lunes, 25 de enero de 2021

GET AROUND - DAR A VOLTA POR CIMA

 

                                                        GET AROUND

                                             DAR A VOLTA POR CIMA

 

Estava furioso, mas não sem razão, as coisas no último mês, tinham saído do seu controle, tudo tinha ido para a casa do caralho, como ele dizia.

Voltava de uma viagem ao Canadá, aonde tinha ido atender um cliente, era arquiteto, decorador, tudo que fizesse falta, apesar de viver em Londres era americano, já vivia e trabalhava no Reino Unido, para mais de dez anos.   Os mesmo dez anos que vivia junto com um jornalista que tinha conhecido nada mais ao chegar, durante seu primeiro trabalho.  Afinal ele o tinha lançado no mercado por causa de uma reportagem.

Era o querido dos novos ricos, que compravam mansões velhas para restaurar, queriam era aparentar, ele era experto em saber restaurar essas casas as transformando no mais moderno possível, além de aproveitar os moveis antigos, misturando com os modernos, os mais caros do mercado.   Sempre que induzia um cliente a comprar alguma coisa, recebia claro dinheiro por fora.

Tinha ido justamente finalizar um trabalho.   Um inglês que tinha emigrado para o Canadá, com uma mão na frente, outra atrás, tinha comprado uma mansão, mas ao ver um trabalho seu, o contratou.    Fez o projeto, foi ao Canadá várias vezes, separou todos os moveis antigos da casa, os mandou restaurar, os transformando em algo moderno, visitou as lojas de lá para saber negociar as compras.   Todo mundo o conhecia das revistas de decoração que chegavam lá.

Foi relativamente fácil, tinha agora contrato para mais duas.  Mas claro nunca nada é cem por cento perfeito.

Mal desembarcou, o levaram a parte, dizendo que seu namorado Boris Smith, tinha um problema que por conviverem tinha que fazer uns testes.  Não se preocupe com a sua bagagem, nesse momento um agente a está recolhendo a levará para sua casa.

Pelo visto Boris estava infectado com algum vírus, não sabiam, se tinha ido para Bielorrússia com o vírus ou se tinha contraído lá.   O levaram para o hospital, viu de passagem, Boris como numa bolha, um quarto especial, para pacientes com vírus estranhos.   Seu fotografo também o tem, mas em grau menor.  O senhor Boris está em coma induzido.

O fizeram fazer todos os tipos de exames, ao final o levaram para uma sala, aonde estavam dois médicos, ainda com humor brincou, um me dará uma boa notícia, o outro vai me ferrar, é isso?

Realmente pode ser isso, o senhor não tem o menor indício do vírus, portanto contraiu lá, mas passo a palavra ao meu companheiro um oncologo.

Nos exames, descobrimos que o senhor tem um tumor no pulmão, o quanto antes opere será melhor, pois é um dos tipos raros, teremos que extirpar metade de seu pulmão, além de quimioterapia, radio, o que faça falta.

Ele entrou nessa roda viva, lhe operaram em seguida, cancelou os contratos que tinha, explicando a razão.   O médico lhe disse o senhor é jovem, forte, esportista, o que era uma meia verdade, as pessoas o olhavam para seu físico, pensavam que passava o dia inteiro em algum ginásio fazendo fitness.    Odiava fazer exercícios, o tinha pela sua juventude trabalhando duro para chegar ao final do mês.

Como Boris estava em coma, resolveu que se operaria ali mesmo.   Antes da operação ficou sabendo da verdade, que já desconfiava.   O pobre fotografo, era sua primeira experiencia numa reportagem desse calado.   Mas claro Boris o tinha escolhido porque era jovem, bonito, além de fazer seu tipo.   Filho da puta pensou, desde que tinha começado com uma conversa de terem uma relação aberta, já desconfiava, mesmo antes, sabia que nas viagens que fazia, sempre pintava uma certa aventura.

Por isso, sempre se protegeu, usando camisinha, o outro reclamava, mas não abria mão, depois de ter visto na sua juventude a quantidade de gente morrer de AIDS, não fazia concessões. 

Boris dizia que a sensação não era a mesma, queria sentir seu imenso aparelho dentro dele, vibrando.   Sempre era exagerado em tudo.

O rapaz contou que os tinham separado, tinha colocado Boris dentro de um containers de transportar produtos, ele em outro.   Morri de medo, mas fiquei quieto, não sabia direito o que tínhamos ido fazer, tampouco de que ia a reportagem.   Fazia apenas um mês que estava no jornal.   Como ele era famosos, pensei que lançaria minha carreira.

Quando esteve a sós com o rapaz, perguntou se tinha acontecido algum relacionamento sexual com Boris.   

Tentar ele tentou, mas não sou gay, inclusive me ameaçou que seria minha última reportagem, creio que afinal foi ele quem criou essa confusão toda.

Ficou com pena do rapaz, com um ódio mortal do Boris.

Estava já na última seção de quimioterapia, totalmente calvo, tinha perdido todo seu cabelo, que diziam que era um dos seus charmes, largos, loiro, que casavam muito bem com a estampa que projetava.

No meio do corredor, se encontrou com o agente com quem tinha falado todo esse tempo, vinha lhe dar a notícia que Boris, tinha falecido, sem voltar do coma.  Se ele queria ir vê-lo, disse que não, acabo de sair de uma seção de quimioterapia, melhor não, lhe deu o nome do advogado do Boris, ele com certeza providenciara tudo.   Não tempo cabeça para isso, nem me sinto bem.

Quando entrou no seu quarto no hospital, levou um susto, ali estava parado, um homem alto como ele, de costa, com um roupão do hospital, com a cabeça coberta, quando este se voltou, viu que o mesmo chorava.  Foi até ele o abraçou, sinto muito pelo Boris, era um grande amigo meu.  Ficaram os dois ali abraçados, um com a cabeça no ombro do outro.

Era seu antigo fotografo, não fui nessa viagem, porque me descobriram um câncer, muito complicado, pois me atingia em dois lugares, acabo de fazer a segunda operação.

Esse filho da puta, levou esse garoto, com certeza para ter uma aventura, me desculpa falar assim, mas eu tive uma aventura com ele quando começamos a trabalhar junto.  Nas viagens ele queria sempre aproveitar.   Dizia que em casa, contigo, tudo era normal, que te amava, mas ele queria sexo duro.    Se metia em muitas confusões, lhe disse que um dia acabaria mal.

Sinto muito, mas acredito que necessitavas saber.

Soltou, um americano, arquiteto, decorador, com uma excelente aparência, para aparecer em sociedade, mas por detrás era um filho da puta de muito cuidado.  Se sentaram os dois, ele comentou a história da camisinha, nunca confiei nele totalmente, por isso me negava a viver na mesma casa, queria ter a minha, caso acontecesse algo.  Mas era ele quem não saia da minha.

No último dia antes de viajar, começou com uma conversa estranha, mas eu estava mais preocupado com meu projeto, nem lhe escutei.

A única coisa boa, foi que no meio dessa confusão descobrir que tinha esse câncer, mas adiante seria impossível me curar.

Ficaram de se ver, lhe caia bem, estavam os dois carecas, mas eram atraentes.

Quando saiu do hospital, foi a cerimônia que o advogado dele tinha montado, mas se negou a falar nada.   Vens a leitura do testamento?

Por que faço parte dele?

Sim uma parte sim.

Foi para sua casa, retirou todas as roupas do Boris de lá, deu para um mendigo que vivia ali na esquina.  Não queria nada dele mais por lá.

O pior veio na semana seguinte, as pessoas sabiam o que tinha acontecido com o Boris, portanto assimilava que como ele tinha estado tanto tempo no hospital, era que tinha a mesma coisa.

Telefonava para os conhecidos, todos tinham desculpas para não se encontrarem, na verdade eram mais amigos do Boris que dele.

Tampouco apareceu nenhum contrato, ou pessoa o procurando, quando falou com os clientes que tinha atrasado o trabalho, tiraram o corpo fora, como se ele tivesse um vírus também.

