas da cama.

Ela riu, sempre a mesma pergunta, anotem todos, como o que eu diga não saíra na matéria, ora como seria uma cena com um homem na cama. Coisa mais ridícula.

A mulher deixou de fazer perguntas, mas quando outro jornalista fazia perguntas interessantes sobre o filme, ela copiava as respostas.

Minha companheira soltou depois que estávamos só nós, que ela era uma velha jararaca, da época, que todo mundo queria saber o que se fazia na cama.

O garoto disse que só sua avó que tinha 80 anos lia essa revista, para depois dizer, quanta bazofia, que a comprava por causas das receitas.

Tinha me saído bem nas minhas resposta, segundo o relações públicas do filme, iria com o outro filme agora a Cannes, depois ao festival de Veneza.  Georg ficava em segundo plano, no de Veneza, ganhei o de melhor ator novo. Quando me entregaram o prémio, agradeci a todos, mas especialmente ao meu professor, a quem devia tudo, inclusive saber usar as palavras direito.   Ele ficou vermelho como um pimentão.

De noite na cama, nunca imaginei que fosses falar de mim.

Ora Georg, se eu devo tudo a ti, como não vou agradecer.

O segundo filme agora também estava em pós produção, quando me convidaram para fazer um filme, que ao ler o texto Georg ficava com o lápis em suspenso, sinal que tinha dúvidas.

Quando lhe perguntei o que passava, me disse que podia ser uma faca de dois gumes, pois era sobre um policial, inspetor de polícia, que era homossexual, que devia contracenar com um ator que era conhecido por uma série de manias, além de ser famoso.

O bom saber seria conversar com ele, porque aceitou esse tipo de papel.  Marcamos de tomar um café.

Eu já tinha visto filmes com ele, na noite anterior, vi o último, era como se tivesse visto os filmes anteriores, já entendia, queria mudar sua maneira de representar.

Nos apertamos as mãos, pedimos café, Georg fez questão que eu me virasse sozinho.

Meu agente diz que não entende por que o senhor, aceitou fazer esse filme, mas ontem vendo um vídeo de seu último filme, creio que entendi.   Longe de mim faltar com respeito ao senhor, mas queria entender melhor.  Se for o que estou pensando, aceitarei fazer o filme.

Solta de uma vez, garoto.   Nossa diferença de idade era grande.

Acho que estas farto de fazer o mesmo tipo de papel, eu estaria, creio que não tens prejuízo, mas sempre lhe enfiaram goela abaixo esse tipo de papel, macho alfa, em que tem que ser o bom do filme.   Nesse não, pois inclusive no final se descobre que é um corrupto.

Muito bem observado, além de que, já estou farto que me pergunte, porque nunca me casei, que apareço nas estreias sozinho.  Já não aguento mais estar dentro do armário, sou gay, nem por isso, creio que representarei uma pessoa afetada, acredito no amor de dois homens. Vivo com o mesmo a mais de 15 anos, estou farto de ter que esconde-lo.

Ficamos rindo, falamos sobre os personagens, pois eu de uma certa maneira discordava do final do filme.

Ele tinha uma lista coerente, veja, tanto o que escreveu o roteiro, como o diretor, não acreditam que o romance entre dois homens possa acabar bem, é como se dissessem que um sempre como o cu do outro, um é o machão, outro tem que ser o frágil.  Mas podemos dar uma representação normal dos personagens, podíamos dizer isso a eles.  Esta baseado num livro, verás que o final, os dois, fogem com o dinheiro que conseguem para viver numa ilha paradisíaca.

Saímos dali, passamos numa livraria, me perguntou se gostava de ler, lhe respondi que sim, leia, depois nos falamos por telefone, podias vir como professor a minha casa, para discutirmos isso.

Falei com o Georg, lemos o livro, para debater.  Depois fomos a um almoço na casa do Paul Brast, seu amante era seu advogado.   Conversamos, nenhum dos dois tinha ainda assinado o contrato, pedimos um encontro com o diretor, o roteirista, além do produtor principal.

Levamos pelo menos cinco horas discutindo em cima do texto, os dois tínhamos o livro em cima da mesa, assim não podiam dizer que não tínhamos aonde nos basear.

Acabaram concordando em mudar as cenas.

Fizemos um teste de câmera, o diretor ria, os dois tem a mesma coisa, devoram a mesma.

