lunes, 18 de octubre de 2021

OUTGROWN - SUPERAR

 

                                        OUTGROWN – SUPERAR

 

Sou Julius Thorn, minha história, as vezes parece um conto de mal gosto, pois desde que eu me entendo, tudo sempre parece estar desmoronando.

A começar por minha mãe, que desapareceu de minha vida, quando eu tinha uns 10 anos, a partir desse momento, passei a viver num colégio interno, meu pai vinha quando muito no Natal para me encher de presentes que não servia para merda nenhuma, acabava deixando que os outros alunos o levassem facilmente.   Pensavam que eu ficava molesto por isso, mas no fundo eu queria é mais que sumissem com tudo.

Meu avô ao contrário, vinha todos os meses, para saber como eu estava, ficávamos sentado no tempo bom no jardim conversando, no inverno, numa sala que a escola tinha especialmente para isso.   Sempre era positivo, era militar de carreira, já estava aposentado, vivia em San Francisco, como meu pai.   

Minha escola, era uma duas horas da cidade, nunca saia para nada, não estava autorizado a sair com os outros alunos quando iam de excursão, nunca conseguiam a autorização do meu pai.

Quando chegou a época de mudar de curso, também mudei de escola, essa era dos mesmos monges, mas ficava um quantos quilômetros mais perto.

Em qualquer caso, as restrições eram as mesmas.   No mesmo dia que cheguei acompanhado do meu avô, chegaram 8 novos alunos ao mesmo tempo, todos desceram de limusines, grandes, acompanhados de seus pais ricos.

Iam compartir quartos, só eu que tinha um só para mim.   O que no fundo era bom, quando não queria conversar, ou estudar, tinha o silêncio que gostava.

As liberdades dentro do muro agora eram melhores, esse tinha jardineiros que cuidavam de uma área imensa de lazer, quadras de todos os tipos de esporte, mas gostava mesmo era de ir xeretar na cozinha, que ficava logo ao final do edifício, o cheiro das espécies sempre me seduziram.   O chefe da cozinha, era francês, quando viu meu interesse, me deixava entrar para sentir, analisar o cheiro, dizia, aqui coloquei isso, aquilo, mais uma pitada disso.

A comida pelo menos era excelente.   Quando comentei com meu avô, na visita seguinte, ele soltou que eu devia ter herdado de minha avô isso, pois sua comida era espetacular.  Meus rasgos sem duvida nenhuma se deviam a ela.   Era chinesa, ele adorava falar nela, como o tinha seduzido, quando a conhecia, usava roupas tradicionais chinesa, com os cabelos imensos apanhados na nuca.   Se eu deixasse era capaz de a descrever horas, do que gostava, como era.

Meu pai era um tipo raro, com os olhos rasgados, mas azuis como os do meu avô, cabelos negros, altura como do seu pai, tinha 1,85 metros de altura, acho que herdei isso dele, sou alto, mas musculoso, por não ter o que fazer, também para me defender, fazia todos os esportes permitidos, além de Karaté que me ensinava o monge francês da cozinha.

Foi quando fiquei amigo dos outros 8 que tinham chegado, nos viram fazendo exercícios, perguntaram se podia fazer também. 

Agora tínhamos várias aulas por semana, sempre que ele estivesse livre, acho que gostava, pois sempre nos chamava para fazer exercícios.    Me ensinou a me concentrar, observar.  Dizia se estás nos meio de uma ação, tens que saber te concentrar, para poder ver tudo em tua volta.

Os oitos, nunca passavam as férias no colégio, voltavam sempre cheios de novidades, eu ficava a margem, pois não tinha nem chegado ao portão principal.

Nessa época meu avô vinha, lhe conseguiam um quarto, íamos a missa juntos, jantamos no salão, com o monge francês, que ficou seu amigo.

Nos dois últimos natais, o vi mais preocupado, no último então, já que sairia dali no ano seguinte, mais ainda.   Falou pouco, quase não comeu.    Quando perguntei o que acontecia, me disse que estava preocupado com meu pai.   O cabeça de vento, sempre se mete em confusões.

Falou com o reitor, disse que me autorizava a ter classe de condução, com os outros colegas, pois ia necessitar de um carro para ir à universidade.

Isso era um problema, pois não conseguia me ilusionar com nada, examinava uma carreira, mas encontrava sempre defeitos, até o momento não tinha me apaixonado por nenhuma.

Meus oito amigos, ao contrário, estavam todos com suas vidas definidas, agora lhes era permitido sair nos finais de semana, mas tinham horários.

Eu como sempre, minha únicas saídas eram para as aulas de condução.   O que fazia era ir com os olhos bem abertos, olhando tudo pelo caminho, tinha um lugar, que sempre me atraia a atenção, era logo em seguida a uma curva fechada, uma entrada que parecia um lugar de descanso para condutores, quando perguntei ao professor, me disse, que anos atrás tinham imaginado duplicar a estrada, mas ali na verdade era um lugar de manobra para os tratores das fazendas por perto.   Usavam esse lugar para manobra, parar um momento para fumar um cigarro.  eu me imaginava fazendo isso, parar, fumar um cigarro, coisa que nunca tinha feito, mas queria fazer, parar para pensar, no que eu não sabia.   Mais ao fundo desse lugar, estava um pequeno bosque que pertencia a cidade, o usavam para caçar.

Cada vez que passava por ali, pensava que ali era um excelente lugar para se esconder, pois nunca via ninguém, na verdade tinha um ponto cego, conforme se vinha pela curva, se via a entrada, logo adiante a saída, mas o meio do lugar não.   Então um carro podia ficar ali parado sem que ninguém o visse.   Um dia insisti em fazer o retorno ali, tinha um lugar que todos pareciam parar, de onde se via a estrada, mas da estrada era impossível te verem.

Quando acabei o curso, meu pai apareceu de surpresa, o vi mais magro, com olheiras, ombros caídos.  Mas como sempre falou pouco. Quando foi embora fez uma coisa que estranhei, me deu um beijo na cabeça.

Me parecia mais uma despedida, dois dias depois era meu aniversário, que só comemorava quando meu avô aparecia.

Nesse dia, quando sai de uma aula, havia uma movimentação incrível, no estacionamento da escola.   Ali estava um caminhão de transporte com um conversível amarelo.  Bah pensei deve ser presente para algum dos meus amigos ricos.  Fui para a aula seguinte, só se falava nisso, quem era o felizardo.

Quando acabou a aula, o reitor veio me buscar, teu pai deve dois meses de mensalidades, mas te manda um carro.  Telefono para ele, mas ninguém atende o telefone.  Falei com teu avô que imediatamente pagou os meses que te falta de aulas.  É uma pessoa do bem.

Quando sai, levei um susto, o conversível tinha um laço imenso amarado nele, com um envelope, era meu presente de aniversário.

Para que descubras o mundo, beijos teu pai.

Pensei, mais um presente idiota, o reitor me deu as chaves, achei estranho pois tinha duas outras pequenas presas na mesma.

Tirei o laço, que ficou ali no chão, o cozinheiro ria, em Paris ias fazer sucesso com um carro deste.  Me permitiram dar uma volta com o carro, mas não vás longe.   Meus companheiros olhavam com uma certa inveja.

O primeiro que fiz, foi justamente parar no lugar que sempre tinha curiosidade, examinei o carro todo, achei estranho ao abrir o porta-malas, encontrar ali duas caixas de ferramentas, com cadeado.  Ao abrir aonde se guardam os documentos, vi meu nome em todos, bem como um celular preso neles, ao abrir simplesmente atendeu meu pai.

Gostou do presente?

Sim, mas porque uma coisa tão exuberante, foi a palavra que me saiu.

Um dia entenderas, olhe o que essas duas chaves abre, mas esconda isso imediatamente, ninguém deve saber o que tens, vou desaparecer, cuide-se bem, não comente isso nem com teu avô, destrua esse celular imediatamente.  Te afastei de mim porque sou um lastre para qualquer pessoa.

Mal me deixou falar, desligou o celular, quando abri outra vez, já não fazia ligação.

Resolvi experimentar as chaves nos cadeados da caixas de ferramentas.  Quando abri a primeira, levei um susto, estava cheia de maços de dinheiro, a segunda era igual, mas por cima estava cinco bolsas com pequenos diamantes.  Fiquei suando frio, será que ele roubou isso.

Na primeira por cima, tinha uma pá dessas que usam o pessoal nas montanhas, era desmontável.

Levei a primeira até o fundo no bosque prestei a atenção se ninguém da estrada me via, fiz o mesmo com a segunda, pesavam bastante, entrei um pouco no bosque, cavei bem ao pé de uma árvore, que a terra me pareceu mais frouxa, enterrei a primeira, andei mais uns dez passos, fiz o mesmo, joguei terra por cima, para esconder que ali se tinha cavado.   Estava mais era assustado.  Que merda toda era essa, desmontei a pá, procurei ali mesmo um esconderijo para ela.

Voltei ao carro, dei uma volta completa, para ver se se podia ver alguma coisa desde a estrada.

Agora podia sair todos os dias, fui até a cidadezinha mais próxima, comprei cigarros, fósforos, eu gostava de sentir o cheiro de acender.  Fumava meu cigarro, guardava tudo, ia embora.

Mas sempre parava no meu esconderijo secreto.   Observava se tudo continuava em ordem, tinha crescido por cima grama.

Fazia sempre que estava mijando, por se acaso aparecia alguém.

Agora ia sempre a vila, tentava falar como fixo do escritório dele, mas diziam que esse telefone não existia.   Sabia que meu avô estava viajando com um amigo, vizinho de apartamento, todos os anos ele fazia isso, apesar de aposentado, dizia que estavam de férias.

Um dia estava ali na curva, quando vi passar dois carros de polícia a todo gás em direção a escola, em seguida passaram perseguindo um carro negro.

Quando cheguei a escola, vi um grande tumulto, o monge francês, me disse para ir falar com o reitor.

Estava assustado, que merda tinha acontecido, que tinha eu a ver com tudo isso.

Ele me esperava na porta do meu quarto, o mesmo estava destroçado totalmente, toda minha roupa no chão, gavetas o armário virado em cima da cama, esta quebrada no meio, o banheiro totalmente destroçado.

Minha cara de susto, lhe deixou impressionado, qual dos garotos fez isso?

Foram dois chineses que entraram aqui armados, fizeram o porteiro levar até seu quarto, um porta foto que eu tinha a foto antiga de meu pai e minha mãe, também estava destroçado.

Só a do meu avô estava inteira.

Retirei a foto, pois era a única que tinha da minha mãe, tremia de raiva, medo, de não saber o que estava acontecendo, me levou ao seu gabinete, telefonou para meu avô.  Este estava nervoso, menos mal que não estava na escola. O melhor que fazes é vir até aqui.

