RETURN
Estava no aeroporto de Phoenix, esperando
um amigo de infância que vinha busca-lo, para o enterro de sua mãe. Ela tinha estado a meses atrás em NYC,
aonde ele vivia, para visita-lo, foi para passar uns dias, acabou ficando
alguns meses. A princípio, tinha receio
de perturbar o trabalho dele, mas estar com ela tanto tempo, foi uma benção.
Puderam falar do passado, colocar em dia
muitas interrogações que ele tinha a respeito de sua própria vida. Houve uma época que chegou a pensar que era
filho adotivo, por ser tão diferente.
Ela mais ou menos contou a história de sua
vida para ele. Pois ele nunca tinha
entendido como uma mulher com bom gosto, com cultura, podia ter-se casado com
seu pai. Um homem muito mais velho,
cowboy, as vezes rude na maneira de falar, mas que a adorava. Procurava fazer todas suas vontades. Talvez por isso tinham um dos ranchos mais
bonitos do Arizona, a casa segundo ele, tinha sido desenhada por ela.
Como ela tinha contado, o tinha conhecido
numa feira agrícola em Phoenix, tinha um grupo de universitários que a estavam
molestando, pois era muito bonita, a tinham cercado, todos estavam
bêbados. Seu pai viu, se aproximou, a
chamou de querida, soltou estava te procurando, eles quando viram aquele homem
de dois metros de altura, forte, se mandaram.
Ele tinha sempre os cabelos compridos,
loiros queimados do sol, olhos verdes escuros, uma boca sensual, mesmo para um
homem de sua idade, na época ele devia ter entre 45 a 50 anos.
Quando foram embora, sorriu, dizendo, agora
devias me pagar uma cerveja por te salvar.
Ficaram conversando o resto da noite, acabou
cativada por ele, a cortejou durante um ano, ele vivia fora de Mesa, tinha um
rancho de criação de cavalos, vacas, um pouco de agricultura.
Os pais dela, foram contra desde o primeiro
momento, tinha a mesma idade deles, mas ela não arredou pé. Tinha acabado a Universidade, não tinha feito
o que queria, por culpa dos pais, se sentia perdida, perto dele se sentia
protegida.
Quando viu o rancho, esse estava mais para
cair. Ela examinou tudo, desenhou como
sonhava uma casa, uma mistura de adobe, com madeira. Ele estava louco por ela, mandou construir
como ela queria. Quando ficou pronta,
se apresentou em sua casa, com um anel muito bonito a pediu em casamento. Contra a vontade de todos se casou. Quando os pais a ameaçaram, soltou que eles
não precisavam vir ao casamento, pois tinha amargado a vida dela desde criança,
a protegendo de tudo.
Amava os cavalos, estava sempre com ele,
levando os rebanhos de um lado para o outro, era a vida que tinha sonhado. Ajudava nos partos complicados da vacas, das
éguas. A sua a seguia por todos os
lados como se fosse um cachorro.
A casa era imensa, mas seu reino, era uma
cozinha imensa, aonde os vaqueiros todos podiam comer. Levei um bom tempo para nascer, quando o médico
disse que devia ficar na cama, se negou rotundamente, creio que foi nessa época
que descobriu o desenho. Passava o dia
inteiro sentada na imensa varanda na frente da casa, desenhando tudo o que via. Segundo ela, se lembrava de ter desenhado na
sua juventude, mas que seu pai tinha proibido.
Na casa deles, tudo era pecado.
Quando você nasceu teu pai babava em cima
de ti, era muito parecido com ele, já em bebê, ele te erguia no alto, como se
fosses um avião. Na hora de comer
estavas sempre sentado no colo dele, ele dizia com orgulho, meu filho vai ser
um grande cowboy. Nada mais longe da
verdade.
Sua mãe tinha continuado a desenhar, agora
quando ia a Phoenix, ia a uma loja comprar material de desenho, pintura. Construiu nos fundo da casa, um pequeno
studio, pela casa inteira tinha desenhos ou pinturas dela. Quando algum amigo deles se casava, ela
desenhava o casal, dando um quadro com o desenho ou pintura dos dois.
Era pequeno, ficava ali sentado a olhando
trabalhar, era uma pintura extremamente realista, da paisagem local. Ou então me colocava em cima de um cavalo,
arrastando um burro velho com material, para ir pintar no meio do deserto.
O dono de uma galeria a descobriu, numa
feira, a mesma que tinha conhecido meu pai, vendendo seu trabalho. Comprou tudo. Mas ela se negava, fazer qualquer coisa que
a separasse de meu pai, ou de mim.
Então ele vinha uma vez por mês para comprar o que tinha pintado. O velho morria de ciúmes, pois o sujeito
tinha boa pinta, até que descobriu que era gay, passou a evita-lo, como se ele
tivesse alguma doença contagiosa.
