ZAKARIS
Na época que
usava esse nome, não era nada, ou talvez sim, um simples pastor de ovelhas com
o qual subia todos os dias a montanha para que se alimentassem, o duro era no
inverno, as vezes subíamos, não havia como descer, tinha que dormir num casebre
que servia para isso.
O vento passava
pelas frestas da parede, por mais que rebocasse, quando chegava o inverno caia.
Colocava as
ovelhas num cercado, elas eram espertas em se colocarem todas as juntas para
não passarem frio, eu se acontecia, tinha a companhia do meu amigo de infância Salim,
adorávamos dormir juntos, nos abraçávamos falávamos dos nossos sonhos. Imaginem dois jovens nos cafundós da Turquia
fazendo isso.
O tinham
conseguido casar, já tinha duas filhas, mas tinha verdadeiro horror a sua
mulher, tinha sido escolhida pela sua família, pois seu dote, eram muitas
ovelhas.
Eu ao contrário
era o alzaimer da vila, pois a primeira noiva que tive prometida, um dia caiu
num poço, a segunda que conseguiram a muito custo, morreu uma semana antes do
casamento, se engasgando na hora que comia.
Eu ao contrário tinha respirado aliviado. Era muito feia, gorda. Minha mãe dizia que com a fama que tinha
de azarado, era difícil alguma família me aceitar. Eu ao contrário agradecia a Alah sempre.
Sonhava com sair dali ir para outro lugar, nos meus planos sempre
aparecia Alemanha, aonde vivia meu irmão mais velho. De um dia para outro escapou, embora, o
tivessem casado, depois se casou com outra na Alemanha.
Juntava cada
moeda que ganhava. Quando me sentava no alto da montanha, observando as
ovelhas, chegava um momento que imaginava que estava em outro lugar, as vezes
apareciam na vila, algum homem que passavam filmes, eu ficava alucinado, pois
esse era meu sonho, fazer parte dessa realidade, quando passavam reportagens
sobre Berlin, mostrando o bairro turco, eu ficava nervoso, esperava ver meu
irmão, a que a muito tempo não via.
Nesse dia os dois
conversávamos sobre isso, ele tinha juntado tudo quando podia. Tinha um sujeito
que dava transporte aos jovens, mas claro os denunciava a suas famílias, o
mesmo entrava no carro, ele virava na primeira rua, o deixando a mercê da
família.
Eu já tinha
planejado tudo, sabia como sair dessa enrascada.
A tempos andando
pelas montanha, achei um arsenal de armas, escolhi, algumas para mim, as
enterrei bem longe do local, antes de denunciar a polícia.
Nessa noite,
depois de anos nos beijando, nos masturbando, fizemos sexo, ele tinha mais
experiência pois já tinha se casado, com duas filhas. Dizia que seriam sua desgraça.
De uma certa
maneira, nos amávamos, pois fazíamos isso desde jovens. Eu nesta altura tinha já quase 21 anos.
No dia seguinte
antes de descer, nos beijamos, meu pai ficava furioso, pois misturávamos as
ovelhas das duas famílias. Apesar de marcadas, dizia que eu era uma merda, pois
segundo ele, as ovelhas da família do Salim eram medíocres. Para mim eram todas iguais.
Quando chegamos a
vila, as mulheres começaram a ordenhar as ovelhas, reclamavam que com o frio
era difícil.
Desci,
conversando com meu cachorro, que parecia entender de tudo, quando falei que ia
embora, me olhou, como me dizendo, vais me deixar para trás.
Dormi o resto do
dia, pois partiríamos de noite. Sai pela janela do meu quarto, naquele casarão
de pedra, havia que tomar cuidado, pois qualquer ruído as ovelhas fariam ruído.
Foi andando pela
noite com uma bolsa de couro, com uma cueca nova, que tinha comprado do
mascate, bem como um par de meias de lã, tecidas pela minha mãe.
O carro estava
esperando na praça, eu tinha recolhido quando descemos o revolver.
Se senti atrás,
para que o sem vergonha não visse a arma. Bem atrás dele. Quando o carro partiu, fez menção de virar
na primeira esquina para voltar em direção a minha casa, coloquei o revolver na
sua nuca, lhe dizendo, só vire na próxima, que era a estrada que passava pela
vila, sabia inclusive a direção que devia tomar.
Não tirei a arma
de sua nuca, até quase chegarmos a Istambul, tinha a mão doendo disso.
Ele parou num
posto de gasolina, quando foi pagar, desci tranquilamente do carro, pois
passava um ônibus, entrei nele, fui embora sem dar dinheiro ao sem vergonha,
pensei comigo vingança pelo Salim.
Tinha a direção
de um primo dele, que trabalhava no Grand Bazar, demorei para encontrar aonde
trabalhava. Era boa gente.
Me arrumou um
lugar na sua casa, que dividiam com mais rapazes vindo do interior, no outro
dia consegui um emprego da construção.
Trabalhar não me assustava, pelo contrário, precisava para juntar
dinheiro para ir para a Alemanha.
Descobrir quase
em seguida que nenhum ia a mesquita, que aproveitavam o final de semana para
sair, beber, conhecer gente.
Eu levava um
cabelo imenso, bem como uma barba grande de fazer gosto. Com o salário da primeira semana, comprei
calças jeans de imitação, bem como camisetas de manga comprida para ir
trabalhar.
As cuecas, bem
como as meias, as lavava de noite, colocava para secar no aquecedor da casa,
como todos os outros. No dia seguinte
iam cortar o cabelo, com um parente de um deles, me olhou dizendo que eu ficava
por último, pois daria mais trabalho.
Todos faziam
gozação que tinham tido que sair escondidos, na noite para escapar da família,
ele ao contrário com o jeito de frágil que tinha, o mandaram para Istambul,
para se livrarem dele.
Quando chegou
minha vez, me olhou, tens um cabelos bonitos, mas maltratados, ao contrario dos
outros, lavou meus cabelos, começou a cortar, fez um corte especial, segundo
ele moderno, me disse se fosse tu, raspava essa barba, garanto que eres bonito
por baixo.
Fui honesto, nem
sabia mais como era minha cara, tinha barba desde os 16 anos, mal cuidada com
certeza. Quando vi minha cara no
espelho, minha cara devia ser de espanto, era uma pessoa que eu não conhecia. Me disse, não eres bonito, mas simplesmente
lindo, com essa cara de macho.
Fiquei surpreso
com o comentário, ele fechou a barbearia, saiu conosco, todos comentavam do meu
novo look.
Usavam as vezes
palavras que não sabia. Todos tentavam
arrumar uma namorada, embora estivessem prometidos em suas vilas de origem.
Ele ao contrário
não saiu do meu lado. Quando o bar ficou
cheio de fumaça dos cigarros, com o frio, ninguém saia, eu comecei a tossir, me
disse, porque não vamos para fora.
Mal saímos nos
metemos numa ruela, para escapar do frio, se abraçou a mim, dizendo, vivo aqui
perto, venha vamos nos esquentar.
Entendi a
mensagem, embora todos me achasse caipira, só era em algumas coisas.
Mal chegamos a
sua casa, colocou lenha na lareira, ficamos sentados no chão conversando.
Ele tinha um
sonho, juntava todo seu dinheiro para ir para Paris, queria ser um grande
cabelereiro por lá.
Quando vi estava
dentro dele, excitado com os gemidos dele. Passei a viver com ele, assim aguentei
o inverno juntando dinheiro, ele disse que pelo menos tínhamos diversão, com
isso queria dizer fazer sexo.
