MEMPHIS BOY
Jerome, iria
guardar na sua cabeça para sempre a cena que acabava de ver, seu melhor amigo,
morto, embora ele tivesse matado o homem também. Empurrou o homem que estava em cima do amigo,
o filho da puta ainda respirava, com o canivete enfiado no peito, nem pensou,
por instinto, enfiou aonde tinha visto fazerem antes, cortando a jugular.
Ainda tentou
reviver o amigo, mas nada. As lagrima
escorriam pela sua cara, não havia como conter.
Ficou pensando o que fazer, se o deixasse ali, ainda iriam dizer que era
um negro assassino, o iriam chamar de viado, outras coisas. Estavam à beira do Mississipi, melhor era
pensar que tinha morrido afogado, como os dois estavam sempre tomando banho no
rio, quiça para além de tirar a sujeira, limpar dos abusos que sofriam.
Arrastou o amigo,
estava exausto, mas tirou a força do seu interior. O levou até o rio, o
empurrando, no seu peito, pediu a esse Deus que já que não o protegia, que pelo
menos levasse o amigo para algum lugar bom.
A tristeza
apertava seu peito, vontade de gritar, mas se fizesse isso podia chamar a
atenção, voltou pegou o canivete que estava no pescoço do homem, voltou ao rio,
lavou o mesmo, bem como suas mãos do sangue dos dois. Fechou o mesmo, enfiando no bolso. A cabana que estavam, caia de velha, era ali
que iam fumar os cigarros que roubavam de seus pais, quando estes estavam
totalmente drogados. Achou a caixa de
fosforo, juntou papeis velhos que estavam por ali, tocou fogo, saiu rapidamente, se escondeu,
ficando ver como o casebre rapidamente se consumia.
Tudo por culpa
desses dois filhos da puta, se referia ao seu pai, bem como o pai do
amigo. Viviam nas drogas mais pesadas,
para conseguir alguma coisa, não pensavam, vendiam os dois ao melhor
postor. Ele tinha sido abusado a primeira
vez com 8 anos de idade, mal morreu sua mãe de overdose. Desde então quando o pai não conseguia
dinheiro cantando, tocando sua guitarra pelos bares, ele era quem tinha que
ganhar dinheiro. A primeira vez, tinha
sido um inferno, o pai tinha sumido, mal colocou a mão no dinheiro do
homem. Ele ficou ali atirado, vendo o
homem abaixar suas calças, sorrindo, dizendo rindo, um cuzinho virgem sempre é
bom.
Foi a primeira
vez que tinha tido vontade de matar o pai.
Quando se negava, esse o enchia de porrada, mas na cara não lhe batia,
seu pai era um mulato claro, sua mãe branca, ele era claro, com olhos como os delas
castanhos, quase verdes, era magro, a desnutrição, o fato de viver comendo o
que encontrava nos lixos, não ajudava muito.
Agora com 14
anos, era alto, mas claro, lhe faltava alimento para o corpo crescer, bem como
ter força nesse seu corpo.
Voltou para o
barraco que compartia com o pai, estava até a alma de cocaína, buscou nos seus
bolso algo de dinheiro, para comprar comida, nada, procurou nos esconderijos
que sabia que tinha nada. O jeito porque
a barriga roncava, foi ir fuçar as lixeiras dos restaurantes a margem do rio.
Pensou triste,
pelo menos seu amigo, Tom Bradley, quem sabe aonde estava agora, deixaria de
ter fome.
Os dois filhos da
puta tinham ficado amigos, tinham se conhecido justamente fazendo isso,
oferecendo seus filhos como prostitutos.
Os dois se
protegiam. Mas nem sempre conseguiam como hoje. Hoje iria dormir o mais longe possível de
seu pai, pois era capaz de mata-lo.
Depois de comer
os restos todos que tinha encontrado, subiu numa arvore imensa ali perto do Rio,
sempre subiam ali, quando queriam se esconder, só desciam para buscar comida,
uma vez tinham passado ali dois dias.
Desde então ali era o esconderijo preferido dos dois.
De manhã
despertou com um alarido, gritos, era o
pai de Tom, gritando que seu filho estava morto, apurou o ouvido, ele dizia ao
seu pai, como ia fazer agora para conseguir dinheiro para comprar drogas. A resposta de seu pai, foi aterradora, ainda temos
meu filho. Mas não se preocupe, ainda
tenho dinheiro escondido, hoje a noite faremos os dois uma farra.
Filho da puta,
tinha dinheiro escondido. Não devia
ser grande coisa, mas ajudaria pelo menos para comprar um pão, um copo de
leite. Ficou todo o tempo dizendo filho
da puta.
Ninguém tinha ido
fuçar no barraco queimado, isso era uma coisa normal ali, todos estavam para
cair aos pedaços, escorados por algum troço de madeira. Se fico aqui estou fudido, esses dois vão me
oferecer a mais de um, para poder comprar drogas para eles.
Não tinha
escapatória, ou era ele ou os dois.
Pensou tem que ser essa noite. A
tempos tinha roubado roupa num varal de uma casa, mais ou menos do seu tamanho,
a tinha escondida numa mochila, quase no ramal de trem, bem como uns tênis,
eram velhos, mas estavam lavados, lhe faltava uma camiseta limpa. Viu de onde seu pai tirava mais tarde o
dinheiro. Sabia que levariam um tempo
para voltar, foi buscando alguma casa
que tivesse roupa estendida no varal, até que encontrou uma camisa azul de
quadros, perto da cerca, com cuidado a retirou, arrumou alguma coisa para comer, Subiu de novo na árvore, seu pai só o
procurava, quando precisava dele para o trocar por dinheiro.
Esperou ali, só
observando, cantando mentalmente, a música era sua salvação, cantava uma música
que sua mãe, lhe cantava para dormir, quando não estava cheia de drogas. Sabia que tinha uma irmã que vivia em NYC,
tinha que descobrir aonde.
Viu os dois
voltando, se sentaram na frente da cabana, acabando uma garrafa de Whisky que
deviam ter comprado, depois entraram.
Sabia que agora iriam compartir seringas, dois idiotas, seu pai, quando
muito tinha uns 35 anos, mas parecia um velho de 60. Era pele e osso, o odiava tanto, como odiava
agora o pai do Tom. Olha esses dois, nem
remorsos tem.
Esperou, sabia o
tempo que a droga faria efeito. Desceu rapidamente da árvore, correu para a
cabana, a noite lhe ajudava, era escura.
Entrou por detrás da cabana, viu que os dois estavam atirados no
chão. Primeiro foi até o pai do Tom,
pensou, pelo teu filho. Lhe cortou a jugular, viu que ele se engasgava com o
sangue, mas rapidamente deixou de se mover, depois foi ao seu pai, obrigado por
tudo seu filho da puta, que tua alma apodreça no inferno. Fez a mesma coisa, mas seu pai ainda
despertou por segundos, vendo a sua cara de ódio junto dele. Para que nunca me esqueça no inferno. Limpou o canivete na camisa do pai, foi
até aonde tinha visto esconder a lata. Estranhou, pois ali tinha um rolo
de dinheiro, junto com algumas cartas. Enfiou tudo no bolso, saiu correndo na
escuridão, tropeçou, mas se levantou,
sabia o rumo em sua cabeça. Foi
caminhando mais tranquilamente, para não chamar atenção. Quando chegou aonde tinha escondido suas
coisas, tomou um banho no rio, limpando-se da sujeira, do sangue, vestiu a
roupa limpa, a camisa ficava folgada, mas todas ficavam. Depois na luz da estação contou quanto
dinheiro tinha, não era muito talvez desse para uma passagem de ônibus, alguma
coisa para comer. Tinha era que começar
o movimento de ir embora.
Alguém tinha
esquecido uma guitarra numa embalagem ali, porque esteve bastante tempo
esperando. Viu na escuridão um homem
atirado, quando chegou perto, viu que estava morto, avisou o policial que
estava ali na estação. Antes que ele
perguntasse se tinha visto alguma coisa se mandou, passou rapidamente pela
maleta da guitarra, recolheu a mesma, saiu rapidamente sábia a direção da
estação de ônibus.
Olhou num mapa de
linhas, como fazia para ir para NYC, não
tinha estudado muito, mas sabia ler, escrever.