Um dia esse homem, me viu desenhando,
soltou para minha mãe, esse garoto tem futuro, é muito observador, preste
atenção como se comporta. Eu tinha
desenhado, minha mãe no deserto, pintando um cactos, só que tinha acrescentado
um dos cowboys do rancho que era um índio. Disse para ela, diga para ele pintar num
quadro grande, vamos ver se ele é capaz.
Eu tinha nessa época uns dez anos de idade,
meu pai quando soube, ficou furioso, mas ela não deixou que me cortasse a
criatividade. Tornou a contar para ele
o que os pais dela tinham feito, não vou permitir que faça isso com nosso
filho.
Fiz o quadro, embora levei mais tempo do
que desenhar, pois não conhecia as técnicas, ela comprou material em tinta
acrílica que seria mais fácil para trabalhar.
Mas eu não deixava de ir andar a cavalo ou
mesmo ajudar meu pai com o gado.
Todos os dias ela me levava a Mesa, para ir
a escola, quando fiquei maior ia de bicicleta, cresci rápido demais, então era
mais alto que os outros garotos da escola.
Meu melhor amigo era o filho do xerife, os
dois tínhamos a mesma idade, apenas eu era loiro ele moreno. Tínhamos estudado sempre juntos desde
infância. Quando chegamos a secundária, se juntou aos outros estudantes, dois
irmãos, eram gêmeos idênticos, mas eu consegui descobrir uma diferença entre
eles, pela maneira de olhar, porque um deles tinha uma pequena mancha no
pescoço. Com a mania que tinha de
observar tudo, isso facilitava, os dois eram brigões, viviam abusando dos
outros garotos, mas conosco não facilitavam muito, pois erámos mais altos.
Um dia um deles apareceu na escola com um
revolver do pai dele, no meio do recreio, tirou a arma dando tiros para
cima. Quando o xerife os levou para casa,
encontrou o pai completamente bêbado.
Segundo meu pai, tinham uma das melhores
terras, do lado totalmente contrário ao nosso.
Quando tinha uns 15 anos, no verão sempre
ia tomar banho no rio que passava pela fazenda, tinha meu lugar especial, achei
estranho ver ali dois cavalos, amarrei o meu mais longe, me aproximei
devagar. Eram dois cowboys da fazenda,
se banhando nus, ia me aproximar, quando vi que se masturbavam, em seguida
começaram a fazer sexo um com o outro, fiquei alucinado, tinha uns corpos incríveis,
músculos naturais do trabalho que faziam.
Se beijavam, fiquei muito excitado, quando me descobriram, viram que eu
estava excitado, me abaixaram as calças, mamaram no meu caralho, que estava
imenso. A sensação foi de glória,
depois confessaria que o tinham feito, porque assim eu não falaria nada.
Aquele verão foi demais. Quando chegou o inverno, foram embora, eu
voltei a escola, um dia conversando com George ou Geo, vi que estava
desanimado, me contou que tinha feito sexo com uma garota, que não era nada do
que ele esperava. Contei para ele o que
me tinha passado nas férias de verão. Descobrimos
um lugar, bem escondido, começamos a sair depois da aulas, para nos
explorar. Me dizia, isso sim
gostava. Mas nunca nos penetramos, eu
não tinha contado que tinha penetrado os dois cowboys, tinha uma certa
vergonha.
Nesse lugar que íamos, descobri uma árvore
muito alta, treinamos subir, um dia, depois de muito esforço, chegamos na parte
mais alta, ali criamos nosso esconderijo.
Riamos porque podíamos ver todo mundo
passando na estrada, os dois irmãos como sempre incomodando os outros. Ali podíamos nos beijar a vontade, masturbar,
sem ter medo.
Meu pai me cobrava se eu não tinha nenhuma
namorada, lhe dizia que estava guardando quando fosse a universidade. Ele queria que eu fizesse veterinária, minha
mãe em seguida soltava que eu tinha que fazer o que quisesse, quando ele ia
replicar, ela lhe apontava com o dedo, depois descobrir o que queria dizer
isso.
Que ele não cometeria comigo os mesmo erros
que seus pais tinham cometido com ela.
Cada vez que o dono da galeria vinha,
olhava meus desenhos, dizia, agora pinta este.
Eu gostava, pois, ganhava dinheiro.
Mas quem os recebia era minha mãe que o guardava.
Tínhamos terminado a escola, no baile de
graduação, só faltou dançarmos juntos, enquanto todos tentava sair com uma
garota, os dois nos sentamos na praça em
frente a escola, cada um com uma cerveja, ficamos ali falando dos planos.