Falou como reitor, ainda faltavam um mês para o final do curso, mas mandou prepararem meus documentos, como tendo finalizado o curso, como eu era um dos melhores alunos, não necessitava fazer as provas finais.

Quando ia saindo, vi uma grua, levantando o carro, com dois sujeitos do FBI, levamos outro susto.  O carro está requisitado, teu pai desapareceu com dinheiro de muita gente, tem chineses atrás dele, prendemos dois, deves tomar cuidado.

Agora como eu ia embora, o monge francês, me emprestou o seu carro, me disse aonde eu devia deixar, por todas as semanas ele ia a San Francisco dar um curso de cozinha.

Agradeci muito, o abracei, era um amigo em quem confiar.  Me despedi dos outros, um deles virou, tua vida sempre acontecem coisas diferentes, na nossa merda nenhuma, enquanto não saímos daqui.

O reitor me deu um envelope, com a letra do meu avô, para um caso de emergência.  Isso vinha a calhar, pois tinha que colocar gasolina no carro, não tinha um puto dólar no bolso.

Assim não ia precisar abrir as caixas, pois a estas alturas da confusão, me parecia um perigo, mas parei ali da mesma maneira, para fumar um cigarro, minha maleta estava destroçada, tinha conseguido uma bolsa para colocar, cuecas, meias, camisetas, logo compraria uma calças jeans.

Quando cheguei em San Francisco, outro susto me esperava, tinha um policial, em frente a porta do meu avô.   Seu apartamento estava totalmente destroçado como meu quarto.

O vizinho saiu, pegou a bolsa, me levou para seu apartamento.

Teu avô quando viu isso, só disse, esse filho da puta vai me matar, falava do seu pai, resmungou uma série de coisas.  Teve um enfarte, caiu, tive tempo de chamar uma ambulância, te laves, vamos ao hospital.   

Quando saímos, me perguntou pelo meu carro. 

O FBI apareceu, requisitou o carro, melhor assim, chamava muito a atenção, depois terei que levar esse a um estacionamento aonde meu amigo francês dá aulas de culinária.

No hospital me identifiquei como Julius Thorn, me deixaram entrar para ver meu velho.  Parecia ter levando uma pancada na cabeça.  Segurou minha mão, como dizendo, sinto muito, estava com um aparelho de respirar no nariz.  Falava devagar.  

Teu pai se meteu numa grande confusão, olha no que deu.  Creio que se meteu em jogo com os chineses, eu lhe avisei, mas estava numa situação complicada.  Falei com seu advogado, mas tampouco sabe nada a respeito.   Tudo que sabe é que gastou todo o dinheiro do teu Fideicomisso, não sei como ele pode fazer isso contigo. Mas de qualquer maneira, é bom porque suas dívidas são imensas, terias que pagar de qualquer maneira.  Tentaram cobrar de mim, mal cheguei, mas meu advogado alegou que vivo de minha aposentadoria, que não tinha nada a ver com as confusões dele.   O juiz diz que não tenho que pagar nada.

Já fiz meu testamento, pelo menos terás alguma coisa segura se me acontece alguma coisa.

Bom, não se preocupe avô, eu posso trabalhar.

Voltamos, deixei o carro aonde tinha combinado, deixei um bilhete dizendo que quando estivesse na cidade me chama-se.

Pelo menos tinha um problema a menos, não tinha que decidir que universidade ir.  Teria sim que conseguir um emprego.

Com o George, arrumamos o apartamento, ele mandou trocar a porta, mesmo assim a polícia avisou que teria que ficar, iam trocando de homens durante o dia e a noite.

Comprei roupas de jovens da minha idade, o pequeno edifício, ficava um pouco mais acima de Castro, olhei como andavam os jovens pela rua, cortei meu cabelo mais rente a cabeça para não ter que me preocupar.  Veio um homem do FBI para conversar comigo.  Lhe fui sincero, estava fudido, se não arrumo um emprego rápido, não sei como vai ser.

Terás que pedir ao juiz que te torne independente do teu pai. Pediu que o George viesse conosco, nos levou a um juiz, que sabia do caso.

Que pensas fazer da tua vida.

Bom ir à universidade foi para a puta que pariu, desculpe senhor juiz, ele percebeu que eu andava nervoso.  Lhe disse que dormia mal, pois meu avô no hospital, tudo o que tinha acontecido.  Comecei falando do carro, meu pai sempre foi exagerado, mas um conversível amarelo, que chama uma atenção incrível, não sei se queria distrair seus devedores, não sei o que queria com isso.

Examinamos o carro inteiro, foi desmontado, pois podia ter alguma coisa escondida, não se encontrou nada, agora o vão remontar.

Será que posso vende-lo para fazer alguma coisa de dinheiro?

Sim, podes, sem problemas.

Respirei fundo.  Evidentemente não ia falar nada que tinha falado com meu pai, das duas caixas de ferramentas, não era louco.

No apartamento que vivia seu pai, a mesma coisa, está totalmente destroçado, mas foi requisitado como pagamento.

Estou pensando em fazer um curso de cozinha com o monge da escola, que dá aulas aqui, pelo menos terei uma profissão que goste.

Com os papeis firmados, se relaxou.  Mas quase em seguida levou um susto, pois o do FBI lhe soltou, tens outro problema para resolver, o de tua mãe.

Mas minha mãe morreu a muito tempo.  Eu acho que tinha dez anos quando isso aconteceu.

Nada disso, esta numa instituição privada, internada todos esses anos, levantamos sua ficha, tem uma doença degenerativa, atacou seu cérebro antes do resto, não fala, está como catatônica.

George disse que o levaria até aonde a iam transferir.

Sentiu que lhe tinha dado uma porrada no meio da cara, estava zonzo, tinha pensado todos esses anos, que sua mãe tinha morrido.  Quando se acalmou, falou com o advogado de seu pai.

Não se preocupe, ela tem um fundo de sua família, isso ele não pode mexer, tomarei providencias para que fique no mesmo lugar.

Se queres marco uma hora com o diretor, te levo junto ok.

Sim, ok, comentou com o advogado o que tinha feito hoje.

Isso pelo menos te dará margem a seguir tua vida.

Por mais que tivesse preparado, não estava, pois não tinha ideia do que ia ver.  Encontrou uma mulher que aparentava ter mais de 80 anos, cabelos todos brancos, bem cuidados mas brancos, uma sombra da fotografia que tinha.  Se sentou em frente a ela, como o médico disse, este lhe falou alto, esta meia surda, teu filho veio te ver.

Ficou olhando para ele com curiosidade, se via que fazia um esforço para elevar sua mão até eu rosto, ele se aproximou, sentiu o perfume que sentia em criança. Sem se dar conta, se deitou no seu colo, chorando, eu não sabia que a senhora estava aqui, senão tinha vindo antes.

Ela o ficou olhando longamente, como procurando encontra-lo em algum lugar.

Falou com o médico se podia visita-la.  

Sim uma vez por semana, hoje foi uma exceção, te iremos comentando a respeito, como vai reagir a isso.

Saiu dali, no carro, por sorte George não disse uma palavra, deixou as lagrimas correndo pela sua cara.  Era como tudo que estivesse guardado no fundo de sua cabeça tivesse surgido outra vez.

Se lembrou de conversas que tinha escutado entre seu pai e seu avô, a respeito dela.  Que estava se comportando de maneira estranha.  A um pouco se lembrou, que seu pai tinha feito com ele um teste de ADN, para saber se era mesmo seu filho.   Foi quando tomou a decisão de o mandar para o internato.

George só disse, isso mesmo desabafe.   Iam chegando ao hospital, uma grande confusão com carros da polícia.  Tinham tentado sequestrar seu avô.  Ele tinha tido uma embolia, estava na sala de operações.

Só pode pensar, como ele, o que esse filho da puta fez.

Escutou o homem do FBI, falando com o outro, citado o nome da tríade que estava atrás de seu pai.   Fazer isso com o velho, era demais.

Como estava na Uti, não lhe deixaram entrar, o que fez, foi ir para casa, saiba que as tríades estavam em Chinatown, se orientou, chegando lá, procurou algum homem com aspecto diferente, já que o olhavam de maneira distinta, disse quem era, que queria falar com o chefe da tríade.

O fizeram ficar esperando, até que o levaram frente a um senhor de idade.

Foi franco, não tenho ideia do que meu pai fez, nem de aonde está, não creio que meu avô saiba de nada.   O único que tenho de valor, é o puto carro que me mandou de aniversário.

Ainda soltou, eu achava bom demais, nunca me deu nada, quando vi esse carro, pensei, que merda é essa.

Mas o FBI diz que o desmontaram inteiro, não encontraram nada.   Peço por caridade, que deixem meu avô em paz.  Em vez de ir a universidade, terei que procurar um trabalho, vou fazer um curso de cozinha, para ver se arrumo emprego.  Explicou o do monge.

A cara do velho era imutável.

Tens coragem de vir aqui falar comigo.

Olha, soltou de repente. Que pensaria o senhor, saio da escola, quando volto tenho meu quarto destruído, chego aqui, meu avô no hospital, ninguém é capaz de me explicar direito o que realmente ele fez.   Descubro que minha mãe, que pensava que estava morta desde que tinha dez anos, vive internada, porque tem uma doença degenerativa mental.  Quando saí, de aonde está, chego ao hospital para cobrar do meu avô, porque me escondeu isso, ele está sendo operado, porque alguns homens queriam rapta-lo.   Como escutei os do FBI, falando o nome da tríade, resolvi resolver isso.   Inclusive se me querem matar, tudo bem, já não tenho nada a perder, tudo por causa de um louco, filho da puta.

Ele disse o valor que seu pai devia a eles.   Ficou de boca aberta, jamais poderia imaginar isso.

Como foi isso?

Como perdia no jogo, lhe propusemos fazer lavagem de dinheiro, fazendo aplicações, a princípio bem, mas creio que viu tanto dinheiro que resolveu se apropriar, fazia as aplicações, transferência de dinheiro para fora do pais, mas num determinado momento que tínhamos confiança nele, transferiu tudo para outro lugar, com outro nome, deste para outro, assim uma sequência que não somos capazes de descobrir.

Sua cabeça dava voltas, desmaiou, acordou com uma senhora chinesa, lhe abanando a cara.

O velho já não estava ali, nem era o lugar que tinha estado. Viu sim que tinha roubado seu celular, querem verificar o que tem.

Quando quis se levantar, ela disse que não, que ficasse descansando, pois iam lhe trazer o celular.

Quando lhe entregaram, já estava sentado, saiu dali tonto. Como seu pai podia ter feito isso, não só com ele, mas com seu próprio pai.

