Não sabia quando tinham começado esses sonhos ou pesadelos, se
lembrava vagamente de recortes dos mesmos, ao longo dos anos, mas as figuras
que sempre apareciam eram as mesmas, inclusive com um detalhe, cada vez mais se
parecia a um dos homens, o outro ele já conseguia desenhar com detalhes.
Era um excelente aluno em todos os cursos, mas amava pintar,
desenhar, coisa que para seu pai não fazia muita graça. Queria que fosse como ele um advogado de
respeito.
Seu avô tinha sido criado por um inglês, herói da primeira
guerra mundial. Era uma história que passava de geração em geração. Quando viu uma fotografia do mesmo, riu, seu
pai perguntou por quê?
Foi até seu quarto, disse que sonhava com ele a muito tempo, contou
do sonho, seu pai o levou a um psicólogo, cada vez que sonhava ou tinha como um
pesadelo, ia ao psicólogo para conversar sobre o mesmo.
Este o aconselhou a escrever detalhadamente tudo que se
lembrava, pois as vezes eram conversas entre duas pessoas. Umas eram confusas, outras muito nítidas.
Assim fez, se despertava, escrevia como tinha sonhado a cena.
Inclusive, quando eram conversas intimas.
Uma delas, o homem que sabia que era seu bisavô, cobrava do
outro ter coragem de assumir o romance entre eles. O outro lhe chamava de louco, nos lincharão,
estas disposto que tua família te coloque porta afora de tua casa, que te corte
o grifo de dinheiro, vamos viver de que, se minha família sequer desconfia,
posso me dar por morto para ela.
Um dos sonhos recorrentes, eram que estavam em dois aviões
diferentes, devia ser a primeira guerra mundial, pois ele foi pesquisar sobre
esses aviões. Depois de algum tempo era
capaz de desenhar os mesmos a perfeição, podia sentir a sensação de liberdade
que ambos os homens sentiam, era como que todos seus problemas terminassem.
Depois de cada batalha, se sentavam a conversar sobre o que
tinham sentido, eles na verdade nunca viam a morte que provocavam.
As brigas entre os dois quando estavam sozinhos, que tinham
que se separar depois de fazerem sexo eram impressionantes, os dois eram
diferentes em tudo, o que ele sabia que representava era moreno como ele, nariz
de judeu, o outro era loiro, alto, com o corpo cheios de sardas, isso ele sabia
com detalhes, pois nos sonhos, era como se visse pelos olhos do outro, sentia a
sensação dele beijando a pele do outro.
Quando tinha 16 anos, um dia sonhou que penetrava o outro,
teve um orgasmo, ficou confuso, o sonho era erótico demais para escrever tudo,
sabia que seu pai, volta e meia dava uma olhada no que escrevia, era muito
controlador.
Falou com o psicólogo, tinha medo de que o mesmo se repetisse
continuamente. Falava muito com o
psicólogo do controle que seu pai fazia em tudo que ele escrevia, passou fazer
outro diário, disse ao pai que os sonhos tinham parado. Tinha que escolher aonde queria estudar, com
as boas notas que tinha em todas as matérias seria fácil conseguir uma bolsa de
estudos, inclusive descobriu que havia um fideicomisso, hereditário desde seu
bisavô, até agora, seu pai tinha estudado com ela. Nunca poderiam tocar nesse
dinheiro, a não ser que fosse para estudos.
Resolveu estudar em Oxford, se inscreveu para várias
entrevistas.
O pai não queria que ele fosse, sim que ele estudasse direito
na Sorbonne ou na Escola que estudavam todos os políticos do pais.
Se negou rotundamente, queria experimentar estar mais livre,
seu pai fez como sempre todas as chantagens possíveis, quem lhe defendeu nisso,
foi para surpresa de todos, seu avô.
Deixe esse menino viver a vida, o controlas como se estivesse
em cima de algodão.
O voto decisivo foi o da sua mãe, foi com ela para a
entrevistas. Passou em todas, podia
estudar o que quisesse, se expressava muito bem inglês.
Ela providenciou alojamento para ele, não queria estar dentro
da universidade, acabaram achando um pequeno apartamento em cima de um
restaurante de uma senhora, que lhe forneceria comida. Era pequeno, mas estava pela primeira vez
sozinho, pois em casa repartia quarto com seu irmão menor. Esse estava contente, tinha o quarto agora
só para ele.
Falou antes de partir como psicólogo, que lhe recomendou um
que tinha conhecido em um simpósio.