O filme foi um tour de force, quando fomos gravar a cena final numa ilha grega, ele tentou fazer sexo comigo.   Lhe disse que nem pensar, ele tinha um compromisso sério.

Ficou me olhando, realmente eres o que pensei, um homem honesto consigo mesmo. Apertou minha mão, depois o vi fazendo sexo com um homem da vila. 

No dia seguinte lhe perguntei por quê?

As vezes necessitamos de emoções, para sentir que estamos vivos.

Eu entendi, mas não podia dizer nada, realmente o Georg era tudo que eu queria.   Um dia lhe perguntei se nunca tinha querido me fazer de passivo.

Olhou na minha cara, respondeu, muitas vezes, mas tinha medo de te ofender.

Fiquei furioso, como ofender, pensei que o que temos, estava baseado numa cumplicidade, que podias dizer o que queria na cara, eu sempre confiei nisso.  Fiquei chateado, nessa noite o provoquei, até que ele me penetrou, nunca tinha pensado no prazer disso, Salim o tinha feito, mas de maneira quase de um adolescente.

A partir desse momento nossa cumplicidade ficou melhor.

Quando começamos a ver o trabalho de edição, o diretor soltou, vai ser difícil, quem vai ganhar mais prêmios.   Antes da estreia, nos sentamos para conversar a respeito.

Na entrevista a mesma idiota, nos perguntou que tal era nos beijar na boca, lhe respondi que diferente, pois ele fumava muito, que o sabor da marca do cigarro dele era má.

Ficou com cara de idiota, ele foi pior, perguntou a quanto tempo ela não dava um beijo, se tinha já beijado uma mulher, se não tinha feito, devia, veria que tudo era a mesma coisa, a não ser que a mulher tivesse bigode.

Os dois filmes que me ofereceram em seguida, era com conotação gay, mas tontos, tipo comedia, disse ao Georg que não queria fazer.  Minha conta no banco era enorme, uma noite sonhei com minha montanha, aonde pensava no que faria se tivesse oportunidade, na estreia do filme tinha mandado convites para o meu irmão, mas não apareceu.  Fui até sua loja, mandou as crianças subirem.  Falou duramente comigo, como tinha podido fazer esse filme.

Na hora não entendi, estas confundindo o personagem comigo, me mostrou uma revista em que aparecia dando um beijo no meu parceiro.

Lhe disse que isso era cinema, que mal tinha, pois eu me lembrava de pequeno ele na cabana, beijando um vizinho.  Ficou furioso, me mostrou a rua, não queria que eu fosse mal exemplo para seus filhos.

Por tua culpa Salim, pagou o pato.  

Perguntei o que queria dizer, me disse, que numa discussão Salim tinha me defendido, que isso era cinema.  Seu sogro que estava furioso porque não dormia com a filha, para lhe fazer um filho homem, tinha três garotas.  Que seu rebanho não ia em frente nunca.

Tomou uma decisão temerária, perguntou se o Georg queria ir conhecer a Turquia que ficava no fim do mundo.   Foram até Istambul, alugaram um 4X4 potente, foram em direção a aldeia, ele foi contando tudo como tinha sido sua vida antes, da amizade com o Salim, que não tinha conseguido escapar, por ter sido tracionado, que tinha sido obrigado casar-se com uma mulher a quem não queria, que tinha três filhas, que algo tinha passado com ele por sua culpa.

Quando estavam entrado na vila, todo mundo parava para ver o carro dele, era ostentoso para a região, reconheceu o Salim, descendo a rua, algo encurvado, colocou a cara para fora do carro gritando seu nome.  Quando ele se virou, ficou horrorizado, tinha uma cicatriz imensa na cara.

Parou o carro, desceu para abraçar o amigo que estava estático.

Este com a cabeça no seu ombro, disse, eu sabia que vinhas me salvar, o fez entrar no carro, disse ao Georg, como subir a montanha.

Salim disse que quando o tinha defendido o sogro o acusou de homossexual, levou toda suas ovelhas, bem como mulher, filhas, os pais lhe expulsaram de casa, agora as crianças me atiram pedras, vivo quando não está ocupada na nossa cabana.

Salim, a quem pertence essa montanha, ele disse o nome de um homem que vivia na vila ao lado.   Nem tente falar com tua família, teu pai, comprou mais terras com o dinheiro que mandas, mas é o primeiro em atirar pedras.