Fez um roteiro, que podia seguir, nada de ir direto pensou. Tampouco sabia como procurar sua tia na
cidade.
Tampouco o
dinheiro dava para muito, dava para ir até Nashville, não teve dúvida nenhum
minuto. Comprou o bilhete. Um sanduiche grande, pois a fome lhe corroía
o estomago, ia comprar uma coca cola, mas tinha que economizar, para a próxima
fome.
Pegou nas cartas,
eram todas dirigidas a sua mãe, numa delas ainda fechada, se via que era de
pouco tempo atrás. Todas na direção da
última casa que tinham vivido. Tinha
mais um pouco de dinheiro, talvez para a etapa seguinte. Na carta, pedia desculpas por não mandar
mais dinheiro, mas tinha despesas.
Perguntava por ele, por Nelson.
Quem porra era
Nelson? Não sabia a resposta, o nome de
seu pai era Andrew, ou pelo menos isso pensava. Quando quiseres venha com o menino para
minha casa, é pequena, mas poderei te ajudar mais.
Pelo menos agora
já sabia que direção tomar, guardou bem as duas cartas, uma era velha, mas esta
de pelo menos um ano atrás. Então ela
não sabia que sua irmã tinha morrido já pelo menos a muito tempo. O Filha da puta, ficou quieto esperando mais
dinheiro.
Quando chamaram
para o ônibus, conseguiu entrar com a guitarra, colocou na parte de cima, a
vigiando. Um tempo depois dormiu,
sentia que o mesmo parava umas duas vezes, mas tinha tanto sono, que não tinha
se movido. Quando chegou a Nashville, desceu do ônibus,
contou o dinheiro que tinha, daria para comer alguns dias, olhou o preço de um
ônibus até NYC, não tinha para tanto.
Daria para ir até Indianapolis,
comprou mais esse tramo, o maior sanduiche que encontrou. Estava ali sentado esperando, quando viu um
homem lhe fazendo sinal para ir ao banheiro.
Nem se moveu. Este abriu a
carteira. Continuou quieto, viu que ele ia em direção a outro jovem, este se levantou, mudando de lugar. Pior agora tinha vontade de mijar, mas tinha
medo de que o homem o atacasse. Quando não pode mais foi, lhe faltava pouco
para o seu ônibus sair. Estava ali
mijando, o homem se colocou do lado dele, disse, espera que te ajudo, segurou
seu piru, soltando para quem tem um corpo tão magro, até que tens grande.
Escutou a chamada
do ônibus, disse que tinha que ir. O
homem tirou dinheiro da carteira, lhe deu duas notas.
Correu, entrou no
ônibus, tinha pensado como estava acostumado que o queriam para enrabar. Realmente tinha o piru grande, mas como sempre
o atiravam no chão, pensava que sexo era só isso. Pior, tinha gostado do que o homem tinha
feito.
Tornou a dormir,
quando chegou a Indianapolis, a fome rugia em seu estomago, tinha que ganhar
algo mais para comer alguma coisa que mantivesse seu estomago a raia. Só sanduiche não resolvia. Além de que o dinheiro que o homem tinha
dado não era muito. De qualquer maneira,
foi ao banheiro da estação, queria cagar,
ainda lhe doía o cu, da última vez que tinham abusado dele. Sangrou um pouco, se lavou como pode ali,
pois estava vazio, lavou bem a cara. Saiu a rua, viu logo que estava cheio de
bares. Podia tocar a guitarra, tinha aprendido
com sua mãe, abriu a maleta, tirou a
mesma, começou a dedilhar, uma música que os dois gostavam, Moon River. Começou a cantar junto, se acompanhava bem,
pois se lembrava da música inteira, viu que as pessoas passavam, jogavam moedas
na caixa da guitarra. Quando parou viu
que tinha bastante. Começou a tocar
outra, depois mais outra, recolheu, contou as moedas, já podia comer. Entrou num restaurante, tinha visto o que
ofereciam fora, ao passar numa mesa, viu um homem comendo um pedaço de carne
grande, com um ovo em cima, batata frita, perguntou quanto era, contou as moedas,
pediu um igual. A senhora que o
atendia, lhe trouxe, bem como uma coca cola, lhe disse que não tinha pedido.
Cortesia da casa,
riu para ele. Venha coma antes que
esfrie.
Se sentia vivo, comeu
devagar para demorar em acabar, a carne era suculenta, a última vez que tinha
comido um troço de carne, tinha encontrado a mesma numa lixeira de um
restaurante, estava cheia de nervos, mas nem por isso menos saborosa.
Comeu as batatas
fritas uma a uma, na sua frente tinha um cesto com pão, perguntou a mulher que passava se estava incluído na comida. Ela balançou a cabeça que sim. Foi molhando o mesmo no ovo, comendo feliz.
Pagou foi embora,
ainda deixou uma moeda que sobrava em cima da mesa. Ela tinha sido gentil com ele. Sentou-se numa praça, tirou de novo a
guitarra voltando a cantar, mas ia ficando tarde, já tinha poucas pessoas na
rua. Buscou ali algum lugar que pudesse
dormir, tudo muito aberto, com certeza lhe roubariam a guitarra. Voltou, passou pela lateral do restaurante,
foi para o fundos do mesmo. A mulher,
estava ali fumando um cigarro, lhe perguntou o que estava buscando. Ele muito honesto disse que um lugar para
dormir.
O sorriso dela
era muito triste. Venha, o mandou
seguir, abriu uma porta, era como um armazém, deixo a chave aqui, para poderes
sair amanhã. Não vale a pena levantar cedo, pois nessa
região não tem muita gente pela manhã,
ou fundo tem uma cama que usava o senhor que fazia a segurança do restaurante.
A cama não
cheirava muito bem, mas não dormia numa a muito tempo. Até que chegou o momento que tinha medo de
cair dela, arrastou o colchão para o chão, dormiu como uma pedra.
Despertou de
manhã, com a mulher lhe trazendo um copo de leite, pão com manteiga. Para ele
era um luxo. Podes vir dormir aqui, enquanto esteja na
cidade. O restaurante é meu, venha comer
depois das 4 que não tem muita gente, assim economizas.
Passou a manhã
inteira, cantando aonde ela tinha lhe dito para ir cantar, realmente logo tinha
muitas moedas, quando voltou as 4 da
tarde, contou as moedas, ela trocou por dinheiro. Lhe deu a indicação de um outro lugar em
frente a uma igreja. Ganhou dinheiro, mas
não muito.
Não sabia se ir
dormir no mesmo lugar. A senhora, estava
arrumando a cozinha, lhe disse para entrar, guardei sopa para ti. Perguntou o nome dele?
Jerome
Bradley, sem querer usou o sobrenome do
amigo, ficava mais sonoro o seu. Vejo
que serás um dia um artista, com esse nome tão sonoro. Deixei umas roupas para ti, no quartinho.
Amanhã é sábado,
de noite tenho um bom movimento, melhor que ficar pelas ruas, se queres pode
cantar aqui no restaurante, ganharas as propinas.
Lhe disse que atrás
havia uma mangueira, que ele podia tomar banho ali. Lhe deu um sabão de cozinha
mesmo, uma toalha, era pequena, mas ajudava a secar.
Depois foi para o
quartinho dormir, viu que ela tinha trocado a roupa de cama, era mais limpa,
cheirava bem. Mesmo assim, por força do
hábito dormiu no chão. Despertou tarde,
tinha tido um pesadelo durante a noite, com o homem que tinha tirado de cima do
Tom. Nem sabia como o Tom tinha conseguido
enfiar o canivete no sujeito.
Viu que em cima
de um barril de cerveja, estava uma bandeja, com leite e o sanduiche. Comeu
vorazmente. Quando passou, viu que
estava atarefada, mas enfiou a cara na cozinha disse obrigado. Voltou a mesma rua, cantou todo seu
reportório, repetindo duas vezes, talvez por ser sábado, tinha maior audiência.
Todos passavam
diziam que tinha uma voz muito bonita.
Pensava quem tinha uma voz bonita era sua mãe. Ela cantava nos bares, algumas vezes fazia um
show acompanhada de um homem que ele nunca via direito a cara, pois estava
atrás de um piano. Mas
isso fazia muito tempo, depois esse homem desapareceu, ela caiu nas drogas. Só se lembrava de seu pai, a partir
dessa época.