Sentou-se no seu pequeno salão, pensou, creio que está na hora de voltar para casa.   Tinha um pequeno apartamento no Soho, que um amigo alugava a anos para turistas.  Lhe disse que estava voltando, que mandasse pintar o mesmo, já veria o que fazer quando chegasse.

Avisou seu caseiro, que deixaria o apartamento, antes iria contratar uma empresa para mandar suas coisas para NYC.   Nesses anos, tinha encontrado muitas peças interessante, faziam parte da sala que atendia os clientes.

Foi a leitura do testamento, ficou surpreso, deixava tudo para ele, o apartamento, que ele pensava que era alugado, bem como dinheiro.  Não tinha ninguém mais na leitura, para uma pessoa que tinha milhões de amigos, só ele era o que recebia algo.   Mas nenhuma carta, nada.

Nem pensou muito, mandou que o advogado vende-se a casa, com tudo que estava dentro, afinal se tinha nesses anos todos, ido umas 10 vezes lá era muito, comentou isso como Advogado, era ele que sempre estava na minha casa.

Foi com o advogado transferir o dinheiro para sua conta, bem como este mandou preparar uma procuração para vender a casa.

Depois que a transportadora embalou tudo, levando para dois containers, nunca tinha pensado que tinha tanta coisa.  Se a venda da casa fosse boa, poderia comprar um apartamento melhor para ele.

Se sentiu um filho da puta, pensando nisso, mas fazer o que, tinha que recomeçar sua vida.

Ficou uns dias num hotel, antes de ir embora o advogado lhe chamou, pois tinha vendido a casa, muito bem vendida afinal.  Os novos donos o queria contratar, mas disse que tinha compromissos em NYC, que não podia aceitar.

Depois do dinheiro no banco, combinou de com o gerente, como fazia para transferir.  Antes de ir embora, direto para NYC, foi ao Luxemburgo, muitos clientes lhe pagavam por lá, tinha uma bela soma, dinheiro ganho pelo seu trabalho.   Poderei escolher agora os clientes.

Passou por Paris, para ir ao Marche de Saint-Quen, aonde comprava muito, passou uns dias visitando todos os antiquários, que conhecia, separando peças, tinha uma ideia na cabeça, iria colocar em execução.   Quando via algum casal de namorados procurando algo, se lembrava do Boris, sentia em sua boca, um sorriso amargo.  Tinham feito muito isso, andarem por ali, procurando coisas.     Mesmo assim, visitou uns quantos com esculturas que adorava, bem como máscaras africanas.   Comprou muita coisa, contratou uma empresa que sempre fazia isso para ele, mas quando escutaram falar em NYC, riram, deixaste de explorar os ingleses.   O homem tinha muito senso de humor, era um português, que tinha emigrado para lá jovem.   Vais enganar em outra freguesia.   Nesse dia foi almoçar com esse homem, lhe caia bem, tinha quase 65 anos, não pensava em se aposentar, meus filhos, foram a universidade, cada um tem sua vida, ninguém vai levar isso em frente, meus empregados, precisam de mim.

Quando o último se aposentar, vou pensar no assunto.  Se despediram, se depois vieres, me procure, lhe deu seu número particular.

Finalmente foi para NYC, seu velho apartamento lhe pareceu uma merda, era realmente mais para turista.   Imediatamente começou a procurar o que tinha ideia na cabeça.  Falou com imobiliárias, a zona que queira, Madison Ave, Park Ave, Lexington Ave, mas acabou achando mesmo na 2and Ave.    Uma bela loja, que já tinha sido de antiguidades, além de um apartamento em cima.  Comprou o apartamento, a loja alugou do mesmo proprietário, com a possibilidade de comprar mais à frente.   Contratou gente, seu amigo que alugava o apartamento para ele, conhecia muita gente, lhe indicou um grupo de poloneses, que faziam trabalho de restauro.   Foi ver dois trabalhos deles, conversou com o chefe, se trabalhas bem, depois os contratarei para outros trabalhos com clientes.   Mas aviso, sou exigente demais.

Sei quem é o senhor, me mostraram muitas vezes trabalhos que saíram em revista, queriam igual.   Venha comigo, telefonou a uma pessoa, o levou para ver o apartamento, era um projeto dele, para uns ingleses.   O apartamento era exatamente igual ao seu projeto, pediu licença a dona examinou tudo, anotou em um livrinho que levava, depois falou do o Paul Kina, veja, encontrei esses dois defeitos, isso eu nunca admito.

Ele riu, fiquei esperando isso, coisas que os que nos contratam não querem gastar dinheiro.

Foi com ele ao local, ali mesmo começaram a trabalhar, ia anotando tudo que queria, era muito trabalho, desde tirar duas paredes do apartamento, bem como raspar todo chão de madeira, substituir tabuas do assoalho, por outras iguais.

Na loja, mandou limpar tudo, deixar um espaço totalmente diáfano, só não iriam retirar nenhuma coluna. 

O advogado, bem como ele resolveriam todo os papeis de licença.   Quando tiveram visto bom, começaram a obra.  Eram todos parentes, pois se pareciam muito uns com os outros.

Na segunda vez que foi, pois Paul queria que visse algo que tinha descoberto, uma escada que dava a um porão, que não aparecia no projeto, quando conseguiram abrir a porta, encontraram um cadáver ali.

A polícia apareceu, Paul ainda tinha dito que era melhor ficar quieto.  Isso atrasaria a Obra.

Olha, Paul, nem sei quem é, mas merece nosso respeito.  Depois que a polícia levou tudo, puderam quase quinze dias depois limpar tudo.  Por sorte não tinha cheiro.

O policial voltou umas duas vezes, ficaram na dúvida, a escada que levava ao porão vinha do apartamento de cima, também dava para a loja.    O proprietário, nem sabia da existência, tinha herdado do seu tio o local, bem como o apartamento.   Era um homem complicado, quando meu pai morreu, me meteu num internato, que só sai para ir à universidade.

Era casado com uma mulher linda, quando voltei aqui, segundo ele ela tinha morrido, não tinham filhos, portanto pode ser ela.   O mistério levaria muito tempo para resolver.

O melhor agora era que tinha um porão para guardar as mercadorias.

Apressou o Paul, pois em breve estaria chegando os containers de Londres, bem como os de Paris.

Ele lhe perguntou se não ia precisar de uma pessoa para trabalhar com ele, tinha um filho, que não vivia com ele, mas que estudava artes. Quem sabe.

Quando viu o rapaz, era uma cópia do Paul, mais jovem.  Riu, pensou, mas prefiro o pai.

Soltou isso na cara do Paul.  Esse riu, eu também escolheria o senhor.  Mas uma aventura entre nós estragaria o negócio.

Quando o container de Londres chegou, um deles era os moveis de seu apartamento, com os homens do Paul, foi colocando tudo no lugar.  Algumas vezes dava uma ordem, mas não lhe entendiam.   Paul resolveu tudo, vou trazer um rapaz que trabalha comigo em outro projeto, quando viu o rapaz, ficou de boca aberta.  Era um homem espetacular.

Se entenderam ao primeiro momento, Joseph Grain, contou que tinha estudado dois anos de arquitetura em Lodz, mas que por necessidade tinha emigrado.

Ele lhe dizia como queria os quadros, ele explicava aos homens, um deles tinha tentado colocar de cabeça para baixo um quadro.   Joseph soltou que ele tinha um bom gosto incrível.

Pois é Joseph, aprendi trabalhando, não queres trabalhar para mim, se esses homens vão trabalhar nos meus projetos, eu vou precisar de alguém que entenda o que quero, possa explicar melhor.

Falo com o Paul, sei uma maneira de falar com ele.

Paul ria, encontraste um substituto para mim.   Sim é uma pessoa que pode ser o elo entre nós nesse trabalho, pois nem sempre posso estar em todos os lugares.  Cuidado, não corra atrás dele, espere para ter alguma coisa.

