OLHO POR OLHO
Nada como passar desapercebido, há dias que se colocava naquela esquina, observando, como o objetivo que tinha em mente, entrava, saia de sua casa, despreocupado. Com umas roupas, que antigamente não poderia adquirir.
Mas tudo isso ia acabar, minha vingança chegara pronto. Quem o visse pensaria que era mais um pedinte, uma pessoa que vivia nas ruas da cidade. Afinal San Francisco não era diferente das demais cidades.
O filho da puta, tinha escolhido bem a casa, porque justo na esquina, nas duas lojas existiam vigilância através de vídeo. Teria que tomar muito cuidado. Mas também sabia que depois da loja que formava a esquina, existia um beco que percorria todo o quarteirão pelo fundos das casas. Já tinha verificado.
Tinha examinado cada uma, para ver se não tinham vigilância externa, pois não queria mandar tudo a merda. Sua vantagem é que ninguém sabia que tinha sido colocado em liberdade, tinham descoberto um erro no processo ao revisa-lo o advogado conseguiu anular seu juízo. Posto que somente ele tinha sido julgado, faltavam os outros três sócios da firma. Estes tinham desaparecido. Ele tinha cumprido já cinco anos de prisão. Portanto tinha cumprido metade da sentença, além de bom comportamento.
Os outros sócios da firma, eram três dos seus melhores amigos, ou isso achava ele, se conheciam desde a infância, tinham estudado juntos até a Universidade. Quando se formaram, ele assumiu a empresa do pai, em seguida contratou seus amigos, em quem confiava cegamente. Foi o único do grupo a se casar, com sua namorada de toda vida. Quando está depois de algum tempo ficou gravida, ficou imensamente feliz, pois adorava crianças. Uma única pessoa tentou avisa-lo que estava acontecendo alguma coisa errada, sua secretária.
Não lhe deu atenção. Eles faziam aplicação de dinheiro para clientes, mas desde a época de seu pai, existiam clientes que remetiam dinheiro as Ilhas Cayman, ou a outros paraísos fiscais. Por vezes, o cofre da empresa ficava abarrotado de dinheiro, não gostava muito disso, mas dava muito dinheiro para a empresa.
Sua mulher tinha tido uma gravidez de alto risco, nos últimos dias esteve simplesmente internada. Todos lhe disseram que não se preocupasse, que ficasse com ela. Passou a chave do cofre imenso que existia em sua sala, para o que considerava seu melhor amigo, John Dawye. Iriam receber uma quantidade imensa de dinheiro, teriam que tomar cuidado para que a polícia não descobrisse.
Foi falando com eles através do celular, inclusive mandaram flores para sua mulher Amanda, que pediu em seguida que retirassem aquilo do quarto, não sabiam que ela odiava flores?
Dois dias depois de agonia, perdeu a criança, ficou muito mal. Tornaram a lhe mandar flores, chamou seu amigo, para que não fizessem isso, mas o celular dava ocupado todo o tempo.
Justo quando saia para um café, com seu sogro, chegou a polícia, na hora não entendeu nada, imaginando um engano, chamou imediatamente seu advogado.
Quando este o visitou na cadeia, só tinha más notícias. Que a empresa estava quebrada, tinha ido até lá, era um escritório fantasma, inclusive os empregados tinham sido despedidos, sem receber nada, estavam entrando com processo em cima dele, que era o proprietário. Não sobra nada do escritório, desapareceu tudo, os computadores foram levados pela polícia, teu cofre está limpo, nem um grão de pó.
Os empresários que confiaram em ti, entraram na justiça. A coisa não será boa, creio que o mais urgente é encontrar teus amigos.
A polícia fez de tudo, acreditava que tinham outras identidades, pois não encontraram saídas em aeroportos, estação de trem, ônibus, autovias, nada.
Ficou em estado de choque dias, não conseguia entender o que podia ter acontecido, confiava nos três cegamente. Foi quando se lembrou de sua secretária, que lhe tinha avisado que alguma coisa estranha acontecia.
Mandou o advogado falar com ela. Mas já era tarde. A acusação a tinha chamado como testemunha. Já não podia falar com o advogado. Esse mesmo assim, por baixo dos panos, falou com seu marido. Como quem não quer nada, este comentou, que ela tinha avisado ao Greg, mas que ele não tinha acreditado nela, sim chamado sua atenção. Claro, para ela, ele sabia de tudo.
Antes mesmo de ir a juízo, apareceu o advogado de seu sogro, com o pedido de divórcio de sua mulher. Perdeu a cabeça totalmente, confiava nela, se conheciam de toda a vida, como era possível isso. Não quis assinar, mas seu advogado lhe disse que não havia meio de aceitarem. Acreditavam sinceramente que ele era culpado, seu sogro mesmo tinha perdido milhões com o que tinha acontecido.
Antes do julgamento, ficou finalmente sabendo de que lhe acusavam. Porque os que mandavam dinheiro para fora, não estavam na causa, mas sim os inversores normais. Seus amigos, tinham investido nos últimos meses, o dinheiro alheio, em proveito próprio. Desviado dinheiro de todos os inversores, para contas que eles geriam com outros nomes. Tudo tinha desaparecido, inclusive documentos.
Não houve apelação. Durante o julgamento, estava completamente aturdido, sequer seu pai o tinha visitado na prisão. Entendeu que tampouco este acreditava nele.
Sua ex-mulher, a secretária, muitos funcionários, acreditavam que ele sabia de tudo, que inclusive estava metido na história. Acreditava que à cada testemunha ficava de boca aberta, escutando as acusações. Inclusive sua ex-mulher o acusou de ingênuo, pois acreditava mais nos amigos, que na família.
Foi condenado a 15 anos de prisão. Tudo que pensava era, sairei quando for velho demais para qualquer coisa. Nos dias que tinha passado em prisão antes do julgamento, tinha estado numa cela sozinho, agora iria para uma prisão estadual, um dos guardas inclusive fez uma brincadeira de mau gosto, dizendo bonito como era, filho de papai, acabaria sendo mulherzinha de algum traficante.
No último dia, apelou ao seu advogado, horrorizado com o que lhe podia acontecer.
Já falei com o diretor da prisão, guarde bem esse nome Fred Coste, é amigo meu, faça tudo como ele mandar. Verás que será o melhor para ti.
Sair algemado da prisão, sendo fotografado, filmado pelos jornais, cadeias de televisão, era o final de uma grande humilhação.
Quando chegou a prisão, depois de vestir o uniforme da mesma, foi levado a presença do diretor, Fred Coste. Este lhe disse diretamente, vou atender o pedido do meu amigo, mas o resto é contigo. Não se assuste com a pessoa com quem vais dividir cela, é uma excelente pessoa.
Primeiro pensou que ele estava de gozação, porque quando viu seu companheiro de cela se assustou, cabelos grandes, cheio de tatuagens, muito mais forte do que ele, uma cara de mau de filmes “B”. Suas pernas chegaram a tremer, de imediato não quis entrar na cela.
Ficou encolhido num canto. Quando o outro falou, foi para se apresentar Jesus Quintero, não se preocupe o diretor me falou de ti.
Nessa noite dormiu encostado na parede temendo o pior. No dia seguinte ao saírem para o pátio, o outro lhe avisou, não saia do meu lado. Num primeiro momento, o sol o ofuscou, quando viu o grupo que estava ali, aí realmente se assustou. Era como ser um franguinho, no meio de um galinheiro cheio de galos. Jesus lhe chamou para seu lado, não se assuste, colocou o braço sobre seu ombro, passeando com ele pelo recinto, como dizendo, este é meu.