Se lembrou de uma
música, que ela sempre cantava no show, Over de Rainbow, a cantou baixinho
primeiro, quando levantou a cabeça, em
volta dele, tinha um grupo de pessoas paradas assistindo, lhe aplaudiram, todos
colocaram moedas, alguns notas. Voltou
na hora de sempre ao restaurante. A
senhora comentou que alguns clientes o tinha visto na rua cantando, coma, vá descansar,
se lave bem, troque de roupa, deixei outras para ti, depois te chamo.
Dormiu, sonhou
com sua mãe cantando, foi guardando todas as músicas na cabeça. A tinha visto tantas vezes cantar quando era
pequeno, que foi se lembrando de tudo.
Ela dizia que ele tinha ouvido musical, pois mal sabia falar, já
cantava.
Antes que a
senhora o chama se, se lavou todo, passou os dedos pelos dentes, sorriu para um
pedaço de espelho que estava ali. Contou
todo o dinheiro, guardou bem escondido.
Quando ela
chamou, lhe disse para sentar num pedaço da barra que não era usado, ficava
virado para todo restaurante. Assim
todos poderão ver. Meus queridos
clientes, vocês que são assíduos aqui, quero apresentar essa noite, um jovem
que escutei cantar outro dia, tem uma voz maravilhosa. Jerome Bradley. Um garçom o ajudou a subir, lhe deu a
guitarra, ele começou a cantar, foi desfiando seu repertorio, algumas músicas
que tinha escutado em seu sonho, até que no final uma senhora disse, canta o de
hoje na rua. Ele começou a cantar Over
de Rainbow outra vez. Teve que cantar
mais duas vezes.
O resultado foi
bom, perguntou para a senhora se esse dinheiro dava para ir até NYC, ela disse que não sabia, que ia se informar.
No dia seguinte
lhe despertou, lhe disse que tinha duas horas para estar na estação de trem,
lhe estendeu o bilhete. Que vais fazer
em NYC?
Vou procurar a
irmã de minha mãe, sei que ela dava aula
de canto numa escola, só tenho o endereço.
Vá com deus meu
filho. Muito cuidado, porque NYC, é uma cidade difícil ok.
Disse que levasse
a roupa que lhe tinha dado, era de seu filho que tinha morrido na guerra.
Lhe agradeceu
muito. Ela o abraçou, apertando contra o peito, seja feliz.
Pegou o dinheiro
que tinha escondido, tomou o leite com o sanduiche, mas ela lhe tinha preparado
um grande para comer no trem.
Se sentou,
esperando o trem, viu que um homem jovem fazia sinal para ele, outra vez em
direção ao banheiro. Ficou rindo para o
homem. Agora já sabia o que significava, não ia se meter em confusão, pois já
estava quase no seu destino. Justo nesse
momento, chamaram para o trem, abanou a mão para o homem, que sorriu para ele.
Quando encontrou
seu lugar, se sentou, guardou a mochila entre suas pernas, pois ali tinha o
dinheiro que ganhara cantando, a guitarra
em cima. Ficou observando a paisagem,
até que alguém perguntou se podia sentar-se ao seu lado. Quando olhou era o homem.
Este riu, fico
imaginando se tivesses aceitado, os dois perderíamos o trem. Riu para ele, tinha os dentes muito
brancos. Estou numa cabine reservada,
queres ir comigo lá.
Ficou com
vergonha, não estou acostumado a isso, me desculpe, mas prefiro ficar aqui.
O homem inspirava
confiança, disse que era dentista em NYC, que quando precisasse procura-se por
ele.
Foram conversando
maior parte do tempo. Quando viu que ali
não ia acontecer nada, foi para sua cabine.
Quando chegou a
Central Station, procurou saber aonde era a casa da tia. Se informou com um policial, este lhe
acompanhou até uma parada de ônibus, mostrou o itinerário.
Quando chegou,
chamou, mas ninguém atendia. Se sentou
nos degraus esperando. Ia entrando uma senhora, perguntou se a conhecia.
Ah ela não mora
mais aqui. A podes encontrar na Julliard
School, lhe ensinou aonde era. Ela
passa o dia inteiro lá.
Lá foi ele outra
vez, quando chegou, viu muitos jovens de sua idade ou maiores, perguntou pela
tia. Lhe disseram que estava em aula, disse que era seu sobrinho, que tinha
vindo de Memphis, veio uma senhora, o levou até a entrada da sala dos
professores. Ali sentado, confuso por
tanto vai e vem de gente. Fechou os olhos, pegou a guitarra, começou a cantar
Home sweet Home, logo tinha um grupo parado perto dele. Estava cantando baixinho. Parou na frente dele um senhor negro de uma
certa idade. Quando viu sua tia, chorou
sentido, ela era igual a sua mãe.
Ela o abraçou,
ficaram os dois ali parados, abraçados um ao outro. O senhor foi dispersando todo mundo, dizendo
todo mundo para as classes, vamos estão ouvindo.
Ela pediu o resto
do dia livre, ele lhe explicou que tinha ido ao endereço que tinha nas cartas,
quando soube de sua mãe chorou muito, mas muito mesmo.
Ela vivia num
apartamento relativamente perto da escola,
foram caminhando, de mãos dadas, conversando. Ele não ia contar suas desgraças assim de
cara.
Ela disse, tua
mãe, foi especial, mas tinha uma cabeça dura, eu disse para ela não largar os
estudos, ir atrás desse pianistas, sei que é teu pai, mas louco, nunca mais
soube dele.
Chegou a parar, o
pianista é o meu pai?
Eu pensei que
sabias, ficou gravida, foi com ele embora.
Uma tournée pelo sul. Depois
desse endereço que tinha em Memphis, nunca mais soube dela. Ele não podia se mexer do lugar, respirou
fundo, o homem que tinha matado não era seu pai, por isso se aproveitava
dele. Respirou fundo, ela depois foi
viver com outro homem, viviam os dois na droga, quando não estava cantando, se
metia todas as drogas possíveis. Depois
que morreu, fiquei com ele, só agora descobri numa caixa suas cartas, um pouco
de dinheiro.
Essa guitarra era
dela?
Não ele a vendeu,
para comprar drogas. A cara dela era de
horror. Imagino o quanto não deves ter
sofrido tu.
Como vieste até
aqui, contou o trajeto que tinha feito, que tinha cantado nas ruas, no
restaurante, que o bilhete de trem lhe deu a dona do mesmo. Essas roupas são de seu filho, que morreu na
guerra, eu não tinha nem o que vestir.
Seu apartamento
não era grande, mas tinha dois quartos, banheiro, um salão com um piano, bem
como uma cozinha pequena. Quase não faço
comida aqui. Venha tomas um banho, coloque
roupa limpa, saímos para comer.
Ela contou a vida
dela, da irmã, tinha tudo para ser uma grande cantora. Era melhor do que eu nisso. Tinha essa voz como tu tens, mas justo quando
ia sendo mais conhecida, conheceu o pianista, se foi com ele.
Só te conheci
pelo nome de Jerome, mas o sobrenome, não conhecia.
Juntei o meu com
o de um amigo, meu melhor amigo que morreu.
Uma homenagem a ele, uma maneira de não esquecer dele.
Ficaram o resto
do dia conversando. Sorriu, finalmente
estava com alguém que o queria, ela o avisou que o problema dela com a irmã era
justamente esse, era estrita, não suportava vícios, ela estava sempre fumando,
bebendo demais, provando drogas. Não
era fácil controlar isso. Lhe perguntou
se usava drogas, bastou a cara de horror dele, para entender que não. Depois de tudo que vi as pessoas fazendo,
não posso querer.
Perguntou o que
ele queria fazer?
Quero estudar
música, ela me salvou. Tocas piano?
Sim, sou
professora de voz, normalmente pela tarde, dou consultas a cantores de opera,
ou qualquer tipo de cantores que necessitam de ajuda. Para isso uso o piano.
No dia seguinte,
foi com ela a escola, se aborreceu de ficar ali esperando, entrou numa sala que
tinha vários pianos, se sentou num deles, em sua cabeça, se viu sentado no colo
de um homem, este lhe ensinava tocar Clair
de Lune, sem saber porque a musica foi brotando em sua cabeça, abaixou a
cabeça, fechou os olhos, sentia a mão de quem agora sabia que era seu pai lhe
ensinando que tecla tocar.