Quando a obra ficou toda pronta, justo dois dias depois chegaram os containers de Paris, Joseph o ajudava a guardar, separar tudo no porão, separando o que iria imediatamente para a loja, tinha feito uma espécie de escritório que encaixava no resto.

Montou a loja como se fosse uma casa, tinha moveis suficiente para isso, nada de parecer uma loja que quinquilharia, mas sim de projetos, decoração.  Fez a inauguração convidando antigos clientes, amigos, além de amigos de amigos.  Fez um contato com uma revista de decoração a mesma em saia em Londres, logo fizeram uma reportagem com a loja, bem como seu apartamento.

Sentou-se com Joseph, lhe disse, sinto falar isso, mas tens que te vestir melhor, vou te ensinar, pois vamos viver de aparências.   Outra sugestão, é que voltes a estudar aqui, eu te ajudo, assim podes discutir projetos comigo, uma coisa que sempre é bom duas cabeças pensando.

Em breve saíram dois projetos, um era uma casa de praia em Los Hamptons, um milionário a tinha comprado para sua nova esposa.    Foi ver a casa numa manhã com Paul e Joseph, discutiram examinando tudo, a escadaria, estava mal, todos os quartos precisavam de reforma, os banheiros nem se fala, imaginaram uma cozinha moderna no lugar.

Teriam que contratar uma secretária para quando se ausentassem.   Na volta quando pararam para um café.  Paul disse, rapaz tenho que tirar o chapéu par ti, estas transformando o Joseph em tudo que ele sonhou. 

Riu dizendo, creio que ganhei um filho, não um amante, para isso prefiro você.

Um dia saíram os dois para jantar, Paul apareceu bem vestido, mas de maneira simples, contou que tinha se divorciado nada, mas ao chegar a América, sua mulher o largou por um americano rico, era muito bonita, me levou o garoto com ela.  Não vou dizer que não tive aventuras, algumas, mas com homens poucas, mas desde que te vi, não te tiro da minha cabeça. 

Ele também contou o que tinha acontecido com ele, de uma maneira ele me ajudou, mas foi um bom filho da puta.   Contou a história da camisinha, tinha visto tanta merda na vida, que nunca me atrevi a fazer de outra maneira.  Ele descobri depois gostava de sexo duro, isso eu não lhe dava.

Acabaram essa noite os dois na cama, foi o que ele tinha imaginado, gostava da sensação de estar com outro homem, não com uma pessoa frágil.   De manhã, como era um domingo, ainda disse ao Paul, não vais te fazer agora, eu bebi muito ontem, não sei de nada.

Venha aqui seu sem vergonha, tinham explorado seus corpos até a exaustão, mas sem penetrações.  Sem querer quando viu, Paul buscava camisinhas, porra ele vai me penetrar pensou, mas foi ao contrário a colocou nele, o deixou lhe penetrar, era impressionante o que sentia.   Depois com uma voz rouca disse um dia desses tens que me deixar fazer o mesmo.

Passaram o dia juntos, Paul lhe comentou que tinha uma casa que lhe tinham chamado para olhar, em que a dona queria se desfazer de todos os moveis de sua sogra, alguns podem ser restaurados.

Rindo disse, terias que encontrar um pessoal, que seja bom, eu posso ensinar, montarmos uma oficina de restauro, inclusive para os próximos clientes.   O trabalho foi em crescendo, Paul não queria viver com ele, mas passava os finais de semana na sua casa.

Os dois se davam extremamente bem, mas Paul tinha medo de que os outros empregados falassem alguma coisa.   Mas um dia, acabou soltando, não posso mais viver sem estar perto de ti, estou sempre contigo na minha cabeça outro dia distraído chamei um dos rapazes com teu nome, ficou rindo, até me dar conta foi tarde, todos já sabem.    Embora achem que dei o golpe contigo.

Agora ficava sempre por lá, saiam iam jantar fora, ao cinema, coisas que os dois gostavam.

Sempre examinavam casas antigas que tinham moveis para vender.

Os amigos de Paris, lhe avisaram que tinham muitas coisas novas para ele.  Deixou a loja com o Joseph e a garota, aproveitaram a época do Natal e ano novo, foram para Paris os dois, Paul estava chateado pois queria passar pelo menos uma festa com o filho, mas a sua ex-mulher sempre atrapalhava.

Assim se distraiu, foi divertido andarem por Paris, jantaram nos lugares de James gostava, ao negociar com os fornecedores, ele ajudava.  Buscava defeitos nas peças para torna-las mais baratas alegando que teriam que mandar restaurar.

De lá foram numa visita rápida a Lodz aonde ainda vivia a mãe dele, não sabia como apresentar o James, mas nem fez falta.  A senhora era gente boa, Paul tentava convence-la de ir viver nos Estados Unidos, ela se negava.

Ainda visitaram vários antiquários, o problema era o transporte, falou com seu amigo português, ele mandaria buscar tudo, de Paris mandaria para NYC, tinha jantado juntos uma noite, se deu bem com o Paul.

Vários anos se passaram, a empresa ia bem, Paul mantinha a sua, o único problema que tinham era o filho dele, que não aceitava muito bem o relacionamento dos dois, quando vinha de férias Paul ficava em sua antiga casa com o filho, se viam no trabalho nada mais.  Mas como tudo, era possível aguentar.

Foram chamados por um proprietário, que tinha um imóvel, no princípio do Harlem, muito procurado por gente que já não podia pagar os aluguéis do Soho ou do Village.

Era um prédio estreito, de três andares, os dois de baixo estava vazios, mas no último vivia uma senhora, que não podia mais sequer descer as escadas.   O edifício tinha uma historia macabra, pois o inquilino do primeiro andar, tinha ficado morto meses no apartamento, ninguém tinha sentido sua falta, quando a polícia por causa do mal cheiro veio abrir com os bombeiros o encontrou morto.      Segundo a autopsia, tinha morrido de um enfarto cerebral.

Quando visitaram o edifício, os apartamentos eram excelentes, tinha sido uma casa única, que tinha sido dividida em apartamentos, tinha na parte traseira, um bom espaço, hoje abandonado.

Quando falaram com a inquilina do terceiro andar, ficaram com pena, pois a mesma, usava um andador, não tinha como descer os três andares, conversando lhe perguntou por que não ia viver numa residência, a partir que não tinha ninguém.

Não posso pagar tudo sozinha, minha aposentadoria é pequena.  

Falou com o proprietário, se o senhor paga uma parte da residência, ela sairá, lucraras mais com um apartamento reformado, com um aluguel mais alto do que ela paga.   Diga que lhe pagas o mesmo que ela de aluguel aqui, assim ficaras livre.

Depois antes de se mudar, disse que enquanto o vizinho debaixo era vivo, ela escutava através da torre da lareira, as vezes ruídos estranhos.

O proprietário quando trouxe a planta, aparecia um porão, mas demoraram para encontrar a porta, estava atrás de uma estante, acharam estranho, quando finalmente conseguiram abrir a porta, o cheiro era forte, impediu os homens de descerem.   Chamou imediatamente seu conhecido da polícia.   

Este chegou lançando uma brincadeira, só me chamas para isso, para uma cerveja, um jantar a luz de velas, nunca.     Paul, ficou com ciúmes, ele riu, não dando muita importância.

Quando os bombeiro chegaram, encontraram embaixo, cinco cadáveres de garotos, de várias idades.  Estavam presos na parede com correntes, isso atrasou a obra, vários meses.

Paul enquanto isso estava fazendo uma obra em Long Island, um edifício, antigo, que foi esvaziado por dentro.   Um dia verificando a obra, uma viga imensa caiu sobre ele, lhe fraturando a coluna cervical, bem como a cabeça, teve uma morte instantânea.

James ficou totalmente comocionado, mas o filho chegou, levou o pai com ele, sequer lhe permitindo participar do enterro.

Quem resolveu tudo, foi o policial Guiseppe Lord, mas conhecido como Lord, pois tinha além de uma bela estampa, se vestia muito bem.

Podemos ir ao cemitério, de longe assiste a cerimônia, sei que estas chateado, mas é a melhor maneira de evitar uma encrenca.  

