lunes, 30 de septiembre de 2019

JULES

                                                    JULES

Sou Jasper Köning, fotógrafo profissional, nasci na Alsacia, numa família com uma mistura entre franceses, alemães, algum que outro suíço.  Fui criado pelos meus avós que eram pessoas muito estritas.   Minha mãe desapareceu, nunca soube quem era meu pai. Tampouco havia na casa nenhuma fotografia de minha mãe.  Dai talvez minha neurose com a fotografia. Acredito que tampouco existia alguma foto minha, da infância, ou mesmo juventude.  Quando ia a casa de algum companheiro de escola, ficava admirando as fotografias de família, retratos de pessoas.
Fugi de casa várias vezes, embora fosse considerado um aluno brilhante. Com 15 anos comecei a trabalhar em qualquer coisa que desse dinheiro. Fazia de tudo, entrega de supermercado, compra para os mais velhos.  Tudo para juntar dinheiro, para poder partir dali.
Por sorte ou quem sabe por que, como tinha excelente notas, quando acabei a escola, consegui uma bolsa de estudos para a universidade de Lyon, mas claro, em filologia.  Tinha facilidade em apreender línguas.                      Contra a vontade dos velhos, que acreditavam que eu ficaria para tomar conta da granja, cuidar deles.  Apesar de tudo, desde que tinha consciência, me cobravam isso.  “tinham me acolhido, para que cuidasse deles em sua velhice”.    Ao caralho com as obrigações. 
Não sabia por que todas essas imagens apareceram em minha mente, durante o voo de New York/Paris.   Mais uma semana da moda, não sabia quantas tinha em meu haver. Não podia reclamar, pois fora meu primeiro degrau em minha vida profissional.   Aquelas coisas que acontecem.   O fotografo para quem eu trabalhava, teve um enfarte, tive que substituir, só que resolvi arriscar, fiz as fotos como pensava, era para a Vogue Americana.   Em seguida, elogiaram meu trabalho, assinei um contrato, depois de anos, deixei de renova-lo, mas seguia trabalhando para eles e toda competência.
Tinha dormido muito mal, na véspera de viajar.  O pior era ter rompido um relacionamento de anos, com quem considerava o amor de minha vida. Tudo porque eu me negava a casar, adotar crianças.   Nunca tinha pensado nisso, em toda minha vida gay.  Tinha um fator importante, acreditava que as pessoas que deviam ter filhos deviam ser jovens.  Os com mais idade sempre pensavam justamente do que eu tinha fugido.   Ter filhos para lhe fazerem companhia quando fossem velhos.
Nessa noite, despertei assustado, sonhava que tinha uma pessoa sentada na beira da minha cama. Não conseguia ver a cara, somente uns cabelos largos ruivos.  Como o que tinha quando era criança.   Hoje tinham uma cor fantástica, pois era uma mescla de brancos e ruivos escuro.
Não sei se isso me fez pensar em tudo isso durante o voo.  Apesar de ser de primeira classe, estava completo.   Muita gente que ia para a semana da moda.  Alguns querendo saber para quem ia fotografar coleções.  Sentado ao meu lado, estava minha secretada todo terreno.  Quando alguém fazia algumas dessas perguntas incomodas, ela respondia de modo brusco, “eu pergunto com quem dormes”.  Eu acabava rindo.   Na sala vip, antes do embarque, passou ao meu lado, um dos diretores de uma revista teenager, me indicou o banheiro, como me dizendo, posso falar contigo.  Não havia muito como disfarçar, quando todos estavam olhando com quem falavas, esperei dez minutos, entrei no banheiro. 
Foi direto ao assunto, estou num apuro, não tenho fotografo, preciso de ti.   Posso ser o último a ser atendido, mas gostaria que fizesses as fotos da revista sobre a semana de moda.  Me disse uma cifra, daquelas irrecusáveis.  Aceitei, dizendo que nos veríamos no hotel para fazer o contrato.   Precisava de mais dinheiro, para comprar a parte de meu último companheiro, no apartamento que tínhamos juntos.   Essas burradas que fazemos na vida, quando pensamos que viveremos o resto dos dias com uma pessoa.
Avisei minha secretária, esta rapidamente preparou o contrato, a partir de agora, ela se encarregaria de tudo.   Só teria que fazer as fotos.
Os desfiles, as fotos presenciais, tudo fiz como sempre, a minha maneira. Ignorava tudo que estivesse em volta, me dedicava exclusivamente a fazer o meu trabalho. O resto do mundo nesse instante deixava de existir.  Éramos, minha câmera, cérebro, instinto.  Meu assistente dizia que era como se tivesse uma metralhadora, seu trabalho consistia nesse momento a partir que acabasse um cartão ou bateria, me passar outra câmera igual a anterior.   Tudo estava preparado ao mínimo detalhe.
Vogue tinha pedido que fizesse uma série de fotos, com os assistentes dos desfiles, as pessoas que me chamassem atenção.   Num determinado momento, num desfile de Dior, vi uma figura ao longe, era muita magra, cabelos ruivos imensos, uma roupa toda especial.   Fiz a foto, mas meu instinto ficou intacto, segui trabalhando.
Depois foram dias, no studio que sempre alugava por detrás da Ópera de Paris, um último andar de um edifício antigo, antigamente usado para ensaio dos ballets.  Conhecia o proprietário.    Este reservava sempre pelo menos 15 dias para mim, durante as semana da moda.
Tínhamos preparado para começar a fazer as fotos da coleções Teenager, os manequins teen eram sempre mais difíceis de trabalhar.  Inseguros, fúteis, se achavam sempre maravilhosos.  Eram sempre exasperantes.  Depois de dias e dias trabalhando, meu humor era de um leão com muita fome, mas de estomago vazio.
Pareciam um cuspido ao outro, mesmos gestos, mesmas caras, penteados etc.  Para isso tinha exigido maquiadores, cabelereiros, os que conheciam meu trabalho.
Necessitava de dez, fui escolhendo com minha secretária, fazendo que assinassem um termo junto com seus representantes, em que eu poderia mudar seus cabelos, maneira de posar etc.  Alguns rejeitavam imediatamente, mas eram sempre os piores, que já se consideravam uma estrela.  Coitados, mal sabiam que poucas pessoas podiam superar uma barreira, se transformando em estrelas.
Outros agradeciam que eu mudasse suas imagens.  Primeiro olhei as roupas a serem fotografadas, eram sempre de novos desenhadores, algumas estapafúrdias. Foi meu primeiro choque com a chefe de moda da revista.   Fui retirando os cabides com as roupas que não queria.   Quando esta reclamou, minha secretária, lhe mostrou o contrato.  Este me permitia fazer isso.  Lhe disse que era livre de fazer fotos com essas roupas, mas com outros fotógrafos, mas se a incluíssem com as minhas fotos, poderia processa-los.   Por sorte, quem tinha me contratado apareceu, contornou a situação.
Faltava um manequim, olhei o grupo restante, não gostava de nenhum.  Até que vi aquela figura andrógina, muito branca, com os cabelos ruivos imensos, uma roupa diferente, mas com a cara escondida embaixo dos cabelos.
Lhe disse que se aproximasse, meu assistente colocou embaixo dos focos, fui até lá, tirei os cabelos da cara, me enfrentei a um olhar furioso, azuis como o céu, uma cara cheia de sardas.  Super fotogênico.  Não tinha contrato, lhe perguntei a idade, disse 18, podia assinar um contrato.
Perguntei o nome?
Jules Hoiex, resmungou. Vi que era um garoto, com voz forte, fui até os cabides, separei as melhores roupas que combinavam com o tipo. Chamei o cabelereiro, mandei corta os cabelos, que deixassem um topete totalmente para cima, como se estivesse pegando fogo.  
Jules me olhava sem pestanejar, perguntou, se não quero?
Agora é tarde, acabaste de assinar o contrato, me dá direito a isso.
Deixei que ficasse por último para ser fotografado.  Estava além de exausto, irritado, menos mal pensei, deixei para o últimos dias.  Se tenho um enfarte, já fiz o resto do trabalho.
Quando apareceu vestido com um traje de alfaiataria, de um novo costureiro, com um corte impecável, a cara totalmente descoberta, lastima que lhe tinham maquilado muito, chamei a maquiadora, disse que limpasse sua cara, queria uma cara limpa, translucida.
Nesse momento, me olhou profundamente, vi nele alguma coisa que me recordava, mas ainda não tinha sentido na minha cabeça.
Mandei apagar todas as luzes, lhe disse o que queria, somente um foco o acompanhando, fiz com que viesse caminhando em minha direção, a metralha como dizia meu assistente começou a funcionar, me joguei no chão, o fotografei em vários ângulos.  Mandei acender a luzes, fiz um sinal para que ele colocasse um novo traje, totalmente negro, vaporosos, em que aparecia seu corpo branco, mandei que tirasse a cueca negra, se via os pelos do púbis ruivo.  Ficaria extremamente sexi.
Disse ao assistente, que colocasse num dos focos, uma pantalha negra, nos outros azuis. De novo a luz se apagou, nem deitei no chão, dizendo que fosse passando devagar sobre mim. Pelo que via as fotos ficavam diferentes por causa dos ângulos.
Posou para mais duas roupas, que eu não gostava muito, mas que ficavam bem nele.
Me levantei do banco aonde estava, apertei sua mão, lhe disse tens futuro, adeus.
Dei ordem para começarem a guardar todas as câmeras, holofotes, dizendo que deveriam embarcar no próximo voo para NYC.  Peguei a bolsa de cartões, todos já marcados, o portátil, meu casaco, echarpe, o chapéu preferido. 
Jules já vestia suas roupas originais, que agora já não combinavam com ele, faltava os cabelos largos.
Fiz um sinal, como uma pergunta, se ele queria alguma coisa.
Sim, quero falar contigo. Não me reconheces?
Reconhecer? De que.
Se parou ao meu lado, me fez virar em direção ao espelho, deu um tapa jogando meu chapéu preferido no chão.
Quando olhei no espelho, senti um frio na barriga.   Era igual a mim, principalmente na idade dele, embora eu sempre tive a pele mais escura.
Quem eres?
Sou teu filho.