As lagrimas caiam
pela sua cara, como podia ter-se esquecido dele, embora sequer soubesse seu
nome, se lembrou de tardes sentados no colo dele, na antiga casa. Foi como que uma enxurrada de lembranças, que
deviam estar guardadas no fundo da sua cabeça.
Quando acabou, se
debruçou em cima da teclas, continuou chorando.
Sentiu a mão do homem negro do dia anterior. Isso meu filho chore, é sempre um remédio
salutar.
Levantou a
cabeça, te vi tocando guitarra, agora descubro que tocas pianos, te falta
técnica, mas fazes bem.
Entre soluços,
lhe explicou que tinha aprendido essa música com seu pai, a quem ele tinha
esquecido completamente que existia, passei anos pensando que meu pai era um
filho da puta, asqueroso, drogado. Agora
vejo que estava errado.
A vida, é dura,
nunca é um mar de rosas, temos sempre que estar lutando contra o vento, contra
a maré que muda o tempo todo. A vida é
como tentar se equilibrar na ponta de um alfinete.
Se escutou uma
voz da porta o velho Ron Poter filosofando.
Quando se viraram, ele viu um homem de imediatamente achou asqueroso.
Se quiseres podes
fazer aulas comigo, porque esse velho, já não tem nada para ensinar.
Seu instinto
falou mais forte, pois eu prefiro fazer aula com ele que contigo, tens uma cara
asquerosa.
Ron Poter ria a
não mais poder. Finalmente alguém te diz
na cara o que es, um sujeito asqueroso.
Felizmente já é
meu aluno. O sujeito saiu batendo a porta.
Ficaram rindo os dois. Então eres
o sobrinho da Emily, ela te buscou a muito tempo, mas ninguém te encontrava.
Alias eres
totalmente parecido com ela.
Ela entrou pela
porta adentro, que foi que disseste para o outro professor, diz que é
inadmissível que se fale assim com ele.
O chamou de
asqueroso, porque já queria me roubar o aluno.
Tia me lembrei de
coisas da minha infância, meu pai me colocava no seu colo, me ensinava a tocar
piano, por isso sabia a música que toquei aqui.
Toque outra vez.
Ele recomeçou a
tocar, ela chorava muito, essa música
era a preferida de tua mãe. Me dizia que ele a tinha conquistado tocando essa
música. Por isso me fazia olhar para ela
deitada numa rede, perto da janela, mas o que via não me agradava, estava
sempre com um cachimbo com drogas. Se
ele lhe chamava atenção por isso, chorava.
Não sei se foi
por isso que foi embora.
O Ron Porter, lhe
perguntou se sabia ler partitura?
Foi franco, sei
muito mal, ler, escrever, nunca vi uma partitura na minha vida, mas se escuto,
sou capaz de tocar.
Então vou
conseguir classes para ti de leitura de partitura, assim aprendes, ao mesmo
tempo te irei ensinando técnicas de piano. Se não quiseres ficar aqui, posso de dar
aulas na minha casa, vivo no mesmo prédio da tua tia.
Diga a verdade
Ron, sou tua inquilina, ele me aluga a parte de cima da sua casa.
Podes ir dar
aulas Emily, que eu hoje não tenho nenhum desses alunos incompetentes, prefiro
ficar aqui falando com meu novo aluno.
Pegou outro banco, sentou-se ao seu lado, foi lhe ensinando o nome de
cada tecla, como se faz com uma criança, ficou surpreso, pois ele aprendeu de
primeira mão. A partir desse dia o velho
Ron, virou seu mentor para tudo. Logo
conseguia tocar no piano todo seu repertorio.
Quando contou ao
Ron, que tinha tocado guitarra nas ruas para juntar dinheiro para chegar até lá,
ele se emocionou. Eu saí de minha
cidade, New Orleans, vim até aqui fazendo a mesma coisa. Levei anos tocando em todos os bares, boates
dessa cidade, até poder tocar piano como queria. Mas claro já era tarde para um carreira de música
clássica, mas teve uma coisa de bom, aprendi todas as técnicas, sei cada toque
cada dedo pousado numa tecla.
Colocou uma
música, um exercício para piano, lhe perguntou se conseguia, escutar, quais as
notas aonde estavam no piano. Se
concentrou, prestou atenção, se evadiu de tudo. Como quando escutava sua mãe
cantando. Pediu para repetir, fez a mesma coisa outra vez.
Se sentou no
piano, tocou o exercício inteiro sem errar.
A cara do Ron era demais, tinha encontrado seu aluno predileto.
Este brigou com a
escola, conseguiu que ele fosse seu aluno, a tempo parcial, o dividindo com as
aula para aprender a ler, escrever partituras.
Tinha até medo de
tanta felicidade, ficava esperando que em alguma volta da esquina alguém o
violasse. Nos dias que estava nervoso,
tinha pesadelos.
Emily, falou com
o Ron sobre isso, as vezes desperto, escuto ruídos, é ele no meio de algum
pesadelo. Creio que teve uma infância
difícil. O levei outro dia ao médico,
este disse que ele não era mais alto, pois estava seriamente desnutrido. Que mais algum tempo assim teria problemas de
pulmão, ou outro tipo de doenças.
Recomendou que ele visitasse a um psicólogo para colocar as coisas para
fora, quando lhe falei isso com ele, me perguntou o que era um psicólogo, vi
que ficou com medo.
Deixa comigo,
sempre falamos como duas pessoas adultas.
Ele tem um discernimento muito grande de tudo.
Estava estudando
uma música de Debussy, de Peleas e Melisande, entendia melhor a música porque
Ron tinha paciência de explicar. Como devia tocar a tecla, qual emoção, o que
significava a música.
Quando lhe falava
em emoção, Ron notava que Jerome ficava quieto.
Um dia lhe disse, te quero como meu filho, por isso irei direto ao
assunto. Se amas tanto a música, tens
que pensar que a emoção é necessária.
Mas estas bloqueado pelas coisas que te aconteceram no passado. Se não queres ir a um psicólogo, posso
escutar. A única diferença é que um
psicólogo, tem que guardar segredo de tudo que falares, eu posso contar para
todo mundo. Vou te apresentar um amigo,
ele é professor de psicologia da universidade, fomos amantes quando jovens, já
falei com ele a teu respeito. Posso
marcar de tomarmos um café, assim o conheces, decide se queres falar com ele.
No dia seguinte
depois de uma aula sobre partituras, a professora lhe elogiou, pois tinha
aprendido tudo que ela podia levar um ano ensinando aos outros alunos. Siga em frente meu filho, contou isso
contente ao Ron.
Então vamos
comemorar, vamos almoçar aqui perto, num restaurante judeu, que gosto muito,
avisaram a Emily, que ele percebeu que queria ir junto, mas um gesto do Ron a
brecou.
Foram andando
conversando, entraram no restaurante, como tinha reservado uma mesa, mais
afastada de tanta gente, pediram bebidas,
estavam os dois lendo o menu, Jerome já ia pedir que lhe escolhesse a
comida, pois não entendia nada. Quando
escutou uma voz, fantástica, dura, mas diferente ao mesmo tempo.
Filho da puta, só
assim te vejo, queres é me matar de saudade, meu velho amigo.
Quando levantou
deu de cara com um homem, de uma estatura de 1,70metros, se via que fazia
esporte, com uma cabeleira leonina, toda branca, a barba era igual, mas os
olhos azuis era desafiantes. Esse é o
teu garoto, falou isso, agitando os cabelos do Jerome.
Jerome, este é
meu amigo, Josep Goldstein, mais conhecido como Jo Gold, um sem vergonha de
muito cuidado, me enganou durante anos, tenho chifres até hoje.
Ficou rindo
quando os dois se beijaram na boca. Ah
velho amigo, que saudades tenho de ti, meu tempo anda curto com a Universidade,
senão aparecia mais pela tua casa.
Deves estar mais
é te atirando a algum aluno?
Ron, nunca vi uma
quantidade tão grande de idiotas na minha vida, passam o tempo todo, no puto
celular, creio que cagam, mijam com eles
na mão. Como pode ser isso. As vezes creio que estou falando para as
paredes. Mando fazer um trabalho, copiam
dos livros, como se eu não já tivesse lido todos. Sou capaz de citar até a página que
usaram. Creio que será meu
último semestre na universidade, estou literalmente farto. Prefiro ficar com meus clientes, que pelo
menos procuro ajudar.