Joseph como era amigo da família foi, depois lhe contou que o medo do filho era que tivesse que dividir herança com ele.    Como não lhe interessava o trabalho do pai, fechou a empresa.

Ele montou uma sociedade como Joseph, ele se encarregaria agora dos homens, é do trabalho, mas só recontrataram os melhores, pois muitos eram parentes do Paul, viviam do conto.

Quando a obra dos três apartamentos ficou pronta, o proprietário que tinha outros imóveis, viu que valia a pena o restauro.  O contratou para mais dois outros.   Abriu um mercado novo para ele e o Joseph, que agora era socio com ele.

Agora, pelo menos uma vez por semana, ou fim de semana, almoçava ou jantava com o Lord, esse era divertido.   Dizia que depois do que aguentava, se ficasse de mal humor, era pior, tinha sido do exército, Polícia Militar, portanto quando saiu, foi fácil arrumar emprego.  Um dia lhe contou que o grande amor de sua vida, tinha conhecido no exército.   O tinha encontrado bêbado, era muito jovem, não queria estar ali, assim que pode deu baixa, mas tinha sérios problemas de neurose de guerra.  Ataques de raiva, ou se metia nas drogas, foi duro de contornar a situação, acabou morrendo por overdose.

Escapava, mas voltava como um cachorro sem dono, passei a ter horror, ser totalmente contra as guerras.  Eu no meu posto, estava bem protegido, vi muita merda depois trabalhando de policial.   Como quando nos conhecemos, descobrir que por ciúmes o marido trancava a mulher no porão, esse agora, era um pédofilo, creio que os garotos estavam vivos quando ele morreu, pois morreram de fome e sede.      As vezes meu trabalho me deixa enojado.

Um dia depois de muito tempo, finalmente resolveram experimentar fazer sexo, amizade já tinham, viu que ele realmente gostava de estar junto com ele.   Foi uma experiencia fantástica.

Anos depois Lord se aposentou do seu trabalho, realizou seu sonho, numa das casas que ele reformou, montou um pequeno restaurante, com muito carinho.   The Lord, era o nome, pequeno, para poucas pessoas, com a cozinha a vista, trabalhava junto com um ajudante indiano, faziam um tipo de comida diferente.

James fez todo o projeto, não era um lugar barato, mas logo a crítica aplaudia a comida fusion que faziam, saiam nos jornais e revistas,  todos diziam para ampliar, mas nem pensar dizia ele, já é difícil organizar tudo,  era uma espécie de comida de mercado.   A carta estava sempre mudando, assim como ele dizia, nunca ficaria enjoado de fazer as comidas.

James levava as vezes os clientes para comer, se era uma cliente, levava pela tarde, para um lanche.   Não abriam aos domingos, era o dia deles.  Ficavam juntos, conversando, fazendo sexo.  Tinham a vida que queria, todos os dois tinham dado a volta por cima em muitos problemas, mas tinha sobrevivido.

As vezes James era convidado por clientes, para um fim de semana em Fire Island, mas agradecia, não era o que gostava de fazer.

Domingo era uma coisa relaxada.   Levantavam tarde depois de uma seção matutina de sexo, tomavam um bom café da manhã, normalmente Lord, trazia comida do restaurante para não terem nenhum trabalho.  Iam ao cinema, jantar fora, com o Joseph e a garota que era sua namorada que trabalhava na loja.  Como uma família.

 

 

 

 

 

 

 

  

 

 

 

lunes, 18 de enero de 2021

RETURN

 

                                                     RETURN

 

Estava no aeroporto de Phoenix, esperando um amigo de infância que vinha busca-lo, para o enterro de sua mãe.       Ela tinha estado a meses atrás em NYC, aonde ele vivia, para visita-lo, foi para passar uns dias, acabou ficando alguns meses.  A princípio, tinha receio de perturbar o trabalho dele, mas estar com ela tanto tempo, foi uma benção.

Puderam falar do passado, colocar em dia muitas interrogações que ele tinha a respeito de sua própria vida.   Houve uma época que chegou a pensar que era filho adotivo, por ser tão diferente.

Ela mais ou menos contou a história de sua vida para ele.   Pois ele nunca tinha entendido como uma mulher com bom gosto, com cultura, podia ter-se casado com seu pai.  Um homem muito mais velho, cowboy, as vezes rude na maneira de falar, mas que a adorava.   Procurava fazer todas suas vontades.   Talvez por isso tinham um dos ranchos mais bonitos do Arizona, a casa segundo ele, tinha sido desenhada por ela.

Como ela tinha contado, o tinha conhecido numa feira agrícola em Phoenix, tinha um grupo de universitários que a estavam molestando, pois era muito bonita, a tinham cercado, todos estavam bêbados.  Seu pai viu, se aproximou, a chamou de querida, soltou estava te procurando, eles quando viram aquele homem de dois metros de altura, forte, se mandaram.

Ele tinha sempre os cabelos compridos, loiros queimados do sol, olhos verdes escuros, uma boca sensual, mesmo para um homem de sua idade, na época ele devia ter entre 45 a 50 anos.

Quando foram embora, sorriu, dizendo, agora devias me pagar uma cerveja por te salvar.

 Ficaram conversando o resto da noite, acabou cativada por ele, a cortejou durante um ano, ele vivia fora de Mesa, tinha um rancho de criação de cavalos, vacas, um pouco de agricultura.

Os pais dela, foram contra desde o primeiro momento, tinha a mesma idade deles, mas ela não arredou pé.  Tinha acabado a Universidade, não tinha feito o que queria, por culpa dos pais, se sentia perdida, perto dele se sentia protegida.

Quando viu o rancho, esse estava mais para cair.   Ela examinou tudo, desenhou como sonhava uma casa, uma mistura de adobe, com madeira.  Ele estava louco por ela, mandou construir como ela queria.   Quando ficou pronta, se apresentou em sua casa, com um anel muito bonito a pediu em casamento.   Contra a vontade de todos se casou.   Quando os pais a ameaçaram, soltou que eles não precisavam vir ao casamento, pois tinha amargado a vida dela desde criança, a protegendo de tudo.

Amava os cavalos, estava sempre com ele, levando os rebanhos de um lado para o outro, era a vida que tinha sonhado.   Ajudava nos partos complicados da vacas, das éguas.   A sua a seguia por todos os lados como se fosse um cachorro.

A casa era imensa, mas seu reino, era uma cozinha imensa, aonde os vaqueiros todos podiam comer.   Levei um bom tempo para nascer, quando o médico disse que devia ficar na cama, se negou rotundamente, creio que foi nessa época que descobriu o desenho.   Passava o dia inteiro sentada na imensa varanda na frente da casa, desenhando tudo o que via.   Segundo ela, se lembrava de ter desenhado na sua juventude, mas que seu pai tinha proibido.   Na casa deles, tudo era pecado.

Quando você nasceu teu pai babava em cima de ti, era muito parecido com ele, já em bebê, ele te erguia no alto, como se fosses um avião.  Na hora de comer estavas sempre sentado no colo dele, ele dizia com orgulho, meu filho vai ser um grande cowboy.   Nada mais longe da verdade.

Sua mãe tinha continuado a desenhar, agora quando ia a Phoenix, ia a uma loja comprar material de desenho, pintura.  Construiu nos fundo da casa, um pequeno studio, pela casa inteira tinha desenhos ou pinturas dela.   Quando algum amigo deles se casava, ela desenhava o casal, dando um quadro com o desenho ou pintura dos dois.

Era pequeno, ficava ali sentado a olhando trabalhar, era uma pintura extremamente realista, da paisagem local.   Ou então me colocava em cima de um cavalo, arrastando um burro velho com material, para ir pintar no meio do deserto.

O dono de uma galeria a descobriu, numa feira, a mesma que tinha conhecido meu pai, vendendo seu trabalho.   Comprou tudo.                  Mas ela se negava, fazer qualquer coisa que a separasse de meu pai, ou de mim.   Então ele vinha uma vez por mês para comprar o que tinha pintado.   O velho morria de ciúmes, pois o sujeito tinha boa pinta, até que descobriu que era gay, passou a evita-lo, como se ele tivesse alguma doença contagiosa.

