lunes, 28 de septiembre de 2020

ABED FAISAL

 

                                        ABED  FAISAL

 


Encostado numa das impressionantes colunas do Templo da Roca, em Jerusalém, com seu pequeno caderno de desenho, observava, anotando a lápis os motivos intricados árabes.

Amava isso desde que era criança na pequena cidade que vivia no interior do Líbano.  Eram uma das poucas famílias mulçumanas do lugar, com uma maioria maronita.   Mas ali a paz reinava.

Ele tinha seus domínios na loja de tecido de seu pai, adorava ir pelos estreitos corredores, passando a mãos pelos tecidos, sentindo seu tacto, era como se lhe dissessem, me transforme num lindo vestido.

Observava as mulheres entrando para comprar alguma coisa, a algumas diria, esse tecido merece uma proprietária mais bonita, ficava imaginando que transformariam o mesmo numa roupa sem interesse nenhum, tinha vontade de lhes desenhar como iria melhor, naqueles corpos gordos.

Era o único filho homem de uma família, em que dominavam as mulheres, desde criança tinha vivido no meio delas.     Mas era o único que ia a escola, tinha ensinado suas irmãs a lerem, escreverem, pois seu pais achava uma inutilidade para elas isso.   Para eles a obrigação delas era formar família, ter muitos filhos.

A mais velha que ele 10 anos, já era casada, mas também só paria mulheres, vivia na casa ao lado, seu marido trabalhava para seu pai.

Ele tinha saído a sua mãe, cabelos negros, crespos, olhos negros, umas pestanas monumentais, como se fossem postiças, a pele clara, mas com um pouco de sol ficava moreno.  Suas irmãs ao contrário tinha saído imagem e semelhança ao seu pai, nariz feio, cabelos negros, mas mortos sem brilho, caras sempre cheias de acne.  Ele era o filho preferido pela sua mãe.  Seu pai queria colocar o nome do seu avô paterno, mas como tinha escolhido os nomes das filhas, que só faltavam ser um, dois, três, quatro.   Ela ficou o pé, escolhendo o nome de um irmão que tinha morrido jovem, que era um artista, Abed Faisal.   Dizia serás famoso como teu tio.

Ele adorava ir à pequena mesquita, para admirar os desenhos intricados das paredes, da cúpula, bem como o ritual, ao chegar, podia ter saído de casa, nem a 100 metros da mesma, mas lavava as mãos, como fazia seu pai, os pés, dizia as preces, que fazia, copiando seus mínimos gestos.

Amava, respeitava seu pai acima de todas as coisas, ficava prestando atenção como fazia para atender alguma cliente, quando lhe tocava atender alguma, usava tudo o que ele dizia, os adjetivos todos.   Ele se matava de rir, já seu cunhado ficava uma fera, pois era uma pessoa sem graça nenhuma, um homem desprovido de ambições, estava sempre de mal humor.

O escutava as vezes falando com sua irmã, quando esse velho vai morrer, para que eu possa realmente dirigir a loja, será a melhor do mundo.

Qual nada, ele era um simples capacho de seu pai, que lhe dava ordens como se falasse com um animal.  

Cada vez que passava por ele, o empurrava, lhe dava um beliscão, as vezes se atrevia passava a mão na sua bunda.  Reclamou com o seu pai, que disse que isso eram simples brincadeiras, mas este passou a observar o genro.

Teria uns 15 anos, um dia seu cunhado, estava de um humor de cachorro louco, o viu no armazém medindo um tecido para uma cliente, não só se atreveu a passar a mão na sua bunda, bem como abaixou sua calças, o empurrando contra os fardos.   Nesse momento seu pai, entrou, ficou parado na porta, gritou o nome dele, com o dedo indicou o escritório.  Espumava de raiva, escutou através da porta o cunhado se defender, dizendo que ele o provocava, que não era de ferro, com aquele corpo que tinha.   O velho ficou uma fera, no dia seguinte, embarcou o genro, a filha e as filhas desta para uma loja que tinha numa vila perto da fronteira.  Se acabaram os sonhos do genro de administrar a fortuna do velho.

Ele, ao contrário foi mandado para Beirut, para se preparar para a universidade, teria que estudar administração de empresas.   Mas ele queria como seu tio, estudar artes, se escapulia das aulas para ir as classes de belas artes.

Quando o pai descobriu, ficou uma fera, acho que teu cunhado tinha razão, tens que te tornar um homem, nada de artes, o mandou estudar em Istambul, interno num colégio.  Sem direito a saídas, vigiado 24 horas do dia.  Claro quando te tornas prisioneiro, o anseio de liberdade aumenta.  Foi o que aconteceu, não estava permitido que desenhasse, mas isso o fazia mentalmente, ia anotando em sua memória tudo o que via.

Mas claro num ambiente fechado, ele chamava mais atenção que numa escola aberta, foi abusado várias vezes por seus companheiros, pois era o mais frágil.

Quando um superior, encontrou em seu lençol manchas de sangue, o devolveu ao seu pai.

A bronca foi impressionante, justo dias depois sua irmã mais nova se casava com um novo empregado do velho.  Ele agora já sabia que gostava de homens, quando viu o pretendente, que ia casar com sua irmã mais feia, tudo é claro para posteriormente dirigir o negócio.  O provocou no armazém, esse em seguida fez sexo com ele.

Mas desta vez o pai, não viu nada, passado o casamento, viu seu pai discutindo com o genro, o queria mandar para estudar em Marseille, aonde vivia um irmão dele, seu cunhado dizia que não, que o queria ali.   Claro para desfrutar de seu corpo.

Quando seu pai o levou a Marseille, seu tio era uma pessoa muito fechada, era professor na mesquita.  Vivia cercado de seu corão, bem como outros livros religiosos, seu pai se fechou com o irmão na biblioteca, ficaram horas discutindo.   No dia seguinte o tio o começou a preparar para seguir seus passos.

Mas desenhava escondido tudo o que podia.  Quando fez dezoito anos, descobriu aonde o tio, escondia o dinheiro que o pai mandava para sua manutenção, não usava nunca pois dizia que era um dinheiro corrompido, pois vinha de servir a mulher para tentar o homem.

Na surdina, comprou um bilhete para Paris, todo o tempo que tinha livre, ia a um quiosque ver as revistas de moda, sabia que era aquilo que ele queria fazer.

Chegou em Paris, conseguiu um quartinho num hotel de quinta categoria, aonde as baratas ao passar diziam bom dia.  Procurou um emprego, descobriu que não tinha documento nenhum, por isso não lhe davam emprego.      Foi a um departamento tirar documentos, mas o homem o olhou de cima a baixo, dizendo que ele era estrangeiro, apesar de falar um francês impecável.

O viu de novo num bar da esquina, o homem fez um sinal para ele.  Disse que conseguia os documentos, se ele fosse generoso.   Na hora pensou que o homem se referia a dinheiro, mas não o levou a um hotel barato, fazendo sexo com ele.  Desta vez aprendeu que não era só se deixar penetrar, que existiam outras coisas, o homem brincou com seu sexo, alisava seu corpo, dizia, para quem em uns cabelos assim como o teu, deverias ter o corpo cabeludo, ao contrário, ele só tinha umas penugens em volta do sexo, nada mais.  Se encontrou com o homem, várias vezes, até que conseguiu documentos.     Logo estava trabalhando numa boutique na rue de Saint-Honoré, perto da Place Vendôme, aonde estavam as lojas das grandes marcas.

A proprietária o contratou, pois, além de falar um francês perfeito, falava árabe, inglês, entendia de tecidos, de moda.  Tinham duas costureiras no andar de cima, quando uma cliente pedia, ele desenhava uma roupa, para a mesma.  Era capaz de ficar depois da loja fechada, bordando alguma adereço para os vestidos.   Eram senhoras que tinham dinheiro, mas que a alta costura, não chegavam aos seus bolsos.   Logo contrataram uma moça que tinha uma facilidade de bordar, entender o que ele queria.  A senhora o queria como um filho, estava a muitos anos nesse mundo, para perceber que ali tinha um artista de mão cheia.  Ensinou a ele a calcular, quanto custava cada peça que fazia, analisar a cliente, para saber até aonde poderia ir, todos os truques da profissão.  Em breve colocavam na vitrine roupas feitas por ele.

Ele com seu senso agudo, viu que muitas vezes, alguma mulher árabe parava diante da loja para observar suas roupas, sempre colocava num dos manequins uma capa árabe cobrindo parcialmente o vestido.    Isso se vendia como água, escolhia tecidos vaporosos, mas que não mostrassem o que se levava por baixo.  Num cumulo de ousadia, um dia colocou, umas calças largas de seda, com uma blusa, bordada em pedrarias, com uma capa dessas por cima, não ficou nem dez minutos na vitrine, logo entrou uma mulher que comprou tudo.

Trabalhou uns bons oito anos com essa senhora.  Morava num pequeno apartamento em Marais, o bairro que anteriormente estava degradado quando ele chegou.  Agora virava a cada dia mais um bairro de moda.   Os gais compravam apartamentos antigos, os reformavam.

Ele tinha seus encontros, mas não queria perder tempo com nenhum homem, todos tinha sido sempre um problema para ele. Tinham o sentimento de posse, isso ele odiava, lutava loucamente para ser dono de sua própria vida.   Não queria ser uma pessoa que lhe dissessem esquerda, a direita, o rumo de sua vida era seu.

Um dia viu um homem parado na frente da vitrine da loja observando um dos seus desenhos, uma calças largas, as fazias assim, porque normalmente as mulheres árabes que tinham parido, tinha cadeiras grandes, as fazia de tal maneira que disfarçava sua silhueta, uma blusa com a frente toda drapeada, da qual saia uma fina linha de ouro, a capa era a mesma coisa, negra, mas os fios de ouro, criavam um detalhe a mesma.   Uma mulher que era cliente, desceu de seu Mercedes, o cumprimentou, lhe deu dois beijos, entrou na loja seguida pelo homem, pensou que era seu amante ou marido.  Quero experimentar essa roupa que acabas de expor.

A dona da loja, tinha um sorriso na cara.  Conversando com ela em árabe, perguntando pela família, lhe estendeu a roupa.

Ela saiu do provador, vê mon cher ami, a caída é diferente, esconde meus michelines, esse garoto entende as mulheres árabes.   Virou-se para a proprietária, levo o conjunto como sempre.  Ele estava no balcão, se dirigiu a ela, lembra-se da última vez que estiveste aqui, falamos num traje de noite, desenhei isto para ti.   Te vai transformar em uma princesa das mil e uma noites.   O homem simplesmente arrancou o desenho da sua mão.   Aonde aprendeste a desenhar isso.  Não era um simples rabisco, era como ter ideia realmente do vestido.

