lunes, 15 de junio de 2020

NEVER - NUNCA


                                               

Estava orientando a montagem de uma exposição retrospectiva de toda sua carreira, num momento passou diante de uma coluna com espelho, automaticamente deu uma olhada, continuava o mesmo.  Cabelos longos, hoje branco total, as sobrancelhas seguiam iguais amarelas, olhos azuis puros, sua pele apesar dos tratamentos, seguiam igual, branca como a neve.  As pessoas se fascinavam com isso, o fato dele ser albino, ao mesmo tempo que seus quadros estavam cheios de cores.   Hoje em dia já não usava rastafari, por uma questão de tempo para cuidar, depois acabavam cheios de tinta.
Se poderia dizer, que muita água tinha passado por baixo da ponte, as vezes tranquilas, outras como uma torrente ou mesmo uma enchente.  Mas sempre considerava ao final que o passado, passado estava.
Olhou a capa de uma revista ali jogada, riu, duas fotos, ele no inicio de sua carreira, outra hoje, apesar dos anos, não sabia se pela pele, não tinha nenhuma arruga sua pele era lisa, lembrava a de sua mãe, quando estava morrendo, podia estar cheia de dor, as sua pele estava esticada.
Nunca tinha descoberto de havia outro problema como o seu na sua família.  Odiava recordar seu passado, sempre acabava lhe doendo muito.  Sentia uma falta de sua mãe, até hoje não conseguia entender por que não quis cuidar do câncer que tinha.   Poderia estar viva, poderia ter cuidado dele, dos irmãos,  mas algo a impedia de lutar mais.
Seu pai era todo ao contrário, um polonês, que tinha chegado na vila em criança, acompanhado de seus pais, uns 10 anos depois da segunda guerra.
Era um homem totalmente fechado em si mesmo, agressivo, já levantava de mal humor, o melhor era sair da frente dele.
Sua tia lhe tinha contado mais ou menos a história, quando queria se aprofundar em algum detalhe ela fugia as respostas.
Ela e sua mãe, tinha nascido com uma diferença muito pequena, menos de um ano, podia passar por gêmeas, pois eram idênticas.  Uma pele branca, olhos negros, cabelos negros crespos que ele tinha herdado, uma boca larga com um sorriso imenso.
As duas tinha conhecido seu pai, na escola, quando este chegou a vila, falando um inglês horrível, enquanto todos os outros garotos lhe faziam bullying, elas ao contrário, lhe ensinavam a falar direito.
Os pais dele eram muito estritos, católicos daqueles de irem a missa quase todos os dias, o pecado era uma coisa horrível para eles.
Elas ao contrário nunca iam a igreja, não lhes incomodava o mínimo isso.  Sonhavam sim as duas em irem embora da vila.  Seus pais, tinham um restaurante administrado pela mãe, ele levava uma loja que vendia coisas para as fazendas, além de tratores, coisas pesadas.
Quando chegou a época de irem a universidade, foram embora as duas, sua mãe ficou na universidade, sua tia, ao contrário, pegou o dinheiro que os pais tinham dado, se mandou para a Europa, voltou depois que ele tinha nascido.
Sua mãe, mantinha correspondência com seu pai, desde que chegara, ao ficar sozinha não parava de reclamar, não gostava do que estava fazendo, queria voltar, no meio do segundo ano, de repente lhe chamou disse que voltava, se ele queria casar com ela.  Ele tinha sido sempre apaixonado pelas duas, aceitou.   Sete meses depois eu nasci, para todo mundo um parto prematuro.    Mas ele ao ver aquela criança branca como leite, olhos azuis, cabelos loiros quase brancos, me repudiou imediatamente,  a questionou se era filho dele.
As crianças de 7 meses não nasciam do meu tamanho, sempre fui alto demais para tudo.
Levaram anos brigando por minha causa, ele nunca se chegava ao meu lado, eu não existia na casa, quando chegava bêbado, me chamava de bastardo.     Não entendia de maneira nenhuma o que queria dizer, quando perguntava a minha mãe, ela mudava de assunto.
Cresci sem ninguém para brincar, viviam na fazenda originalmente de meus avos, uma casa velha de madeira, que precisava sempre de uma pintura que não aparecia.   Ele saia de manhã, voltada de tarde.   
Dez anos depois, depois de um dia que ele tinha chegado bêbado, segundo minha tia, a tinha agredido sexualmente, nasceram os meninos, era divertido, os dois eram completamente diferentes um do outro, um se parecia a ela, outro a ele.  Um se chamou Matheus outro Thorpe, como meus avôs, eram meus brinquedos, me apaixonei imediatamente por eles, mas meu pai quando estava em casa, não permitia que eu me aproximasse.
Quando eles tinham oito anos, ela descobriu que tinha um câncer, ficou quieta, não disse nada a ninguém, nem a sua irmã que estava sempre pronta a escuta-la.
Minha tia já nessa época não falava com meu pai, quando eles fizeram 10 anos, ela estava muito mal, eu tinha 17, tive que deixar de ir a escola, para cuidar deles, dela, os levava a escola, depois fazia compras, comida, colocava a roupa para lavar, limpava a casa, se me sobrava algum tempo me dedicava a desenhar.   Ela já não saia da cama, estava sempre ali de olhos fechados, as vezes quando tinha muita dor, eu dormia ali aos pés da cama em cima de um tapete.
Ele jamais entrava no quarto, dizia que estava pagando pelos seus pecados que eram muitos, tampouco cuidava dos meninos, creio que se acostumou que eu cuidasse deles, tudo era comigo, aprendi a dirigir sozinho a velha camionete dela, os levava a escola, fazia tudo que tinha que fazer, voltava correndo para casa, para ajudar minha tia, que me ajudava a levanta-la, para trocar a roupa de cama, a principio dar-lhe um banho, depois com o tempo, limpa-la com um pano húmido.    Minha mãe, não dizia nenhuma palavra, ficava com a boca fechada.
Ele as vezes chegava bêbado, abria a porta, lhe perguntando ainda não morreu, filha da puta.
Se eu estava sentado segurando sua mão, se aproximava de mim, me dava um murro na cara, ou com sua imensa mão me batia, bastardo, sempre agarrado a mamãe.   Antigamente ela me defenderia, um dia resolvi enfrenta-lo, me levantei, era mais alto do que ele, ia me dar uma porrada, mas segurei sua mão, lhe disse na cara, isso se acabou covarde.
Sem querer vi pelo canto dos olhos, ela sorrindo.
Uma semana antes de morrer, eu estava ali segurando sua mão, ela me disse, ele não tem culpa, realmente não eres filho dele.  Conheci teu pai verdadeiro num concerto de jazz, ele tocava o saxofone,  era brilhante, era diferente dos outros do grupo que eram negros.  Usava o cabelo como tu, mas era claro, tinha algumas manchas no corpo, dizia que estava mudando de pele, depois descobri que era um albino.  Nem sabia o que era.   Me apaixonei, um dia despertei, tinha ido embora, voltei me casei com este, pois não queria abortar.   Mas não lhe disse nada, a culpa realmente foi minha.
Não sei por que chamou minha tia, lhe contou a verdade, lhe pediu um revolver que era do meu avô que estava ali na cômoda, um dia desses ele vai tentar me matar, bem como meu filho.
Estava cada vez pior, podia passar um dia inteiro sem dizer uma palavra, a última vez que escutei sua voz, foi para pedir que eu não deixasse os meninos a verem dessa maneira, queria que guardasse a imagem dela bem.
Ao final era pele e osso, ele ficou dois dias sem aparecer em casa, eu depois de todas as tarefas, estava sempre com ela, as vezes me olhava sorrindo.
No dia anterior, ele entrou no quarto de madrugada fazendo um escândalo, dizendo que não podia dormir por culpa dos gemidos dela.  Me assustei, pois ela não estava gemendo, se aproximou da cama, me assustei, colou os ouvidos nos lábios dela, era como se ela tivesse falado alguma coisa, se afastou, mas antes me pegou desprevenido, me deu um murro na cara.
No dia seguinte quando sai do armazém, dei de cara com o xerife, olhou minha cara, esse filho da puta te pegou outra vez. Isso tem que acabar.
Nesse dia, minha tia por problemas com o restaurante não pode ir, ao limpa-la, percebi o revolver justo ao lado de sua perna, ia tira-lo dali ela o agarrou muito forte, hoje ele vem matar-me, a ti também, defenda-se.
Coloquei os garotos na cama, no quarto que compartiam comigo, que era embaixo do quarto de minha mãe.   Depois subi, me deitei ao lado da cama, no chão, escutei o ruído que ele chegava, subiu as escadas como qualquer outro bêbado, quando abriu a porta, trazia um revolver na mão, disse desta vez vamos acertar as contas antes que morra. Lhe apontou o revolver, institivamente, busquei o que ela tinha, o segurava, mas não tinha forças, a ajudei a tirar debaixo dos lençóis, levantei o mesmo, com ela com o dedo no gatilho, ele viu, riu, até para isso eres patética, atirou ela suspirou morreu, eu aproveitei, apertei o dedo dela, acertando no meio da testa do filho da puta.
Por instinto, desci rapidamente, minha cama ficava pegada a porta, os meninos me viram como se eu estivesse levantando da mesma.   Que foi isso falaram os dois ao mesmo tempo, apenas lhes disse, chamem nossa tia, vou subir, vocês fiquem aqui.
Sabia o que ia ver, mas fiquei quieto,  Quando minha tia chegou me viu ali parado na porta, na cama minha mãe, com todo sangue em volta, ele caído no chão também num charco de sangue.
Ela ficou parada ao meu lado, eu imaginei que isso ia acontecer um dia. Estavas aqui?
Não, estava embaixo com os meninos, ele chegou fazendo escândalo como sempre, batendo portas, os meninos se assustam, depois escutei os tiros.  Mas, já era tarde, mandei avisarem a senhora, porque sabia que ias avisar o xerife.
Realmente ele chegou em seguida.
Me perguntou sentado na cozinha com uma caneca de café na mão, se eu tinha visto alguma coisa, repeti a mesma coisa, depois entendi que tinha que me apegar a essa historia pois, não tinha outra.   A repeti, até não aguentar mais.
O que eles não entendia era como ela tinha tido força de levantar o revolver, me perguntou se sabia que estava ali.   Lhe disse que sim, mas que não me deixava tirar dali. Repetia uma e outra vez que a qualquer momento ele viria para matarmos.
Depois de enterra-los, minha tia me perguntou se eu queria levar o negócio dele, lhe disse que não, que queria ir a Universidade, todos meus conhecidos tinham ido embora, eu tinha ficado para trás, teria que recuperar o tempo perdido.
Ela concordou, passamos a viver em cima do restaurante, eu continuei dividindo quarto com os meninos.   Eles queriam saber a verdade, eu lhes contei tudo, não queriam que tivessem problemas posteriormente.
Minha tia me contou que depois que os dois tinham nascido, ele tinha colocado na cabeça que ela o tinha traído com dois homens, por isso eram diferentes.
Durante o ano que estive afastado, estudei como se estivesse na escola, além de fazer desenhos, tinha desenhado minha mãe se definhando como um exercício, ou porque me aborrecia de estar ali, sem fazer nada.
No meio do ano, fui aprovado, falei com minha tia, que iria embora, não aguentava mais estar ali, me sufocava, aguentar o olhar de todo mundo em cima de mim. Quando trabalhava na caixa registradora do restaurante, todos me olhavam com pena.   Não tinha mais amigos, os da escola eram menores do que eu, me sentia um peixe fora d’água.
Aonde queres ir?
Lhe dei o folheto das escolas que gostaria de ir em NYC.