Um dia esse homem, me viu desenhando, soltou para minha mãe, esse garoto tem futuro, é muito observador, preste atenção como se comporta.   Eu tinha desenhado, minha mãe no deserto, pintando um cactos, só que tinha acrescentado um dos cowboys do rancho que era um índio.  Disse para ela, diga para ele pintar num quadro grande, vamos ver se ele é capaz.

Eu tinha nessa época uns dez anos de idade, meu pai quando soube, ficou furioso, mas ela não deixou que me cortasse a criatividade.   Tornou a contar para ele o que os pais dela tinham feito, não vou permitir que faça isso com nosso filho.

Fiz o quadro, embora levei mais tempo do que desenhar, pois não conhecia as técnicas, ela comprou material em tinta acrílica que seria mais fácil para trabalhar.

Mas eu não deixava de ir andar a cavalo ou mesmo ajudar meu pai com o gado.

Todos os dias ela me levava a Mesa, para ir a escola, quando fiquei maior ia de bicicleta, cresci rápido demais, então era mais alto que os outros garotos da escola.

Meu melhor amigo era o filho do xerife, os dois tínhamos a mesma idade, apenas eu era loiro ele moreno.   Tínhamos estudado sempre juntos desde infância. Quando chegamos a secundária, se juntou aos outros estudantes, dois irmãos, eram gêmeos idênticos, mas eu consegui descobrir uma diferença entre eles, pela maneira de olhar, porque um deles tinha uma pequena mancha no pescoço.  Com a mania que tinha de observar tudo, isso facilitava, os dois eram brigões, viviam abusando dos outros garotos, mas conosco não facilitavam muito, pois erámos mais altos.

Um dia um deles apareceu na escola com um revolver do pai dele, no meio do recreio, tirou a arma dando tiros para cima.   Quando o xerife os levou para casa, encontrou o pai completamente bêbado.

Segundo meu pai, tinham uma das melhores terras, do lado totalmente contrário ao nosso.

Quando tinha uns 15 anos, no verão sempre ia tomar banho no rio que passava pela fazenda, tinha meu lugar especial, achei estranho ver ali dois cavalos, amarrei o meu mais longe, me aproximei devagar.   Eram dois cowboys da fazenda, se banhando nus, ia me aproximar, quando vi que se masturbavam, em seguida começaram a fazer sexo um com o outro, fiquei alucinado, tinha uns corpos incríveis, músculos naturais do trabalho que faziam.  Se beijavam, fiquei muito excitado, quando me descobriram, viram que eu estava excitado, me abaixaram as calças, mamaram no meu caralho, que estava imenso.   A sensação foi de glória, depois confessaria que o tinham feito, porque assim eu não falaria nada.

Aquele verão foi demais.  Quando chegou o inverno, foram embora, eu voltei a escola, um dia conversando com George ou Geo, vi que estava desanimado, me contou que tinha feito sexo com uma garota, que não era nada do que ele esperava.   Contei para ele o que me tinha passado nas férias de verão.   Descobrimos um lugar, bem escondido, começamos a sair depois da aulas, para nos explorar.   Me dizia, isso sim gostava.  Mas nunca nos penetramos, eu não tinha contado que tinha penetrado os dois cowboys, tinha uma certa vergonha.

Nesse lugar que íamos, descobri uma árvore muito alta, treinamos subir, um dia, depois de muito esforço, chegamos na parte mais alta, ali criamos nosso esconderijo.

Riamos porque podíamos ver todo mundo passando na estrada, os dois irmãos como sempre incomodando os outros.  Ali podíamos nos beijar a vontade, masturbar, sem ter medo.

Meu pai me cobrava se eu não tinha nenhuma namorada, lhe dizia que estava guardando quando fosse a universidade.   Ele queria que eu fizesse veterinária, minha mãe em seguida soltava que eu tinha que fazer o que quisesse, quando ele ia replicar, ela lhe apontava com o dedo, depois descobrir o que queria dizer isso.

Que ele não cometeria comigo os mesmo erros que seus pais tinham cometido com ela.

Cada vez que o dono da galeria vinha, olhava meus desenhos, dizia, agora pinta este.  Eu gostava, pois, ganhava dinheiro.  Mas quem os recebia era minha mãe que o guardava.

Tínhamos terminado a escola, no baile de graduação, só faltou dançarmos juntos, enquanto todos tentava sair com uma garota, os dois nos sentamos  na praça em frente a escola, cada um com uma cerveja, ficamos ali falando dos planos.

Geo iria para a escola de polícia de Los Angeles, queria ser polícia como seu pai, amava seu pai acima de tudo.  Eu estava confuso, tinha conversado com minha mãe, pois quando estava a sos com meu pai, ele insistia que eu estudasse veterinária.    Não me apaixonava muito, amava os animais, mas fazer disso minha vida era o mais longe do que queria.

Nesse dia minha mãe tinha me apresentado uns folhetos que tinham chegado lá em casa, era da universidade de Belas Artes de San Francisco, de Nova York.  Devorei os dois folhetos, mas ela me disse que os mantivesse escondido.

Ali sentados na praça, estava contando ao Geo sobre isso, quando os dois irmão caíram em cima de nos dois, estavam completamente bêbados.   Um deles não sei qual, soltou, pensa que não sabemos que fazem sexo um com o outro, vamos contar para todo mundo.

Me deu com uma pedra na cabeça, fiquei ali atirado no chão, pensou que tinha me matado, foram embora correndo.  Geo, que tinha a cabeça também machucada, chamou uma ambulância,   Me levaram para o hospital, tive que levar uns quantos pontos na cabeça, quando meus pais chegaram, ele estava segurando a minha mão, dizendo que eu tivesse força.

Meu pai não gostou muito, da cena.    Meses depois viu nosso cavalos na beira do rio, os dois tomando banho juntos, nos beijando.   Ficou uma fera, mandou o Geo embora, me levou para casa, queria me dar uma surra.   Minha mãe, não permitiu.

A acusou de ser ela a culpada de eu ser assim, com tuas pinturas, esse homem gay que vem aqui, olha o que aconteceu.

Ela olhou bem para ele, se queres podemos ir embora, mas não toque no meu filho, nunca mais me verás.

No dia seguinte, me ajudou a arrumar minha mala, vais ter que comprar tudo de novo lá, é outro mundo, tinha escrito para uma amiga, que vivia em NYC, pedindo se podia me hospedar algum tempo até que eu encontrasse um apartamento, tudo isso tinha feito em segredo, sem dizer ao meu pai.

Ele tinha saído logo cedo com os cowboys, ela me levou no seu carro, até ao banco, abriu uma conta com meu dinheiro, depois pedes a transferência dessa conta para NYC, depositou dinheiro dela também, tinha uma bela soma para começar minha vida.

Dali fomos para o aeroporto, me levou até o avião, naquela época não existiam passarelas nada disso. 

De tarde estava em NYC, sua amiga, me foi buscar no Aeroporto de La Guardia, me levou para seu apartamento, vivia no Vilagge, na época aonde viviam os artistas.   Ela era professora na universidade, bem como escritora.    Minha mãe não sabia, mas vivia com uma outra mulher, que não gostou muito de ter um homem em casa.

Mas graças a ela, consegui meu primeiro apartamento, no Brooklyn, podia pintar nele, era um último andar, tinha que subir cinco andares para chegar lá, mas era maravilhoso.

Mal começaram as aulas, fui me entrosando, comprei como ela tinha dito, roupas mais ou menos iguais aos outros,  calças jeans sempre tinha usado, mas muitas camisetas, nada de camisas de quadros, nem de botas, tênis era o que se usava.