Tudo que pude dizer foi como?
Todo mundo sabia que eu era gay, nunca tinha escondido, desde que tinha chegado a Paris.
Olhou minha cara de espanto, sorriu, foi a mesma cara que fiz quando me disseram.
Peguei meu chapéu no chão, disse a minha secretária, que queria um taxi, ia para o hotel, não queria ser incomodado.
Sai o arrastando.
Não disse uma palavra, até chegarmos ao meu quarto no hotel, lhe disse que ficasse a vontade, fui ao banheiro mijar, lavar a cara.
Quando voltei, estava sentado numa das poltronas, me esperando.
Não entendo, nunca tive uma aventura com nenhuma mulher a ponto de gerar um filho.
Sim, imagino, estás espantado como eu.  Sempre acompanhei tuas fotos, sei que eres gay.  Por isso quando me disseram não quis acreditar, até que me mostraram uma foto ao lado de minha mãe.
Quem é tua mãe?
Beth Hoiex.   Lembra desse nome?
Menor ideia.  Aonde está a foto?
Me passou, lá estava eu com meus cabelos largos como os dele, ruivos escuro, ao lado de uma jovem loira de olhos azuis, quase translucida.   Uma data, atrás, Lyon.
Em minha cabeça estourou imagens.  Essa foto era da festa de final de curso, tínhamos bebido muito, um de meus amigos, que sabia que eu era virgem, me dizia, não podes ir para Paris, sendo virgem.  Escolha uma dessas santas meninas para estrear que finalmente serás homem.  Fazia isso para me provocar, para saber se eu era gay.  Nessa época tinha vergonha disso.
Tinha sido minha pior noite de sexo.  Acordei num quarto de hotel, me vesti, fui embora, passei no apartamento que vivia, peguei minha maleta humilde, embarquei para Paris.   Nunca mais tinha pensado nessa garota.
Devia ter uma cara espantosa, porque me disse fecha a boca.
Obedeci.  Mas como isso é possível?
Não me digas que não acreditas que o sexo de uma noite possa gerar um filho.
Como sabes tudo isso?
Ela me contou antes de morrer.  Sofreu durante anos de uma enfermidade degenerativa, sempre lhe perguntei quem era meu pai, mas nunca disse.  Chegou ser uma importante advogada, mas sua doença a destruiu.
Por que nunca me procurou?
Porque quando descobriu finalmente quem eras tu, já tinhas aberto a porta de teu armário, se declarando gay.
Eu ao contrário, sempre admirei seu estilo de fotografia, te tinha como um ídolo.
Não te culpo, nada pode analisar a cabeça de um jovem que foge em busca do sucesso.   Felizmente conseguiste.
Se quiser podemos fazer uma prova de ADN.    Mas antes tens que saber, que não quero, nem preciso de nada de ti.    Em breve receberei a herança de minha mãe, que me permitirá, ir estudar o que quero.
Queres comer alguma coisa comigo?
Sim podemos comer, enquanto conversamos?
Pedi alguma coisa pelo telefone, em seguida tocaram na porta.   Era minha secretária, assustada, nunca me tinha visto sair arrastando um manequim.
A fiz entrar, era tanto tempo companheira de trabalho, que além de tudo éramos amigos.  Lhe apresentei, Jules, meu filho.
Ficou de boca aberta, como devo ter ficado antes.
Se jogou na poltrona restante, ufa que dia de surpresas.
Pedi comida e bebida para mais uma pessoa.  Foi divertido, porque as vezes falávamos os três ao mesmo tempo. Algumas com a boca cheia.
Solange Brush, minha secretária, amiga, companheira de longos anos, as vezes olhava para um ora para o outro. Examinando cada detalhe de nossa cara.
Como não percebi isso na sessão fotográfica.
Jules foi o único que teve uma resposta, pela confusão.
Mas eu te vi, em vários desfiles, prestei atenção na tua figura, mas sem nunca ver a tua cara.
Lhe mostrei a foto.
Caramba, o mesmo tipo de cabelos.
Sim deixei crescer de proposito, pois sabia que ele vinha fazer a semana da moda, queria que me reconhecesse assim.
Pois não aconteceu, verdade, nem me lembrava que tinha usado cabelo assim naquela época.   Estive correndo tanto na vida, que sequer me lembrava da fome que passei quando cheguei a Paris, todos os trabalhos que tive, até começar a trabalhar com um fotografo famoso.     A sorte que tive, ou oportunidade quando ficou doente.  Fiz do seu trabalho o meu, ganhei meu primeiro contrato com a Vogue, fui para NYC.
Depois de comer, Solange arrumou um jeito, se mandou.
Desci a portaria, disse que meu filho estava comigo, se era possível um quarto com duas camas.   Arrumaram em seguida.
Fomos para o outro quarto, esperei que trouxessem minhas coisas, este tinha uma pequena varanda, ficamos sentados ali, um olhando para a cara do outro.
O que queres fazer a partir de agora Jules?
Te conhecer, mas antes para tiramos qualquer dúvida seria bom fazemos um teste de ADN.
Como queiras, fazemos amanhã mesmo.  Aonde vivias até agora?
Em Aix-en-Provence, aonde a família da minha mãe, tem casa.   Ela viveu toda vida lá.   Segundo ela, só te conheceu nesse dia, foi com umas amigas de faculdade a Lyon acabaram numa festa de final de curso, no dia seguinte, acordou num hotel sozinha.   Ninguém sabia nada de ti.  
Pensou que não tinha problemas, até descobrir que estava gravida.  Seus pais aceitaram, nunca houve pressão para que abortasse.  A ajudaram a me criar, nunca tampouco perguntaram quem era o pai, para essa criança sair com os cabelos tão ruivos assim.
São vivos ainda, digo teus avós?
Sim, continuam vivendo lá.
Ok, depois do exame de ADN, iremos falar com eles.  Quero recuperar o tempo contigo. As vezes pelo cansaço, afinal estava desperto a muito tempo, dias dormindo mal, o olhava para saber se realmente estava ali.
Lhe tocaram no braço, Jasper é melhor deitares, estás a muito tempo dormindo na poltrona.
Ia me atirar na cama de roupa e tudo, mas ele não deixou.  Me tirou os sapatos, puxou as calças, a camisa, me ajudou a deitar, cobrindo com a colcha.
Dormi como uma pedra, me despertei porque me lembrei do que tinha acontecido, estranhando o quarto, até que lembrei que tínhamos trocado de quarto, olhei para a outra cama, procurando ver se continuava ali, que não era um sonho ou pesadelo.
Tornei a dormir, mas logo me despertei, pois pelas cortinas entravam os primeiros raios de sol.  Olhei para o lado.  Estava sentado na sua cama, me olhando.
Tudo que disse foi, roncas muito.
Caímos numa gargalhada geral. Ainda tentei explicar, que quando estava cansado, sabia que roncava.
Se levantou dizendo que ia tomar banho, pois teria que ir buscar roupas no seu hotel.
Posso ir contigo, vou tirar uns dias de folga, para estar aqui contigo.
Descemos para tomar café com Solange, ela se assustou com a quantidade de ordens que dei.  Que meu assistente, fosse trabalhando as melhores fotografias, falasse com meu advogado, para saber se meu apartamento em Chelsea, já estava pronto, ao mesmo tempo que procurasse meu ex-namorado, pois se queria comprar minha parte no apartamento que tínhamos juntos bem, senão vender, repartir o dinheiro entre os dois, que eu só queria a escultura que Solange tinha me presenteado no meu último aniversário.
Jules me olhava, disse que depois lhe explicaria. 
Pedi a Solange que localizasse um laboratório para fazer um teste de ADN.
Queríamos ter certeza que éramos realmente pai e filho.
Tudo que Jules comentou, mas falando com Solange, foi, é sempre assim?
Esta riu muito, estou acostumada, a que tenha mal humor, que mude de ideia, como quem solta um peido, que seja meu melhor amigo, que comparta comigo tudo.  Vê poderia esconder que es seu filho, com medo de algum escândalo. Mas qual o que, não se preocupa.
Voltou a perguntar, crês que será um escândalo?
Bom os americanos, adoram uma fofoca, serás perseguido por falso jornalistas, que querem ser famosos, a famosa gloria dos 5 minutos.  Mas depois tudo volta ao normal.
Bom vou colocar em ordem tudo isso, evidentemente a sequência é primeiro o teste de ADN, o resto tudo bem.  Se levantou, perguntou o número do meu novo quarto, já falo com vocês.
Quando ficamos sozinhos, perguntou o que tinha acontecido com meu último namorado?
Uma decepção, pensei que tinha encontrado a pessoa de minha vida, pois não era do meio em que vivia.  Mas queria uma coisa que nunca pensei em fazer, me casar, adotar filhos.
Tive que explicar o porquê do último.    Contei, que os que pensava que eram meus avôs, eu nunca tive certeza disso, a partir de que não éramos sequer parecidos. Creio que me acolheram para ser uma pessoa que cuidasse deles quando fossem velhos. Não quero isso.  Os jovens têm direito a viverem suas próprias vidas, com tudo a respeito, acertos, erros, enfim viver à sua maneira.
Quanto ao apartamento de Chelsea, fica num edifício antigo, foi o primeiro que comprei quando tinha dinheiro.  Sempre gostei de morar lá. Agora no final era um edifício em que as pessoas de idade ou morriam, ou iam viver numa residência de idosos.  Uma empresa comprou o edifício, menos o meu, pois me neguei a vender, sempre com um pé atrás, com relação a viver junto com alguém.   Paguei sim que reformassem o mesmo, junto com os outros.  Demorou muito a ficar pronto, mas creio que já se pode viver lá.   Vivi a última quinzena num apart-hotel, mas preciso de um pouso para viver.
Bateram na porta, Jeff seu ajudante, já tinha recebido as ordens de Solange, vinha buscar os cartões fotográficos, para começar a trabalhar. 
Antes de entregar, queria ver as fotos do Jules.
Depois de encontrar o cartão, colocou no portátil, localizou as fotos, eram excelentes, mostrou a ele.
Caramba, não imaginei que ia sair assim, sinalizou as fotos com a roupa transparente. Podemos fazer alguma coisa, para que não apareça meu sexo?