Sentou-se ali em cima, olhando tudo, agora com distanciamento podia, ver como era sua vida antes, sem futuro.

Tentou falar com a família, que ao saber que ele estava na vila, fecharam a casa a cal e canto, para que ele não entrasse.

Não perdem por esperar, fora a vila ao lado, procurou o homem que Salim tinha dito que era o dono da montanha.    Realmente era, vivia de alugar os pastos dela, não tinha família, lhe fez uma proposta por ela.

Ele perguntou por quê?

Contou o que fazia ali, me sentava para meditar, para pensar no que poderia fazer da minha vida.

Eu fazia o mesmo dizia o homem, mas sempre fui um covarde, me casei com uma mulher que não queria, tive um filho que escapou quando podia, eu fui ficando, minha mulher era dessa vila, vim viver aqui, passei a alugar os pastos, já não tenho rebanho.

Comprou a montanha em nome do Salim, mas antes vamos fazer uma coisa meu amigo, vens comigo por um tempo.

Em Istambul, conseguiu um cirurgião, que lhe fizesse uma operação estética na cara.  Conversou muito com o amigo. Esse entendeu que o Georg era seu amante, nunca tentou se aproximar do velho amigo.  Quando foste embora, perdi minhas esperanças, desconfiava que tinhas como fugir, mas eu fiquei, sentia tua falta disso tudo,

Quando voltaram se hospedaram na casa do homem que tinha vendido suas terras, ele tinha avisado dos que a alugavam que tinha vendido a mesma, que já não podia levar as ovelhas para lá.  Quando Salim apareceu com a cara refeita, com cinquenta homens das vilas ao lado, para cercar a montanha, todos reclamaram.

Mas foi ele que apareceu para chamar a todos de hipócritas, foi falando um a um, que tinha visto na cabana com outro homem, todos eram pais de família, todos estavam ali. Como puderam fazer isso ao meu amigo desde criança, que sempre me defendeu dos outros garotos.  Imperdoável, a menos que peçam desculpas a ele, vou contar a todas vossas mulheres, o que faziam ali.

Alguns abaixaram a cabeça, outros não, era arrogantes, seu pai inclusive, teu irmão mais velho foi impecável.  

Ele replicou, por lhe mandar dinheiro todos esses anos, pois ele foi o primeiro que vi com outro homem, passei a achar a coisa mais normal do mundo estar com outro homem.

Vivo com um, apontou o Georg, que ficou vermelho, meu professor, amigo, que me ensinou tudo o que eu sei.  A montanha é do Salim, se querem usar os pastos, tem que pedir desculpas a ele.

Seu pai estava furioso, isso de estarmos com outro homem, é uma coisa normal, pois nunca tivemos putas por aqui, mas defender o homem com que tenha estado, isso não.

Pois a ti, te toca levar as ovelhas mais longe que a montanha.

Ele saiu batendo a porta.   Contratou homens para vigiarem a montanha.  Pagava bem a cada um.   Mandou construir no alto uma cabana, para o Salim.   Abraçou o amigo, lhe deu seu endereço, agora ele tinha um rebanho de primeira, para recomeçar sua vida, qualquer coisa me procura.

Georg quando tomavam o caminho para voltar, lhe disse, como a ti, nunca vi ninguém, eres mais homem que todos eles.

Como tinha contado tudo ao Georg, ele escreveu uma história.

Falou com cineastas de origem turcos, para ver se algum se interessava em fazer o filme, mas todos tinham medo de ofender aos que viviam nas vilas.

Enquanto isso ele fez mais dois filmes, tinha um convite para fazer um em Hollywood, mas ao ler o roteiro, disse que não, era um filme corriqueiro que falava sem profundidade num homem que tinha feito um atendado numa mesquita.

Imaginava que o filme despertaria interesse, mas o achava uma provocação, o ator que acabou fazendo o filme sofreu um atentado durante a filmagem, quase morrendo.

Ele tinha decidido jamais aceitar um filme com esse conteúdo.   Fez sim um filme, em que um turco, que depois de viver anos na Alemanha, retorna a sua vila de Origem, uns o invejam, outros o idolatram, mas ele se sente apátrida, pois nunca encaixou na Alemanha, aonde falava muito mal a língua, bem como não encaixa outra vez na sua vila.   A cena final, tinha tudo a ver com ele, era a imagem contra a luz, como que recortada, do homem no alto de sua montanha, a beira de um princípio, falando sozinho, de repente a figura se inclina para frente, simbolicamente cai no precipício.   O filme era comovedor, ele conseguia transmitir a confusão do emigrante chegando a um pais distante, em que ele não entende nem uma palavra, todo seu sofrimento, contando as moedas como gotas de um sonho, sua volta rica, mas lhe confunde que nesse tempo todo, nada evoluiu.   Tampouco tem nada a ver como lugar que partiu.  A crítica alabava seu trabalho.