Não sabia nem o que pensar, Jesus lhe orientou, o que devia escolher de trabalho, venha comigo a oficina, assim ganharas musculo, quando saímos ao pátio, faça exercícios como eu, precisas de músculos para se defender. Depois te ensinarei alguns truques. Atendendo o que tinha falado o diretor, concordou com tudo. Na hora de comer, teve que aguentar as brincadeiras de mau gosto, todos diziam que agora Jesus tinha uma senhorita, para seus prazeres sexuais.
Num dado momento que se aproximou um tipo imenso, cheio de tatuagens, piercing com o macacão do uniforme enrolado até a cintura, com uma camiseta mostrando todos seus músculos, foi dizendo a Jesus, que queria fazer uma troca, estava cansado de sua senhorita, podiam fazer negócios. Jesus colocou a sua mão imensa, cheia de calos, em cima da sua. Nada disso, agora é meu, nem se atreva, não se esqueça quem sou eu.
O outros disse algum palavrão, se foi.
Não conseguia nem engolir, Jesus sussurrou, respire fundo, coma tudo o que possa, pois vais necessitar. Depois na oficina, viu que o mesmo sujeito do outro lado da mesma, com um grupo idêntico a ele, o olhava.
Jesus tinha seu grupo também, todos eram mexicanos, hondurenhos, cubanos, o respeitavam como seu chefe. Venha, vou lhe ensinar a consertar uma moto. Se deu conta desde o início que ele nem sabia o que eram as ferramentas, foi lhe ensinando com paciência, disse algumas vezes te farei um gesto como carinho, aceite como uma coisa normal.
Com muita paciência, foi lhe ensinando tudo. Como era inteligente, logo sabia o nome de cada coisa que ele lhe pedia, depois aprendeu o que era cada peça da moto, tempos depois passou para os carros. Normalmente eram carros da polícia ou de algum guarda da prisão. Em pouco tempo era um exímio mecânico. Jesus lhe dizia, garoto parece que nasceste para isso.
Tinha contado a Jesus tudo o que lhe tinha acontecido, não posso aceitar que meus melhores amigos tenham feito isso comigo. Seu advogado vinha visita-lo todos os meses, mas sem novidades, não se sabia nada dos outros.
Jesus, também lhe contou por que estava ali. Tinha matado dois homens de seu grupo por terem lhe entregado a polícia. Antes que essa conseguisse colocar a mão em cima dele, os matei com minhas próprias mãos. Depois me arrependi, porque descobri que tínhamos alguém da polícia infiltrados no nosso grupo. Tudo que tive tempo de fazer foi esconder um botim, num lugar secreto meu. Dinheiro, minha querida moto, que amei mais que nenhuma mulher. O dia que sair daqui, me irei para o México, com tudo isso, darei uma boa vida a minha família.
Entre eles se criou uma grande camaradagem, Jesus estava sempre de olho lhe protegendo. Contou que no dia que tinha entrado em prisão, abusaram dele quando tomava banho, que ele tivesse cuidado, por que algumas vezes, não iam ao mesmo tempo. Um dia que Jesus, foi chamado pelo diretor, ele estava no banho com alguns que não conhecia, quando entrou o grupo do sujeito imenso. O seguraram enquanto o homem abusava dele. Se ria dizendo que Jesus, devia ter um membro muito fino, porque o garoto era estreito.
Foi parar na enfermaria, Jesus quando foi vê-lo, lhe disse que não falasse nada, pois era pior. Deixa comigo. Vinha visita-lo todos os dias, pois se dava bem com todos os funcionários do presidio. De noite tinha pesadelos com o que tinha acontecido.
Quando voltou a cela, Jesus lhe disse, tudo tem seu tempo e sua hora, a vingança apresada, quente, não vale a pena, melhor a vingança de cabeça fria, bem planejada.
O homem agora, estava sempre falando o mesmo que o membro do Jesus era muito fino, que ele tinha sido obrigado a alargar o cu do garoto.
Um dia ficaram até mais tarde trabalhando na oficina. Jesus com os seus, lhe disse, será amanhã, mostrou aonde estavam trabalhando os outros, tinham visto que o homem grande estava embaixo de um carro pesado, veja a poleia, esta gasta, basta um corte certo, se soltara em cima. Se dirigiu a um dos homens lhe dizendo, tens aquele cortador. Este tirou de seu esconderijo, uma barra de ferro transformada em uma faca potente. Deixou a poleia meia cortada. Veras o que faremos amanhã. Quando o homem depois de fazer a mesma piada se colocou embaixo do carro, dizendo a um deles, que puxasse para cima, mais pois aparentemente o carro estava mais baixo. Para isso o homem tinham que subir quase tudo, justo chegou na parte já cortada, está se rompeu, o carro caiu em cima do homem com todo seu peso. Foi necessário trazer uma grua de outra oficina para retirarem. Mas já era tarde, estava morto.
O dia que saíres daqui, faça o mesmo, planeje bem o que vai fazer, procure esses falsos amigos, faça sua vingança.
Tinha por Jesus, um respeito imenso, estava ao seu lado para tudo, agora nunca deixava que fosse tomar banho sozinho, pois sabiam que o outro grupo podia tentar se vingar. Um dos seus homens um dia soltou, que não sabia como Jesus aguentava dormir com ele, com aquela bunda preciosa.
Quando perguntou a Jesus, o que queria dizer?
Este lhe explicou, todos pensam que faço sexo contigo, que tens uma bunda de fazer inveja, todos gostariam de fazer sexo contigo.
Tu também?
Sim, mas me aguento, te respeito, acho que sexo tem que ser consentido, recíproco.
Se sentia solitário, quando não estava na oficina, estava lendo, procurando em algum livro de advocacia, alguma coisa que pudesse lhe ajudar.
Era de noite, estava comentando com Jesus, se para ele não havia possibilidade?
Talvez, mas seria muito difícil, matei sabendo o que fazia, embora depois tenha entendido que foram enganados pela polícia. Nessa noite escutou Jesus chorando.
Que passa Jesus, estou como tu, me sentindo sozinho. Creio que nunca mais poderei ver minha família. Estava sonhando que estava no México, que faziam uma festa em minha homenagem. Se levantou, se deitou ao lado dele, se abraçaram, o calor de um a outro foi reconfortante. Um aliviou o outro sexualmente. A partir de então, quando se sentia só, deitava com Jesus.
Este um dia soltou que o amava verdadeiramente, tanto que um dia te contarei tudo que tenho escondido, pois se consegues sair antes de mim, poderás usufruir de tudo.
Tinha encontrado estudando uma maneira de resolver seu problema, ao mesmo tempo queria ajudar a Jesus. Pediu para ver seu advogado.
Este primeiro lhe deu uma má notícia, seu pai tinha falecido, no testamento tinha deixado tudo para obras de caridade, a única coisa que ele não pode tocar, foi a herança que tua mãe deixou para ti. É muito dinheiro. Inclusive a casa familiar, é tua.
Bom, venda a casa familiar, queria que cuidasses do processo de Jesus Quinteiro, meu companheiro de cela, tem cuidado de mim desde que estou aqui. A segunda coisa, lhe passou uma serie de cópias, veja, no meu processo, nada disso foi levado em conta, Por exemplo, não estava presente quando aconteceu. Sou culpado sim do que fazia antes, mas do momento que estava no hospital com minha esposa, não, pois não estava presente. O dinheiro, roubaram eles, não eu. Teriam que ter sido julgados a revelia, mesmo que a polícia não soubesse aonde se encontram.