Sim claro, imediatamente usou um programa, fazendo com que essa área ficasse, neutra.  Assim está melhor?
Sim, porque a foto é fantástica, não tens que distrair a atenção para uma coisa particular minha.
Concordou com ele.  Fez isso em todas as fotos, guardou, assim Jeff não poderia recupera-las como eram.
Lhe disse que deixasse o trabalho sobre os teenager por último, tenho vinte dias para entregar.
Lhe disse que passaria pelo menos dez dias aqui com seu filho.
Jeff sorriu, dizendo na confusão ninguém prestou atenção, mas vocês são parecidos.
Pediu a ele que fizesse uma foto direita dos dois nos celulares, tanto de um como de outro.
Depois te deixo fazer uma reportagem exclusiva sobre isso, tirando o morbo das pessoas sobre meu filho.
Solange os avisou que tinham menos de meia hora para estarem no laboratório que ela tinha conseguido.   Não era longe, mas mesmo assim foram de taxi.
Fizeram o exame, depois saíram conversando, afinal tinham que se colocar em dia.
Uma das perguntas claves era se não tinha raiva dele?
Não podia, porque sabia que tu sequer imaginava isso.   Portanto não podia te culpar.
Queria sim saber como era meu pai, como pessoa, não como o famoso fotografo.
Bom na verdade a barreira que separa um do outro até eu mesmo confundo.  Continuo sendo uma pessoa normal, quando não estou com algum cliente, ou algum trabalho importante.   Quando tenho a agenda despejada, saio para algum lugar para fazer fotos das pessoas normais.
Ninguém sabe, mas a meses atrás, fiz uma viagem a Africa, bem para o interior, estive no mesmo lugar, convivendo com uma tribo, fazendo fotos, vídeo, em que entrevistava essas pessoas, para saber o que anseiam.  Muitos jovens vão para a cidade mais próxima ou para a capital.   Poucos voltam.  A maioria acaba trabalhando como mulas, em construção ou sendo explorada por alguém mais experto.   Alguns juntam dinheiro para emigrarem para a Europa.
Mas até agora não tive tempo de sentar para fazer a edição.  É a parte mais trabalhosa, pois necessito que me deixem em paz.
Desde que estou em Paris, fiz um curso da Nikon de fotografia, outro mais longo de justamente  isso edição, com os programas de Adobe, claro o material não é nosso, é como se estivéssemos trabalhando grátis para alguém.
Riram, sentaram-se numa mesa de café, pediram ao mesmo tempo Capuccino e croissants.
Quem sabe podes me ajudar com esses vídeos, sei usar o programa, mas apreendi sozinho. Cometo muitas falhas, tenho que estar sempre revisando, com medo de perder algum detalhe.
Puxa seria ótimo.  Não te contei, mas irei estudar cinema em NYC, na universidade, não sei ainda se isso o que quero, mas não custa tentar.
Ótimo, podes ficar vivendo na minha casa,  fica relativamente perto, quem sabe podes me ajudar nisso.   Tenho uma série de outros vídeos que fiz por ai,  alguns a princípio não fazia entrevista, me interessava mais em registrar como viviam, só a partir de um que fiz no Japão, comecei a gravar entrevistas com estas pessoas, como pensavam, qual era o objetivo de suas vidas, com que sonhavam.
Depois te mostro, tenho dois no portátil.   Nunca me sobra muito tempo para isso.
Tenho vontade de montar esse do Japão, pois é um contraste entre a sociedade totalmente moderna de um lado, do outro a vida no campo, dura, sem muito futuro, aldeias de pescadores, que levam geração após geração trabalhando nisso, mas que os filhos já foram embora.   Tem uma entrevista que amo de paixão, que é com um artista, que trabalha no aço, fazendo um trabalho ancestral, mas desanimado porque não tem nenhum herdeiro, tampouco alguém que se interesse em apreender.
Isso tudo tem uma história, depois te conto.
Muito interessante. Creio que vou adorar ver.
Solange tinha conseguido com o laboratório, pagando mais e claro, para que o resultado saísse no outro dia.
Logo de manhã, saiu para buscar o resultado e o levou ao  hotel.  Ela iria embora pela tarde junto com o Jeff.
Os dois estavam tomando café da manhã, sentados na pequena varanda do quarto.
Ela entregou o envelope lacrado.  Não disse nada.
Jasper, abriu leu o resultado, sorriu, passou o mesmo para o Jules.  O sorriso foi maior.
Era realmente só para tirar uma dúvida, mas ali esta branco no negro, que sim eram pai e filho.
Seria bom que avisasse teus avôs, que vamos para lá, quero conhece-los, conversar com eles. Não pretendo me separar de ti.
Se despediram de Solange, que estava louca para voltar para casa, estava casada com uma empresária, criavam duas crianças adotadas.
Jasper tinha uma bagagem pequena, na verdade usava sempre um tipo de roupa, calças jeans negras, camisetas brancas ou negras, casaco antigo, que deveria ter uns 10 anos, seu chapéu preferido, claro sua famosa echarpe negra também.  Botas, pois em casa gostava de andar descalço.  Na maleta outra dupla de tudo, roupa interior e pouca coisa mais.
Foram para a Gare de Lyon para pegar um TGV, que fosse em direção a Marseille, na própria estação pegariam outro para Aix-en-Provence, mais uns 15 ou vinte minutos.
Conseguiram lugar na primeira classe, assim poderiam ir conversando. Jules, tinha curiosidade acerca de sua infância.
Não foi nada fácil, o velho era duro, o menor deslize te castigava.   Acreditava que o castigo físico, ajudava muito, ainda tenho cicatrizes dessa época.  No corpo, aqui dentro, bateu com o dedo na cabeça.  A primeira vez que consegui guardar um dinheiro, ele descobriu, ficou com tudo, me pegou duro. Fiquei dois dias, em que me arrastava para a escola.  Naquela época ninguém se preocupava com isso, achavam se um pai castigava era porque merecias.  Somente uma professora me cuidou.  Me disse que tinha que ser o melhor para conseguir uma bolsa de estudos, me largar dali.
Passei a guardar o dinheiro que conseguia, numa lata, que escondia no meio da floresta.   Foi o que me salvou.  Quando ganhei a bolsa de estudos para Lyon, me disse que não podia ir, que minha obrigação era ficar para cuidar do campo, deles, pois me tinham criado para isso.   Foi quando cheguei à conclusão que não eram nada meus, me tinham recolhido em algum lugar para isso.  Nessas alturas, eu já era mais alto do que ele, forte pois fazia exercícios duros, além é claro de trabalhos duros. Quando me ameaçou, me levantei peguei uma faca, cortei o cinturão com que me costumava me pegar, o cortei em pedaços.  Experimenta agora?
Peguei o pouco de roupa que tinha, dormi essa noite na porta da escola, no dia seguinte consegui os papeis da bolsa, peguei meu dinheiro, me mandei para Lyon de ônibus.
Lá fiz todos os tipos de trabalho, desde limpar banheiros, garçom, porteiro de hotel, com esse último me mantive na faculdade.   Era um dos hotéis mais antigos da cidade, então no sótão tinham pequenos quartos para os empregados.  Como eu falava várias línguas, me contrataram.   Assim pude me manter na faculdade, ao mesmo tempo juntando dinheiro para Paris.  Meu último dia foi quando me arrastaram a tal festa, eu nunca tinha ido a uma.  Não gastava dinheiro com bebidas, nem vícios, hábito que mantenho até hoje.  Bebo quando muito um copo de vinho, com isso me basta.
Imagina quando cheguei a NYC, a diferença de Paris, no qual tinha um círculo pequeno de conhecidos, amigos nenhum.  Lá a coisa era diferente, te arrastavam para todas festas possíveis.  Me diziam que tinha que ser conhecido.  Mas quando chegava o momento em que começava circular, drogas ou outras coisas, me mandava.  Vi muita carreira naufragar, gente boa desaparecer, para cair nisso.   Não tinha sofrido tanto para desperdiçar meu tempo.   Talvez por isso, consegui ser respeitado.  Pois sempre cumpri os prazos das revistas, das reportagens.   Mal me sobrava tempo para algum que outro romance, todos de curta duração.  As pessoas não entendiam que meu trabalho era o que me salvava.   Tive sempre medo de perder o meu instinto ao fazer as fotos.  As vezes basta olhar uma roupa, ou mesmo um cenário, para imaginar como vou fazer as fotos.
Isso se estivesse no mundo das drogas, ou alcoolizado, perderia.  Era meu trunfo sobre os demais.   Meu às na manga.
Naquela época, como agora, as pessoas estão atrás do sucesso,  mas o querem rápido, sem sacrifícios.   Como digo sempre, festas, drogas e rock roll. Tudo na vida passa, se não tem mantem em um patamar, desapareces.   Não se esqueça que todos os santos, ídolos, tem pés de barro.
Puxa pai, como as revistas falam, parecias mais superficial, mas quando te vi trabalhando me surpreendi.
Jasper ficou emocionado, era a primeira vez que o chamava de pai.  Colocou a mão sobre o braço de Jules.  Obrigado meu filho.
Pediu que ele falasse dos avôs?
Bom, minha avó é um doce de pessoa, foi ela que me incentivou a ir te buscar, nenhum dos dois sabiam que eras meu pai.  Me disse sempre que eu tinha que ir atrás de meus sonhos.  Minha mãe, apesar de ser uma advogada de respeito, não era o que sonhava para sua vida.   Tinha feito direito para agradar aos pais.
Meu avô com os anos, com a doença de minha mãe, foi abrandando, mas era muito sério quando era criança.   Agora que minha mãe morreu, lhe disse que não pensava em estudar direito, vendeu sua parte aos sócios que tinha.  Ele herdou a anos, a casa que vivemos. Uma mansão que tinha pertencido a família toda vida.  É enorme, minha mãe o convenceu que era grande demais.  Assim as casas atrás, que dão a uma outra rua, que eram dos empregados, foram reformadas, são pequenas, ele aluga para os estudantes da universidade.  A casa principal, ficou só com o andar térreo, os outros dois transformou em apartamentos.    Quando ficou tudo pronto, foi quando Beth começou a ficar mal.  Primeiro não podia andar sem muletas, em seguida estava em cadeira de rodas, foi perdendo gradativamente os movimentos todos.   Ele queria me mandar estudar num internato para não ver a degradação dela.   Mas me neguei, ela também.   Fazíamos um  rodízio, para que ela nunca estivesse só.  Mas a verdade, ver uma pessoa que amas definhar, é muito difícil.