Te dou dinheiro, mas terás que trabalhar, sei que isso não te assusta, creio  que o dinheiro te dará para um ano ou dois.  Mas o resto é parte dos meninos, para seu futuro.   Na vila as coisas não valiam muito, ela vendeu a fazenda, bem como o negócio do meu pai.  Repartiu entre os três, os dos meninos colocou no banco, me deu mais dinheiro, como um presente dela.
Me ajudou a pagar para arrumar a caminhonete que usava, nesse tempo tirei bilhete de identidade, carteira de motorista. 
Peguei as poucas coisas que tinha, tomei rumo a NYC,  mal sai da cidade, tive que parar, pois chorava, tudo o que tinha guardado, saiu como uma catarata.  Coloquei a caminhonete na lateral da estrada, fiquei ali chorando, finalmente colocava para fora tudo o que sentia.
Mas me contive, segui em frente, tinha a direção de um conhecido de minha tia, que vivia no Brooklyn,  ele me disse que poderia usar o quarto que tinha em cima da garagem. No dia seguinte me levaria a escola, para ver como fazíamos.    O quarto era imenso, com um banheiro, pequeno, mas tinha um chuveiro, poderia me apanhar.  Paguei dois meses adiantado, embora ele não quisesse aceitar dinheiro.
Ele vivia com sua mãe, que estava doente na casa da frente.  Me contou que na verdade vivia em Manhatan, mas quem iria cuidar de sua mãe.
Me levou primeiro a uma escola, pois pensou que eu não sabia desenhar, a professora olhou meu trabalho, me disse que não tinha nada a me ensinar, que eu fosse a Parsons, lá sim poderia ir em frente.
Ele mesmo me disse, não sabia que eras tão bom.
Na Parsons me fizeram um teste, porque o semestre tinha começado, passei no teste, me disse que fosse pagar a matricular, pegar a lista de material que necessitava.
O amigo de minha tia Jim, foi legal comigo, disse que seu apartamento era ali perto, que eu podia ficar com ele, pois a casa era longe.  Pelo menos alguém cuidava do apartamento, depois eu conseguiria alguma outra coisa.    Na loja que fui comprar o material de pintura, vi um cartaz de que procuravam alguém para trabalhar, me ofereci,  teria aulas de manhã, tinha umas cinco horas livres, me contrataram.   Já tinha dinheiro, além de desconto no material que iria usar.
A primeira coisa que fiz, já que a casa não era minha, foi forrar uma parede de plástico, para não sujar, bem como o chão.
Nos dias seguintes estava a pleno vapor, dormia no salão, já que o quarto seria meu studio, comecei a receber informação, a trabalhar, a tentar entender a arte.
Nos domingos falava logo cedo com os meninos, com minha tia, eles agora a ajudavam, afinal não era tão jovem assim.
O que estranhei a princípio era que sempre tinha alguém procurando pelo proprietário, eu só respondia que não vivia ali, que tinha alugado o apartamento.
Um dia fui abordado na rua por um sujeito imenso, desses que passam o dia inteiro no ginásio, lhe disse o mesmo, que só tinha seu número de celular, nada mais.
No dia seguinte este me ligou dizendo que não disseste aonde estava, pedi dinheiro emprestado para cuidar da minha mãe, esses caras querem o dinheiro.
Quando o homem me parou na rua outra vez,  eu mesmo lhe disse, creio que jogou o celular fora, pois não me atende, aluguei o apartamento por dois meses, quando acabe vou embora daqui ninguém me deixa trabalhar direito.
Me perguntou o que eu fazia, lhe disse que pintava, abriu a camisa, perguntou se eu não o queria como modelo.  Lhe disse que não fazia esse tipo de pintura.
Ele insistiu, aceitei a contra gosto.  Marcamos, logo no primeiro dia, mal chegou, tirou a roupa toda, ficou nu.
O mandei se sentar num banco, numa determinada posição, comecei a desenha-lo, fui mudando de lugar para ver de outras posições, ao final, abriu as pernas, estava excitado.  Foi claro, queria fazer sexo comigo, essa nossa diferença de cor me excita.  Lhe disse que nunca tinha feito sexo com outro homem.
Não se preocupe te ensino, quando me viu nu, ficou impressionado com meu pênis, não o largou mais, eu pensando que ia ser currado, tive outra experiencia.
Ficou aparecendo várias vezes, conversava comigo, lhe impressionava o fato que eu sendo artista não consumisse drogas.
Me disse esta noite, que se continuasse me vendo, ia se apaixonar por mim, que não sabia se isso era bom, para o que ele fazia, mas que não conseguia me tirar da cabeça.  Eu não lhe disse nada, mas tinha arrumado um outro apartamento, no sentido contrário deste.
Durante o dia, ele nunca aparecia, me mudei rapidamente, tinha pouca coisa, além do meus desenhos, poucas roupas, meu luxo era a caminhonete. Coloquei tudo em cima desta, me mandei.
O melhor é que este agora tinha garagem, assim pelo menos eu podia esconder a caminhonete, se alguém me procurava por ela.
Semanas depois na banca de revista da frente da loja que trabalhava, mostrava uma foto de um assassinato, era o coitado, fiquei imaginando se eu estivesse junto, o chumbo que teria recebido.
Nunca mais voltei a ver o proprietário que me tinha ajudado, sabia que estava metido num marrom de fazer gosto, dever dinheiro a máfia, não era nada fácil.
Creio que fui criando sem ter muita noção um estilo próprio de trabalhar, isso parecia agradar aos professores,  na verdade escutava suas orientações, as entendia, mas usava a minha maneira, descobri depois que era isso que esperavam, orientar, mas que cada um fizesse a sua maneira.
Sentia uma dificuldade imensa de fazer amizades, tinha o tempo limitado, quando não estava ali, estava na loja, depois estava no pequeno apartamento pintando.
Na escola estava experimentando fazer um quadro grande, queria me sentir vivo fazendo isso, cada um tinha uma parede para isso.   A principio não se via qual o meu objetivo, fui criando capas, já com o rosto da figura em volume, quando estava com a textura que queria, comecei a desenhar o rosto de minha mãe morrendo, como ela tinha ficado com a boca aberta, após levar o tiro, querendo buscar ar.    Estava tão concentrado, que não percebi que os outros tinham parado de fazer o que estavam fazendo, estavam me olhando trabalhar, dois professores me observavam.
Quando acabei, me afastei, sem querer esbarei num colega que estava atrás de mim, que eu não tinha visto. Me aplaudiram.
Os professores balançaram a cabeça, como dizendo muito bem.
No dia seguinte, quando entrei na sala, eu sempre chegava antes dos outros, para seguir trabalhando,  ali estava um homem bem vestido, os cabelos impecáveis, todo uma figura, estavam ele, um dos professores de costas para mim.
Quando me viram o professor me apresentou,  Ruben Gaultiery tem uma galeria, no Soho, gostou do teu trabalho.
Mas ainda sou  um iniciante, preciso trabalhar mais.
Isso, necessito de mais quadros, não posso te lançar numa coletiva, pois vais acabar com os outros.
Se me fazes 10 desses tamanhos, prometo te vender todos.
Sinto muito no meu apartamento, não tenho espaço para isso,  é um studio pequeno, é o primeiro grande que faço, acho que o senhor está se precipitando.
O Ruben ria, imagina encontrar um artista que tem a capacidade de ser honesto, reconhecer que está começando.
Converse com teu professor, me deu um cartão, tens uma semana para me responder, eu posso arrumar um lugar para trabalhares.
O professor, era daqueles pessoas que falavam o estritamente necessário.  Quando vi o teu quadro vi o teu talento nascendo, todos teus trabalhos anteriores, embora pequenos são bons, mas isso te faltavam espaço para mostrar teus sentimentos.
Eu te arrumo um lugar, pois se ele o faz, ficarás em dívida com ele, outra coisa, ele vai te apresentar um contrato de exclusividade, não assine, ficarás para sempre preso dele. Leve essa conversa que só estas começando.   Mas faça a exposição.  Ah antes que use como argumento que trabalhas de tarde, eu sei que sim, tens dinheiro para aguentares pelo menos dois meses, esse é o tempo que vais pedir a ele.  Se não tiveres eu empresto.
Nesse tempo todo, tinha usado pouco o dinheiro que minha tia tinha me dado, bem como guardava a maior parte do que ganhava na loja.
O dono me disse, vai, se não acontecer nada voltas, as senhoras adoram ser atendidas por ti, pois lhes explica o que devem usar.
Fui ver o local com o professor, era um dos últimos, galpões que existiam ali no Village, recebi de herança, estou negociando a venda, mas posso esperar você acabar de preparar seu trabalho.
O senhor poderia vir por aqui olhar o que estou fazendo?   Senão perderei a noção do tempo, o contato com gente, já não tenho amigos, ficarei muito isolado.
Claro virei sempre que possa.
Coloquei três telas imensas na parede, fui preparando mais ou menos igual a todas, duas fiz um fundo negro, pintei a cara do meu pai me chamando de Bastardo, quando falava, era como o visse em câmara lenta. Aquela boca imensa, com os dentes meio estragados pela bebida, os olhos amarelos, a fúria que tinha seu olhar.
O terceiro desenhei o homem que tinha conhecido que tinha posado para mim, que nem sabia o nome, mas aproveitei os desenhos, a foto dele no jornal, pois a tinha visto de cabeça para baixo, o fiz sem roupa, numa diagonal do quadro, tudo era branco negro, em vez de estar com os olhos fechados, como na foto do jornal, o fiz com os olhos abertos, quando tínhamos sexo, chegava ao orgasmo.   Era como um orgasmo na morte.
O professor tinha uma maneira de comentar, balançava a cabeça, isso fazia que eu soubesse que estava bem.
Um final de semana me convidou para jantar, sei que não frequentas ambientes, mas precisas conhecer gente de tua idade.   Fomos a um restaurante, que parecia um teatro de revista, entrava e saia gente que sequer comia, somente alguns comíamos.   Muita gente vinha falar com ele, me apresentava, mas não me chamavam atenção.  Entrou um homem muito alto, vestido de mulher todo de azul, parecia um choque, pois se notava que tinha pelos no corpo, perguntou ao professor se depois ia ver o show.
Venha com seu namorado, apontou a mim.
Respondi rapidamente, não sou seu namorado, sou seu aluno, não tenho namorados, mas quero te pintar.
O outro puxou uma cadeira, como é isso.
Quero te pintar da minha maneira, vens ao studio, vês o meu trabalho, se aceita, te pinto, não posso pagar muito.
Caralho esse garoto, é incrível.
Incrível é o talento que ele tem, disse o professor que estava olhando a cena, com um sorriso na boca.
Ok, se vier ver meu show, apareço no studio, ok
Lhe disse que sim, prometo. Estendi a mão apertei, era a mão de um homem forte.
Depois de jantar, de conhecer mil pessoas, que no momento seguinte já não me lembrava de quem se tratava.  Não conseguia tirar da cabeça esse homem vestido de mulher, mas ao mesmo tempo tão masculino.
O professor, me disse, vais gostar do show, não é o show típico de travestis.
Eu lhe disse que nunca tinha visto nenhum, que nem sabia o que era.
O lugar do espetáculo, era ali perto, hoje já não existe mais.
Um bar, com mesas, um palco não muito grande, de repente apareceu aquele homem imenso peludo, com uma tanga, contou duas piadas, a melhor coisa que me aconteceu hoje foi conhecer uma pessoa, humana, sim porque vocês suas bichas descaradas, não são humanas.
De repente começou a cantar, quando terminou com sua voz potente, ficou meio em diagonal aonde eu estava. Tirei da minha bolsa um lápis, um bloco comecei a desenhar isso.
Mas era como se eu estivesse ao seu lado,
Apareceram outros atores, ele só voltou no final, agora vestido como estava antes, fazendo um numero comum outro ator, que estava vestido de homem, muito afeminado, dado momento, não sei como fazia, começava a cantar, mas como se estivesse comendo o outro que estava de fraque.  Era uma mulher possuindo um homem.