Vejo que te dedicaste a estudar. Vou tentar usar isso, para ver se consigo anular teu julgamento, ou pelo menos que tenhas menos anos de prisão. Nessa noite comentou com Jesus, o que tinha pedido ao advogado. Gostaria de sair daqui contigo, viajar nessa moto tua, já sonhei inclusive, como descreves tanto as paisagens, os dois fazendo a viagem juntos.
Venha ficar comigo, meu garoto.
Agora todos sabiam que entre os dois, havia algo, pelos gestos de um ou de outro. Mas respeitavam o seu chefe. Nunca tinha subido numa moto, Jesus na oficina, lhe ensinou como era. Embora o espaço fosse reduzido, conseguia se equilibrar.
Agora eram só eles na oficina.
O advogado, veio outra vez, primeiro falou com Jesus, poderia usar para reabrir o caso, o fato de ter havido uma manobra da Polícia infiltrada, uma chantagem em cima dos dois assassinados, para traírem seu chefe. Tinha descoberto que o mesmo agora era quem levava a banda. Tinha passado para o outro lado. Isso seria uma argumento importante. Pediria para reabrir o processo.
Quanto ao seu, lhe disse que já estava nas mãos dos juízes.
Quando muito teria que acabar os cinco anos de prisão. Quando ele reclamou, mas já estou aqui a quase seis.
Dias depois, tentaram matar Jesus, claro ordens do policial, que agora era chefe do bando. Passou dias e dias com ele na enfermaria, segurando sua mão. Ele aproveitou para lhe detalhar como devia ir até seu esconderijo, buscar a chave, aonde estava a moto. O local é meu, poderás usar tudo que está lá, dinheiro, aonde estava escondido.
Não Jesus, faremos isso juntos, segurava sua mão.
Jesus pediu para falar com o diretor da prisão, queria pedir um favor, pois tinha feitos muitos a esse. Que se ele morresse, fosse incinerado, as cinzas entregues ao Greg, que saberia o que fazer.
Pediu a ele, que caso isso acontecesse, levasse suas cinzas até sua vila no México, a entregasse ao Xamã, ele saberia o que fazer.
Dois dias depois piorou, Greg inclusive, conseguiu passar a noite ali com ele.
Jesus pediu que ele deitasse ao seu lado, para sentir pela última vez o calor de seu corpo. Ao ouvido lhe disse que tinha chegado a lhe amar. Seja feliz, que tua vingança seja fria. Não se esqueça de nada que te disse, ame minha moto como se fosse comigo.
Morreu nessa noite. Greg, não conseguiu chorar, ao mesmo tempo, analisou sua perda, que tinha sido pior que perder tudo o que tinha antes. Esse tinha sido um verdadeiro amigo até o final. Se saísse, cumpriria o que tinha prometido.
Ficou sozinho na cela, um tempo, justo no dia que lhe iam dar um novo companheiro, saiu o resultado de sua revisão. Estava livre.
Na hora de sair, lhe devolveram suas roupas, mas ficavam pequenas. Estava mais musculoso. Espera, temos a de Jesus aqui, vestiu as mesmas, conseguia sentir seu cheiro. Lhe entregaram a urna com suas cinzas.
Seu mesmo, tudo que recolheu, foi uma carteira, um chaveiro, que nem sabia hoje em dia para o que servia.
Ao sair, fazia um calor tremendo, um sol de rachar, parou do lado de fora, olhou para a direita, para a esquerda, mas quando olhou para o outro lado da rua, lá estava seu advogado. Ao seu lado, havia um outro homem.
Este disse que era um irmão de Jesus. Queria as cinzas.
Sinto muito, mas prometi eu mesmo levar aos pais dele.
Mas estão mortos.
Então devo entregar a outra pessoa que ele pediu.
O homem não gostou, mas como do lado de fora apareceram policiais da prisão, se mandou.
Este homem apareceu do nada aqui, creio que na verdade é da banda que o Jesus pertencia.
Não se preocupe. Preciso de um hotel barato para ficar, aonde passe desapercebido.
Bom, quando queiras, deves tomar posse da herança de tua mãe.
Ele já tinha resolvido, entrar na clandestinidade. No momento tenho que atender o que Jesus me pediu.
Inicialmente ficou perturbado com a cidade, mas olhando pelo retrovisor, viu que estavam sendo seguidos. Quando o advogado o deixou num hotel, no meio da cidade velha, tudo que disse foi, já te procuro.
Entrou pela porta da frente, saiu pela porta dos fundos. Desapareceu, era um a mais na cidade. Levou um tempo para entender aonde estava o esconderijo de Jesus.
Já nos subúrbios da cidade, procurou uma livraria, comprou um mapa, procurou a rua de referência. Tomou um ônibus, indicado pela garota da livraria, desceu antes, para saber se não estava sendo seguido. Seguiu todas a indicações. Era um lugar com vários armazéns bem degradados, mas que ainda funcionavam, como oficina de carros, de motos, bicicletas, se lembrou do detalhe do cartaz da mulher sorrindo, oferecendo um chiclete. Já velho, descolorido, passou por diante, de soslaio, olhou o beco. Estava cheio de caixas, lixo, montes de coisas.
Passou como se nada, andou até dois quarteirões mais adiante, viu que no meio do primeiro existia um hotel de quinta categoria, os chamados de “mala muerte” pelos chicanos. Se hospedou, pediu um quarto na frente, pois viu que não tinha um beco detrás. O quarto era pior que sua cela, mas tinha banheiro. Tomou um banho, se jogou na cama, contou o dinheiro que o advogado lhe tinha entregado.
Pela primeira vez pensou em seu pai. Nunca o tinha ido visitar na prisão, antes do julgamento, tampouco depois. Não lhe dirigiu um olhar a não ser quando saiu o veredicto, um olhar de asco, vergonha. Na verdade, seu pai nunca tinha acreditado nele. Não era um pai amoroso, sempre tinha sido cuidado por empregados. Seus amigos tinham se transformado em sua família, embora ele fosse o único com pai rico.
A primeira e última vez que os convidou para ir a sua casa, foi um vexame, ficaram boquiabertos com tudo. Seu pai estava na biblioteca, imediatamente saiu, os colocou para fora de casa, dizendo que ele não devia se misturar com esse tipo de gente.
Demorou para entender isso. Mas adorava estar na casa de seus amigos, quando era convidado para comer, pois eram família. Seu pai pagava sua universidade, eles ao contrário, tiveram que conseguir bolsas, como esportistas. Ele ajudava seus amigos a estudarem, a entenderem as classes. Todos três o chamavam de sabichão.
Mas nunca tinha esperado essa vingança, por ter dinheiro. Por ser rico, era a conclusão que tinha chegado. Tinham feito isso como vingança. Mas não entendia por que, se ele compartia tudo com eles.
Quando chegou à noite, amarou um lenço que estava atrás do bolso da calça, que era negro também, escondendo seus cabelos loiros.
Foi caminhando lentamente, passou da rua, já não se via movimento algum por ali, levava uma lanterna que tinha comprado na livraria. Na terceira vez, depois de prestar atenção se não havia nenhum controle de vídeo por ali. Entrou no beco, o cheiro era insuportável, muito lixo. Mas chegou à porta que Jesus tinha comentado.