Jerome, este é o
amigo que te falei que podias consultar como psicólogo. Fomos amantes, hoje creio que somos além de
amigos, uma família, não tenho ninguém, ele tampouco.
Deixe o garoto em
paz, vamos pedir pois estou morto de fome, a quanto tempo não venho aqui, fez
uma sinal, saiu um homem detrás do balcão, veio até ele, o abraçou, bem como ao
Ron, que bom vê-los aqui. Que querem comer?
Como parece que o
garoto não entende lufas desse teu cardápio louco, sabe aquilo que gosto, uma
degustação de todos os pratos, que venham três peças de cada.
Vai te encantar
disse se virando para o Jerome, pois assim provas de tudo da cozinha judia, eu
mesmo as vezes venho comprar para levar para casa.
Tens ido a
sinagoga Jo?
Na verdade é que
não, o rabino me enche o saco, mas outro
dia, tu me conheces quando estou de mal humor, me parou na rua para me cobrar
isso, lhe disse que enfiasse seu puto deus pelo cu, aonde está ele que nunca
ajuda os que precisam tanto dele. Foi
embora furioso.
Se espantaram com
o Jerome, verbalizando, eu penso igual, aonde estava esse filho da puta, quando
mataram meu amigo, aonde estava, porque nos deixou sofrer tanto.
Graças a Deus,
nem sei rezar, porque senão seria uma serie de palavrões, o mandaria tomar no
cu literalmente.
Calma, Jo colocou
a mão em cima da sua. Nunca tinha
sentido isso, sua mão transmitia tranquilidade, paz.
Vieram umas
toalhas quentes, para lavar a mão, ele fez como os outros dois, olhando,
aprendendo. Comeremos com as mãos.
Isso eu estou
acostumado, porque quando se come a comida do lixo, não existe garfo, nem faca,
nem porcelana para colocar a mesma.
Os dois ficaram
calados, olhando para ele.
Comeu com
vontade, uau o sabor é impressionante, provou de tudo, fazia comentário de cada
coisa. Depois de limpar as mãos, colocou
as suas em cima da dos dois, obrigando por essa comida amigos.
Ron ficou
tranquilo, se chamava o Jo de amigo, era bom sinal, quando foram pedir as
sobremesa, ele disse que estava satisfeito, não podia comer mais, tenho o
estomago cheio, creio que agora ele terá que se esticar, pois estou acostumado
a comer pouco.
Ron desviou a
conversa, dizendo que hoje ele tinha terminado o curso de leitura de partituras,
pois tinha feito o que os outros faziam em um ano, em quase um mês. Esse menino tem uma memória visual
incrível. Além de auditiva, contou ao
Jo, como ele fazia com a música.
Que tipo de
música, pensas a te dedicar?
Ainda é cedo,
verdade Ron, pois só agora tenho acesso a um piano, bem como a guitarra. As vezes passo pelo corredor da escola, outro
dia estava um jovem como eu tocando o Fagote, quase entrei para pedir que me
ensinasse. Mas claro não tenho dinheiro
para comprar nada.
Quando saíram, Jo
lhe convidou para ir conhecer seu consultório.
Venha assim batemos um papo preliminar.
Ele se virou para
o Ron, tu eres um malandro, com todo meu respeito, armou isso de tal maneira
que ele me caísse simpático.
Realmente estava
a volta da esquina.
Era uma sala
aconchegante, com uma parede toda cheia de livros, duas poltronas confortáveis com uma mesinha entre
elas, luz indireta. Embora tivesse ali
uma chaise-longue, indicou que se sentasse numa das poltronas.
A chaise-longue é
para as pessoas que veem muitos filmes, insistem em conversar sem me ver, como
se fosse um confessionário.
Ron me disse que
o que eu fale aqui, ficará somente entre nós dois, é verdade?
Sim, posso até
conversar sobre ti, se não consigo te ajudar, com um outro psicólogo, que
atende a mim como cliente, mas isso acontece raramente.
Temos tempo para
isso, pelo que sei, fizeste um trajeto largo para chegar aqui, para encontrar
tua tia.
Sim o pior foi
descobrir que o homem que pensava que era meu pai, ao qual odiava, não passava
de alguém que me enganou durante anos.
Só quando cheguei aqui que minha tia falou do meu pai, foi que me
lembrei do mesmo, me ensinando a tocar piano quando devia ter uns dois anos.
Por que odiavas
esse homem que pensava que era teu pai?
Lhe contou tudo,
como o prostituia, a troca de dinheiro para as drogas, depois que sua mãe tinha
morrido. Que ele tinha que comer comida
do lixo, a miséria que vivia. Que seu
único paliativo era seu amigo, mas o mataram.
O pai fazia a mesma coisa com ele, o prostituia.
Sabes o que é ter
oito anos de idade, ter em cima de ti um homem maduro, enfiando o pau no teu
cu. Não poder sentar durante dias, estar
sangrando continuamente. Colocou as mãos
na cara, começou a chorar baixinho.
Jo o deixou
chorar, até que se acalmou. Lhe deu um
lenço de papel, para enxugar as lagrimas. Quero que saiba que em momento algum,
farei um gesto de compaixão, pois perderia a distância necessária para te
escutar. Não pense que não me assusta,
ao mesmo tempo me dá raiva, ódio ao te escutar, mas minha profissão exige que
esteja a parte.
Não tinha se dado
conta que tinha falado mais de uma hora, quando soou uma sineta, avisando que
tinha alguém esperando na outra sala.
Quando queres
voltar? Mas nem lhe deu tempo para
responder, lhe passou uma coisa pela cabeça, estava acostumado a seguir seu
instinto, lhe fez um sinal com a mão, saiu da sala, ficou fora uns minutos,
voltou. Perguntou, quando foi a última vez que
abusaram de ti?
Ele falou
gaguejando, antes de sair de Memphis.
Espero que
confies em mim, vou te levar agora mesmo a um médico, muito meu amigo, tem uma clínica
aqui ao lado, espero que lhe deixe fazer
um exame de teu corpo, pois creio que é melhor prevenir do que remediar. Venha comigo, fechou a consulta, mas antes
colocou um papel que dizia que as consultas do dia estavam canceladas por
motivo de força maior.
Não se preocupe, meus
clientes me entendem bem.
Quando entraram
no consultório, entrava pela outra porta um senhor mais ou menos da mesma idade
dele, vindo ao que parecia de uma garagem.
Falou com ele,
pediu que fizesse um exame rigoroso no Jerome.
Explicou a situação, para acalmar Jerome disse, ele tem obrigação de
guardar segredo de tudo que acontece aqui.
Foram a uma sala,
o Jo ia sair, mas Jerome pediu que ficasse.
O médico, lhe estendeu uma bata, pedindo que tirasse toda a roupa. Quando ele tirou a camiseta ficaram de boca
aberta, as costas eram cheia de cicatrizes,
quem te fez essas coisas?
O que pensei que
era meu pai, quando eu negava a me prostituir, então me pegava para que o
obedecesse, pois senão claro não podia comprar drogas. Só não me batia na cara, pois dizia que
estragava a mercadoria.
Quem cuidava de
ti depois, lhe faziam curativos?
Não ninguém, eu
ia depois com o Tom lavar nosso corpo cheio de sangue no rio, era a única coisa
que fazíamos, depois dessas surras, nos
escondíamos em cima de uma árvore, só abaixávamos para buscar comida nos lixos
dos restaurantes.
O exame foi
exaustivo, scanners, lhe apalpou a barriga, fez uma série de coletas de sangue
para análise, inclusive de HIV, por
último, lhe disse vestindo uma luva, vou procurar fazer de uma maneira que não
te doa muito.
A resposta o
deixou gelado, sempre dói muito, porque são homens grandes, negros na maioria.
Jo ficou parado, pela sua cara, se via que estava com uma irá contida.
O médico disse
que achava que seria melhor fazer depois uma colonoscopia. Para ter certeza de
que tudo estava bem. Ainda perguntou se
sangrava muito.
Desta última vez,
nem tive tempo de cuidar, pois mataram meu amigo, estava muito nervoso, porque
sabia que podia acontecer comigo, que tinha que fugir.