Dali foi para o hospital, lhe deixaram ver seu avô, ficou sentado ao seu lado segurando sua mão.

Olá garoto, falou com um fio de voz.   Queriam saber aonde estava teu pai, mas não tenho uma puta ideia.

Avô se eu o encontro, lhe dou uma surra de fazer gosto, como pode fazer isso, olha o que fizeram com o senhor.  Pior foi saber que minha mãe está viva.

Perdão meu filho, mas a decisão foi dele.

Acho que ele nunca tomou uma decisão correta na vida, não é possível.

Viu que o avô se agitava, fique tranquilo avô, contou que agora era independente, que iria conseguir um trabalho.  Me defenderei, não se preocupe.

No dia seguinte, recebeu o recado do monge, que teria um curso, ele podia aparecer, traga somente um avental.

Cada dia ele ensinava um prato, como quando estava na escola, que o ensinava como fazer as coisas.

Acompanhou bem o curso, depois ficaram sentados, comentou com ele, que tinha pensado em fazer.   Preciso trabalhar.

Este tirou o celular do bolso, chamou uma pessoa, falando em francês, o entendia por que tinha sido um bom aluno na escola. 

Bom falei com um amigo Pierre Lascaut, é severo, mas um excelente cozinheiro, foi meu aluno, tem um lugar de ajudante para ti.  Te vai liberar para toda semana vires fazer um curso comigo, aproveite aprenda com ele tudo que possa.

Foi como começar a aprender o alfabeto da cozinha, pelo menos ali, preocupado em aprender, ia se relaxando, não pensava em todas as loucuras de seu pai.

As vezes depois de passar pelo hospital, aonde seu avô se recuperava lentamente, ia pensando nisso, aonde estará metido esse filho da puta.

Levava sempre alguma coisa para o seu avô, sopas, caldos franceses.

Este lhe dizia, que ele o estava acostumando mal.  Um dia encontrou ali seu advogado, mas não quis falar no assunto.  Agora seu tratamento estava meio complicado.

Ao mesmo tempo marcou seu dia de folga para os dias que podia entrar aonde estava sua mãe, cada vez mais ela o olhava, como procurando localizar aonde ele estava em sua memória, levava sua cadeira de rodas, ao jardim, nos dias que estava bom o tempo, colocava uma manta sobre suas pernas, ficava conversando com ela, sobre as vezes que tinha pensado nela na escola, quando as mães, apareciam para ver seus filhos, ele tinha que se conformar que não tinha ninguém.

Um dia pela manhã, lhe avisaram que tinha falecido, avisou o advogado de seu pai, teriam que preparar o enterro, perguntou se ela tinha parentes.  Mas mesmo assim, mandou colocar um obituário no jornal.  Só estavam ele, mais duas pessoas que pareciam ser do hospital, além do advogado.  Esse depois disse que teria que falar com ele.

Vi sim dois chineses, como se tivessem ali, vigiando.  Se seu pai nunca a tinha visitado no hospital, não ia ser agora que ia dar as caras.

Contou só depois do enterro ao seu avô.

Pobre garota, a primeira coisa que fez, pois sabia que tinha essa doença, quando nasceste foi fazer um exame para saber se tinhas essa mesma doença, mas não tinhas.

Mas foi progressivamente perdendo os movimentos, quando finalmente a cabeça começou a falhar, dizia muitas besteiras, desmaiava, foi um inferno.  Teu pai, nunca nasceu para sacrifícios, o amor foi a merda.  Ela tinha sem que ele soubesse, pois isso era hereditário, um fundo para o futuro, feito pelo seu pai, foi o que a salvou, pois por teu pai, a tinha internado em algum lugar público.

Então ele sempre foi assim?   Quando a internou, fez o mesmo comigo, ia me visitar no final do ano, cheio de presente caros, que não servia para nada, ficava 15 minutos, dos quais passava mais tempo olhando o relógio.

Vou falar a verdade meu avô, eu nunca soube quem era meu pai na verdade, não passa de um belo desconhecido para mim.

Meses depois seu avô morreu sem ter saído do hospital, houve um retrocesso total, principalmente por causa da idade, foram lhe falhando os órgãos principais, ao final estava com um monitor, quase em estado vegetativo.

No seu enterro sim, houve muita gente, principalmente militares, que se encarregaram de tudo, ele estava sentado com George ao lado, quando recebeu a bandeira americana.

Buscou olhando a multidão, alguém que fosse parecido com seu pai, mas tudo que viu, basicamente no perímetro, foram chineses disfarçados, como que se tivesse honrado seus antepassados, mas justo ao lado do cemitério que estão enterrados uma maioria de irlandeses, teve que sorrir, pois era uma coisa patente.

No dia seguinte já estava trabalhando normalmente, não se podia dar o luxo de perder o emprego.  Semanas depois o advogado o chamou, lhe deixava o apartamento, bem como um fundo para pagar os impostos do mesmo.  Assim mesmo uma quantidade em dinheiro para poder ir para Paris fazer um curso.

Era amigo do adido militar na embaixada de Paris, seu advogado já tinha feito contato com ele, a pedido do velho.

Falou com seu professor, este disse, a base já tens, agora tens que ir em frente, lhe deu um contato, cursos que poderia fazer, bem como conseguir algum trabalho.

Deixou o apartamento aos cuidados do George que se ressentia da morte do amigo.

Quando embarcou, viu o chinês que o tinha levado ao chefe da Tríade, comentou com ele, dizendo vou a Paris fazer cursos do que trabalho.   Inclusive o endereço que vou ficar hospedado, assim teu chefe sabe aonde estou.

Ele sabia que no seu celular tinha colocado uma escuta, usava para outras coisas, um de pré-pago, assim não corria perigo.

Amou ter saído do circuito de San Francisco, sabia que estava sendo vigiado, fazia que não via, tinha conseguido com um que era amigo do Monge, um emprego, um restaurante que era um barco, que passeava a noite pelo Sena.    Durante o dia cursos, do meio da tarde em diante preparar o jantar para muitas pessoas.

Quando um professor soube o que ele estava fazendo, lhe arrumou um emprego melhor, num pequeno restaurante no Rive Gauche, aonde ele trabalhava da cinco da tarde, até 2 da manhã, não sobrava nem tempo para conhecer direito a cidade.

Saia do restaurante, ia até a entrada do metro, que ficava na esquina, descia na esquina de sua casa.  Tomava um banho, caia na cama, dormia.

Sabia que estava sendo vigiado, mas não era com ele.   Nos finais de semana, era mais complicado, pois trabalhava muito, a cozinha era pequena, mas ele se apanhava com os dois ajudantes.   Também ao voltar para casa o metro estava mais cheio.   Um dia encontrou no bolso do seu casaco, um celular de pré-pago, entendeu que alguém o tinha colocado no bolso.

Seu pequeno apartamento era no último andar.

A voz era de seu pai, quando ele disse quem era, lhe respondeu, meu pai morreu a muito tempo, era um bom filho da puta.    Desligou o telefone.

No dia seguinte, no horário complicado do metro, jogou o mesmo ao entrar, tinha destroçado o cartão, jogado no lixo do restaurante.

Quando ele tentou da segunda vez, ia jogar pela lixeira do edifício, quando percebeu um movimento embaixo, apagou a luz, viu dois chineses examinando o lixo.

Fez a mesma coisa no dia seguinte, o cartão o destroçou, jogou no banheiro do restaurante, viu que agora sempre se cruzava com o mesmo chinês.  Encontrou uma maneira simples de se desfazer do mesmo, deixou o celular na mesa de um restaurante, que entrou para ir ao banheiro, limpou suas impressões digitais, o deixou ali.

Tomou uma decisão, poderia ficar mais tempo trabalhando, mas tinha chegado a hora de ir embora.  Quando foi embarcar, viu o mesmo chinês, na fila de embarque, quando viu o mesmo se sentava ao seu lado.  Como o voo era larguíssimo, se apresentou, o outro lhe respondeu, Masaru Ikeda, vim a Paris, fazer curso de cozinha.  Por isso creio que nos encontramos em muitos lugares.

Sem querer tinha coincidido em alguns cursos, bem como vivido perto, talvez por isso, tinham se encontrado pelo metro.

Te tomei por chinês?

Uau, não me ofenda, disse rindo, temos o mesmo tipo de olhos, pois eu pensei que fosses, de alguma pais, que também tenha misturas, por exemplo Mongólia.

Riram, conversaram bastante, até que bateu o sono.

Quando despertaram, serviam o café da manhã, voltaram a conversa, o que cada um pretendia, os dois sonhavam o mesmo abrir um restaurante tipo bistrô, mas misturar com coisas já afincadas em américa.

Viram que tinham feito quase os mesmos cursos, ficaram rindo, Masaru, lhe contou que tinha trabalhado duro, para conseguir o dinheiro, no final juntei com alguma coisa que me deixou minha avó.   Agora é conseguir emprego.

Eu espero recuperar o meu, embora quando fui embora, era somente um ajudante, não sei se vai querer dividir com outra pessoa a cozinha.

Quase o mesmo acontecia com o outro.  Mas o meu, fechou, terei que procurar emprego.

Ficaram falando sobre receitas.   Masaru era descente de uma família tradicional, mas meu pai não gostou o que eu queria fazer, nunca admitiu que na família alguém o contrariasse, imagina queria que eu fosse advogado, tenho dois irmãos que são.

Pois eu não tive escapatória, no momento que chegou a hora de ir a universidade, me surgiram uma série de problemas familiares, um pai que desapareceu, deixando uma dívida monstruosa, descobrir que minha mãe que pensava que estava morta, vivia numa clínica, com um problema degenerativo, pude ainda aproveitar algum tempo com ela, mas acabou morrendo, quase em seguida perdi meu avô.   Ou seja se fosse dramático, não diria problemas, diria tragédia.

Então esses meses fora, foram ótimos para relaxar um pouco, não pensar no assunto, mas não me sobrou muito vamos assim dizer, curtir a noite, como fariam os jovens da minha idade, ou mesmo fazer turismo.

Masaru, disse que ele sim, como tinha feito somente práticas nos restaurantes, aproveitava o tempo livre. 

Eu precisava de dinheiro, por isso busquei trabalho, trabalhei com gente diferente, para saber como funcionava a cabeça deles.

Trocaram o número de celular, para se manterem em contato.  Se despediram no aeroporto.

George estava lhe esperando, foram conversando, achou estranho que ele parasse num posto de gasolina, venha vamos tomar um café.