Seu pai foi leva-lo no aeroporto, antes ele teve uma conversa
com seu avô, este falou muito do homem que tinha sido como um pai para
ele. Pude estudar, ir em frente por
causa dele, caiu na vila aonde estava minha mãe, de um avião bombardeado, ficou
preso numa árvore, ela lhe ajudou, meu pai tinha morrido durante a guerra, ela
o escondeu até terminar tudo, quando ele esteve bem, foi levado para
Inglaterra, lá fez alguma coisa que sem querer provocou que voltasse para
cá. Minha mãe estava na miséria, ele
cuidou de todos, comprou esse apartamento, nos trouxe para cá, se casou com ela
para termos um nome diferente, nos colocou na escola, criou esse fideicomisso,
para todos fazerem universidade. Todos
fizemos, tivemos oportunidade que muita gente não teve, na segunda guerra,
fomos todos para Inglaterra, nos colocou nos melhores colégios de lá. Mas nessa época estava sempre triste,
escutava as noticias dos bombardeios de avião, falava muito nisso, que os que
estão dentro ao contrário dos soldados rasos, que vem tudo que acontece, nunca
sabem o que acontece depois com as vítimas, a maioria não sobrevivem. Quando começaram os bombardeios em Londres,
nos levou para o interior, aonde se colocou a ajudar todos os jovens que
precisavam, que fugiam de Londres. Era
muito fechado nele mesmo, dizia que tinha amado só uma vez na vida, que tinha
sido uma tragedia. As vezes o via,
sentado em alguma praça, chorando muito. Mas nunca dizia por que, alegava que
eram as notícias que o chateavam. Mal
acabou a guerra, voltamos para cá, ele pensou em ir para Israel, chegou a ficar
um tempo lá, mas desistiu, disse que não tinha estomago para ver outras
guerras.
Viveu muito, morreu com 99 anos, apesar de não sermos filho
dele, eres muito parecido com ele, lhe passou duas fotos, uma dele vestido como
o via em sonho, outra com o homem que também aparecia em sonhos, no último dia
lhe entregou dois diários, aqui encontraras a história dele, não mostre para
teu pai, que não entende dessas coisas, nem está aberto para isso.
Levou com ele todos os desenhos que tinha. Seu pai no carro, perguntou como tinha sido
a conversa com seu avô, não lhe dê muita atenção, pois esta velho demais. Olhou o pai, tinha se casado muito tarde,
tinha os cabelos brancos, seu avô ao contrário, ainda tinha os bigodes
completamente negros, já tinha 94 anos, mas de uma lucidez aguda, conseguia se
lembrar de tudo. Dizia ele que fazia
exercícios mentais.
Mal se instalou começou a ler o diário do seu bisavô, contava
primeiro de aonde tinha saído, sua mãe era a única filha de uma família mais ou
menos de classe, mas completamente arruinada, a casaram com 16 anos com um
homem de 60 anos, que queria um herdeiro para sua fortuna, era um judeu
rico. Ela era muito bonita, encontrou no
diário uma foto dela, daquelas em sépia, realmente para os padrões da época era
linda. A exibia na alta sociedade de
Londres, além da grande propriedade que ele tinha. Quando ela ficou gravida, odiava isso, mas
tinha sido comprada para isso, reproduzir.
Quando ele nasceu, viveu entregue as babas, que eram judias, falavam com
ele em hebreu. Foi sua primeira língua.
A mãe vivia desfrutando da alta sociedade, seu sonho era ter um título,
como tinham as amigas, quando o marido morreu, uma ano depois se casou com um
conde, que precisava de uma tapadeira, era pédofilo, rico como ela, possuía uma
propriedade com uma linda mansão ao lado das terras que ela tinha herdado, seus
irmão pensaram que ela ia deixar que administrassem, mas nada mais longe da
verdade, odiava a família por a ter vendido ao velho, mas tinha aprendido com o
marido, a administrar tudo. Quando
percebeu que o conde rondava seu filho, o colocou num colégio interno, aonde
ficou basicamente os primeiros anos de estudos, um dia um moço das cavalariças,
matou o conde por ter abusado dele, ser apontado por todos como o garoto do
Conde. O atirou desde o andar aonde
estava os quartos dos empregados, pelo vão da escadaria.
Ficou viúva de novo, trouxe o filho para casa, o colocando
nas melhores escolas, foi quando conheceu o homem que seria o amor de sua vida,
um Barão alemão, que vivia na Inglaterra, era aparentado com a alta nobreza do
pais. Ele ficou louco por ela, apesar
da fama que tinha de viúva negra, pelos dois casamentos anteriores. Não só se casou com ela, como adotou seu
filho, visto não ter nenhum, viveram bem, ela administrava tudo, além de ser da
alta sociedade de Londres. Ele estudou
nos melhores colégios, agora ostentado um título. Seu novo pai, o queria como se realmente
fosse seu filho, isso provocava ciúmes de sua mãe.
