lunes, 19 de septiembre de 2022

NOVA VIDA

 

                                      NOVA VIDA

 

Toshiro Grant Massaru, era da polícia de NYC, uma mistura de japonês, com uma mulata da Jamaica, tinha saído a família de sua mãe, pois era raro um japonês com quase 1,95 metros de altura, tinha dois filhos, um casal, eram gêmeos.   Viúvo, sua mulher era policial como ele, também uma mulata, mas descendente de Africanos.  Os meninos eram uma espécie rara, pois eram altos para sua idade, bem como tinham um aspecto impressionante como o pai, olhos rasgados negros, cabelos lisos negros também.

A um ano atrás sua mulher tinha morrido num tiroteio ao perseguir com seu parceiro de carro, uma gang no Bronx.

Toshiro era inspetor de polícia, a perda de sua mulher, a qual amava com loucura, o abalou muito, se dedicou mais ao trabalho, os meninos, cresciam como dois selvagens, ficavam mais ao cuidado de sua avô.  Estavam entrando na adolescência, a única coisa que os controlava era o irmão do Toshiro, que tinha uma academia de artes marciais, ali desafogava a família a agressividade.

Ele tinha pedido transferência para qualquer cidade pequena, aonde pudesse cuidar mais dos filhos.   Um dia foi chamado pelo comissário, com o qual tinha servido no seu começo na polícia.

Era inclusive padrinho dos garotos.

Lhe disse que havia uma vaga para chefe de polícia no Município de Brick, não era uma cidade muito grande, o velho chefe se aposentava, ia viver com sua única filha em Filadélfia, por isso deixaria o cargo.

Ele foi até lá com sua mãe, os garotos sentados atrás, sua mulher tinha dado um nome especial, que os dois odiavam, Yin/Yang, ele sempre dizia aos dois que quando fizessem 18 anos podiam mudar de nome, fazia com eles milhões de jogos, usando nome de duplas do cinema.

A eles não fazia graça nenhuma, lhes disse que estava na mãos deles, que ele aceitasse a vaga, como sempre fazia, se sentou com os dois, falou demoradamente sobre o assunto.

O grande problema, era que os dois tinham seu grupo de amigos, não queriam se mudar.

Quem mais falou com eles, foi sua avô, que quando dava um grito, os dois paravam para escutar.

Vocês, tem que pensar que seu pai está procurando o melhor para vocês, aqui, ele não pode dar tanta atenção, como poderia num lugar menor.  É hora que vocês se sacrifiquem por ele.

Iam no carro, aborrecidos, a única coisa que os parecia animar, era que na cidade tinha praia, podiam fazer surf, o que não acontecia em NYC.   Quando chegasse a hora de ir à universidade, poderiam optar por voltar a NYC.

Os dois eram muito modernos em termos de roupas, usavam o mesmo tipo de cabelos compridos, com brincos nas orelhas, o pai só não tinha permitido tatuagens, porque a mãe deles odiava isso.

Primeiro deram uma volta pela cidade, viram a praia, enquanto ele ia a delegacia, deixou sua mãe com os dois numa imobiliária.   Se vendem-se a casa da cidade, podiam comprar ali um lugar novo.   Vida nova, casa nova.

Foi a delegacia, quando entrou, todos os olhares foram para ele, pois era um tipo diferente, apresentou sua placa, pediu para falar com o chefe.

Este estava cochilando na sua sala, quando entrou.  Viu que os policiais tinham feito de propósito isso, para ver que o mesmo era velho, pensavam que era alguém que vinha falar sobre isso.

Toshiro que respeitava os mais velhos, como tinha sido educado, fechou a porta de mansinho, voltou ao balcão, fez cara feia, disse a policial que atendia, isso não se faz, é falta de educação, por favor vá avisar ao chefe, que o novo chefe está aqui, eu exijo respeito as pessoas mais velhas.   Ficou parado olhando a mulher que devia rondar por seus 45 anos.

Enquanto ela não se moveu, ele ficou olhando para ela de braços cruzados.

O chefe veio recebe-lo, o abraçou, pois se conheciam de um trabalho conjunto a muitos anos atrás, tinham ficado amigos.

O foi apresentando a todo mundo, alguns o olharam atravessado, mas isso ele já esperava, pois sempre acontecia isso, desde a academia de polícia, seu pai tinha sido policial, já falava que o olhavam diferente.  Apertou a mão de todo mundo.

Ele comentou que tinha deixado sua mãe, com os filhos numa imobiliária.

Talvez se você gostasse da minha casa, podia ficar com ela, está um pouco fora da cidade, mas num lugar perfeito, na estrada passa ônibus para a escola local.

Chamou sua mãe, que viu que estava irritada, ela odiava ser descriminada.  Parece que o dono da agência não a estava tratando como devia.

Terás aqui preconceito, mais do que em NYC, apesar de termos imigrantes, a população é um pouco racista.

Quando o carro de polícia parou, seguido pelo seu, parece que o dono da imobiliária mudou de ideia.

Ele chamou sua mãe, vamos ver a casa do Chefe, que vai deixa-la, disse que está na frente do mar, creio que vocês vão gostar.

Sua mãe que estava furiosa, foi no carro do chefe reclamando disso.

Mas se deslumbrou quando chegaram na casa, era mais isolada que as outras, devia ter sido uma cabana antigamente, mas que tinha sido ampliada com o passar dos anos.  No salão uma ampla janela, dava para a praia, os meninos saíram correndo para dar uma olhada.

A mãe foi examinando a casa, estava muito bem arrumada, ela adorou os móveis, o chefe disse que queria vender com tudo, pois ia viver na casa da filha, só levarei alguns objetos pessoais, as coisas da minha finada esposa, minha filhas já desapareceram com elas.  Contou que tinha cinco filhas todas mulheres, uma diferente da outra, com gênios, complicados.

As reuniões familiares são feitas abaixo de muita brigas por besteiras.

Viu que ele se dava bem com sua mãe.    Os meninos voltaram rindo, disseram que tinham conhecido dois garotos na praia que iam fazer surf.

Isso aqui no verão fica cheio de garotos acampados para fazerem surf, mas nunca dão trabalho, pois quando começam a montar as tendas, tenho sempre uma conversa com eles, sobre manter a praia limpa, eu mesmo mandei instalar lixeiras, justamente nessa parte.

Achas que consigo um emprego no hospital?

Sua mãe era enfermeira num dos melhores hospitais de NYC.

Claro que sim, podemos ir lá dar uma olhada, eu conheço bem o diretor do hospital.

Os meninos cada um já tinha escolhido um quarto, todos os dois tinham janelas para a praia.

A garagem tinha lugar para três carros, é melhor sempre guardar os carros, por causa do ar da praia.

Voltaram a cidade para almoçar, ele os levou para comer num restaurante de um português, foram bem atendidos, a comida era super.  De lá foram ao hospital, o chefe já tinha falado com o diretor.

Ela esperta como era, tinha levado um currículo, cheio de referências, tanto poderia trabalhar em urgências, tinha sido chefe de uma, como na salas de operações.   Ele ficou impressionado com seu curriculum.   Disse que precisava de uma nova chefe de enfermeiras para Urgências, pois a atual, se casava, mudando de cidade.

Deu uma volta com ela, pelo hospital, enquanto Toshiro falava com os meninos, foi dar uma olhada na escola, falou com o diretor, pois estavam no meio do curso, mas ele disse que os aceitaria, mas só tinha um problema, os colocaria em sala diferentes, não gostamos de irmãos na mesma sala.   Para eles pareceu ótimo, pois não gostavam de estudar juntos.

Deu a direção da escola deles, falou com o diretor de lá que ficou de mandar tudo sobre eles.

O melhor ali não teriam que usar uniforme, como na que estudavam.

Na parte de esporte os dois eram ótimos no basquete, bem como em artes marciais, ele disse que seu irmão trabalhava, num restaurante japonês, bem como tinha um, Dojo para artes marciais, quem sabe não queria vir para lá, afinal morava com eles,   

Falaria com o irmão, tinha falado com o chefe, primeiro alugariam sua casa, depois já se veria. Se vendem-se a casa o irmão poderia talvez arrumar um restaurante pequeno, além de ali ter sempre peixe fresco.

Muitos clientes adoravam o tratamento que dava aos peixes.

Tudo parecia ir se encaixando.

Tinham uma semana para preparar tudo.

Voltaram uma semana depois, com um reboque, grande trazendo suas coisas, o resto, livros, mais algumas coisas de sua família uma transportadora traria depois.

O mais interessante, era que todos estavam animados.  Seu irmão vinha no carro atrás com sua mãe, trazendo as coisas dela.

Ele já tinha avisado ao dono do restaurante que talvez, mudasse de cidade.  Queria ficar, mas ao mesmo tempo a possibilidade de ter seu próprio restaurante seria interessante.