O filme foi candidato ao Oscar, como filme estrangeiro, pela Turquia, pois o diretor, era de lá.   Assim se sentia seu pai, ao voltar a sua vila, tinha lhe contado tudo isso, nas entrevistas dizia meu pai, nunca falou um alemão perfeito, para os outros era difícil entender o que as vezes queria dizer.   Mas fez tudo para que eu tivesse estudos, pudesse ir à universidade, que era seu sonho. Que descanse em paz.  Ele bem como o George eram produtores do filme.  Algumas universidade incluíram o argumento nos estudos, pois tinham muitos alunos de origem, que renegavam totalmente suas origens.

O filme que o Georg tinha escrito, foi ficando relegado sempre para trás.  Ele aceitou participar de uma série com seu amigo Paul.   Eram dois detetives, que tinham sido amantes no passado.   Um tinha ascendido, brilhantemente na carreira, mas vivia só em amargura, o outro tinha conseguido montar uma família, complicada, mas sua família.

Quando o velho companheiro se aproxima, outra vez, para uma investigação, o embate entre eles é poderoso.

A diferença de idade dos dois agora era patente, o Paul, lhe agradeceu ter sugerido seu nome, pois a muito tempo não lhe apareciam papeis interessantes.

Quis montar um texto de teatro, mas ninguém quis fazer comigo.  Ele quando leu o texto, disse que o faria, Georg seria o diretor.  Um velho sonho que tinha.   Alugaram um teatro pequeno para ensaiar, pois acreditavam que não fariam sucesso, mas ao contrário, ficaram anos em cartaz, não quiseram mudar de teatro, pois esse lhes dava o espaço perfeito para a obra, um enfrentamento entre um velho gay, que vê como seu amante mais jovem, vais fazendo o sucesso na vida que ele ansiou.

Mas o chantageia para não ficar sozinho, o jovem se afasta, justamente por isso, por estar sendo chantageado, não porque tenha deixado de querer ao outro.  Mas no final, volta, para cuidar do mais velho, nos seus derradeiros momentos, que é do meio para o final do espetáculo, quando falam tudo sem medir a linguagem.  Quando propuseram levar para o cinema, se reuniram, para falar do assunto.   Achavam que se perderia a cumplicidade do texto.  O autor, sim vendeu por necessitar de dinheiro os direitos ao cinema.   Foi um fracasso total, pois os atores, não davam o que o texto pedia.

A amizade entre eles agora era imensa, apesar da diferença de idade, se davam bem.

Quando o amigo lê o texto, do Georg, disse que faria qualquer papel no filme. Propuseram ao diretor que o tinha dirigido no filme sobre o retorno, que fizesse a direção do mesmo, mas que fariam o filme em outro lugar.

Teriam que escolher atores jovens para fazer os papeis quando jovem, claro o texto era diferente, um fica, outro vai, acaba tendo sucesso, como dono de restaurantes, mas volta para salvar o amigo.

Como ia ser feito em outro lugar da Turquia, ele aproveitou para visitar o amigo, mas foi sozinho pois Georg, estava trabalhando na produção do mesmo.

Está na cabana do amigo, quando escuta alguém lhe chamar, é um rapaz da mesma idade que eles tinham.   É teu irmão mais novo, nasceu da segunda mulher de teu pai. Vem sempre aqui falar comigo, querem que se case, mas ele está desesperado para ir-se daqui.

Foi como olhar num espelho, perguntou se tinha muita coisa como bagagem, ele mostrou só o cajado de se apoiar para levar as ovelhas, meu cachorro.   O mesmo veio se colocar aos pés meu pés.

É um dos muitos netos do teu cachorro.  Se despediu do Salim, disse ao irmão, tu te deitas no carro, o cachorro subiu junto.

Depois que saíram da vila, ele perguntou ao irmão qual o sonho que tinha para realizar sua vida. Este ria, nem acredito que começa meu sonho, quero estudar línguas, saber escrever, isso tudo.