Sua cara era de uma maldade incrível, eu não parava de rabiscar, sobre o olhar atendo do professor. Quando acabou o show, ele disse que devíamos esperar mais um pouco, pois tinha muita gente saindo.
Por detrás chegou alguém que bateu no ombro dele, olá meu irmão, como andas, esse menino não prestou atenção no show.
Eu não podia acreditar, aquele homem era ele.  Comecei a rir, ele perguntou qual era a graça.
Lhe contei se o encontrasse na rua, não ia saber que era ele.
Obrigado isso é um puto elogio, significa que sou bom no que faço, mas na verdade, sou irmão mais velho dele.   Ele sempre foi o certinho da família, eu o ovelha negra.
O professor, tirou o bloco que eu tinha embaixo do meu cotovelo, ele prestou atenção sim no show, olhe.
Filho da puta desse garoto, como podes ler minha alma. Apertou minha mão, amanhã mesmo estarei lá.
Eu não podia esperar amanhã, não podia deixar esse homem escapar.  Lhe disse olhando na cara, não podíamos começar hoje?
Ficou me olhando serio de repente, o professor se afastou.
Não sabes com quem estas te metendo?   Isso pode ser ruim para ti, sou essa pessoa que viste em teus desenhos.  
Ah, estas pensando que quero fazer sexo contigo, ainda é cedo para isso, não tenho muita experiencia no assunto.  Portanto o que quero é outra coisa, tenho que fazer o que tenho na cabeça antes que me perca em outras coisas.
Fomos para o studio, quando entramos, ele só disse o local do meu pai.  Um bom filho da puta.
Pedi que tirasse a camisa, fui até o desenho, o que pensavas nessa hora, coloquei uns papeis grande na parede, comecei a desenha-lo, ficamos assim até de manhã, fazia calor, tirei a camisa, ele deve ter achado graça, eu era quase esquelético, branco como uma parede, meus pelos do sovaco eram amarelos.  Ficou me olhando, com um olhar de desejo, pintei isso também.  Lhe disse, tens uma coisa incrível, teu olhar, tua maneira de olhar, transmite tudo.
Bom por hoje acabamos, estou morto de cansado, um bom café agora iria bem, não achas.
Respondeu, prefiro um beijo.
Me aproximei, peguei sua cara passei a mão sujas de tinta por ela, o beijei, não imaginei que ia me incendiar. Não conseguia parar.
Caralho, não era para fazer isso. Mas não resisti, tirei sua roupa inteira, mergulhei nele, por assim dizer.  Quando terminamos estávamos os dois sujos de tinta.  Ficamos rindo.
Eu nunca imaginei que um garoto que não soubesse fazer sexo, pudesse fazer tudo isso.  A mil anos luz não tenho um sexo como esse.
Não nos largamos mais, durante dez anos, mas depois conto.
Preparei os quadros todos, ainda pintei dois de um negro que pedia dinheiro na Washington  Square, o desenhei ali na praça, sentado, pedindo dinheiro, era um dândi velho, mas com classe.   Perguntei se podia posar para mim, que lhe pagaria.  Me disse um preço, como dizendo ele vai se negar.
Um era um fundo branco, com ele como estava ali sentado, no outro o fundo era o céu cheio de nuvens, como se ele estivesse prometendo para todo mundo o melhor de suas vidas.  No último dia me disse que eu tinha uma coisa diferente das outras pessoas, tinha alma.   Nunca mais o vi, o procurei o resto de minha vida, mas não o encontrei.
Mas guardei isso dele, me dizendo que eu tinha alma, não aceitou o dinheiro que tinha me pedido.
O professor levou o Ruben Gaultiery para ver os quadros, ele ficou entusiasmado, eu não me enganei.  Tirou do bolso do casaco um contrato, justo nesse momento entrava o Jael, meu namorado, dizendo eu sou o agente dele, não assina nenhum contrato sem passar por mim, nem pelos advogados.
Tirou um lápis de uma de minhas caixas, foi riscando coisas.   Se quiseres fazer essa exposição, queremos um catálogo, cartazes pelos lugares importantes em termos de arte, quanto a essa porcentagem de 50% nem pensar, qualquer outra galeria ficaria com muito quiça com 15, o outro disse 20, ele é um desconhecido.
Ok, se trabalhares direito, os próximos quadros estarão sempre em sua galeria, mas nada de contrato.
Perfeito, vou preparar tudo que me pediste Jael, eu te conheço não?
Não acredito, acabo de chegar na cidade.  Eu agora ia dormir todos os dias na sua casa, nos dias que tinha show, eu ficava esperando por ele no studio, até que vinha me buscar.
Não tens medo de que saia com outro homem do show? Me perguntava sempre?
Não, porque sei que me queres, como eu a ti.  Olha Jael, podes fazer  isso qualquer hora do dia, quando estou trabalhando, nem vou pensar em te vigiar, mas se descubro algo, nunca mais vais me ver.
Um dia me arrastou com ele a um médico, para fazermos exames, foi claro, tenho Aids, me trato, viu que tenho cuidado, mas isso sempre é pouco.  Se quiseres me deixar eu entendo, devia ter falado no assunto no primeiro dia.
Nem podia pensar em deixa-lo, ele era um raio na minha vida.
Nos exames, deu que eu não tinha nada, mas me aconselharam como devia me comportar, isso tínhamos feito desde o primeiro instante.
Eu ia com ele visitar seus amigos no hospital, alguns em fase terminal, pedia licença educadamente se podia desenha-los, queria fazer uma exposição, para arrecadar fundos para o hospital, para aonde estava essa gente.   Quando ele dizia isso, aceitavam.
Mas tinha um que me olhava com horror, lhe perguntei por quê?
Me disse que nos meus olhos via a morte, que essa pele, esses cabelos, parecia a morte andando vestida de Rastafari.
Me sentei, comecei a desenhar, lhe disse assim?
Mostrei, começou a rir, até tossir, virou um grande amigo, saiu dali, seguimos amigos, porque se recuperou.  Jeremy Custer, um grande escritor, dramaturgo, as vezes aparecia no studio, ficávamos os três conversando coisas textos, quadros, ele dizia que eu conseguia ver a alma dos outros.  Acho que só quem viu a morte de perto pode fazer isso.
Um dia contei aos dois minha história, a cena do meu pai, minha mãe, como eu lhe dei o tiro no lugar dela.
Ficaram em silencio, Jeremy soltou que nesse momento eu tinha feito um pacto com o diabo, pois o que pensava que era meu pai ia me matar, mas teus reflexos ganharam, fizeste bem, um filho da puta sempre merece isso.
Minha tia tinha vindo com os dois ver a vernissage, disse que quando jovem tinha vivido essa vida, em Paris, fazia sucesso entre todo mundo.   Os meninos não se sentiram muito a vontade vendo os quadros, parece que estou vendo mamãe na cama me disse Matheus, pensei que ia me apaixonar pela cidade, mas a detestei.  Quero ir para casa, eu entendia, eu já não lhes inspirava confiança, entenderam minha pintura.   Me evitaram o resto de minha vida, como se eu os tivesse traído, os respeitei.
A vida seguiu, quando fiz a segunda exposição, ao ser dedicada aos doentes,  Ruben, convocou todos os jornalistas, pedia divulgação era por uma boa causa, nem ele nem eu íamos ficar com um puto dessa exposição.   Tudo foi vendido, o valor depositado em nome do hospital, para o tratamento da Aids.
Apesar da pressão para fazer uma nova exposição, queria mudar de ar.  Precisava sair de NYC, quando eu comentei com o Jael, ele me perguntou o que queria fazer.
Talvez me relaxar, ir a Paris, aos museus, beber na fonte, Londres, ou Berlin, vens comigo.
A resposta dele, foi franca, por nada do mundo te deixaria sozinho porque eres o ar que respiro.
Beber na fonte para ele, significava aprender, observou tudo nos museus modernos, como o Picasso, o Pompidou, depois em Berlin tudo que havia de moderno nas galerias.
Quando voltaram no voo Jael, começou a passar mal, saíram do aeroporto em ambulância diretos para o hospital,   depois de todos os exames, uma das medicações que ele tomava deixava de fazer efeito, agora vinha o mais difícil, acertar com outra, foram dias de agonia no hospital, mas não saiu do seu lado.
Eram capazes de se entender pelo olhar.                    Um dia Jael lhe disse que não queria ficar apodrecendo num hospital, como tinha visto seus amigos ficarem.  Não entendeu ou não quis entender o que se passava.  Dois dias depois quando voltava de comprar material para começar a trabalhar, visto que Jael saia do hospital, o encontraram morto.   Alguém tinha levado para ele um revolver ao hospital.
Ninguém sabia, ele estava aturdido, não conseguia entender.  Se lembrou da conversa, falou com os amigos dele, alguém tinha entendido a mensagem, ninguém abriu a boca.  Ele estava profundamente abalado com tudo, ficou fechado no escuro do studio dois dias sem sair, esperando uma luz, dormia ali mesmo no chão,  o tempo todo sonhando com os 10 anos que tinham convivido.
Quando se levantou, começou a pintar um quadro que era um revolver, pela primeira vez colocava umas palavras num quadro, será que resolve.
Passou semanas pintando como um louco, todos estavam preocupados, ele só abria para o rapaz que lhe levava comida.  Um dia, foi atender, atrás das embalagens estava o Jeremy Custer, venho te buscar, hoje é o enterro do Jael, não podes faltar.
Quando viu o que ele estava pintando, estas colocando toda tua agressividade para fora, isso mesmo.  O arrastou dali, contra sua vontade, o levou para tomar banho, mas a casa do Jael, tudo lhe fazia lembrar o homem que tinha amado tão loucamente.
O enterro ia ser judeu, tinham feito a autopsia do Jael, a bala tinha destroçado seu crâneo, mas nisso descobriram que tinha um tumor na cabeça, que sua vida não ia demorar muito tempo.
Ele procurou ficar a parte o tempo todo, essa quantidade de gente dando a mão, lhe ofendia, lhe fazia mal, era como ver milhões de mãos tentando lhe agarrar.
No cemitério, ficou afastado chorando, agora realmente tomava consciência que nunca mais o ia ver.   Ficou ali sentado num tumulo qualquer chorando como uma Madalena, uma pessoa lhe estendeu um lenço, aceitou, quando levantou a cabeça, estava ali um dos atores que trabalhavam com o Jael.        Sei o quanto ele te amava, mas é impressionante ver como transformastes esse homem num ser maravilhoso.   Devo muito a ele, deixei de fazer shows, ele disse que eu estava perdendo tempo, tinha talento para outras coisas.  Me fez ver que podia ser algo mais, agora estou estudando psicologia.
Ficaram ali conversando, comentou o que sentia, perdi uma pessoa que amei desde o momento que o vi, mesmo vestido de mulher, pude ver que por detrás estava um homem fantástico.
Ele me dizia o mesmo de ti.  Mas ele sabia que se ficasse vivo, a vida ia ser uma miséria, para ti, para ele.  Tinha visto todos seus amigos morrerem, não queria isso.
Eu entendi desde a primeira vez que me disse, mas não sabia o que podia fazer, não sabia como aliviar isso dele, na verdade tivemos uma viagem de despedida maravilhosa, nunca poderei esquecer nada que vi com ele, as conversas, as discussões que tínhamos a respeito do que víamos.
Eu acho que ele sabia que era sua última viagem, pois me disse dias antes, se não vou, pode ser que nunca mais veja o homem que amo.
Mas tens que tocar para frente, lembre-se que o Jael, já tinha quase 65 anos, ele era muito mais velho que você.   Tinha vivido a vida que tinha escolhido.  Você ainda é jovem, tens muito pela frente.