Por isso te entendo, meu colegas de estudos, tinham tempo para beber, fumar, drogas, rock roll, como dizes.   Eu nem queria, nem podia.   Já tinha poucos amigos, fiquei sem nenhum.
Então não eram teus amigos!
Visto de certo ângulo, concordo contigo.
Jasper se surpreendia com a madures dele, agora entendia por quê.
Quando desceram do trem em Aix-en-Provence, fez menção de pegar um taxi.
Não é necessário, aqui tudo é perto, podemos ir andando.
Via Jules, cumprimentando as pessoas, sorrindo.  Disse que eram pessoas que conhecia desde criança.    Somente uma senhora o parou, lhe beijou.  Ele apresentou como sendo irmã de sua avó.
Depois passo lá para conhecer direito teu pai, comentou isso, depois de ter-lhe estalado dois beijos em cada lado do rosto.
Quando chegaram, Jules abriu a porta com sua chave, escutaram a voz de uma mulher, “eres tu Jules, meu filho”.
Apareceu uma senhora de cabelos brancos muito bem arrumados, era uma cópia da outra que tinham encontrado na rua.  Beijou o neto, estendeu a mão, mas o atraiu até ela e como a outra, estalou beijos no seu rosto.
Meu nome é Elizabeth, mas todos me conhecem como Eliza, gritou para dentro da casa, Paul, os meninos chegaram.
Ser chamado de menino, fez Jasper rir.
O velho era quase de sua altura, forte, com um sorriso na cara, abraçou o neto, beijou sua cabeça.   Conseguiste malandro, conseguiste.
Apertou a mão de Jasper, estas em casa, foi o que disse.
Mostraram a casa, vão se refrescar, colocamos mais uma cama, no quarto de Jules, assim podem compartir, conversarem.   
Jules rindo disse, ele ronca muito.
Menino, respeito com o teu pai, sabes que não gosto de falta de respeito.
Jules rindo, avó, vamos deixar esses dois que roncam, dormindo juntos, assim vamos ver quem ganha.
Depois de deixar as maletas, se reuniram no salão.   Paul fez questão de contar, o que tinham feito com a casa, minha filha nos convenceu.  Graças a Deus, nos livramos de muito serviço.
Embora já tivesse escutado Jules contar, escutou atentamente outra vez, pois sabia que as pessoas maiores gostavam disso.
Sabemos que vives em NYC, como é por lá.
Eu agora volto a viver num antigo apartamento, em Chelsea, que acaba de ser reformado, mas creio que terei que comprar tudo de novo.   Os moveis eram antigos, mas só quando chegue é que saberei.   Contou como tinha sido, gostava muito do local, ainda se encontram alguns desses restaurantes que se veem nos filmes, cada vez há menos, mas são práticos.
Não eres muito gordo, comentou Eliza.
Avó, se o visse trabalhando entenderia.  Parece uma máquina, com outra máquina na mão. A estática fica no ar.  Ele próprio riu da imagem que o filho fazia dele.
Como se encontraram?
Bom avó, fui a todos os desfiles que sabia, que ele estava, mas claro, ele não vê mais que seu trabalho.   Não reparou que tinha os cabelos iguais aos dele.   Escutei alguns manequins jovens dizendo que ele faria uma sessão para uma revista de teenager, e fui.      Cheguei um pouco tarde, o vi trabalhando num studio.  Parece uma máquina a 100 por hora, disparando ordens a todo mundo, brigando, porque não gosta das roupas.  Quem apara as arestas é sua secretária Solange, alias uma pessoa que a senhora ia adorar.
Faltava um manequim para o trabalho, parece que não tinha gostado de nenhum dos que estavam ali, veio até aonde estava, me levantou os cabelos, olhou na minha cara, me fez assinar um contrato.   Em seguida fui agarrado por um batalhão de cabelereiros, me tosaram os cabelos, me vestiram, a maquiadora disse que eu era muito branco, me maquilou demais.  Me olhou, mandou tirar tudo, me queria ao natural.   Me mandou andar, bom aí, a eletricidade começa a funcionar, vais fazendo o que ele diz. Mas parece que tem uma metralhadora na mão, não uma câmera.
Quando acabou tudo, respirei, nunca tinha imaginado que seria assim.  Quando vi que ia embora, pensei, é agora ou nunca.  O parei na frente de um espelho, me coloquei ao seu lado, o obriguei a olhar.   Ficou de boca aberta.  Me disse depois que era como se ver a si mesmo mais jovem.
Depois que lhe disse que era seu filho, me arrastou com ele para o hotel, para falamos em paz.   Porque a volta dele, parece como se estivesse numa colmeia, abelhas por toda parte, gente se movendo, correndo, etc.
Quando viu a fotografia dele com mamãe, ficou de boca aberta, não se lembrava de nada.   Depois me contou o que tinha acontecido.
Era justo a véspera de ir para Paris.
Essa parte de sua vida, já me contou, não deve ter sido fácil vencer, mas quando teve a oportunidade aproveitou.
Jasper, escutava falarem dele, como se não estivesse presente.   Olhava uma foto de Beth, grande pendurada em cima da lareira.   Como era bonita, pensou.  Lastima que realmente não tivemos oportunidade.  Tinha se aproximado dela, porque a via como ele, perdida no meio daquela gente toda, que mal conhecia.
Eliza percebeu, comentou que a foto, era de quando tinha ganhado seu primeiro juízo, que era muito boa no que fazia.
Sem se dar conta, comentou o que na festa tinha feito que se aproximasse dela, estávamos perdidos no meio daquela gente toda, todos bebiam muito, eu como não bebia, creio que qualquer coisa me nublaria a cabeça.   A ela também imagino, não tenho consciência do que aconteceu. Não me lembro em absoluto.  Quando cheguei em Paris, só pensava em conseguir um emprego, conseguir meu objetivo.
Tinha recomendações do hotel que trabalhava em Lyon, mas isso era tudo.
Foi muito duro.  Mas sobrevivi, como faço até hoje.
O velho o escutava atentamente, não estamos aqui para julga-lo,  Beth nos contou como tinha acontecido, mas nunca mencionou teu nome.   Até que esteve para morrer, nem sabíamos da foto.
Nunca disse nada, tampouco reclamou ou fez disso uma tragédia.   Quando Jules nasceu, com os cabelos assim como que pegando fogo.  Ela riu, disse que eram iguais aos do pai.
Ele um dia encontrou uma reportagem a teu respeito, numa revista de fotografia, pela primeira vez, pediu a revista emprestada ao Jules, ficou olhando, leu com atenção toda a reportagem, fez umas anotações num caderno que tinha.   As pessoas diziam que parecia ser da polícia, com aqueles blocos que usam os detetives.
Depois não falou mais no assunto.   Quando ficou muito mal,  me pediu um envelope que estava no seu escritório, numa gaveta fechada a chave.   Tinha pedido informações a teu respeito. 
Na reportagem que estava junto, quem fazia a entrevista, dizia que justamente eras a pessoa mais séria da profissão.  Em uma perguntas, respondias, que não tinha tempo para bebidas, drogas nem rock roll.
Ele vive dizendo isso, comentou o Jules.   Parece ser seu mantra.
Riram todos, nisso abriram a porta, entrou a senhora que tinha encontrado, viu que eram idênticas.   Uma mais bem cuidada que a outra.
Ao perceber seu olhar, disse, somos gêmeas idênticas, mas com uma diferença, ela é certinha, eu sou a ovelha negra.   Pelas mãos via-se que era uma artista, sou pintora.
Pode me chamar de tia Joanne.
Bom vamos almoçar, pois eles devem estar mortos de fome.
Como o dia estava bom, sentaram-se numa mesa colocada no jardim, entre as duas e Jules foram trazendo a comida.
Quando foram lhe servir vinho, pediu desculpas, mas preferia água.
Já tive que beber todos esses dias, champagne, vinhos, etc.   Na verdade, nas festas depois dos desfiles, eu somente molho os lábios, pois tenho que ter a cabeça despejada para o próximo trabalho. 
Jules comentou, que o tinha impressionado, no desfile de Dior, que ele quase não se mexia, ali no meio dos outros fotógrafos,  tudo que fazia era algumas vezes, se abaixar para captar melhor o manequim.
Imagine, são uma multidão fazendo a mesma coisa, chego cedo, para me colocar justamente no meio, assim, posso ter tudo de frente.  Os costureiros me dizem como vai ser o desfile, assim me coloco numa posição estratégica.   O pior são os dias seguintes.   Recebo cada um que Vogue escolheu para as fotos, me tranco no lugar que alugo sempre, aí começa outra roda viva, sem hora para terminar.   Quando chego ao hotel, repasso o seguinte, para saber como é a roupa, e imaginar como vou trabalhar.
Já o último trabalho, eu não tinha visto os desfiles, pois são as dos novos desenhadores,  é para uma revista Teenager, então os manequins são jovens, alguns são um pesadelo, se acham umas estrelas.   Mas na verdade, poucos chegam a isso.
Depois da sobremesa, mostrou as fotos que tinha feito do Jules.   Quem apreciou mais foi a tia Joanne.   Terás que ver um retrato que pintei dele. 
Depois foram descansar.   Quando tornou a sair do quarto, a casa parecia deserta.  O único que estava no salão, lendo um jornal, era o Paul.  Lhe perguntou se podiam conversar.
O levou até a biblioteca, abriu as portas dizendo meus domínios.  Ainda esta uma confusão, pois trouxe muita coisa do escritório que tinha.
Sentaram-se frente a frente.
Me desculpe Jasper, mas gostaria de saber quais teus planos com relação a Jules.