Comentou que durante a ausência dele, ele tinha ido de viagem, novamente revistaram todo o teu, além do meu apartamento, mas desta vez o FBI tinha colocado pequena câmeras de vídeo, não eram os chineses, gente estranha, diria que da Europa de Leste.  Reviraram tudo. Teu sofá novo foi para a casa do caralho.  Acabaram trocando tiros com o FBI, que conseguiu prender alguns deles.

Tinham negócios, com teu pai também de lavagem de dinheiro, são como uma máfia, pelo menos agora sabem que não tens nada.

Contou que o pai tinha tentado fazer contato com ele, o que lhe disse da primeira vez, da segunda, simplesmente ignorei, me desfiz rapidamente do celular, por isso resolvi vir embora, tinha a sensação de que todos os chineses que via, me seguiam.

Desta vez, tomou uma resolução, teria o mínimo possível em casa, um colchão no chão, uma cadeira moderna de madeira, para que os filhos da puta não pudessem rasgar, nada que esconder, tinham rebentado a porta do armário, deixou sem portas, tinha um mínimo de roupas, além da roupa branca de trabalhar.

Falou com seu antigo chefe, que estava de volta, se podia seguir trabalhando com ele.

Venha vamos ver o que aprendeste.

Pediu um dia, pois tinha tido problemas em casa.  Organizou sua vida, verificou quanto tinha lhe sobrado no banco do dinheiro do avô.   Na verdade tinha gastado pouquíssimo, pois como tinha trabalhado, ganhou dinheiro também.

Tinha pelo menos um pé de meia também, para se no futuro resolve-se abrir um negócio seu, não teria problemas.

O chefe o recebeu bem, o colocou trabalhando ao seu lado, estou ficando velho, preciso de alguém que me cubra nos momentos complicados.

Agora como ganhava mais, foi mais fácil.  Tinha assimilado métodos de trabalho dos franceses, quando o chefe foi de férias prolongadas a França, lhe perguntou se podia, já que o restaurante não era seu, colocar algumas coisas na carta.  Pode, mas vamos experimentar comigo aqui, assim saberei o que estas fazendo.

Fez o que tinha pensado, o chefe é claro era o primeiro a experimentar.  Logo fizeram uma entrevista, pois era coisas novas no cardápio, ele aparecia ao lado do chefe.  Tinha resolvido assumir o sobrenome de sua mãe, assim talvez evitasse problemas.  Julius Wild, a reportagem ficou excelente.  

Um dia saia do restaurante, se topou com o Masaru, levei um susto quando vi a reportagem, te reconheci pelo foto, mas o nome era outro. 

Estou usando o sobrenome da minha mãe, para evitar qualquer ligação com meu pai.

Dias depois recebeu um recado, que o chefe da tríade, queria falar com ele.

Foi no seu dia de folga. 

Esse o recebeu bem, vejo que vais em frente, mesmo depois de todas as coisas que aconteceram contigo.

Sim, não tinha outra solução, estou economizando para daqui um tempo, quando realmente tenha uma boa prática abrir um pequeno bistrô que seja meu.

Soube do que aconteceu durante tua ausência.  Cheguei à conclusão, que ou o teu pai é louco, ou comeu merda quando criança.

Riu, acabou as gargalhadas, penso igual ao senhor, para alguém fazer essas coisas, só pode ser assim.   Talvez, como meu avô reconhecia, teve uma boa vida enquanto criança e jovem, nunca trabalhou duro.   Quando se casou, foi com uma rica herdeira, por isso no inicio tinha dinheiro, só não pode gastar o que era um fundo que era administrado por estranhos, para seus cuidados, pois meu avô me contou que no primeiro momento, quis interna-la numa clínica dessas do governo.    Cada vez que me lembro dele, o chamo de filho da puta mil vezes.  Ninguém merece uma herança assim de seu pai.

Pode ficar tranquilo, fizemos uma reunião, já que o FBI, mantém um controle sobre aonde vives, lhe cuidaremos aonde trabalha.

Então nunca me livrarei desse pesadelo.  Mas no seu foro íntimo, pensava, nunca poderei chegar as caixas de ferramentas.   Na verdade não tinha ideia do valor que existia ali, nunca tinha contado.  Foi atrevido, ao se levantar para ir embora, estendeu a mão para o velho, sei que estarei bem cuidado.  Tampouco quero contato com ele, seria capaz de mata-lo.

Nesses depois, estava trabalhando na cozinha, quando um garçom se aproximou, dizendo que tinha um cliente reclamando da comida.  Normalmente mandava o maitre verificar, mas hoje era seu dia de folga.

Era um homem meio corpulento.  Mas quando falou, reconheceu imediatamente a voz do pai.

Quero minhas caixas de ferramentas.

Perdão o senhor, queria reclamar da carne, agora me fala de caixas, cuidado, o garçom chinês, vigia o restaurante para a tríade.  Tudo isso desapareceu no tempo.

Até logo senhor, entre os dentes, soltou, se apareces aqui outra vez, eu o denunciarei a tríade, ao FBI além dos Búlgaros, já destroçaste minha vida, fique fora dela.

Nessa noite convidou o George para sair, tomar alguma coisa por aí, no caminho, comentou da visita.   Não sei o que fazer, num primeiro momento, lhe disse que um dos garçom que é coreano, que era da tríade. Que se voltasse, avisaria os Búlgaros, bem como o FBI.

Vê, nem me atrevo a falar contigo em minha, nem na tua casa, por medo de que tenham escutas.

Que filho da puta, se eu fosse você, desapareceria na primeira oportunidade.   Esse pais é muito grande. 

Sabe George, já pensei muito nisso, mas de uma certa maneira, a tríade me protege aqui, bem como o FBI, se saio esses putos búlgaros, a quem eu não sei o que ele fez, podem me matar.

Tenho até medo de conhecer alguém, fazer sexo, no dia seguinte estar morto.

Nos seus dias livres, saia com o Masaru que estava trabalhando num restaurante dedicado somente a peixes, reclamava que não era muito criativo.

Quando seu chefe voltou, viu como ele levava tudo, resolveu ficar a margem, precisas sim de um ajudante.   Falou com o Masaru, agora pelo menos tinha alguém com quem falar.

Na primeira vez que o tornaram a chamar para reclamar da comida, o garçom disse, esse homem só vem quando o maitre esta de folga.  Reclama de tudo.

Disse ao Masaru, me faça um favor, diga que agora eres o chefe, escute a reclamação.

Primeiro ficou surpreso, perguntou por ti, disse que tinhas retornado a França, para atender um convite, que não sabia quando voltavas.

Ia inventar que tinhas aberto um restaurante, mas resolvi só dizer isso.

Nessa noite, não foi dormir em casa, aceitou um convite do Masaru para tomar uma cerveja, dormiu na casa dele.  George tampouco estava.

No dia seguinte, tinha o FBI, esperando por ele.  Seu pai tinha entrado no seu apartamento, não o reconheceram, mas sim as impressões digitais.

Avisou aos garçom, quando esse homem aparecer, diga que foi denunciado à polícia.

No vídeo, o idiota sabia que estava sendo gravado, pois ao sair, depois de olhar o apartamento, aonde não havia nada, nem lugar para esconder alguma coisa, fez um sinal para a câmera.

Estava louco de arremate pensou.

Ele tinha duas soluções, ou se tornar uma testemunha protegida do FBI, ou seguir sua vida. Agora sabiam como era sua nova cara.

Resolveu seguir dormindo na casa do Masaru, começaram uma relação, tinha contado tudo para ele.  O restaurante estava outra vez em voga, sempre que mudavam o cardápio saiam nas revistas.

Foram convidados os dois para irem trabalhar em NYC, ficaram de pensar.  George o procurou preocupado, contou o que tinha acontecido, se lembrou do comentário do chefe da tríade, sobre ter comido merda em criança.

Sim teu avô, como estava sempre fora, fazia todas as suas vontades para compensar, era muito agressivo com ele.

Masaru foi a NYC, verificar que valia a pena aceitar o convite, ele deixou uma cópia da chave da caixa de correio, tinha um envelope para ele, me devolve meu dinheiro, não era para ti, era para guardar, ou te mato.

O que ele não sabia, ao ter entrado, o edifício estava sob vigilância, pois ele tinha avisado ao FBI, que tinha mudado de casa.  O conseguiram pegar.  Daí foi um pulo, para falar milhões de asneiras.

Quando o FBI lhe perguntou por que lhe acusava de ter roubado ao próprio pai.  Só respondeu, se eu tivesse roubado meu pai, o senhor acha que estaria trabalhando de empregado, vivendo na casa do meu namorado, porque não posso viver na minha casa que vive constantemente sendo invadida, ser obrigado a mudar meu sobrenome, porque se uso o nome dele, me ligaram com ele.   Acho que ele está louco, soltou o que tinha falado do homem da tríade, achavam que tinha comido merda de criança.

Masaru voltou de NYC, o convite é bom, mas veja, não deixaremos de ser empregados, aqui pelo menos fazemos o que queremos.

Anos depois o chefe anunciou que fechava o restaurante, se eles queriam comprar, porque era dono do local.   Mesmo juntando o dinheiro dos dois, não cobria.

George disse que tinha uma empresa interessada em comprar todo o edifício, dois já venderam vai chegar o momento que sobraremos nós dois.

Ele vendeu, colocou o dinheiro para render, agora já não notava que estava sendo seguido, quando o pai tinha sido interrogado pelo FBI, o problema dele com os Búlgaros, era que tinha lavado dinheiro de venda de armas.  Gastei tudo no casino de Monte Carlo, seu problema era sempre o mesmo, o jogo.

Afinal o dinheiro que tinha roubado tanto dos chineses, esse ele tinha gastado antes nos casino de Las Vegas, o pouco que tinha sobrado, serviu para sua operação.  Quando acabou tudo, achava que o filho o tinha roubado.   Isso não convenceu o FBI, que tinha desmantelado o carro inteiro.  O que o velho não sabia, era que ele tinha comprado caixas de ferramentas iguais, colocando as mesmas no carro, mas realmente com ferramentas dentro.

Como tinha mentido tanto, ninguém acreditava nele.  Seu filho ficou na merda, dá um duro desgraçado, se tivesse escondido dinheiro, teria montando um restaurante, mas não, é empregado.

Quando foi assassinado na cadeia por um chinês da tríade, para dar exemplo, o velho estava furioso, pois não tinha sido ordem dele.   Havia uma verdadeira briga dentro da tríade, consideravam que o velho tinha se deixado enganar.

Ao se sentir outra vez seguido pela tríade, aceitou finalmente passar a testemunha protegida, mas para isso, convenceu o Masaru a voltar para Paris.

Ele desapareceu, mudou de nome, de cidade, nova documentação, viu aonde o levavam para fazer nova documentação, dai foi um pulo para fazer uma segunda.  Assim dentro de um tempo quando relaxaram, conseguiu escapar.