Quando tive
dinheiro suficiente, fui olhar numa agência de viagem como fazia. O bilhete mais barato era para Münich eu
achei bem pois queria aprender a falar alemão antes de chegar a Berlin. Tinha que me sobrar dinheiro pelo menos para
os primeiros dias. Comentávamos isso um
com o outro, pois sabíamos desde o primeiro dia, que chegaria a hora da
separação, nossos sonhos eram diferentes.
Fomos juntos
tirar todos os documentos, ele me deu uma direção, tinha um velho amigo, riu
quando disse isso, não tem o piru igual o teu, mas é bom na cama, que vive em Münich,
hoje em dia tem um quiosque de comida turca.
Anotou, falou com o mesmo por telefone, esse ficou de ir me buscar. Ia dizer que não precisava, pois me viraria,
mas insistiu.
Depois entendi por
que, tinha um velho carro, um Volkswagen, de segunda mão, mas que parecia um
gato rosnando na estrada, disse que o aeroporto era muito longe da cidade,
realmente era, um taxi custa uma fortuna, o ônibus, entra em todas as vilas ali
perto. Me levou para sua casa, um
pequeno studio, perto do centro da cidade.
Morei em muita merda quando cheguei aqui, isso quem me conseguiu foi um
professor que me ensinou a falar alemão.
Lhe falei isso,
que precisava de um emprego, bem como aprender a língua, quando muito sabia
dizer bom dia, boa noite.
Não se preocupe,
meu ajudante um idiota polonês, se mandou outro dia, foi para a França, se
enrolou com uma francesa que andava por aqui, foi embora com ela. Podes ficar me ajudando, te pagarei o
salário daqui. Disse quanto era, o que
significava em dinheiro turco.
Nessa noite
estendeu um edredom no chão para que eu pudesse dormir, era como se soubesse
que não duraria muito tempo por lá.
No dia seguinte,
acredito que ele tenha avisado, apareceu para comer o professor de alemão,
tinha entre 40 e 45 anos. Não era nem
bonito, nem feio, mas simpático, muito magro.
Me deu seu cartão, me disse aonde morava ali perto, dou aulas durante o
dia na universidade, mas de noite estou livre.
O Ghost como se
chamava o do restaurante, riu, gostou de ti.
Lhe disse que não
tinha dinheiro para pagar as classes.
Não se preocupe,
não viste que ele te olhou de cima a baixo, quer é outra coisa, eu paguei em
carne, não essa que vês aí atrás, mas apertou o piru.
Ri muito. Sério, pois me pareceu uma pessoa tímida.
Tímida, veras
quando te sente em cima do teu caralho. Ele me tinha visto me lavar no studio,
o banheiro era num corredor, que servia para todos.
Trabalhei o dia
inteiro, de noite ele disse que eu me lavasse bem, aproveitei que não tinha
ninguém tomei um banho quente como deus manda, nunca tinha tomado um assim.
Quando me deixou
na porta do professor, ele disse na cara do outro, lhe ensine bem, não é só
fazer sexo.
Já tinha a
primeira aula, preparada em cima da mesa, graças a deus, tinha facilidade em
aprender, tinha sido o melhor aluno na escola podre da vila, o que achei raro,
porque as vezes me fazia comentários em árabe.
Quando lhe perguntei como tinha aprendido, ele soltou rindo na minha
cara, com meus namorados.
Quando acabamos a
lição, me elogiou, pela primeira vez posso dizer que essa lição está aprendida,
se segues assim talvez te arrume para fazer um curso numa escola.
Sem mais nem
menos meteu a mão dentro da minha calça, ri com a cara dele, quando sentiu o
que tinha ali. Como tinha dito o Ghost,
quando sentou em cima, ficou como louco, chegava a ser bonito, vê-lo
excitado. Fizemos sexo duas vezes, ele
me disse para dormir ali com ele, era uma cama grande, com colchão de plumas,
se sentia assim quando dormia com as ovelhas, a diferença era que ele cheirava
bem. Me deu um banho, esfregando cada
parte do meu corpo.
No dia seguinte
quando saiu para trabalhar, riu, nem falei o meu nome para ti, me estendeu a
mão, Georg Landau, sou filho de judeus, meus pais emigraram para Jerusalém, mas
depois voltaram para cá.
Quando cheguei no
trabalho, vi que minha mochila, estava no Quiosque, imagino que te disse para
ir essa noite.
Ri, sem dizer
nada, não gostava muito de falar com os outros a respeito de sexo. A vida era minha, não tinha que dar
explicações.
Trabalhei dois
anos ali, vivendo com o Georg, ele estava louco por mim, me comprava roupas, eu
dizia que não fizesse isso, que eu não era um gigolo, estava com ele porque
queria.
Realmente gostava
de estar com ele, quando pude começar a ler um livro, me deu de sua estante
dois livros para ler. Os devorei, agora
entendia tudo. Depois nos sentávamos,
discutindo o assunto. Até tinha me
esquecido de Berlin, se sentia bem estando ali, com muita discrição, conseguiu
documentos de residência na Alemanha, sabia o quanto era isso difícil.
Amava as noites,
que ficávamos, nus, sentando num tapete, comentando alguma coisa que tinha lido
num jornal. Me disse que nunca tinha se
atrevido a sair com os que tinha dado aulas antes de mim, pois não sabiam se
comportar. Me ensinou como sentar-me
numa mesa, comer com educação. Como me
vestir direito, agora ia numa escola pela manhã, para convalidar o que tinha
aprendido, era uma escola para emigrantes.
Logo tinha um título escolar, os professores me elogiavam, como podia
ter aprendido, como falava bem, além de me expressar com naturalidade.
Ghost, agora me
fazia usar uniforme, porque minha roupas eram melhores que as suas. Depois dos documentos, Georg me fez abrir uma
conta num banco, meu dinheiro ficava totalmente intacto, pois dizia que o que
ele ganhava era suficiente para manter a casa.
Agora quando apareciam outros querendo estudar com ele, dizia que não.
Agora fazendo
sexo, me chamava de meu amor. Eu não
sabia se o amava ou não, mas estava agradecido por tudo que me tinha ajudado.
Estávamos agora
estudando um texto de Bertold Brecht, “A vida de Galileo” que tínhamos visto no
cinema de arte. Ria feliz, nunca
comparti nada com ninguém, os homens que tive antes, eram apenas para fazer
sexo. Mas contigo posso compartir
coisas.
Já se iam fazer
três anos que estávamos juntos, quando um dia indo trabalhar, estava buscando
outro tipo de trabalho, pois me aborrecia com os ciúmes do Ghost, quando vi uma
filmagem, parei para dar uma olhada, uma mulher me perguntou se eu poderia
fazer o fundo de uma cena.
Me colocou
dinheiro na mão, venha. Me disse aonde
colocar, de que ia o filme, me colocou numa posição que se me via de perfil.
Quando começaram
a rodar a cena, vi que o diretor, sentando nunca cadeira alta, ao lado da
câmera, mandava cortar. Me mandou tirar
dali que me levasse até ele.
Rapaz é
impressionante, mesmo ao fundo, a câmera te ama, venha ver, mandou rebobinar,
que eu olhasse. Não me impressionei, era eu mesmo.
Me disse que era
o primeiro dia de filmagem, estavam filmando a pessoa de costa, pois o ator
contratado não tinha chegado. Perguntou
se eu podia fazer um teste.
Claro disse, mas
rápido pois tenho que ir trabalhar.