Sim senhor, entendo que não querem perde-lo, eu também.   Ele disse que quer estudar em NYC,  eu ofereci minha casa, para ele ficar.  Mas creio que todas as decisões terão que partir dele.    Eu não sabia de sua existência até a dias atrás, quero recuperar o tempo perdido. Mas tampouco posso exigir nada.  Tudo terá que partir dele.   Me surpreendeu o maduro que é para sua idade.   Imagino, pelo que me contou, que amadureceu a golpes, pelo que passou a sua mãe.
Lhe contei que a vida em NYC, é dura, ele tem que saber o que quer.  Vi muita gente chegar, achar que tinha vencido, em seguida desaparecer.  Não quero isso para ele.
Está interessado em me ajudar num trabalho que estou fazendo de vídeo, me contou que se preparou agora esses meses em Paris.
Sim, mas vinha todos os finais de semana para casa.  Ele não é de grandes festas, nem nada do gênero.
Entendo, as vezes que sou obrigado a ir, faço como diz minha secretaria, que parece que deslizo pelo salão, olá, algum que outro beijo, apertos de mão, já estou saindo pelo outro lado.   Todo esse glamour é efêmero,  volto correndo para casa.
Pelo que sei, estavas vivendo junto com outra pessoa.
Sim, infelizmente nos separamos, ele queria coisas que não entram nos meus planos. Contou sua infância, e a história de ser criado para cuidar de outra.  Acredito que os jovens devem ter suas oportunidades, não obrigações com as pessoas mais velhas. Os mais velhos já viveram sua vida.   Conheci uma senhora que dizia, que os filhos eram feitos para voar como os pássaros, livres, leves, soltos.
Concordo contigo,  ele tem uma herança para receber, de sua mãe, mas quando fizer 21 anos.   Depois também é nosso herdeiro.
Eu tenho dinheiro suficiente para cuidar dele.  Vivo parcamente, não tenho luxos, me criticam porque sequer tenho carro.  Eu respondo sempre, para que quero um, se tenho que me mover, mais fácil um taxi.  Como todas as cidades grandes, os problemas de estacionar.  Nem sei conduzir na verdade.
Se ele achar que deve vir comigo, eu serei o primeiro a obriga-lo a vir visita-los, como teria o maior prazer em recebe-los em NYC.
Nisso entraram a Eliza e Joanne, que caras serias, foram dizendo.
Ele perguntou aonde estava Jules?
Saiu dizendo que ia comprar algumas coisas para um lanche.  Ele gosta muito disso, de providenciar o lanche.
Em seguida chegou, com sacos de croissant, pães, que cheiravam de maravilha. Na mesa, Jules se virou para Jasper, já que conversaste com meu avô, saiba que dizem que é o melhor daqui, além de advogado dizem que é um excelente detetive.   Porque não lhe conta tua história, para ver se ele descobre a verdade.
Posso contar na frente das senhoras, não tenho vergonha.
Contou tudo da sua infância, porque ele desconfiava que o tinham conseguido de outra maneira.  Não havia nenhuma foto na casa, nem de sua mãe, nem dele. E a repetição que o tinham acolhido, para cuidar deles quando fossem velhos.
Deu o nome da vila, dos dois que ele não sabiam se eram de verdade seus avôs ou não.  Que isso tinha sempre repercutido na sua vida.   As vezes que o velho o maltratava com seu cinturão.  Como tinha conseguido escapar.
Paul tinha anotado tudo, num caderno, como sempre fazia, farei umas chamadas para saber alguma coisa.  Como tenho tempo posso ir até lá.
Já que estamos em conselho familiar, Jules, queremos saber o que pretendes fazer?
Bom gostaria de ir com meu pai para NYC, tentar fazer a faculdade, talvez trabalhar com ele nos vídeos que é uma coisa que me apaixona.
Mas prometo chamar todas as semanas, vir sempre que possível.  Além de que o senhor está aposentado, poderia ir com a avó, tia Joanne, tenho certeza que elas iam adorar, passear pelos museus da cidade.
Jasper mais pés no chão, perguntou se ele tinha passaporte?
A muito tempo, creio que ainda está bem, ou amanhã mesmo vou atualizar.
Bom assim, depois lá consigo residência para ti.   Eu hoje em dia tenho o green card, lhes explicou do que se tratava.  Também se queres daqui algum tempo posso pedir a partir do DNA, o reconhecimento que es meu filho, apesar de ser um processo que acredito largo, possa servir para ficares lá.
Já veremos meu pai, tudo entrará nos eixos, com o tempo.
Passeando depois pelo jardim com Eliza, perguntou da possibilidade de Jules, ter a mesma doença da mãe.   Pelos exames, não é hereditário, mas por exemplo se tivéssemos sabido a tempo, poderia ter sido controlado, descobrimos muito tarde.
Bom conheço médicos, marido de clientes, pedirei que o examine, se pudesses me dar o diagnostico de Beth, seria mais fácil.
Claro que sim, sem dúvida alguma, isso demonstra que estas preocupado com ele.
Quatro dias depois, voltaram para Paris, de lá voaram a NYC. 
Solange os esperava no aeroporto, disse que o apartamento estava pronto para uso, mas claro faltavam coisas.  Tomei a liberdade de comprar camas novas, como conheço teu gosto, mobiliei a toque de caixa o salão, comprei tudo que faltava, roupa de cama, banho etc.  Só não comprei coisas de cozinha, pois sei que normalmente comes fora.
Jules disse que podia cozinhar, mas que veriam isso com o tempo.   Ele amou o apartamento,  estavam cansados da viagem, mas tomaram um bom banho, saíram com Solange no meio dos dois para comerem.
Viu que muita gente cumprimentava seu pai.  Quanta gente te conhece pai?
Claro, vivi aqui muitos anos, sempre fui educado com todos aqui da rua.
Durante o almoço, Solange comentou do outro apartamento.  Só disse, ele já depositou tua parte, depois queria retirar, ao saber que voltavas com teu filho. Te chamou de todos os nomes possíveis, pois o tinha enganado, que não querias filho porque já tinhas. 
Mas como tudo estava assinado, ficou por isso mesmo, além de que, está vivendo com outro tipo.
Vê meu filho, neste mundo ninguém é insubstituível.
No dia seguinte, foram para o studio,  Jasper o deixou com os vídeos, para que desse uma olhada.  Me desculpe, mas me chame na hora de comer, pois posso me esquecer da vida.
Jeff, tinha trabalhado bem, adiantado todo material, só trocou umas duas fotos.   Ficou analisando uma das fotografias, em que ao fundo se via a cabeleira do Jasper.
Pediu ao Jeff uma cópia da foto.  Iria mostrar na hora do almoço para ele.  Olhou o relógio, viu que era tarde, foi até a outra sala, Jules estava mergulhado no vídeo.  Fiz uma cópia, para poder ir remontando, assim não afeto a original.        Mostrou a foto ficaram rindo.
Saíram para comer com Jeff, Solange, mais duas pessoas que trabalhavam no studio.
Quando estavam comendo, conversando, uma pessoa se aproximou.  Parou por detrás de Jasper, com que então esse é seu filho?
Jasper se levantou, encarou o outro que não estava sozinho, sim é meu filho, quem sabe um dia, te conte a história.
É verdade, basta olhar, se parece contigo. Como estás levando com esse pai que não gosta de crianças.
Se lembrou de como respondia a Solange, respondeu dizendo, eu tampouco, mas crianças em salsa marinheira, pode ser bom.
Solange, não pode conter a gargalhada.  Como aprendes rápido garoto.
O homem virou as costas, indo embora.
Jasper não perdeu tempo,  Jeff, está é tua oportunidade, vais fazer uma sessão de fotos conosco, Solange conta uma história, que num casting, encontrei meu filho a muito perdido, ou que ele me encontrou que cruza mais com a verdade.
Foi o que fizeram quando voltaram, posaram os dois para o Jeff, escolheram as fotos, Jeff, automaticamente se comunicou com as revistas que eles trabalhavam, comentou do assunto, todas pediram o material.   Na semana seguinte saiam em todas, em algumas com destaque, os sites de moda também publicaram, algumas com o título,  um filho da juventude perdida do grande fotografo Jasper Köning.
Bom isso já está resolvido.
Jules, fotografou todas as manchetes, mandou para seus avôs.  Assim, não teriam surpresa.   Em seguida como Jasper o obrigava fazer duas vezes por semana, telefonou.
Soube pela sua avó que Paul, estava justamente na Alsacia, já tinha informações, mas estava checando no local.
Livre das fotos, reuniões com Vogue, podia agora se dedicar com o Jules aos vídeos, se surpreendeu a velocidade com que ele tinha trabalhado o vídeo do Japão, posteriormente o da Africa.
Queria ver como ele tinha tratado o do Japão que tinha sido suas primeiras entrevistas.
Em vez de dublar, tinha feito as respostas em japonês legendadas.  Assim ficaria mais fácil das pessoas entenderem, não se perderia o som, nem o sentido forte das respostas.
Como conseguiste isso?
Não reparaste, mas aqui ao lado, tem uma empresa japonesa, pedi a uma secretária que fosse traduzindo para mim, depois foi só montar.  O resultado da montagem era excelente, basicamente como tinha imaginado Jasper.  Fizeram pequenos retoques, principalmente na parte que vão com o velho artista a seu local de trabalho, cercado por oficinas de outros tantos artistas.   A reclamação de todos era a mesma coisa, que tudo que era tradicional, no Japão de hoje, estava sendo relegado a segundo plano pelos jovens que ansiavam coisas modernas.
Jules tinha cortado uma pequena parte, que agora fazia sentido, voltaram a incluir, era entrando numa sala de exposição em Tóquio, que estava abarrotada de gente. Da porta um zoom a todos os quadros expostos.  Todos tinham a mesma base, uma mesa com uma toalha quadrada, em cima naturezas mortas, comida francesa, croissant com um café, tudo muito realista.  Quando leu quem era o autor, entendeu, era um bolsista de uma fundação, que tinha passado meses em Paris, ele mesmo dizia que tinha pintado tudo, como base um café abaixo de seu studio.  Todos os quadros estavam comprados.  Era um sem sentido.    Tinha visitado, filmado todos os studios de artistas plásticos japoneses, que pintava abstrato.  Estes reclamavam que os compradores somente se interessavam por arte realista, mas quando vinham expor no Japão artistas Niseis, segunda geração de japoneses num país distinto, faziam mais sucesso, evidentemente por sofrerem influências nas cores deste novo país.