Geo iria para a escola de polícia de Los
Angeles, queria ser polícia como seu pai, amava seu pai acima de tudo. Eu estava confuso, tinha conversado com minha
mãe, pois quando estava a sos com meu pai, ele insistia que eu estudasse
veterinária. Não me apaixonava muito,
amava os animais, mas fazer disso minha vida era o mais longe do que queria.
Nesse dia minha mãe tinha me apresentado
uns folhetos que tinham chegado lá em casa, era da universidade de Belas Artes
de San Francisco, de Nova York. Devorei
os dois folhetos, mas ela me disse que os mantivesse escondido.
Ali sentados na praça, estava contando ao Geo
sobre isso, quando os dois irmão caíram em cima de nos dois, estavam
completamente bêbados. Um deles não sei
qual, soltou, pensa que não sabemos que fazem sexo um com o outro, vamos contar
para todo mundo.
Me deu com uma pedra na cabeça, fiquei ali
atirado no chão, pensou que tinha me matado, foram embora correndo. Geo, que tinha a cabeça também machucada,
chamou uma ambulância, Me levaram para
o hospital, tive que levar uns quantos pontos na cabeça, quando meus pais
chegaram, ele estava segurando a minha mão, dizendo que eu tivesse força.
Meu pai não gostou muito, da cena. Meses depois viu nosso cavalos na beira do
rio, os dois tomando banho juntos, nos beijando. Ficou uma fera, mandou o Geo embora, me
levou para casa, queria me dar uma surra.
Minha mãe, não permitiu.
A acusou de ser ela a culpada de eu ser
assim, com tuas pinturas, esse homem gay que vem aqui, olha o que aconteceu.
Ela olhou bem para ele, se queres podemos
ir embora, mas não toque no meu filho, nunca mais me verás.
No dia seguinte, me ajudou a arrumar minha
mala, vais ter que comprar tudo de novo lá, é outro mundo, tinha escrito para
uma amiga, que vivia em NYC, pedindo se podia me hospedar algum tempo até que
eu encontrasse um apartamento, tudo isso tinha feito em segredo, sem dizer ao
meu pai.
Ele tinha saído logo cedo com os cowboys,
ela me levou no seu carro, até ao banco, abriu uma conta com meu dinheiro,
depois pedes a transferência dessa conta para NYC, depositou dinheiro dela
também, tinha uma bela soma para começar minha vida.
Dali fomos para o aeroporto, me levou até o
avião, naquela época não existiam passarelas nada disso.
De tarde estava em NYC, sua amiga, me foi
buscar no Aeroporto de La Guardia, me levou para seu apartamento, vivia no
Vilagge, na época aonde viviam os artistas.
Ela era professora na universidade, bem como escritora. Minha mãe não sabia, mas vivia com uma
outra mulher, que não gostou muito de ter um homem em casa.
Mas graças a ela, consegui meu primeiro
apartamento, no Brooklyn, podia pintar nele, era um último andar, tinha que
subir cinco andares para chegar lá, mas era maravilhoso.
Mal começaram as aulas, fui me entrosando,
comprei como ela tinha dito, roupas mais ou menos iguais aos outros, calças jeans sempre tinha usado, mas muitas
camisetas, nada de camisas de quadros, nem de botas, tênis era o que se usava.
Os professores gostavam do meu trabalho,
diziam que eu tinha tendências ao hiper-realismo, mas aulas de nus, diziam que
eu era o único atento a qualquer detalhe do manequim que estivesse
posando. Meus primeiros trabalhos
chamaram atenção de um dos professores, chamou um conhecido dono de uma
galeria, mostrou dois trabalhos meus imensos, que estavam secando na escola. O homem gostou, queria comprar
imediatamente. O professor disse, acho
melhor esperares para fazer uma exposição com ele, assim o lanças ao mundo.
Me orientou bem como devia fazer, nada de
contratos, nada de intimidades. Me disse
que o dono da galeria, sempre queria fazer sexo com seus descobrimentos. Nunca misture alhos com bugalhos.
Eu estava a muito tempo sem fazer sexo, 90
por cento dos meus companheiros, não faziam o meu tipo. Escrevia semanalmente uma carta para o
George, falando dos meus progressos, ele me contava do dele. Sempre falávamos isso, a falta que tínhamos um
do outro. Mas que não podíamos ficar
presos a isso. Estamos cada um do outro
lado do pais, nada mais natural que tenhas namorados ou namoradas.
Foi quando desconfiei que devia estar
saindo com alguma companheira.
Levou meses para me contar a respeito,
senti ciúmes, tinha descoberto que o amava, por isso ficava procurando alguém
parecido com ele.