Me deu o texto, o
li de cabo a rabo, tinha aprendido com o Georg a mentalizar, decorar
rapidamente um texto, para poder repetir, as vezes ele me corrigia, mas
ultimamente menos.
Entendi o
raciocínio do personagem, quando numa sala ali perto, me mandou ler o texto, me
disse, não se preocupe com a câmera, simplesmente leia.
Lhe respondi, já
sei o texto.
Como sabes o
texto?
O memorizei, só
uma palavra não sei pronunciar direito, lhe disse qual era. Me fez repetir várias vezes a mesma,
perguntei o que queria dizer, me explicou.
Me colocou ao
fundo, me disse que fosse andando normalmente falando o texto, tens que pensar
que falas sozinho, me explicou realmente o que queria.
Como uma pessoa
que esta sempre só, é isso. Quase lhe
solto, fiz muito isso, falando com meu cachorro, com as ovelhas, numa vida que
me parecia completamente distante de hoje.
Sim, fiz o que
ele tinha dito, só pronunciei mal a bendita palavra, mas porque era nova, não
me parecia encaixar no texto. Pedi se
podia mudar o significado dela, me deixou fazer de novo, em minha cabeça estava
na montanha, falando com meu cachorro, falei o texto. Ele aplaudiu, isso mesmo.
Virou-se para uma
mulher que estava ao seu lado, que estava de boca aberta, pois tinha visto a
cena na câmera. Falou ao seu ouvido,
ela me perguntou se eu queria o papel, não era o principal, mas disse quanto me
pagariam. Era como ganhar na loteria.
Disse que sim, me
deu, o texto completo. Terás que
estudar o texto inteiro para entender, até agora o personagem tem aparecido de
costa, porque o ator que o faz, está doente.
Riu dizendo ficará furioso, amanhã trazes teus documentos, para
firmarmos o contrato.
A primeira coisa
que fiz, foi ir falar com Ghost, não lhe disse do filme, mas sim que tinha
outro emprego. Ficou furioso, me pagou o
que devia do mês, apertei sua mão o agradecendo por tudo. Isso eu sempre seria assim, ingrato jamais.
Fui correndo a
Universidade, esperei na porta que o Georg saísse, de um folego só lhe contei o
que tinha acontecido.
Riu, perdi o amor
de minha vida. Me pediu para ver o
texto, vamos para casa trabalhar isso, foi a secretária, disse que hoje estava
mal, que iria ao médico.
Me perguntou se
tinha lido o contrato, lhe disse que não.
Amanhã antes de assinares qualquer coisa, leio para ver o que há entre a
letras pequenas, me disse o que era.
Passamos o dia
inteiro fazendo sexo, trabalhando o texto, me dei conta que se minha vida mudasse,
eu o perderia, não tinha certeza ainda se o amava, mas estar com ele, era o
melhor que me tinha passado, não queria abrir mão disso por enquanto.
Trabalhamos o
texto sem descanso, até que entendi como ia a história. No dia seguinte,
chegamos cedo para a prova de vestiário.
A mulher se surpreendeu, que eu viesse acompanhado, lhe apresentei o
Georg, dizendo que ele me representava, se eu tinha que assinar alguma coisa,
ele tinha que ler antes.
Leu o contrato
todo, com uma caneta, sinalizou algumas coisas.
Virou-se muito sério para ela, dizendo que deveria revisar esses
termos. Quero saber quanto ganha o
principal, pois esse valor me parece baixo.
Para mim era uma
fortuna, mas o deixei negociar. Adorava
esse seu jeito sério de analisar as coisas.
Me dei conta nesse momento que eu era um fruto de seu trabalho, que
devia demais a ele.
O diretor queria
fazer a primeira cena, disse ao Georg, seu representado, engole a câmera, veja
como faz.
Me disse o que
queria, eu deveria vir andando pelo jardim, falando sozinho, tenha os ombros um
pouco curvados, acabas de receber uma má notícia.
Deves falar o
texto até a linha tal, lhe disse que para o contexto as duas seguintes frases,
encaixavam mais nessa linha de pensamento.
Ele olhou ao Georg, dizendo, ele entendeu perfeitamente o texto.
Me colocaram
aonde devia estar, me esqueci completamente que tinha um microfone por cima de
mim, disse uma frase, para saber se o som era bom, me disse, se não ficar bom
depois fazemos como uma dublagem. Me
coloquei, tinha a imagem da cena na minha cabeça.
Imaginei como se
não tivesse conseguido escapar da minha vila, que meu cachorro estava ao meu
lado, que ia falando com ele. Mas sem
olhar para baixo, tinha um andar compassado, como fazia descendo a montanha,
tinha que tomar cuidado.
Quando escutei
corta, tinha falado as duas frases que tinha dito para ele que estavam dentro
do contexto.
O câmera, me
fazia um sinal positivo.
Ele me perguntou
se eu era capaz de repetir, pois queria me filmar desde cima, a mesma coisa, fizemos
como ele queria, depois disse que tinha ficado impressionado, me perguntou se
eu tinha feito cinema antes, pois tinha repetido as mesma entonações que tinha
feito primeiro.
Tenho um bom
professor, lhe indiquei o Georg. Sou
turco, ele me ensinou a falar alemão, ontem lemos mil vezes estas frases,
buscando o sentido delas, analisando cada palavra, ele foi até o Georg, apertou
sua mão, perguntou se ele podia estar nos outros dias da filmagem atendendo
algum outro ator, pois um não era capaz de memorizar o texto.
Ele pediu um
tempo na universidade, finalmente assinei o contrato, com o dobro de que tinha
me dito a mulher.
Escutei a mulher
dizendo a ele, assine um contrato como seu representante, pois tens um ator de
muitos quilates na mão.
Nessa noite falamos
sobre isso, algumas cenas serão aqui, mas o resto será em Berlin, se acabou o
nosso.
Num ato
instintivo, o abracei, lhe perguntei por que não vinha comigo, eu precisava
dele, contigo entendo tudo, não quero me separar de ti.
Tens certeza disso,
me queres como teu representante?
Sim quero, mas o
importante é o que tu queres?
Adoraria, isso
seria mudar minha vida, posso ajudar os outros atores, dar aulas de dicção aos
mesmos. Ia amar, sabes como gosto de
cinema.
No dia seguinte
como tínhamos uma cena mais tarde, fomos a um advogado, ele fez um contrato
como o Georg como meu representante, o assinei sorrindo. Depois fui provar a roupa que devia usar,
enquanto ele ia a universidade batalhar por uma excedência.
Chegou justamente
quando um outro ator, quase voava no meu pescoço, porque não conseguia falar
sua frase, estava mais nervoso do que eu.
Isso que era um ator que eu tinha visto num filme recentemente.
Disse que tinha
visto seu filme, que o achava monumental, isso pareceu o relaxar, me disse que
o que lhe atormentava era uma palavra, me disse qual. Eu ri, quem escreveu esse texto tem mania
dessa palavra. Quando me filmaram a
primeira vez eu tinha que dize-la, tampouco conseguia, mudei para esta,
ensaiamos, ficava melhor.
Não diga nada ao
diretor, simplesmente diga como ensaiamos.
Fizemos a cena, o
diretor, ficou apontando o dedo para mim, fizeste de novo.
Quem escreveu
esse texto senhor. Ele riu, eu mesmo.