Satoru, já tinha quase quarenta anos, mas seguia solteiro, sua vida particular era um mistério, as vezes parecia estar apaixonado por alguém mas nunca aparecia com ninguém por casa.

Ele assumiria na segunda a chefatura de polícia.   Dois dias antes, os companheiros fizeram sua despedida, era querido por todos, inclusive considerado o melhor dos inspetores, pela quantidade de casos resolvidos.  Seu chefe lamentava sua saída, pois era considerado seu braço direito, tinham aprendido muito um do outro.

Foram diretos para a casa.  Seu irmão quando viu o mar, ficou parado, ali na frente da casa, respirando o ar puro.   Um ponto a favor disse ele.

Os meninos queriam ir diretos para a praia, mas o Toshiro, disse que depois, primeiro cada um levar suas coisas para seus quartos.  Num último momento, sua filha mudou de parecer, preferiu um quarto que tinha sido de uma das filhas do antigo chefe, pois era decorado para uma mulher.

Toshiro, ficou com o quarto virado para o mar.

Cada um teria seu quarto, sem problemas.

Enquanto os meninos foram para a praia, ele foi a cidade com seu irmão, foram a outra imobiliária, o homem falou de dois locais que estavam para alugar, um de frente para o mar, outro mais interessante pois estava quase ao lado do cais de barcos.  Seu irmão disse que aquele precisava de uma boa mão para limpar tudo, estava muito sujo.  Mas quando olhou pela janela, que chegavam barcos, saiu como um louco para ver o que traziam.

Isso o pareceu convencer.  Na parte de cima do local, tinha um pequeno apartamento, nele poderia ficar um ajudante que pensava em trazer.

Toshiro o viu conversando com os pescadores, examinando peixes, que eram seu ambiente.

Falaram ainda num local, quase ao lado na verdade um salão meio abandonado, que poderia servir para seu Dojo, esse era só pintar, colocar tatames, pois tinha inclusive um vestuário.

Fechou negócio em seguida, ficaria mais uma semana em NYC, treinando o seu substituto no restaurante.

Depois viria com sua mudança, assim teria tempo de mudar tudo no velho restaurante.

Tinha comprado peixes, para comerem nesses dois dias.  Preparou uma super sopa com peixes, frutos dos mar, a moda japonesa.

O cheiro segundo os meninos que viam do mar, era impressionante.

Toshiro ia instalar um chuveiro fora, para quem viesse da praia não encher os banheiros de areia.   Teriam dois banheiros, um para os homens, outro para as mulheres.

Na segunda, cada um foi para seu trabalho, ele esperou os meninos subirem no ônibus escolar, dava para ver que todos os olhavam descaradamente, sangue novo na praça pensou, sua mãe, iria mais tarde com seu carro, para o hospital, seu irmão tinha indo embora na noite anterior, o tinha levado a estação de ônibus, que precisava de uma limpeza, aproveitou para dar uma olhada, não viu nenhum policial por ali.  Achou estranho, mesmo assim deu uma volta por perto, nada de carros de polícia.

Anotou mentalmente, o que lhe incomodava, era a quantidade de homeless vadiando por ali, alguns com cara de bêbados.

Chegou cedo na delegacia, reuniu todo o pessoal.  Foi anotando mentalmente como fazia sempre, as coisas que não gostava.   Primeiro, o relaxamento, a maioria estava com uniforme sujo, aliás a delegacia precisava de uma boa limpeza, depois foi olhar as celas, era tudo uma merda.  Perguntou ao inspetor que andava com ele por ali, porque estava tudo tão relaxado.

O velho, já não se preocupava com nada.

Bom, conheces algum pintor?

O levou até uma cela, aonde estava um homem curtindo um porre.

O chamou, Peter, se levante, o chefe quer falar contigo.  O homem resmungou, mas quando o viu, ficou com a boca aberta.  Todos na delegacia eram brancos demais.

Aquele além de mais escuro, tinha olhos de japonês, bem como cabelos negros, lisos.

Queres trabalhar, para pagar tua estadia aqui, foi o que o homem lhe disse?

Me disseram que eras pintor?

Sim, quem pintou a última vez tudo isso fui eu, mas o velho, não se incomodava mais com isso.

Combinaram, soltou o homem da cela, lhe deu café, lhe teu um bloco, foi dizendo como queria tudo, a sala dos policiais, tudo de branco, pois assim saberia que estavam sujos, disse que queria uma mulher para limpar.

Peter disse que sua mulher precisava de trabalho.

A mande falar comigo, mas se ela trabalha para andares bebendo eu saberei, além disso, quero pintar minha casa, a velha do chefe.

Se te pego outra vez aqui, vais ver como vais dormir a bebedeira, a maneira japonesa, com uma corda no pescoço.   A cara de medo do Peter era ótima.

Chame imediatamente sua mulher, lhe passou o celular, diga que venha falar comigo.

Em seguida foi vistoriar os carros de patrulha, estavam sujos, eram uma merda, o que lhe surpreendeu que ao lado, tinha um lugar especialmente para isso.

Chamou os policiais, quero esses carros limpos dentro de 15 minutos, os responsáveis pelos carros, que permitam isso, lixo de café, bancos sujos, bagageiros sem o material correspondente, terá uma suspenção de quinze dias, sem pagamento.  Escutaram, quero limpo imediatamente, não ousem me contrariar, não sou como o velho chefe.   Nada é para amanhã, tudo para agora.

A senhora chegou, a levou primeiro a sua sala, falou que queria uma pessoa que viesse muito cedo todos os dias, para limpar a delegacia.

Puxa vim correndo, pensando que esse sem vergonha tinha se metido em alguma enrascada, como sempre.

Me disse que a senhora faz limpezas.

Sim, senão não temos o que comer. Bom, começa pela minha sala.  Ela voltou em seguida, não tem material para limpar.  Lhe deu dinheiro, lhe disse para comprar, que trouxesse uma nota.

Reuniu os inspetores, lhes disse, que no dia seguinte se as mesas não estivessem limpa e arrumadas, os despediria.  Além de que, se vistam direito, parecem mais uns mendigos.

Outra coisa muito importante, eu sou um tipo de pessoa, com paciência limitada, nada é para amanhã, sim para agora mesmo, mãos as obras.

O inspetor que estava com ele, ria, eu vivo reclamando, falava com o chefe, mas não me deixava pressionar.

Bom a partir de agora, eres meu braço direito, quero que essa senhora que está no balcão tire umas férias, mas antes lhe diga, se a vejo faltar respeito com qualquer pessoa, a mandarei pedir dinheiro na esquina.

Um dos mais velhos policiais entrou para dizer que seu carro estava pronto para a vistoria, quando saiu, viu que a maioria ainda estava conversando.

Vejo que querem sair sem pagamento.   Um deles ousou dizer que as pessoas que traziam no carros eram lixo.

Tu, eres o primeiro, podes ir para casa, de teu nome ao inspetor Claude, estás de baixa 15 dias sem salário correspondente.   O sujeito ficou vermelho.

Mais alguém quer ir com ele?

Quero os carros limpos já.  Amanhã, passarei vistoria, nos uniformes, isso não é um puteiro que todo mundo vai como quer.

Entenderam imediatamente que as coisas tinham mudado.

Quando ele entrou, viu que a mulher estava chorando.  Pediu desculpas, mas não fiz por mal.

A senhora precisa ter educação, quero respeito aqui, qualquer prisioneiro, ou pessoa que venha fazer uma reclamação, merece respeito.

Quando foi almoçar, com o Claude, esse se matava de rir, eu quando cheguei aqui, quis modificar as coisas, mas o chefe estava farto disso tudo.  Não me apoiava, os relatórios sempre estão errados, mal feitos, algumas vezes temos problemas com o fiscal por isso.

Veja naquela mesa, ali está o fiscal.

Ele olhou, viu sim uma mulher morena, devia ter ascendência mexicana ou da Costa Rica.

Foram até lá, apresentou Toshiro, ela ia se levantar, mas disse, porque não se sentam comemos juntos assim conversamos.

Pelo que escutei, porque aqui tudo se sabe, já começaste em colocar ordem na casa.

Toshiro riu, imagina, eu apesar que minha mãe é da Jamaica, meu pai é filho de Japoneses, fui educado com uma visão muito estrita.   Nada é para amanhã, tudo para agora, eu pensava que meu pai era o mais duro, mas quando ele faltou, vi que minha mãe era pior.  Hoje esta assumindo a direção de urgências do hospital.  Tenho até medo dos coitados dos enfermeiros, mesmo os médicos, ela vai colocar todo mundo na linha.  É dura na queda.  Levou durante anos a maior emergências de NYC, está acostumada.   Me ajuda a criar meus filhos.

E tua mulher perguntou a Fiscal?