Quando foi para Oxford, ficou contente, se livrava dele. Lá conheceu o amor de sua vida, tinham a
mesma idade, o outro se dedicava ao esporte, compartiam banheiro que ficava
entre os dois quartos. Um dia entrou o
outro tomava banho, o chamou para tomarem banho juntos, se sentia terrivelmente
atraído pelo outro. Faziam sexo no
banho, depois, nas noites que não tinham festa, o outro vinha dormir com ele,
mas voltava ao nascer do sol para seu quarto, para não pensarem que tinham
alguma coisa. Mas durante o dia,
raramente se encontravam, pois Hubert tinha uma vida dedicada ao esporte, ele
ao contrário, estudava os grandes filósofos, literatura. Eram o oposto em tudo.
Hubert, estava sempre cercado de garotas, loucas para casarem
com um Lord Rico, não estudavam na universidade, mas sim numa escola de
senhoritas. Mas depois de estar com
elas, dizia ao Joseph, contigo, quero ter o que não tenho com elas, se deixava
penetrar, como adorava.
Quando começou a primeira guerra, o pai adotivo do Joseph
morreu num atendado em Londres, porque era alemão. Os dois entraram para a aeronáutica, uma
coisa recente, aviões que aguentavam atravessar o canal da Mancha. Adoravam essa sensação de liberdade, de voar
como os pássaros, mas em terra firme a coisa era diferente Hubert, era como um
macho alfa, atraia todas as garotas, Joseph ficava de lado, não se sentia atraído
por elas.
Mas quando podia Hubert corria para seus braços, mas isso já
não era tudo que ele queria, sim uma relação, para a época isso era impossível,
mas ele não entendia.
Um dia ameaçou Hubert que queria estar mais tempo com ele,
senão ia contar para todo mundo o que acontecia quando estavam juntos. Hubert ficou uma fera, não gostou da ameaça,
lhe devolveu com outra, disse que ia contar para o capitão, que normalmente ele
não descarregava suas bombas, só o fazia quando já estavam voltando, as vezes
em cima do mar, ou num lugar que não tinha nada a não ser campo.
Na volta de uma missão, aonde tinha tentado antes de partir,
beijar Hubert a força, viu que este ficava por último, coisa rara nele, sempre
era o primeiro a soltar suas bombas e voltar, ficou de sobre aviso. Quando receberam ordens de voltar, Hubert
soltou suas bombas, ele como sempre por não querer matar inocentes, deixou para
soltar antes de cruzarem o mar outra vez, sabia que o outro estava atrás dele,
foi quando sentiu que estava sendo metralhado, mas não via avião nenhum, entendeu
então que era o amor de sua vida que o queria matar, soltou suas bombas em cima
de um pasto, tentou manobrar, mas o tinha colado atrás dele, escutou sua voz
pelo som, nunca ameaces alguém que é melhor do que tu. Sentiu uma rajada, que lhe cortou a asa
direita, sentiu que caia, escutou a risada do Hubert no ouvido. Por sorte conseguiu sair do avião, caiu em
cima de uma árvore muito alta, ficou ali preso, com as pernas quebradas, bem
como os braços, foi socorrido por uns campesinos franceses, o esconderam na
casa de uma moça viúva com dois filhos, o marido tinha morrido no avance
alemão.
Ali ficou até se recuperar, era impossível manter contato com
Inglaterra, apenas conseguiu avisar sua mãe que estava vivo.
Quando acabou a guerra, aprendia a andar de novo. Agradeceu muito a ela, bem como aos dois
filhos que tinham se encarinhado dele.
Voltou para Londres, descobriu que tinha sido dado como morto
num ataque aéreo. Tinha morrido sem pena nem gloria, só sua mãe sabia que ele
estava vivo. Teu querido amigo Hubert,
vive dizendo para todo mundo que não era de estranhar, que eras um covarde, que
não soltavas as bombas.
Quando tentou falar com ele, estava fora, visitando umas
propriedades da família, tinha se casado com uma rica herdeira.
Mas foi ao ministério da aeronáutica, contou toda a verdade,
que tinha tido seu avião derrubado pelo que pensava que era seu amigo. Quiseram colocar panos quentes, mas claro sua
mãe era aparentada com a família real.
Ele insistiu, quando Hubert voltou, deu de cara com ele, ficou
apavorado, quando foi chamado a depor num processo. Sem papas nas línguas, Joseph contou por que
ele tinha feito isso, o romance condenado dos dois, que ele se comportava como
macho alfa, mas na cama era uma donzela.
Isso ficou fora do processo, mas o escândalo estava feito, o Hubert foi
condenado a cinco anos de prisão. Nesse
meio tempo sua mãe morreu de um enfarte, ele se tornou herdeiro de tudo. Vendeu a maioria das propriedades, o titulo
não lhe interessava, transferiu o dinheiro para Suiça, voltou para França,
procurou as pessoas que o tinham ajudado.