Vejo que tem
algum problema com essa palavra, o que significa para o senhor, começamos uma
discussão, que acabou num restaurante. Até o Georg parecia estar no seu meio,
pois discutia o uso da palavra. Ao final
lhe lançou uma pergunta, o senhor crê que a plateia, que é o objetivo final,
vai entender essa palavra.
Ele riu, virou-se
para sua ajudante, teremos que mudar o nome do filme. Essa palavra aparecia tanto, porque era o título
que tinha escolhido para o filme. Ele
fez uma coisa que ninguém esperava, ia de mesa em mesa, perguntando as pessoas,
se sabia o que queria dizer a palavra, nos ficamos rindo aonde estávamos,
porque todos balançavam a cabeça dizendo que não.
Só um respondeu
que sim, porque era professor de literatura numa escola.
Tens razão Georg,
me enganei.
As vezes
chegávamos, ele chamava rapidamente o Georg para discutir algumas falas. O
trabalho ficou mais fácil.
Eu agora entendia
a história inteira, fazia logica na minha cabeça tudo o que tinha que falar.
O outro ator,
disse que contracenar comigo era fácil.
Eu nem sabia o
quanto era famoso, até que depois de chegarmos a Berlin, cada vez que saíamos
para filmar, ele tinha que dar autógrafos, me dizia aprenda, tens que faze-lo,
pois com eles ganhas o teu pão.
Estávamos
hospedados num hotel de luxo, lhe disse ao Georg, que não me sentia à vontade
lá.
Agora esta é tua
nova vida, eu inclusive sou teu empregado, o gigolo agora sou eu.
Pediu um
apart-hotel, pois eu não me sentia a vontade ali para ensaiar. Os da produção gostaram, havia um ao lado do
studio.
Dois dias depois,
vi que ao lado do diretor, estavam um senhores, um deles discutia com o
diretor, Georg que estava ali como se nada, escutava tudo.
Me contou depois
que era os produtores, que o que falava era o representante do ator que eu tinha
roubado o lugar.
Cancelaram a
filmagem da tarde, nos fizeram sentar no fundo do lugar aonde reviam as cenas,
mostrou porque tinha trocado de ator, se fosse pelo seu representado, ainda o
estaríamos esperando até hoje.
Me ver na tela,
me deixou nervoso, era como ver outra pessoa, que não era eu mesmo, entendia
agora mais do que nunca o texto.
Mostraram a cena caminhando falando sozinho, quase podia ver meu
cachorro ao meu lado, as lagrimas corriam pela minha cara, mas tarde confessei
ao Georg o que tinha sentido.
Os produtores
deram razão ao diretor, um deles veio falar com o Georg, em seguida, apontava
para mim, lhe passando um cartão.
Mais tarde no
camarim, me disse que era para fazer teste para outro filme.
Quando houve uma
folga, fui procurar meu irmão. Estava
gordo, nem se parecia com quem eu me lembrava, tinha um comercio no
bairro. Me apresentou sua mulher, bem
como a escadinha de filhos que tinha.
Lhe perguntei a parte como fazia para mandar dinheiro para lá, disse que
nosso pai tinha uma conta no banco na cidade vizinha. Que lhe mandava uma carta, que este ia
comprando terras para ele.
Quando lhe contei
que estava fazendo um filme, me abraçou, apertado, terei um irmão famoso, me
parecia um absurdo. Quando saímos de
lá, pois tinha ido com o Georg, ele ria, não falaste nem um minuto em árabe, só
em alemão. Me dei conta que sim, que
minha cabeça funcionava em outro idioma.
Na volta, me
disse que lhe tinham mandado o texto, que estava lendo, que já me passaria, o
melhor, é terminar essa filmagem, assim se veem o copião inteiro, será mais
fácil discutir o salário.
Continuávamos
levando nossa vida, um dia me disse que tinha medo do dia que eu me cansasse
dele. O que não era uma verdade, eu
logo pensava, com quem iria falar, discutir coisas.
Fomos ver uma
montagem justamente no teatro Brecht, foi glorioso, eu estava emocionado
demais, gostava, nunca tinha ido ao um teatro, lhe disse ao Georg, quero fazer
isso.
Nada é
impossível, tens o dom da palavra. Vamos
conseguir um professor para ti.
Nem pensar, meu
professor eres tu.
Nessa noite o
amei com paixão, pois ele tinha me dado esse mundo novo. No final estava alucinado. Me disse apenas, temos que manter uma
aparência, não deves demonstrar nada em público, mas no nosso particular
sempre.
Teria agora que
dar entrevistas, lhe disse que me negaria falar sobre mim. Posso contar minha
vida antes da Alemanha, mas nossa vida particular era só nossa. Ele já tinha percebido isso, que eu não
gostava de comentar nada do que passava entre nós.
Talvez sem querer
eu já preservasse minha intimidade.
Me disse que
tínhamos que falar do próximo texto, terás cenas com uma atriz bem conhecida,
tens que aprender a te relacionar com uma mulher, vou ver se consigo alguém
para te ensinar.
Ele sempre
pensava em tudo, conseguiu uma puta fina, para me ensinar a fazer as cenas, o
mais importante, como beijar, demonstrar que tinha paixão, como estar nas cenas
de sexo na cama.
Foram verdadeiras
aulas. Foram vários dias, me trouxe
outras mulheres, nunca podes pensar só em uma.
No final, soltei
na cara dele, prefiro estar contigo, como gostava de estar com o Salim.
Começamos a
estudar o texto, para a prova. Isso
seria com a atriz junto. A mulher que ele tinha contratado, contracenou comigo,
era muito mais velha do que eu, ele tinha sido experto, ela tem a mesma idade
da atriz, só que essa já fez uns quantos consertos na cara.
O filme já tinha
terminado, estávamos procurando um apartamento, teria que ter dois quartos, um
para mim, outro para ele, montou o seu, como se fosse um lugar para estudar
textos.
Era tudo muito simples,
já vinha com tudo.
Fui fazer o
teste, a mulher que me tinha ajudado, me disse, preste atenção, nas mãos dela,
verás que não corresponde a idade da cara, bem como olhe aqui, mostrava os
seios.
Era uma cena
dura, ela estava com o texto nas mãos, não o tinha decorado, tinha uma mulher
ao lado dela, que ia consertando o que dizia errado.
Mesmo assim
cometia erros.
Eu ao contrário,
tinha o texto na ponta da língua, era uma briga entre um casal, tinha que ser
meio violento. Georg me disse como tinha que fazer, tinha ensaiado com a
mulher, que se tornaria minha companheira de ensaios, depois conseguiria para
ela, pequenas participações em filmes.
Me dizia, conseguiste arrumar minha aposentadoria.
Me explicou como
eu devia fazer, a segurar, mas com um simples toque dizer quem mandava na
situação, a atriz se surpreendeu tanto que perdeu a fala.
Finalmente
encontro alguém que sabe contracenar, mostrando a violência, sem me maltratar.
Logo chegou à
estreia do filme, meu nome aparecia Zakaris Stikir, me entrevistaram, não podia
esconder minhas raízes turcas, claro era mais moreno que os outros.
Quando depois
falavam como ia o filme nos cinemas, o diretor dizia que fazia muito sucesso
nos bairros turcos de todas as cidades.
Que já tinha vendido o mesmo para a Turquia.
Fomos
selecionados para Cannes, para o próximo filme o salário era maior, Georg,
recebia de mim, conforme nosso contrato, 15%, mas fazia questão, que ele
recebesse 20%. Na cama dizia tenho que satisfazer,
meu senhor melhor. Seguíamos nos descobrindo
sexualmente, nunca imaginei fazer isso que fazemos com os que ensinei alemão.