Mas se evidenciava justamente a diferença entre passado/presente.  Tecnologia, que influenciavam a técnica.  Mesmos os fotógrafos japoneses, tinham influências, alguns optavam pelo erótico, outros por um minimalismo. O mundo realmente estava cheio de evoluções.
Prepararam um resumem para acompanhar o vídeo.   Primeiro fizeram uma apresentação com os amigos, alguns conhecidos, seus contatos nas grandes revistas de moda.  Foi muito bem recebido, no dia seguinte saíram resenhas nas revistas digitais, bem como algum jornal na parte de arte o mencionou.  Um deles tinha como título, um grande fotografo, surpreende ao se adentrar no mundo do vídeo.
Agora trabalhavam a pleno vapor, o vídeo da Africa, como tinha usado duas câmeras ao mesmo tempo para entrevista, estava sendo trabalhoso juntar os dois vídeos.
Esta reportagem se poderia chamar desesperança.  Tinha filmado a maior parte do tempo, numa aldeia, aonde basicamente o homem não estava presente, os maiores de 15 anos, tinham emigrado para as cidades em busca de trabalho.  O homem mais velho que restava era um Babalorixá, muito magro, sentado num banco na frente de sua choça, explicava, que primeiro vinham os católicos tentando catequiza-los, depois os protestante e por último os mulçumanos, mas ninguém podia conter o fluxo da migração as grandes cidades.  Todos sonhavam em ganhar dinheiro, melhorar suas vidas, pois todos esses missioneiros, falavam sem cessar nisso, melhorar suas vidas.
Evidentemente se referiam a espiritual, mas os homens entendiam que melhorar suas vidas, era ser como eles, ter carro, roupas, sapatos, celulares, enfim tudo o que não tinham.  Porque na verdade, por mais que se tornassem católicos, protestantes ou mulçumanos, não deixavam de acreditar em seus deuses animistas.
Tinha feito a gravação com o vídeo direto no rosto do homem, então todas suas expressões, eram sérias, graves.
Depois o vídeo mudava, indo para as cidades, aonde estavam esses emigrantes, alguns trabalhavam na construção, outros vendiam qualquer coisa pela cidade, outros eram explorados pelos mais inteligentes, uns tantos se sentindo derrotados conheciam a droga, muitos estavam pedindo dinheiro pelas esquinas.   A realidade mudava, era dolorosa.   Discutiram os dois, se não podiam fazer o seguinte.  A parte da aldeia seria colorida, com as mulheres, com seus panos coloridos, suas tranças, uma cuidado da outra, as crianças nuas correndo livremente.  A parte relativa à cidade, seria em branco e preto.  Quando experimentaram, o resultado era surpreendente. Já sabia que alguns diriam que viver na miséria, de uma aldeia, era mais bonito que a realidade de uma cidade.  A cena final, era um edifício em construção, com um andaimo, sem segurança nenhuma, apenas troncos de madeiras, esses mesmo homens trabalhando ali.   Tinha filmado de uma certa distância, com o zoom se aproximando lentamente, até enquadrar justamente num quadrado desse andaimo um homem seminu se equilibrando para poder trabalhar.
Quando ficou pronto, mostraram primeiro a Solange, Jeff, aos outros do studio. Tudo tinha sido acompanhado em silencio, no momento que o velho começa a falar da migração para a cidade, sua imagem de colorida, vai se transformando em branco e preto, até chegar à parte da cidade.  O final era marcante.  O vídeo durava mais ou menos como um filme.   
Quando acenderam as luzes, todos aplaudiram.  Solange que tinha raízes negras, disse que era impressionante a imagem do velho falando, com essa cara cheia de rugas da idade, a mão que ia afastando as moscas de sua cara, a amargura de ver seu mundo aos poucos ruindo.
Creio que devias, se me permite a sugestão, deixe ao meu cargo, falarei com a diretora de Vogue que está ligada ao Metropolitan, quem sabe não conseguimos apresentar lá primeiro, num evento, porque não acrescentando o contra ponto, de ricos, uma coisa beneficente.  Depois mandaria para todos os festivais de reportagens.
Ele aproveitou para sugerir a Solange, porque não montavam uma empresa de representação de artistas, não só de modelos, mas de jovens que começavam uma carreira.  Tinham espaço ali no studio para oferecerem a pessoas que queriam fazer vídeo, material para montagem.    Jules, foi quem mais gostou da ideia.
No curso que estava fazendo na universidade, a maioria reclamava disto, não tinha dinheiro, nem local para depois poder montar o trabalho que tinham feito.
Podíamos experimentar justamente com a faculdade do Jules, colocando cartazes, oferecendo espaço, junto com representação.   Para ti, seria como abrir um leque, junto a todos esses festivais não só de reportagem, mas de curta-metragem.
Semanas depois, já tinham uma data para a apresentação num evento no
Museu Metropolitan.  
Jules avisou os avôs, que seria seu primeiro trabalho como montador de vídeos, se não queriam vir visita-los.    Avisaram que comprariam os bilhetes de avião, que eles fizessem uma reserva de hotel, por perto da casa de Jasper.
Mas um dos vizinhos, comentou com eles no elevador, que estaria fora alguns meses, seria o ideal.  Foram ver o apartamento, tinha como o deles, dois quartos, era extremamente moderno, mas confortável.   O alugaram por um mês.
Quando chegaram, estavam felizes por reencontra-los. Jules tinha mudado em muitas coisas, se vestia agora mais ou menos como o Jasper, mas só que gostava de camisetas estampadas.   Estava com uma cara mais de adulto.
Depois de descansarem, ele contou aos avôs, a tia Joanne, tudo que tinha feito esses meses, a faculdade, suas dificuldades em acompanhar, embora falasse um inglês perfeito, mas claro, a maneira local de falar e a gíria do pessoal de arte, a princípio não dominava.   Mas agora inclusive tinha alguns amigos.  O trabalho que tinha feito primeiro sozinho, depois junto com seu pai, tinha sido uma experiencia fantástica.
Primeiro porque Jasper era aberto a aceitar sugestões, ao mesmo tempo que explicava suas ideias claramente.
Sua avó, Tia Joanne, saíram no dia seguinte acompanhadas de Solange para comprarem roupas para a noite do Metropolitan.
Foi quando Paul, aproveitou para conversar com Jasper.  Sentaram-se os dois no escritório que tinha no Studio, contou tudo que tinha descoberto.
Realmente ele não era filho dos velhos, tampouco seu neto.  O velho já tinha morrido, mas a senhora a troca de dinheiro, concordou em falar.  O velho se fazia de guia de pessoas que escapavam de Alemanha de Leste, durante a época do muro.  Descobriu que muitas traziam alguma coisa de dinheiro.  Quando atravessavam alguma floresta, aproveitava para roubar essa gente.    Numa das últimas vezes que se fazia de guia, havia um grupo de poloneses, um deles um músico, com os cabelos como o teu, tudo que levava, era um violino, um garoto, algumas vezes pela mão, outras amarado nas suas costas.   Paravam sempre num convento a beira de um lago, as irmãs deste convento os abrigava na última noite, antes de atravessarem uma floresta. Fazia muito frio.   Como nevava, ninguém percebeu um grupo de policiais que chegavam vestidos de brancos, não se os notava no meio da neve.  Começaram a disparar sem pensar em objetivos, a ordem que tinham era de eliminarem todos.   O velho te viu no meio disto tudo parado, não teve conversa, te arrastou para um lugar, ficaram ali abrigados, viram como matavam todos, exceto uma freira.  A ela lhe deram dinheiro.
Ninguém tinha visto o velho, nem o garoto.  Assim que se foram, ele voltou ao convento, aonde a falsa irmã, não só recolhia joias, ou relógios dos que estavam ali, como alguma coisa de dinheiro.  A matou, ficando com tudo para ele. Te arrastou para França, dizendo a todo mundo que eras seu neto, não tinhas documento nenhum, ele tampouco procurou, tudo que fez, foi colocar fogo no convento, para que todos fossem queimados.  Agora eles tinham um neto ou um filho, que cuidasse deles quando ficasse velho.
Segundo ela, eras inteligente, rebelde, o velho te castigava sempre, nesse ponto ela dizia que o velho tinha sido soldado do exército alemão, que era muito sádico, a um ponto de te marcar com uma correia, depois colocar sal grosso em cima.
Ele não respondeu, simplesmente, levantou a camisa, mostrando suas costas para Paul.
Caramba, foi tudo o que ele pode dizer.
Então não há maneira de descobrir quem eu sou?
A partir daí, teríamos que conseguir através de ADN, se alguém te procurou a partir dessa época, embora, como os documentos foram todos queimados, seria muito complicado.  Tudo o que temos é o teu apelido. Porque Köning, não é o sobrenome dos velhos.   Ela diz que quando foram te registrar, te perguntaram qual o teu nome, respondeste prontamente, Jasper Köning.  Terei que procurar a partir daí, não creio que o sobrenome Köning seja polonês.  Creio mesmo que é Alemão, de alguém que ficou preso na Alemanha de Leste, é tentava escapar.  Terei que procurar por alguém que fosse violonista.  Mas com o tempo quem sabe descobrimos.
Quero te agradecer Paul, por todo esse trabalho.
Nada disso, estas movimentando minha vida de aposentado, eu sempre gostei de buscar provas.  Quando era advogado, analisava cada uma para saber se era verdade ou não.
Depois tem o fato, que esse encontro teu com o Jules, foi fantástico, veja em que este garoto se transformou, num homem com ideias, seguro de si mesmo. Eu é que estou agradecido.   Acredito mesmo que o protegíamos demais.  Agora vejo meu neto feliz.
Nessa noite Jasper teve um pesadelo, se via no meio da neve, perto de um lago, montanhas ao fundo, uma freira balançando uma lanterna.  Em sua cabeça, o que está fazendo essa louca no meio de tanta neve. Depois disparos.  Se sentou na cama, sem querer a conversa com o Paul, o fazia agora recordar instantes de sua primeira infância.  Era isso que tinha acontecido.