Antes passou pelo lugar a curva ainda existia, retirou as caixa de ferramentas, colocou tudo numa bolsa, voltando a enterrar as mesmas.

Recomeçou uma nova vida, em Vancouver, lá havia muita gente como ele, uma mistura de raça. Abriu um pequeno bistrô, mas como ele haviam outros.  O negócio era viver na clandestinidade, mas jamais fez como seu pai, usava o dinheiro para outras coisas. Ajudar as pessoas.  Primeiro cada vez que depositava dinheiro do restaurante, depositava um pouco, quando chegava a um valor alto, reinvestia.   Tinha basicamente conta em bancos de vários lugares, inclusive no Oregon, nunca se sabia.  Tinha aprendido da escola mais dura, o de levar bofetadas da vida.

Seguia levando uma vida simples, pois era o que necessitava, simplicidade.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

lunes, 4 de octubre de 2021

BOOM

 

 

                                          BOOM

 

Recordar o que tinha acontecido, o ruído, nos primeiros momentos quando despertou, voltavam como ondas na sua cabeça.

Preferiu fechar os olhos, estava deitado de bruços na cama do hospital, o ruído continuava como uma leva atrás de outra, sem querer associou quando viu o mar pela primeira vez, seu pai Onni a um penhasco, as ondas batiam nas rochas fazendo um ruído impressionante, ele acostumado com o silencio de viver em Pokka, com seu avô Mika, aquilo pareciam ensurdecedor. Tinha tapado os ouvidos com a mão, seu pai tinha rido muito, ele achou estranho, pois era a primeira vez que o via fazer isso.

Onni como o chamava diretamente, nunca tinha falado papai, ou pai, usava seu nome diretamente, era como seu avô da Lapônia, ao norte da Finlândia, uma vila minúscula, com poucas casas, um local que era ao mesmo tempo bar e lugar de abastecer de comida, inclusive de lenha no inverno.

Seu pai emigrou jovem para Helsinki, segundo seu avô nunca mandou nenhuma mensagem, um dia chegou um telegrama dizendo que estavam chegando.   O velho contava isso com detalhe, ficou imaginando que viria com uma namorada, ou quem sabe já com uma família, pois fazia tanto tempo sem notícias, que podia esperar qualquer coisa.

Desceu de seu carro, com um embrulho nos braços, ficou esperando mais alguém, mas nenhum movimento, foi em direção ao filho.  Tinha um bebê nos braços, era eu, todo vermelho, de sair do calor do carro, para o frio que fazia ali permanentemente.

Lhe entregou, dizendo um presente para o senhor.  Ele correu comigo nos braços para dentro de casa, se esquecendo inclusive de dar um abraço no filho que fazia anos que não via, meu pai nunca lhe perdoou por isso.

Quando ele entrou com duas bolsas, lhe encheu de perguntas, pois comecei a chorar, ele dizia que eu mais parecia um gato, reclamando comida.  Meu pai mostrou uma bolsa, aqui tens.

Quando ele viu uma lata de leite em pó, riu, essa criança precisa de leite, não vou dar essa merda para ela.

Me colocou na sua poltrona, que anos depois íamos sempre brigar para ver quem se sentava primeiro, pois tinha uma vista impressionante, abriu a porta, começou a gritar por Taimi, a vizinha do lado, que durante aos seria meu tudo, minha mãe de leite, a verdadeira que eu nunca conheci, bem como minha primeira professora, conselheira.

Tinha tido um filho, mas este nasceu morto, por algum problema congênito, para sumo do problema, seu marido foi embora, pois dizia que ele nem parir um filho sabia.

A primeira imagem que tenho dela, era uma mulher pequena, mas forte, com os cabelos eternamente presos numa trança em volta da cabeça, uns peitos imensos.

Correu até a casa, quando me viu, nem precisou ninguém falar, tirou o peito para fora, me deixando mamar, essa criança está faminta, assassinos.

Meu avô deixou seu quarto para ela, ia a sua casa fazer sua higiene, voltava, dizia que ir ao banheiro de homens nem pensar.

Meu pai contou ao velho que tinha conhecido uma alemã que trabalhava com ele nos escritórios da fábrica, que tinham tido um romance, viveram juntos o tempo que ela levou gravida de mim, mas tinha momentos complexos, me rejeitava, ao mesmo tempo que abraçava a barriga, o médico a levou para o hospital, aonde ficou em observação.  Tiveram que fazer uma Cesária, pois se negava a me colocar no mundo.   Dois dias depois desapareceu do hospital, tinham notificado a polícia, que ao verificar, viu que tinha embarcado num voo para Frankfurt.

Nunca conseguiram encontrá-la.

O jeito que ele teve foi esse, me levar para meu avô, depois de tomar consciência do que tinha feito, quis me levar de volta, mas os dois não deixaram, Taimi prometeu que o cuidaria como seu filho, assim o fez.

Voltamos a passar longo tempo sem vê-lo, quando apareceu, eu já tinha uns cinco anos, chegou com uma mulher, que apresentou como sua esposa, que vinha me buscar.  Isso foi uma confusão imensa, pois como eu não tinha papeis, meu avô me registrou como seu filho, com Taimi, meu deu o nome de Keikk, que seria algo parecido com Henrique.

A briga foi imensa, inclusive tiveram que chamar o único policial da vila.  Ele se virou para Onni, lhe pediu os papeis dizendo que era seu filho.

Ele sempre tinha sido relapso, não levou nenhum papel do hospital, inclusive podia ter sido preso por isso.

Então quando tiveres esse papeis, venha busca-lo.

Levou outro cinco anos em aparecer, nessas alturas, descobri que tinha dois irmãos, uma madrasta, na concepção que se dá a palavra, era muito má comigo.

Meu avô deixou, depois de uma larga conversa, dizendo que eu tinha que ir, para estudar, ali não havia escolas, eu teria que ir para um internato.   Sem querer foi aonde fui parar, mas em Helsinki.  A bruxa não me queria em sua casa, nem que aquele bastardo como me chamava vivesse junto com seus filhos.

Ali conheci a solidão, o silencio, pois era como um seminário, os únicos ruídos, eram os sinos da igreja, marcando as horas de rezo.  Fora isso, nenhum, falavam todos baixo, nas aulas também era assim, embora tivesse mais alunos de fora, se impunha a ordem, falar baixo, nada de gritos.

Meu lugar preferido era a biblioteca, aonde o silencio era absoluto. Era o meu reino.

Quando fiz 16 anos, estava muito adiantado, o reitor do colégio chamou meu pai, estava na hora de ir à universidade.  Nessas alturas meu pai era o diretor da fábrica, tinha uma bela casa, economizava para que meus irmãos futuramente fosse a universidade.

Não tenho tanto dinheiro assim, sua mulher na verdade controlava tudo.

Ele tem direito a uma bolsa de estudos, pelas suas notas, só necessita um lugar para viver.

A solução foi ir buscar meu avô, que muito a contragosto, furioso com o filho, isso quem me contou foi meu irmão que tinha ido com ele buscar o velho.

Imagina falou a viagem inteira.

Fomos morar, numa casa pequena que era dos empregados da fábrica, do outro lado da cidade, segunda a bruxa para não incomodar a família.  Ele logo se transformou em conselheiro de todos os homens da região, era raro chegar em casa não encontrar algum ali escutando como devia se relacionar com sua mulher, ele tinha sempre uma palavra, “respeito”.

Foram os melhores anos da minha vida, o tinha outra vez, todo para mim, me fazia escrever sempre para Taimi, ela merece filho, te criou com todo carinho.

Quando ficou doente, dizia que eram os ares da cidade que lhe faziam mal aos pulmões, os médicos concordaram, queria voltar para sua casa.

Eu já tinha terminado a universidade, tinha meu primeiro emprego.

Mesmo assim, esperou que eu tivesse férias, me comprou um carro desses que aguentam tudo, para que fosse com ele até lá, dois dias de estradas, nem me lembrava que fosse tão longe.

Fiquei com ele um mês, desfrutando da vida ali, disputando com ele o cadeirão, comendo as comidas feitas especialmente para mim por Taimi, ela me olhava com orgulho, quer dizer que agora eres doutor.

Ainda não Taimi, acabei a universidade, agora vou fazer o doutoramento, quem sabe.

Quando voltei, ia incomodo no carro, sem querer as vezes me virava para comentar alguma coisa com ele. Na hora de partir, me deu uma caixa de metal, que eu sabia que tinha visto uma vez na cabana que tinha no bosque, uma vez por semana ele ia até lá, para caçar, ou fazer alguma coisa.

Me entregou a caixa, me disse, nunca abra a mesma até a minha morte, é uma herança da família, me entregou meu avô, agora será tua, a partir do momento que eu morra.

Comecei a trabalhar, acabei o doutorado em direito.  Mas empregos estavam escassos, consegui esse de advogado júnior, numa grande firma.  Era um tipo de secretário de uma mulher grosseira, sócia principal, tudo dela era aos gritos, os outros diziam que era porque não fazia sexo.

Eu pensava, quem ia querer fazer sexo com uma mulher assim, a imaginava tendo um orgasmo, aos gritos.  Ria muito sozinho imaginando isso.

Vivia agora por minha conta, num pequeno apartamento, de um edifício restaurado. Era no último andar, aonde antigamente viviam os empregados das grandes família.

Era um quarto, uma saleta, banheiro, uma pequena cozinha que ficava logo a entrada.

Tinha perdido totalmente o contato com meu pai, sua família, sabia que a bruxa tinha morrido, porque saiu no jornal, tinha provocado um acidente na estrada indo, ninguém sabe aonde.

Mas como nunca me convidaram para nada, tampouco fui ao enterro.  A ultima vez que tinha falado com meu pai, Taimi tinha me avisado que meu avô estava mal, lhe chamei para dizer isso, a resposta, sem um olá meu filho ou coisa parecida, foi, não tenho tempo de ir até lá, é muito longe.

Nessa noite, depois de ter conseguido uns dias de férias, escutei um ruído no armário, abri levei um susto, pois a caixa de metal, brilhava, fiquei com a boca aberta.  Entendi imediatamente que ele tinha morrido.  Chamei a Taimi que agora tinha telefone em casa.

Sim meu filho, morreu a uns dez minutos, ia te chamar.   Mas como sabe disso?

Lhe disse que chegaria no dia seguinte.  Tinha conseguido um voo, para a cidade mais próxima, tinha alugado um carro, para ir até lá.  Ok, te espero para o enterro.

Quando abrir a caixa, levei um susto, pois todas as coisas que estavam dentro pareciam ter vida, brilhavam, se moviam dentro dela.

Fechei a tampa pelo susto, a apertei contra meu coração, entendia que agora ele sempre estaria comigo.