Estudamos o texto
como loucos, havia cenas que não gostava, mas estavam dentro do contexto, fui
anotando palavras, que sabia que as pessoas normais, não iam entender, quando
falei com o diretor, abriu a boca, pensou para falar.
Mas argumentei,
como tinha feito antes, uma das falas da atriz que eu me devia sentir
ultrajado, lhe perguntei se tinha mulher, se tinha alguma vez discutido com ela
a respeito, se usava essas palavras, no cenário todo mundo dizia que eu tinha
razão.
Ele me respondeu,
com outra pergunta, tens mulher?
Não, mas duvido
que alguém falasse assim com a sua, andei consultando mulheres nos
supermercados, nas praças, para compor meu personagem, nenhuma disse que usaria
essas palavras.
Irritado,
virou-se para mim, perguntado se eu tinha conversado com turcas. Entendi a ofensa, ri, não senhor, o
personagem é uma alemã, uma turca seria submissa, esse texto não encaixaria na
vida delas.
A atriz concordou
comigo.
Fizemos todas as
cenas, ela disse ao final da primeira cena na cama, que eu tinha um jeito
especial de tratar as mulheres.
Havia uma cena
com uma puta, Georg, colocou nossa amiga Valeria, ela era de ascendência
italiana, para fazer a mesma, antes combinamos, o homem estaria mais livre
nessa cena que com sua própria mulher.
A cena ficou boa na primeira toma.
Uma cena teria
especial dificuldade, era o marido conversando com os filhos, porque saia de
casa, eram crianças, tinha contracenado com eles em cenas corriqueiras.
Eu tinha o
sentido da mesma, mas os meninos eram indóceis, o diretor teve que falar várias
vezes com eles, um deles soltou, nenhum pai fala assim com seus filhos, essa
cena parece de Disney. Eu concordei com
o garoto, acabei ensaiando com eles a parte como pensavam, pedimos liberdade ao
diretor para fazer, era o filho mais velho, ele tinha criado um argumento em
cima do texto, dizia que vinha justamente disso, pais separados.
Quando o fizemos,
foi de uma toma só. Até o diretor
aplaudiu. Como conseguiste isso, me
perguntou?
Lhes dei
liberdade para discutirmos isso, os garotos de hoje, não são idiotas como os da
nossa geração, embora o diretor fosse mais velho.
Tens razão, o
escritor tem uma certa idade, não me dei conta disso, ao transportar para os
dias atuais um texto antigo.
Um dia nos avisou
que teríamos uma entrevista na televisão, teríamos que estar sentado, como se
fossemos uma família.
Uma dessas
jornalista de revista do coração, fez as perguntas mais idiotas possíveis, o
garoto que era um adolescente, quando lhe perguntou uma coisa idiota, lhe
respondeu com todo respeito, a senhora crê que um jovem da minha idade lê a sua
revista, ela esta dirigida só as senhoras velhas, solteironas, que não tem vida
própria, nossa geração lê outras coisas mais interessantes. Porque a senhora só faltou me perguntar qual
a cor da minha cueca, abriu a braguilha para mostrar. Acabou que os outros jornalistas riam. Quando me perguntou sobre minha vida
particular, mudei de assunto como o garoto.
Virou-se então
perguntou para minha parceira, como era comigo nas cenas da cama.
Ela riu, sempre a
mesma pergunta, anotem todos, como o que eu diga não saíra na matéria, ora como
seria uma cena com um homem na cama. Coisa mais ridícula.
A mulher deixou
de fazer perguntas, mas quando outro jornalista fazia perguntas interessantes
sobre o filme, ela copiava as respostas.
Minha companheira
soltou depois que estávamos só nós, que ela era uma velha jararaca, da época,
que todo mundo queria saber o que se fazia na cama.
O garoto disse
que só sua avó que tinha 80 anos lia essa revista, para depois dizer, quanta
bazofia, que a comprava por causas das receitas.
Tinha me saído
bem nas minhas resposta, segundo o relações públicas do filme, iria com o outro
filme agora a Cannes, depois ao festival de Veneza. Georg ficava em segundo plano, no de Veneza,
ganhei o de melhor ator novo. Quando me entregaram o prémio, agradeci a todos,
mas especialmente ao meu professor, a quem devia tudo, inclusive saber usar as
palavras direito. Ele ficou vermelho
como um pimentão.
De noite na cama,
nunca imaginei que fosses falar de mim.
Ora Georg, se eu
devo tudo a ti, como não vou agradecer.
O segundo filme
agora também estava em pós produção, quando me convidaram para fazer um filme,
que ao ler o texto Georg ficava com o lápis em suspenso, sinal que tinha
dúvidas.
Quando lhe
perguntei o que passava, me disse que podia ser uma faca de dois gumes, pois
era sobre um policial, inspetor de polícia, que era homossexual, que devia
contracenar com um ator que era conhecido por uma série de manias, além de ser
famoso.
O bom saber seria
conversar com ele, porque aceitou esse tipo de papel. Marcamos de tomar um café.
Eu já tinha visto
filmes com ele, na noite anterior, vi o último, era como se tivesse visto os
filmes anteriores, já entendia, queria mudar sua maneira de representar.
Nos apertamos as
mãos, pedimos café, Georg fez questão que eu me virasse sozinho.
Meu agente diz
que não entende por que o senhor, aceitou fazer esse filme, mas ontem vendo um
vídeo de seu último filme, creio que entendi.
Longe de mim faltar com respeito ao senhor, mas queria entender
melhor. Se for o que estou pensando,
aceitarei fazer o filme.
Solta de uma vez,
garoto. Nossa diferença de idade era
grande.
Acho que estas
farto de fazer o mesmo tipo de papel, eu estaria, creio que não tens prejuízo,
mas sempre lhe enfiaram goela abaixo esse tipo de papel, macho alfa, em que tem
que ser o bom do filme. Nesse não, pois
inclusive no final se descobre que é um corrupto.
Muito bem
observado, além de que, já estou farto que me pergunte, porque nunca me casei,
que apareço nas estreias sozinho. Já não
aguento mais estar dentro do armário, sou gay, nem por isso, creio que
representarei uma pessoa afetada, acredito no amor de dois homens. Vivo com o
mesmo a mais de 15 anos, estou farto de ter que esconde-lo.
Ficamos rindo,
falamos sobre os personagens, pois eu de uma certa maneira discordava do final
do filme.
Ele tinha uma
lista coerente, veja, tanto o que escreveu o roteiro, como o diretor, não
acreditam que o romance entre dois homens possa acabar bem, é como se dissessem
que um sempre como o cu do outro, um é o machão, outro tem que ser o
frágil. Mas podemos dar uma
representação normal dos personagens, podíamos dizer isso a eles. Esta baseado num livro, verás que o final, os
dois, fogem com o dinheiro que conseguem para viver numa ilha paradisíaca.
Saímos dali,
passamos numa livraria, me perguntou se gostava de ler, lhe respondi que sim, leia,
depois nos falamos por telefone, podias vir como professor a minha casa, para
discutirmos isso.
Falei com o
Georg, lemos o livro, para debater.
Depois fomos a um almoço na casa do Paul Brast, seu amante era seu
advogado. Conversamos, nenhum dos dois
tinha ainda assinado o contrato, pedimos um encontro com o diretor, o
roteirista, além do produtor principal.