Procurou o ladrilho solto que ele tinha falado, o retirou, encontrou as chaves da porta. Uma era de um cadeado, a outra para abrir. Esperava que a porta rangesse, mas nada, tinha depois verificou, uma camada imensa de graxa, que não deixava que fizesse ruído. A graxa, o fez recordar, que quando o homem grande abusou dele, tinha usado isso para penetra-lo. Menos mal que morreu, senão teria que mata-lo.
Se lembrou do seu amigo Jesus, chorado, segurando sua mão na enfermaria, lhe pedindo perdão por tê-lo deixado desprotegido.
Entrou, fechou a porta atrás de si, acendeu a lanterna, viu um movimento, mas era um rato que passava correndo, pois na verdade ele tinha invadido seu espaço. Tudo era como o Jesus tinha detalhado. A moto estava coberta por uma lona, a retirou, alisando seu assento de couro. Imaginando seu amigo ali. Tinha sonhado, em ir agarrado a ele, pelas estradas, como ele descrevia a paisagem. Já iremos amigo, já iremos.
Com muita cautela, verificou tudo como ele tinha tido, havia muito dinheiro numa bolsa negra de couro. Uma parede, com todas as ferramentas, como a que usavam no presidio. Bancadas para arrumar motores, enfim, era como estar vendo realmente o que ele descrevia.
Finalmente chorou a perda do amigo. Na parte detrás, um pequeno quarto, com uma cama, estava cheirando mal, mas também tanto tempo fechado. Notou que em cima desta havia uma janela, abriu para que o ar da noite limpasse o ambiente. Um pequeno banheiro sem paredes, com um chuveiro. Abriu, a água primeiro saiu como ferrugem. Se lembrou como ele tinha dito para fazer, para ter luz. Usava um gato, para ligar a eletricidade na oficina que estava junto. Fez isso, logo podia ver a vontade tudo. Teve vontade de dançar no meio do espaço. Agora era seu lugar.
Dormiu ali, sentindo o cheiro dele junto ao seu corpo. Sonhou que conversavam, este avisava que tivesse cuidado, que podia confiar no homem que tinha a oficina de motos.
Se lembrou que tinha lhe dito, para procurar um homem, chamado Carlos Zapata, pergunte por ele na oficina de motos. Diga que vens em meu nome, mas não lhe diga se estou vivo ou morto. Ele poderá descobrir teus carrascos.
Primeiro conseguiu que uns garotos limpassem o beco junto com ele. Isso atraiu atenção do pessoal das oficinas. Disse ao das motos, que tinha alugado o lugar de Jesus Quintero. Que tinha aprendido com ele a tratar as motos.
O homem disse que teria que provar. Lhe deixou uma moto velha que estava por ali, desmontou o motor da mesma, limpou, lubrificou, verificou o que necessitava de mudança, lhe indicaram aonde estavam as peças de reposição, remontou a moto, lavou a mesma com cuidado. Jesus, sempre lhe dizia, tens que amar tua moto, como se fosse parte do teu corpo.
Colocou gasolina no motor, funcionava como uma nova.
Realmente Jesus te ensinou bem. Porque tens cara de moço de boa família, queria saber como tinha acabado na prisão. Deu uma desculpa, dizendo que o queria agora era refazer sua vida. Lhe deu outro nome, usando o sobrenome de sua mãe.
Ficou trabalhando ali, mas dormia no local de Jesus. Revisou sua moto inteira, estava perfeita. Encontrou um capacete, jaqueta de couro, se vestiu, agora saia todas as noites para dar uma volta. Ia o mais longe possível, para falar com seu advogado usando um telefone desses de posto de gasolina. Nunca chamava do mesmo. Ficou sabendo que sua mulher tinha se casado de novo, mas vivia no estrangeiro.
Grande amor sentia por mim, não só tinha deposto contra ele, como pedido divórcio, antes mesmo do julgamento.
Finalmente um dia por um acaso, escutou o chefe da oficina, saudando um homem forte com uma cara cortada a faca. Carlos Zapata. Se aproximou dele, disse que tinha um recado para ele de Jesus Quintero. O homem olhou para ele desconfiado.
Depois de falar com o chefe, o convidou para tomar um café. Tomaram uma coca cola de máquina, um quarteirão mais abaixo. O homem sempre olhava para todos os lados, encostado na parede, como para se proteger.
Eu escutei falar que Jesus Quintero morreu na prisão?
Bom, só posso te dizer, que me disse que podia confiar em ti para um trabalho. Disse que procurava três filhos da puta, que tinham lhe arruinado a vida.
Bom posso procurar para ti, mas vai custar dinheiro.
Não se preocupe, posso te pagar.
Amanhã, compre dois celulares de pré pago, para poder comunicarmos, nos encontramos, disse um bar num outro bairro. Me trazes todas as informações, disse seu preço. Te darei esse valor, por cabeça. Essas pessoas escaparam com ajuda de alguém que conseguiu documentos novos para eles, pois a polícia não os encontrou.
Ou então teriam alguém da polícia ajudando?
Isso eu não sei, mas moveram muito dinheiro.
Disse na oficina que não poderia trabalhar no dia seguinte. Logo cedo montou na moto, foi até um telefone, avisou seu advogado, pediu que retirasse dinheiro de sua conta, a primeira parte do pagamento.
Esse quis saber do que se tratava?
Melhor não saberes de nada. Assim não tem envolvimento com a história.
Me chame dentro de duas horas, já terei o dinheiro, assim combinariam aonde entregar.
Não lhe disse nada, mas estava do outro lado da rua de seu escritório. Ficou observando, quando este saiu em direção ao Banco, para ver se estava sendo seguido.
Não viu nada diferente, mas mesmo assim, acompanhou a volta desde o outro lado da calçada. Nada.
Lhe chamou outra vez, disse que fosse até o café da esquina, que ele já tinha visto que tinha uma saída para um beco. Estacionou a moto, numa posição de retirada, junto com a de alguns empregados. Entrou pela entrada de serviço, ficou sentado de tal maneira perto dessa porta, que qualquer coisa poderia sair. Não que não confiasse no advogado, mas nunca se sabia que poderia acontecer.
Quando este chegou, sentou-se sem malicia nenhuma. Lhe passou o envelope, contou que continuava procurando os outros três. Mas alguém da própria polícia deve estar envolvida, porque nunca tenho resposta.
Não se preocupe, já os encontraremos, deixe de procurar, vou usar outros canais.
O último comentário do outro foi, que ele estava completamente diferente, com esses cabelos compridos, barba por fazer, quase não te reconheci desde a porta.
Se despediu de novo, melhor saíres antes de mim, peça um café para levar, assim se te estiverem vigiando não acontece nada.
Saiu rapidamente pela outra porta, montou sua moto, deu umas quantas voltas para ver se não estava sendo seguido, não era paranoia, mas sim cuidado.
Comprou os dois celulares, na mesma papelaria, já tinha uma certa cordialidade com a garota que o atendia. Ela mesma carregou uma quantidade de dinheiro nos dois, para que funcionassem. Era um modelo novo, diferente do que ele tinha anteriormente, lhe ensinou rapidamente como usar.
Quando se encontrou com Carlos Zapata, comentou, uau, um bom celular. Mas tudo bem, pelo menos posso te mandar fotos, para reconheceres as pessoas.
Passou as fotos para eles, atrás de cada uma o nome da pessoa.
Avisou que estaria fora um tempo, mas assim que voltasse, o encontraria.