Uma noite aceitei sair com alguns
companheiros da escola, na verdade não tinha amigos, fomos a uma discoteca,
nunca tinha ido, fiquei deslumbrado, em vez de dançar, ou ficar bêbado, tirei
um caderno do bolso do casaco, fiquei desenhando rapidamente o que via.
Senti que uma pessoa olhava por cima dos
meus ombros, quando me voltei, era um homem de uns 35 anos, que era de tirar o
folego. Gostei do teu trabalho, me
contou que trabalhava no museu de arte moderno. Nessa noite acabei na sua casa, pela
primeira vez depois de muito tempo fiz sexo outra vez.
Passamos a nos encontrar, foi me
apresentando gente. Um dia foi ao meu
studio, viu o quadro que estava fazendo sobre a ida a discoteca, tudo ao mesmo
tempo era real, bem como tinha movimento, os borrões que a luz causava nas
pessoas em movimento. Quando viu todos
meus trabalhos, ficou impressionado. Tinha
um que amava de maneira particular, um dia tinha ido ao Harlen, me sentei numa
escada, fiquei desenhando os garotos jogando beisebol ali no meio da rua. Disso fiz um quadro grande. Me levou para ver meu primeiro jogo, nunca
tinha ido.
Eu na época não sabia dizer o que éramos em
realidade, mas era uma amizade com direito a sexo. Contei para minha mãe e para o George. Esse finalmente me contou que estava firme
com uma companheira, apenas trabalhavam em delegacias diferentes.
Desta vez não tive ciúmes, pois eu também
estava com alguém. Um dia fomos a um
jantar, só tinham homens, as conversas começaram a me irritar, pois o assunto
não podia ser o mais banal possível, tamanhos de pirus, se o sexo era bom, com
quantos tinham feitos naquela semana, sai para uma varanda que ficava do lado
da sala, agora fumava, para me relaxar, ou pensar.
Escutei uma voz atrás de mim, tampouco
suportas essas mariconas velhas, verdade?
Olhei, era o homem mais bonito que tinha
visto em minha vida, tinha a sensação de tê-lo visto em algum lugar, começamos
a conversar, ele era másculo, nem sei por que venho nessas festas, acabo
ficando de saco cheio, hoje estava cansado, por isso aceitei.
Me perguntou com quem tinha vindo?
Lhe disse.
Boa pessoa, tivemos um relacionamento a
muitos anos atrás. Nisso ele parecia ter
escutado que falávamos dele, entrou me apresentou formalmente ao outro, Gideon, para os íntimos, para os outros Rock
Alen, ator da Broadway. Fomos namorados
a muitos anos atrás.
Gideon, devias ver o trabalho dele, ias
gostar, é a tua cara.
Nisso entrou na varanda um jovem abraçou o
que eu acreditava meu namorado, dizendo me levas para casa. Se via que era aquele tipo de gigolo. O beijou na minha frente.
Gideon leve meu amigo para casa por favor,
tenho que levar essa louca para casa.
Fiquei literalmente chocado, desconfiava
dele, mas não a esse ponto. Gideon
disse que ele era assim, precisava de aventuras, veio aqui hoje te exibiu como
um descobrimento dele, mas alguém novo sempre lhe atrai.
Vamos que estou farto de estar aqui, te
levo para casa. Lhe disse aonde vivia,
estava puto da vida. Quando chegamos,
me perguntou se estava apaixonado por ele, lhe disse que não que tínhamos feito
sexo, mas não tínhamos nada sério um com o outro.
Quer ver o meu trabalho, a não ser que
esteja cansado. Subiu comigo, garoto
isso mata qualquer um. Fui lhe
mostrando o meu trabalho, me falta somente um para uma exposição.
Amei todos eles, começamos a conversar,
disse que estava na última semana de uma peça de teatro, que na seguinte
começaria a ensaiar outra, será a primeira vez que faço um papel
shakespeariano. Vou participar de uma
montagem de Macbeth, queres vir algum dia?
Ele não tinha feito nenhum movimento em
minha direção. Me sentia terrivelmente
atraído por ele. Sim, não quero te
perder de vista, me sinto terrivelmente atraído por ti.
Me respondeu sorrindo, gosto de ir devagar,
para não cair do cavalo, como aconteceu com nosso amigo.
Por que não vens amanhã ver o que estou
fazendo?
Claro que sim, conheço pouco de teatro, lhe
contei de aonde vinha.
Um cowboy?
A única coisa que fizemos foi ficar um de
frente ao outro nos beijando, estávamos excitados, mas respeitei seu
desejo. Me disse que deixava um bilhete
no teatro. Trocamos telefone.
Fiquei com sua imagem na minha cabeça, pois
tinha ficado muito tempo parado na frente dele, em vez de ir dormir, fui
desenhar, o desenhei de todos os ângulos que tinha visto.