Sou viúvo, ela era policial também, mas morreu a um ano atrás, num tiroteio entre bandas, infelizmente só estavam ela, bem como seu companheiro, os dois morreram no ato.

Sinto muito.

Não se preocupe, no nosso serviço sabemos que isso pode acontecer.

Meus filhos hoje serão a novidade na escola, tenho pena de quem se meta com eles.

São dois meninos?

Não, riu, odeiam seus nomes, Yin/Yang, são gêmeos, um garoto e uma garota.  São imensos, bons de briga, pois meu irmão tem um Dojo de Karate, vem para cá daqui uma semana, vai abrir um restaurante, disse o local, bem como um Dojo.

O inspetor, disse que iria se inscrever.

Aceitam mulheres?

Claro que sim, eu sou faixa preta, mas meus filhos, lutam de maravilha.

Nisso tocou seu celular, era o diretor da escola, se ele podia passar por lá.

Não disse, mas continuou comendo como se nada.  Podem esperar, a alimentação é uma coisa primordial. 

A fiscal Josephine, ou Marie Josephine, estou acostumada que me chamem de Marie José, gostei da tua maneira, espero me dar bem consigo, pois tenho medo, faixa preta, saiam da frente.

Quando terminaram ele foi com o Claude até a escola,

Lá estavam seus dois filhos, com outros dois estudantes sentados na frente da sala do diretor.

Ele não era o típico pai, que vai correndo, já entra fazendo escândalos.

Muito calmo perguntou o que passou.

Estávamos sentados os dois, quando esse daí, apontou os que estavam do outro lado, se fizeram de engraçadinho com Yang, quando colocaram a mão na cara dela, sabe como ela funciona.

Deu uma surra no sujeito. Esse outro se meteu comigo, nós defendemos, nada mais.

O diretor estava parado na porta, escutando tudo isso.

Ah senhor diretor, esqueci de avisar que meus filhos lutam Karate, por isso é bom avisar aos outros alunos, que não levam desaforo para casa, ficam de castigo se o fazem.

Discriminação racial, nunca admitimos.

Voltem para suas salas, avisou o diretor vermelho como um pimentão, aos dois que tinham levado uma surra, disse avise aos seus amigos, que cuidado com esses dois.

Depois, riu, graças a deus, não eres como os outros pais, que chegam aqui aos berros, dizendo que seus filhos são um anjo.

Foram trabalhar novamente, a sala dos inspetores, já tinha outra cara, as mesas arrumadas, os que tinham saído para almoçar, voltavam arrumados.

A senhora continuava no balcão, agora tinha os cabelos arrumados, um batom nos lábios, um sorriso na cara.   Disse para ela, que queria saber o que era necessário na sala aonde estava o café, aquilo está uma merda, me desculpe a palavra, a senhora organize isso com a senhora da limpeza, bem como pode me dizer quem deixa as coisas sujas.

Quando foi para casa, ia rindo no carro, nem tinha tido tempo para se lamuriar para si mesmo da morte de sua mulher, pensou ela deve estar rindo horrores aí em cima.

Os meninos estavam estudando, isso eles faziam sempre.  Só reclamaram que tinham ido tomar um banho de mar, que a água hoje estava muito fria, precisamos de roupa de Neoprene, para o surf.

Ok, amanhã, vamos ao banco, já devem ter transferido minha conta, assim abrimos uma para vocês, com a paga do mês, mas sabem, eu como sempre quero nota de tudo.  Ele quando sua mulher estava viva, sentavam-se faziam uma contabilidade de todos os gastos.  Ele continuava fazendo.

Tinha passado no supermercado, feito compras, viu que sua mãe também.

Que tal foi o dia Barbra, ele a chamava assim?

Um verdadeiro horror, tudo muito relaxado, tenho certeza, que ou vão me odiar, ou dentro em breve me amam de paixão.   Tem um médico, que parece estar sempre bêbado, mas dizem que é assim, barba por fazer, cabelos sujos, uniforme sujo, o mandei tomar banho, me olhou com uma cara, foi reclamar como diretor, esse levantou os ombros, disse que agora quem mandava na urgências era eu. Que ele obedecesse.

Os outros pareceram gostar.   Mais dois mandei trocar uniforme, passar desodorante, lhes disse que sou como um velho coronel, escreveu, não leu, o pau comeu.

Alguns riram, porque entenderam outros não, mas dentro de uma semana estará tudo como gosto.

E tu?

Mais ou menos igual, mandei pintar a delegacia, o inspetor Claude, começou a colocar as coisas em ordens, arrumei uma mulher para limpar tudo todos os dias, ou seja, como a senhora diz, em uma semana quem não ler, está fudido.

Apesar que de noite fazia um vento frio, ficou sentado olhando o mar.

 

 

No outro lado da cidade, acontecia o primeiro problema que ele teria que resolver.

Três rapazes, sequestraram um jovem descendente de portugueses, ele tinha ido levar remédios na casa de sua avó, quando voltavam o pegaram, era colegas seus de escola, viviam lhe dando a lata.

O levaram para um descampado, lhe deram muita porrada, lhe rasgaram as roupas, um deles o penetrou, abusou do coitado, o terceiro, viu que as coisas tinham escapado de suas mãos, disse que parassem, mas tudo que fizeram foi lhe dar um murro na cara, o deixaram meio desacordado, quando acabaram ainda deram uns quantos chutes no rapaz.

O terceiro, Jimmy, tinha querido ser amigos dos valentões da escola, mas viu que nem sempre isso era bom, a caminhonete que tinham vindo até ali, era de seu pai.  Ele quando caiu, bateu com a cabeça numa pedra.  Os outros quando viram, saíram correndo pela estrada, pensaram que estava morto.

Mas ele logo voltou a si, pegou o garoto, o colocou na cabine com ele, foi para o hospital, Barbra que tinha voltado para ver o turno da noite, viu aquele rapaz, entrando com o outro, porta adentro de urgências, sangrando pela cabeça, correu, ao mesmo tempo que gritava ordens.

Quando o Jimmy contou o que tinha acontecido, enquanto lhe davam alguns pontos na cabeça, ela avisou seu filho.

Toshiro, foi para o hospital, avisando aos meninos, que tivessem as portas fechadas.

O outro rapaz, pelo visto seu nome era Manuel, estava bastante ferido, ainda inconsciente, o tinham levado para a sala de cirurgia de urgências. O outro estava sentado ali com os ombros caídos, com as lagrimas caindo pela sua cara.

Quando ele se sentou ao seu lado, se identificando.  Confessou que tinha ajudado os outros a sequestrarem o Manuel, mas que quando viu que a coisa ia além, não concordei, o maior deles, Brandon, me deu um soco, cai para trás, creio que bati a cabeça numa pedra, quando despertei, vi que tinham ido embora, então trouxe o Manuel para cá.

Eles sempre provocam o rapaz, porque é frágil, é de família portuguesa, odeiam os emigrantes.

O pai dele é pescador, trabalha durante a noite.

O senhor pode me prender, meu pai vai ficar uma fera quando voltar amanhã do mar, mas tenho culpa disso tudo.

Já sabem como está o Manuel?

Esta na sala de operações, parece que tem várias costelas quebradas, bem como muitas feridas na cara.

Como chamam os outros dois, me dê seus nomes?

Eles iram por mim agora, mas não me importo, mereço por ser idiota, querer me enturmar com bandidos.  Deu os nomes, além do endereço, ele chamou a delegacia, mandou dois carros de polícia até a casa deles, mesmo sendo menores, os levem para a delegacia.

Jimmy, disse que os dois ainda estavam na escola porque estavam atrasados, mas já tem 18 anos.

Depois os policiais o chamaram, os dois tinham se resistido. Estavam em celas separadas.

Jimmy disse, o senhor me desculpe, mas o pai do Brandon, é um sujeito complicado, é pescador, vive reclamando dos outros pescadores, principalmente se for emigrante, é um brutamonte, vive distribuindo murros, inclusive no próprio filho.

Colocou Jimmy no seu carro, para não ter diferenças, vou te colocar algemas só para entrar, ok.

Avisou por telefone o Claude, esse avisou a fiscal.

Quando chegou, a confusão era imensa, duas mulheres, faziam um escândalo na entrada, o oficial ao mando, não conseguia botar ordem.

Mas bastou verem o Toshiro, que ficaram quietas.  Ele perguntou o que queriam.

Prenderam nossos filhos.

Pois estão sendo acusado de abusarem de um rapaz, bem como o colocaram em coma, pode ser que não viva, se for assim irão para o presidio, iam começar outra vez a gritar, quando ele falou mais alto, por favor sentem-se, logo a fiscal vai estar aqui.

Uma deles disse com desprecio, aquela negra.

Senhora, eu aviso, mais uma falta de respeito, a senhora vai presa também.