Desenho desde criança senhor, meu pai tinha uma loja de tecido no Líbano, eu via os tecidos, imaginava como seria transformá-los, depois em casa desenhava o uso do mesmo.  Mas claro não podia dizer as clientes que comprava os mesmo, na senhora ficara uma merda, melhor um tecido negro.

Sabe quem sou, lhe perguntou o homem?

Menor ideia senhor, estava furioso, mas sem perder a educação, como tinha lhe ensinado a senhora para quem trabalhava.

Ela rindo, soltou, esse filho da puta, é o maior costureiro da França, mas não entende as mulheres árabes, está perdendo todas suas clientes para ti.

Madame, não sejas má, quero que venhas trabalhar comigo garoto.

Ele teve a ousadia de responder, estou bem aqui, sou tratado com educação, respeito.

Madame se matava de rir, abaixe sua crista monsieur.   Sabe que o rapaz tem futuro, com certeza vais colocar o mesmo num canto, só para atender as clientes que não entendes.

Este virou as costas, saiu batendo a porta.

Verás disse a senhora árabe, sem querer fui eu que fiz essa confusão toda, quer apostar que ele vai mandar fazer o vestido que desenhaste para mim, mas se fores esperto, começas imediatamente o coloque na vitrine amanhã, eu o quero de qualquer maneira, mas me faça uma capa de mil e uma noites, como Sherazade.

Ele passou o resto do dia, cortando, passando o tecido as costureiras, a bordadeira que ia aplicando borboletas, mas muitas capas da saia, o busto ele mesmo drapeou, insertando pequenos bordados de prata que vinha fazendo a meses.  De noite se dedicou a capa, desta vez a mesma não escondia nada, nos ombros, era como um enxame de borboletas coloridas, a bordadeira, dizia que estava com os dedos doendo de tanto aplicar as mesmas.

Logo as oito da manhã ele colocou o vestido bem como a capa em um manequim sozinho na vitrine, mas cobriu o mesmo.  Só descobriu quando a dona da loja, ia abrir, fez um sinal que fosse do outro lado da rua, para olhar.    Ela estava de boca aberta.

Passou a mão no telefone, ligou para a cliente, já está, convide seu amigo, o melhor costureiro do País para vir até aqui.

Viu o mesmo saindo da Place Vendôme pisando duro, só então voltou a tirar o tecido que cobria o manequim.  Ele ficou parado olhando, entrou sem dizer bom dia a ninguém, começou a examinar as costuras, os apliques, como se fosse um fiscal de obras.

Virou-se para ele, te contrato, soltou um valor absurdo, que nem sonhava em ganhar.  Mas tens que trabalhar comigo.

Ele sempre tinha sido atrevido, sua mãe dizia que as regras de boa educação, eram a base de tudo.

Sinto muito, mas o senhor é mal educado, prepotente, entrou aqui sem respeito nenhum, examinou meu vestido, como se fosse um trapo sujo, de esfregar o chão.   Agradeço o oferecimento, mas se eu fosse o senhor, saia entrava novamente, seguia as regras de educação, cumprimentava a dona da loja, elogiava o que estava exposto, perguntava quem tinha criado, aí eu falaria com o senhor.

Só faltava espumar.  Saiu outra vez batendo a porta, justo nesse momento parava o Mercedes na porta, saiam do mesmo, sua cliente, cercada de amigas, com certeza clientes dele.

Entraram todas na loja como loucas.   Sua cliente provou o vestido, em seguida passou a mão no telefone.    Meia hora depois entravam na loja, um fotografo, uma mulher que depois descobriu que era a diretora de Vogue da França.  Eram muitos oh, ah, que diziam.

Todas as mulheres queriam roupas para a festa que ia promover a revista.  Faltavam 10 dias para isso.   Três delas, já tinham seus vestidos, mas duas outras não.   As olhou bem, pediu para ficarem a uma certa distância dele, começou a desenhar, o mesmo fez com a outra, se viam que eram irmãs, mas criou roupas completamente dispares, mas de acordo com a personalidade que intuía em cada uma.

A diretora do Vogue, pediu se ele podia desenhar um modelo, eu já tenho, mas quero imaginar o que serias capaz de fazer para mim.

Enquanto ele tinha desenhado, o fotografo, tinha feito mil fotos em cima dele.

Desenhou para ela, um conjunto de calças, imensas, como uma saia, uma blusa totalmente atrevida, com um bustiê todos de pedrarias por baixo, mas que deixaria tudo a mostra.  Pode fazer, mas te aviso, ao receber os convidados, usarei um do teu competidor, mas em seguida usarei o teu, na hora do jantar, Madame, a senhora, o seu fiel escudeiro, estão convidados para a festa, mandarei os convites ainda hoje.  Pegou na bochecha dele, meu lindo, esse será teu debut no mundo da alta costura.

Depois que a cliente pagou a roupa, colocando tudo numa caixa, saíram todas.  Ele suspirou aliviado, estou morto de sono, mas não posso perder um minuto. 

Uma pausa, saiu com a senhora para o café da esquina, aonde sempre comia o mesmo um café imenso, acompanhado de um croissant.    Chamou a garçonete, Ivete, hoje quero outro café, um para levar.   Ela se chegou a ele, vi o vestido na vitrine, cheguei a chorar de emoção.  Tens futuro meu garoto.

Madame olhou para ele muito séria, lhe disse, hoje a tarde o contador, vira com uns papeis para assinares, a partir desse momento eres meu sócio, outro estaria lambendo as solas do sapato desse grande costureiro francês, não precisas dele, tens luz própria.   Alias um conselho, nunca querias ser tão grande como ele, pois perderas a criatividade.   Isso ele escutou, seguiu ao pé da letra.

Foi uma batalha, contrataram mais duas costureiras, duas bordadeiras.   Ele mesmo cortou todos os vestidos, duas capas.   O bustiê de Catherine de Vogue, bordou ele mesmo.  Mas se esqueceu que não tinha um traje para ir ele mesmo a festa.  Foi ousado, na loja tinha um smoking feminino, colocou uma calças jeans negras com uma faixa de centim nas costuras laterais, com uma seda branca, drapeou em seu próprio corpo a parte de cima, colocou o casaco, ficava com as costas nuas, uma gravata borboleta negra com um anel de rubi no meio solto em seu pescoço, seus imensos cabelos crespos negro.   Madame foi com um conjunto que ele tinha desenhado a mais tempo, que ela gostava, nunca quis vende-lo.

Quando chegaram a festa, ela o empurrou em direção a Catherine, que o abraçou e beijou, dizendo ao seu ouvido, que atrevimento, estas chamando mais atenção do que eu.  Tire esse casaco já, imagino o que tem por baixo.   Os flash não paravam de estourar. Tornou a colocar o casaco, foi buscar madame que tinha lagrimas nos olhos.   Meu filho acabas de nascer para o mundo.

A mesa de Catherine, era redonda imensa, a viu dando uma ordem, eles estavam sentados numa lateral, ela foi pessoalmente já vestida com seu traje, para que fosse se sentar na mesa, Madame, sorriu, deixe o meu menino brilhar com luz própria.   Na mesa estavam sentados todos os grandes da moda de Paris.   Ela atravessou todo o salão, com ele de braço dado, subiu a um pequeno palco, apresentou a Paris, ao mundo, uma nova estrela. Pediu para as senhoras que ele tinha vestido subirem com ele ao palco.  Os aplausos eram fantásticos.

Depois o guiou até a mesa, o foi apresentando a cada um, Abed Faisal, as senhoras ele beijava na mão, aos homens ele inclinava meio corpo, em respeito.  Menos ao que o tinha ofendido, estendeu a mão simplesmente o olhando nos olhos.

Todos elogiaram sua criações.   Um que estava ao seu lado, lhe perguntou qual seria sua criação de outono inverno.  Se dirigiu ao mesmo para que todos ouvissem, senhor, não pretendo competir nas coleções, eu gosto mesmo é de desenhar para minhas clientes, ao que posso dedicar de corpo e alma.  Saber o que lhe convém, se faço coleções, perderei essa liberdade.

Depois ainda tenho muito que aprender dos grandes mestres, espero que com humildade.

Eles dois, Madame, administrava, ele atendia as clientes, escolhia os tecidos que lhe caiam bem, quando alguma cismava em querer uma coisa que ficaria horrível, ele se levantava a acompanhava até a porta, dizendo senhora, estas no lugar errado, aqui trabalhamos para a deixar linda, não para ser uma a mais.

Algumas voltavam, outras iam aos grandes costureiros, para comprar qualquer coisa que queriam usar de qualquer maneira, ficasse bem ou não.

Quando começaram a crescer muito, ele um dia parou, assim não vamos a lugar nenhum, estamos fazendo o mesmo que eles.  Mal tenho tempo para digerir, nem gastar o dinheiro que ganho.  Tinham saído pelo menos três vezes nas capas de Vogue, por causa de suas clientes.

Agora algumas atrizes famosas, iam até ele, para pedir, vou ao festival de Cannes, preciso de uma roupa que me faça brilhar.

Através de uma cliente, milionária Libanesa, casada com um embaixador do pais, conseguiu informação de sua família, tudo baixo sigilo.   Para todos efeitos, ele era de um bairro marginal de Marseille.    Seu pai tinha morrido, seu cunhado tinha enterrado a loja, tinham perdido tudo.

Como no momento estava cansado, avisou Madame, vou resolver problemas particulares, logo estarei de volta.

Comprou um bilhete para Beirut, alugou um carro para o levar até sua cidade.  Tudo continuava igual, mas a loja estava fechada.  Foi a casa familiar, só viviam ali, uma irmã com sua família, sua mãe.   Esta pensou que ia ter um enfarte quando o viu.   Se agarrou a ele, chorando.

Sua irmã lhe contou tudo, depois da morte do pai, os genros tinham brigado pelo dinheiro e pelo comercio, resultado o dinheiro correspondia a nossa mãe, que lutou como um leão com eles, a loja acabou fechando, restam tecidos impressionantes dentro.  O local é nosso, mas temos que tirar o que está para alugar.

Ele foi com a mãe e a irmã olhar o local, sem se dar conta foi separando sedas antigas que ele tinha passado a mão mil vezes, ia dizendo meninas voltei para buscar vocês.  Mandou embalar tudo, mandando para Paris.   Tinha trazido as revista em que saia, com suas roupas, a mãe não fechava a boca, seu pai ia estar orgulhoso de ti.  Brilhas com tua própria luz.

Porque a senhora não vem comigo, podemos viver juntos.