Lhe deu seu número de telefone, quando quiser apareça no studio.   Assim começo uma amizade que duraria sua vida inteira.   Agora saiam os três, Jeremy, Coult, o arrastavam para jantar, ir a um cinema, ou mesmo a estreia de um espetáculo, baseado na obra de Jeremy.
Assim foi se reerguendo aos poucos.  Pintou uns dois quadros que era ele mesmo gritando, na verdade era um quadro em branco, com uma boca escancarada gritando, os dentes, a língua  as narinas , os olhos nada mais.
O outro era sobre um sonho que ele tinha tido, como se fosse uma vingança, agora lhe tirava outra vez uma pessoa que ele amava.
Tentou falar com os irmãos, Thorpe estava estudando em San Francisco, Matheus levava o restaurante na vila, cuidava da tia, não quis falar com ele de maneira nenhuma.
Não insistiu, quem sabe o tempo acomodaria tudo.
Os dois últimos quadros, foram comprados sem sequer passar pela galeria, todos os dois para um museu Frances.   Para muitos seria uma glória, mas o dinheiro de um comprou um apartamento antigo, imenso num último andar, como precisava de reforma, abriu todo um lado, deixando uma pequena parte, para uma, sala, cozinha banheiro e um quarto, o resto era seu studio.
As vezes tinha vontade de sexo, saia com os amigos, pelas discotecas, os dois riam dele pois se fixava em homens parecidos com Jael.  Ele mesmo percebeu isso, começou a procurar o oposto.
Mas nunca passavam de uma noite, não havia magia, nada que fizesse inclusive que a pessoa ficasse para dormir.
Um dia vinha andando pela rua, deu sem querer um encontrão com alguém que vinha carregado de livros, se abaixou para ajudar, pedindo desculpas.   Era mais ou menos de sua idade, loiro, olhos verdes, atlético.   O rapaz disse, eu sei quem eres, caramba, adoro teus quadros.  O sorriso que tinha era cativante, começaram a conversar, foram tomar um café.
Porra quiseram ter isso todos os dias, conhecer uma pessoa especial.  Ficaram de se ver, estuda jornalismo na universidade.   Mas não deu certo, quando chegaram a cama, ele queria o Jael, foi uma merda, menos mal que o outro foi esportivo.  Eu entendo, as pessoas que amamos, nos marcam para a vida.
Um dia vagabundeando pela rua, para se relaxar, viu um cartaz de um grupo de jazz, um que segurava o saxofone, parecia com a descrição que tinha dado sua mãe.   Foi assistir sozinho o show.   Como estava sozinho numa mesa, três rapazes perguntaram se podiam sentar ali.  Um deles era filho do homem do saxofone.  Lhe perguntou se queria conhecer seu pai, podia apresenta-lo.
Disse que não, ir buscar no passado, não ia fazer bem, pois teria que desenterrar muita coisa.
Fez um quadro, que era como figuras recortadas, um homem tocando saxofone, tinha memorizado seus movimentos, era como se a cada movimento a figura que começasse em negro fosse se diluindo na tela, até ficar com duas mãos mais nada segurando o saxofone.
Isso era o seu passado, se diluindo, nunca mais iria em busca do passado, nunca mais voltou a vila, quando a tia morreu, mandou um ramo de flores, mas sequer telefonou aos irmãos.
Seguiu sua vida pintando, algumas vezes saia com alguém, mas seus dois amigos eram sua companhia predileta.
Pelo menos uma vez por semana, saiam para jantar, conversar, ou iam ao studio para ver o que estava pintando.  Quando teve uma quantidade grande de quadros, chamou o Ruben, marcaram uma exposição.   De novo foi um sucesso.  Tudo vendido.
Ele sentia que precisava se reciclar, não gostava de ficar parado no tempo, resolveu aprender a fazer escultura, voltou a escola para isso.  Quando estiveram em Paris, tinham ido ao Museu du Quai Branly, aonde viu muitas máscaras africanas, nem tinha tocado nessas fotos, procurou as mesmas,  começou a trabalhar em cima disso.    Misturando o como gostava de trabalhar, dizia que a boca os olhos, as narinas das pessoas podiam dizer muita coisa.
Começou a sair pelas ruas procurando negros que se parecessem com mascaras, os desenhava, um dia estava na Washington  Square, ficou fascinado por um estudante, seus traços pareciam terem sido cortados a faca, ficou ali o desenhando, mudando de lugar para ter outras perspectiva, quando escutou uma voz forte dizendo, fazes isso sem autorização, vou chamar a polícia.
Não tinha visto que ele tinha saído do banco aonde estava para se colocar ao seu lado.
Caramba, fico mais bonito, pelos teus traços. Estendeu as mãos negras por fora, brancas na palma,  Jonathan ou Jonas  Klayberg, mas minha mãe me chama de só Jonas,  é uma senhora fantástica.
Queres posar para mim Jonas?
Caramba rapaz, vai ser difícil, primeiro porque eu disse meu nome, me apresentei, mas tu não disseste o teu.
Thobias Grunderk, sou pintor.
Eu sei quem eres, me lembro quando chegaste na universidade, com aquele cabelos imensos rastafari, ainda perguntei a um colega, de aonde saiu essa peça.
Sou professor aqui,  dou aulas de direito, bem como de psicologia criminal.
Estou perdido, adeus, meus crimes todos virão a tona.
Se tenho tempo, claro que posaria para ti, mas tens que fazer um retrato meu, para oferecer a minha mãe, ela ia adorar. Tirou da carteira, uma foto dele, ao lado de uma mulher branca, ah sou filho adotivo.
Passaram a se encontrar ali na praça, até que um dia o levou ao studio,  pediu que tirasse a jaqueta, bem como a gravata, a camisa. O iluminou como gostava, começou a desenha-lo de todas as maneiras.  Sem saber, bem porque, num desenho incluiu o menino que estava com a mulher branca.  Seus olhos, sua maneira de olhar para ela.
Jonas quando viu ficou de boca aberta, como sabes que eu estava pensando nisso, essa foto estava guardada aqui a muito tempo, nunca mostrei para ninguém, porque pedem muitas explicações, eu odeio.  Você ao contrário, olhou, guardou na tua cabeça, agora sai espontaneamente.
Quando Jonas voltou de novo, ele tinha pintado um quadro, aonde Jonas criança, estava sentado num banco de jardim, com a senhora, que ele tinha memorizado, com um vestido cheio de flores, atrás olhando os dois Jonas adulto, de traje, gravata, um olhar sério.
As lagrimas rolavam na sua cara.  Como chegaste a isto?
Não sei, olhando a ti. Nada mais.
Eres um caçador de almas. Fez uma coisa que ele não esperava, se levantou, o abraçou, beijou sua boca, foi um efeito devastador. Ficou sem folego.
Tinha encontrado um novo amor.   Os dois faziam um par completamente diferente, ele tão branco, o outro tão negro.   Quando ele disse ao Jonas que era albino, primeiro ele não acreditou, lhe mostrou a foto de sua mãe, ela me contou no seu leito de morte, que tinha tido uma aventura, com um negro de uma cor distinta aos demais, que ele sem roupa era como um homem branco, eu nasci assim, branco quase transparente.
Foram levar o quadro para a mãe do Jonas, era uma senhora muito distinta, vivia numa zona chic da cidade.   A então é você que tem sequestrado o meu filho.   O abraçou, beijou seu rosto.
Quando viu o quadro, perguntou quem te falou nesse vestido, ele explicou que tinha visto nos olhos do Jonas.   Quando soube que ele na verdade era albino, ria muito, podia pensar que eras sueco, da Noruega, ou coisa parecida, mas que tivesses sangue negro nunca.
Agora ia com Jonas todos sábados jantar na casa dela.
A princípio Jonas só vinha dormir, mas foi ficando, gostava de estar estudando ou escrevendo qualquer coisa, enquanto ele pintava ou desenhava.
Os outros dois quadros do Jonas foram para a exposição, já marcados de vendidos, não queria que ninguém tivesse o seu amado. Os deu de presente a ele.
Agora depois de todos esses anos, estava esperando por ele, para entrar nas salas aonde faziam a retrospectiva de sua vida.   Estava emocionado,   Jonas sempre o acompanha em tudo.
Viu que ele chegava por detrás, o que estas fazendo aí escondido, aproveitando isso para rever tua vida.  Ele ofereceu seus lábios, sim, exatamente isso, fazendo uma análise de tudo.
Entraram os dois no salão do museu, aonde estava sendo sua retrospectiva, com obras que tinha espalhados pelo mundo inteiro.  Agora com a idade, trabalhava mais devagar, fazia uns desenhos pequenos para depois aumentar.  Tinha sempre no bolso, um bloco pequeno, um lápis.  Nunca tinha imaginado isso, essa necessidade de estar sempre captando pessoas.
Estavam os dois casados oficialmente a meio ano, a mãe do Jonas, dizia que queria morrer tranquila, sabendo que o filho estava bem casado com ele.
Comentou com ele, pena que ela não está aqui.
Ia adorar, conversar com essa gente toda.  O quadro do Jonas com ela, ocupava uma sala especial.
Pela primeira ver tinha se recordado do Jael, sem sentir dor no peito.
A vida seguia, agora em ritmo mais tranquilo.










  





lunes, 8 de junio de 2020

OUTRO?


                                                       

Estava com a mão doendo de tanto dar murros na parede, filho da puta era pouco dos palavrões que dizia, ao mesmo tempo se culpava por ter sido ingênuo.
Estava literalmente apaixonado, mas isso não resolvia o problema, agora via que tinha sido usado todo esse tempo.
Se lembrou literalmente como o tinha conhecido, estava em seu escritório, no alto de sua torre que os amigos diziam que era de Rapunzel por causa de seus cabelos loiros compridos, acabava de atender um cliente, agora entrava outro.
Desculpe, abriram a porta, a secretária me mandou entrar, mas creio que há um engano, estendeu a mão ele por força do hábito disse, Johnny Fieldscott em que posso atende-lo. 
Estou procurando o senhor Robert.
Ah, é a sala seguinte, não passa nada, as secretárias deviam acompanhar os clientes até a sala, mas estamos em falta com pessoal, a empresa ainda é nova.
Ele tinha estado mais de dois meses, fazendo práticas em San Diego, agora sentia falta de lá, ao voltar em pleno inverno de NYC.  Acompanhou o homem, lhe indicou a sala, tudo que viu  que era um homem atraente.
Atendeu o seguinte, depois saiu para almoçar, estava esperando um amigo que não via a algum tempo, tinham sido namorados, mas agora eram apenas amigos, já estava sentado quando este chamou para pedir desculpas, um cliente de última hora.   Não passa nada, respondeu, já nos falamos.
Começou olhar o menu para pedir a comida, ia almoçar sozinho isso já estava acostumado, viu uma pessoa parada na frente dele, ia dizer o que queria, era o homem que tinha entrado em sua sala por engano.
Johnny, não é?    Me chama Robert Dascal, não tive tempo de me apresentar, falei com teu colega, creio que houve um erro lamentável de ambas as partes, me mandaram vender algo, que vocês também vendem. 
Sente-se, vais almoçar?
Não, acabei de fazê-lo, mas  te espero para tomar café.  Ficaram conversando, ele disse que vivia fora da cidade, ainda não consegui apartamento aqui.  Estou procurando. 
Creio que um ao lado do meu, está para alugar, se me espera depois do trabalho, eu saio por volta das seis, inclusive dá para ir a pé.
Ficaram conversando, falando de produtos que vendiam, nada de muita importância, não sabia o que pensar, já que o outro o olhava diretamente na cara. Por duas vezes quase tinha deixado a comida cair na toalha.   Tinha ficado nervoso, aquele homem bonito olhando para ele assim, não sabia o que pensar.
O acompanhou até o edifício, se despediram, nós veremos quando saia.