Os professores gostavam do meu trabalho, diziam que eu tinha tendências ao hiper-realismo, mas aulas de nus, diziam que eu era o único atento a qualquer detalhe do manequim que estivesse posando.   Meus primeiros trabalhos chamaram atenção de um dos professores, chamou um conhecido dono de uma galeria, mostrou dois trabalhos meus imensos, que estavam secando na escola.   O homem gostou, queria comprar imediatamente.   O professor disse, acho melhor esperares para fazer uma exposição com ele, assim o lanças ao mundo.

Me orientou bem como devia fazer, nada de contratos, nada de intimidades.  Me disse que o dono da galeria, sempre queria fazer sexo com seus descobrimentos.   Nunca misture alhos com bugalhos.

Eu estava a muito tempo sem fazer sexo, 90 por cento dos meus companheiros, não faziam o meu tipo.   Escrevia semanalmente uma carta para o George, falando dos meus progressos, ele me contava do dele.   Sempre falávamos isso, a falta que tínhamos um do outro.  Mas que não podíamos ficar presos a isso.  Estamos cada um do outro lado do pais, nada mais natural que tenhas namorados ou namoradas.

Foi quando desconfiei que devia estar saindo com alguma companheira.

Levou meses para me contar a respeito, senti ciúmes, tinha descoberto que o amava, por isso ficava procurando alguém parecido com ele.

Uma noite aceitei sair com alguns companheiros da escola, na verdade não tinha amigos, fomos a uma discoteca, nunca tinha ido, fiquei deslumbrado, em vez de dançar, ou ficar bêbado, tirei um caderno do bolso do casaco, fiquei desenhando rapidamente o que via.

Senti que uma pessoa olhava por cima dos meus ombros, quando me voltei, era um homem de uns 35 anos, que era de tirar o folego.  Gostei do teu trabalho, me contou que trabalhava no museu de arte moderno.   Nessa noite acabei na sua casa, pela primeira vez depois de muito tempo fiz sexo outra vez.

Passamos a nos encontrar, foi me apresentando gente.   Um dia foi ao meu studio, viu o quadro que estava fazendo sobre a ida a discoteca, tudo ao mesmo tempo era real, bem como tinha movimento, os borrões que a luz causava nas pessoas em movimento.    Quando viu todos meus trabalhos, ficou impressionado.    Tinha um que amava de maneira particular, um dia tinha ido ao Harlen, me sentei numa escada, fiquei desenhando os garotos jogando beisebol ali no meio da rua.  Disso fiz um quadro grande.   Me levou para ver meu primeiro jogo, nunca tinha ido.

Eu na época não sabia dizer o que éramos em realidade, mas era uma amizade com direito a sexo.   Contei para minha mãe e para o George.   Esse finalmente me contou que estava firme com uma companheira, apenas trabalhavam em delegacias diferentes.

Desta vez não tive ciúmes, pois eu também estava com alguém.   Um dia fomos a um jantar, só tinham homens, as conversas começaram a me irritar, pois o assunto não podia ser o mais banal possível, tamanhos de pirus, se o sexo era bom, com quantos tinham feitos naquela semana, sai para uma varanda que ficava do lado da sala, agora fumava, para me relaxar, ou pensar.

Escutei uma voz atrás de mim, tampouco suportas essas mariconas velhas, verdade?

Olhei, era o homem mais bonito que tinha visto em minha vida, tinha a sensação de tê-lo visto em algum lugar, começamos a conversar, ele era másculo, nem sei por que venho nessas festas, acabo ficando de saco cheio, hoje estava cansado, por isso aceitei.

Me perguntou com quem tinha vindo?

Lhe disse.

Boa pessoa, tivemos um relacionamento a muitos anos atrás.  Nisso ele parecia ter escutado que falávamos dele, entrou me apresentou formalmente ao outro,   Gideon, para os íntimos, para os outros Rock Alen, ator da Broadway.   Fomos namorados a muitos anos atrás.

Gideon, devias ver o trabalho dele, ias gostar, é a tua cara.

Nisso entrou na varanda um jovem abraçou o que eu acreditava meu namorado, dizendo me levas para casa.   Se via que era aquele tipo de gigolo.  O beijou na minha frente.

Gideon leve meu amigo para casa por favor, tenho que levar essa louca para casa.

Fiquei literalmente chocado, desconfiava dele, mas não a esse ponto.   Gideon disse que ele era assim, precisava de aventuras, veio aqui hoje te exibiu como um descobrimento dele, mas alguém novo sempre lhe atrai.

Vamos que estou farto de estar aqui, te levo para casa.   Lhe disse aonde vivia, estava puto da vida.   Quando chegamos, me perguntou se estava apaixonado por ele, lhe disse que não que tínhamos feito sexo, mas não tínhamos nada sério um com o outro.

Quer ver o meu trabalho, a não ser que esteja cansado.  Subiu comigo, garoto isso mata qualquer um.    Fui lhe mostrando o meu trabalho, me falta somente um para uma exposição.

Amei todos eles, começamos a conversar, disse que estava na última semana de uma peça de teatro, que na seguinte começaria a ensaiar outra, será a primeira vez que faço um papel shakespeariano.   Vou participar de uma montagem de Macbeth, queres vir algum dia?

Ele não tinha feito nenhum movimento em minha direção.  Me sentia terrivelmente atraído por ele.  Sim, não quero te perder de vista, me sinto terrivelmente atraído por ti.

Me respondeu sorrindo, gosto de ir devagar, para não cair do cavalo, como aconteceu com nosso amigo.

Por que não vens amanhã ver o que estou fazendo?

Claro que sim, conheço pouco de teatro, lhe contei de aonde vinha.

Um cowboy?

A única coisa que fizemos foi ficar um de frente ao outro nos beijando, estávamos excitados, mas respeitei seu desejo.   Me disse que deixava um bilhete no teatro.   Trocamos telefone.

Fiquei com sua imagem na minha cabeça, pois tinha ficado muito tempo parado na frente dele, em vez de ir dormir, fui desenhar, o desenhei de todos os ângulos que tinha visto.

No dia seguinte, fui ao teatro, não sabia que fazia o papel principal, era fantástico escutar sua voz dizendo o texto, estava numa lateral, tirei um bloco do bolso, comecei a desenha-lo enquanto fazia um monólogo, parecia que falava comigo, teve um momento que ficou olhando na direção que eu estava, o desenhei rapidamente, sabia já seu rosto.  Os detalhes depois absorveria.

Depois do espetáculo, tomei coragem fui falar com ele, me recebeu com um abraço, perguntou o que eu tinha achado?

Imenso,  nunca fui ao teatro, para mim era como se estivesses falando comigo no momento do monologo, fiquei muito feliz.

Perguntei se queria jantar comigo?

Desde que seja um lugar tranquilo sim.  

Perdão por falta de hábito não conheço muitos lugares, escolhe tu.

Vou te levar no meu preferido.  Me levou para sua casa, já tinha  algumas coisas feitas, fez uma salada.   Mas na porta paramos para nos beijar.

Me disse ao ouvido, foi duro te tirar da minha cabeça para trabalhar.

Pois eu não te tirei da minha, não conseguia dormir, como não queria esquecer os detalhes do teu rosto quando nos beijamos, fiquei desenhando.

Mesmo no teatro fiquei te desenhando, como se eu estivesse ao seu lado.

Quando viu os desenhos, me beijou outra vez.

Neste dia acabamos na cama, eu tremia de emoção, não porque fosse um ator famoso, mas porque ele me provocava isso, disse o mesmo para mim.   Normalmente espero um tempo para saber se estou interessado, mas não quero te perder.

Dormimos juntos, o telefone nos despertou, ele tinha um ensaio, queres vir?

Tenho que trabalhar?

Mas hoje é domingo?

Comecei a rir, nunca presto atenção nos dias da semana, trabalhar para mim é todo dia.

Fui com ele ao teatro, o vi lendo o texto, com os outros atores, trabalhando a palavra, amei o texto, pedi uma cópia para ler inteiro a história.

Disse se podia ir a minha casa, queria que posasse para mim, para terminar o trabalho que estava fazendo.

Quando viu, ficou impressionado, já gostava do resto, mas é incrível, que tenha percebido esses detalhes.