Ela se levantou, apontou para ele com o dedo, começou a falar alto, ele fez sinal a um dos guardas, a coloque numa cela para se acalmar, assim amanhã, poderá ir para casa tranquila, a outra se mandou em seguida.

Ele mandou trazer o tal Brandon até a sala de interrogatórios, nisso chegavam o Peter com a fiscal.   Perguntou a ela se queria participar, ou veria através do espelho.  Explicou aos dois o que tinha acontecido.  

Eles explicaram que não era a primeira vez do Brandon, mas que o chefe anterior, era parente, o soltava.

Pois acabou essa mamata.

Entrou na sala com o Peter, o rapaz era mais alto que os dois, estava algemado na mesa.

Me soltem, chamem meu tio.

Quem é seu tio?

O chefe de polícia.

Sinto muito o chefe agora sou eu, lhe respondeu Toshiro. Primeiro cale a boca, responda as minhas perguntas, já veremos.

Esse idiota desse imigrante português, merecia, sempre tira as notas mais altas, é um completo idiota.

Pois a mim me parece que o idiota aqui eres tu, porque repete ano na escola, já devia estar numa universidade, ou trabalhando com teu pai, para ajudar.

Eu não quero ser pescador, o filho da puta, cheira a peixe e álcool.

Mais respeito, apesar de tudo é teu pai.

Ninguém me diz o que posso falar ou não, quero que me soltem.

Antes vou ler o que tens entre mãos, pois esse emigrante português, como tu dizes, está no hospital em coma, se ele morrer, iras para a prisão, pois já eres maior de idade, fico imaginando o que farão com você lá.  Desse tamanho, carne branca, fresca, caralho Peter, o vão deixar pior que o que ele fez com o outro.

Eu não fiz nada.

Não é o que disse o Jimmy, a quem deste um murro, que levou 10 pontos na cabeça.

Esse idiota, devia ter acabado com ele também.

Por isso repetes de ano, não eres muito inteligente.

Já tinha lido os direitos dele, o mandou para a cela.

Quando trouxeram o outro, vinha assustado.

Perguntou seu nome, leu seus direitos, disse que tudo tinha sido ideia do Brandon, que lhe aborrecia esse português, que seu pai dizia que os mesmos roubavam os peixes que deviam ser deles.

Lhe perguntou se sabia a que se enfrentava. 

Quando lhe disse, começou a chorar, meu pai vai me matar, chamem minha madrasta, ela estava com a mãe do Brandon.

Pois foi embora, com certeza para o porto para falar com teu pai.

Me conta toda a história, ou queres um advogado.

Eu conto tudo, contou com detalhes, inclusive como o Brandon tinha convencido o Jimmy, a levar a caminhonete, ele nem deixou conduzir, quando viu o português, desceu do carro deu uma porrada no mesmo, jogou na traseira, fomos para este descampado.

Rasgou toda sua roupa, quando ele quis reagir, além do Jimmy reclamar, deu uma patada na cara do português, depois um murro no Jimmy, que caiu batendo a cabeça numa pedra.  Eu fiquei apavorado, pois começou a sangrar, ele rasgou a roupa toda do menino, estava excitadíssimo, o penetrou várias vezes, ao mesmo tempo lhe dava murros nas costelas, gritava muito, perdeu a cabeça, depois queria que eu fizesse a mesma coisa, mas não fiquei excitado, ele voltou a fazer.   Depois se levantou deu mais patadas no outro, inclusive duas no Jimmy, fomos embora, me ameaçou se contasse alguma coisa, me matava. 

Mas a estás alturas, meu pai vai me matar antes.

Como tinha gravado tudo, ele mandou o Peter transcrever, depois o mandou assinar.

Trouxeram a mãe do Brandon, ele leu seus direitos, disse que estava ali, por desacato a autoridade, ela fez a mesma coisa, pediu para falar com o chefe.

Senhora, aqui agora o chefe sou eu.

Então se vai ver com meu marido, ele não é flor que se cheire, ira descarregar no senhor toda sua raiva. Cuidado.

Começou gritar novamente, que ela era parente do chefe, queria privilégios.

A mandou colocar na cela outra vez, para relaxar-se.  

A fiscal ria muito, imagina, por isso eles aprontavam, o velho chefe os acobertava.

Foi para casa, tomou um bom banho, mas já não tinha sono. Sua mãe continuava no hospital, ele preparou café, o lanche dos garotos, como eles gostavam, viu que o despertador de cada um soava, logo estavam no banheiro se preparando.   Nesse ponto eles não davam trabalho, estavam acostumados a isso, nada de ficar chamando, fulano levanta, hora de ir à escola.

O faziam sem que os chamassem.

Os avisou, contou o que tinha acontecido, se os provocarem, ignorem.  Mas creio que não são da mesma escola que vocês. Quando chegou a delegacia, reinava aquela calma, que vem antes da tempestade.  Peter que tinha ficado ali, disse que a mulher de vez em quando ameaçava o filho, dizendo que o pai o ia moer de pancadas.

Ele telefonou para a mãe, perguntou como ia o garoto, ela disse que ainda estava em coma, que tinham avisado ao pai, por rádio, que o barco chegava dentro de duas horas.

Se ela podia mandar um médico a delegacia, queria que examinasse o Brandon.

A princípio ele não queria, o olhou bem nos olhos, tua mãe, diz que teu pai te pega, é verdade, aquele garoto imenso, ficou parado um instante, depois deixou que algumas lagrimas caíssem pelos seus olhos.  Tirou a camisa, estava cheio de marcas de cinturão nas suas costas, abaixou as calças, o mesmo nas pernas.

Diz que sou uma negação, que nem para pescador me quer.  Ela na verdade não é minha mãe, essa morreu a muito tempo, é a sua puta.  Ela o ajuda a me pegar.

O médico, tirou fotos com o celular.

Depois ele o levou de novo a sala de interrogatório, começou como que conversando com ele, disse que ia gravar tudo.

Porque teu pai te pega.

Porque tenho dificuldades em aprender, quando não passei de ano, me deu uma surra de fazer gosto, fica sempre me dizendo, como o filho desse português, consegue notas e tu não.

Às vezes me pega com as duas mãos nas orelhas.

Então me disse eu tinha que dar uma lição nesse filhote de português, eu quando o vi ontem, pensei que era a oportunidade. Quando tirei sua roupa, fiquei louco por seu corpo, não sei o que deu na minha cabeça, comecei a abusar dele, o Jimmy se meteu, lhe dei um murro, assim me respeitava, mas pensei que tinha morrido, pois da sua cabeça começou a sair sangue, muito sangue.   Mas eu estava interessado no corpo do português, meu pai dizia que faria isso com o pai dele.

O mandou de volta para a cela, passou para o outro inspetor, para transcrever tudo na ficha.

O mesmo respondeu que nunca fazia isso.  Toshiro o olhou de cima a baixo, lhe respondeu, a partir de agora sim, sem erros de linguagem ok, pois vou revisar.  

O outro ficou vermelho.

Ainda lhe disse, limpe tua gravata que está suja de catch-up, tua mesa é a mais suja daqui, favor limpar, não gosto muito de repetir as coisas ok.

Desculpe eu tinha o dia livre ontem.

Sem desculpas, nenhum dia tua mesa pode estar como está, se não gosta de trabalhar aqui, posso te transferir para outro lugar.   Talvez um chiqueiro, pois é o que parece tua mesa.

Ele mandou dois carros de polícia para o cais, uma para trazer o pai do Brandon, outra para levar o pai do Manuel, para o hospital.

O pai do Brando o façam se sentar atrás, mas o do Manuel, não.

Ficou aguardando, mas na verdade quem chegou primeiro foi o pai do Jimmy.  Pediu desculpas, mas criar um filho sozinho não era fácil.

Lhe explicou o que tinha acontecido.

Veja ele é um bom menino, por isso inclusive lhe deixo o carro, mas ele tem problemas para aprender, está um ano atrasado na escola.  Eu não terminei meus estudos, por isso, trabalho de pescador.

Bom ele tem coisas a seu favor, levou um murro, caiu em cima de uma pedra, levou cinco pontos na cabeça, não participou do resto, levou o murro porque não concordava com o que estava acontecendo.

O rapaz, está em coma. Vamos ver como se sai dessa.  Até lá ele ficará à disposição do Fiscal.

Lhe deu mais ou menos detalhes da confissão do filho.

O levou até uma sala de interrogatório, mandou trazer o rapaz.

Viu que pelo menos o abraçava, segurava sua mão, dizendo vamos resolver isso tudo.

Já o pai do Brandon quando chegou, soube que a mulher, bem como o filho estavam presos, fez o maior escândalo.