Sim porque não vou encontrar esses filhos da puta, como num passe de mágica. De qualquer maneira, me chame antes de viajar. Quem sabe já tenho alguma notícia, do porquê não encontraram nada.
Estudou num mapa que estava na parede da oficina de Jesus, o roteiro até sua vila, mas se deu conta que precisavam de uma nova identidade. Chamou Carlos Zapata, este disse que sem problemas, que trouxesse uma foto recente, o novo nome.
Voltou a se encontrar com ele. Foram até um chinês, este lhe preparou um bilhete de identidade com o nome de Greg Lucanis. Bem como um passaporte. Não comentou com nenhum dos dois aonde ia.
Carlos disse, que um contato seu da polícia, tinha confirmado, que realmente a partir de determinado escalão, o processo de busca parava. Já sei quem é o sujeito, vou examinar seus podres.
Dois dias depois de colocar urna de Jesus, num dos lados da bolsa, uma muda de roupa, se vestiu como devia, todo de negro, com o lenço dele no pescoço, botas, enfim tudo que tinha encontrado ali. Levava dinheiro escondido dentro da urna.
Tinha gravado o mapa na sua memória. Depois que atravessou a fronteira, de uma certa maneira foi mais difícil, em alguns lugares, tinha que se guiar, pelo que Jesus tinha comentado com ele. Mas ao cabo de quatro dias chegou à vila, tinha dormido duas noites, embaixo das estrelas, no deserto. Era tudo como Jesus falava nas noites que estavam juntos.
Realmente seus pais tinham morrido já a algum tempo, mas procurou pelo xamã, era a ele que tinha que entregar a urna. Antes retirou o dinheiro escondido.
Um garoto o levou até o final da vila, lhe indicou um monte, cercado de cactos, ele vive lá em cima. Lhe deu dinheiro, o que abriu um sorriso imenso na cara do garoto.
Subiu até lá. No meio do cercado de cactos, havia uma choça, mas estava tudo limpo.
Um homem com uns cabelos largos, com uma roupa que de branca não tinha nada, lhe disse para entrar, pois o estava esperando. Eres Greg, o amigo de Jesus.
Ele veio contigo não é. Lhe entregou a urna.
O homem se abraçou a ela cantando numa língua que ele não entendia. Depois disse para que o seguisse. Entraram na choça, ali não tinha muita coisa, mas encostada numa parede, uma tampa de um buraco no chão. Venha comigo. Desceu com o homem. Foram dar numa gruta. O cheiro era de ervas aromáticas. Não se preocupe, aqui ninguém vai nos encontrar. Escavei eu mesmo tudo isso.
Tinha duas camas feitas de restos de madeira. Uma mesa com duas cadeiras, um fogão velho de lenha. Acendeu o mesmo, vou fazer café.
Sentaram-se os dois na mesa, o homem pegou suas mãos, para ficarem viradas para cima. Colocou as suas em cima. Fechou os olhos, foi falando tudo que tinha acontecido com ele. Falou de Jesus, ele era meu irmão, não de família, mas éramos amigos desde criança. Eu era o louco da vila, mas me protegia, entendia que eu pertencia aos espíritos. Sempre que vinha, me levava para dar uma volta de moto.
Vejo o que procuras, um está na própria cidade, nunca saiu dali, mas os outros estão em Oregon. Disse com dificuldade o nome, numa cidade perto do mar. Puerto novo.
Ele traduziu para New Port.
Isso, repetiu várias vezes, como querendo confirmar o lugar.
Tomaram café, esta noite terás uma experiencia diferente, foi o que salvou Jesus, da primeira vez.
Mas antes vamos subir tua moto até aqui, para estar protegida. Voltaram para fora da choça outra vez, subiram a moto. Quando a noite fechou, lhe disse é melhor que não comas nada. Lhe preparou uma bebida, misturada com higo chumbo, a fruta dos cactos. Aparentemente era adocicada, mas depois era acida. Em seguida estava dormindo. Sonhou com tudo, inclusive com o que tinha lhe passado no banheiro. Jesus, lhe dizia, não se preocupe, estarei contigo nessa aventura. Meu amigo vai te preparar para tua vingança.
Serás um homem pantera, nunca poderão te encontrar.
Despertou de manhã, com um sabor forte na boca, o homem lhe deu café, para espantar esse sabor. Disse para colocar a moto para dentro da choça, que iriam partir. Caminharam todo o dia. O que estranhou, que a cada tempo, se unia um homem a fila seguindo o xamã. Nenhum dizia nada, não se cumprimentavam, nada.
Paravam de vez em quando, para abrir um cactos, tomar o líquido que saia de dentro.
De noite chegaram a uma ravina. Encontraram com um outro Xamã. Este vestia tão somente um taparabos, uma pele de animal negro. Por detrás da uma pedra, saiam num lugar aberto. O amigo de Jesus, lhe disse, agora, aprenda com eles tudo o que possa, venho te buscar, dentro de dez dias. Não perguntes, não fales, apenas aprenda. Era o único ali, que não era mexicano, tinha a pele queimada do sol, mas nem por isso reclamou, entendeu a mensagem. Jesus em seu sonho tinha falado o mesmo, não perguntes, não fales, apenas aprenda.
Ali, só havia homens, quando a noite fechou, começou o aprendizado, os novos ficavam prestando atenção. Os antigos, bebiam algo que lhes oferecia o Xamã, entravam em transe. Era como se estivessem invisíveis. Chegavam a sentir cheiro de animal no ar. Os homens desapareciam, mais tarde voltavam com presa na boca. Um coelho, cascavéis, outros animais.
O xamã falou umas palavras, todos voltaram ao normal. Assaram o que tinham caçado. Aos mais novos, o xamã, explicou que a bebida, fazia com que os instintos animais predominassem, que não deviam tentar controlar, deixem se levar pelos instintos, isto será vossa sobrevivência.
Quando o dia começava a amanhecer, disse que todos deviam procurar um lugar protegido e dormir. Quase pegado a ele, se colocou um rapaz, que se parecia a Jesus, mas como ele imaginava de jovem.
Dormiu profundamente, relaxado, sentia-se protegido. Pela primeira vez, não despertou a qualquer ruído. Quando se levantou, porque tinha vontade de mijar, viu que os outros faziam o mesmo.
No meio da ravina, um regato lhes foi indicado aos iniciantes, que primeiro deviam se banhar ali. Que entrassem na água, se sentissem como um peixe. Cada um deve capturar um com a mão. Aparentemente não viu nenhum peixe, entendeu então que devia mergulhar. Quanto mais fundo ia, via cardumes de peixes brilhantes. Se concentrou em conseguir um. Conseguiu pegar o mesmo pela cauda. Quando ia subindo para respirar, viu que seu companheiro, o que tinha dormido próximo a ele se afogava, sem largar o peixe, o socorreu. Quando chegou fora, respirou, colocou o peixe em terra, subiu o corpo do outro, lhe fez respiração boca a boca, até que respirasse.
O xamã estava em pé, todos que tentaram ir ajudar, ele fez um sinal que não. O rapaz, finalmente cuspiu água. Respirou, olhando assustado ao Greg. Me salvaste a vida, não falou, mas pensou. Greg de alguma maneira entendeu.
O Xamã lhe deu ordem de respirar profundamente, abaixar para buscar seu peixe.
O jovem obedeceu sem reclamar. Logo subiu com um agarrado aos dentes.