O médico, mostrou
ao Jo, sem que Jerome visse sua luva cheia de sangue. Vou te dar uma medicação a primeira tomaras
justo agora, lhe trouxe água, vais tomar
outra antes de dormir, amanhã viras para fazer o outro exame, não deves comer
nada esta noite, lhe deu um outro remédio,
amanha venha logo cedo, te preparamos aqui para o exame.
Acho melhor
assim, pois teremos que lhe lavar o reto, para o exame, faço isso aqui. Apertou a mão dos dois, colocou a mão sobre o
ombro de Jerome, de graças a Deus ter
escapado.
Voltaram ao
consultório, Jerome percebeu que Jo estava alterado. Ia começar a falar, quando este soltou, se
esse filho da puta estivesse aqui, eu o mataria com minhas próprias mãos.
Eu o matei Jo,
não se preocupe. Contou o que tinha acontecido, que encontraram Tom embaixo do
sujeito, até hoje não entendi como ele conseguiu enfiar o canivete no
sujeito. Que tinha cortado a
jugular do sujeito, levei meu amigo até o rio, o soltei corrente abaixo. Depois queimei a casebre com o sujeito
dentro, isso acontecia todos os dias.
Me escondi, esperei que meu pai, bem como o pai do Tom, fossem buscar
drogas, contou o que tinha feito depois, foi ai que encontrei o endereço antigo
de minha tia. Fiz um caminho mais
comprido, para ninguém vir atrás de mim.
A cara do Jo era
espetacular. Tiveste uma coragem imensa
meu filho, imensa. Nunca tenhas vergonha
disso. Eu quanto tinha 10 anos, fui abusado
semanalmente pelo irmão de minha mãe, um rabino, cheio de filhos. A primeira vez, disse que a culpa era minha
por ser bonito. Depois virou hábito, no
dia que reclamei com meus pais, não me acreditaram. Um dia me armei de coragem, ele sempre vinha quando meus pais estavam
trabalhando, peguei duas facas pontiagudas da gaveta, esperei. Ele tentou me
capturar em volta de uma mesa na cozinha, quando se apoiou nela cravei a
primeira faca, depois apoiou a outra, coloquei a outra faca, peguei um martelo,
bati com todas as forças em cima das facas.
Ele ficou preso na mesa, abaixei suas calças, as cortei com uma tesoura,
num acesso de loucura, cortei seus ovos, assim não fazia mais filhos, pois
quando a mulher estava gravida, vinha atrás de mim.
Chamei meus pais,
que só assim acreditaram. Ele quase
morreu, mas minha mãe, como era seu irmão, tinha 8 filhos, ficou com pena
dele. Em vez de me defenderem, me
mandaram estudar em Israel. Na minha
escola tinha um psicólogo, conversei muito com ele. Nunca mais voltei a falar com meus pais, eles
escreviam, mas não respondia, me formei
em Psicologia, voltei para cá, vieram me procurar em busca de perdão, lhes
disse que falassem isso com seu deus, que me deixassem em paz. Me deixaram uma fortuna, que só uso para
ajudar as pessoas, nunca comigo. Não pense que o filho da puta parou, foi
acusado por um dos seus filhos de seus abusos.
Mas fizeram de conta que era um exagero do garoto. Anos mais tarde, o filho se suicidou.
Monstros existem
tem todos os lugares, religiões, em cada canto do mundo. Por isso não tenha dúvida, não te culpo, eu
faria pior hoje em dia. Não teria
somente lhe cortado os ovos, teria cortado seu piru, além de deixar que morresse.
Levei muitos anos, para entender, perdoar a
mim mesmo, a ele nunca perdoei, mas perdoar os erros que cometi depois, pois
nunca mais confiei em ninguém. Ron foi
meu amigo, amante, o perdi por minha culpa.
Mas até hoje o amo.
Venha vou te
levar para casa, será necessário que ele saiba do exame de amanhã, pois
precisam de uma pessoa responsável.
Ele ia falar que
não queria que sua tia soubesse. Jo
entendeu imediatamente, vamos falar com ele, porque assim ela não precisa
saber.
Acho melhor
tomarmos um taxi, pois não tenho condições de dirigir. Sem querer teus problemas me fizeram reviver
os meus.
Temos sim que
aprender a conviver com eles.
Quando chegaram, Ron
estava terminando de dar uma aula. Se
escutava sua voz um pouco irritada. Falava que essa peça exigia leveza da
mão.
Jo, ficou
impressionado, como Jerome, ao escutar o piano, se relaxava, prestava atenção,
mesmo com a porta fechada na música.
Não percebia que seus dedos contavam o compasso, justo o que dizia o
Ron, que faltava ao outro isso, seguir o compasso.
Quando o rapaz
saiu, acreditas, é um dos melhores, vai dar um concerto dentro de 10 dias, até
agora, está distraído porque encontrou uma namorada, não consegue mentalizar o
compasso, disse que a música era complicada para ele, mas nem pensar.
Pois ele estava
marcando o compasso, creio que certo.
Sente-se no
piano, assim te relaxas. Jerome nem
precisou escutar a segunda vez, sentou-se tocou a música ou pelo menos o pedaço
que tinha escutado, no compasso certo.
Jo só disse,
impressionante, para alguém que nunca foi a aula de piano.
Temos que falar
contigo, amanhã Jerome tem que fazer um exame, não quer que sua tia saiba, pois
começara a fazer perguntas sobre sua vida anterior, ele no momento não está em
condições de explicar. Preciso que tu o
leves ao médico como seu responsável, pois eu não posso, já fui hoje, irei
junto, mas para os papeis tem que ser você.
Podes contar para
ele Jo, eu confio no Ron, se ele sabe das tuas coisas, pode saber das minhas.
Ele entende
Jerome, porque com ele também aconteceu, isso lhe marcou por toda sua vida.
A cara do Ron,
era fechada, como Jo não começava, ele contou tudo. Ficou preocupado pois Ron, estava andando de
um lado a outro da sala, como procurando se relaxar. Depois de escutar só dizia filho da puta,
malditos filhos da puta que só pensam nisso, abusar.
Depois se sentou
com a cara escondidas nas mãos, ficou ali chorando, depois se levantou deu um
abraço de urso no Jerome. Cuidarei de
ti, por mim tua tia não vai saber de nada.
Quando esta
chegou, ele desceu disse que estava estudando uma música com o Ron, comeram Jo lhe tinha dado um pequeno
comprimido, corte pela metade, tome antes de dormir.
Jo essa noite
dormiu na casa do Ron, pois ficaram falando até tarde, lambendo suas feridas,
foram dormir juntos, como velhos amigos, de mãos dadas, tinham resolvido que cuidariam
dele como se fosse filho dos dois.
Foram cedo para a
clínica, ele não comeu nada como tinham dito, quando a tia perguntou, ele disse
que tinha comido antes dela.
O prepararam para
o exame, estavam os dois homens na sala com ele. O médico depois disse que sim havia desgarros
antigos, não sei como não infecionaram
se ele não foi medicado, nem se cuidou.
Mandei fazer os exames urgente ontem, deu negativo em tudo. Graças a Deus. Ele tem um sistema imunológico excelente,
impressionante para quem tem desnutrição.
Receitou uma
série de remédios que ele deveria tomar em seguida. Os três agradeceram ao médico, foram dali a
casa do Jo.
Ele viu que Ron
estava muito nervoso, Jo cuidou dele.
Pareciam um casal de velhos se cuidando.
Filho, resolvemos
ontem a noite, que te vamos cuidar como se fosse nosso filho. Não tire nunca sua camisa na frente de tua
tia, pois ela tem uma saúde frágil, não entenderia. Ok.
Umas semanas
depois viu que ela estava um pouco nervosa, perguntou o que era. Venha vamos conversar com o Ron, ele pode me
orientar.
Ficou preocupado,
pensando que era alguma coisa com ele.
Suspirou quando
descobriu que não era. Ela tinha vários
alunos do teatro de Opera de Paris, a convidavam para cuidar da voz de todos,
durante a temporada. Era uma
oportunidade de ouro, mas estaria fora durante pelo menos seis meses. Não o posso levar comigo, não quero que
perca as aulas aqui.
Ron, riu, sem
problemas, ele fica comigo, só tem uma coisa, o outro quarto da casa, uso para
dar aulas, mas voltamos a usar a casa como uma coisa só. Ele continua dormindo no seu quarto, mas
toma café da manhã comigo, depois vamos para a escola, na volta tem aulas
comigo outra vez mesmo.