Não adiantava querer descobrir quem era essa freira, porque pelo que tinha contado, o tal suposto avô a tinha matado para levar o dinheiro.
Se lembrou como num relâmpago, que o velho trazia junto o violino.  Que o tinha sempre guardado, no celeiro, embaixo de um monte de feno, havia um esconderijo.
Contou isso ao Paul, este imediatamente fez um contato com um amigo da polícia local, para ver o que descobria.
Mas depois com toda a confusão da apresentação no Metropolitan Museum, se esqueceu desses detalhes.  As senhoras tinham conseguido roupas como gostavam as americanas, mas claro como francesas, preferiram que fossem discretas.
Quando chegaram, foram cumprimentados por todos da Vogue, inclusive a diretora que foi super simpática.  Num dado momento, disse ao Jules, que queria fazer uma matéria com ele, sobre o que estava fazendo.
A plateia era extremamente eclética.  Jasper imaginava que se ia chocar com o conteúdo dos vídeos.  Tinha resolvido passar somente o da Africa, por causa do tempo.
O silencio durante todo o tempo era impressionante, se houvesse moscas por ali, podia se escutar o bater de suas asas.  Quando terminou, aplaudiram de pé.
Chamaram Jasper, mas ele arrastou seu filho com ele.   Disse que todo o tempo, com tanto material, seu problema era a montagem.  Esta tinha sido executada pelo seu filho, discutimos como montar, minha ideia inicial, como fui mudando ao longo do tempo que filmava.  Mas a ideia final tinha sido somente de Jules, aproveitando o que tinha feito considerando o final de sua viagem.
De novo aplausos.  Depois um largo coquetel, desta vez ele não podia escapar, pois estavam seus convidados ali. Tia Joanne, fez um comentário, fiquei impressionada com a plasticidade de teu vídeo.   A ideia da entrevista do velho, acabar em branco e negro, a última frase dele, estão rolando na minha cabeça. Quando fores fazer uma próxima viagem, quero me candidatar para ir junto.
Foram entrevistados os dois, mas ele juntou com ele toda sua equipe, preferia estar junto aos seus para falar.
Viu que a Solange falava com algumas figuras, muito alternativas por sinal.  Depois venho lhe dizer, não te disse, já temos distribuidores, convites para dois festivais. Apresentaremos as duas fora de competição no Sundance, outra num festival em San Francisco, pela Europa, temos que esperar fechar detalhes dos convites.
Um dos convidados, um ator espanhol, se aproximou e lhe perguntou se conhecia o problema do povo Saharaui. 
 Disse que não conhecia nada, mas que se informaria a respeito.
Ok, tenho muito material, aproveito, te mando.
Lhe deu um cartão, embora lhe dissesse que no momento estava preparando um outro projeto.  Não queria assumir nenhum compromisso, sem falar antes com Jules.
Depois foram comemorar, somente a família, estavam todos contentes.  No meio da velada, Paul recebeu uma chamada, se levantou, saindo do restaurante, dizendo que não conseguia ouvir pois tinha muito ruído.
Não disse nada quando voltou.
Somente no dia seguinte quando todos tomavam café, foi que falou.   Que realmente, apesar que hoje pertenciam a outras pessoas, permitiram que a policia vistoriasse o local.  Encontraram objetos, passaportes, documentos, além do violino de seu pai.
Ficaram de mandar uma cópia dos documentos.  Mas não encontraram nenhum com o nome de seu pai, ou sobrenome.
Esse velho era um filho da puta, se tem esses documentos, sinal que deve ter matado essas pessoas.
Depois Jules, foi fazer passeios pela cidade com os avôs, a tia Joanne, foi visitar o MoMA Museum, pois nem todos gostavam de perder horas vendo obras de arte.
Diria mais tarde, que tudo o que tinha visto, a fazia mudar de concepção com respeito a arte americana.
Não lhe interessava muito os pintores europeus, mas sim os americanos, os contemporâneos.
Quando comentou isso com a Solange, esta conhecia muitos artistas, saiu com ela para visitar vários studios.
A viagem estava sendo produtiva.  Antes de ir embora, Paul, perguntou ao neto se queria que ele adiantasse a herança de sua mãe, pois no ano seguinte faria 21 anos.
Não necessito de nada, meu pai, me ajuda, inclusive me dá um salário.
Agora como vamos formar uma nova sociedade, terei inclusive um emprego.
Depois que partiram, sentaram-se os quatro Jasper, Jules, Solange, Jeff, para discutir qual o próximo passo.
Teriam uma agenda apertada, pois apresentar os vídeos, nesse tipo de evento, necessitava de se perder tempo com entrevistas, comparecer as apresentações, etc.
Já tinha recebido toda a documentação sobre o povo Saharaui, mas sabiam que o próprio ator, inclusive tinha feito um documentário.
Os cartazes, tinham feito surgir vários candidatos, a ocupar uma parte do studio, bem como a parte de edição.   Procuraram informação, Solange disse que conhecia uma senhora, que tinha sido montadora de filmes, hoje estava aposentada.  Era uma pessoa fantástica, uma mulher alta, loira, mas hoje cabelos cinzas pela mistura dos branco com o loiro.  Olhos azuis profundos.  
Helga Durot, disse que tinha além dos filmes, tentado se modernizar, feito uma série de edição de vídeos, principalmente de cantores, tinha trabalhado um tempo na universidade.   Mas que a maioria dos alunos, eram muito ególatras, ela já tinha aguentado suficientemente diretores de cinema que pensavam que só existiam eles, que eram únicos.  Vejam aonde estão hoje, a maioria desapareceu.
Acabou aceitando participar com eles, ao mesmo tempo ajudar na seleção dos projetos.  Nisso ela foi crucial.   Analisava cada ideia a exaustão.   Jules dizia que era enriquecedor ao mesmo tempo difícil acompanhar a cabeça dela.
Um dia conversando com ela, Jasper contou sua história. 
Puxa, passei pelo mesmo. Na vila de meus pais, não sobrou nada, durante a guerra, minha mãe conheceu um soldado americano, se apaixonaram, veio para cá.  Não se lembrava com o tempo nada com respeito ao seu passado.  Borrou completamente tudo, quando lhe perguntava sobre essa parte do seu passado, mudava de assunto.
Um dia meu pai, me contou que a tinha encontrado, sentada em cima de um monte de escombros de uma casa.  Só ela tinha se salvado, pois tinha saído para ver se conseguia pão, para a família.  A família estava toda sepultada, morta.
A maioria depois da guerra, fazia um esforço supremo, para se esquecer do que tinha passado, fome, medo, desesperança.  Para poder seguir em frente.  Então tinha deixado de lhe fazer pergunta.   Alguns anos antes de morrer, a viu vendo um documentário, justamente sobre essa região.  Ficou como em choque vários dias.   Depois sem que nada lhe perguntasse, começou a contar tudo, o que tinham sofrido durante a guerra, a continua fuga de casa em casa, pois já não tinham lugar, a última aonde tinha perdido todos, era de uma família judia, se esconderam ali, pois os Aliados tinham intensificado os bombardeios.  Perdi todo mundo, embora muitos não eram da minha família, mas estávamos juntos para poder sobreviver. Quando teu pai me encontrou, estava a dois dias sem comer.   Me ofereceu chocolate, que devorei como um animal, cuidou de mim todos esses anos.
Aguentou mau humores, os dias que tinha pesadelo, as dúvidas de ter filhos, com medo que acabassem como ela.
Em seguida, com os anos, começou um processo, em que somente se lembrava disso, do passado. Tinha ataques de pânicos, agressividade, quando comia, fazia como um animal, que está morto de fome.  Acabou se suicidando.  Levei muito tempo para entender.  O que uma guerra pode fazer com uma pessoa.   Podemos sobreviver, mas as sequelas estão aí.
Com ela junto a seleção dos projetos foi mais objetiva.  Primeiro sem ver o projeto, conversávamos com a pessoa.  Escutávamos, o que queria, seus planos, só então se via o vídeo.  As vezes o que a pessoa dizia, não tinha nada a ver com o vídeo. Eram superficiais, sem profundidade.  Acabamos ficando com três pessoas, um negro vindo do Alabama, John.   Outro um descendente de japoneses, que tinham estado presos em campos de concentração americanos.   O terceiro era um vietnamita, que a família tinha conseguido escapar, este o projeto era a perda de identidade.
Montamos três salas de edição, primeiro todos fizeram aulas com ela, que os obrigava a falar de si mesmo.   Na verdade as vídeos reportagens, normalmente parte de suas próprias vivencias, ao contrário de um filme.  Este tem um roteiro, uma ideia central, textos que não podem ser perdidos, muitos personagens.
Tanto para Jasper como Jules, mesmo Jeff que se juntou aos cursos de Helga, tudo era enriquecedor.  Começaram a desenvolver projetos, primeiro no papel, para depois pensarem em colocar em execução.
Jasper, estava sempre buscando histórias desse desencontro de gerações, o confronto do passado com o presente.  Queria falar de uma coisa, que era o confronto, dos anos que estiveram atrás do muro, a Europa de Este, depois a visão de liberdade.  Andou falando com pessoas da Polônia, Alemanha, Lituânia, todos esses países que tinham vivido como que apartados do mundo. Conseguiu um guia, um professor de Universidade, que estudava justamente isso.  Fizeram juntos uma viagem que durou mais ou menos dois meses.  Jules como não queria se afastar do pai, fazia o contraponto, filmava, entrevistava os jovens que não tinham vivido nada disso, mas que em casa, se enfrentavam aos pais, apegados a esse passado, na verdade muito recente.
Paul se encontrou com eles, como falava também um perfeito Alemão, os acompanhou.    Fazia uma coisa, buscar uma referência para o nome Köning, que pudesse estar ligado a Jasper.
A maioria das pessoas, não gostavam de falar, nem lembrar dessa história, tudo que queriam era possuir tudo o que tinha a Alemanha que tinha vivido em liberdade, já a Polônia não, alguns se sentiam no meio de uma ultradireita versus socialismo.
Tudo era mais lento nessa pesquisa, talvez por ser um fato atual, que ainda estava latente nessa parte do mundo.