Levamos pelo
menos cinco horas discutindo em cima do texto, os dois tínhamos o livro em cima
da mesa, assim não podiam dizer que não tínhamos aonde nos basear.
Acabaram
concordando em mudar as cenas.
Fizemos um teste
de câmera, o diretor ria, os dois tem a mesma coisa, devoram a mesma.
O filme foi um
tour de force, quando fomos gravar a cena final numa ilha grega, ele tentou
fazer sexo comigo. Lhe disse que nem
pensar, ele tinha um compromisso sério.
Ficou me olhando,
realmente eres o que pensei, um homem honesto consigo mesmo. Apertou minha mão,
depois o vi fazendo sexo com um homem da vila.
No dia seguinte
lhe perguntei por quê?
As vezes
necessitamos de emoções, para sentir que estamos vivos.
Eu entendi, mas
não podia dizer nada, realmente o Georg era tudo que eu queria. Um dia lhe perguntei se nunca tinha querido
me fazer de passivo.
Olhou na minha
cara, respondeu, muitas vezes, mas tinha medo de te ofender.
Fiquei furioso,
como ofender, pensei que o que temos, estava baseado numa cumplicidade, que
podias dizer o que queria na cara, eu sempre confiei nisso. Fiquei chateado, nessa noite o provoquei, até
que ele me penetrou, nunca tinha pensado no prazer disso, Salim o tinha feito,
mas de maneira quase de um adolescente.
A partir desse
momento nossa cumplicidade ficou melhor.
Quando começamos
a ver o trabalho de edição, o diretor soltou, vai ser difícil, quem vai ganhar
mais prêmios. Antes da estreia, nos
sentamos para conversar a respeito.
Na entrevista a
mesma idiota, nos perguntou que tal era nos beijar na boca, lhe respondi que
diferente, pois ele fumava muito, que o sabor da marca do cigarro dele era má.
Ficou com cara de
idiota, ele foi pior, perguntou a quanto tempo ela não dava um beijo, se tinha
já beijado uma mulher, se não tinha feito, devia, veria que tudo era a mesma
coisa, a não ser que a mulher tivesse bigode.
Os dois filmes
que me ofereceram em seguida, era com conotação gay, mas tontos, tipo comedia,
disse ao Georg que não queria fazer.
Minha conta no banco era enorme, uma noite sonhei com minha montanha,
aonde pensava no que faria se tivesse oportunidade, na estreia do filme tinha
mandado convites para o meu irmão, mas não apareceu. Fui até sua loja, mandou as crianças
subirem. Falou duramente comigo, como
tinha podido fazer esse filme.
Na hora não
entendi, estas confundindo o personagem comigo, me mostrou uma revista em que
aparecia dando um beijo no meu parceiro.
Lhe disse que
isso era cinema, que mal tinha, pois eu me lembrava de pequeno ele na cabana,
beijando um vizinho. Ficou furioso, me
mostrou a rua, não queria que eu fosse mal exemplo para seus filhos.
Por tua culpa
Salim, pagou o pato.
Perguntei o que
queria dizer, me disse, que numa discussão Salim tinha me defendido, que isso
era cinema. Seu sogro que estava furioso
porque não dormia com a filha, para lhe fazer um filho homem, tinha três
garotas. Que seu rebanho não ia em
frente nunca.
Tomou uma decisão
temerária, perguntou se o Georg queria ir conhecer a Turquia que ficava no fim
do mundo. Foram até Istambul, alugaram
um 4X4 potente, foram em direção a aldeia, ele foi contando tudo como tinha
sido sua vida antes, da amizade com o Salim, que não tinha conseguido escapar,
por ter sido tracionado, que tinha sido obrigado casar-se com uma mulher a quem
não queria, que tinha três filhas, que algo tinha passado com ele por sua
culpa.
Quando estavam
entrado na vila, todo mundo parava para ver o carro dele, era ostentoso para a
região, reconheceu o Salim, descendo a rua, algo encurvado, colocou a cara para
fora do carro gritando seu nome. Quando
ele se virou, ficou horrorizado, tinha uma cicatriz imensa na cara.
Parou o carro,
desceu para abraçar o amigo que estava estático.
Este com a cabeça
no seu ombro, disse, eu sabia que vinhas me salvar, o fez entrar no carro,
disse ao Georg, como subir a montanha.
Salim disse que
quando o tinha defendido o sogro o acusou de homossexual, levou toda suas
ovelhas, bem como mulher, filhas, os pais lhe expulsaram de casa, agora as
crianças me atiram pedras, vivo quando não está ocupada na nossa cabana.
Salim, a quem
pertence essa montanha, ele disse o nome de um homem que vivia na vila ao
lado. Nem tente falar com tua família,
teu pai, comprou mais terras com o dinheiro que mandas, mas é o primeiro em
atirar pedras.
Sentou-se ali em
cima, olhando tudo, agora com distanciamento podia, ver como era sua vida
antes, sem futuro.
Tentou falar com
a família, que ao saber que ele estava na vila, fecharam a casa a cal e canto,
para que ele não entrasse.
Não perdem por
esperar, fora a vila ao lado, procurou o homem que Salim tinha dito que era o
dono da montanha. Realmente era, vivia
de alugar os pastos dela, não tinha família, lhe fez uma proposta por ela.
Ele perguntou por
quê?
Contou o que
fazia ali, me sentava para meditar, para pensar no que poderia fazer da minha
vida.
Eu fazia o mesmo
dizia o homem, mas sempre fui um covarde, me casei com uma mulher que não
queria, tive um filho que escapou quando podia, eu fui ficando, minha mulher
era dessa vila, vim viver aqui, passei a alugar os pastos, já não tenho
rebanho.
Comprou a
montanha em nome do Salim, mas antes vamos fazer uma coisa meu amigo, vens
comigo por um tempo.
Em Istambul,
conseguiu um cirurgião, que lhe fizesse uma operação estética na cara. Conversou muito com o amigo. Esse entendeu
que o Georg era seu amante, nunca tentou se aproximar do velho amigo. Quando foste embora, perdi minhas esperanças,
desconfiava que tinhas como fugir, mas eu fiquei, sentia tua falta disso tudo,
Quando voltaram
se hospedaram na casa do homem que tinha vendido suas terras, ele tinha avisado
dos que a alugavam que tinha vendido a mesma, que já não podia levar as ovelhas
para lá. Quando Salim apareceu com a
cara refeita, com cinquenta homens das vilas ao lado, para cercar a montanha,
todos reclamaram.
Mas foi ele que
apareceu para chamar a todos de hipócritas, foi falando um a um, que tinha
visto na cabana com outro homem, todos eram pais de família, todos estavam ali.
Como puderam fazer isso ao meu amigo desde criança, que sempre me defendeu dos
outros garotos. Imperdoável, a menos que
peçam desculpas a ele, vou contar a todas vossas mulheres, o que faziam ali.
Alguns abaixaram
a cabeça, outros não, era arrogantes, seu pai inclusive, teu irmão mais velho
foi impecável.
Ele replicou, por
lhe mandar dinheiro todos esses anos, pois ele foi o primeiro que vi com outro
homem, passei a achar a coisa mais normal do mundo estar com outro homem.
Vivo com um,
apontou o Georg, que ficou vermelho, meu professor, amigo, que me ensinou tudo
o que eu sei. A montanha é do Salim, se
querem usar os pastos, tem que pedir desculpas a ele.
Seu pai estava
furioso, isso de estarmos com outro homem, é uma coisa normal, pois nunca
tivemos putas por aqui, mas defender o homem com que tenha estado, isso não.