Não, aqui é meu lugar, meus netos estão aqui, morrerei nesta casa aonde nasci.  Antes de ir embora pediu a irmã que sempre desse notícias.  Foi embora da mesma maneira que tinha chegado como um relâmpago.

Agora se podia dar o luxo, de vez em quando tirava um tecido escondido, para fazer um vestido ou uma roupa para brilhar.

Suas clientes sabiam que estaria fazendo exclusivamente para elas, mas tinha sempre alguma coisa especial na vitrine.  Quando encontrava algum costureiro num jantar que tinha sido convidado era educado, perguntava pelo trabalho, escutava as reclamações sobre as coleções, o estressados que estavam.  

Um dia escutou um barulho tremendo na rua, era um carro de segurança, uma limusine, outro carro atrás, entraram na loja, perguntando por ele, se podia atender uma pessoa em particular, que não se visse desde fora.

Claro que sim.  Viu um homem descer, entrou na loja, foi direto a ele, se apresentou como um príncipe árabe.

Era jovem, disse que não queria aparecer com o traje branco que usavam todos os árabes, era sua festa de aniversário, que gostaria de estar diferente.   Vi sua foto naquela festa da Vogue a muitos anos, quero algo discreto, mas digno de mim.

Olhou bem para ele, pediu se podia tirar essa casca de capa que usava, que ficasse só com o que tinha por baixo, para poder imaginar o homem que estava vestindo.

Ficaram só os dois na sala. Príncipe, ficou quase nu.  Ficou olhando nos olhos dele, ao mesmo tempo desenhava, lhe disse, vou ser sincero consigo. Se faço uma coisa louca, ou absurda, irão dizer que o príncipe é gay.   Acredito que sua sexualidade, deve ser guardada para seu foro íntimo.     Mostrou o desenho, era um smoking branco, mandarei bordar em ouro e prata, pois significam a riqueza do mundo, por cima o jovem usará uma capa que farei, em seda branca, com as bordas bordadas com vossa insígnia também em ouro e prata. Sugiro que como vejo que usas óculos, que visite o oculista aqui ao lado, nesse dia você usara uma lente de contato.

O rapaz se aproximou, foi o que imaginei, sabes falar.  Sim algo exagerado faria levantar suspeita a meu respeito.  Pode fazer o traje.  O convidou para a festa, seria numa sala exclusiva do Hotel Ritz.

Como lhe aviso para provar o traje?    Lhe deu um cartão, falas com meu secretário, mando te buscar.

A coisa agora era o tecido que tivesse um caimento como uma roupa árabe.  As bordadeiras, esticaram um tecido de lã finíssimo, que ele mesmo foi buscar em cada fábrica, até encontrar o que queria.  Aplicaram os fios de ouro e prata, a uma distância de um centímetro uma da outra, cortou o traje, na gola de cetim, o mesmo desenho que estava na borda da capa, os signos de sua dinastia. Bordados tão sutilmente, que só de muito perto se percebia.

Quando avisou que tudo estava para prova, veio uma limusine para o recolher, o que estranhou e que deram uma volta para entrar para a garagem do Ritz.    O príncipe, na frente dele ficou quase nu, vestiu a roupa, lhe caia como uma segunda pele.

Fantásticos, apertou sua mão, mandou o secretário passar na loja para pagar.  Te espero na festa, lhe estendeu um convite.

Justo no dia seguinte lhe comunicaram que sua mãe tinha falecido.  Embarcou num voo particular, para a cidade mais próxima da sua.  Chegou justo a tempo.   Sua irmã, lhe entregou um envelope.  Só abra quando estiver em Paris.

Voltou no mesmo avião depois do enterro, suas outras irmãs mal falaram com ele.

Não se incomodou, o único vínculo que tinha com o Líbano, acabava de deixar de existir. Nunca mais voltaria.

Quando chegou estava exausto, Madame o avisou que teria a festa nesta noite, que deveria ir para casa dormir.

Chegou ao seu apartamento, sempre dizia que ia se mudar para um melhor, pois tinha dinheiro para isso.

Tomou um bom banho, caiu na cama, se não tivesse colocado o despertador, teria perdido a festa.  Se vestiu como sempre, um smoking em cima de uma calças jeans, uma camisa, com fios de prata, gravata borboleta negra com fios de prata.

Quase sai de casa sem sapatos, uma cliente lhe tinha dado de presente umas babuchas de seda prateada, as colocou.

Estava a fina flor da sociedade francesa, misturada com jovens príncipes do mundo árabe, jovens com grandes marcas francesas em suas roupas.   Quando o príncipe apareceu com sua roupa os outros estavam todos de negro, de longe parecia que estava com suas roupas tradicionais.  Mas quando tirou a capa viram que estava todo de branco sim, mas que sua roupa brilhava discretamente.   Quando o aplaudiram, foi até ele, levantou o seu braço como um campeão.

Estava cansado, as conversas não podiam ser mais superficiais possíveis, isso o deixava a margem, pois nunca tinha tido tempo para esse tipo de conversa, um homem que estava sentado ao seu lado, calado todo o tempo, com um smoking severo, de óculos escuros, com uma barbicha.  Lhe perguntou, se estava aborrecido, por falarem coisas superficiais, ou porque não falavam de moda.

Eu nunca falo de moda com ninguém, tampouco fofocas da vida alheia. Meus interesses são outros, adoro livros, exposições de arte que vou sozinho para não ser perturbado enquanto as admiro, absorvo tudo.  Melhor, gosto de estar em paz, na sua frente as taças de bebidas estavam cheias, mas sem tocar, cada vez que faziam um brinde ao príncipe, ele levantava a sua, mas sem tocar nem os lábios.   Não gostava de beber, claro só o café. Sem querer se viu conversando com o homem, um olhando a cara do outro.   O príncipe se aproximou, dizendo que ia ficar com ciúmes, seu professor preferido, conversando com seu costureiro preferido.

Então se apresentaram, ele se chamava Jean-Pierre Al Laud, lhe explicou que era judeu Druso, que vivia desde criança na França.

Somos de terras vizinhas, começaram a falar de política quando a música aumentou, o professor o convidou para saírem irem a algum lugar para seguir a conversa.  Acabou na sua casa fazendo sexo com ele.  Se sentia excitado quando o outro trocava seu corpo, se exploraram mutuamente.

Ao final, lhe perguntou se não tinha ninguém?

Se eu estivesse alguém não estaria contigo.  Minha vida particular, é um pouco escassa, pois as vezes não me sobra muito tempo.   Isso que não preparo coleções, mas estou sempre informado das tendências de moda.

Depois o levou a sua casa também, voltaram a fazer sexo, ele estranhou, imaginei uma casa cheia de porcarias de decoração, mas vejo que eres uma pessoa que gosta de simplicidade.

Quando ele foi embora no domingo a tarde, se deu conta da carta da mãe.   Com sua letra miúda, lhe dizia que devia procurar um advogado, seu nome, sua direção.  Ele te dará outra carta que te explicara tudo.

No domingo a noite o Jean-Pierre lhe chamou, estou sentido tua falta, vens para cá, ou vou para tua casa.

Venha para cá, estou com preguiça de me vestir.     

Jean-Pierre vivia em Saint-Germain de Prés, chegou em seguida, disse que na verdade tinha lhe chamado da rua.  Se davam bem na cama, bem como conversando, assim começaram um romance, que duraria 15 anos.

Quando foi ao advogado durante a semana, este soltou que imaginaria que ele depois do enterro, estaria ali direto.  Mas ao parecer tomaste teu tempo.

Só sei que o senhor tem uma carta para mim, o resto nem imagino.

Lhe entregou um dossier.  Aqui tem tudo que lhe pertence.  Sua mãe, desde que o senhor saiu de casa, vinha depositando dinheiro, não me pergunte como, pois não sei, em Luxemburgo, este dinheiro está ao seu inteiro dispor.  Era um valor bem considerável.

Pegou a carta, guardou no bolso de seu casaco.

Minha mulher me fez prometer que lhe perguntaria, se o senhor poderia lhe atender, mas que lhe dissesse que não sou rico. 

Lhe estendeu um cartão com seu nome, em uma linha muito fina em prata.  Que me procure na loja.

Semanas depois, ele ainda não acreditava no que tinha.   Madame o chamou muito séria, temos problemas, o proprietário vendeu a loja, o novo dono a quer quase imediatamente.

Vou ser franca contigo, eu gostaria de me aposentar, já tenho uma idade considerável, nos paga uma indenização se saímos dentro de um mês.    O que pretendes.

Vou pensar.  Fez uma coisa que nunca fazia, desceu, foi ao Bar, pediu a Ivete um café, tinha o hábito de falar com ela. Como estava vazio, pediu que sentasse com ele.

Contou o que tinha entre mãos, queres vir trabalhar comigo, eu tenho poucas pessoas que confio, te vejo sempre educada com todos, eres franca comigo, podias me bajular, mas me trata como um igual.

Ela ficou de boca aberta, riu.  Contigo meu amigo, vou ao inferno se for preciso.

Então toca procurar um lugar para levar tudo daqui.  Em sua cabeça estalou um lugar que gostava de passear, vá trocar de roupa, vamos ver um local, para nosso negócio.  Seu patrão já olhava feio, pelo fato de estar sentada com um cliente.  Ela chegou a ele, falou ao seu ouvido, ele ficou furioso.

Voltou em seguida, com uma saia justa negra, um casaco simples.

Ele só lhe disse, te falta uma coisa, um batom vermelho, um coque bem apertado, que estire, de luz aos teus pômulos.

Assim será chefe.

Foram olhar o local, assim minha clientes não levam multas.  Quando negociou com o proprietário, esse não sabia com quem estava falando.  A loja era menor, mas a parte de cima para o ateliê era perfeita, tinha sido uma galeria de arte.  Tenho um apartamento, mas este está a venda.   Quando mostrou o mesmo, ele viu que tinha encontrado o lugar de seus sonhos, de frente não estava devassado, pois tinha uma arvore imensa na pequena praça que tapava o mesmo de olhos indiscreto.   Quando o homem disse o preço, se inclinou e lhe perguntou ao ouvido, se lhe pago em Luxemburgo, como ficamos?  

O homem economizaria em impostos, abriu um sorriso imenso. Trato feito.

No dia seguinte, Ivete já estava ao comando da pequena obra necessária, as paredes já eram brancas, o resto trairiam da outra loja.  Sentaram-se os três, elaboraram uma carta as clientes, lhe dando sua nova direção, agradecendo sempre sua constância, bem esperando poder seguir contando com elas.