No dia seguinte, fui ao teatro, não sabia
que fazia o papel principal, era fantástico escutar sua voz dizendo o texto, estava
numa lateral, tirei um bloco do bolso, comecei a desenha-lo enquanto fazia um
monólogo, parecia que falava comigo, teve um momento que ficou olhando na
direção que eu estava, o desenhei rapidamente, sabia já seu rosto. Os detalhes depois absorveria.
Depois do espetáculo, tomei coragem fui
falar com ele, me recebeu com um abraço, perguntou o que eu tinha achado?
Imenso,
nunca fui ao teatro, para mim era como se estivesses falando comigo no
momento do monologo, fiquei muito feliz.
Perguntei se queria jantar comigo?
Desde que seja um lugar tranquilo sim.
Perdão por falta de hábito não conheço
muitos lugares, escolhe tu.
Vou te levar no meu preferido. Me levou para sua casa, já tinha algumas coisas feitas, fez uma salada. Mas na porta paramos para nos beijar.
Me disse ao ouvido, foi duro te tirar da
minha cabeça para trabalhar.
Pois eu não te tirei da minha, não
conseguia dormir, como não queria esquecer os detalhes do teu rosto quando nos
beijamos, fiquei desenhando.
Mesmo no teatro fiquei te desenhando, como
se eu estivesse ao seu lado.
Quando viu os desenhos, me beijou outra
vez.
Neste dia acabamos na cama, eu tremia de
emoção, não porque fosse um ator famoso, mas porque ele me provocava isso, disse
o mesmo para mim. Normalmente espero um
tempo para saber se estou interessado, mas não quero te perder.
Dormimos juntos, o telefone nos despertou,
ele tinha um ensaio, queres vir?
Tenho que trabalhar?
Mas hoje é domingo?
Comecei a rir, nunca presto atenção nos
dias da semana, trabalhar para mim é todo dia.
Fui com ele ao teatro, o vi lendo o texto,
com os outros atores, trabalhando a palavra, amei o texto, pedi uma cópia para
ler inteiro a história.
Disse se podia ir a minha casa, queria que
posasse para mim, para terminar o trabalho que estava fazendo.
Quando viu, ficou impressionado, já gostava
do resto, mas é incrível, que tenha percebido esses detalhes.
Rindo lhe contei do meu professor, que
dizia que eu era o rei dos detalhes.
O fiz sentar-se, lhe tirei a camisa, tinha
que tomar cuidado, por qualquer coisa, era como se soltássemos chispas. Fui esboçando o que queria fazer, imaginei
como um deus romano, com uma coroa de metal, quando o deixei ver, ficou alucinado, eu
imagino Macbeth assim.
Depois me empresta o desenho, para mostrar
para o figurinista.
Posso colocar esse quadro na
exposição? Mas não o venderei, será teu,
é que tenho pouco tempo, no momento é a única coisa que tenho na cabeça. Fomos para a cama em seguida, ficamos nos
olhando depois do sexo. Me soltou eres
muito mais jovem do que eu, com certeza deves ter vontade de aventura.
Lhe contei tudo, do George, até seu antigo
namorado, não gosto de ir por ai, tenho que trabalhar, é muito importante para
mim, é a minha vida que tenho que levantar.
Tenho dinheiro por bastante tempo, dos trabalhos anteriores que
fiz. Mas isso tudo é novo para mim.
Mostrei os quadros que tinha pintado na
fazenda, falei de minha mãe, de meu pai.
O que tinha acontecido.
Comigo foi mais ou menos igual, me
expulsaram de casa, por terem descoberto que sou gay.
Mas procuro levar a vida mais discreta
possível. Procuro não frequentar festas
como aonde nos conhecemos, ou ir de bares, discotecas etc. Tenho um nome, não gosto de estar envolvido
em confusões.
Dormiu lá em casa, no dia seguinte, como
não tinha nada que fazer de manhã, ficou ali decorando texto, enquanto eu
terminava o quadro.
estávamos tranquilos quando apareceu o
nosso ex-namorado, como se nada, quando nos viu juntos, foi embora. Nos vemos por aí, foi sua despedida, não se
esqueça de me mandar o convite para a exposição.
Quando o da galeria viu o trabalho todo,
ficou como louco, conhecia o Gideon, direi que foi uma encomenda tua, quando
lhe disse que não estava à venda.
Começou então a loucura que eu não estava
acostumado, veio um fotografo para preparar o catalogo, depois da exposição
montada, as entrevistas, tinha discutido com o da galeria, que acabaria sendo
um bom amigo, Martin Firente, pois a
inauguração seria no mesmo dia da estreia do Gideon, eu queria estar presente, como queria que ele
estivesse na inauguração.