Georg foi como se tivesse encontrado um filho, o orientou, começou a ensinar alemão para ele.

Ele sabia ler e escrever, mas tinha como seu irmão, facilidade para aprender.  Tinha menos idade que o irmão, mas podia tirar seus documentos.

Quando acabaram a filmagem na Turquia voltaram para a Alemanha, ele como George, seguiam vivendo no mesmo apartamento, agora o que faziam de conta que era o quarto do amigo, ficou para o irmão.   Logo ele fazia provas para entrar para a universidade, depois de um ano estudando, fazendo provas para alcançar os outros alunos.  Segundo Georg, ele era brilhante.   Um dia recebeu uma chamada do irmão que nunca mais tinha visto.  Esse fez um drama, que o pai, quase tinha morrido ao saber que seu filho preferido tinha partido. O filho que esperava que cuidasse dele na velhice.   A resposta que deu foi contundente, porque não vais tu, que é o filho mais velho, cuidar de teu pai.

Do outro lado, não houve resposta.   Tempos depois soube que o irmão tinha ido, mas que não tinha aguentado muito tempo, pois o velho continuava chantagista, lhe infernizava a vida, não se adaptava mais a vida ali, estava acostumado a Alemanha, acabou voltando com o rabo entre as pernas, mas nunca mais voltaram a se falar.

O filme depois de editado, na fase final, era um embate glorioso, entre os dois atores, tinham conseguido com o trabalho no teatro, uma cumplicidade em cena impressionante.

Foi bem recebido pela crítica, os dois ganharam como melhor ator no festival de Cannes, o mesmo acontecia sempre por aonde ia o filme.

Buscavam desesperadamente um texto para o teatro, quem lhes deu a solução, foi o sobrinho, com seu primeiro texto.   Tinha escrito o livro, mas fazendo um curso de roteiros, tinha adaptado o mesmo para teatro.

Era mais ou menos a história que ele imaginava da vida do tio, ao encontrar o Georg. Uma vez tinha visto os dois conversando, lembrando-se quando se encontraram em Munich, tinha escrito a história baseado nisso, claro com sua imaginação.

Georg estava agora com quase 80 anos, mas entre os dois seguia a cumplicidade.  O afeto que os unia era impressionante.

Meses depois da estreia Georg teve um enfarte, morreu quase em seguida, tinha deixado um testamento vital, não queria que lhe prolongassem a vida, tinha vivido um sonho, queria acabar como o mesmo. 

Foi uma perda difícil de digerir, mas aguentou o embate, adorava o trabalho que fazia, o teatro para ele agora era uma coisa vital, esse contato em saber que as pessoas estavam ali escutando o que diziam, era mais poderoso que o cinema.

Um dia conversando discutiam se o Rei Lear de Shakespeare fosse para dois atores o faziam.

O pequeno Ismael, como o chamava, disse, que iria pensar no assunto.

Revisou o texto real mil vezes, podia fazer uma adaptação, a partir de uma frase da mesma, quando o Lear, diz, aonde fui que eu errei.

Era um Rei Lear velho conversando com seu fantasma de jovem, mais iam tocando todas as fibras das coisa que aconteciam no original, porque tinha acabado daquela maneira.

Rodaram Alemanha inteira, quando chegaram a final da linha, já em Munich, Paul, disse, para mim basta, acabei por todo o alto, estavam a mais de três anos na estrada.

Ele tinha feito dois filmes nos intervalos de uma cidade e outra, não que fossem filmes maravilhosos, mas tampouco eram papeis como antes.

Passeou muito por Munich contando a Ismael, como tinha sido ser chegar ali, como tinha conhecido o Georg, inicialmente era uma maneira de pagar o que me ensinava, mas logo me apaixonei por ele, pois realmente estava me abrindo o mundo.

Quando voltaram a Berlin, lhe chamaram para fazer uma série interessante, que era sobre a segunda guerra, o quanto Turquia tinha apoiado Hitler.   Ele fazia o papel de um general, que era contra isso, que se transformava em um espião para os aliados.

Como as rodagem acabavam em Istambul, foi visitar seu amigo Salim, estava a mesma coisa, passou uns dias com ele por lá, sem sequer descer a vila.

Trocaram confidencias, Salim lhe contou que nunca tinha podido o esquecer, que muitas vezes se masturbava pensando nele.