No dia seguinte levou suas poucas coisas para seu apartamento novo, agora poderia ir a pé, pois estava perto da casa de Jean-Pierre, nunca chegariam a viver juntos.  Ele necessitava de seu espaço para escrever, dormia quase todas as noite juntos, jantavam, conversavam horrores.

Basicamente não perdeu nenhuma cliente, o ateliê, montou como queria, com um pequeno salão íntimo para atender as clientes.  Depois a sala de costura com as mesmas empregadas, todas queriam seguir trabalhando para ele.

O mais interessante, estava cercado de galerias de arte, mas compunha sua vitrine como se fosse mais uma.   As vezes turistas ricas americanas viam a roupa na vitrine, entravam, logo encomendavam alguma roupa.   Ivete lhe explicava, que a que estava no manequim, era sempre uma peça única, poderiam arrumar para a cliente, mas o senhor, teria prazer em atendê-la desenhar algo exclusivo para ela.   Assim fez também uma clientela rica americana que sabia que teria uma roupa diferente dos costureiros que seguiam tendências.

Os primeiros cinco anos, ele é Jean-Pierre eram inseparáveis. Depois ele começou a sugerir sair para encontrar com seus outros companheiros, professores como ele da Sorbonne, eram discussões, que pareciam nunca terminar, quando os assuntos não lhe interessavam, tirava do bolso um bloco, ficava desenhando algum motivo árabe, que depois usaria num vestido ou traje.

Jean-Pierre ria disso, enquanto tentamos salvar o mundo, tu tentas salvar as mulheres de parecerem feias.   Normalmente dormia em sua casa, mas quando ele começou a se fartar dessas reuniões, a maioria das vezes dormia na sua.   Quando fizeram 10 anos que estavam juntos, confessou, que necessitava de novas emoções, que gostaria de experimentar fazer trios, ou outro tipo de relacionamento sexual.

Entendeu, a vida junta, lhe parecia cômoda, queria emoções porque estava ficando velho, era mais velho que ele 15 anos.   Sem querer o entendia, pois quando estavam na cama, sentia que cada movimento era igual ao que já tinham feito antes.

Lhe disse que ele é quem tinha que resolver, mas que não queria esse tipo de relacionamento, podemos seguir amigos.    Jean-Pierre seguia o apresentando para todo mundo como seu companheiro.   Não lhe incomodava.

Um dia andando na rua, encontrou um de seus conhecidos, veio lhe contar que devia ter cuidado, pois Jean-Pierre estava frequentando o baixos fundos do mundo gay.  Estava agora de madrugada com jovens que não se sabia de aonde tinha saído.   Outro dia foi preso, por estar com um menor.  A universidade já lhe advertiu que fosse discreto em sua vida.

Foi falar com ele.  Não se surpreendeu muito, pois foi franco, necessito dessa emoção com os jovens, é como se por momentos, recuperasse a juventude que perdi, ou não soube usar.

Um dia foi jantar com ele, viu que estava com ansiedade, este o levou até a porta de sua casa, se despediu.

Esperou um instante, viu que ele mudava de direção, em seguida viu que estava com dois jovens que quando muito tinham 18 anos, com cara de gigolos.  Viu que iam para sua casa.

Ficou com pena dele, ele também sentia o tempo passar, mas quando era abordado por alguém jovem, a saída de um bar, pensava o que vou falar com esse idiota.    Ia para casa sozinho.

Um dia Jean-Pierre chegou arrasado ao ateliê, perguntou se podiam subir para falar com ele.

No apartamento se abriu, embora fosse um choque para ele, soltou como um soco no estomago, estou com Aids, já em fase avançada.  Quero que faças um exame, pode ser que tivesse alguma aventura ainda quando fazíamos sexo.   Tinha vontade de lhe dar uma surra.

Mas sempre tinha exigido usar proteção, mesmo assim fez os exames, inclusive foi com ele fazer outra vez.  Ele não tinha nada, mas se começava a notar em Jean-Pierre os signos da doença, o médico foi franco, devias estar fazendo tratamento a mais tempo.  Durante o dia ele trabalhava, se revezava de noite como enfermeiro que cuidava dele.  O viu definhando, pediu se podia encontrar um sacerdote Druso para ele conversar.  Conseguiu, pediu que ele levasse suas cinzas para Israel.  Lhe prometeu, chamou um advogado, pois queria deixar sua imensa biblioteca para a Universidade.   Nunca nenhum amigo seu, esses com quem tinha imensas discussões sobre o direito a liberdade sexual, apareceram, só uns poucos vieram a cerimônia que teve antes de sua cremação.   Agora estava ele em Israel, entregou as cinzas a família, que o tratou de maus modos, como se ele fosse culpado de alguma coisa.

Aproveitou, para descansar, estava hospedado num apartamento em Tel Aviv, tinha ido já uma vez a Jerusalém ao Domo da Roca, a primeira vez, se sentiu como quando era criança, junto com seu pai, fazendo a cerimônia da limpeza corporal, as rezas que seu pai fazia, voltaram todas a sua cabeça, entrou rezou, sentiu uma imensa paz.   Foi a primeira vez que viu o homem moreno, ali ajoelhado, rezando com fervor.

Tinha um corpo de enfarte, se via que cuidava fazendo exercício.    O viu outra vez no ônibus voltando para Tel Aviv.   No dia seguinte o viu na praia, fazendo exercícios.  Na última vez alguns jovens tinha tentado fazer uma paquera, lhes tinha respondido que só gostava de homens mais velhos.

Agora o faziam com o homem na barra, seu corpo era liso, como que desenhado a lápis, estava excitado só de olhar.  O mesmo disse aos jovens alguma coisa, eles apontaram para ele.

Ficou se graça, procurou se relaxar, mas o homem veio se sentar ao seu lado, estendeu a mão Drew Brow, sou americano, mecânico de motos, os dois estavam excitados, foram diretos para cama, ficou impressionado com seu corpo, sem um pelo, pensou que se depilava.

Esse corpo que tanto admiras, só me deu problemas, todos querem só isso, a casca o que tem dentro não.   Contou para ele como tinha se convertido.

Dois dias depois se despediram, se sentia vivo outra vez, tinha sido uma experiencia fantástica, mas cada um tinha sua vida, tinham que tocar em frente.

Voltar para Paris, era como voltar para casa, ali tinha feito sua vida, tinha logrado êxitos, tinha que seguir em frente.

Ivete lhe avisou que uma cliente americana estava louca para falar com ele, disse quem era, riu, pois, era uma mulher super divertida.  Muito natural, de uma beleza surpreendente, tinha sido miss pelo seu estado, Texas, dizia sempre, todo mundo pensa que sou burra, porque sou bonita, me casei com um milionário, nada mais longe da verdade, na minha família primamos todos por sermos sempre os melhores da escola, as notas mais altas.  Tinha um curso superior de fazer inveja, na verdade, era diretora sênior da empresa do marido.   Se ele bobear, le roubo a empresa porque a entendo melhor que ele.

Ela apareceu logo em seguida, desta vez estou na casa do meu irmão, ele vive aqui ao lado, estava como uma rosa, calças jeans, tênis, camiseta bem decotada, com os cabelos presos num rabo de cavalo.    Rodou na frente dele, nada mais americano, nem texano.   Meu querido amigo, necessito uma roupa para uma festa da Vogue em NYC.  Não quero nada de essas que pensam que serão famosas a vida inteira usam.  Coisas incomodas, que mal podem andar, quanto mais sentar-se. Tirou da bolsa uma caixa, veja essa joia era da minha mãe, me deixou de herança, mas nunca pude usar, porque é uma coisa singela.  Era um colar, com dois brincos, tinha a forma de flor, no centro de cada uma tinha um rubi.   Queria um vestido que pudesse usar isso.   Pertenceu sempre a família, diz sua lenda que na época da guerra foi vendido para comprar comida para os escravos.   Mas que depois voltou a família.

Ele copiou o desenho do colar, disse, amanhã venha fazer uma prova.

Buscou um vestido dessa época, desenhou o mesmo como se fosse um vestido usado uma atriz num filme de época.              Usaremos uma coisa antiga, como anáguas ligeiras, mas que criem volumes, por cima ia uma saia em que a rosas se reproduziam na barra, era ligeiramente mais curta na frente pois sabia que existia uma escadaria para subir, mais comprido atrás, formando uma pequena cauda, nada como as gigantescas que usavam, o busto era todo plissado, como o colar era de ouro, uma das bordadeiras, fez meias rosas em crochê, de fios de ouro, com uma pequena pedra no meio, iam subindo da cintura encaixada no plisse, quando chegavam em cima, só tinha uma que ficaria logo abaixo do colar.    Os braços estavam livres, buscou numa caixa um leque precioso de plumas que tinha comprado num antiquário a anos, as plumas eram brancas embaixo, depois rosa, finalizavam com a cor rubi.

No dia seguinte ela apareceu mais arrumada, ele tinha chamado uma cabeleireira, amiga da Ivete, lhe disse que antes como deveria ser seu cabelo, enquanto se arrumava, entrou um homem com uma cara severa, perguntou por ela, o levaram para cima, ela disse que estava emocionada, esse homem sabe me cativar.  Ele estendeu a mão, perguntou como vai.

Tinha ligeira sensação que o conhecia.  Quando o cabelos ficaram prontos, um imenso coque, cheios de flores brancas como do desenho.  Ele disse, agora feche os olhos, deixe as ajudantes te vestirem, só abra quando estiver pronto.  Ela docilmente se deixou vestir, o homem sorria o que o deixava bonito.   Ele enquanto isso começou a buscar entre seus blocos de desenhos até que o encontrou. Ficou quieto.

Quando o homem lhe deu o colar, lhe sorriu, pediu que o colocasse.   Agora abra os olhos, ela deu um grito.  Caramba, em casa de minha mãe, tinha um quadro da dona do colar, com um vestido mais ou menos como esse.  É como voltar no tempo, me sinto bailando naqueles bailes que aparecem nos filmes.

Ele ria, quando estavam te vestindo pensei o mesmo, mamãe ia ficar feliz.

Ah este é teu irmão, por isso tinha a sensação de conhecê-lo, fui buscar entre minhas coisas um desenho.   Mostrou para ela.    Esta ria a bessa, ele quis ver o desenho, era ele nas famosas conversas do Jean-Pierre, com a cabeça apoiada nas mãos, como pensando, isso não vai acabar muito.    Ele ria a bessa, ficava mais bonito.

Me lembro da conversa desse dia, uma discussão sem fim, sobre liberdade sexual de cada um.

Sim nesse dia entendi que nosso relacionamento tinha ido para a merda, nessa noite vim embora, porque já não queria perder meu tempo.     Ele estava desesperado em busca da juventude perdida, acabou perdendo sua vida.