Sentaram-se todos a volta de uma fogueira, assaram o peixe como estava, só depois o limparam. O Xamã passou bebida a todos, disse que os iniciados, deveriam acompanhar, cada um irmão maior. Estes escolheriam seus acompanhantes. Dois escolheram Greg. Mas o de mais idade venceu. Tudo isso era sem dizer uma palavra. Saíram pela noite, nus completamente, numa determinada altura, o homem lhe fez sinal para esfregar terra no corpo. Ele obedeceu. Mostrou que tanto no sexo, como no cu, deveriam passar mais, para não atrair outros animais. Colocou a mão sobre sua cabeça. Sentiu que se transformava num animal, quando olhou para o lado, viu que o homem como ele, era uma pantera negra. Correram pelo deserto, caçando, viu um coelho, mas o outro foi mais rápido. Em sua cabeça dizia, deixa teu instinto funcionar.
Logo conseguiu pegar com a boca, uma serpente, a mordeu na base de sua cabeça, apertou. Voltaram para o lugar de partida. Logo estava de pé outra vez, com a serpente na boca. O Xamã, disse, muito bem, conseguiste a presa mais difícil. Nenhum outro tinha conseguido, a não ser coelhos.
Depois de comerem, se lavaram outra vez, foram dormir. Sonhou que corria como um galgo, todos seus movimentos eram livres. Sempre tinha apreciado esse tipo de cachorro, por saberem caçar, pelo seu porte, elegância.
Teria que aprender a não lutar contra seus instintos. Logo de manhã, comeram umas tortas de milho, feita na fogueira. De novo mergulharam para buscar peixes. Seu companheiro nadava quase ao seu lado. Lhe ensinou como pegar com a boca. Assim fez, nem prestou atenção no tamanho. Quando subiu o Xamã tirou o peixe da boca, lhe dizendo, este é o pai de todos, não devemos come-lo. O atirou na água outra vez, indicando que devia mergulhar, pegar outro.
Depois lhe disse que devia ter atenção no que ia caçar.
Nesse dia, saíram durante o dia para recolher folhas para preparar veneno de curare, de novo lhe tocou, o que descobriu depois que era a mão direita do Xamã, lhe tinham em alto conceito. Distribuiu entre todos um troço de trapo, com o qual deviam tapar o nariz, a boca. Procurem respirar lentamente. Foi ensinando como devia recolher a folha, quais era boas. Depois passaram para outra espécie, mais ao nível do chão, por fim uma de folhas muito pequenas. Voltaram para a ravina. A cada um lhe foi ensinado como devia preparar a mistura, agora colocando realmente como uma mascara para se protegerem. Explicou que a evaporação da substância triturada, podia matar. Isso usado numa zarabatana, ao tocar ou penetrar o corpo humano, provoca uma paralização quase imediata do corpo. Mas se queremos matar, teremos que acrescentar mais estas folhas, que eram as pequenas. Em uso em pequena quantidade, pode provocar um paro cardíaco, ou mesmo a morte. A pessoa se tiver problemas do coração nunca vai se recuperar. Terá uma série de efeitos colaterais.
Era interessante ver esse homem falando, como se fosse um médico.
Bom hoje usaremos o paralisante. Ao contrário dos nossos antepassados, não usamos uma canaleta grande para disparar os setas. Por isso é necessário ter cuidado, para que não toquem a borda do tubo. Também podemos colocar as pequenas setas pela parte dianteira. Mas de novo cuidado, para não confundir. Lhes foi dado um tubo, cada um teria que aprender a soprar para que a seta tivesse velocidade. Explicou que o truque estava em uma respiração profunda, concentração no objetivo.
Quase em seguida Greg entendeu como funcionava. Se lembrou dos exercícios de respiração que Jesus fazia quando saiam ao pátio, tinha lhe ensinado. Se concentrou viu o lugar aonde devia enviar a seta, da segunda vez conseguiu a perfeição.
Ninguém aplaudiu ou elogiou. Cada um estava praticando para ser perfeito. Este tubo é seu. Um pequeno tubo de metal, marque a parte aonde deve colocar a boca, para que saibas, a colocação da seta. Vamos usar os paralisantes, não se preocupem, vamos de caça, podem tomar perfeitamente o líquido, para se transformarem, mas hoje em pequena dose, para não cometer erros.
Foi um sucesso a expedição, agora inclusive conseguia farejar o animal a ser caçado. Lançar o dardo a um animal parado era uma coisa, em movimento, tinha que ter instinto. Aprendeu a lição.
O tempo passou rapidamente, tinha conseguido fabricar os dois tipos de curare, o só para paralisar e outro para provocar uma parada cardíaca ou mesmo matar. Não tinha ideia de como funcionária sua vingança.
O homem voltou para busca-lo, depois de uma conversa com o homem da ravina que sequer sabia o nome, tampouco sabia o nome de seus colegas.
Voltaram todos pelo mesmo caminho, cada um sem se despedir, quando chegava ao ponto que tinha se incorporado, agora se separava do grupo, seguindo seu caminho.
O que fora seu orientador, foi o único que lhe dirigiu palavra. Se necessitas de todos, basta mandar um sinal através de nosso mentor, somos como um exército, podemos agir juntos.
Voltaram a choça, quando viu sua moto, quase a abraçou. Tinha pensado muito em Jesus.
O mentor disse que saíste melhor que Jesus em tudo.
Tinha que partir, mas antes o Xamã, conversou demoradamente com ele. Sei que pensas como Jesus, que a vingança é para ser em frio. Mas lembre-se cada vida que tira, é um peso para ti.
Quando voltou a San Francisco, fez contato com Carlos Zapata, este disse que tinha notícias. Marcaram um encontro.
Os da oficinas de motos, disseram que ele estava diferente, mais concentrado.
No encontro Carlos Zapata, lhe deu a primeira direção. Este nunca saiu de San Francisco, mudou de nome, de casas várias vezes, mas continua aqui.
Vive sozinho, numa casa em posição estratégica, pois em ambos lados da rua, tem vídeo vigilância. Creio mesmo que ele tem dentro de casa um sistema ligado a esses dois sistemas.
Teria que entrar na casa, para ver se ele tem contato com os outros dois.
Deu-lhe a informação, os outros estão em New Port.
Como sabes disso?
Um passarinho me contou.
Bom, começarei a agir, partirei para lá, vou encontra-los.
Eu vou verificar por aqui.
Encontrou umas roupas velhas, num dos sacos de lixo que sempre alguém fazia questão de deixar na frente do beco. Os cabelos estavam compridos, não os lavou mais, tampouco tomou banhos, tinha que ter um cheiro insuportável.
Todos os dias se colocava na esquina, observando os movimentos de John Dawye, suas entradas, saídas, despreocupado da vida, a única coisa que olhava era para os dois aparelhos de vídeo vigilância. Demorou para entender por quê. Chegou a conclusão que fazia isso, para marcar o vídeo. Realmente devia der alguma ligação na casa.
Não podia segui-lo, embora, não fosse muito longe. Um dia contou até dez, atravessou a rua o seguindo pelo outro lado. Tudo que fazia era ir até um telefone de rua, fazer uma ligação, alguma compras. Não falava com ninguém. Era uma vida idiota, creio que sempre esperando algo.
Finalmente decidiu o dia, ia lhe provocar um enfarte. Preparou duas setas de curare, uma iria imobiliza-lo, outra lhe provocaria um enfarte.
Nesse dia levou o pequeno tubo, o viu passar primeiro ao seu lado, fazendo uma cara de nojo. Ainda o escutou pronunciar, “que asco”.