Pois a ti, te
toca levar as ovelhas mais longe que a montanha.
Ele saiu batendo
a porta. Contratou homens para vigiarem
a montanha. Pagava bem a cada um. Mandou construir no alto uma cabana, para o
Salim. Abraçou o amigo, lhe deu seu
endereço, agora ele tinha um rebanho de primeira, para recomeçar sua vida,
qualquer coisa me procura.
Georg quando
tomavam o caminho para voltar, lhe disse, como a ti, nunca vi ninguém, eres
mais homem que todos eles.
Como tinha
contado tudo ao Georg, ele escreveu uma história.
Falou com
cineastas de origem turcos, para ver se algum se interessava em fazer o filme, mas
todos tinham medo de ofender aos que viviam nas vilas.
Enquanto isso ele
fez mais dois filmes, tinha um convite para fazer um em Hollywood, mas ao ler o
roteiro, disse que não, era um filme corriqueiro que falava sem profundidade
num homem que tinha feito um atendado numa mesquita.
Imaginava que o
filme despertaria interesse, mas o achava uma provocação, o ator que acabou
fazendo o filme sofreu um atentado durante a filmagem, quase morrendo.
Ele tinha
decidido jamais aceitar um filme com esse conteúdo. Fez sim um filme, em que um turco, que
depois de viver anos na Alemanha, retorna a sua vila de Origem, uns o invejam,
outros o idolatram, mas ele se sente apátrida, pois nunca encaixou na Alemanha,
aonde falava muito mal a língua, bem como não encaixa outra vez na sua
vila. A cena final, tinha tudo a ver
com ele, era a imagem contra a luz, como que recortada, do homem no alto de sua
montanha, a beira de um princípio, falando sozinho, de repente a figura se
inclina para frente, simbolicamente cai no precipício. O filme era comovedor, ele conseguia
transmitir a confusão do emigrante chegando a um pais distante, em que ele não
entende nem uma palavra, todo seu sofrimento, contando as moedas como gotas de
um sonho, sua volta rica, mas lhe confunde que nesse tempo todo, nada
evoluiu. Tampouco tem nada a ver como
lugar que partiu. A crítica alabava seu
trabalho.
O filme foi
candidato ao Oscar, como filme estrangeiro, pela Turquia, pois o diretor, era
de lá. Assim se sentia seu pai, ao
voltar a sua vila, tinha lhe contado tudo isso, nas entrevistas dizia meu pai,
nunca falou um alemão perfeito, para os outros era difícil entender o que as
vezes queria dizer. Mas fez tudo para
que eu tivesse estudos, pudesse ir à universidade, que era seu sonho. Que
descanse em paz. Ele bem como o George
eram produtores do filme. Algumas
universidade incluíram o argumento nos estudos, pois tinham muitos alunos de
origem, que renegavam totalmente suas origens.
O filme que o
Georg tinha escrito, foi ficando relegado sempre para trás. Ele aceitou participar de uma série com seu
amigo Paul. Eram dois detetives, que
tinham sido amantes no passado. Um
tinha ascendido, brilhantemente na carreira, mas vivia só em amargura, o outro
tinha conseguido montar uma família, complicada, mas sua família.
Quando o velho
companheiro se aproxima, outra vez, para uma investigação, o embate entre eles
é poderoso.
A diferença de
idade dos dois agora era patente, o Paul, lhe agradeceu ter sugerido seu nome,
pois a muito tempo não lhe apareciam papeis interessantes.
Quis montar um
texto de teatro, mas ninguém quis fazer comigo.
Ele quando leu o texto, disse que o faria, Georg seria o diretor. Um velho sonho que tinha. Alugaram um teatro pequeno para ensaiar, pois
acreditavam que não fariam sucesso, mas ao contrário, ficaram anos em cartaz, não
quiseram mudar de teatro, pois esse lhes dava o espaço perfeito para a obra, um
enfrentamento entre um velho gay, que vê como seu amante mais jovem, vais
fazendo o sucesso na vida que ele ansiou.
Mas o chantageia
para não ficar sozinho, o jovem se afasta, justamente por isso, por estar sendo
chantageado, não porque tenha deixado de querer ao outro. Mas no final, volta, para cuidar do mais
velho, nos seus derradeiros momentos, que é do meio para o final do espetáculo,
quando falam tudo sem medir a linguagem.
Quando propuseram levar para o cinema, se reuniram, para falar do
assunto. Achavam que se perderia a
cumplicidade do texto. O autor, sim
vendeu por necessitar de dinheiro os direitos ao cinema. Foi um fracasso total, pois os atores, não
davam o que o texto pedia.
A amizade entre
eles agora era imensa, apesar da diferença de idade, se davam bem.
Quando o amigo lê
o texto, do Georg, disse que faria qualquer papel no filme. Propuseram ao
diretor que o tinha dirigido no filme sobre o retorno, que fizesse a direção do
mesmo, mas que fariam o filme em outro lugar.
Teriam que
escolher atores jovens para fazer os papeis quando jovem, claro o texto era
diferente, um fica, outro vai, acaba tendo sucesso, como dono de restaurantes,
mas volta para salvar o amigo.
Como ia ser feito
em outro lugar da Turquia, ele aproveitou para visitar o amigo, mas foi sozinho
pois Georg, estava trabalhando na produção do mesmo.
Está na cabana do
amigo, quando escuta alguém lhe chamar, é um rapaz da mesma idade que eles
tinham. É teu irmão mais novo, nasceu
da segunda mulher de teu pai. Vem sempre aqui falar comigo, querem que se case,
mas ele está desesperado para ir-se daqui.
Foi como olhar
num espelho, perguntou se tinha muita coisa como bagagem, ele mostrou só o
cajado de se apoiar para levar as ovelhas, meu cachorro. O mesmo veio se colocar aos pés meu pés.
É um dos muitos
netos do teu cachorro. Se despediu do
Salim, disse ao irmão, tu te deitas no carro, o cachorro subiu junto.
Depois que saíram
da vila, ele perguntou ao irmão qual o sonho que tinha para realizar sua vida.
Este ria, nem acredito que começa meu sonho, quero estudar línguas, saber
escrever, isso tudo.
Georg foi como se
tivesse encontrado um filho, o orientou, começou a ensinar alemão para ele.
Ele sabia ler e
escrever, mas tinha como seu irmão, facilidade para aprender. Tinha menos idade que o irmão, mas podia
tirar seus documentos.
Quando acabaram a
filmagem na Turquia voltaram para a Alemanha, ele como George, seguiam vivendo
no mesmo apartamento, agora o que faziam de conta que era o quarto do amigo,
ficou para o irmão. Logo ele fazia
provas para entrar para a universidade, depois de um ano estudando, fazendo
provas para alcançar os outros alunos.
Segundo Georg, ele era brilhante.
Um dia recebeu uma chamada do irmão que nunca mais tinha visto. Esse fez um drama, que o pai, quase tinha
morrido ao saber que seu filho preferido tinha partido. O filho que esperava
que cuidasse dele na velhice. A
resposta que deu foi contundente, porque não vais tu, que é o filho mais velho,
cuidar de teu pai.
Do outro lado,
não houve resposta. Tempos depois soube
que o irmão tinha ido, mas que não tinha aguentado muito tempo, pois o velho
continuava chantagista, lhe infernizava a vida, não se adaptava mais a vida
ali, estava acostumado a Alemanha, acabou voltando com o rabo entre as pernas,
mas nunca mais voltaram a se falar.