Sua amiga dessa época, estava na miséria, se propôs a casar com ela, não
escondendo sua condição de homossexual.
Ajudou todos os outros que tinha cuidado dele, inclusive o médico, construindo
uma clínica para ele. Foi quando criou o
Fideicomisso, para que os seus filhos, pois tinha adotado os filhos da amiga,
bem como os filhos dos que tinham cuidado dele, quisessem ir à universidade.
Terminou seu curso na Sorbonne, se transformando em professor
da mesma. Comprou um belo apartamento
para a família, os queria como seus filhos.
Nunca escondeu o que tinha acontecido com ele.
Só voltava a Londres, por negócios, pagava uma família para
cuidar da mansão que era de sua mãe, agora sua.
Mas nunca mais se interessou em saber do Hubert, a magoa que tinha do
homem que pensava que o amava, que tinha tentado mata-lo, ainda por cima
faze-lo parecer um covarde era muita.
Nunca mais se apaixonou por ninguém, no último diário contava
algumas aventuras, que tinham com pessoas famosas da literatura, mas confessava
que não passava disso de uma aventura, amar nunca mais.
Sem querer, talvez porque agora sabia de tudo, deixou de ter
pesadelos, um dia saia de uma aula, deu de cara com um rapaz, ficou parado de
boca aberta, o outro também, institivamente estenderam as mãos. Sonho muito contigo, disse o outro, no que
foram conversar, descobriu que o outro era bisneto do Hubert. Sabia
mais ou menos da história, ficaram amigos, se sentiam atraídos um pelo outro,
mas nenhum dava um passo em frente.
Saiam as vezes pela noite para jantar, Dominic, confessava
que as garotas ficavam atrás dele, mas não lhe interessavam, esperava o homem
que aparecia em seus sonhos.
Lhe contou a historia dos dois, lhe deixou ler o diário de
seu Bisavô. Ah, agora entendo, muita
gente fala do tempo que esteve preso, mas nunca claramente o que fez para isso.
Por isso a família, deixou de frequentar a sociedade, se
transformando numa família rural, sem grandes pretensões, como seguem meu pai,
meus tios. São gente bruta, até mesmo
grosseiro, sou o primeiro a ir à universidade depois dessa história toda.
Quando foi a Paris, visitar o avô que estava mal, contou o
que tinha acontecido, ele só lhe disse que tivesse cuidado, pelo visto não são
gente de se confiar.
Esteve no enterro dele, perdia além de tudo um amigo, pois
era a pessoa que mais tinha ligação.
Quando voltou, sentiu que estava sendo seguido, conversando
com Dominic, este disse que tinha contado aos pais, que o tinha conhecido,
armaram uma grande confusão, como se tu fosses o culpado do que aconteceu com
eles, são velhos problemáticos.
Entendeu o que se passava, nunca tinham ido para a cama, nem
feito sexo, algo os impedia disso.
Nas férias voltou para casa, resolveu que não queria isso na
sua vida, transferiu seu curso para a École de Beaux Arts, seguiu sua vida, um
dia encontrou nas ruas Dominic. Estava
de férias em Paris, o levou ao seu studio, disse que em breve ia se casar, eram
suas férias antes de contrair matrimonio.
Sem querer acabaram na cama, ficaram como loucos um pelo outro.
Mas claro, tudo tem um preço, apareceu o pai dele, exigindo
que ele voltasse, para se casar, foi então que conheceu um outro Dominic, um
homem submisso a família, que tinha medo de perder o dinheiro que estes lhe
davam. Foi embora sem se despedir, ainda
pensou em fazer como seu bisavô, um escândalo.
Mas deixou passar, seguiu sua vida, começou a ficar famoso, tinha agora
dinheiro próprio, com exposições em toda a Europa, acabou indo para os Estados
Unidos, para se ver livre da família, se instalou em NYC, foi fazendo nome como
tinha feito antes, não dependia de ninguém.
Conheceu gente, se apaixonou, desapaixonou, viveu, quando já tinha quase
cinquenta anos, um dia fazia uma grande exposição, se encontrou de novo com o
Dominic, que apareceu para ver.
Foram tomar alguma bebida, este confessou que estava tratando
de negócios na América, seu casamento não tinha dado certo, não tinha filhos,
tinha se divorciado, me liberei da minha família, agora tenho meu próprio
negocio que comecei do zero.
O levou para sua casa de praia, em Fire Island, parecia que o
tempo não tinha passado com o que sentiam um com o outro, adorava nas noites de
lua fazer sexo com ele, beijando suas costas cheias de sardas.
Nunca mais se separaram, agora não tinham que ter a família
no meio para impedir nada.
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