Rindo lhe contei do meu professor, que dizia que eu era o rei dos detalhes.

O fiz sentar-se, lhe tirei a camisa, tinha que tomar cuidado, por qualquer coisa, era como se soltássemos chispas.    Fui esboçando o que queria fazer, imaginei como um deus romano, com uma coroa de metal,  quando o deixei ver, ficou alucinado, eu imagino Macbeth assim.

Depois me empresta o desenho, para mostrar para o figurinista.

Posso colocar esse quadro na exposição?  Mas não o venderei, será teu, é que tenho pouco tempo, no momento é a única coisa que tenho na cabeça.  Fomos para a cama em seguida, ficamos nos olhando depois do sexo.   Me soltou eres muito mais jovem do que eu, com certeza deves ter vontade de aventura.

Lhe contei tudo, do George, até seu antigo namorado, não gosto de ir por ai, tenho que trabalhar, é muito importante para mim, é a minha vida que tenho que levantar.  Tenho dinheiro por bastante tempo, dos trabalhos anteriores que fiz.   Mas isso tudo é novo para mim.

Mostrei os quadros que tinha pintado na fazenda, falei de minha mãe, de meu pai.  O que tinha acontecido.

Comigo foi mais ou menos igual, me expulsaram de casa, por terem descoberto que sou gay.

Mas procuro levar a vida mais discreta possível.   Procuro não frequentar festas como aonde nos conhecemos, ou ir de bares, discotecas etc.   Tenho um nome, não gosto de estar envolvido em confusões.

Dormiu lá em casa, no dia seguinte, como não tinha nada que fazer de manhã, ficou ali decorando texto, enquanto eu terminava o quadro.

estávamos tranquilos quando apareceu o nosso ex-namorado, como se nada, quando nos viu juntos, foi embora.   Nos vemos por aí, foi sua despedida, não se esqueça de me mandar o convite para a exposição.

Quando o da galeria viu o trabalho todo, ficou como louco, conhecia o Gideon, direi que foi uma encomenda tua, quando lhe disse que não estava à venda.

Começou então a loucura que eu não estava acostumado, veio um fotografo para preparar o catalogo, depois da exposição montada, as entrevistas, tinha discutido com o da galeria, que acabaria sendo um bom amigo,  Martin Firente, pois a inauguração seria no mesmo dia da estreia do Gideon,  eu queria estar presente, como queria que ele estivesse na inauguração.

Adiamos para a semana seguinte, o único quadro que não estava a venda era o seu, tinha um pequeno cartaz, gentilmente cedida por Rock Alen.

Em dois dias tinha vendido tudo.  O museu do ex-namorado, comprou o quadro do Harlen, o que me surpreendeu.

As entrevistas na televisão foram muitas.    Mandei um catálogo para o George, pedindo desculpas por não ter escrito muito, mas nossas cartas continuavam, falava do Gideon, com ele. Mandei um catálogo para minha mãe, que me telefonou emocionada.  Eu sabia, eu sabia, que não me enganava contigo.  Até seu pai gostou.   Passou o telefone para ele.

Olá meu filho, vejo que me enganei contigo, tua mãe vai me esfregar na cara sempre isso, riu.

Foi a última vez que falei com ele, morreu meses depois, tinha proibido minha mãe de dizer que estava com câncer.   O argumento dele, era, ele tem uma vida pela frente, se vem para cá, vai se distrair do seu caminho.

Quando morreu, ela me avisou, peguei um avião fui, Gideon não podia ir, mas escreveu uma carta para ela.   Cheguei em cima da hora, já para o enterro no cemitério.

Fiquei dois dias com ela, depois voltei.

Ele estava literalmente nervoso, disse que tinha lhe parecido uma eternidade, outro dia errei o texto porque estava pensando em ti.

Mas se nos falamos todos os dias?

Mas não estás ao meu lado.

Tenho que dizer que realmente te amo.

Meses depois foi chamado para fazer um filme, em Hollywood, antes de aceitar veio falar comigo, não queria ir.  Acabei indo com ele, alugaram uma bela mansão, aonde eu tinha meu studio.   Acabei fazendo uma exposição em Los Angeles, foi bom ver outra vez o George, que sempre aparecia lá em casa.   Tinha se casado, mas se via que não era feliz.  Sua mulher, logo ficou encantada com o Gideon.

Mas quando foram a exposição, disse na minha cara que não gostavas muito de pintura, que arte para ela era o cinema.   Era muito brusca, um dia comentei com o George, que as vezes parecia muito masculina. 

Riu, talvez por isso me casei com ela.

Depois de dois filmes, Gideon queria voltar para os palcos, mas foi franco, quero viver contigo, como aqui, pois não consigo imaginar minha vida sem ti.

Compramos, depois de muito procurar um apartamento no Upper West Side, que encontrei um studio que tinha sido de um pintor, no andar de cima, pertencia a sua mulher que vivia no prédio, me alugou por um bom preço.

Agora estava fazendo uma serie de quadros, pelas ruas da cidade, me sentava numa esquina, com um cavalete, retratava a diagonal, depois mudava de lado, fazia o mesmo.  Fazia anotações de pessoas interessantes que passava, algumas vezes, fazia fotos, que passou se ser uma outra paixão.  

Quando comecei a colocar isso nos quadros grandes, Gideon, ficou encantado.              Estava preparando um trabalho em cima de uma obra europeia, dizia que era como estar falando outra língua, pois tinha que trabalhar mais.   Como sempre subia com o texto, sentava-se na pequena varanda que tinha esse apartamento.  Ficava ali estudando.   Eu as vezes parava ia até ele, lhe dava um beijo.  Ou ele esperava que eu parasse para olhar de longe o que estava fazendo, para me ler um pedaço do texto, que lhe parecia vazio de significado.

Quando o autor do texto um alemão veio, para escutar as leituras, lhe explicou detalhadamente o que queria dizer.  Pela primeira vez fiquei com um ciúmes feroz.   Pois o homem que era interessante, subia ao palco, o tocava, se encostava nele por detrás para dizer como fazer o personagem.

Ele riu adoidado comigo, se o tivesses por perto, ias ver que é horroroso, cheira mal, como está sempre com um charuto na boca, quando fala perto, o cheiro é horrível.

O homem era um poço de egocentrismo, reclamava de tudo, que os outros atores não entendiam os personagens.   Até que foi embora, todos respiraram aliviados.   Finalmente o diretor pode fazer dele o texto. 

Quando estreou, a crítica elogiava o trabalho do Gideon, logo foi convidado para fazer o mesmo papel no cinema, um filme alemão.  O problema era que tinha uma exposição, justo nas vésperas de iniciarem as filmagens.   Ele bateu o pé, que só podia começar a filmagem depois da minha inauguração.     O diretor do filme, veio com o cenógrafo, que quando viu meu trabalho, perguntou se podia recriar alguns quadros dos quais só existiam fotografias, pois os originais tinham sido queimados por Hitler.    Posso fazer similares, iguais não gostaria de fazer.

O diretor comprou um dos quadros, tinham conseguido um apartamento antigo, restaurando, prepararam um lugar que eu pudesse trabalhar no studio. Basicamente o filme era rodado em interiores.

Pintei a ideia dos quadros, os envelhecendo, meu nome depois aparecia nos créditos, eu ria dizendo que nunca tinha lido os créditos no cinema.   Mas eraram meu nome, Cliff Rostock, escreveram Cliff von Rostock, depois descobri que tinha uma cidade com esse nome.