Adiamos para a semana seguinte, o único
quadro que não estava a venda era o seu, tinha um pequeno cartaz, gentilmente
cedida por Rock Alen.
Em dois dias tinha vendido tudo. O museu do ex-namorado, comprou o quadro do
Harlen, o que me surpreendeu.
As entrevistas na televisão foram
muitas. Mandei um catálogo para o
George, pedindo desculpas por não ter escrito muito, mas nossas cartas
continuavam, falava do Gideon, com ele. Mandei um catálogo para minha mãe, que
me telefonou emocionada. Eu sabia, eu
sabia, que não me enganava contigo. Até
seu pai gostou. Passou o telefone para
ele.
Olá meu filho, vejo que me enganei contigo,
tua mãe vai me esfregar na cara sempre isso, riu.
Foi a última vez que falei com ele, morreu
meses depois, tinha proibido minha mãe de dizer que estava com câncer. O argumento dele, era, ele tem uma vida pela
frente, se vem para cá, vai se distrair do seu caminho.
Quando morreu, ela me avisou, peguei um
avião fui, Gideon não podia ir, mas escreveu uma carta para ela. Cheguei em cima da hora, já para o enterro
no cemitério.
Fiquei dois dias com ela, depois voltei.
Ele estava literalmente nervoso, disse que
tinha lhe parecido uma eternidade, outro dia errei o texto porque estava
pensando em ti.
Mas se nos falamos todos os dias?
Mas não estás ao meu lado.
Tenho que dizer que realmente te amo.
Meses depois foi chamado para fazer um
filme, em Hollywood, antes de aceitar veio falar comigo, não queria ir. Acabei indo com ele, alugaram uma bela
mansão, aonde eu tinha meu studio.
Acabei fazendo uma exposição em Los Angeles, foi bom ver outra vez o
George, que sempre aparecia lá em casa. Tinha se casado, mas se via que não era
feliz. Sua mulher, logo ficou encantada
com o Gideon.
Mas quando foram a exposição, disse na
minha cara que não gostavas muito de pintura, que arte para ela era o
cinema. Era muito brusca, um dia
comentei com o George, que as vezes parecia muito masculina.
Riu, talvez por isso me casei com ela.
Depois de dois filmes, Gideon queria voltar
para os palcos, mas foi franco, quero viver contigo, como aqui, pois não
consigo imaginar minha vida sem ti.
Compramos, depois de muito procurar um
apartamento no Upper West Side, que encontrei um studio que tinha sido de um
pintor, no andar de cima, pertencia a sua mulher que vivia no prédio, me alugou
por um bom preço.
Agora estava fazendo uma serie de quadros, pelas
ruas da cidade, me sentava numa esquina, com um cavalete, retratava a diagonal,
depois mudava de lado, fazia o mesmo. Fazia
anotações de pessoas interessantes que passava, algumas vezes, fazia fotos, que
passou se ser uma outra paixão.
Quando comecei a colocar isso nos quadros
grandes, Gideon, ficou encantado.
Estava preparando um trabalho em
cima de uma obra europeia, dizia que era como estar falando outra língua, pois
tinha que trabalhar mais. Como sempre
subia com o texto, sentava-se na pequena varanda que tinha esse apartamento. Ficava ali estudando. Eu as vezes parava ia até ele, lhe dava um
beijo. Ou ele esperava que eu parasse
para olhar de longe o que estava fazendo, para me ler um pedaço do texto, que
lhe parecia vazio de significado.
Quando o autor do texto um alemão veio,
para escutar as leituras, lhe explicou detalhadamente o que queria dizer. Pela primeira vez fiquei com um ciúmes
feroz. Pois o homem que era
interessante, subia ao palco, o tocava, se encostava nele por detrás para dizer
como fazer o personagem.
Ele riu adoidado comigo, se o tivesses por
perto, ias ver que é horroroso, cheira mal, como está sempre com um charuto na
boca, quando fala perto, o cheiro é horrível.
O homem era um poço de egocentrismo,
reclamava de tudo, que os outros atores não entendiam os personagens. Até que foi embora, todos respiraram
aliviados. Finalmente o diretor pode
fazer dele o texto.
Quando estreou, a crítica elogiava o
trabalho do Gideon, logo foi convidado para fazer o mesmo papel no cinema, um
filme alemão. O problema era que tinha
uma exposição, justo nas vésperas de iniciarem as filmagens. Ele bateu o pé, que só podia começar a
filmagem depois da minha inauguração.
O diretor do filme, veio com o cenógrafo, que quando viu meu trabalho,
perguntou se podia recriar alguns quadros dos quais só existiam fotografias,
pois os originais tinham sido queimados por Hitler. Posso fazer similares, iguais não gostaria
de fazer.