Quando voltou, passou o mais longe possível na calçada. Ele tirou o tubo, tinha em cada bolso uma seta diferente. Primeiro tirou lentamente como se fosse um pedaço de papel para limpar o nariz. Estava o tubo no meio, num movimento relâmpago, colocou a seta, disparou, ele começava a subir os degraus da casa. Parou, como se algo o tivesse picado, ficou um segundo parado, quando recebeu a segunda seta. Quando caiu para frente, houve um alvoroço, algumas pessoas que passavam na rua, principalmente duas mulheres foram lhe acudir, como se fosse ajudar, retirou rapidamente as setas, as mulheres nem lhe perceberam, estava usando a técnica aprendida. Roubou o chaveiro e o celular. Voltou para seu lugar, quando chegou a ambulância. Escutou o que diziam os enfermeiros. Enfarte do miocárdio. Logo escureceu. Levantou-se como sempre fazia, catava suas poucas moedas, as contava, murmurava alguma cosa, atravessava a rua. Em seguida desapareceu no beco.
Foi até os fundos da casa, com agilidade saltou o muro. Olhou dentro do quarto de despejo, se assombrou, duas motos, uma antiga, outra moderna. Que coisa estranha, será que ele saia pelos fundos. Abriu a porta, viu que tinha uma saída sim por ali.
Ou sejam faz uma encenação todos os dias, mas depois escapa.
Entrou na casa pelos fundos, abriu tranquilamente a porta, foi fechando todas as persianas. Para poder andar pela casa com a lanterna. Tudo estava em seu perfeito lugar. Como se fosse uma exposição. Ele na verdade não vive aqui. Mas de qualquer maneira registrou cada canto da casa. No quarto, foi a surpresa, um armário cheio de roupas novas, algumas inclusive sem usar. Olhou no fundo, viu uma placa. Sinal que existia um cofre ali. Passou a mão pelo chão do armário, até descobrir, uma parte que saia. Retirou do fundo uma mochila com muito dinheiro. Abriu o cofre, para sua surpresa, era o pequeno que tinha em sua casa. Como isso estava com ele.
Abriu o mesmo com a chave. Além de documentos, mais dinheiro, número de contas de banco, pelo visto manejados a distância. Junto cartões desses de usar pela aceder as contas pela internet. Foi colocando tudo dentro da mochila. Encontrou uma livreta de direções, não lhe dava tempo para olhar a fundo agora. Jogou dentro da mochila.
Ao não ver nenhum computador, ou sistema de controle dos vídeos, imaginou que deveriam estar embaixo da casa. Como havia uma escada para entrar, o logico era que a casa tivesse uma parte embaixo. Veio pelo corredor, passando as mãos com luvas, pela parede, até encontrar um painel que se movia. O arrastou para o lado, imediatamente acendeu uma luz em uma escada. Desceu com cuidado.
Ali estava dois computadores, acessos, focando a rua. O dono da loja em frente conversando com alguém, apontando a casa. Do outro lado, focalizando também a rua em sua longitude. Porque não tinha nada sobre o beco. Será que imaginava que ninguém entraria por ali. Viu um portátil meio fechado, localizou aonde estava o do beco. Mostrava a saída dele, sempre pelo lado contrário. Retrasou, conseguiu se ver entrando no quarto de despejo. Borrou tudo, apagou essa câmara. Senão seria registrado quando saísse. Examinou tudo. Embaixo de uma manta, encontrou outro portátil, aberto, com todos os movimentos de banco. Desligou o mesmo, subiu colocou dentro da mochila. Mas antes voltou, borrou, a parte em que ele se movia até junto a vítima, não se percebia o que ele fazia, retirando as setas, o chaveiro, os movimentos eram muito rápidos para isso, mas de qualquer maneira borrou.
Subiu, fechou a porta. Levou a mochila para a cozinha. Pensou duas vezes, para assustar, voltou ao armário, dobrou um traje completo, camisa social e gravata, uma calça jeans, camiseta, uns caros sapatos italianos. Tinha sabiam quem ele era.
Saiu, foi até o quarto de despejo, anotou a quilometragem da moto nova, da antiga também. Lastima que talvez ele nunca mais pudesse andar de moto. Riu para seu interior. Colocou tudo nas duas bolsas traseiras da moto velha, tirou sua roupa, vestiu o jeans novo, a camiseta, colocou uma jaqueta de couro que estava pendurada junto a porta, um capacete que devia usar. Abriu a porta com a chave, levou a moto para fora, fechou novamente a porta, sem se preocupar, montou na moto, partiu. Agora sabia que era o que ele fazia. Os vizinhos podiam estranhar, mas sabiam que ele fazia isso todos os dias.
Levou a moto para a oficina, a desmontou toda, procurando qualquer coisa que pudesse vigiar a direção da mesma. Desmontou um gps, incorporado recentemente, olhou qual o caminho usado cotidianamente. Notou que dava voltas, mas acabava sempre no mesmo lugar. Marcou no mapa, sinalizava uma casa na praia. Resolveu ir até lá.
Mas foi usando a sua moto. Chegou, era uma casa moderna, toda de vidro, o que viu o deixou de boca aberta. Sua ex-mulher, com uma criança nos braços. Então era com ele que ela tinha casado. Quem sabe o primeiro filho também era dele.
Ficou um longo tempo observando, vendo como ela se colocava nervosa, marcava um número no celular. Menos mal que ele tinha abaixado o volume do celular dele. Ali estava seu segredo melhor guardado.
Esperou dois dias, inteiro, ali no mesmo lugar de todos os dias. Não podia chamar o hospital, mas escutou uma vizinha falando com o da loja da esquina, que tinha estado no hospital. Que ele não conseguia falar, tinha lhe paralisado o cérebro. Que iam traze-lo para casa com uma pessoa para cuidar. Fez uma coisa, trouxe com ele no ônibus um dos garotos que viviam perto do beco, que tinha ficado seu amigo. Lhe disse o que tinha que fazer, como se fosse entregar alguma coisa, abrir o portão, bater na porta, soltar o chaveiro, na hora de sair jogar o celular no jardim. Tinha limpado tudo a consciência. O garoto usaria uma luvas cirúrgicas transparentes, tampouco chamaria atenção. Lhe deu um bom dinheiro.
Observou o dia que lhe traziam de ambulância, em cadeira de rodas, como o abaixavam, os vizinhos se aproximavam, uma delas via a chave no chão. Dizia ao enfermeiro, olha a chave da casa aqui. Deve ter caído, quando se esparramou no chão. Na verdade, só descobririam o veneno, se tivessem feito uma autopsia, como estava vivo, somente pensavam num enfarte.
Tinha clonado o celular. Ligou para a outra casa, cobriu o bocal, escutou a voz desesperada de sua ex-mulher. Lhe disse, seu marido está no endereço tal, procure como descer na parte debaixo da casa. Verás quem é seu verdadeiro marido, quem é o culpado do roubo. Ela queria saber quem estava falando. Mas desligou o celular, voltou caminhando até seu ponto. Esperou para ver chegar desesperada, com a criança no colo. Entrar na casa, soltar um grito. Pelo visto ele só tinha movimento no braço direito, porque quase em seguida chegava a polícia. Ele tinha avisado aonde estava a pessoa tanto procurada. Saiu em cadeiras de rodas, direto para o carro de polícia. Ela gritando desesperada.