No dia seguinte fui para lá, a cerimônia foi simples, mas estavam todos seus amigos de toda a vida, me abraçaram muito, só um perguntou pelo meu pai, tinha me esquecido de lhe avisar.

Tampouco me importava muito.    Ficou furioso quando lhe contei, mas o mandei a merda, para que ia perder meu tempo, ias ter alguma desculpas para não ir.

Eu ao contrário, tinha me correspondido com meu avô todos esses anos, uma vez por mês nos falávamos por telefone.  Mas as cartas chegavam todas as semanas, não sei como sabia como eu me sentia as vezes, creio que sabia ler nas entrelinhas.

Senti alguém me tocando, dois enfermeiros me ajudaram a sentar na cama, mas me disseram, tens as costas ainda ferida, melhor não se encostar.

Estavam diante de mim dois homens que se identificaram, embora eu soubesse pela maneira de se vestirem que eram da policia de Helsinki.

Precisamos fazer umas perguntas.

Pelo visto eu tinha sido o único sobrevivente da explosão que acabou com o edifício.

Nos relate por favor tudo que se lembra.

Tinha acabado de chegar, passei pelas salas todas, sabia que haveria uma reunião importante entre os associados, pois alguém tinha feito alguma merda.

Minha chefa, exigia que eu lhe trouxesse café do bar de frente, que faziam como ela gostava. Desde que tinha despedido sua secretária aos gritos, eu tinha essa obrigação, ela entrevistava uma serie delas, mas todas tinha defeito.

Quando me dei conta, estava tirando o casaco, tinha duvidas do que me colocar de manhã, o tempo estava bom, mas me lembrei que de noite sairia para tomar alguma coisa com os amigos.

Voltei a colocar o casaco, desci pela escadas correndo, pois se chamasse o elevador ia me atrasar muito.    O porteiro que cuidava das pessoas que subiam para falar com os advogados, riu, soltou esqueceste do café da bruxa, fiz um sinal positivo.

Ia atravessar a rua, quando escutei uma explosão, senti que voava, depois tudo que me lembro era o rapaz do café me dizendo que não me mexesse, que a ambulância já estava a caminho, escutei outro estrondo, que entendi que era o edifício inteiro ruindo.  Sei por que a boca do rapaz estava aberta como dizendo ohhhhhh.

Depois desmaiei.

Só acordei aqui no hospital.

Há um fato estranho, relatado pelo rapaz esse do bar, quando caíste em cima do balcão, seu casaco estava em chamas, ele estava assustado, demorou para pensar aonde estava o extintor de incêndio, quando se virou, viu que em suas costas, aparecia neve, como se alguém estivesse colocando neve.   Pelo que sabemos, não nevou esses dias aqui.

Os da ambulância, concordaram, disseram que tinhas uma neve grossa nas costas, estavas desacordado.

Outra coisa, estranha, descestes pela as escadas, cruzaste com alguém?

Sim, o elevador é aberto, ou seja se pode ver dentro, minha chefa chegava para a reunião, atrasada como sempre, me apontou ao relógio, eu fiz sinal que ia buscar o café. Um gesto que ela sempre fazia, mostrou como era, notou que os braços estavam lentos.

O porteiro me pergunto se tinha esquecido o café da bruxa, eu fiz sinal positivo, passei pelo carro estacionado na frente, ainda pensei, quem veio nesse descapotável maravilhoso, uma coisa rara aqui.  Imagina um descapotável, aonde raramente temos semanas inteiras de sol.

Em seguida me senti voando, caindo em cima de alguma coisa dura.

Sim caíste em cima da barra do bar.  Por tua sorte, a vidraça do bar se partiu antes de passares por ela, senão estavas morto.

Isso não tinha lógica. Deveria ter sido ao mesmo tempo que ele caia.

Uma senhora disse que teve a sensação de ter de ver voando em câmera lenta, mas depois achou que isso era impossível.

Tentamos avisar teu pai, mas está fora, segundo o mordomo da casa.

Meu pai, está a meses num hospital psiquiátrico, está catatônico, por alguma coisa que aconteceu, ninguém sabe o que.

Vou visita-lo toda a semana, mas não reconhece ninguém.  Deu a direção do mesmo.

Ia se recostar na cama, o detetive disse que não fizesse, chamou o enfermeiro, que veio acompanhado de um médico que queria olhar como estavam as feridas.

Me ajudaram a voltar ficar de bruços, eu já estava farto de ficar olhando o chão.  Ele examinou, daqui um dia ou dois, poderás passar o dia sentado.  Se não fosse a neve, que virou gelo, ninguém sabe explicar isso, estarias perdido, a queimadura teria afetado aos pulmões, estarias morto.

Depois que ficou sozinho, foi como se lembrasse de alguma coisa em flash back, ele voando, a dor nas costas, alguma coisa ardia, depois relaxando pois alguém colocava neve nas suas costas, sentia perfeitamente o cheiro do seu avô.   Isso é impossível verbalizou em voz alta, o avô estava morto a tempo.

Se seu pai levava três anos catatônico, cinco que sua mulher estava morta, então faria mais tempo.

Mas sentiu como se alguém estivesse passando a mão na cabeça, quando lhe perguntaram se queria que avisasse alguém pensou na Taimi, mas imaginou que ela se largaria desde Lapônia para cuidar dele.  Não tinha mais idade para isso.  Sentiu que sua mente se apagava.

Se deu conta que flutuava acima de seu corpo, seu avô estava ali com ele, desce de aí garoto, tens que aprender a controlar teus poderes.   Antes pode ver suas costas como estavam, parecia a marcação de uma estrada, uma linha intermitente.

Dos lados estavam vermelho, com algumas ampolas, o velho ria, se chego um pouco mais tarde com minha neve magica, estarias aqui comigo, ia ser adorável, mas tens coisas por descobrir.

Venha, volte a dormir.

Dois dias depois já estava sentado, vinha um fisioterapeuta, para lhe ajudar a fazer exercícios com os braços, para movimenta-los bem, no primeiro dia não consegui se mover, agora podia dormir de lado.

Foi quando um dos irmãos veio visita-lo, o que sempre via o maior dos dois, o pequeno nunca via, nem sabia direito como era.

Lhe perguntou se estava indo visitar o pai no hospital.

Ele desviou a conversa, sinal que não ia.   Que mulher e que filhos arrumou meu pai, pensou.

Dias depois apareceram os mesmos detetives, para perguntar se tinha certeza de que era sua chefa que subia no elevador?

Bom estava vestida como ela, o mesmo estilo de roupa, só tinha uma coisa diferente, levava uma pasta grande, ela nunca fazia isso.

Pois é a encontramos morta em sua casa, alguém a enforcou, mas deixou as janelas aberta pois é por onde acreditamos que entrou quem a matou.

Tinha inimigos?

Sim muitos, nem fazes ideia, era uma pessoa complicada, tratava mal as pessoas que lidavam com ela.

Ah, agora pensando bem, me pareceu um pouco mais alta, pois eu estava descendo, notei isso, tinha as pernas mais altas, em sua cabeça apareceram detalhes, ele sempre tinha prestado atenção em tudo.  Tinha os ombros mais largos também.

Poderia ser um homem?

Agora que o dizes, sim, mas então porque me fez o gesto de beber que sempre fazia quando estava numa reunião e queria café.  Me fazia sair, para ir buscar no bar.

Falei da secretária que tinha colocado na rua.

Essa já entrevistamos, no mesmo dia que saiu daqui, tomou um trem para Estocolmo.

Tudo muito raro, verdade.

O inspetor sorriu, pelo visto tu eres o único sobrevivente de tudo. Tiveste sorte, apesar de momento estares preso numa cama.

Duas pessoas que passavam pela rua, morreram também.     Sabes do que se tratava a reunião?

Nem ideia, tudo que sabia, era que iam discutir algum problema relacionado, de como alguém tinha levado mal um caso.   Mas nem ideia do que se tratava.

Quais os casos que levava ela?

Processos corporativos, empresas coisas assim.  Por isso digo que tinha inimigos, pois as vezes se fechava alguma fábrica absorvida por outra, colocando todo mundo na rua.

Mas não temos meios de saber, porque se queimou tudo.

Bom desde que trabalho com ela, uso a nuvem?

Como é isso?

Bom, tinha que estar ao dia com os processos, afinal eu redigia os mesmo no computador, tirava uma cópia ou mais, conforme me pedisse, mas guardava ao mesmo tempo numa nuvem, para poder consultar em casa, não ia sair da empresa como os outros faziam, levando processos na mão.

Se o senhor me trás um laptop, eu posso mostrar. 

Voltamos mais tarde.

Voltaram com um laptop, bem como uma impressora portátil.  Entrou na nuvens para eles, foram imprimindo todos os processos, lhes disse melhor, passo para um pen drive, vocês levam, estou ficando cansado, foi esperto, deixou para o final um processo que tinha a ver com a empresa do pai, que estava sendo mal dirigida pelo irmão.  Esse último processo deu o que falar, pois quem começou foi o sócio principal, depois passou para ela, não fui nenhuma vez com ela ao tribunal, mas tem a ver com a empresa que era do meu pai.

Dois dias depois saiu do hospital, a primeira coisa que faz foi visitar o pai, esse lhe apertou a mão, alguns momentos está lucido.  Quando o médico saiu de perto, lhe disse baixinho, perdão meu filho, já entenderas.  Em seguida voltou ao seu mutismo habitual.

Morreu um dia depois, foi avisado pelo hospital, pois era o único que ia visita-lo, acionou o que era advogado pessoal dele.   Este tomou todas as providencias, os irmão queriam um funeral espetacular, afinal o pai era um homem importante.

Mas se decepcionaram pois o advogado tinha ordens estritas, de que não houvesse nenhuma cerimônia, que o Keikk devia levar suas cinzas para aonde estava enterrado seu pai.  Assim foi feito.  Na leitura do testamento, foi de grande estupor para os três, deixava todo seu dinheiro para seu filho mais velho.  Aos outros dois no testamento tinha anexado uma copia de teste de ADN, não eram filhos dele, sim de sua mulher com outro homem, ele tinha feito uma vasectomia quando jovem por causa de uma doença venérea.   Ele era filho dela, com um presidiário, a quem ia sempre visitar em prisão.  Tão mal elemento como seus dois filhos.  Ficam deserdado portanto, que a fábrica fosse vendida, que o lucro fosse dividido pelos empregados.

O mais velho quando saiu furioso, tinha a policia o esperando por desfalque na fábrica, como pensava que seria o dono, estava negociando a venda para outra empresa, assim embolsar tudo.

Acreditamos que ele pagava a algum funcionário do hospital, para manter o teu pai drogado.