Trabalhou o resto da tarde, atendendo pessoas, era um trabalho novo para ele, antes tinha sido vendedor, mas de sistema de internet para grandes empresas, era especialista nisso.  Mas a empresa fechou, aceitou esse trabalho.  Não lhe desgostava, mas esperava logo conseguir alguma coisa na sua área.
Por algum tempo esqueceu do outro, quando levantou a vista, viu que estava atrasado, pensou no frio que devia estar aquentando.
Desceu rapidamente, lá estava, pediu desculpas, foram andando, foi cortes perguntou pela sua tarde de trabalho, etc.
Quando chegaram no edifício o porteiro disse que já estava alugado, mas dentro de uma semana, vai liberar um justamente no andar de cima.  Anotou o nome do Robert, com o frio que tinha obrigado ao outro aguentar, por ter esperado, lhe perguntou se queria um café, assim via como era o tipo de apartamento.   Entraram sacudindo do resto de neve.  O apartamento estava razoavelmente quente.          Perguntou se queria café ou outra coisa para esquentar, este riu lhe perguntado o que tinha para oferecer, trouxe uma garrafa de whisky, dois copos, perguntou se queria gelo, ele disse que gostava a cowboy, riu dizendo que ele também.
Lhe serviu, lhe mostrou o apartamento, por último o quarto que era espaçoso, com relação a sala, lhe perguntou se tinha família,  porque aqui não vive nenhuma família, creio que a maioria é família sem filhos.
Disse que não, lhe gostou que tinha uma poltrona, com uma mesa, justo perto da janela,  lhe explicou que gostava de ler, ali estava bem.  Quando iam voltando para a sala, ficaram frente a frente na porta, o outro avançou o beijando na boca, foi uma loucura, um terremoto percorreu seu corpo.  Quando viu estavam fazendo sexo como loucos, o tinha penetrado, este gemia, pedindo mais.  Acabou dormindo ali com ele, se levantou mais cedo dizendo que tinha que passar pelo seu hotel, para trocar de roupa.
Um pegou o número de celular do outro, passaram a dormir todos os dias, mas na sexta-feira disse que tinha que tomar o trem para a casa dos pais, pois levava a roupa para lavar, que se veriam na segunda, assim foi durante dois meses. 
Estava literalmente apaixonado.  Como era época de natal, saiu para comprar alguns presentes, no sábado, com um amigo, tinha que comprar coisas para sua mãe, sua irmã, claro para os sobrinhos, entraram numa grande loja de brinquedos modernos, quando o viu abraçado a uma mulher, ficou parado, se escondeu atrás de uma coluna, menos mal que seu amigo disse que o esperava fora, pois ali cheio de criança não entravam.  Viu que dois garotos corriam até ele, gritando papai.  Ele passou a mão na cabeça dos meninos, depois beijou a mulher. 
O primeiro impulso foi de se aproximar, para ver sua reação.
Ficou furioso, nessa noite saiu com o amigo tomou um porre monumental, estava frustrado, não gostava do emprego, ia aguentar mais tempo, pois pensava que estava apaixonado, mas não passava do outro.  Na cama o filho da puta estava sempre pedindo para ser enrabado, agora isso, era casado.
Por sorte no domingo, um amigo que tinha feito em San Diego lhe chamou, para dizer que na sua empresa de informática, precisavam de alguém com a experiencia dele, se queria, o lugar era seu.  Disse que sim, que queria, só precisava de dois dias, para embalar suas coisas, pedir demissão.   Se for possível, irei buscar meu carro  na casa da minha mãe, deixo os presente, irei de carro, pois aí, é melhor andar de carro.  
O amigo lhe disse que podia ficar uns dias na sua casa, mas que normalmente a empresa encontrava apartamentos para os empregados.   Perfeito foi tudo que disse, nem perguntou pelo salário, queria era sair desse inverno, da situação que estava.
Passou o dia inteiro arrumando em três caixas o que era seu,  segunda de manhã, foi a empresa, pediu as contas, foi até a casa de sua mãe no Brooklyn, deixou os presente, pediu desculpas, mas não podia perder essa oportunidade.   Quando voltou seu celular não parava.  Até conseguir um lugar para estacionar, foi difícil.  Quando chegou a porta do edifício, lá estava ele lhe esperando.  Lhe apertou a mão, ele subiu atrás dele.
Quando o este olhou as caixas, lhe perguntou o que significa isso, ele lhe mostrou uma fotografia dele com a família.
Ele literalmente se sentou numa cadeira.  Eu ia te contar, sinto muito, estou apaixonado por ti, estou tentando aguentar tudo, não esperava me apaixonar, pensei que ia ser somente uma noite, mas não consigo te tirar da minha cabeça.
Chegas tarde, além de que, eu jamais aceitaria ser o que fica esperando, te enganaste de pessoa, sou jovem demais para aguentar isso.   Se levantou tentando beija-lo, mas o empurrou, não sejas idiota, nem uma última noite quero contigo, me usaste isso não perdoo.
Queria saber para aonde ele ia, se negou a dizer.  Aliás nem no trabalho tinha dito, a única que sabia era sua mãe.
Estava furioso, lhe disse agora que já falamos, por favor de sair, antes que chame a polícia.
Ele foi embora, furioso, como se tivesse a razão.   Se sentou, chorou um pouco, mas não podia perder tempo, desceu pediu se o porteiro podia ajuda-lo, desceu suas coisas, enfiou no carro, lhe entregou a chave do apartamento.
Se me perguntarem aonde o senhor se mudou, o que digo.
Nada, literalmente nada, vou pelo mundo.
Entrou no carro, olhou para ver como estava de gasolina, era uma hora horrível para sair da cidade.  Estava literalmente furioso, nem dois quarteirões de sua casa, quando o viu falando com um rapaz, parecido com ele.  Ficou furioso, desceu do carro, se aproximou, ele dizendo ao outro que prazer te encontrar.   O agarrou, beijou na boca, virou-se para o outro, tens que ter o pau bem duro, pois ele gosta muito de dar o cu.
Saiu disparado, com ele atrás, filho da puta, é o irmão da minha mulher.
Agora te apanhes, entrou no carro, foi embora. Tinha de uma certa maneira se vingado. Na hora foi ciúmes mesmos.   Agora lhe importava uma merda a vida dele.
Antes de entrar na estrada, parou num posto de gasolina completou o tanque, viu que tinha um motel ali perto,  pediu um quarto, a mulher riu dizendo, o último, com esse frio ninguém quer dormir nos caminhões, ele viu uma fila de caminhões ali.
Já estava entrando no quarto quando escutou uma voz atrás dele, ei garoto bonito, não queres dividir teu quarto, meu caminhão está frio.   Olhou para trás, era um cara alto, com uma camisa de quadros vermelha, botas de cowboy, bonito a bessa.  Disse entra, antes que morras de frio.
Uau, que sorte, a mulher tinha acabado de dizer que este era o último. Se te incomoda durmo no sofá.
Bom tudo que quero agora é tomar um banho, quando saiu o outro estava deitado na outra cama, de cuecas, camiseta, tinha um corpo de enfarte.
Agora vou eu,  parou na porta, na hora que te vi, estava com uma cara de fúria, que quase desisti de pedir.
Não passa nada, vestiu uma camiseta, uma cueca, ficou encostado na cama.  O outro saiu, só de toalha, com os cabelos molhados.
Sabia que quando andas teus cabelos largos balança, são muito atrativos.
Posso, se sentou ao seu lado na cama, me conta o que te aconteceu?
Sem saber muito por que contou tudo. 
Eu te entendo, passei por algo parecido, mas do outro lado, me casei muito cedo, mas evitei ter filhos a toda custa,  ela era minha primeira namorada, nunca tive outra, não tinha experiencia, quando comecei a viajar, conheci um sujeito que levava a vida como eu, da mesma empresa que trabalhava na época.   Acabei fazendo sexo com ele, me apaixonei como um idiota, pedi o divórcio, pois não podia imaginar minha vida sem ele, quando cheguei na empresa, me disseram que ele tinha trocado de companhia, para ficar mais perto da família, tinha mulher, quatro filhos, estava no seu segundo casamento.
Mas a primeira vez que nos encontramos, se comportou como se nada tivesse acontecido.
Bem vamos dormir que está tarde, perdão se jogou na outra cama, não sei dormir de roupa, tirou toda sua roupa.  Tinha um corpo espetacular.
Porque não pensou, melhor dormirmos juntos, para esquentar, foi uma da melhores fodas que tinha tido na vida.   Depois ficaram rindo, ele soltou, fazer sexo contigo é como uma montanha russa.
Para aonde vais?
San Diego, para um novo trabalho.
Vou na mesma direção que você, podemos ir nos encontrando pelo caminho, marcamos quantos quilômetros fazemos, que te parece.  Tomaram café junto, escutando as notícias comentando.   Lhe perguntou aonde vivia.
Vivo em San Diego, embora seja de Santa Fé, mas amo a praia, fazer surf, tenho uma pequena casa na praia.
Ele disse o próximo lugar que pararia, te espero lá, riu posso ter certeza disso?
Sim, vou ligar para o amigo que me arrumou o emprego, lhe digo que por causa do tráfego, que preciso ir pensando na vida,  chegarei em uns 3 dias.
Vale,  marcaram, ficaram rindo, ele viu se carro, precisas de um novo, eu quando não estou na estrada, conserto carros, vendo, etc.
Sem porque ficou analisando o encontro, tinha sido algo estranho, tudo o que ele não tinha feito na cama com o outro, porra nem lhe perguntei o nome. Lhe chamou pelo celular, nem perguntei teu nome.
José Garcia, apesar de loiro, sou filho de mexicanos, depois te conto.  Paramos para almoçar?
Já te alcançarei.   Almoçaram juntos rindo, do fato de não terem perguntado o nome um do outro.
Johnny nunca gostei tanto de estar com alguém, me senti a vontade, apesar do princípio de pensar que estavas se desaforando do teu ex-namorado.
Nem pensei nele, juro, me senti a vontade contigo, contou que o outro na cama era como uma mulher, eu achava estranho, mas não me toquei, ele queria o que não tinha na cama com sua mulher.
Se não fosse me atrasar pois tenho que cumprir horário, iria fazer sexo contigo no caminhão.
A noite jantaram, depois ficaram na cama comentando coisas, estavam entrando numa área de deserto, a noite que vem, se queres podemos fazer uma coisa, parar num lugar que adoro, tenho mantas, edredom no caminhão, dormir olhando as estrelas queres.
Ficou de pau duro, imaginando, já não estava fazendo mais frio, se entregou completamente a ele, depois dormiram agarrados um ao outro.  De manhã fizeram sexo outra vez.
Disse que ele faria as compras, para comerem no deserto.  Ok
Nos vamos falando,  almoçaram juntos outra vez, chegaria mais tarde em San Diego, mas arrumaria uma desculpa.    Se encontraram no posto de gasolina, comentou meu carro está esquentando muito, ele imediatamente abriu o capo, começou a examinar. Uau, menos mal, porque ia te deixar atirado daqui uma ou duas horas.   Foi a loja do posto de gasolina, veio com a peça, trocou para ele.
Quanto te devo?
Me paga com sexo, faz muito tempo que não sou feliz com ninguém,  me siga, chegaram justamente na hora que o sol estava se apagando, a paisagem era fantástica.
Comeram sentados em cima de mantas, bebendo, coca cola, José lhe disse que quando estava na estrada não bebia.
Me conta essa historia de seres loiro, olhos azuis, ter nome mexicano.
Sou adotado, meu pai verdadeiro era amigo da família que me criou, ele estava com minha mãe tinham bebido muito, eu estava num cesto no banco de trás, capotaram com o carro, morreram os dois, o nome de contato como parente era o Jose Garcia.   Ele me levou para sua casa, não tinham filhos, então me adotaram, me colocou seu nome.  É uma figura, pensei que ele fosse dizer quando descobriu que eu era gay, que não me queria como filho, só me disse que me queria feliz.