Sinto muito disse ela.

Não, eu lamentei muito, cuidei dele até que morreu, pois no fundo era o único amigo que tinha, acabo de voltar de Israel, aonde fui levar suas cinzas, ele negava de todas as maneira suas raízes judias misturadas com árabe.  A família me olhou como se eu fosse culpado de alguma coisa, eu nem sabia que existiam.  Mas de outra maneira, me reencontrei com minha religião, a ligação que tinha com meu pai, quando ia com ele a mesquita, o simples fato de lavar o rosto, as mãos, os pés rezando, foi um balsamo para mim.

Ela o abraçou o beijou.

Deixemos isso de lado, mostrou o desenho da pequena capa, todas irão com aquelas capas monstruosas, se queres faço essa para ti, mas meu presente é esse, lhe entregou a caixa de seda, ela quando abriu deu um grito, que lindo.

Tenho até medo de usar, como te devolvo depois?

Nada é um presente para ti, o comprei num antiquário, sua dona original era uma grande artista de teatro francês.  Tem seu nome no fundo.

Bom a partir de amanhã podes vir buscar o vestido, vamos só terminar alguns detalhes.

Ninguém vai esperar que eu apareça com um vestido lindo deste, esperam que eu apareça com um escandaloso.

Hugh o que achas?

Em ti minha irmã tudo esta sempre bem.    Nosso amigo é um mestre.  Nesse dia do desenho, estávamos os dois chateados com a conversa, olhei para ele desenhando, fiquei com inveja, pensei, ele pelo menos pode se ocupar, eu me sinto aqui perdendo meu tempo com discussões sem futuro, nunca mais voltei a me reunir com esse pessoal.

Sou professor na Sorbonne, de literatura e filosofia aplicada ao pensamento americano, além de ser teu vizinho.   Te vejo sempre com tua assistente, tomando café no mesmo lugar que eu vou, mas nunca tive coragem de me aproximar.

Bom agora já sabe que não sou nenhum bicho papão.

Porque não vamos jantar essa noite sugeriu ela, porque depois eu irei embora.

Foi ótimo o jantar, pois nos dias seguintes ele teve uma enxurrada de pedidos de clientes americanas, que queriam roupas diferentes para a festa.  Nas vésperas, recebeu um convite para ir a NYC.   Mas não estava de humor para isso.  Escreveu um e-mail, agradecendo, mas tinha assumido outro compromisso.   Nada disso queria ficar em casa tranquilo.

Nesse dia pela manhã, um domingo, encontrou Hugh no café, ele se aproximou, perguntou se podia sentar-se.

Nada me dará mais prazer de ter uma conversa tranquila contigo.   A irmã queria que ele fosse a festa, para ela no fundo é como administrar seu negócio.   Aproveitara, que estará deslumbrante, para convencer muita gente de fazer negócios com ela.

Foram caminhando para casa, o convidou para subir para conhecer seu apartamento.

Este da porta riu, eu imaginava um apartamento totalmente superficial, embora saiba que eres muito sério, posso fazer uma coisa que tenho vontade de fazer, desde o dia que te conheci.

Se aproximou, segurou seu rosto com as duas mãos, o beijando, era como beijar um vulcão em erupção, nem teve consciência que estava nu com ele na cama, o sexo era igual, o homem de tranquilo, como que explodia.

Quando comentou isso com ele, respondeu, que era porque é você que me deixa assim, agora estavam juntos sempre no café da manhã no restaurante, dormiam juntos todos os dias, depois de fazerem sexo.  Não se cansavam, nunca nada era igual.

As conversas eram imensas.  Ele recebeu a revista em que saia sua irmã, falando dele, o costureiro que tinha encontrado a alma do colar.  Tinha posado para a foto, embaixo do quadro da casa da mãe dela.

Temos que um dia ir ao Texas, completava rindo, para fazer nosso casamento a moda de lá. Com uma grande festa.

Um dia Ivete chegou atrasada, a escola de seu filho tinha uma epidemia, estava fechada, não tive com quem deixá-lo, ele pode ficar no ateliê, a cara do garoto era divertida, examinava tudo cada detalhe, se aproximou de um vestido exposto, como se examinasse as costuras.

O levou para cima, apresentou ao pessoal, lhe deu um bloco, lápis, o deixou ali, mergulhou no seu trabalho, quando levantou a cabeça, estavam todas costureiras olhando o que fazia o garoto.

O estava desenhando numa sequência, ele com o lápis suspenso no ar pensando, outra com o lápis na boca, outra desenhando coçando a cabeça.   Riu muito.  Como te chamas filho.

Ele rindo disse, pensei que sabias, Ivo, estendeu sua mão, que eram firmes.   Não desenho muito porque na escola dizem que isso é coisa de gay, fui perguntar minha mãe, ela disse que os meninos eram idiotas.  Que uma coisa não tinha a ver com a outra.

Em seguida voltou a trabalhar rindo, mais tarde o viu sentado ao lado da que estava fazendo uma barra bordada, o ensinando a fazer igual.    Agora ia todos os dias depois da aulas, ficar no ateliê, disse que tinha que aprender de tudo, pois um dia queria ser como ele.  Quando estava com o Hugh tinha conversas interessantes, riam a bessa.

Ficou olhando um dia os dois juntos, imaginou se tivessem um filho, o Hugh seria um grande pai.

Conversando com a Ivete, perguntou pelo pai dele.

Não sabe que existe, é um homem casado, me mentiu, dizendo que era solteiro.   Nem sei por aonde anda.

Vou te fazer uma proposta, mas tens que falar com ele antes.  Eu não tenho herdeiros, esse menino se segue assim será um grande costureiro.   Queria adotá-lo.

Estava fazendo pela primeira vez uma coleção, a pedido da Vogue para uma Festa por todo o alto em Paris, depois iria para NYC, aonde a festa se repetiria.

Quando estava retocando o último vestido, desmaiou, Ivo tomou rédeas da situação, chamando uma ambulância, bem como avisando ao Hugh que estava dando aulas.

Tinha tido um princípio de enfarte, por stress.  Depois dizia a Ivete, vês por que nunca quis fazer uma coleção, menos mal que estava tudo pronto.    Hugh dormiu todos os dias no hospital, Ivo vinha vê-lo pela tarde depois das aulas com o Hugh, pareciam pai e filho juntos.

Pediu ao Hugh se o deixava falar sozinho com o Abed, minha mãe me contou que querias me adotar, eu ia dizer que sim, quando tiveste esse princípio de enfarte, fiquei louco, ia perder meu segundo pai.   Não sei quem é o primeiro, mas não quero te perder, se me queres como filho eu aceito, mas não porque podes me deixar uma herança ou mesmo teu negócio, porque aprendi a querer o senhor.

Quando ficou bom, a primeira coisa que fez com o Ivo foi ir a mesquita, o ensinou como seu pai tinha ensinado todo o processo de preparação para entrar, a reza que ele fazia.  Ele estava compenetrado.   Minha mãe nunca vai a nenhuma igreja, não creio que se aborreça que vá contigo.

Ivete ria, imagina agora terei um filho mulçumano.   Quando foi com o Hugh a Texas numa reunião de família, ele insistiu em levar o Ivo, bem como a Ivete, como todo ateliê estava de férias foram.  Ela comentou com ele, esses dois conversando, parecem pai e filho, verdade.

Sim Hugh o adora.  Me pediu para me casar com ele, aproveitando toda a família junta.

A anfitrioa da festa era sua irmã, os recebeu de braços abertos na mansão da família que ela vivia.   No salão, embaixo do quadro estava exposto o vestido que tinha usado.

Não parava de chegar gente no dia da festa, Hugh tinha saído a cavalo de manhã com Ivo, voltaram rindo muito.   Esses dois estão tramando algo, disse para Ivete.

Ele estava vestido como tinha dito para se vestir, com uma roupa normal, quando Hugh tomou a palavra, estou a muitos anos fora do país, quando fui, imaginei uma vida de aventura, mas nada mais longe da verdade, logo me aborreci, estava prestes a pendurar a chuteira, deixar tudo para trás voltar com o rabo entre as pernas, quando encontrei a pessoa que quero viver a vida inteira, encontrei na verdade uma família, um filho adotivo dele, que adoro, é como meu filho, por isso por querer ser dessa família, queria pedir a mão do senhor Abed Faisal, em matrimonio, aproveitar que meu irmão que juiz oficialize essa união.    Ivo foi até ele, arrastou realmente pois estava com vergonha.   Não tinha imaginado nada assim.

Ele tinha assinado um papel que Hugh tinha pedido, mas estava distraído, não viu que era o de casamento.   Quem falou ao final da cerimônia foi o Ivo, quem não tinha nenhum pai, agora tenho dois, além de minha mãe maravilhosa.

A festa foi sensacional, todo mundo da família vinha falar com eles, Ivete ria, dizendo que fazia anos que não se divertia assim.    Um dos irmãos do Hugh, não a deixava em paz, ele dizia aproveita é o mais rico de todos, viúvo ainda por cima.

Quando voltaram, passaram por NYC, aonde ia acontecer a festa para qual tinha feito as roupas, mas se livrou de enxurrada de entrevista, dizendo que tinha que mostrar os museus da cidade ao seu filho, junto com sua família.  Numa das fotos da revista, apareciam os quatro, numa foto da festa.

Agora Ivete vivia na casa que tinha sido do Hugh, os dois tinha se casado novamente na França por causa dos papeis, formalmente eram os pais adotivos do Ivo.  Na cerimônia, só estava o pessoal do ateliê, deu uma pequena festa em casa para comemorar.

Ivo agora, era um aprendiz, mas sem largar os estudos, volta e meia, apresentava uma ideia, a confeccionavam para colocar na vitrine, claro era vendida em seguida.

Ele reservava o lucro, para ele ir a Universidade.   Fez belas artes, ali perto, mas dizia que aprendia mais com ele.  Agora ficava ao lado dele, para aprender a conhecer as clientes.

Tinha a cabeça cheia de cabelos brancos o que lhe dava um charme especial. Nunca podia imaginar amar uma pessoa como ele amava o Hugh, o relacionamento deles seguia igual, o vulcão sempre estava ativo.

Ivo estava se transformando num belo homem, como sempre conversava sobre tudo com Hugh, ele ficava prestando atenção na conversa deles, inclusive ia com eles á mesquita, com todo o respeito, fazia o mesmo que eles.  Mas para ele nada era mais importante que sentar-se depois de rezar, ficar pensando na vida, lembrando do passado.