A fortuna que lhe deixava correspondia a muito dinheiro.   Ao pequeno dos dois irmãos, tampouco deixava nada, a mansão estava presa a um banco, que agora seria proprietária dela.

Numa carta dizia que o dinheiro que deixava para ele, era um que separava durante aos, para lhe fazer um fundo, já que o resto era controlado pela mulher.

Descobriu muito tarde disse o advogado, que ela o tinha enganado durante muitos anos.

Tinha se esquecido da vasectomia, por isso levou tempo, até o acidente que a matou, essa estrada só levava ao presidio, então, mandou investigar, ela ia sempre visitar um preso, que estava ali por assassinato.  Esse era o pai dos dois.

Foi um escândalo generalizado.

Seu dinheiro foi transferido para sua conta.   Resolveu levar as cinzas do pai, iria de carro devagar, até chegar a casa do avô, resolveu vender o carro velho, pois esse não aguentaria essa viagem outra vez, vendeu, comprou um novo mais potente.

Na hora que examinavam seu carro para lhe oferecer um bom preço por ele, o mecânico, lhe disse mais uns dias estarias morto, alguém tentou cortar o cabo do freio.

Chamou imediatamente os detetives, parece que a coisa vai por mim.

Vamos supor que a pessoa que subiu no elevador levava uma bomba, veja bem faço deduções, alguém pensa que no escritório levamos o testamento meu pai, ninguém sabia desse outro advogado, só o hospital.

Se era para me matar, mas como sai antes, acionaram a bomba a distância.

O irmão pequeno disse que o outro atualmente vivia metido em alguma coisa que ele não tinha ideia, era um simples professor numa escola secundária.  Nem desconfiava que o pai que o tinha criado, não o era de fato.

Já o outro que estava em prisão preventiva, acabou confessando, ele tinha idealizado o da bomba, estava sendo investigado por sonegação de impostos, o sócio principal, levava sua conta, mas ele descobriu que o irmão trabalhava ali, por isso imaginou que o testamento do pai estava ali.   Já sabia que não era filho dele.  O negocio era te matar, assim podia pagar suas dívidas, contratou um ator transformista, contou o habito da tua chefa com o café.  O outro devia entrar, deixar a maleta na tua sala, descer.

Ele acionaria a distância, mas quando viu que saias, acionou precipitadamente fazendo explodir o prédio.

Agora além do problema financeiro, tem todas essas mortes nas costas.  Seu pai foi um conhecido terrorista na sua época de jovem.   Sua mãe também, por isso não te queria por perto, pois os outros não eram parecidos contigo.

Puta merda que confusão.

Avisou aos policiais que estaria fora um bom tempo, lhe deu o contato, espero que o celular funcione por lá, senão chamem esse número.

Colocou suas coisas na bagagem, se esquecia alguma coisa, viu a caixa brilhando outra vez, enfiou na sua bagagem.   Avisou Taimi, que precisava que fizesse compras para ele, passaria um bom tempo por lá.

Mas durante a viagem parou para dormir num motel de estradas, desse que param os caminhões.

No dia seguinte voltou para a estrada, chegou, estava anoitecendo, as cinco horas da tarde, as noites seriam longas.   Viu que na cabana do avô, tinha fogo na lareira. 

Quando entrou, Taimi estava sentada, tinha um rapaz de costa para ele, ela tentou se levantar, mas a idade pesava, ele se ajoelhou, para abraça-la.  Você não se lembra do Tom, viveu aqui quando criança, mas sua mãe foi para os Estados Unidos, agora voltou para cuidar da granja dos avôs dele, me ajudou a limpar tudo, estou velha meu filho, estou velha.

Jantaram os três ali, Tom avisou que alguma palavras ele tinha esquecido, que falasse devagar.

Sem querer a Taimi falando, se lembrou dela ensinando os dois a escreverem, a ler.

A infância tinha sido magica para ele, seu avô era uma figura querida na vila, todos vinham sempre o consultar sobre qualquer coisa.

Mas quando ele desaparecia para a cabana, não gostava que fossem até lá.

Estava enterrado justo ao lado dela, ninguém tinha as chaves de lá.  Subiu dois dias depois que o tempo estava bom, levou a urna com as cinzas de seu pai, uma pá, primeiro havia que retirar a neve, depois era duro escavar na terra que tinha por baixo que estava congelada, embora o buraco fosse pequeno.

Se acercou da cabana, lhe bastou colocar a mão na porta para ela abrir. Achou estranho, estava tudo em ordem, só tinha entrado uma vez, era como se ali vivesse alguém. Estava cansado do esforço, se lembrou da recomendação do médico, descanse o máximo possível. Acabou dormindo, se despertou com um pouco de frio, como seria bom que a lareira estivesse acessa, voltou a dormir, ao despertar porque estava com calor, viu a lareira acessa.

A porta continuava cerrada.  Viu uma pequena estante na parede, tinha um foto dele quando criança, mas quando olhou a foto, viu que não era ele. Tinha outro nome por detrás. Ao pronunciar esse nome, a parede atrás de se abriu, viu uma gruta, iluminada, a cada passo que dava a parede se iluminava.     A curiosidade lhe picou, seguiu adiante, deu com uma parte central imensa, estava dentro da montanha.

Uma pequena cascata, com uma água muito limpa. Tomou um gole, se sentiu estupendamente bem, era capaz até de voar.  Quando viu estava no ar.  Riu muito, desta vez voar não tinha nada com a tragédia que tinha sofrido.

Voltou, não tinha noção do tempo, lá fora era noite.    Merda, não tive a ideia de trazer nem um sanduiche, na mesa simplesmente apareceu um jantar.

Esse lugar era magico, rui muito, coisas do meu avô.

Depois de fechar a porta, tentou várias vezes primeiro, mas não se movia, lembrou-se do nome a mesma fechou sozinha.

Se deitou, desta vez se abrigou com uma manta de pele que estava dobrada aos pés da mesma.

Sabia que não tinha se mexido na cama.  Porque sonhou que se movia outra vez pela gruta, só que desta vez, escutava uma voz que lhe contava a história de tudo. Foi como voltar a Lapônia original, homens e mulheres vestidos de peles, cachorros correndo por ali. Um homem parecido com seu avô, segurando a mão de um garoto, lhe contava que o dom da família sempre saltava uma geração, que a ele lhe tocava preservar o lugar, era mágico, seu dever era ajudar as pessoas, quando se sentisse cansado, devia vir até ali, para recarregar energias.

Depois se lembrou quando seu avô o trouxe em criança, fazia um movimento com a mão, todos os objetos se moviam, mas quando começaram a descer, com a desculpa de colocar a mão na sua cabeça, fez com que ele esquecesse tudo.

Quando despertou o dia estava claro, tenho que descer, mas que um café ia bem, mas falou o desejo, apareceu a caneca especial de seu avô com café.

Tinha uma boa caminhada pela frente, passou pela casa da Taimi, ela estava sentada na pequena varanda apanhando um pouco de sol.   Para esquentar os ossos.

Ficaram conversando, eu agora tenho a mania de ficar escutando a rádio, um grande invento, falaram de uma explosão no prédio que agora sei que era aonde trabalhavas, escutei ruído, quando olhei, vi teu avô, pegando neve, colocando num balde.   Pensei estou sonhando, pois era muita quantidade para caber num balde.

Então era isso, começou a rir, esse meu avô.  Contou para ela o que tinha acontecido, com a explosão fui parar em cima de um balcão do bar ao que me dirigia, meu casaco tinha fogo, o rapaz do bar, disse que não conseguia se mexer, em seguida viu que se colocava neve nas minhas costas, que o fogo tinha sumido, que essa neve fez como uma camada protetora nas minhas costas.  Quando chegaram os enfermeiros ele não sabia explicar isso.

Sim teu avô era um ser mágico, até hoje me lembro, quando veio me ver, depois da morte do meu bebê, me disse, não te preocupe, vem outro a caminho para cuidares, nada nunca vem só.

No dia seguinte estavas aqui.  Um dia lhe perguntei como sabia, me disse que intuição.

As pessoas vinha falar com ele, com seus problemas, ele tinha paciência, mesmo que a pessoa fosse pesada.

De tempo em tempo, desaparecia, uns dias na sua cabana na montanha, nunca convidou ninguém para ir, a única pessoa que levou foi a ti em criança.   Quando te perguntei o que tinha vistos, respondeste, “segredo nosso”, ele ficou rindo, me dizendo não sejas curiosa.

As pessoas as vezes se surpreendiam com ele, pois começavam a falar, ele soltava o que tinha que fazer.

O tempo que vivei comigo em Helsinki, porque a bruxa não queria que eu vivesse com eles, o que hoje creio que foi bom.   As pessoas todas o vinha procurar, agora entendo que foi isso que o cansou, gastou energia demais, quando chegou aqui, parecia que suas baterias voltavam a se carregar.

Um dia me pai me contou que tinha mágoa do velho, no dia que te trouxe, te pegou nos braços, como se eu não existisse, só falou comigo para me chamar atenção, abrindo a porta chamando a Taimi, como dizendo veja o que chegou.   Ela ficou louca contigo, os dois me ignoraram totalmente nos dias que estive aqui.   Como se minha obrigação tivesse sido esta, te trazer, o resto não importava.

Fui embora furioso, jurei nunca mais voltar.

Agora entendo o que aconteceu.  

Ela sorriu matreira, tens os mesmos olhos dele, quando falavam, uma vez vi uma foto que estava guardada num livro, está no quarto dele, era um garoto igualzinho a ti, anos mais tarde, lhe perguntei quem era, me disse que ele quando criança com seu avô.

Depois me lembrei disso, pois eras igual a ele.   Teu pai era diferente, conheci tua avó, ela tinha cabelos negros, como os do teu pai, tu ao contrário tinhas sempre esse cabelo loiro, quase branco.

Venha, entre vamos comer.  Estou me sentindo melhor desde que chegaste.  Lhe dei a mão para se levantar, mas o fez sozinha.

Depois passei a mão pelos seus joelhos, vi que o inchado desaparecia.

Quando fui para casa, acendi a lareira, fui buscar a caixa, estava no quarto que sempre tinha usado, mas resolvi dormir no seu quarto, pois a cama era maior.

Quando abri a caixa as coisas ficaram brilhante, se elevaram no ar. Se moviam rapidamente, escutei baterem na porta, lhes disse para dentro, rapidamente foram para a caixa, ficaram quietas, fechei rindo, fui abrir a porta. 

Era o Tom com um treno, cheio de lenha, sei que não podes fazer muito esforço, lá tenho muita lenha.  Começou a empilhar ao lado da lareira.

Me perguntou se podia dar um conselho.