Ameaçou o Toshiro, que ficou olhando para a cara dele, lhe perguntou se queria fazer companhia para o resto da família.  Aí caiu em sim.  Cadê, o velho?

Ele se aposentou, agora eu sou o chefe aqui.

Vê o que eu digo, os emigrantes estão tomando conta de tudo.

Me desculpa mas não sou emigrante, sou tão americano como tu.  Deixa de dizer merdas, senão mando prendê-lo de uma vez, quando falar comigo, fale baixo.

Como estava sério, o outro murchou.

Tenho que fazer a entrega dos peixes, minha mulher sempre me ajuda, pois leva as contas.

Ou seja eres tão burro como teu filho.

Ficou vermelho como um pimentão, mas não disse nada.

Ela está presa por desacato a autoridade, mas terá que ver o juiz ainda. Se ela a liberar bem, senão há que pagar para ela sair.

Quanto ao seu filho, está acusado de um crime, não creio que se livre desta, já é maior de idade, vai para julgamento.   O mais provável é que vá para a prisão.

O homem se levantou cheio de ira, vou falar com o velho por telefone, ele vai te colocar no lugar.

Uma hora depois o velho lhe chamou, esqueci de te falar dessa família. Eram parente de minha mulher, sempre se fazem passar por perseguidos.  Mas eu estava farto deles, faça como achar melhor, eu jamais ia interferir nas tuas decisões.

Quando ia saindo da delegacia para ir ao Hospital, o pai do Brandon o atacou, mas claro, não sabia que estava lidando com um faixa preta.   Peter que estava chegando, ficou de boca aberta de ver o outro voando, caindo sobre as roseiras sem podar da entrada da delegacia.

Se levantou de novo, mas foi parar no chão, mais umas três vezes.

Acabou algemado pelo Peter, o deixe de molho, por desacato a autoridade, o juiz, saberá o que fazer com a família inteira.

O homem bufava, dizendo entre os dentes, isso não vai ficar assim.

Foi para o hospital, se apresentou ao pai do Manuel, este estendeu a mão, obrigado por tomar providencias, essa família sempre está criando problemas com todo mundo.

O pai, sempre acusa os outros de roubar seu peixes, quando é ele que tenta roubar dos outros, pois é um péssimo pescador.

Creio que foi teu irmão que falou comigo outro dia, sobre o restaurante que quer abrir.

Sim com certeza, se lembrava dele falando como Satoru.

Nisso entrou o médico, primeiro falou como estava o garoto, ele tinha idade de seus filhos, infelizmente, tem quarto costelas quebradas, além do maxilar fora de lugar, mas isso já arrumamos, o abuso não causou nenhum desgarro, mas coletamos semem para análise. Mas as pancadas na cabeça, foram impressionante, por pouco não lhe rompem a coluna cervical.

Terá que ficar em observação vários dias.

O que for preciso doutor, ele é o único que tenho.

O médico virou-se para o Toshiro, já sei que tua mãe é a nova chefa, impressionante como me ajudou na cirurgia, nem precisava falar nada, ia me passando os instrumentos com precisão.

Ela entrava nesse momento, quando o pai do Manuel lhe deu a mão, lhe disse a tens inflamada, venha comigo.

Que diferença meu amigo, soltou o médico, se fosse outra isso se passava por alto.

Levou o pai do Manuel ao Porto, ele precisava despachar seus peixes, nunca se pode deixar nas mãos dos empregados.  Quando teu irmão vier, diga que faremos negócio.

Foi para a delegacia, chamou o Jimmy na sua sala, ficou conversando com ele, disse que Manuel, já estava um pouco melhor, mas que teria que ficar vários dias em observação.

Se o juiz me solta, posso passar os dias com ele. Pelo menos para que me perdoe.

Já veremos.

Realmente a primeira pessoa a ser levada para ver o Juiz foi ele.  A Fiscal, estava ali, não tinha nada a ver como acontecia nos tribunais de uma cidade grande.

Era mais pessoal.

Ele falou da versão do rapaz, ele viu a ferida na cabeça, a anotação do hospital, como ele tinha entrado, com o outro nos braços.

O juiz, disse que ia ter que cumprir, muitos trabalhos comunitários, para pagar pelo sequestro.

Ele perguntou se podia ficar cuidando do Jimmy, para que ele o desculpasse.

Sim, aí começa tua condena, terás que fazer com que ele te perdoe.

Depois enquanto Jimmy esperava fora, o juiz conversou com ele, bem como a fiscal, temos um problema entre mãos, eles se livravam porque eram parentes do chefe anterior.

Ele me chamou, porque o pai, parece que telefonou para ele.  Me disse que dava graças a deus se livrar desse familiar, que eu fizesse o que achava melhor.

Depois tentou me agredir, bem como o que fez na delegacia.

Se acha acima do bem e do mal, porque é branco, me chamou de emigrante, como faz com as outras pessoas pelo visto.

Deu ordem de trazerem primeiro, o outro rapaz.  Esse contou tudo, com o pai ali ao lado dele.

Lhe deu ordem de continuar preso, afinal não tinha feito nada para ajudar ao Jimmy, tampouco o Manuel. Tinha fugido.

O pai disse que ia contratar um advogado.  O juiz, colocou uma fiança de mil dólares, pois sabia que o homem não tinha.

Quando trouxeram o Brandon, antes tinham comentado dos abusos do pai, agredir os outros era a escapatória que tinha, de uma certa maneira, estava fazendo o que o pai, ficava falando na sua cabeça.   Se sentou na frente do juiz, contou por que tinha feito, o que tinha feito, com a cabeça baixa.

O juiz mandou que continuasse preso.

Quando veio a mulher do pai dele, sua madrasta, voltou para cadeia por desacato ao juiz.

O pai foi pior, entrou na sala gritando, ele filho da puta desse japonês não perde por esperar, da próxima vez não me pega desprevenido, lhe darei uma surra.

Quando o juiz mandou calar a boca, ficou furioso, ninguém me manda calar a boca.

Bom será melhor passar uns dias mais de molho na cadeia.

Não posso tenho meu barco, esses emigrantes sujos, vão roubar todos meus peixes.

Não sabia que os peixes que estavam no mar, lhe pertenciam?

Claro que sim, sou branco, eles são emigrantes, o direito é meu.

Creio que o terei que mandar para um psiquiátrico.

Como é essa história das surras que das em teu filho, ajudado por tua mulher.

É para ele aprender a ser homem. Tem que apanhar, não é bom estudante, tampouco, gosta do mar, tem que aprender a me obedecer.

Não se preocupe, que lhe direi, que como é maior de idade, que ele pode dar uma surra no pai dele, que isso já não é um problema.  Aliás, irá para a prisão, pelo que fez.

Este deu um murro na mesa com as duas mãos, apesar das algemas, eu vou pelo senhor, protetor desses idiotas.

Mais uma semana por desacato a autoridade.  Agora entendo por que esse rapaz é como é, com um pai como o senhor, melhor estar vendo o sol nascer quadrado.

Realmente não era muito inteligente, como as algemas estavam presas na mesa, virou a mesma, mas com o peso desta, o levou junto.

O juiz acabou rindo.

Por sorte do Brandon, Manuel, saiu do coma, contou sua versão da história, que quem tinha feito tudo tinha sido o Brandon, mão é a primeira vez que me pega.  Não só a mim, mas outros da escola.  Até o diretor tem medo dele.

Anotou a direção da escola, foi até lá, pediu para falar com o diretor.

Esse ele viu mais que estava ali, por algum cargo político.   Já sabia do que tinha acontecido, disse que não era a primeira vez, se reclamo o pai vem aqui, faz um escândalo, ameaça a me denunciar, por perseguir seu filho.

Se algum pai, briga com ele, o ameaça de matar.

O rapaz, deve ter algum problema grave, além de péssimo estudante, não escuta direito, não reage quando lhe atiram uma bola num jogo por exemplo.

Tem reflexos um pouco retrasados.

Telefonou a Marie José se algum psicólogo não podia avaliar o Brandon, ia conseguir eu lhe fizessem um exame de audição, comentou o que ele tinha falado, do pai, o pegar com as duas orelhas, como fizessem um tampão.  Além de um scanner do cérebro.

Depois o levaria ao hospital.

O dia estava chegando ao fim, com tanto movimento, mandou colocar o pai do Brando na cela mais distante de todas, pelo escândalo que fazia.

A mulher tinha chamado alguém que ia lhe pagar a fiança

Mandou levantar a ficha do homem, ele nem era dali, vinha de outros lugares com o filho, sempre dando problemas.

Depois de um exame de avaliação do Brandon, a coisa ficou feia, o levaram para fazer um exame, a coisa piorou, tinha uma lesão cerebral avançada, era dissociativo.