Mandou a sua irmã uma foto de família, mas nunca recebeu resposta.   Nunca chegou a usar todo o dinheiro que sua mãe deixou para ele, era a herança do Ivo.  Tinha certeza de que iria adorar seu neto.

Sempre rezava pelos seus pais, o que não esperava era que Ivo cada vez fosse mais religioso, o acompanhava sempre.

Discutiam depois os três fundamentos das religiões.

Cada vez mais foi ocupando o lugar do pai no ateliê, algumas costureiras hoje eram filhas ou netas das anteriores, ele não tinha prejuízo nenhum em sentar-se com as bordadeiras, para fazer junto o que queria.

Seus primeiros trabalhos, ganharam um prêmio, quem entregou foi o Abed, eles agora tinham uma casa no campo, aonde ficavam mais tempo.   Ivete, acabou se casado com o irmão rico do Hugh, volta e meia vinha para o filho lhe fazer um vestido para alguma festa.

Esperavam o dia que Ivo chegasse dizendo que estava apaixonado.   Mas este dizia que não tinha conhecido ninguém ainda como os que tinha como exemplo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

lunes, 21 de septiembre de 2020

BRIAN NOTE

 

                                                  BRIAN NOTE

 

Estava encostado na parede esperando a polícia que ele mesmo tinha chamado, para levar o homem que tinha tentado lhe matar, tinha que manter os olhos abertos, espero não morrer até a mesma chegar.   Fazia um esforço tremendo.

O homem tinha surgido do nada, era um antigo armazém de ocupas, ali viviam muitos homeless, homens que tinham servido ao exército de seu pais, para a glória do mesmo, como ele dizia, mas que em seguida virava as costas para os mesmos.

Ah, se ele soubesse disso, mas agora era tarde para chorar o leite derramado, talvez tarde para recuperar sua própria vida, depois de tudo que tinha feito para sobreviver.

Levava sóbrio a quase um ano, analisando toda sua vida, ia regularmente ao hospital de veteranos para conversar com um psicólogo, porque normalmente o psiquiatra o que faria seria lhe receitar um medicamento que o retornaria ao vício, isso ele não queria.  Quando lhe doía a perna, o que fazia era deslocar seus pensamentos para outra coisa.   Tampouco já se atirava a loucuras sexuais, para afundar mais ainda no charco da miséria.

Tinha caído tão fundo, mas tão, fundo, que quando olhava no espelho, mal se reconhecia, para quem estava beirando aos 50 anos, ele aparentavam 10 mais.   Os seus cabelos, já sequer tinham brilho.

Quando a polícia chegou, disse que o homem tinha surgido do nada com um revolver na mão, nem sei se esta carregado, na outra tinha, apontou mais ao longe uma navalha.  Me atacou, o filho da puta sabia que eu usava prótese, pois a primeira coisa que fez, foi dar um golpe na minha perna, com esse tubo, nem sei aonde está minha prótese, essa é a terceira neste ano, agora só querem me dar as mais baratas.

Já sabemos quem é esse sujeito, ele agride as vezes consegue ferir, a todos os homens que aparecem ou apareceram em filmes pornográficos.

Então deve ser isso, eu apareci em uns quantos por dinheiro.    A pensão de ex-combatente nunca é boa.

O levaram até uma ambulância, não se via por ali, nenhum dos ocupas, pois se estivessem seriam desalojados, então o melhor era fugir.

O levaram para o hospital, mas claro antes pediu que localizassem sua prótese.  Com ela posta, viu que as enfermeiras o olhavam com nojo, sabia que precisava de um banho.

Pediu se podia fazê-lo, um médico o olhou de cima a baixo, mandou que sentasse numa cadeira de rodas, deu uma ordem, a um enfermeiro que estava por ali.  Levou pelo menos meia hora embaixo do chuveiro, se lavou todo, a cabeça perdeu as contas, precisava era raspar a mesma, viu o mesmo enfermeiro, perguntou se tinha uma máquina de cortar cabelo, esse disse que sim, a trouxe, raspou para ele seus cabelos, teve noção que estavam imensos, aproveitou, passou pelo sovaco, pelo sexo, no resto do corpo não tinha pelo. Tornou a tomar um banho. Agora se sentia limpo.  Sentou-se na cadeira de roda, o enfermeiro o levou de novo para urgências, de lá o mandaram para um exame geral como sempre.

O médico apareceu, soltou, é um prazer em vê-lo apesar das circunstâncias Brian.

Me conheces?

Sim servimos juntos, tu eras polícia militar em Kandahar, eu médico que estava aprendendo a profissão, por isso trabalho em urgências, sou melhor aqui.

Depois de todo os exames, soltou, fui eu que fiz tua amputação, tua perna tinha evaporado, do joelho só estava um troço de osso destroçado.

Pensei que não ias subsistir, te mandamos para a Alemanha imediatamente, pelo ataque tínhamos tantos mortos feridos, que nem te vi partir.

Depois algumas vezes soube de ti.

Ele ficou olhando o médico, começou a rir, agora me lembro de ti, atrás do barracão de alimentos fizemos sexo uma vez.   O outro começou a rir, é verdade, o sem vergonha do Mattei, mandou que eu tirasse o pau do cu dele para por o teu que era maior.   Olhei para o teu, realmente era maior, depois encontrou um jeito de estarmos os dois dentro dele.  Era muito louco aquele rapaz.

O mataram, fomos juntos para a o Hospital na Alemanha, ele foi embora antes, mas eu fiquei, te ocupaste da perna, mas quando cheguei lá uma parte de metal, tinha entrado nos rins, tiveram que retirar um, além de cortarem meus ovos fora, fiquei impotente para sempre.

Que merda, sinto muito, mas agora se quiseres posso te encaminhar para um médico que serviu também, ele me operou, pois tiver um problema também, esqueci que estava ferido, passei a atender todo mundo, quando ao final quase morri.

Anos depois ele me ajudou com um enxerto, consigo ficar excitado outra vez.   Começou a rir, tu dizes fizemos sexo uma vez, mas não é verdade, um dia estava de baixo astral, tu estava percorrendo o acampamento, me viste sentado atrás do hospital, vieste falar comigo, ficamos conversando, te deixei me penetrar, foi fantástico.   Eu pensava, sou feio, baixinho, meio gordo, como esse homem tão bonito pode querer fazer sexo comigo.

Era a única maneira que me aliviava do stress, dos ruídos da guerra, das merdas todas que via, não me importava, precisava descarregar.  Se te conto que fiz depois, coisas que não tenho orgulho, mas tampouco vou ficar chorando por isso.

Viu os resultados todos, estas bem, tens é que cuidar da alimentação.    Vai te parecer uma proposta com duplo sentido, mas se quiseres podes ficar na minha casa.  Meus pais a deixaram para mim, as vezes alugo para alguém que está fazendo práticas aqui, mas não misturo as estações, aprendi que não estamos no campo de batalha.   Se espera, vou trocar de roupa te dou alta, te levo.

No caminho, soltou, teu carro está com um ruído estranho, amanhã dou uma olhada para ti, naquele dia fui atingido, pois passava minhas horas vagas na oficina da unidade de motorizados, adoro fuçar os carros, coisa que fiz desde criança.  Tentei ser dessa unidade, mas como era alto, forte, me colocaram de polícia militar.

Era uma casa dessas antigas, desceu do carro com dificuldade, terei que arrumar outra prótese, essa está mal.

Amanhã, tiro a referência, consigo uma mais moderna para ti.

Por que estas fazendo tudo isso comigo?

Queres a verdade, ou uma mentira, daquelas, tipo, temos que estar unidos pelo país.

A verdade, tenho asco dessas história todas que nos faziam engolir.

Bom, naquele dia que te conheci, me apaixonei por ti, por isso depois ficava como um louco atrás de ti, mas estava sempre com o Mattei, ainda pensei em te contar que o vi muitas vezes fazendo sexo, com dois ou três.   Mas pensei, não posso me meter nessa história.

Sim é verdade, mas eu sabia disso, até entendia, ele estava como uma bala perdida, sem saber aonde chegar.   Me contou o porquê disso.   Sempre tinha sido bonito, vivia em Venice Beach, abusaram dele, desde que era garoto, não tinha coragem de contar ao seu pai, pois esse era muito severo.   O conheci a anos atrás, um homem simpático, sofrendo porque o filho tinha sido assassinado.  Tentou de tudo com ele, para livrá-lo das drogas, não conseguiu.

Mas como te dizia, ele acabou se acostumando, gostando disso, quando começou a fazer surf na praia, ao mesmo tempo exercícios nas barras, era capaz de passar horas num ginásio fazendo exercícios, para o corpo ficar como era, ao mesmo tempo fazia sexo três a quatro vezes por dia, estava sempre pronto, desde que o sujeito fosse bruto com ele.

Por isso se metia com o pessoal da pesada, adorava se meter numa briga, dava porrada em todo mundo, os que sobravam, levava para trás de algum armazém para fazerem sexo no meio das porradas.    Uma vez dois soldados da polícia militar, lhe desceram o cacete, depois quando o fui ver na cela, pediu para chupar meu pau, com a boca ainda saindo sangue.  Eu acabava me excitando com isso, pois estávamos como se o mundo estivesse acabando.

Ficaram no salão conversando.    Giorgio contou, que tudo o tinha afetado também, não consigo ter um relacionamento, pois se não estou cansado depois do trabalho, tento ficar acordado, pois sei que terei pesadelos, que não consigo salvar algum companheiro, muito sangue sempre, acordo aos urros,  por isso tive que mandar insonorizar meu quarto.   Quando voltei foi um inferno, pois ainda fui trabalhar num hospital militar, ver toda essa gente com problemas, piorou muito.  Comecei a tomar drogas, para que nos momentos que estava sozinho a cabeça não explodisse.  Um dia disse basta, fui para a outra ponta do pais, me internei voluntariamente, numa clínica, fiquei lá pelo menos dois anos.  O melhor é que trabalhava também, mas fui fazendo terapia, foi lá que fui operado também como te falei.

Creio que ao poder voltar a poder fazer sexo, melhorou minha vida um pouco, mas necessito desse stress da urgência para seguir vivendo, me chamam para trabalhar em outros setores, mas não quero.  Tampouco suporto ficar muitos dias livres, se vou de viagem tenho que me ocupar muito, andar tudo que posso para ter depois sono.

Preparou comida para eles, sentaram-se para comer, em forma de agradecer, colocou sua mão sobre a dele, viu que ficava nervoso. Não me provoque, faz muito tempo que não faço sexo, isso seria uma maldade de sua parte.