Foi fantástico fazer sexo ali a luz da lua, olhando nos olhos, dele, cada um penetrou o outro várias vezes, não queria acabar, pois no dia seguinte chegariam a San Diego.
Já vi que não tens muitas coisas, não queres ficar na minha casa para irmos nos conhecendo?
Não vou te incomodar.   Depois iras de viagem, como fico.
Ah, não te disse, essa era minha última viagem, fiz para cumprir um compromisso com a empresa, faltou alguém, me chamaram, eu arrumo os caminhões para eles.  Só faço isso de vez em quando me pedem, me pagam muito, por isso não nego.
Depois é norma ir passar o natal em Santa Fé, com meus pais, podes vir comigo.
Mas José mal nos conhecemos.
Eu sei, mas não quero perder o que tenho contigo.   Ele pensou bem, disse eu tampouco, creio o que tive em NYC, foi porque me sentia totalmente sozinho.  Agora me sinto forte ao teu lado.
Lhe disse aonde tinha que lhe esperar, almoçaremos juntos, depois te levo para minha casa.
Voltaram a fazer sexo, quando o dia amanhecia, adoro teu cheiro lhe disse ele ao ouvido, estou louco por ti.  Fizeram um sexo fantástico.
Voltaram para a estrada, como tinha sobrado coisas, comeram no meio do caminho, quando entramos em San Diego, vou deixar o caminhão, tu me segues,  depois pego meu carro, vamos para casa, espero que não queria me esperar fora, não tenho vergonha do que sou, todo mundo sabe que sou gay.   Mas não deixo nenhum deles, se aproximar de mim.
Assim fizeram, ficou surpreso, com a casa dele, era fantástica, estava quase ao final de uma praia relativamente perto de aonde ia trabalhar.  Avisou seu amigo que tinha chegado, que não se preocupasse, que no dia seguinte cedo estaria pronto para trabalhar, embora fosse sexta feira, pelo menos ia tomar contato com o que ia fazer.
Comeram ficaram sentados numa varanda que tinha no andar de cima, no quarto do Jose, só não podemos fazer sexo aqui, porque iam ficar com inveja do meu homem.
Lhe mostrou aonde tinha oficina.
De noite disse, as vezes a vida te putea, mas em seguida te dá um presente, não podia ser melhor, isso é ótimo.
No dia seguinte, foi cedo para o seu novo trabalho, foi bom porque estavam relaxados pelo final de semana.  Conversou longamente com o chefe que queria criar um novo tipo de serviço, lhe explicou, infelizmente só te podemos oferecer uma secretaria ou secretario que tomes como ajudante.  Lhe disse o salário que era três vezes o que ganhava em NYC, bom isso estava bem, lhe levaram aonde iria trabalhar, uma sala separada, ah disse o chefe, esse salário é para os três primeiros meses, se o projeto avança, aumentamos com benefícios.  Agora venha, vou te apresentar os candidatos que temos, lhe passou as fichas, leia no final de semana, na segunda-feira entregue a minha secretária, ela os chamara para entrevista.
No meio da semana que vem é natal, então paramos na quinta-feira, voltamos na terça-feira porque a maioria é de outra cidade, para dar tempo de chegarem.
Estava super contente, passou na oficina, do José, ele estava terminando um trabalho, ficou sentado perto o vendo super concentrado no que fazia.  Era um modelo antigo da Ford, do ano de 1946, super luxo Woody Vagon, lhe recitou José.   O comprei de um senhor que foi surfista estava na garagem meio oxidado, o motor tinha ido para a merda, desmontei inteiro o mesmo, as peças que não encontrei, fiz eu mesmo no torno, até ficarem iguais, estou nisso a três meses, faltam ainda lixar a madeira lateral, recuperar a mesma, depois pintar nas cores da época, enfim bastante trabalho.   Anúncio, falando que o motor é novo.
Recupero ou peço para algum conhecido me ajudar recuperar os assentos, esses estão ótimos, escute o motor, parece um novo. 
Foram caminhando para casa, ele disse, preciso falar uma coisa séria contigo, porque se vamos para Santa Fé, será uma das primeiras coisas que meu pai vai falar contigo.  Não quero que te pegue de calças curtas.                  Inclusive depois do que eu te diga, podes até me dizer adeus.  Eu nunca comento, morro de medo de falar no assunto, mas como estou apaixonado por ti, tens que saber a verdade.
Eres soropositivo por um acaso?
Não nada disso, tem a ver com doença, mas nada disso, sentaram-se na sala, de mãos dadas, olha a uns dois anos atrás, desmaiei, fui parar no hospital, me diagnosticaram uma doença do coração, que deve ser hereditária, ou de nascença, como sou tão grande, meu coração em alguns lugares é como uma folha de papel.   Posso viver, cinco anos, 10 anos, 20 anos, conforme o que eu faça.   Um dos motivos que não aceito mais viajar de caminhão, pois poderia acontecer algo na estrada, sem querer provocar um acidente.
Mas faço exames todos os meses, segundo o médico, o que me aconteceu foi como um aviso, quero que saiba disto, pois como estamos começando a nos conhecer, temos tempos de nos recuperar.  O segundo assunto, ficou parado, esperando a cara de ansiedade dele, foi difícil esperar o dia inteiro para te ver de novo.
Seu sem vergonha, quase me mata de susto.  Na verdade, a vida é assim, por exemplo meu pai, saiu para trabalhar, não voltou, minha mãe levou dias para descobrir que estava morto na morgue de um hospital, quando caiu fulminado, lhe roubaram a carteira, ficou sem documentos.
Ela imaginando que ele a tinha abandonado com dois filhos por criar, essas coisas.
Tinha somente 28 anos, ninguém podia esperar isso, como pode acontecer de repente eu morrer antes de ti.   Nunca saberemos o que vai nos acontecer depois.  Creio sim que quero te conhecer mais, o que conheço já gosto demais, nunca esperei encontrar alguém como tu.
Temos interesses completamente diferentes, mas isso não nos impede de gostar de viver, um dia desses tem que me ensinar a fazer surf.
Amanhã o dia promete, tem um garoto na praia que gosta de ensinar, vou pedir que lhe dê as primeiras aulas, depois tenho duas pranchas, pode usar uma.
O duro sempre seria levantar, gostava de ficar agarrado a ele, sentindo o cheiro de sua pele.
Escutou que ele falava em espanhol com alguém, fez um sinal, meu pai.
Lhe disse que ia levar um namorado, se tinha problema, me disse que não que ia avisar minha mãe.
Foram em seguida a praia, lhe apresentou o rapaz, a praia estava lotada de jovens se preparando para entrar na água,  ele antes deu um mergulho, como querendo sentir que seria bem-vindo ali.          Depois se juntou a um grupo que idade variada, que o rapaz estava ensinando os primeiros passos,  depois mais tarde experimentaram o que ele tinha ensinado.
José veio ficar perto dele, lhe ajudou com as ondas pequenas, truques de equilíbrio, depois foram comer num bar ali na praia.  Comeram peixe, estava estupendo, a tarde já case caia quando foram para casa, ficaram nus um comendo o outro com os olhos, por estarem molhados fizeram sexo no tapete.
De noite ficou olhando analisando as fichas que tinha dos candidatos.  Tinha separado 3, dois rapazes, uma moça.   Ele olhou as fichas, passou ao José, o que achas.  Ele leu, separou uma, ficou olhando a cara do sujeito, depois olhou a outra, por último a garota.
Lhe disse, este daqui, vais notar que gosta de trabalhar junto com outra pessoa, esses dois vão querer te passar para trás porque estão loucos para entrar na empresa, subir a qualquer custo.
Faça uma pergunta trampa, para saber qual deles se acha o máximo em informática.  Aí saberás que esse daqui, está mais querendo aprender, compartilhar que esses outros dois.
Disse para a secretaria do chefe chamar os três para entrevista, sentou-se em sua sala, começou a estudar a ideia do projeto, fazendo anotações em seu laptop.  Tinham lhe dado um novo, aonde ele acoplou um disco duro externo, pois gostava de levar para trabalhar em casa.
Quando o chefe entrou, tinha seu novo laptop totalmente desmontado, estou verificando se é melhor forma de trabalhar, seria conseguir maior rendimento dele, vou acoplar o disco duro externo, bem como criar um sistema de segurança, para que nenhum funcionário, já que isso fica aqui, possa entrar, depois te dou o código.
O outro estava de boca aberta, se eu faço isso, ao remontar sou capaz de fazer outros dois laptops,  Entendo de teorias, mas não de coisas práticas.
Eu ao contrário entendi as duas, começando a montar o meu primeiro computador, com dois velhos de primos meus.  Vi as peças que estavam boas, fui montando até conseguir um superior a um novo.   Ainda o tenho, com ele posso fazer coisas inclusive que um laptop não faz, pois o fui melhorando.   Se me autorizas posso trazer para trabalhar.  
Claro que sim, como queiras, alias vinha te avisar que os candidatos estão aqui, faço passar o primeiro.
Logo de cara, não gostou do sujeito, sentiu que tinha um cheiro não muito agradável, mãos suadas, se estas nervoso, relaxa.   Perguntou uma serie de coisas que este respondeu, pelo teu curriculum vejo que trabalhaste na Oracle.   Porque saíste de lá.  Foi logo falando que tinham inveja do trabalho dele, que ele era melhor que os outros.  Nem precisou fazer a pergunta trampa, viu que se perguntava sobre o trabalho anterior a pessoa caia.
Depois foi a garota, muito segura de si, viu o computador desmontado, fez uma cara de asco, que tonto, deve ter pensado, se todos vem prontos.   Era experta em programação, tinha trabalhado na Microsoft.  Fez a pergunta de um milhão, caramba é uma puta empresa, porque saíste.
A lista que ela apresentou, nem de longe poderia ser verídica, que os homens tinham medo da inteligência dela, que na área dela, era a melhor, sabia mais que o próprio chefe.
Lhe disse que entrariam em contato.
O último era um rapaz simples, quando viu o laptop desmontado, ficou alucinado, se relaxou, ficaram falando um tempo no que ele estava fazendo.   Soltou o primeiro que tive, era um velho do meu pai, o desmontei, ele tinha trocado porque tinha um defeito que voltava sempre, mandava arrumar, funcionava dias depois tinha que voltar.  Vi um gatilho que tinham feito, é o meu preferido até hoje.  Meu pai ficou furioso quando descobriu que tinha sido enganado, na verdade seu trabalho era rotineiro, ele só usava uns 10% do potencial do computador.
Lhe explicou qual era o trabalho, metade isso, preparar alguma peça ou ligação para desenvolver um programa de interligação com clientes.
Uau, muito interessante, mas teria que aprender a fazer isso, pois sei das coisas, mas cada grupo funciona de uma maneira, estou disposto a aprender.
Mandou o rapaz para o departamento pessoal, para fazer o contrato, este agradeceu, o melhor presente de natal que poderia ter.  Eu estava trabalhando numa empresa que reparava computadores, meu chefe me disse que eu podia aprender mais numa empresa como essa, foi ele quem me indicou.
Avisou o chefe quem tinha escolhido, esse riu, eu quando vi as fichas, também teria escolhido esse, alias conheço seu antigo chefe, diz que o rapaz esta sempre interessado, mas que ali não tinha futuro.   Mas claro não ia dizer isso para ti.
Voltou para casa feliz, Jose estava passando lixa na parte de madeira do carro, esse lhe disse, passa esse líquido do outro lado, mas coloque máscara, espere secar um pouco, depois, raspe.
Sim senhor meu chefe, como pensas em pagar?
Com carne viva.  Foram para casa conversando, ele falou do rapaz que tinha contratado.  O chefe depois voltou para ver se eu tinha remontado o laptop, pediu se eu podia fazer o mesmo no seu, quando viu que o meu funcionava mais rápido.