O pai quando confrontado, disse que o filho era dele, ele fazia do mesmo o que queria, pois era um dever seu educa-lo para castigar os emigrantes que roubam os peixes dos brancos, acabaram os dois sendo acusados, o filho ia para um hospital psiquiátrico, o pai para a prisão mesmo.

Jimmy ia todos os dias visitar o Manuel, levava o material que tinha sido dado em classe, encontrou um amigo no outro.

Satoru levou mais de 15 dias para montar o restaurante como ele queria, depois de limpar tudo, pintar, colocar em dia o lugar, começou também a trabalhar no Dojo.

Peter foi um dos primeiros a se inscrever, bem como algumas pescadores, dias depois mais alguns policiais.

Yin, levou alguns amigos, logo apareceram mulheres.

O restaurante, tinha desde sushi, sashimi, como outros pratos japoneses, alguns portugueses também.   Ia vento em popa, era pequeno, com ele queria, contratou um garçom, que atendia a barra também.

Jimmy conseguiu um emprego como aprendiz, assim podia ganhar algum dinheiro se podia ir estudar fora.

A vida seguiu em frente, por um bom tempo de calmaria, problemas rotineiros de delegacia, mas de repente, começaram aparecer gente morta, vinham inclusive com o instrumento que os tinham matado.  Era muito estranho, cara destroçada, bem como a arcada dentaria, para dificultar quem era o morto, a maioria com os dedos queimados, bem como os olhos, como dizendo que tinha visto o que não devia.

A arma assassina, era um tipo de barra de metal que se colocava nas ruas para que os carros não estacionassem em cima da calçada.

Pediu os policiais de carro, que olhassem aonde faltavam algum, o jeito era esperar o sistema descobrir por ADN, em era o morto.

Um policial que estava com Peter no carro, foi quem descobriu aonde faltavam essas barras,

Faltavam várias, sinal que devia haver mais mortos que não tinha aparecido ainda.

Mandou verificar se por ali, existia alguma câmera de vigilância.  Em breve descobriram quem era.   Mas não vivia a cidade, sim era guarda costa do dono de um casino em Atlantic City, não foi difícil dar com o mesmo, que fugiu.

Dias depois apareceram mais dois cadáveres na mesma circunstâncias, com o tempo descobriram que eram homens que frequentavam o casino, ficavam devendo muito dinheiro, não podiam pagar a dívida, era ordenado sua morte, não tinham como provar quem tinha dado as ordens, o FBI estava acompanhando o caso.

Um dia Toshiro chegava em casa de noite, quando foi atacado pelas costa por um indivíduo imenso, mas se recuperou rapidamente se defendendo, seu filho que viu tudo pela janela, entrou na briga, o homem era grande, mas o dominaram, tinha nas mãos justamente uma barra do que falavam.

Depois na delegacia, ele reclamava, que dois homens o tinham atacado, Toshiro, o filho, que não tinha nada contra ele.

Mas talvez pela presença do Toshiro sentando na frente dele calmamente, dizendo, não se preocupe, os matões do teu chefe sabem que estás aqui, virá um advogado do casino te liberar, vais desaparecer em seguida, aparecer na praia como os outros.

Então entendeu que não tinha escapatória, disse que não era tonto, tinha gravado todas as ordens no celular, realmente se escutava o chefe ordenando um a um as execuções, o FBI, tomou rédeas na situação, segundo o cálculo pelas barras que faltavam, ainda deviam aparecer mais cadáveres.  Mas só dois apareceram.

O FBI, perguntou ao Toshiro, se não queria ir trabalhar com eles.

Agradeceu, mas tinha encontrado o lugar ideal para viver.

Na verdade, sua mãe estava contente no trabalho, o irmão idem, Yin e Yang, super felizes, tinham amigos, surfavam no verão na praia em frente de casa.

Ele começava a sair com a fiscal, se davam bem, que mais poderia desejar.

A única surpresa, foi descobrir que seu irmão tinha uma relação com o Peter, em NYC, ele conseguia esconder isso, mas lá sem querer Toshiro descobriu. Não fez nenhum comentário, apenas disse ao irmão que convidasse o Peter de vez em quando para jantar em família.

Isso o deixaria feliz, saber que a família estava unida.

O primeiro jantar em que estiveram todos, os meninos apresentaram-se em casa cada um com seu namorados correspondente.  Yin com uma garota loira, linda, inteligente, Yang com um rapaz descendente de portugueses.

Toshiro virou-se para sua namorada, Marie José, soltou estamos ficando velhos, pois eles avançam mais rápido que a gente.

No Natal, sua mãe apareceu com o médico, com quem tinha brigado no primeiro dia, estavam saindo já a algum tempo.

Ele confessou que estava perdido quando a conheceu, estava viúvo a pouco tempo, ela o tinha colocado em ordem.

Enfim a vida nova ou nova vida, seguia seu rumo, mais seguro.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

lunes, 12 de septiembre de 2022

SOBREVIVER

 

                                        SOBREVIVER

 

Meu lema era sobreviver a qualquer custo, não importava os meios, nem tampouco o que caia no meio do caminho.

Toda minha vida, no fundo era como um poço sem fim, mistérios, coisas sem resolver, explicações nenhuma que me convencesse, mas seguia em frente, não havia outra, meu irmão gêmeo Jules, dizia que mal fizemos a Deus para estarmos sempre correndo.

Era uma verdade, nos dois, muito cedo fomos largados na casa dos meus avós, mas bem na mansão dos mesmos, quem nos criavam eram Elizabeth a governanta, com seu marido Jonathan, que era o faz tudo da mansão, comprava, levava, trazia, administrava, porque meu avô estava velho demais, tinha tido seu único filho, já com bastante idade, os outros dois morreram em guerras pelo vasto mundo.  Eram de uma família importante, ele era Sir Lancaster, mas cagava para isso.

Quando minha mãe morreu, numa tentativa de sequestro, meu pai que era um científico consagrado, nos deixou lá, tínhamos na época cinco anos.   Ele entrou para trabalhar num projeto ultra secreto do governo.

Meu avô morria de medo de que alguma coisa acontecesse.  Por isso, contratou mais guardas bosques, pois detrás da mansão existia um bosque muito denso.

Minha avô era uma mulher super inteligente, talvez por isso seu filho preferido era meu pai, ela nos ensinou a ler e escrever, em casa.  No almoço falava conosco em francês, porque era de uma família importante de lá.  Ou seja já tínhamos de pequenos duas línguas.  Foi ela que primeiro desconfiou, já que um dia encontraram a porta da biblioteca que dava para a parte da frente da mansão forçada.  Desconfiou pelo som do velho telefone, que tinha escutas, ela mesma abriu, viu um pequeno botão negro.  A partir de então todas as conversas eram no pátio traseiro, quando meu pai veio pela última vez, queria conversar com eles, ela lhe explicou a situação.   ele falou que até para ir ao banheiro, dentro do bunker que vivia, eram vigiados, como era exagerado, ao mesmo tempo divertido, soltou, creio que até minha merda é analisada.  Passeando pelo jardim, junto com Jonathan, discutiram quais as possibilidades que tínhamos de proteção.  Os meus pais, os dois tinham cabelos escuros, o que nos dava um parecido com ele tremendo, hoje em dia, depois de tantas coisas, não me lembro mais de sua cara, pois não tínhamos fotos deles.

Combinaram um código, para qualquer emergência.

Tudo começou um dia que um dos guardas-bosque prendeu um homem escondido com um rifle desses com objetivos, fiscalizando a casa. O Pegou de surpresa, era um homem imenso, por isso conseguiu reduzir o outro em instantes.   O homem não parecia falar inglês, resolveram por isso antecipar o que tinham combinado.

Nessa noite, Elizabeth, nos tingiu os cabelos de loiros, bem como os seus, do Jonathan, tudo isso foi falado,feito na noite escura. De madrugada, como o Jonathan, saia sempre no seu carro velho em direção ao mercado, ia com um chapéu enfiado na cabeça, na garagem minha avó, se despediu da gente, não tinha envolvido meu avô na história, pois estava com principio de Alzheimer, se interrogado podia soltar alguma coisa.

Íamos deitados no banco detrás, Elizabeth ia no porta-malas, quando chegaram a primeira cidade, embarcaram num trem em direção a Londres, não me pergunte como, ele conseguiu identidades falsas para eles, bem como para nós, passamos a ser seus filhos.

Embarcamos dois dias depois num voo noturno para Miami, mal chegamos alugou um carro, fomos para Albany, Georgia, mais para o interior.   Jonathan tinha um irmão que era monge, que dirigia um colégio, voltado para pessoas pobres, que não tinham possibilidades, ao mesmo tempo acolhiam em suas dependências, garotos que não tinham pais.  Os monges além do colégio, cultivavam a terra, os alunos internos, nos seus momentos livres tinham que ajudar em alguma coisa.

Nos deixaram ali, levavam um envelope imenso, que foi guardado no cofre da congregação.