Mas foram dormir juntos, deixou que ele o penetrasse, se sentiu bem nisso, normalmente precisava de vários lhe penetrando, por isso agora entendia o Mattei. Dormiram agarrados, mas despertou quando viu que ele estava tendo um pesadelo, o acalmou.

Era uma boa pessoa, se levantou, tinha visto na garagem ferramentas, quando Giorgio se levantou, o encontrou lá arrumando o carro.

Pensei que tinha ido embora?

Prometi arrumar teu carro, tinha algumas peças sem lubrificar, bem como dois parafusos soltos. Nunca olhas teu carro?

Era do meu pai.  Eu me lembro que tinhas paixão por motocicletas, não era assim, porque me contaste a respeito.

Como te sentiste de noite? 

Como não tenho como ejacular, necessito de muito sexo, agora estou tentando controlar isso, mas gostei, me relaxou.

Espera, vou falar com o médico que te disse, para saber aonde esta no momento, ele está sempre em movimento.

O escutou falando muitos palavrões, rindo ao mesmo tempo, depois falando tranquilo com a pessoa do outro lado, explicando o caso, ele tinha examinado seus exames, sabia do que se tratava. Ok, anotou alguma coisa, mando ele te procurar.

Tome o endereço, ele estará esse mês num hospital em Washington, depois irá para a Europa.

Tens dinheiro para ir até lá?

Sim tenho um pouco.

Passamos num banco, eu tiro dinheiro para que possas pegar um voo.

Não, irei na minha moto, eu a tenho sempre num guarda moveis, quando estou em alguma cidade.  Não se preocupe.

O deixou na frente do guarda moveis que ele disse, apesar da quantidade de gente passando, ficaram se beijando no carro.   Uma pena que não queiras ficar, eu poderia me apaixonar outra vez por ti.   Pelo menos me entenderia.

Ele sabia que se ficasse, tudo acabaria mal, melhor era sempre seguir seu caminho.

Foi até o armazém que usava, trocou de roupa, colocou roupas negras, botas, tirou uma jaqueta de couro de uma caixa, ali estava tudo que tinha, inclusive escondida uma caixa com dinheiro, nem sempre tinha ganhado esse dinheiro honestamente, mas isso não importava.

Amarou uma bandana na cabeça para proteger sua cabeça raspada do capacete.   Parou num posto de gasolina para encher o tanque, saiu em rumo a Capital.   Odiava a cidade, mas se esse homem podia ajudar, ele gostaria de ver seu pau empinado outra vez.   Talvez se sentisse melhor.

Chegou de noite, pois tinha parado várias vezes, para descansar.   Levava os exames que o Giorgio tinha lhe dado num envelope.

Ficou num motel na entrada da cidade, falou por celular com o médico, se via que era judeu, pelo sobrenome, André Coen.  

Este perguntou em que hotel ele estava, gostaria de conversar com ele essa mesma noite, eu durmo pouco.  Lhe deu a direção.   Como entendia que era judeu, imaginou uma pessoa baixa, peluda, nada mais longe da verdade, tinha sua altura, era magro, pelo sim tinha, um belo bigode, uma cabeleira imensa, parecia um leão enfurecido, quando falava, gesticulava muito, a cabeça parecia estar em eterno movimento.

Viu todas os exames, leu atentamente, lhe disse, sei que não é um hospital, tire a roupa, deite-se perto do abajur.  Examinou sua ferida, lhe perguntando se doía em algum lugar.  Tenho que examinar se tens próstata, colocou uma luvas, tinha os dedos largos de uma mão ossuda, perguntou o que ia sentindo.  Vejo pela tua dilatação, que passaste a usar o anus, para teres prazer, mas está muito dilatado, se te opero, posso reduzir isso também, rindo soltou, desde que me deixe estrear, caiu numa gargalhada que ele acompanhou.

Ele também ficou rindo imaginando a cena.

Caralho é a primeira vez que alguém, entende meu humor.

Me sacaneiam muito pelo tipo de especialização que tenho, mas já consertei tanta gente, quando comentam algo, digo, arrumei o piru do teu pai, mas aproveitei comi o cu dele em pagamento, ficam furiosos comigo.  Na mesa do quarto tinha comida, o convidou para comer com ele.

Pelo que examinei, pode ser que consiga, mas amanhã de manhã, tens que vir comigo a clínica, vamos fazer o seguinte, eu tenho que operar dois senadores, colocarei toda tua despesa nas contas deles.  Não te vai custar nada, como meus honorários são altos, nem vão perceber.

Deixou a moto na garagem do hotel, as chaves como André, este perguntou se podia usá-la, pois adorava andar de moto.   Nessa noite tinha dormido na mesma cama que ele, viu que ele também tinha pesadelos, se encostou nele quando começou a resmungar.  Ele se virou o abraçou, tinham dormido a noite inteira assim.  O contato era super agradável.

Na clínica, falou com a chefe das enfermeiras, que ao parecer lhe conhecia, está mandou fazer uma bateria de provas com ele, desde exame de sangue, tudo o necessário para uma operação, como era particular, tudo ia rápido.   As seis horas da tarde o André apareceu, fiquei com vontade de cortar o escroto do senador, o sujeito filho da puta.

Vamos agora começar a primeira operação, não te preocupes, tudo correra bem, como estavam sozinhos, veio até ele, não te agradeci, o fato de ter-me acalmado esta noite, as vezes os vizinhos de quarto reclamam dos meus gritos.   Lhe deu um beijo demorado na boca.

Em seguida, quando ia falar alguma coisa, entraram dois enfermeiros, o levaram.  Ia dizer a ele, que gostava de seus beijos.

Depois mergulho na escuridão total.

Era a primeira vez que sonhava com sua juventude, no Texas, eram uma família imensas, tinha pelo menos mais quatro irmãos, seu pai dizia, pelo menos nessa família não temos mulheres, pois sua irmã, só tinha filha mulheres.

Viviam na fazenda, mas ele os obrigava a ir à escola, tinha que descer um caminho, até a estrada para pegar o ônibus.    Seu irmão mais velho era brilhante na escola, ele na verdade só gostava de aulas de história, geografia.   Imaginava-se indo pelo mundo.  No domingo, seu pai dizia era um dia santo, não trabalhavam, os trazia a cidade para comer em algum italiano, depois se estava passando algum filme de faroeste iam ao cinema, o velho adorava isso.  Ele também.   Uma vez se escapou com um amigo, pelas montanhas, nas férias, montados a cavalo, acamparam, de noite faziam experiencias sexuais.   Foi aí que descobriu que gostava de homens.  Era seu melhor amigo.  Os dois tinham as mesmas paixões, mecânica, o pai deste tinha a melhor oficina da cidade.  A única diferença era que ele queria ir pelo mundo, o Bob não, ele sonhava em herdar a oficina do pai, seguir trabalhando.   Mas adoravam fazer sexo um com o outro, lhe dizia ao ouvido o homem mais bonito da cidade gosta de mim.   Não tinham barreiras um com o outro, faziam de tudo.

Um dia no meio de um filme, apareceu um vídeo chamando para o exército, venha conhecer o mundo.  Ele tinha acabado de fazer 18 anos.  Tinha dois metros de altura, loiro, olhos azuis, forte pelo trabalho no campo ou na oficina.  Se alistou sem seu pai saber, seus dois irmãos mais velhos estava na universidade, seu pai insistia que fosse também, mas não tinha objetivos.

Foi para um forte perto de Dallas, ali começou seu treinamento, um pouco chateado porque seu pai ficou furioso com ele, ainda lhe soltou, prefiro que fiques, que continue fazendo sexo com esse teu amigo, que vaias para o exército.

Mas era tarde, no dia marcado compareceu, embarcou com outros rapazes da cidade no ônibus militar.   Se destacou logo, estava acostumado a exercícios pesados, lutar com os irmãos, tudo lhe parecia fácil, pediu para ir para a unidade motorizada, disse que tinha experiencia em oficina, mas pelo seu porte o mandaram treinar com a Policia Militar, sob o mando de um sargento, mais baixo que ele, forte como um touro, com ele aprendeu tudo.

Estavam para ir para sua primeira saída do pais.  Fazia um calor infernal no acampamento, resolveu tomar um banho, quando estava ali embaixo d’água, apareceu o sargento, levava uma toalha na cintura.  

Perguntou o que estava fazendo ali?

Disse que tinha muito calor, que não conseguia dormir, o homem tirou a toalha, tinha um corpo perfeito, se aproximou dele, o provocando, fizeram sexo ali, disse ao seu ouvido, já me masturbei muitas vezes pensando em ti.    Era pelo menos uns 10 anos mais velho do que ele.

O escolheu para chefiar o grupo.   Na véspera tinham dia e noite livre na cidade, passaram esse tempo todo num motel, fazendo sexo.   Este contou que era casado, que tinha filhos, mas que estava louco por ele.  

Quando embarcou, ele lhe entregou uma lista de soldados conflitivos de outras unidades, fique de olho neles, na lista constava o Mattei.    Ficou impressionado com sua beleza, mas viu que suas brincadeiras com os companheiros, estava carregada de brutalidade, coisa que não gostava.

Quando o surpreendeu com o Giorgio, ele estava de quatro, como o outro por detrás, pedia baixinho gemendo, mais por favor.  Quando o viu, o chamou, estava excitado, abriu suas calças colocando seu piru na boca, lá pelas tantas, disse ao Giorgio, tire o teu piru do meu cu, quero este que é maior.   Depois mais tarde sem parar nem um minuto, juntou os dois sentando em cima dos mesmo.   Estava alucinado.  Pensou esse garoto está drogado.  Depois lhe pediu se podia dormir numa cela, senão sairia em busca de mais.

Nos dias seguinte tentou conversar com ele, mas quando estava sóbrio, queria estar com ele, mas qualquer descuido, com alguma droga que conseguia não sabia a aonde, a coisa ficava feia, pior ninguém se atrevia a fazer gozação com ele, porque descia porrada.

Mas se apaixonou, o tentava manter o mais tempo possível perto dele, quando estava perturbado, pedia para dormir numa cela, assim se comportaria.  Quando foram feridos, na Alemanha, acabaram mandado para casa, pois simplesmente não se comportava, um dia o pegaram na farmácia do hospital, roubando drogas.

Nunca mais o viu.

Ele ao voltar para casa foi outra merda, claro vinha perneta como dizia um sobrinho, seu pai lhe fez serias acusações, tipo eu te avisei, se sentia vigiado 24 horas do dia, de noite urrava de dor, ou nos pesadelos, o colocaram para dormir no celeiro.