Claro, o que passa, mas ao mesmo tempo estava vendo qual era o problema, já lhe ia responder, mas alguma coisa me disse, escute primeiro.

Falou que nos anos que estavam fora, um parente tinha ajudado seu avô a cuidar da mesma, mas o pessoal diz que é mentira, ficava era no bar bebendo.  Agora queria disputar a mesma como herança dele.

Sentiu as pálpebras, descendo, a que ano ele se refere.  Tirou o papel do bolso, disse o mesmo.

Impossível, nesta época, quem ajudava seu avô era outro homem que vive ao lado do armazém hoje em dia, fale com ele, se lembra de tudo.

Se ele não desiste, diga que tens um advogado vindo de Helsinki, especialista nessas coisas.

Obrigado.

Depois ficou sorrindo, colocou lenha na lareira, estalou os dedos, as chamas alimentaram, o fogo aqueceu a casa.

Agora entendia muitas coisas, de porque ele chamava seu avô de magico.

Uma das contadas vezes que seu pai apareceu, ele soltou que seu avô era magico, seu pai lhe soltou em plena cara, é um filho da puta isso sim.  Deixou que me levasse para longe disso aqui que eu adorava.    Me dizia que tinha que ser alguém para o futuro.

Na sua cabeça as lembranças apareciam como um flash, uma das primeiras vezes que foi visitar seu pai, num dos seus momentos de lucidez, soltou, agora ele sempre esta aqui cuidado de mim, pensou que falava de algum enfermeiro, as coisas se encaixavam. 

Quando decidiu ficar de vez, falou com o advogado, iria ver que banco tinha na cidade mais próxima, para transferir o dinheiro para lá.    Falou também com os detetives, como estavam as coisas.

Soube que quem ensinou seu irmão a fabricar a bomba tinha sido o pai, que ele passou a visitar na cadeia.    O outro se negava a ir.   Disse que ia pedir uma linha fixa para a casa aonde vivia, que logo mandaria o número.

Perguntou a Taimi se queria alguma coisa da cidade, ela fez uma lista, o Tom foi com ele, pois tinha encomendas.

No carro foi contando tu tinhas razão, o homem sabia tudo, nessa época esse tal parente já não estava aqui, pois meu avô o expulsou, pois gastava no bar, mandando colocar na conta dele.

Quando comentei isso com ele, disse que seu advogado sabia o que fazia, lhe contei como você me disse para fazer, pois o meu é de Helsinki, disse que nada disso vale.  Não há documentos, além de que tenho testemunhas.   Desapareceu.

Deixou Tom fazendo suas compras, ele foi ao banco, era o mesmo que tinha na capital, pediu transferência de sua conta.   Depois foi a companhia telefônica, pediu se podiam estender a linha até sua casa, bem como se podia ter internet.   Pagou todas as taxas, faremos isso rápido, pois o inverno vem aí, fica mais difícil.

Depois foi buscar as coisas que Taimi queria, bem como fazer suas compras, tinha aprendido a cozinhar algumas coisas.  O principal era o pão, mas esse a senhora da loja o fazia todos os dias, comprou tudo como gostava.

Se abasteceu bem, voltaram com o carro carregado.

Tinha se esquecido como era o inverno, todos os dias tinha que limpar a entrada da casa, para poder caminhar.  Normalmente a partir das 10 começava a aparecer pessoas, que ele nunca tinha visto, atrás de um conselho, ou mesmo que ele rezasse uma criança.  Algumas vezes, colocava a família no seu carro, os levava a cidade mais próxima para um hospital, pois era um caso grave.   Milagres não faço lhes dizia.

Sua fama, logo era grande.

O melhor era quando podia subir, passar dois ou três dias na cabana. Um dia se perguntou como seria a sequência, ele nunca tinha tido namoradas, como encontraria alguém para ser o próximo da linha.

Não se preocupe, aparecera.

Recebeu uma chamada do advogado, dizendo que tinham encontrado uma carta de seu pai, que devia estar junto ao testamento, mas por algum motivo tinha caído no arquivo.   Te mando por correio.

Quando chegou foi toda uma surpresa.

Era um bloco grande, anotações, na frente um bilhete, para que saibas a verdade, essa sempre tem dois lados, esse é o meu.

Falava do repudio do pai, que esperava que ele tivesse os mesmos poderes que ele tinha, se esquecia sempre que fazia falta saltar uma geração.

Em seguida me levar a gruta, me mandou estudar interno em Helsinki, a partir daí, passou a me ignorar.   Quando sai, passei a trabalhar, conheci uma colega alemã, que trabalhava comigo no escritório da fábrica.   Estava gravida, não sabia de quem.   Eu a ajudei a ter a criança, registrei como minha, ela voltou para sua terra, eu na verdade nunca a procurei.   Essa criança eras tu.

Ou seja, não é necessário uma linha direta para os poderes.

Quando te levei, já sabes da história, me ignorou, esperou que eu fosse embora imediatamente, a primeira coisa que fez foi te levar a gruta.

Fiquei furioso, com ele, ia te estragar a vida, mas depois pensei, não é meu filho.  Quando jovem tive um problema, tiveram que fazer uma vasectomia, pois podia transmitir um problema aos meus filhos.

Os outros dois, eu sabia que não eram meus filhos, mas queria ter algum.

Nada saiu como eu esperava.  Mas quando ele veio morar contigo aqui, ia conversar com ele, quando não estavas, o que descobri me deixou gelado.

Quando alguém tem esses poderes, a gruta, o isola do mundo, tem só uma função, cuidar dos outros, vida própria jamais.

Espero que saibas escolher, porque podes fazer isso.

Contava toda sua vida, como tinha ido ascendendo na empresa, até se tornar seu dono.  O dinheiro que te deixo, é só meu, nada tem a ver com a empresa.

Viva tua vida, não fiques seco como meu pai.  Ele no fundo não ama ninguém, acredita que tudo que faz é te proteger do mundo, mas tampouco te deixa viver tua vida.

Quando acabou de ler, estava fora da cabana, atualmente se sentia sufocado ali, pois constantemente tinha obrigações a cumprir.   Isso de saber o que vai acontecer com a vida dos outros, que só tu podes arrumar, era esgotador.  Agora se fazia a mesma pergunta, e a minha, ele não tinha escolhido nada.   Simplesmente não vivia, pensava que tinha encontrado a paz, mas era as vezes assaltado durante a noite, pensando na pessoa que o viria ver no dia seguinte.

Ficava as vezes farto das merdas que as pessoas fazia, depois corriam para ele.

Se sentia desequilibrado, na última ida à cidade, tinha visto que seu dinheiro seguia crescendo pois o tinha aplicado, mas ele não desfrutava de nada.   Quando jovem tinha pensado em percorrer o mundo, mas estava ali prisioneiro de uma certa maneira a gruta.

Quando viu, sentado ali embaixo de uma árvore, seu avô estava ao lado dele, tens razão perdemos nossas vidas particulares.  Nem posso dizer como seria a minha, pois não a vivi, a única época que estive longe, foi quando fui viver contigo na capital.  Lá me aceitavam de outra maneira.   Mas ao me afastar da gruta comecei a ficar doente.   Tinha pesadelos, como não tinha mais o mesmo propósito, me cobrava que voltasse.

Mas tens o direito de te arriscar, eu já era um velho então, tinha poucas possibilidades.

Tens uma intuição mais poderosa do que eu.  A única coisa que pode destruir o efeito, e que entrem na gruta pessoas com a parte de maldade maior que a bondade.

Soube pelo Tom que o seu irmão, tinha conseguido escapar da polícia, ajudado pelo outro, que não sabiam aonde se dirigiam.

Ele entendeu que viriam atrás dele.  Visualizou a chegada deles, mostrou o caminho que tinham que seguir.

Quando perguntaram por ele Taimi disse que estava na cabana da montanha. Sem querer pensando que era alguém que precisava de ajuda, indicou como ir.

Ele os esperava, não dentro da mesma, mas escondido fora.  Viu que examinavam a mesma, pois pelas janelas era impossível ver dentro, armados, tentaram a porta, o que era professor não conseguiu abrir, ele na distância, quando o outro empurrou a porta a abriu para ele, mal entraram a porta fechou, iria considerar como uma invasão, ele sabia que acabariam descobrindo a maneira de entrar na gruta.

Foi descendo a montanha, tranquilamente.  Agora era esperar que a ganancia, a maldade ganhasse.

O tempo ali, funcionava de outra maneira.   Estava preparando sua pequena bagagem, pois não necessitava de muito, quando escutou uma grande explosão, toda a montanha tremeu, a coisa foi tão forte, ao mesmo tempo sentiu que seus poderes desapareciam.

Tom veio correndo ver se estava em casa, subiu com o resto dos homens, quando desceu, disse que no seu lugar agora, tinha um imenso buraco, como a cratera de um vulcão, até sua cabana tinha desaparecido.

Se despediu deles, dizendo que ia fazer uma viagem, agora olhava as pessoas sem intuir nada a respeito.

Transferiu sua conta outra vez para Helsinki, mas quando chegou lá, sentiu que necessitava partir para longe.

Estava na rua, passeando, coisa que não tinha feito em sua vida, quando viu um anuncio numa agência de viagem, para Nova Zelândia, falava do clima espetacular, das possibilidades de empregos.   Comprou um bilhete num impulso, não queria saber o que poderia acontecer amanhã.   Quando chegou a Wellington se apaixonou pela cidade, encontrou uma casa para viver, na parte debaixo, montou um escritório de advogado, fez um curso para revalidar o seu diploma.   Passou a atender aos clientes que iam aparecendo.   Apenas usava sua intuição, que isso sempre tinha tido, para aceitar ou não um caso.

Finalmente conheceu alguém, se casou.  Nunca tiveram filhos, mas para ele não era importante, até tinha medo de ter algum.   Seu passatempo era sair de barco, viver a vida.

Dizem que morreu jovem, numa coisa rara, um assalto a um banco, quando fazia a transferência de dinheiro para nunca mais sair de Nova Zelândia.  Um movimento seu fez com que um dos assaltantes lhe acertasse em pleno peito.

Na hora, percebeu que era o seu irmão, que vinha de algum outro lugar para o executar.

Não se preocupou, tinha vivido nos últimos anos como queria.

Foi um caso estranho, pois os assaltantes, apareceram, desapareceram da mesma maneira.

Seu enterro tinha poucas pessoas, mas isso não importava, seu ultimo desejo, sim, ser jogado ao mar.   Acreditava que assim, não haveria réplicas.  Tinha chegado à conclusão nesses anos, que ajudar muito as pessoas, nem sempre resolvem seus problemas.  Elas tem que aprenderem sozinhas a resolver o que criam de errado.