O diretor comprou um dos quadros, tinham
conseguido um apartamento antigo, restaurando, prepararam um lugar que eu
pudesse trabalhar no studio. Basicamente o filme era rodado em interiores.
Pintei a ideia dos quadros, os
envelhecendo, meu nome depois aparecia nos créditos, eu ria dizendo que nunca
tinha lido os créditos no cinema. Mas
eraram meu nome, Cliff Rostock, escreveram Cliff von Rostock, depois descobri
que tinha uma cidade com esse nome.
De lá Gideon foi fazer uma filme em Paris,
tinham lhe oferecido mundo e fundos, consegui um studio perto do apartamento,
fazia a mesma coisa que tinha feito em NYC, comecei a ir desenhando os bairros
e sua gente. Estava desenhando na Place
de Fustemberg, quando o dono de uma galeria passou, ficou olhando, perguntou se
eu tinha mais quadros, primeiro lhe mostrei os desenhos todos que tinha
comigo. Depois o levei ao studio, ficou
impressionado, me perguntou se tinha alguma galeria em Paris para fazer
exposição. Quando lhe disse que não, foi me mostrar a sua, era grande. Fizemos um acordo, preparei todos os quadros,
trabalhando duramente, pois Gideon tinha que ir filmar no interior. Não podia ir, ele telefonava todos os dias
várias vezes. Quando voltou, estava
cansado, fez algumas filmagens mais andando pelas ruas de Paris, eu o
acompanhava nessa parte, dizia que não queria mais ficar longe de mim. Fui
fotografando tudo. Um dia, ele tinha
que andar como se fosse um velho, por uma rua vazia, com um casaco pesado, com
um chapéu que lhe cobria uma parte da cara, fiz as fotos, nessa noite tive que
trabalhar com ele reclamando que não via a hora de voltarmos para casa.
O médico disse que estava estressado, que
precisava de descanso. Eu agora saia de
manhã, ia para o studio, ele chegava ao meio-dia para irmos comer.
Quando viu o quadro com o personagem,
trouxe o diretor, que o comprou para ser o cartaz do filme. Mas me permitiu
usar na exposição. Conhecia tão bem sua
cara, que fiz uma ampliação da foto, usando tão somente a parte de cima do
corpo, o chapéu, sua cara na sombra, nunca poderia imaginar que seria o último
que pintaria dele.
Depois da exposição, que vendeu tudo,
inclusive para um museu de Londres, outro de Paris, voltamos para casa como ele
dizia. Mandei embalar todo o material
de trabalho, despachei.
Quando chegamos em casa, ele riu, dizendo,
só aqui tenho você só para mim. Dois
dias depois despertei, ia me levantar como sempre, para o deixar dormindo até
mais tarde, mas achei estranho, pois sempre se mexia na cama. Tinha morrido durante a noite.
Fiquei em choque, chamei o Martin, pedindo
ajuda, ele me ajudou com tudo.
O que eu não esperava era dias depois do
enterro, ao lerem o testamento, que aparecesse pessoas da família dele. Ficaram furiosos pois ele não deixava nada
para eles, o apartamento era para mim, o resto ia todo para orfanatos, obras de
caridade, que ele sempre tinha colaborado.
Eu fiquei vazio, foi quando minha mãe veio
ficar comigo, falamos tanto, mas tanto, que finalmente entendi sua maneira de
pensar. Passeávamos, íamos aos museus
que ela nunca tinha visto, saímos para
jantar com o Martin, foi ficando, até
que a chamaram da fazenda, pois tinham
coisas que precisavam dela.
É minha vida meu filho, me contou que
continuava pintando, vendendo à mesma galeria.
Ele sempre pergunta de ti.
Acompanha toda tua trajetória.
Lhe tentei convencer de voltar, ir comigo a Paris, que tinha certeza de
que ela ia gostar. Tinham me convidado
para fazer uma nova exposição.
Enquanto pensava no que pintar, tinha
milhões de esboços, mas nada me apaixonava, foi quando soube que George estava em
Mesa, agora era o xerife de lá. Foi ele
quem me avisou que minha mãe estava mal.
Finalmente ele chegou, corri para ele, nos
abraçamos, bem apertado como para recuperar o tempo que tínhamos estados
afastados.
Colocou minhas coisas no carro, fomos conversando,
me contou o que tinha minha mãe, ela quando foi ficar contigo, já estava em uma
fase adiantada, mas queria aproveitar o tempo para falar com você, a tenho
visitado sempre. Me contou tudo do que
falaram. Mas se prepare esta nas
últimas, se negou a fazer qualquer tratamento.
Lhe perguntei como ia ele.