De lá Gideon foi fazer uma filme em Paris, tinham lhe oferecido mundo e fundos, consegui um studio perto do apartamento, fazia a mesma coisa que tinha feito em NYC, comecei a ir desenhando os bairros e sua gente.  Estava desenhando na Place de Fustemberg, quando o dono de uma galeria passou, ficou olhando, perguntou se eu tinha mais quadros, primeiro lhe mostrei os desenhos todos que tinha comigo.   Depois o levei ao studio, ficou impressionado, me perguntou se tinha alguma galeria em Paris para fazer exposição. Quando lhe disse que não, foi me mostrar a sua, era grande.   Fizemos um acordo, preparei todos os quadros, trabalhando duramente, pois Gideon tinha que ir filmar no interior.  Não podia ir, ele telefonava todos os dias várias vezes.   Quando voltou, estava cansado, fez algumas filmagens mais andando pelas ruas de Paris, eu o acompanhava nessa parte, dizia que não queria mais ficar longe de mim. Fui fotografando tudo.   Um dia, ele tinha que andar como se fosse um velho, por uma rua vazia, com um casaco pesado, com um chapéu que lhe cobria uma parte da cara, fiz as fotos, nessa noite tive que trabalhar com ele reclamando que não via a hora de voltarmos para casa.

O médico disse que estava estressado, que precisava de descanso.   Eu agora saia de manhã, ia para o studio, ele chegava ao meio-dia para irmos comer.

Quando viu o quadro com o personagem, trouxe o diretor, que o comprou para ser o cartaz do filme. Mas me permitiu usar na exposição.   Conhecia tão bem sua cara, que fiz uma ampliação da foto, usando tão somente a parte de cima do corpo, o chapéu, sua cara na sombra, nunca poderia imaginar que seria o último que pintaria dele.

Depois da exposição, que vendeu tudo, inclusive para um museu de Londres, outro de Paris, voltamos para casa como ele dizia.   Mandei embalar todo o material de trabalho, despachei.

Quando chegamos em casa, ele riu, dizendo, só aqui tenho você só para mim.  Dois dias depois despertei, ia me levantar como sempre, para o deixar dormindo até mais tarde, mas achei estranho, pois sempre se mexia na cama.    Tinha morrido durante a noite.

Fiquei em choque, chamei o Martin, pedindo ajuda, ele me ajudou com tudo.

O que eu não esperava era dias depois do enterro, ao lerem o testamento, que aparecesse pessoas da família dele.   Ficaram furiosos pois ele não deixava nada para eles, o apartamento era para mim, o resto ia todo para orfanatos, obras de caridade, que ele sempre tinha colaborado.

Eu fiquei vazio, foi quando minha mãe veio ficar comigo, falamos tanto, mas tanto, que finalmente entendi sua maneira de pensar.   Passeávamos, íamos aos museus que ela nunca tinha visto,  saímos para jantar com o Martin,  foi ficando, até que  a chamaram da fazenda, pois tinham coisas que precisavam dela.

É minha vida meu filho, me contou que continuava pintando, vendendo à mesma galeria.  Ele sempre pergunta de ti.  Acompanha toda tua trajetória.    Lhe tentei convencer de voltar, ir comigo a Paris, que tinha certeza de que ela ia gostar.   Tinham me convidado para fazer uma nova exposição.

Enquanto pensava no que pintar, tinha milhões de esboços, mas nada me apaixonava, foi quando soube que George estava em Mesa, agora era o xerife de lá.   Foi ele quem me avisou que minha mãe estava mal.  

Finalmente ele chegou, corri para ele, nos abraçamos, bem apertado como para recuperar o tempo que tínhamos estados afastados.

Colocou minhas coisas no carro, fomos conversando, me contou o que tinha minha mãe, ela quando foi ficar contigo, já estava em uma fase adiantada, mas queria aproveitar o tempo para falar com você, a tenho visitado sempre.  Me contou tudo do que falaram.   Mas se prepare esta nas últimas, se negou a fazer qualquer tratamento.

Lhe perguntei como ia ele.

Ah meu amigo, não tem sido fácil, entendi que procurei em cada pessoa que passou por minha vida aquele amigo que tive, a quem amei desde garoto.   Mas sabes que isso é impossível, vou aguentando, tivemos problemas na cidade.

Lembra-se dos dois irmãos que nos atormentavam, nos atacaram na formatura. Bom um deles esta morto, justo embaixo da nossa árvore.   O outro desaparecido, não sabemos bem qual dos dois, esta morto.   A cidade estava farta deles, venderam a fazenda, repartiram o dinheiro aos tapas, pois cada um queria sair melhor parado que o outro.

Acreditamos que o que morreu, foi nas mãos do irmão, mas não encontramos o outro.

Quando chegamos em casa, parecia parada no tempo, tudo seguia igual, fiquei parado olhando, a vi na varanda, como que me esperando, como sempre com um bloco de desenho no colo.

Corri até ela, pois devia a ela tudo o que era, a abracei.    Passei um mês ali, cuidando dela, ajudando no que podia, George, vinha todos os dias me ajudar, depois que conseguia que dormisse, sentávamos na varanda, de mãos dadas falando da vida.

Me contou um dia que tinha ido a NYC ver a inauguração de uma exposição, que me viu sentado numa praça em frente com o Gideon, que eu tinha minha cabeça apoiada no ombro dele.

Me senti perdido, quando voltei para Los Angeles, pedi o divórcio, te amar me fazia sentir mal, não podia mais querer que as outras pessoas estivessem na minha vida, porque se pareciam contigo.

Quando minha mãe morreu, a enterramos embaixo da árvore que ela não se cansava de desenhar, de encontrar outras maneiras de olhar. Tinha pedido para ser cremada, que suas cinzas ficassem ali, quando eu me sentasse na varada, me lembrasse dela, que tinha me amado mais do que nada no mundo.   Seja feliz.

Passei uns dias chateado, mas entendia que não ter qualidade de vida, era impossível seguir em frente.

Fazia um belo dia de sol, George me convidou para tomarmos um banho no rio da nossa juventude.   Nem posso dizer que foi como recuperar tudo, éramos diferentes, já não tínhamos sonhos para discutir, o que fizemos foi nos conhecermos outra vez, o sexo entre nós sempre foi magico,  a primeira vez que fizemos amor na beira do rio, foi como encontrar algo perdido, ao mesmo tempo totalmente novo.

Fui ficando, com os tempos modernos, tudo era mais fácil, pintava fotografava, mandava para as galerias com quem tinha trabalhado a vida inteira, comecei uma serie, baseada nos desenhos de minha infância, que encontrei no studio de minha mãe.  O amigo de minha mãe, apareceu, chorou, pois ele tinha me descoberto.  Era como pintar a minha obra de juventude, agora com outros olhos.

Pela primeira vez fiz uma exposição em Phoenix, na sua galeria, ele disse, aqui não se vende muito, será a última coisa que faço, mas por incrível que pareça, vendeu tudo.

Fiz um quadro do George sentado nu na relva, quando éramos jovens, o tinha na minha memória, ele adorou, agora está no salão da nossa casa, vivemos juntos.

Um dia fomos até nossa árvore, me contou como tinham encontrado um dos irmãos, olhei para cima, vocês não olharam lá em cima verdade.   Claro já não tínhamos idade para subir, ele pediu uma grua, no nosso esconderijo, estava o cadáver do outro, com duas bolsas de dinheiro.

Os pássaros tinham lhe comido todo o corpo, mas a prova de ADN comprovou que era o que faltava.

Tinham se ferido mutuamente, um deles conseguiu subir, porque sabia que ali havia um esconderijo.

Que coisa mais idiota, tinham feito muitas merdas na vida deles, entrando e saindo da prisão, quando tinham as melhores terras da redondeza.

A seguinte coleção, que era sobre os panoramas que pintava minha mãe, no deserto, fiz o mesmo que ela, apenas de maneira diferente, comprei uma motorhome, íamos os dois passar dias no deserto.   George me mimava, cuidava de mim, enquanto eu desenhava, pintava, no final dessa coleção, comecei a perceber que estava perdendo minha capacidade de ver os detalhes.

Fui a um médico, depois de todos os exames, ele me soltou, os dois acabamos rindo muito, “o que queres a idade chega para todos”, isso é signo que a idade está chegando.

George estava cheio de cabelos brancos, eu também, nele aparecia mais, pois era moreno.

Como queriam a coleção para a galeria de Paris, fomos juntos, nos deliciamos, realizando um sonho de juventude, que era viajar por toda a França juntos, sem pressa, tínhamos todo o tempo do mundo.