Mas ele tinha lembranças dessa época, o que fez lhe bem mesmo, foi subir a sua pedra, olhar para trás, pensando em tudo que tinha conseguido, o amigo ficava de longe o admirando. Quando a mãe do Ismael, subiu para pedir notícias do filho, comentou que era respeitadíssimo, com livros, peças de teatro, no momento estava escrevendo uma historia que seria uma série de televisão.  Viu que a mulher ficava contente, sempre me manda dinheiro.  Começou a rir, no dia que ele subiu a tua procura, fui eu que lhe disse que era sua chance, ou ficar aqui aturando esse velho que vai fazer da tua vida um inferno.  Me olhou espantado, lhe disse que sabia que sonhava com isso, eres como ele, não perca teu tempo, nem olhe para trás.   Fico contente que o tenhas ajudado.   Teu pai, até na hora de morrer, reclamava de tudo, o mais divertido, foi que reclamava como ia entrar nas terras de Alah, com aquelas roupas velhas.   Mas nunca comprava nada, tinha duas roupas, quando uma estava suja, tirava para lavar. Mas não queria pelo menos se limpar.

Foi ele quem fez maldade com o Salim, menos mal que o ajudaste.   Cada vez que tinha que pagar, para as ovelhas subirem reclamava, que por direito estas terras eram dele, pois tinha sido seu filho que tinha comprado.   Falei com Salim que não abrisse mão, fui amiga de sua mãe, o seu pai também era um bom filho da puta.  Porque não vens visitar seu filho.

É muito longe, não quero que ele passe vergonha por minha causa.  Mas a convenceu, vivia sozinha na velha casa que caia aos pedaços.

Para ela subir no avião foi todo um acontecimento.   Lhe comprou roupas novas em Istambul, riam os dois da experiencia.

Quando viu seu filho em Berlin, suas pernas afrouxaram, mas os dois a ajudaram, não parava de passar a mão pelo rosto dele.  Ismael, tinha se transformado num homem, era requisitado por revista para escrever sobre cinema, finalmente mostrou o que estava escrevendo, era uma série passada nas montanhas, talvez com toques de sua infância.

Queria que ele fizesse o papel de patriarca da família.  

Nem pensar, quero é descansar uma boa temporada.  Mas o ajudou a conseguir atores, tanto na Alemanha como Turquia, o diretor era um amigo seu de universidade, que achava que ele tinha um relacionamento.    A mãe voltou com ele para Turquia, já sabia como ele vivia, até a colocou na série.   Ela depois ria se vendo na tela.

Resolveu fazer uma coisa que a muito tempo se negava a fazer, recebeu um roteiro de um filme rodado na Noruega.   Um velho turco, que não gosta de emigrantes de seu pais, pois nunca vão assimilar como ele, outra cultura.

Foi seu último filme, depois só faria teatro, o cinema já não lhe interessava.

Nunca mais teve ninguém como o Georg em sua vida, as vezes tinha alguma aventura, mas sentia falta do que os dois tinham, as intermináveis conversas.   Às vezes, estava sentando lendo algo, se voltava para falar com ele.  O via ao seu lado sorrindo. Na última Berlinade, o Festival de cinema de Berlin, aonde tinha dois troféus, lhe fizeram uma homenagem a toda sua carreira.

Riu com isso, no discurso, falou como tinha começado, do seu amigo, amante, professor, Gustav Landau, sem ele eu não teria chegado a nada. Me ensinou a entender a palavra, pois tanto no cinema como no teatro, a palavra era essencial.  Mas ainda não estou morto, vou estrear finalmente uma obra do maestro, a vida de Galileo, foi o primeiro texto que conheci, bem como vi no cinema.   Grandes discussões sobre a representação, sobre o texto, está tudo aqui Georg, bateu na cabeça.   Obrigado.

Na plateia estavam os amigos, seu irmão Ismael, tinha convidado o Salim, acenou para eles, depois fizeram uma comemoração, pequena.     Salim se surpreendeu quando meses depois que terminou o espetáculo, chegasse para ficar.   Tá chegando minha hora amigo, quero morrer aqui na minha montanha.

Agora os jovens vinha de longe olhar com suas ovelhas, o homem que tinha sido como eles, que tinha saído dali, vencido no mundo.   Estava sempre sentado na sua pedra pensando, com uma livreta do lado anotando coisas que se lembrava.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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