Vou lá dizer, que cuidado, que nenhum avance sinal contigo, porque eres meu.
Essa noite, contou, vou te apresentar um amigo, aliás meu único grande amigo. O vais achar estranho, porque ele é diferente, é grande porque tem ossos grandes, mas não gordo, esta sempre serio prestando atenção em tudo.   Meu pai quando consegue arrancar um sorriso dele se levanta o beija na cara.  Sabe que esse sorriso, representa que gostou da história. Mas sempre foi assim.  Ele foi repudiado pela tribo inteira, ah esqueci de dizer que ele é índio, pois seu pai era um filho da puta de muito cuidado, matou a sua mãe, então na sua infância foi um garoto problemático, agressivo.  Quando José o trouxe para casa, vivia querendo me provocar para brigar.   Mas um dia na escola um grupo resolveu me dar uma surra, ele não permitiu, disse para os outros se alguém vai dar uma surra nele sou eu, nem se atrevam a tocar um dedo nele, tirou um canivete.   Todos saíram correndo, deu esse seu sorriso torto, ficamos amigos de pôr vida.
Quando eu estou em casa, Maria minha mãe o avisa, ele vive sozinho no centro, cuidando de um centro de recuperação de menores, vai para casa todo o tempo que estou, pode sentir um pouco de ciúmes de ti, mas não ligue.
Quando saíram da cidade, iam carregados de presentes, ele o ajudou a escolher os presentes, mas para o amigo que nem saiba o nome, escolheu uma coisa especial.
Quando chegaram, os pais saíram para abraçar o filho, ao contrario dele que era alto, os dois eram baixos, mais para gordos, o abraçaram também, seu pai Jose, segurou sua cara ficou olhando nos seus olhos, lhe deu um tapa suave, seja bem-vindo garoto.   Nisso parou um jeep velho, caído aos pedaços, saiu um homem com uma cabeleira negra imensa, levantou José do chão, filho da puta, nunca das notícias.  Abraçou e beijou os velhos, quando o viu, olhou o José, quem é esse garoto, o abraçou apertado, levantando do chão, disse ao seu ouvido, se fazes alguma coisa má para meu amigo te matarei, o colocou no chão deu um sorriso torto, gostei do muchacho.
A mesa estava posta, tinha comida para um batalhão, não quero que meus meninos passem fome, olhe como estão magros.  Agora entendi o nome do outro era Corvo, eu magro, estou assim porque vivo comendo aqui, levando quentinhas para meu quarto, se um dia estouro a culpa é de vocês.
Depois os dois foram arrumar a cozinha, nem deixaram Maria fazer nada, quando eles estão aqui me tratam como a rainha de Inglaterra.
Falas espanhol Johnny?
Não senhora, mas estou aprendendo, como José misturando sempre alguma palavra no que fala, aprendo.
O pai muito sério, ele te contou do que padece.
Sim senhor, me contou tudo, para que eu não levasse um susto.
Perguntaram de seu trabalho, procurou explicar em palavras simples. Quando viu os dois estavam parados lado a lado na porta, escutando.    Papi, entendeste alguma coisa?
Nada, mas fiz cara de interessado para ele não pensar que sou mal educado.
Verás depois lhe dá aquele seu computador que não funciona direito, vais ver do que ele é capaz.
Depois, agora vocês deveriam ir leva-lo para dar uma volta, conhecer a cidade.  Tua mãe vai preparar a ceia de Natal para amanhã.
Johnny qual a tua religião? 
Sou católico, por quê?
Amanha fazemos a ceia antes, depois vamos a missa, hábito da casa.
Os dois levantaram as mãos para o céus, mama, é necessário?
Claro que sim, a família toda junta, que vai pensar o Johnny.
Nada responderam os dois ao mesmo tempo.
Corvo foi explicando a cidade, sua maneira de falar era meio bruta, suas mãos eram imensas, a direção do jeep parecia uma dessas de brinquedo com ele segurando.
Depois foram tomar uma cerveja, fez questão de apresentar alguns conhecidos que estavam ali.
Depois os levou para casa, hoje não janto com vocês, tenho plantão. Me toca cuidar dos garotos.
Corvo gostou de ti, pois se alguém aparece do meu lado, logo cria caso, fica provocando a pessoa, faz tudo para instigar que a pessoa se aborreça ou comigo.  Diz depois não servia para ti.
Por que não o convidas para vir passar o Ano Novo conosco na praia?
Isso seria interessante, pois ele quase nunca sai daqui, creio que foi uma única vez, chovia horrores, nem banho de mar tomou.
Antes de ir embora, o convidaram.  Olhou para um, depois ficou olhando o Johnny, isso foi ideia tua não é, quer me conhecer fora do meu ambiente, para saber se sou mais amigo.  Perde teu tempo sou pior.
Absolutamente, apenas quero te conhecer melhor, eu estou aprendendo fazer surf, o José disse que a única vez que estiveste lá, chovia muito.
Surf, ficar andando em cima dessa coisa, como se fosse a coisa mais importante do mundo.
Eu tampouco me interessava, posso dizer que me relaxa, como se a água do mar, me descarregasse por dentro.
Ias acabar gostando, eu ainda não sou um experto nisso, mas gosto de ir aprendendo, alias nunca me nego a aprender uma coisa nova.
Falou tudo isso, desmontando o computador do velho José, esse ao lado estava com os olhos arregalados.    Perguntou quem tinha um soldador, tem um peça aqui solta, ia falando, mas estava prestando atenção em tudo que fazia.   Corvo se debruçou, começou a perguntar para que servia cada coisa.  Foi lhe explicando da maneira mais simples possível.  De que estava composto etc.   Experimentou, a velocidade tinha aumentado.    Perguntou qual o uso que o José pai, lhe dava ao computador.
Instalou uma série de coisas que lhe facilitariam seu uso.  Também lhe ensinou a usar, lhe disse que anotasse tudo isso, pois em caso de dúvida, olhasse as anotações.
Corvo tinha desaparecido, voltou com um velho laptop, é o que tenho lá na associação, os meninos as vezes usam fica uma merda, dá um jeito nisso para mim.
Claro, arrumou tudo, se não queres que usem, crie um bloqueio.
Os deixo usar para se distraírem. 
Vou ver se consigo, aonde trabalho, antigos, arrumo, assim iras buscar, esses garotos terão o que usar.
Ficou olhando para ele, o que vais querer em troca?
Nada, que apenas vá passar o Ano Novo com a gente.
Ficou olhando para ele como se desconfiasse.
Mas na hora que se despediram o apertou como fazia com o José.
Vais te arrepender dessa chantagem, mas irei.
Lá estarei esperando, vou ver o que consigo com os portáteis para os garotos.
Logo no dia que foi trabalhar, entrou como um furacão na sala do chefe, perguntou se podia pedir uma coisa.
O que vais pedir desta vez.
Se vocês tem laptops velhos, que eu possa consertar para dar para uma organização que cuida de garotos de ruas.  Claro faríamos uma coisa benéfica.
Venha comigo, o levou a uma sala, é tudo teu.  Se quiseres o nome da empresa bem, mas pelo menos livra essa sala dessas coisas todas.
Arad Ronney, seu ajudante, quando viu ele separando tudo, perguntou para o que era, ele lhe explicou, vou trabalhar nisso depois do horário.  Esses meninos quem sabe o que serão no futuro.
Posso me oferecer para te ajudar, além de ser uma coisa que gosto de fazer, será para uma boa causa. 
Se consigo pelo menos dez antes do ano novo, já fico super feliz.  O que faltar num, procuramos um bem fudido, vamos juntando peças, fazemos uma seleção dos que tem possibilidades, os que não fazemos como um ferro velho, separamos as peças boas para usar.   No primeiro dia, já tinham ordenado uma boa parte, fazendo isso.
Na véspera do Ano Novo, já tinham 11 para usar, na mão dos garotos seria genial.   Perguntou aonde o Arad ia passar o Ano Novo.
Com minha namorada, embora estejamos estremecidos, pois não quer que eu fique longe, mas assim é a vida, ela tem a profissão dela, não posso pedir que venha para cá.  Lá aonde vivemos não tenho futuro.   A largo prazo, evidentemente vamos nos separar.
No dia seguinte, bom o que eu temia, já aconteceu, me deu o fora, vai passar o Ano Novo com os pais num barco.
Lhe disse que Corvo vinha para passar com eles, porque não vens.
Quem são eles?
Ah vivo na casa do meu namorado, na praia.
Corvo é gay?
Não que eu saiba, por que te incomoda que eu seja gay?
Nem pensar, cada um tem direito a viver sua vida, só não quero incomodar os planos dos outros.
Nada será tudo simples, jantaremos, depois ficaremos na praia com a turma de amigos surfistas.
Surf, uau, então vou, posso levar minha prancha, assim faço um novo grupo, estou procurando um lugar para viver, quem sabe algum, quer dividir apartamento.
Avisou ao José que vinha seu ajudante.
Ele fez a mesma pergunta, se ele era Gay.
Foi o que ele perguntou do Corvo, é surfista também, vamos nos divertir, ensinando o Corvo surfar.
Não creio que ele queira aprender?
Deixa comigo.  Depois que estiver na água, nunca mais vai querer sair.
Trouxe com Arad, todos os laptops, embalados, o deixou na oficina do José.   No escritório em cima arrumou uma cama para o Corvo.
A primeira coisa quando chegou foi, aonde estão os Laptops, pois senão vou embora.  Na hora que foi levar suas coisas aonde ia dormir, ficou de boca aberta.  Conseguiste, seu filho da puta, agora vai me chantagear, nisso entrava o Arad.  Lhes apresentou, ele me ajudou a arrumar tudo para os teus meninos.
Quando viu a prancha do Arad, não penso em subir em cima disso.
Ninguém respondeu.  O dia estava estupendo, foram para a praia, quando Corvo tirou a camiseta, tinha um corpo estupendo que ele escondia embaixo de roupa muito grande, logo se viu cercado de surfistas que pensavam que ele era do Hawái, foi divertidíssimo, quando disse que não sabia surfar.  Todos queriam lhe ensinar, ele não teve escapatória.
Os outros entraram na água, ele perguntou o que eu fico fazendo.   Aprendendo. Jose ficou surpreso, Arad surfava bem, disse que era seu esconderijo, dos chatos, ali no mar se sentia pleno, além é claro quando estou consertando coisas com o Johnny.
Foi um fim de ano estupendo, estavam impressionado pois Corvo quando finalmente entendeu como funcionava o surf, fez sucesso com os garotos, pois se ele conseguia na sua idade, eles também.   Fizeram a festa na areia, uma grande fogueira, com todo mundo cantando, conversando, namorando, até o dia nascer.   Quando o sol despontou, José, falou ao ouvido do Johnny, queres casar comigo. Este levou um susto pela seriedade do José.   Me darias um grande prazer na vida, não consigo imagina-la sem ti.
Antes fales com teus pais, se concordarem, te respondo. 
Que tem meus pais a ver com isso, não vou casar com eles.  É por causa do meu problema?
Que problema estas falando, fico preocupado que não queira isso para ti, sei o quanto eres importante para eles.
Eles já sabem, tanto que minha mãe, mandou o anel de família para ser ampliado para ti.
Então quero, muito, apesar do pouco que nos conhecemos, não consigo pensar em viver longe de ti.   Nunca vivi com ninguém, nos damos bem, que mais posso pedir.
Contaram aos outros, Corvo ficou olhando serio os dois, vocês tem muita coragem, fico com inveja.  Quem sabe um dia eu também encontre o que eu quero.
Agora todos os finais de semana que tinha de folga vinha para surfar, tinha feito amizade com a turma da praia, além do Arad.   Os mais jovens vinham pedir conselho a ele, sobre muitas coisas, drogas, namoradas.   Nisso ele era ótimo.