Tinham tentado conseguir uma autorização para verem a parte de Rússia, aonde estavam os Gulag, mesmo Sibéria.  Esta parte ficou para o final. Também foi a mais impressionante.  Hoje existiam cidades nesses locais.   Muitos se negaram a voltar a pseudo civilização.  Tinham sofrido o suficiente, formado famílias, filhos, mal viviam, mas pelo menos já não eram importunados.
O que interessava na verdade ao Jasper, era o ser humano, que cada um contasse sua história, mesmo que hoje em dia, isso realmente não passasse de uma história, que não seria estudada nas escolas, universidades.   Poucos eram os escritores que ousavam falar no assunto.
Nesses meses de viagem, Helga junto com Solange, trabalharam lado a lado, com os estudantes, seus projetos.  Como no caso de John, foram com ele, a equipe toda, filmar justo o local de aonde tinha saído.   John entrevistou casa por casa, com os que quiseram falar, como era viver ali, na beira de um pântano, sem muitos recursos, aonde o emprego, aparecia e desaparecia, como um toque de mágica.  Em algumas casas, quem colocava o dinheiro para a família, eram as mulheres, que lavavam, passavam roupas, a maioria empregadas domésticas, sem muita possibilidade de estudar.  Uma das entrevistas importantes, foi justamente da avó do John, que tinha feito tudo isso, mas exigia que seu neto estudasse, não lhe dava trégua, nada de distrações como jogar bola, ou beisebol, tinha que estudar, depois ele ensinou a sua avó a ler e escrever.   Como filmaram a senhora, sentada embaixo de uma árvore nos fundos de sua casa, as mesmas tinham um tom sépia.  Encarava a câmera como se fosse devora-la.   Ansiava ainda com sua idade, apreender mais, tudo o que não tinha podido estudar.  Conseguia falar, da trajetória da família, que tinha sido uma história contada boca a boca, nas noites em volta das fogueiras.   Por isso ajudava seu neto, queria que ele contasse a história do povo da vila. Que de escravos, continuavam marginados pela sociedade.     Os brancos, se negavam a fazer qualquer comentário, a única que deu uma entrevista, foi a velha professora que tinha ensinado tudo ao John e incentivado para que conseguisse uma bolsa de estudos da universidade.  Normalmente essas bolsas eram dedicadas aos filhos de brancos, mas ele tinha conseguido.
Já Barry, que era um nome que ele próprio tinha adotado, porque normalmente pronunciavam mal seu nome original.  Tudo partia que tinha sido criado pelo seu avô, já muito velho, tinha passado sua juventude totalmente num campo de concentração no meio do deserto, quando finalmente a guerra acabou tinha uma mágoa incrível, pois tinha nascido americano. Com muito custo conseguiu recuperar as propriedades familiares, mas mesmo assim tocar o barco para frente foi difícil. Seus filhos ao contrário, não viveram nada disso, todos foram a universidade, se casaram com pessoas de outras raça.  Misturaram a família, isso para ele, era difícil de digerir.
Os apresentou a pessoas como ele, muitos não queriam falar, com medo do que lhes podia acontecer.  Desta vez a figura chave, foi uma senhora que não só não perdoava os americanos, como os próprios japoneses.   Era uma segunda geração nos Estados Unidos, seu marido era americano.  Ele foi para a guerra, quando voltou ela tinha desaparecido. Com muito custo conseguiu localiza-la.  Ela tinha sido uma rebelde no campo que estava. Inclusive tinha estado presa.   Contava como tinha sido voltar a uma falsa normalidade, como se nada tivesse acontecido.  Seus dois filhos, filho de pai americano, queriam logo esquecer tudo, mas foi difícil.  Ela acabou de divorciando, tinha voltado a se casar, com um companheiro do campo de concentração.  Os filhos nunca aceitaram.   Em sua casa se negava falar inglês, somente falava japonês.   Apesar da idade, continuava uma rebelde.  O marido tinha mais humor, já dizia que no campo, ela era o comandante de todos que se rebelavam.  Não se dobrava nunca a qualquer poder. Tinham feito as mesmas perguntas aos dois, os pontos de vistas eram na maioria divergentes. Mas numa única coisa concordavam.  Não havia necessidade desses campos, todos na verdade se sentiam americanos.
Já os jovens, e a geração intermediaria, se negavam a falar do assunto, visto não saberem ou não lhes interessar.
Do Francis, tinha sido quase similar, mas eram de uma emigração mais recente, visto terem vindo juntos a maioria com soldados americanos.   Seu pai, era americano, mas do interior do país.   Sua família não aceitou sua esposa, filhos, tiveram que vir para uma cidade grande, no bairro que viviam, havia gangs de chineses, vietnamitas, de todas as raças de emigrantes asiáticos.  Nunca se entendiam entre si.  Os jovens não se encontravam não conseguiam se encaixar nessa sociedade galopante.  Seus pais tinham sido contra ele estudar arte.   Não sabiam de aonde ele podia ter herdado esse gen.   Mas tinha perseverado, tinha acabado em New York, em uma revista, mas nunca contente com o resultado.  Foi difícil gravar, pois tiveram que fazer contato com cada gang, famílias destas, foram ajudados por um psicólogo chinês, que era da polícia, conseguia se relacionar com as gangs por ter estudado cada uma.    Teriam que tomar cuidado, pois senão o vídeo, acabaria como um filme de guerras de gangs.
Novamente foram duas pessoas chaves, para tudo. O avô de Francis que tinha chegado depois que a filha, não se encaixou facilmente, buscou trabalho no que sabia, pescar, acabou com um frota pesqueira, com os barcos dos americanos, contratava somente pessoas como ele, vietnamitas, a bordo só falavam sua língua. Tinham sempre problemas com a polícia.  Não respeitavam a autoridade americana.  Comentava que a dificuldade estava, que tinham trabalhado lado a lado com os americanos durante a guerra, mas que depois tinham esquecido completamente deles, ignorando, talvez por vergonha de terem perdido essa guerra.  Falava abertamente nisso.      Nunca tinham sido vencedores, sangraram nosso país completamente, sendo culpados de toda confusão final.
Depois de muitos intentos, Paul estava desanimado, não encontrava nenhuma referência a nenhum Köning que tivesse sido violinista. Ainda tentou pensando que fosse a mãe do Jasper, a que era músico, nada.   Já estava desistindo, quando em Varsóvia, procurou por músicos que tinham tocado justamente nessa época, aparecia um músico,  Jasper Köning, que tinha desaparecido depois de um recital, mas não era polonês, sim russo.  Com muito custo, auxiliado pela embaixada, conseguiu informação.   Realmente seu último concerto tinha sido em Varsóvia, aonde estava acompanhado de sua mulher, mas não falava em qualquer criança.  Sua mulher tinha permanecido com a orquestra ainda estava viva.   Ao falar com ela, comentou que seu matrimonio era de fachada, para que ele pudesse tocar. A criança que Paul devia estar mencionando, era filho dele, com uma outra companheira, de cabelos vermelhos como raios de sol, isso tinha sido sua menção.  Tinha morrido um pouco antes da ida a Varsóvia.     Jasper Köning, ansiava por se liberar da mordaça, tocar outro tipo de música, queria crescer como tal.   Por isso fugiu com o garoto.
Respondendo a uma pergunta de Paul, disse que o garoto tinha o mesmo nome dele, que também tinha os cabelos vermelhos.
Nunca mais soube de nenhum dos dois.
Paul lhe mandou uma foto de Jasper junto com Jules. Ela ao princípio confundiu, pensou que Jasper filho, era o pai.  Quando disse que a foto era recente. Tudo que comentou foi que era impressionante como se parecia com o pai.
Contou tudo a Jasper numa larga conversa, justamente antes dele voltar a NYC.
Falou com a senhora, ela ficou impressionada, como até na voz parecia com o pai.
Tudo que disse ao final, foi seja feliz meu filho.   Ele tentou de tudo para ser feliz.
Não entendiam bem por que tinham esse casamento tipo fachada?
Ela, explicou que ele na verdade era de uma família judia, o Köning, era dela, por isso se casaram, ele assumiu o sobrenome dela.
Jasper ficou mais relaxado, mas passou a ter sonhos, lembrando de detalhes de sua infância.   Começou por isso ir a um psicólogo, pois queria entender por que somente agora passava a se lembrar disso.
Jules, cada vez mais acompanhava o pai.  Estavam trabalhando a montagem do último vídeo, quando Paul, começou a se sentir mal.  Mal conseguiram chegar ao hospital, tinha tido, talvez pela pressão um enfarte dos mais complicados.  Acabou falecendo dias depois.
Jules, ficou pasmo, agora que estavam juntos, eram acima de tudo amigos.  Acreditava que os fatos, a pressão de saber que era, tinham podido com ele.
Os jornais, revistas fizeram sendas homenagem a Jasper Köning.  Mas a mais emotiva, tinha sido a de Jules no enterro. 
Encontrei um pai, um amigo, que me recebeu de braços abertos, quando apareci em sua vida, compartiu comigo suas paixões pelo trabalho, seguirei com o que ele começou.  Agora tinha a herança de sua mãe, a do pai.  Conversou longamente com Solange, continuaram o trabalho que estavam fazendo, uma agência que lançava novos talentos.
Helga Durot, ficou abalada, tenho eu a idade de pendurar as botas, mas Jasper, me fez retornar ao campo de batalha, seguiremos em frente.
Os três de quem tinha sido mentora, eram agora conhecidos, mas mesmo assim, voltavam sempre para discutir os novos projetos.  Tinha aceitado outros três estudantes.   
Jules montou a reportagem que o pai tinha feito, junto com a sua. Foi como uma homenagem.  Era um tema que a Europa queria esquecer, mas que aceitou de braços abertos.  Ganhou prêmios em vários festivais.   Agora faziam o seguinte, depois de percorrer os festivais, colocavam para o público, em seu site.  Divulgavam através de Youtube, como de outros meios.
Jules era honesto, nunca levava a glória sozinho.  Formava com Solange uma equipe.
Levou muitos anos para encontrar uma pessoa para compartir sua vida, mas isso já é para uma história futura.
  




 




 









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