A partir desse momento, eu passei a ser Joseph, meu irmão Gabriel, nos treinaram para obedecer com esses nomes, na escola tinham outro dois meninos como nós gêmeos também.

Nós fizemos amigos, vivíamos os quatro, nas horas livres jogando.  Eu era o todo ouvidos, era quem decifrava o que diziam os monges.  Foi assim que soube do sequestro do meu pai, creiam que tinham sido os russos, que a mansão tinha sido bombardeada, que todos tinham morrido.

Pelo irmão do Jonathan, escutei um dia falando com ele por telefone, eles não tinham voltado para lá.   Estava sempre espionando, gostava disso, lia os jornais da biblioteca.

Um dia li sobre uma matéria, que falava que um físico inglês, sequestrado, tinha feito estalar uma bomba dentro de um local escondido pelas autoridades, pois estava lá sequestrado.

Entendi que era meu pai, contei ao meu irmão, no nosso esconderijo preferido, que Jules encontrou por um acaso, quando brincávamos os quatro no bosque, adorávamos o jogo de esconder, os outros tinham que procurar, nesse dia, não houve jeito de encontrar ao Jules, até que nos chamaram para jantar.   Depois ele me levou lá em segredo.  Era uma pequena gruta, que estava escondida, por um espinheiro, ele encontrou uma maneira de abrir caminho.

Era um esconderijo perfeito, começamos a guardar coisas lá que roubávamos, roupa, hábito de monges, comida em lata, como nos preparando para o futuro.

Um dia, consegui escutar uma conversa do monge, dizendo que havia que tomar mais cuidado, pois tinham descoberto um sujeito, russo, andando por ali, bisbilhotando pela redondeza.

Consegui descobrir o segredo do cofre, me escondia no escritório do monge, o vi abrir o mesmo para guardar coisas.

A estas alturas, já estávamos com quase 15 anos. Tínhamos um corpo fantástico, de trabalhar no campo, nunca reclamávamos disso, pois na escola, não tinha a parte de esporte.

Os dois sempre fomos morenos, menos na época que nos tingiram os cabelos de loiros, os nossos amigos, ao contrário eram loiros, pareciam anjos de igreja.

Nunca falamos com eles do nosso esconderijo.  Cada vez tinha mais a sensação de perigo, um dia estava de castigo no corredor, quando escutei uma chamada urgente do Jonathan dizendo que tinham sido descobertos, que os monges olhassem por nós.  Tinham medo de ser torturados.

Meu irmão fazia o que eu mandava, mas não estava muito por esse labor, o mistério não era com ele, era tipo do sujeito, pão/pão, queijo/queijo.  Queria uma vida mais tranquila.

Quando a escola foi atacada, o mandei para o esconderijo, abri o cofre, numa bolsa coloquei todo o dinheiro que tinha ali, bem como o famoso envelope.

Consegui chegar a tempo, que começaram a matar os monges, levaram os dois meninos, creio que pensando que erámos nós, meu irmão queria sair para defendermos, eu tinha conseguido roubar uma arma que estava no cofre. Mas claro só tínhamos as balas que estavam nela.

Conseguimos sobreviver ali, quase vinte dias. Sabíamos que a polícia tinha vindo, que faltavam 4 garotos, os outros estavam mortos, não sobrou nenhum monge para contar a história, isso eu tinha visto, antes da polícia chegar.  Tinha chamado a polícia, depois limpado o telefone.

Sorte talvez de prestar atenção nos filmes policiais que passavam nos sábados, eu sempre prestava atenção em tudo, brigava com Jules por isso, estava sempre metido em sua cabeça, tinha dificuldade de assimilar que tínhamos que sobreviver.

Na bolsa vi que tínhamos bastante dinheiro, mas o que me surpreendeu foi no envelope, creio que era para nos entregar quando tivéssemos mais idade, era a posse da mansão, bem como dados de uma conta num banco na suíça.  Além de uns passaportes diplomáticos, vazios.

Guardei tudo na parte mais profunda da cova, nem meu irmão tinha visto nada, fiz isso enquanto dormia.

Teríamos que ir embora dali, antes que acontecesse alguma coisa, convenci meu irmão, para me seguir.  Não foi fácil, pois queria ficar ali escondido, lhe dava segurança.   Nunca soube se estava certo ou não.  Nos arrumamos, com roupas que tinha roubado dos outros quartos, nos abrigamos, com duas mochilas, fomos caminhando para Albany, os dois tínhamos um bom corpo, podíamos passar por mais idade.

Aluguei um quarto para os dois, procuramos emprego, logo conseguimos num campo mais afastado, íamos trabalhar no campo, deixei os cabelos crespos e negros crescerem, mas Jules não gostava, a barba apesar de rala, era o que nos fazia diferença pois ele era completamente sem barba.

Infelizmente um dia estávamos na parte mais distante do campo, caiu um temporal, fantástico, ele pegou uma pneumonia, vivia reclamando que já tínhamos fugido da Inglaterra, se nossa vida seria assim sempre.

Temos que sobreviver Jules, não importa como, isso na cabeça dele era um problema, a pneumonia, foi mal curada, quando chegou o inverno, como dormíamos em cima do celeiro, pegou alguma infecção.   Morreu dormindo.  O dono da fazenda queria chamar a polícia, mas o convenci de enterrar meu irmão ali no cemitério da mesma com sua família dizendo que não tínhamos ninguém na vida.

Voltei até o colégio, já tinha vida outra vez, mas fui até o local que tinha escondido tudo, segui deixando as coisas lá, apenas peguei mais dinheiro, para ir até aonde sabia que estavam Elizabeth, tinha que tentar saber o que tinha acontecido com eles.  A morte do meu irmão me pegou de surpresa, mas chorei o suficiente, pois tinha que seguir em frente, não entendia ainda essa parte minha de sobrevivência, levaria anos, para parar, analisar isso, talvez fosse uma coisa de genes.  Se Elizabeth e Jonathan estivessem vivos, pelo menos poderiam me orientar.

Fui até lá fazendo um zig-zag, para despistar, não sei bem o que.

Quando encontrei a casa que viviam, ali estavam uma família, que não tinha nada a ver com os dois.   Sabia que por ser um lugar pequeno não podia ir perguntando de cara, tinha era que escutar as histórias.  Fui a biblioteca do lugar, procurei ver o pequeno jornal da cidade, até que encontrei a noticia do que tinha acontecido, tinham torturado o Jonathan, ninguém sabia quem, mas Elizabeth estava numa clínica de repouso, a tortura tinha feito estrados na sua cabeça.

Arrumei um emprego na mesma como servente, até descobrir aonde estava, quando me viu, me deu mostra de me reconhecer, mas fez um sinal de que não falasse com ela.

Uma noite fui ao seu quarto, me puxou para perto do seu ouvido, me disse, aqui não, amanhã se fizer sol, no jardim.

Roubei um uniforme de ajudante, a tirei para passear na cadeira de rodas, ela me disse não se aproxime para escutar.  Estarei falando, mas faça como que estivesse me passeando, pois me vigiam.

Perguntei quem?

Me disse, os ingleses que querem saber aonde esta o teu pai, a CIA, que acha que ele trabalha para os russos, estes porque ele conseguiu escapar da explosão que provocou.

Não tenho ideia de aonde está.

Me disse que tinham torturado tanto o Jonathan, que ele morreu, mas não disse nada, fui eu que confessei o da escola, mas roubaram os garotos errados.

Aonde está Jules?

Contei a história falando baixinho para ela.

Só sobrevivemos nós dois, há sempre que sobreviver.  Sei que a mansão foi destruída pelos russos, não sobrou nada.

Voltar para lá impossível, use tudo que tenha no envelope, foi montado por teu pai, pela tua avó.   Mulher de fibra de coragem, estava ali.

Agora me leve para dentro, em seguida desapareça, um dia desse vão perceber que não tenho nada. Mas por enquanto vou me virando.

Fui embora, lamentando a morte de tanta gente, não tinha ideia do que meu pai fazia, mas devia ser algo perigoso, para tantos governos quererem.

Voltei para Albani, busquei os documentos, resolvi usar o passaporte que seria do Jules, atualizei o mesmo, me arriscando muito, fui para a Suiça, verifiquei que o banco era vigiado, eles não sabíamos como eu era, consegui consultar a conta, transferir uma parte, para uma conta que tinha aberto em Albani, depois já veria.

Quando sai, vi que um homem me seguia, me escondi, para minha surpresa era meu pai.

Conversamos, me explicou tudo, chorou muito quando soube da morte do meu irmão, do Jonathan, em que merda os fui meter me disse.

Não posso ficar contigo, sou um perigo ambulante, tentarei embarcar para a América do Sul, vamos ver se consigo viver ali.