Jo nos convidou
agora no verão para irmos aos fins de semana para sua casa em Fire Island,
podemos aproveitar para relaxar.
Você acha que
esse ambiente, não será pesado para ele?
Não se
preocupe, sempre que vamos, você
inclusive já foi com a gente, aproveitamos a praia, depois estamos em casa,
falando de música, nada mais.
Bom assim fico
tranquila, me perdoas meu filho, mas é
uma oportunidade única, se fosse alugar uma casa, te levaria, mas creio que
seria complicado, pois ficarias o dia inteiro sozinho.
Não queria
mencionar que estava com problemas para conseguir uma documentação para ele,
pois tudo que tinha conseguido era uma certidão de nascimento. Nada mais.
Como era menor de
idade, não tinha nenhum documento dizendo que ela era a responsável por
ele. Teriam que primeiro encontrar seu
pai.
Depois explicou
ao Ron que tinha uma agência de detetives procurando o mesmo. Deixou tudo como
tinha combinado. Chorou um pouco quando
teve que partir.
De uma certa
maneira conviver com Ron tinha uma vantagem, depois das aulas sempre
conversavam. Agora que já tinha
colocado para fora tudo que tinha passado, estava um pouco mais relaxado.
Só se sentia
confuso, conversou com o Jo, sobre como tinha acontecido na estação, depois o
que tinha acontecido no trem.
Sentiste vontade
de ir com esse homem?
Sim porque foi
simpático, creio que ele queria outra coisa, como o outro que só fez uma coisa, diferente do que acontecia antes. Esse eram negros a maioria, simplesmente me
abaixavam as calças, metiam dentro, depois iam embora, não havia mais nada.
Na verdade,
carinho, só recebi de meu pai, na época que ele vivia conosco. Minha mãe estava sempre discutindo com ele, não
sei por que na verdade. Ele sempre
falava disso, apontava para as drogas.
Que isso ia acabar com ela. Na
verdade, não me lembro dele usando nada.
Depois tenho um
grande vazio, mais ou menos até irmos viver nesse barraco. De encontra-la morta. Eu mesmo tendo 8 anos, sabia que estava
morta, pois estava gelada, devia ter passado a noite inteira ali jogada. O
homem me mandou esconder, quando chegou a polícia, dois dias depois me vendeu a
um homem. Na hora não entendi nada, só
que me atirou no chão, arrancou minhas calças, passou a mão pela minha bunda,
me penetrou, segurava minha boca, porque eu gritava, doía demais. Creio que quando acabou, me disse nada como
um cuzinho virgem, arrumou suas calças se foi, fiquei ali jogado horas. Não tinha ideia do que era isso, até que a
coisa passou a ser constante. Ou quando
passava na rua com o Tom, que nos diziam os prostitutos dos vigaristas. Começo a acreditar que o Tom tampouco era
filho do outro. Quando acabou de falar isso tremia um pouco.
Um dia vais
gostar de alguém, será diferente. Já
veras, quando conheci um rapaz em Israel, primeiro eu era muito tímido, estava
servido o exército porque era obrigatório, ele era meu companheiro, percebeu
que eu não saia com os outros, ele tampouco saia, um dia me convidou para uma
cerveja. Conversamos, fiquei com medo,
disse que achava que não estava preparado.
Passamos a sair nos dias livres, ora para um cinema, eu vivia num
pequeno apartamento, ele ainda com os pais, passou a dormir lá comigo,
ficávamos abraçados, com muita vontade, mas me respeitava. Um dia sem querer aconteceu.
Quando voltei
conheci o Ron, ele estava meio perdido, falávamos muito, o conheci numa festa
que nem ele, nem eu encaixávamos, todo mundo usando drogas, bebendo demais,
fomos para uma praça conversar. Ele me
disse que era músico, começamos a falar dos compositores que gostávamos, fomos
a minha casa, só nos deixamos muitos anos depois, por culpa de minha
cabeça. Cometi uma serie de
asneiras. Voltamos outra vez, mas resolvemos que
cada um viveria em sua casa. É o meu
melhor amigo além de tudo.
A convivência das
pessoas nunca é fácil.
Porque achas que
de repente as pessoas descobriram que tenho um piru bonito, que lhes interessa?
Pode ser porque
estavas sendo vendido como uma coisa, para determinadas pessoas. Talvez essas pessoas estivessem atrás desse
estímulo, um garoto, porque ainda tens corpo de garoto, alguns homens gostam
disso. Já quando andavas rumo a tua
nova vida, talvez tenhas mudado tua postura, agora eras o senhor de tua vida.
Com o Tom, como
tinha a mesma idade, não aconteceu nada?
Não era como meu
irmão, tomávamos banhos no rio, pois era a única opção que tínhamos de nos
limpar de toda merda, lavávamos nossa roupa, ficávamos em cima dessa árvore
nus, mas nunca nos passou pela cabeça outra coisa, pelo menos pela minha. Falávamos sim de como podíamos escapar disso
tudo. Ele sempre dizia, só conseguimos
se os matamos, como eu tinha um ódio pelo homem que o vendia, um dia encontrou esse canivete, treinava como
usá-lo. Na verdade, nem sei como
conseguiu cravar no sujeito que estava em cima dele, tinha o dobro de tamanho.
A pouco tempo
comecei a ver a televisão para me distrair, mas as historias dos filmes me
parece as vezes irreal. Por mais que
sofram, não convencem quando vivem na miséria.
Queria ver um deles realmente comer comida do lixo, como tínhamos que
comer. Pior era achar que estava bem,
pois forrava o estomago.
Hoje quando como,
começo a perceber os sabores, pois normalmente queria era comer, não importava
o que.
Tinham voltado
várias vezes no restaurante judio, pelo visto tinham frequentado muito quando
viviam juntos. Agora, já sabia pedir o
que mais gostava, gozavam dele, porque pedia sempre a mesma coisa. De tudo, foi o que mais gostei.
A tia o chamava
toda semana. No primeiro final de semana
que foram para a casa de praia do Jo, encontrou um piano armário na sala. Ron esclareceu que era dele. Aqui ensaiei muitos concertos. Precisava dessa paz para ensaiar.
Ele agora tocava
a peça inteira que o aluno que ia dar um concerto tocava. Ron lhe ensinava cada passo da música. Veja a podes tocar inteira de cabo a rabo,
mas cada momento dela, é composto de uma emoção diferente, como se fossem
história que se cruzam.
Era como decompor
a música, esse trecho, toque, vamos
gravar, vais escutar, depois conversamos para ver se entendes, repetimos. Começou a notar, que realmente era diferente,
sentia quando fazia isso, que podia encontrar a emoção daquele momento.
Agora entendia
que fazia bem, mas que faltava algo, que
aos poucos ia encontrando. Ron batia
sempre na mesma tecla. As vezes um
músico não tem tempo de aprender de memória uma música, por com a vontade dele
ou de seu agente de ganhar dinheiro, aceita concertos demais, não se dá o
prazer de encontrar-se com a música.
Para muitos pode parecer perfeita, pois ele domina a técnica, mas falha
na emoção. A técnica é a base de
tudo. Isso tens quando capta a música ao
instante, depois é necessário trabalhar a mesma até entender. Quando tocas as músicas de tua mãe, ou
o que teu pai ensinou, tens outro tipo de emoção, porque são lembranças tuas,
fazem parte de uma época feliz na tua vida.
Agora ele
conseguia tocar a música inteira. Um dia Ron lhe disse, que precisava de um
favor dele, um diretor de orquestra amigo dele, precisava de um pianista para
ensaiar esse concerto com sua orquestra, me pediu alguém que conhecesse a
música. Para ti será interessante, pois
ensaiaras com a orquestra. Que te parece?
Se é para ajudar,
tudo bem.
Foram ao teatro,
ficou emocionado, vendo a orquestra ensaiar uma música, depois o diretor, lhe
agradeceu o favor. Ajustou o banco, lhe
avisou que lhe daria um sinal quando devia entrar, ele tinha treinado junto com
o Ron, escutando um cd, com o piano junto com a orquestra.
Foi tudo como
esperava, nem sabia que o diretor podia parar a orquestra para consertar alguma
coisa, mudar um pouco o andamento nada disse, nunca tinha visto isso antes.