Passaram cinco anos, Johnny tinha acabado o programa que fazia sucesso, mas por um lado ele não se sentia satisfeito, gostava disso, mas lhe faltava algo.  Conversando com Arad, esse comentou o mesmo, pensei que me sentiria mais realizado, mas sabe do que sinto falta, daquilo que fizemos com os laptops para a garotada, gosto disso de construir, de  juntar coisas, criar isso sim me deixaria contente.
Johnny disse que nunca tinha visto um lugar para estragar tanto material, a maioria dos que ali trabalhavam, ao menor problema pediam um novo, pois reclamava que o seu dava problemas, entendiam de tudo, menos da própria máquina.
O famoso deposito estava sempre cheio.   Eles tinham conseguido um lugar na oficina do José, na parte de cima, continuavam montando laptops com os que não serviam mais, primeiro arrumaram mais para o lugar do Corvo.   Depois eram os garotos da praia que lhes trazia o que tinham, para arrumar.
Ficaram pensando nisso, pois chegou um momento, que  não davam abasto, além do trabalho, na empresa queriam dar um cargo ao Johnny, para desenvolver um novo programa, quando olhou a proposta, lhe resultou totalmente desinteressante.  Declinou, falou com o José, este riu, já esperava isso a algum tempo, quando ficas quieto pensando, alguma coisa não vai bem, pensei que era entre a gente até que entendi que não, estamos bem.
Sim, imagina que se eu não te tivesse como ia ser, minha cabeça ia explodir, mas sempre posso contar contigo.
Tempos depois, estavam trabalhando na parte de cima, quando escutou um baque, pensou que alguma coisa tinha caído, chamou o José, não escutou resposta, desceu com o Arad.   Ele estava caído no chão.  Chamaram a ambulância, ficou uma semana no hospital, não houve jeito de o tirarem de lá.  Arad lhe levava roupa, tomava banho lá mesmo.
Quando Corvo trouxe seus pais, conversaram com o médico, ele foi claro, é o começo do declive, podemos lhe assistir, agora ele pode durar um tempo indefinido, como pode ser de um momento a outro.   As coisas foram complicando, depois que Maria morreu, piorou, a um ponto de estar de cadeira de rodas, mas seguiam dormindo juntos, ele pedia ao Johnny faça sexo comigo por favor, prefiro morrer a não te sentir em mim.
Havia um carinho imenso entre os dois. Corvo arrumou um emprego num organismo quase idêntico, era o apoio dele, bem como Arad.
Durou pelo menos mais um ano e meio, morreu dormindo nos braços do Johnny.  No seu testamento deixava tudo para ele.  O que  queria era que suas cinzas fosse levada pelos surfistas, lançadas depois das ondas, para que elas viessem surfando até a praia.   Assim fizeram, foi um ritual maravilhoso.   José pai, foi morar com uma irmã sua em San Diego.
Assistiu da praia a cerimonia do filho.  Deu um abraço apertado no Johnny, obrigado por cuidar do meu filho até o final.  Eu não estava só, tinha o Corvo, Arad é os amigos.
Corvo o pegou uma madrugada andando pela praia, ficou andando com ele em silencio, até que se sentou, começou finalmente a chorar, contou como o tinha conhecido, num mal momento de sua vida.  Nunca mais tinham se separado, eu sabia do seu problema, mas imaginei que isso seria daqui uns dez anos ou mais.   Mas me arrancaram o amor de minha vida.
O trabalho para ele era um desafogo, agora consertava inventava em cima do que a empresa que trabalhava antes precisava.   Foi com Arad a Corea, aonde estavam os grandes fornecedores de material, depois ainda a alguns fabricantes na china do qual já compraram, passou a desenvolver um tipo de Laptop, que os que trabalhassem em informática, tivessem o maior potencial possível para seu trabalho.  Depois o mesmo fizeram para quem trabalhava em desenho gráfico, ficaram conhecidos por isso, por desenvolverem laptops especiais para quem lhes encomendassem.
Agora os dois trabalhavam, usando a parte da oficina embaixo.  Corvo chegava cedo todo dia, para tomar uma cerveja com eles, ajudar na cozinha.
Arad arrumou uma namorada que trabalhava com desenho gráfico, estava morando com ela, sem compromisso.  Agora só sobravam ele, mais o Corvo para irem fazer surf.
Um dia preocupado, perguntou a ele, pois nunca o via falando de nenhuma namorada, se não sentia falta de estar com alguém.
Como é isso, eu estou com alguém, justamente já fazia muito mais de ano que José tinha morrido.
Que queres dizer com isso?
Que estou esperando por ti, ainda não percebeste que estou apaixonado por ti, desde o dia que apareceste com o José.   Hoje é pior pois não quero viver longe de ti.
Ah, meu amigo, colocou a mão em cima da sua, achas de poderia dar certo uma coisa entre a gente.  Deves estar farto de me escutar dizer o que sinto falta dele, nunca mais fiz sexo com nenhum outro homem.
Quem sabe um dia desses chegamos a um ponto.
Lembra quando você me contou como se tinham conhecido, a noite que dormiram no deserto, a gente acostumava fazer isso na nossa adolescência.  Ficávamos os dois olhando o céu, as estrelas,  falando dos nossos sonhos, o dele era ser amado.  Os meus de vingança, contra os que tinham me expulsado da tribo.
Mas anos depois descobri a verdade de tudo isso, foi doloroso, mas superei tudo, afinal tinha uma família, nele, em José, Maria, não precisava de mais nada.
Eu adoraria ir de novo fazer isso, planejamos tantas vezes, mas nunca conseguimos ir. Fazíamos  si aqui na praia, nos dias muito quentes, levávamos uma manta, dormíamos olhando o céu.
Eu sei, ficava com uma certa inveja disso.
Estou cansado, podemos tirar uma semana, ir até o deserto perto de Santa Fé, acampamos, o que achas.
Seria fantástico.  Ele tinha tudo a tenda, sacos de dormir.  Planejaram, ainda convidaram o Arad, mas sua namorada, disse que nem pensar, tinha medo de que algum bicho a atacasse.
Lá foram os dois, no primeiro dia estavam inibidos, ficaram conversando.  Corvo contou que suas aventuras nunca tinham passado de uma noite, as pessoas se assustam comigo, pelo meu tamanho, ficam imaginando coisas, quando me veem nu totalmente devem se decepcionar, pois tenho um membro normal, nada demais.  Ai quem não se sente bem sou eu.
Na segunda noite, tinham bebido, isso os relaxou, estavam sentados recostados num tronco ao lado de uma fogueira, conversando Corvo contando as reminiscências de sua juventude com o José.  Todo mundo pensava que eles tinham sexo, mas creio que nunca nos passou pela cabeça.
Quando se viraram para algum comentário, estavam cara a cara, saiu o primeiro beijo, primeiro terno, depois com mais ânsia, quando se deram conta, estavam fazendo sexo.  Nem tinha se tocado do que ele falava, realmente ele deitado em cima do Corvo parecia que estava no mar.
Era uma coisa diferente do que tinha com José,  ficaram rindo quando acabaram, ele deve estar olhando a gente lá de cima, rindo.
Sabe que ele sabia que eu gostava de você?
Como um dia, estávamos a volta da cama dele, saíste para ir a farmácia, ele daquele jeito direto, me viu te acompanhar com o olhar quando saias do quarto, me olhou nos olhos, me disse meu, irmão, amas o Johnny?
Nunca escondi nada para ele, lhe contei que sim, desde o primeiro dia.
Então me promete que vais cuidar dele para mim.
Eu ri, mais fácil ele cuidar de mim.
Passaram a viver os dois juntos, iam a todos os lugares juntos, tiveram foi que mudar de cama, pois esta era pequena para ele.   Johnny sempre de gozação dizia que quando estava em cima dele, sentia como se estivesse no mar.
Sabes que aprendi a fazer surf, porque queria estar perto de ti no mar.  Era verdade, ele sempre estava no meio dos dois.  Agora percebo coisas que não percebia, era tudo tão natural que não me toquei.
Eu jamais iria interferir entre vocês, cheguei a sonhar de estar fazendo sexo com os dois, mas claro isso era como profanar nossa amizade,  me afastava.
Arad estava nervoso, lhe perguntou porque, a namorada o estava pressionando para se casar, ele não queria uma família, filhos, nada disso.
Teriam que fazer outra viagem, foram os três, depois ele esticou com o Corvo até o Hawái, foi divertido, pois todos pensavam que era um deles.  Se divertiram muito fazendo surf.
As noites era boa demais, Corvo era muito apaixonado fazendo sexo, queria que ele tivesse o maior prazer possível, era como se procurasse superar o José.  Quando lhe disse isso, riu, sei que não poderia.   O que quero mesmo é sentir que você fique louco, é como eu entrasse em transe contigo.  Então estou sempre procurando uma coisa nova em ti, para te satisfazer.
Mas o que eles tinham era completo.   Eu adoraria me casar contigo, mas isso terei que esperar que você me peça.
Um dia ele voltava da oficina, tinha como sempre os surfista ao lado do Corvo, conversando, se confessando como ele dizia.  Mas tinha um em especial com cara de adoração, sentiu uma coisa que nunca tinha sentido, ciúmes.
Quando comentou com Corvo isso, ah, ele já se abriu comigo, lhe disse que era impossível, pois sou de uma pessoa só, que não posso pensar em viver sem ti.
Mas já está conformado.  Um dia viu o rapaz conversando com o Arad, achou graça. Este depois comentou que esse rapaz tinham um laptop que tinham feito.  A cabeça do Arad, estava diferente, disse um dia durante o trabalho, levantou a cabeça, sabe que vou fazer?
Não, vais voltar com a tua namorada?
Nem pensar, me sinto prisioneiro com ela.  Depois o sexo já nunca funcionou direito, me sentia incompleto não sei por quê.   Talvez porque via primeiro você com o José, agora com o Corvo como se comportam.  Vou experimentar fazer sexo com uma pessoa que me interessa.
No outro dia estava rindo.  Foi demais, nunca pensei que seria possível.
Quem foi?
Aquele rapaz que pensou que estava apaixonado pelo Corvo, disse que sentiu o mesmo que eu, vendo vocês dois juntos, ele queria uma coisa assim.  Tampouco como eu, tem muita experiencia, vamos seguir nos encontrando.
Realmente um ano depois estavam vivendo numa casa quase ao lado da deles.   Mas anos depois adotaram um casal de crianças abandonadas.   Quando lhe comento isso, sempre dizias que não querias filhos.
Não sei te explicar, mas me sinto completo com ele, adora crianças, sempre quis ser pai, então por que não.
Corvo na verdade tinha muitos filhos adotivos, adorava trazer a garotada de aonde trabalhava para aprenderem surf.
Tempos depois souberam da morte do José em San Diego, foram os dois ao enterro.  Na volta dormiram outra vez numa área muito deserta, entraram com o carro, jogaram mantas no chão, ficaram ali conversando.  Johnny tirou um anel que o tinha visto provar, o pediu em casamento.
Ele quase jogou o Johnny no ar, como uma criança.   Sonhei tanto com isso, mas vamos fazer uma coisa discreta ok.  é entre nós dois. Usaremos o mesmo anel, se perguntam respondemos.
Agora estavam mais soltos que nunca, Corvo não escondia que eram um casal, alias peculiar, pelo seu tamanho, Johnny mal chegava ao seu ombro.  As vezes faziam sexo no mar, experimentaram uma vez o Corvo ficar boiando, ele o usando como uma prancha de surf sentado em cima do seu sexo, depois saíram da praia as gargalhadas.
Já posso contar a garotada, que virei uma prancha de surf.  Mas quando chegaram em casa, agora quero ser tua prancha de surf, mas contigo dentro de mim.
Assim era a relação deles.