Eu voltei para Albani, na verdade, não tinha ideia de como tratar meu pai, era um belo desconhecido, que tinha causado muitos problemas.

Vi que o banco estava vigiado, resolvi fazer uma coisa, seguir com uma identidade falsa, peguei o resto do dinheiro, fui me esconder numa cidade grande, Los Angeles.

Ali encontrei uma forma de viver, algumas vezes trabalhava, ou senão vivia com os homeless, embaixo de viadutos, ou algum lugar que tivesse muitos ex-combatentes.

Um dia fiz amizade com um sujeito, que era parecidíssimo comigo.  Ele vivia nas drogas, usava uma barraca ao lado da minha, tempos depois teve uma overdose, roubei seus documentos.

Assim podia ficar mais tranquilo, tínhamos o mesmo tipo físico, fui levando, mas cada vez mais era complicado, as vezes aparecia a polícia procurando por alguém.

Fiquei pensando muito no assunto, me lembrei das conversas com esse ex-militar, me dizia que muitos tinham entrado para a polícia.

Pensei, que melhor lugar para me esconder que no meio dos que me procuram.  Usando sua documentação, cortei os cabelos como o dele, deixei uma barbicha como ele usava, me apresentei na escola de polícia, consegui uma vaga.  Logo estava trabalhando numa das muitas delegacias complicadas de Hollywood.   Era bom no que fazia.

Consegui sobreviver mais de 10 anos, tinha um bom apartamento, carro, levava minha vida, nunca estava muito tempo com nenhuma mulher, pois logo queriam se casar, eu tinha como desculpas que sendo policial, estar casado era um problema, escutava o dia inteiro reclamações de casamentos falidos.  Não era a minha.

Chegou um momento que meu disfarce quase foi para a merda, apareceu um rapaz, dizendo que eram filho do homem que eu suplantava.  Queria o conhecer, fiz amizade com ele, explicando que a vida no exército tinha destroçado a minha, por isso não tinha voltado a cidade de origem.  Nunca seria bom pai, ficamos amigos, ele só me dizia uma coisa, me achava mais jovem do que imaginava seu pai.

Mas foi embora, graças a deus, ia fazer universidade, em San Francisco, trocamos número de celular, para nos comunicarmos.

Nas primeira férias que tive, fui a Londres de lá como se fosse um turista a mais, entrei pelo interior.   As terras tinham sido vendidas, para pagarem os impostos atrasados, como se a família não existisse.

De lá fui para a Suiça, raspei a conta, transferindo através de outro banco para a conta do meu novo eu.  As vezes ria muito olhando-me no espelho.

Uma parte desse dinheiro, depositei na conta do rapaz que era seu filho, para lhe ajudar nos estudos.  Lhe disse que eram minhas economias, que sempre lhe mandaria algo para seguir seus estudos.

Vinha sempre me visitar, pois não tinha outros parentes.  Um dia me soltou na cara, que se eu não fosse seu pai, se apaixonaria por mim, pois ninguém o tinha tratado tão bem na vida.

Uma vez fui ferido, ele veio para me cuidar.

Quando fiquei bom, se sentou na minha frente, soltou, acabo de descobrir te cuidando que não eres meu pai, ele tinha uma marca de nascença, que tu não tens, podes me contar a história.

Lhe contei o que podia contar.

Ele riu, eu sabia, era tudo muito bom, pois a última notícia que tínhamos, era que vivia nas drogas, tu estas mais limpo que um santo.  Era verdade, não tinha vícios nenhum, não fumava, nem bebia, fazia exercícios sempre, era considerado pelos companheiros um atleta.

Lhe perguntei se me ia denunciar.

Nem pensar, sei que ele não teria me ajudado como fizeste, não sei se por sentimento de culpa ou porque me querias na verdade.  Tens sido um amigo que sempre posso contar.  Só não posso te amar mais do que posso imaginar.

Um dia se meteu na minha cama, eu só fazia sexo com mulheres, para me desafogar, mas nunca sentia nada.   As vezes preferia uma punheta, pois sabia meus pontos débeis, do que procurar alguém.

Gostei de fazer sexo com ele.

Vinha investindo todo o dinheiro que tinha, dava para uma boa vida, mas simples, deixei a polícia, fui viver em Venice Beach, numa casinha pequena que comprei, ia à praia, arrumei um pequeno emprego para o verão.  Ben vinha me visitar, fazíamos sexo, quando acabou a faculdade, arrumou um emprego ali perto, passamos a viver juntos.  Tínhamos o cuidado de não falar muito na família, não era um problema quanto ao nome, pois ele usava o sobrenome de sua mãe.

Um dia vi no jornal, que tinham capturado meu pai, na Argentina, que vivia ali muitos anos escondidos, que seria julgado pelo que tinha provocado, um produto que tinha desenvolvido para os militares, tinha escapado do controle deles, muitas vezes aparecia nas mãos de algum terroristas.

Fiquei pensando em ir até aonde seria o julgamento, mas ele passou uma carta a um jornalista, antes de se suicidar, com uma capsula de cianureto.

Pensei até o final, dramático.  Lamentava tudo isso, mas nunca tinha sentido nada por ele, tinha nos abandonado com cinco anos, as vezes para me lembrar de sua cara, tinha que fazer um esforço para mais ou menos imaginar.

A carta foi publicada no NY. Times, contava que todos os governos eram culpados, o tinham obrigado a desenvolver o produto químico usado hoje nas guerras.  A ideia dele, com minha mãe era outra, mas bastou os governos descobrirem que podia ser usado de outras maneiras para o pressionarem.   Dizia que tinha sido prisioneiro, primeiro dos Ingleses, depois dos russos, que tinha se vingado, depois dos americanos que o tinha ajudado a escapar da Rússia, sempre me diziam que seria livre.   Mas tudo que consegui, foi perder a minha família inteira, não mencionava que eu estivesse vivo.

Pedia perdão ao que podia ter causado, no meio tinha uma frase, você, que conseguiu sobreviver, siga em frente.

Isso originou uma série de debates, quem conseguiu sobreviver? Era a questão, nunca contei nada disso ao Ben, seguimos sim vivendo tranquilamente.

Eu sou muito mais velho que ele, será normal que morra antes, por isso, mantenho minha cabeça ocupada, trabalhando sempre em alguma coisa que goste.  Nunca mais voltei a gruta, ali só existem documentos que não servem para nada, não me interessa reclamar um título inglês, tampouco existe ali dinheiro.    Só roupas velhas, uma caixa com esses documentos, bem enterrados, se antes de nós, aquilo esteve escondido tantos anos, que continuasse assim.

Só tenho lastima hoje em dia da morte do meu irmão, dos meninos que levaram pensando que eram nosotros, bem como os monges que nos cuidaram tão bem.

Que adiantava agora, aparecer depois de tantos anos, para reclamar uma merda, pois sempre seria visto como o filho do homem que desenvolveu produtos mortíferos.

Seria como ser o filho do homem que inventou o gás para os nazistas.  Teria sempre na testa uma marca maldita.

Resolvi seguir com minha vida, aparentemente calma.  Ben, hoje é um profissional respeitado, mas cuida do que é nosso.  Sempre achei engraçado esse sentimento que ele desenvolveu, que o confundi-o num primeiro momento, esse amor pelo seu pai, que ele mal conhecia.  Depois ficou com medo disso, amar fisicamente um pai, era complicado, um complexo digno de tragédia grega, mas quando soube da verdade, se entregou.  Eu que não tinha experiencia de amar ninguém, aprendi a ama-lo para toda a vida.

Nunca me cobrou nada, nem se interessou sobre o meu passado.  Se algum dia alguém descobrir o que estava na gruta, que faça bom proveito, pois não passam de um monte de papel ridículos de títulos de nobreza, essas merdas.

Vou levando a vida, hoje quase cinquenta anos depois, posso confessar que vivi, sobrevivi, escapei de uma morte desde o primeiro momento.

Como sempre lastimo, a perda de Jules, ele nunca entendeu por que tínhamos que sobreviver, nem tampouco do que fugíamos, pois não se interessava por saber aonde iam os tiros.  Tudo que ele queria era levar uma vida normal.

Talvez por ter consciência de que no fundo não erámos normais, me fez buscar sempre a sobrevivência. 

Inclusive comemoro o aniversário do pai do Ben, nunca o meu.  Mais do que nunca agradeço sempre é a esse homem que morreu lutando por sua pátria, de quem roubei o nome, sua história, mas que foi enterrado como um qualquer.    Como foi o caso do Jules, foi enterrado embaixo de uma árvore, num lugar que não era o nosso, como um desconhecido qualquer, pois o seu nome tampouco era verdadeiro.

Só tinha medo disso, um dia o Alzheimer borrar o que me resta de lucidez, morrer sem saber quem sou na verdade.