Descobriu que seu amigo levava a oficina mecânica do pai, quando o viu, o abraçou, mas não o beijou.  Logo lhe apresentou sua mulher, seus dois filhos.  Começou a trabalhar para ele, dormia no fundo da oficina, até que uma vizinha reclamou dos gritos.

Um dia o amigo apareceu, ele estava dormindo, no meio de um pesadelo, começou a gritar, o outro lhe abraçou, acabaram fazendo sexo.   Por duas vezes foi assim.  Mas chegou um dia, lhe disse que tinha que ir embora, gostava da sua mulher e dos filhos, com ele ali, não conseguiria, comprou uma moto foi embora.   Em San Francisco se meteu em mil confusões, mas precisando de dinheiro, começou a fazer vídeos de sado masoquismo, drogas.  Até que foi preso.

Guardou a moto num armazém, foi fazer reabilitação, a primeira de muitas, mas sempre voltava a recair.   Basicamente de moto rodou o pais.

Foi a Venice Beach, já sabia pelos conhecidos que Mattei estava morto, mas queria deixar o que estava com ele, com a família.   Lá conheceu o rapaz que trabalhava com seu pai, ficou alucinado por ele, mas no sexo, viu que seria impossível se controlar ali.  No dia seguinte foi embora, tentou de novo se controlar, mas sempre resvalava na tentação de dinheiro fácil, como não sentia já nada sequer nas penetrações, as coisas foram ficando mais duras.

Despertou num quarto branco, com o André olhando sua cara, tomando a pressão.   Estava falando enquanto dormia, quem é Mattei.

Uma larga história, talvez o homem que me fez cair nesse buraco, mas o amava.

Bom agora ficaras em observação uns quantos dias, depois volto a te operar, vais urinar sangue, mas não te preocupe.  Eu esta noite dormirei aqui contigo, assim tento controlar teus pesadelos.

Ficaram foi conversando a noite inteira, quando chegou de manhã estava morto de sono, queria tomar banho, não que o lavassem.   Dois enfermeiros, o colocaram de pé embaixo do chuveiro, ia passar a mão neles, mas se controlou, queria respeitar o André, o fato de o estar ajudando.

De tarde apareceu outro médico, o examinou junto com o André, lhe perguntou se aguentaria outra operação, ia operar seu reto, bem como o anus. Teria que ficar de lado na cama.

Escutou o médico falando, não sabe quantos casos já vi assim, as pessoas voltam da guerra destruídas, não tem medidas para encontrar uma escapatória no prazer.

Despertou de madrugada com o André dormindo segurando sua mão, ficou rindo, ele era até bonito assim dormindo, pela primeira vez em muitos anos fez um gesto de carinho em alguém, só escutou sua voz rouca dizer, continue.

Agora era aguentar um sem fim de exames, curativos, uma rotina que tomava todo o dia, comer só coisas liquidas.   Até que se sentiu melhor.  Uma enfermeira sempre vinha lhe perguntar se queria morfina.  Desde o primeiro dia lhe disse, se tomo uma gota, caio de novo no vicio de drogas, tenho que aguentar.

Todas as noites André vinha dormir ali, tinha mandado colocar uma cama perto da sua, segurava sua mão, quando ele começava a se agitar, a apertava.

Finalmente 10 dias depois, agora vamos para o final, o abriu outra vez, colocando um enxerto, quando ficares excitado, que vai depender de tua cabeça, o membro ficara duro, poderás ter relação sexual, embora não tenha esperma, pode ser que teu corpo volte a fabricar como um liquido no lugar disso.

A recuperação foi mais dolorosa que as outras, esteve tentado a tomar morfina, mas aguentou.

André o levou para o hotel, dormiram juntos outra vez, este o começou a provocar, mas nada, o deixou dormir, de madrugada o excitou, ele ficou como louco, sentia seu sexo outra vez duro, queria gritar.    André, começou a lhe masturbar, perguntando o que sentia.  Não podes ainda penetrar ninguém, pois pode abrir os pontos internos.     Fazia muito anos que não tinha prazer, se agarrou a ele para dormir.

Lhe avisou que iria para a Alemanha, trabalhar um tempo no hospital militar, se ele queria ir junto?

Vou fazer o que lá?   Ficarei chateado, logo me meterei em confusão.

Nas suas viagens, tinha ido até o Oregon, resolveu voltar, atravessando todo o pais, quando fez o último exame, lhe deram ok.   O médico que substituía o André, quando soube que ia de moto, lhe disse, que o melhor seria que fosse devagar.  Isso não era com ele, entregou a moto numa transportadora, foi de avião, assim quando esta chegasse ele já teria encontrado uma casa, um emprego.

O conseguiu fácil, agora, usava sempre a cabeça raspada, pois tinha os cabelos brancos, a bandana tinha virado um elemento de seu corpo.  A moto chegou, ia ao trabalho com ela, as vezes ia a praia, embora a agua fosse fria.   Ia todos os dias a uma piscina climatizada nadar, foi recuperando sua figura.   Mas não se interessava por ninguém, fazia exames periódicos com um médico que lhe tinham recomendado.

André as vezes o chamava, para saber como estava, me acostumei tanto contigo, que as vezes sonho que estou conversando.   Já fizeste sexo com alguém.

Não André, prometi ao meu médico que ele seria o primeiro.   Ele se matava de rir, agora ia para a França, fazer um curso num hospital.   Não posso parar dizia, me deprimo.

Ele ao contrário, estava levando uma vida normal.  Tinha menos pesadelos, estava sempre ocupado, quando caia na cama dormia como um bebê.

Ia agora, as secções de terapia de grupo de excombatente, escutavas seus casos, bem como ele os seus.    Fez camaradagem com alguns, outros se insinuaram para ele, mas ficou quieto.

Um dia apareceu um homem forte na oficina, para arrumar sua moto, já tinham feito sexo em San Francisco.   O homem o convidou para jantar.   Conversaram, este comentou o que tinha feito, ganhei dinheiro fazendo sacanagens, agora tenho umas terras aonde crio cavalos, desenhou como se ia até lá, se um dia queres vá até la.

O provocou, mas só de se lembrar das loucuras que tinha feito com esse, nessa noite teve pesadelos.    Sabia que não podia ceder à tentação.

Uma ano depois, até ria, levava uma vida de casto, dizia brincando ao André que pensava entrar para um mosteiro, se masturbava quando sentia desejo, algumas vezes pensando nele.

André disse que estaria em San Francisco, por uns três meses, ficarei trabalhando num hospital da marinha, venha ver-me, gostaria de estar contigo.

Pediu demissão do emprego, o dono tinha justo um irmão com outra oficina de motos em San Francisco.   Alugou um apartamento pequeno, quando André chegou, o apertou, vejo que estas ótimo, perdeste aquele jeito de derrotado, pela tua cara, vejo que tens paz.

Lhe contou como tinha feito esse tempo, do sujeito que tinha aparecido, consegui me conter para não cair na mesma esparrela.

Nessa noite, os dois fizeram sexo, com ele era diferente, tinham o mesmo tamanho, se encaixava a perfeição, André pediu que o penetrasse, queria saber como ele se sentia, ficou como louco, uau, mostrou depois, a ele como que um liquido saído do pênis, como se fosse um esperma.   Isso é teu corpo reagindo.  Nesse tempo trabalharia menos, quando chegava em casa os dois jantavam, conversavam como tinha ido o dia.   Era o que tinha sonhado com seu amigo de infância.   Ter um relacionamento a sério.   Tinha poucos pesadelos, tanto um como o outro.

Chegou à prova dos nove, André disse que tinha possibilidade de ficar ali trabalhando, estou cansado de estar de um lado para o outro.   Gostaria de estar contigo para sempre, aprendi a te amar.

Num primeiro momento, seu instinto dizia que devia ir embora dali imediatamente.  Mas passou dois dias tristes, mas claro dessa vez, comentando tudo que pensava, os seus medos, a cidade cheia de tentações,

Acabaram indo para uma cidade pequena, André podia seguir operando.  Vivia pela primeira vez um relacionamento, as vezes olhava pais com filhos, sentia vontade disso ser pai.  Mas depois pensava no seu passado, era como empurrar a ideia para o fundo da sua cabeça afinal não tinha mais idade para isso.

Um dia na oficina, um rapaz que vivia ao lado, se aproximou, lhe mostrando um celular, aonde ele era penetrado por vários homens.  Lhe disse na cara que queria fazer isso com ele, que tinham um membro que não se cansava.   Olhou para o rapaz, lhe deu dez minutos para sair dali, antes que quebrasse sua cara.   Bom posso mostrar isso para todo mundo.   Justo nesse momento, um cliente que era da polícia, estacionou o carro, segurou o rapaz, chamou o outro, lhe disse o que acontecia, estava sendo ameaçado.  Este levou o outro para a delegacia.

O policial, voltou, soltou que o entendia, mas que ele sempre fizesse isso, os erros do passado servem para que os acossem.   Não se deixe vencer.   Contou que tinha um filho, que por ter matado um traficante, falaram para seu filho que ele era um assassino.  Mas eu lhe expliquei que cuidar e proteger as pessoas era minha profissão.

Vinha sempre falar com ele, apresentou seu filho, o garoto queria andar de moto, deu uma volta com ele. Correu para o pai rindo, me sinto como se tivesse voado.

André tinha ciúmes, dizia esse homem vai te roubar de mim.   Queria voltar para San Francisco ou NYC, pois sentia que a cidade era pequena para ele, a relação dos dois também estava em campo morto.  Já não era a mesma coisa.   Acabou indo embora, ele resolveu ficar, o dono da oficina, lhe ofereceu sociedade.

Um dia jantando com o policial, esse disse que não tinha precisado ver o vídeo do garoto, o conhecia, o tinha reconhecido desde que chegara na cidade.   Fiquei te observando para saber que tipo de pessoa eras.  Meu filho te adora, um final de semana venha passar conosco, vivia fora da cidade numa pequena sítio.  Tinham inclusive cavalos.

Dormiu lá, de noite Henry, o policial, veio ficar com ele, tiveram um sexo sensacional, ele pensou agora que terminamos, ele se vai levantar ira para o outro quarto, nada disso, se agarrou a ele, esperei isso muito tempo.   Agora levavam anos assim, vivia ali no campo, aonde tinha reencontrado seu amor pela terra, tinha uma horta, um filho que adorava.   Saiam os dois a cavalo, quando Henry estava era melhor.

O garoto entendeu o que se passava, agora tenho dois pais.  Nunca se preocuparam com o que as pessoas podiam falar, levavam a vida deles, o resto para eles era resto.

Finalmente tinha paz de espírito, era raro ter pesadelo.   Nunca mais viu o André, mas agradecia o ter curado de seus problemas.