O filme depois de
editado, na fase final, era um embate glorioso, entre os dois atores, tinham
conseguido com o trabalho no teatro, uma cumplicidade em cena impressionante.
Foi bem recebido
pela crítica, os dois ganharam como melhor ator no festival de Cannes, o mesmo
acontecia sempre por aonde ia o filme.
Buscavam
desesperadamente um texto para o teatro, quem lhes deu a solução, foi o
sobrinho, com seu primeiro texto. Tinha
escrito o livro, mas fazendo um curso de roteiros, tinha adaptado o mesmo para
teatro.
Era mais ou menos
a história que ele imaginava da vida do tio, ao encontrar o Georg. Uma vez
tinha visto os dois conversando, lembrando-se quando se encontraram em Munich, tinha
escrito a história baseado nisso, claro com sua imaginação.
Georg estava
agora com quase 80 anos, mas entre os dois seguia a cumplicidade. O afeto que os unia era impressionante.
Meses depois da
estreia Georg teve um enfarte, morreu quase em seguida, tinha deixado um
testamento vital, não queria que lhe prolongassem a vida, tinha vivido um
sonho, queria acabar como o mesmo.
Foi uma perda
difícil de digerir, mas aguentou o embate, adorava o trabalho que fazia, o
teatro para ele agora era uma coisa vital, esse contato em saber que as pessoas
estavam ali escutando o que diziam, era mais poderoso que o cinema.
Um dia conversando
discutiam se o Rei Lear de Shakespeare fosse para dois atores o faziam.
O pequeno Ismael,
como o chamava, disse, que iria pensar no assunto.
Revisou o texto
real mil vezes, podia fazer uma adaptação, a partir de uma frase da mesma,
quando o Lear, diz, aonde fui que eu errei.
Era um Rei Lear
velho conversando com seu fantasma de jovem, mais iam tocando todas as fibras
das coisa que aconteciam no original, porque tinha acabado daquela maneira.
Rodaram Alemanha
inteira, quando chegaram a final da linha, já em Munich, Paul, disse, para mim
basta, acabei por todo o alto, estavam a mais de três anos na estrada.
Ele tinha feito
dois filmes nos intervalos de uma cidade e outra, não que fossem filmes
maravilhosos, mas tampouco eram papeis como antes.
Passeou muito por
Munich contando a Ismael, como tinha sido ser chegar ali, como tinha conhecido
o Georg, inicialmente era uma maneira de pagar o que me ensinava, mas logo me
apaixonei por ele, pois realmente estava me abrindo o mundo.
Quando voltaram a
Berlin, lhe chamaram para fazer uma série interessante, que era sobre a segunda
guerra, o quanto Turquia tinha apoiado Hitler.
Ele fazia o papel de um general, que era contra isso, que se
transformava em um espião para os aliados.
Como as rodagem
acabavam em Istambul, foi visitar seu amigo Salim, estava a mesma coisa, passou
uns dias com ele por lá, sem sequer descer a vila.
Trocaram
confidencias, Salim lhe contou que nunca tinha podido o esquecer, que muitas
vezes se masturbava pensando nele.
Mas ele tinha
lembranças dessa época, o que fez lhe bem mesmo, foi subir a sua pedra, olhar
para trás, pensando em tudo que tinha conseguido, o amigo ficava de longe o
admirando. Quando a mãe do Ismael, subiu para pedir notícias do filho, comentou
que era respeitadíssimo, com livros, peças de teatro, no momento estava
escrevendo uma historia que seria uma série de televisão. Viu que a mulher ficava contente, sempre me
manda dinheiro. Começou a rir, no dia
que ele subiu a tua procura, fui eu que lhe disse que era sua chance, ou ficar
aqui aturando esse velho que vai fazer da tua vida um inferno. Me olhou espantado, lhe disse que sabia que
sonhava com isso, eres como ele, não perca teu tempo, nem olhe para trás. Fico contente que o tenhas ajudado. Teu pai, até na hora de morrer, reclamava de
tudo, o mais divertido, foi que reclamava como ia entrar nas terras de Alah,
com aquelas roupas velhas. Mas nunca
comprava nada, tinha duas roupas, quando uma estava suja, tirava para lavar.
Mas não queria pelo menos se limpar.
Foi ele quem fez
maldade com o Salim, menos mal que o ajudaste.
Cada vez que tinha que pagar, para as ovelhas subirem reclamava, que por
direito estas terras eram dele, pois tinha sido seu filho que tinha comprado. Falei com Salim que não abrisse mão, fui
amiga de sua mãe, o seu pai também era um bom filho da puta. Porque não vens visitar seu filho.
É muito longe,
não quero que ele passe vergonha por minha causa. Mas a convenceu, vivia sozinha na velha casa
que caia aos pedaços.
Para ela subir no
avião foi todo um acontecimento. Lhe
comprou roupas novas em Istambul, riam os dois da experiencia.
Quando viu seu
filho em Berlin, suas pernas afrouxaram, mas os dois a ajudaram, não parava de
passar a mão pelo rosto dele. Ismael,
tinha se transformado num homem, era requisitado por revista para escrever
sobre cinema, finalmente mostrou o que estava escrevendo, era uma série passada
nas montanhas, talvez com toques de sua infância.
Queria que ele
fizesse o papel de patriarca da família.
Nem pensar, quero
é descansar uma boa temporada. Mas o
ajudou a conseguir atores, tanto na Alemanha como Turquia, o diretor era um
amigo seu de universidade, que achava que ele tinha um relacionamento. A mãe voltou com ele para Turquia, já sabia
como ele vivia, até a colocou na série.
Ela depois ria se vendo na tela.
Resolveu fazer
uma coisa que a muito tempo se negava a fazer, recebeu um roteiro de um filme
rodado na Noruega. Um velho turco, que
não gosta de emigrantes de seu pais, pois nunca vão assimilar como ele, outra
cultura.
Foi seu último
filme, depois só faria teatro, o cinema já não lhe interessava.
Nunca mais teve
ninguém como o Georg em sua vida, as vezes tinha alguma aventura, mas sentia
falta do que os dois tinham, as intermináveis conversas. Às vezes, estava sentando lendo algo, se
voltava para falar com ele. O via ao seu
lado sorrindo. Na última Berlinade, o Festival de cinema de Berlin, aonde tinha
dois troféus, lhe fizeram uma homenagem a toda sua carreira.
Riu com isso, no
discurso, falou como tinha começado, do seu amigo, amante, professor, Gustav
Landau, sem ele eu não teria chegado a nada. Me ensinou a entender a palavra,
pois tanto no cinema como no teatro, a palavra era essencial. Mas ainda não estou morto, vou estrear
finalmente uma obra do maestro, a vida de Galileo, foi o primeiro texto que
conheci, bem como vi no cinema. Grandes
discussões sobre a representação, sobre o texto, está tudo aqui Georg, bateu na
cabeça. Obrigado.
Na plateia
estavam os amigos, seu irmão Ismael, tinha convidado o Salim, acenou para eles,
depois fizeram uma comemoração, pequena.
Salim se surpreendeu quando meses depois que terminou o espetáculo,
chegasse para ficar. Tá chegando minha
hora amigo, quero morrer aqui na minha montanha.
Agora os jovens
vinha de longe olhar com suas ovelhas, o homem que tinha sido como eles, que
tinha saído dali, vencido no mundo.
Estava sempre sentado na sua pedra pensando, com uma livreta do lado
anotando coisas que se lembrava.
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