Ah meu amigo, não tem sido fácil, entendi
que procurei em cada pessoa que passou por minha vida aquele amigo que tive, a
quem amei desde garoto. Mas sabes que
isso é impossível, vou aguentando, tivemos problemas na cidade.
Lembra-se dos dois irmãos que nos
atormentavam, nos atacaram na formatura. Bom um deles esta morto, justo embaixo
da nossa árvore. O outro desaparecido,
não sabemos bem qual dos dois, esta morto.
A cidade estava farta deles, venderam a fazenda, repartiram o dinheiro
aos tapas, pois cada um queria sair melhor parado que o outro.
Acreditamos que o que morreu, foi nas mãos
do irmão, mas não encontramos o outro.
Quando chegamos em casa, parecia parada no
tempo, tudo seguia igual, fiquei parado olhando, a vi na varanda, como que me
esperando, como sempre com um bloco de desenho no colo.
Corri até ela, pois devia a ela tudo o que
era, a abracei. Passei um mês ali,
cuidando dela, ajudando no que podia, George, vinha todos os dias me ajudar,
depois que conseguia que dormisse, sentávamos na varanda, de mãos dadas falando
da vida.
Me contou um dia que tinha ido a NYC ver a
inauguração de uma exposição, que me viu sentado numa praça em frente com o Gideon,
que eu tinha minha cabeça apoiada no ombro dele.
Me senti perdido, quando voltei para Los
Angeles, pedi o divórcio, te amar me fazia sentir mal, não podia mais querer
que as outras pessoas estivessem na minha vida, porque se pareciam contigo.
Quando minha mãe morreu, a enterramos
embaixo da árvore que ela não se cansava de desenhar, de encontrar outras
maneiras de olhar. Tinha pedido para ser cremada, que suas cinzas ficassem ali,
quando eu me sentasse na varada, me lembrasse dela, que tinha me amado mais do
que nada no mundo. Seja feliz.
Passei uns dias chateado, mas entendia que
não ter qualidade de vida, era impossível seguir em frente.
Fazia um belo dia de sol, George me
convidou para tomarmos um banho no rio da nossa juventude. Nem posso dizer que foi como recuperar tudo,
éramos diferentes, já não tínhamos sonhos para discutir, o que fizemos foi nos
conhecermos outra vez, o sexo entre nós sempre foi magico, a primeira vez que fizemos amor na beira do
rio, foi como encontrar algo perdido, ao mesmo tempo totalmente novo.
Fui ficando, com os tempos modernos, tudo
era mais fácil, pintava fotografava, mandava para as galerias com quem tinha
trabalhado a vida inteira, comecei uma serie, baseada nos desenhos de minha
infância, que encontrei no studio de minha mãe.
O amigo de minha mãe, apareceu, chorou, pois ele tinha me
descoberto. Era como pintar a minha obra
de juventude, agora com outros olhos.
Pela primeira vez fiz uma exposição em Phoenix,
na sua galeria, ele disse, aqui não se vende muito, será a última coisa que
faço, mas por incrível que pareça, vendeu tudo.
Fiz um quadro do George sentado nu na
relva, quando éramos jovens, o tinha na minha memória, ele adorou, agora está
no salão da nossa casa, vivemos juntos.
Um dia fomos até nossa árvore, me contou
como tinham encontrado um dos irmãos, olhei para cima, vocês não olharam lá em
cima verdade. Claro já não tínhamos
idade para subir, ele pediu uma grua, no nosso esconderijo, estava o cadáver do
outro, com duas bolsas de dinheiro.
Os pássaros tinham lhe comido todo o corpo,
mas a prova de ADN comprovou que era o que faltava.
Tinham se ferido mutuamente, um deles
conseguiu subir, porque sabia que ali havia um esconderijo.
Que coisa mais idiota, tinham feito muitas
merdas na vida deles, entrando e saindo da prisão, quando tinham as melhores
terras da redondeza.
A seguinte coleção, que era sobre os
panoramas que pintava minha mãe, no deserto, fiz o mesmo que ela, apenas de
maneira diferente, comprei uma motorhome, íamos os dois passar dias no
deserto. George me mimava, cuidava de
mim, enquanto eu desenhava, pintava, no final dessa coleção, comecei a perceber
que estava perdendo minha capacidade de ver os detalhes.
Fui a um médico, depois de todos os exames,
ele me soltou, os dois acabamos rindo muito, “o que queres a idade chega para
todos”, isso é signo que a idade está chegando.
George estava cheio de cabelos brancos, eu
também, nele aparecia mais, pois era moreno.
Como queriam a coleção para a galeria de
Paris, fomos juntos, nos deliciamos, realizando um sonho de juventude, que era
viajar por toda a França juntos, sem pressa, tínhamos todo o tempo do mundo.
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