Se levantou, passou ao seu lado, dizendo num sussurro, quem faz coisas erradas, paga. Desapareceu em seguida. Sabia que ela não iria direto para casa, sim para a delegacia. Foi até lá, colocou um sistema que gravava todo que se falasse dentro da casa, bem como os celulares.
A primeira parte estava feita. Falou com Carlos Zapata, que já tinha localizado um em New Port. Disse que era um viciado em jogo, que devia muito dinheiro. Vivia solitário numa casa de praia. Disse ao Carlos que colocasse um sistema de escuta na casa, para saber se recebia alguma mensagem.
Primeiro antes de partir, escutou no próprio computador que tinha roubado, Amanda chegando em casa, falando com o pai por telefone. Acabo de descobrir, que Greg já não está na prisão, dizia que John tinha tido um enfarte, não podia falar, a não ser usar sua mão direita, que estava preso, alguém o tinha descoberto, ao mesmo tempo denunciado. Achava que era o Greg.
Seu pai tentava acalma-la dizendo que não existia nenhum movimento com relação ao Greg, que tinha o escritório do advogado bem vigiado, que não tinha aparecido por lá.
Devo avisar aos outros?
Não se meta nesta história, eu te avisei que tudo isso ia acabar mal, lembre-se que tem um filho.
Tenho que fazer alguma coisa. Tentei usar um cartão de crédito, temos as contas todas bloqueadas. Nada funciona.
Não te preocupe, te levarei um cartão de crédito. Não acredito que ninguém possa aceder as contas que tinha com teu marido, fora do país. Seu sogro estava metido em tudo isso. Avisou a Carlos Zapata que se atrasaria. Queria ver se ainda era bom no que fazia antes. Abriu o computador, consultou, os clientes do John, até descobrir seu sogro. Bloqueou todas as contas. Mandou uma cópia de tudo para a polícia, para o departamento de Fazenda. Em seguida, retirou o hi-fi do computador, ou qualquer coisa que pudesse localiza-lo. Fez uma cópia de tudo que estava no computador, em dois pen-divres. Um entregaria ao advogado. Se o escritório estava sendo vigiado, o chamou pelo celular, direto em sua casa. Marcou na garagem do edifício, entrou com a moto, lhe deu o pen-divre, avisou que alguém do escritório estava vendido. Conto tudo que tinha feito. As duas denúncias. Que queria entrar com um processo em cima do ex-sogro, da ex-mulher, de seu amigo John Dawye.
Saindo dali, diretamente para New Port. Pelo caminho, parou num motel, numa situação estratégica, tomou um bom banho, lavou seus cabelos uma quantas vezes, agora já não precisava desse disfarce.
Como tinha avisado a polícia, inclusive da parte debaixo da casa. Agora tudo seria por quanta desta.
Chegou no dia seguinte, aonde estava escondido o Carlos Zapata. Amanda tinha feito contacto com o Albert, este tinha avisado Patrick. Assim pude localiza-lo. Vive mais acima, numa casa de luxo. Desde então não saíram de casa.
Avisou a polícia sobre os dois, que eram procurados, essa talvez fosse sua melhor vingança. Entraria com processo em cima dos dois. Falou com seu advogado, que encontrou o elo no seu escritório, sua própria secretária.
Também a tinha denunciado. Nos dias seguintes, os jornais só falavam nessa história.
O único que tinha dinheiro vivo era John, na verdade pertenciam ao seu sogro, em vias de transferir tudo para as Ilha Cayman. Estavam todos presos, sem direito a fiança. Um acusava o outro da ideia. Cada um tinha um advogado diferente. O grande perdedor era o Albert, que sempre tinha sido, o mais musculoso, mas viciado em qualquer coisa.
Disse para o advogado, era por aí, aonde deviam atacar. Se apresentou a polícia, com advogado, como ele já tinha cumprido sua parte da pena, não podia ser julgado novamente. Pediu para falar com o Albert. Este quando o viu, desmoronou.
Acabou confessando tudo. O mentor, era seu sogro, junto com John, o primeiro filho também era dele. Tinham aproveitado toda a confusão de Amanda estar mal, na verdade era parte do plano, ela tinha provocado o aborto. Tudo isso foi gravado para ser apresentado ao Juiz, ou aos juízes, se fossem separados os casos.
Lhe perguntou por que tinham feito isso. A resposta foi espantosa. Sempre foste o garoto rico. Ias as nossas casas desfrutar da nossa pobreza. Fazias sempre questão de pagar tudo. Na universidade, sempre estavas em primeiro lugar. Teu pai era um bom filho da puta. Quase arruinou o teu sogro num negócio, foi dele a ideia, de te usar como bode expiatório, assim teu pai iria correr para o filho prodigo, para o salvar. Mas isso não aconteceu, teu pai realmente era um filho da puta. Te ignorou totalmente, nem contratou advogado para ti.
Teu sogro ainda contratou um fulano dentro da penitenciaria, que deveria abusar de ti, matar-te em seguida. Mas parece que isso não aconteceu.
Quem recebeu menos dinheiro fui eu, pois não queria participar disso tudo, fui coagido. Mas me perdi nas drogas, no remorso. Não tenho nada.
Patrick, confessou também, obrigado pela mulher com quem tinha se casado, pois ela tinha medo de uma vingança. Na verdade, estavam na miséria outra vez.
Quando tudo acabou, com todos na prisão, inclusive Amanda, pois passou as gravações da casa para o advogado. Isso a incriminava totalmente.
Ainda pensou em ir vê-la, para rir na sua cara. Mas escutou na sua cabeça a voz do Xamã. Já fizeste muito. Deixa isso tudo para trás.
Mas ainda tinha um objetivo. Tinha que vingar a morte de Jesus, foi até lá falou com o xamã, reuniram todos os homens, vieram em dois carros. Conseguiram passar, subornando os policiais da fronteira. Descobriu aonde era o ponto de reunião do antigo grupo de Jesus. Esperaram uma reunião. Apagaram as luzes, pois eles não precisavam disso, tinham olhos de animais acostumados no escuro. Não sobrou nenhum. Aparentemente todos tinham somente uma picadura na base do crânio, nas autopsias, foi que apareceu o curare, junto com outras drogas.
Mas nessas alturas, já estavam cada um de volta a sua vila. Greg tomou sobre sua proteção o jovem que se parecia tanto a Jesus, na verdade era seu filho. O adotou, podendo leva-lo para os Estados Unidos. Conseguiu que fizesse uma universidade.
Ele continuou cuidado de motos, claro, vivendo no beco, ajudando os garotos a seguir em frente. Esse dinheiro tinha que ser gasto em boas coisas, para limpar toda merda que significava.
De tempos em tempos, ia com o grupo até a ravina, para não perder a magia, principalmente de mergulhar trazendo um peixe na boca. Ir de caça com seus amigos, pela noite. Isso era um encanto que nada podia substituir. Viajar com o filho de Jesus, pelos lugares que este tinha descrito em suas longas noites na prisão.
Este entendia, dizia que Jesus tinha vindo visita-lo antes de ser preso. Dizia que sonhava o dia que poderia viver em paz, com seu filho.
O melhor de tudo, era poder acampar no meio do deserto, olhando as estrelas, aquilo lhe dava uma paz impressionante. Pois tinham imaginado os dois deitados na cama, olhando pela janela estreita em cima de suas camas.
Agora estava em paz. Tinha sido um olho por olho, sem desgraças que ele tinha imaginado a princípio. Pensavam em matar, os três, mas tinha mudado de ideia, o melhor era só ver o que acontecia.
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