Mas tocou até o
final. A orquestra o aplaudiu. Ele não
entendia, estava ali para fazer um favor.
Nos salvaste,
pois o pianista desistiu da peça, diz que é muito difícil. Mas vejo que o Ron não se enganou, o fazes
magistralmente.
Amanhã ensaiamos
outra vez pela manhã, nos apresentamos de noite. Ok. Ficou preocupado, como ia
ser. Ron assinou o contrato como seu
agente.
No dia seguinte
de manhã ao entrar no teatro, viu o cartaz, dizia Debut de Jerome Bradley, riu,
mas se comportou normalmente durante o ensaio.
Depois foi com os
dois a comprar um smoking, não gostou muito, lhe incomodava os movimentos. Mas lhe disseram que tinha que usar.
De noite, lhe
parecia normal, tinha tocado no restaurante para muita gente simpática,
continuou reclamando do smoking, lhe impedia os movimentos. Quando lhe disseram para entrar entrou, escutou
aplausos, mas a luz não lhe deixava ver direito. Quando se sentou, sentiu que seria impossível
tocar com aquela roupa lhe incomodando, simplesmente tirou o casaco, a gravata,
o maestro olhou lhe deu sinal, começou a tocar, foram até o final sem parar. Os aplausos eram impressionantes, faziam
muito barulho, foi quando viu finalmente a plateia, era imensa, todos de traje
a rigor. Fiz uma cagada.
Quando lhe
perguntaram por que tinha tirado o casaco, disse que incomodava, que lhe
impediria de tocar direito. Muitos
músicos o aplaudiram por isso. Só então
se deu conta que teria que tocar mais dois dias a mesma música.
Saiu ele sozinho,
comprou uma blusa negra de gola alta, esse seria sua roupa nos dias
seguintes. Quando saiu a critica o
elogiando pela apresentação, a simplicidade de se comportar, um dos críticos,
dizia nasce uma estrela. Sua tia lhe
telefonou contente da vida.
Ron lhe veio
perguntar se queria tocar a mesma música com a orquestra de San Francisco.
Nem pensar, quero
aprender, trabalhar outra, fica muito sem graça sempre tocar a mesma música,
mesmo quando lhe disseram o valor, disse que não, tenho dinheiro para comer
durante muito tempo. Era essa sua
preocupação ter dinheiro para comer.
No último dia no
teatro, recebeu uma visita no camarim. O dentista, não sabia que
tinha conhecido uma estrela no trem.
Não sou uma
estrela, apenas fiz um favor ao maestro, nada mais. Como vai o senhor?
Bem, decepcionado
porque não tive a chance de te conhecer melhor, tens ainda meu cartão?
Sim um dia te
telefono, podemos almoçar?
Nisso entrou o
Ron, ele o apresentou, mas quando entrou o Jo, a coisa esfriou, só disse são
teus amigos?
Sim, devo tudo a
eles, por quê?
Depois que foi
embora, quando chegaram em casa perguntou o que foi que fez esse sujeito.
Ele gosta de
jovens, é um bom filho da puta. Os
engana com promessas, depois abandona, um dos meus clientes se apaixonou por
ele, depois de conseguir o que queria, o abandonou sem explicação, resultado o
rapaz tentou suicídio.
Quando fui pedir,
que fosse vê-lo se negou redondamente, dizendo que não passava de uma simples
aventura sexual.
Bom saber
disso. Se eu tivesse experiencia, iria
vingar esse rapaz, o faria se apaixonar por mim, depois o abandonaria.
Na semana
seguinte foi com outros alunos, a um concerto de jazz. Ficou louco com o que escutou. Quando o piano começo a improvisar, quase
teve um enfarte, ficou com o coração em suspenso. Se lembrou de seu pai fazendo isso. Improvisando uma música.
Experimentou fazer
isso, tocar Moon River, depois acelerar, trocar ao contrário, estava na casa de
sua tia, ficou um bom tempo fazendo isso, fez também com Over de Rainbow, com
essa gostou mais, mudou o andamento, acelerando, como tinha visto fazer. Sem querer começou a cantar junto, quando
começou a improvisar, também o fez cantando.
Escutou um aplauso quando terminou.
Era Ron, na porta com seu aluno.
Caramba disse o
outro rapaz, foi demais. Outro dia fui
te assistir, fazendo o concerto que não consegui tocar, por isso voltei as
aulas com o Ron, ele tinha razão, eu não entendia a música.
Mas isso que
fazes é sensacional, pensei outro dia, nasceu uma estrela, nada disso, isso sim
é uma estrela.
Ron, sorria.
Depois falamos.
Mas tarde
conversando, como chegaste a isso, contou que tinha saído com outros alunos da
escola, tinha ido a uma sessão de Jazz, que tinha ficado eletrizado, se
lembrando de seu pai fazer isso. Creio
que sempre me levavam com eles as suas apresentações. Porque sempre me lembro que não o via
direito atrás do piano, quando muito via seus pés marcando ritmo.
Amanhã vou te
apresentar uma pessoa, apenas toque não diga nada.
Nessa noite,
sonhou, primeiro via o pé marcando o ritmo, depois como ele estivesse esticando
o pescoço via o pai de olhos fechados, improvisando, era como se sua alma
saísse de seu corpo, pelos dedos.
Acordou rindo da
imagem. Conseguia pela primeira vez, se
lembrar de detalhes do rosto do pai.
Saíram logo cedo,
Ron disse que iam ao Bronx, vais gostar ou odiar a pessoa que vou te
apresentar, não se incomode com o jeito dele.
Tem dificuldade para se movimentar, isso o deixa frustrado.
Era um edifício
antigo, com elevadores velhos, mas quando abriram a porta do apartamento, viu
que era grande, cheio de estantes com LP
dos antigos, depois mais caixas de cd.
Uma senhora avisou, ainda está se levantando, lhes trouxe café.
Filho da puta,
porque me fazes levantar tão cedo. Mas
quando viu Jerome, parou, quem é esse, algum protegido seu, para me encher o
saco.
Ron disse, este
senhor mal humorado se chama Gregori Malta
Ron disse
baixinho ao Jerome, faça aquilo que fizeste com Over de Rainbow. Apesar do mal humor do outro, tinha gostado
do sujeito, era um mulato que quando
andava devia ser alto, tinha um tronco musculoso, se sentiu atraído por ele.
Sentou-se num
piano de cola que estava perto da janela, olhou para fora, o dia estava
estupendo, se esqueceu do resto, nem escutou o outro dizendo, na desafine meu
piano.
Começou a tocar
no ritmo que tinha feito da última vez, quando começou a improvisar, fechou
completamente os olhos, se lembrou de seu pai, soltou a voz, cantou de traz
para frente a música, ao mesmo tempo que tocava num ritmo completamente
diferente.
Estava chorando
quando acabou, enxugou as lagrimas com a costa da mão, se levantou apesar do
silencio completo, foi se sentar com eles.
Quem te ensinou a
fazer isso?
Creio que vi meu
pai fazer, não tenho certeza, era uma criança.
Bem, o que
queres?
Eu nada, o Ron me
disse que vinha visitar alguém que queria me apresentar. Falava olhando na cara dele, os olhos eram
duros, mas sentia que atrás de tudo isso havia algo diferente. O ficou encarando, até que o outro abaixou a
vista.
Filho da puta,
vieste aqui para mostrar alguém melhor do que eu não é. Sei que errei, isso me lembro todos os dias
que não posso me levantar sair correndo, fazer loucuras no piano, tenho que me
contentar a dar aulas para idiotas.
Esse garoto não necessita de aulas, precisa só escutar grandes pianistas
de jazz. Porque não vais dar uma volta,
enquanto converso com ele.
Ele não conhece
nenhum grande pianista de jazz, te adianto.
Fora daqui de uma
vez, segurando um pedaço de pão com uma mão, depois só com a boca, se dirigiu a
uma estante.
Jerome se
levantou sem saber o que fazer. Mas ele
sorriu, disse, venha se sentar perto de mim, ficaram os dois escutando,
músicas. Parecia que se conheciam de
toda vida. Agora escute esse música, vê
o que ele faz com essa nota, faz toda a improvisação em cima de uma nota só,
depois passava para um músico completamente diferente. Disse todos eles, amam a música de maneiras
diferentes, seu piano é seu mundo. Sem
saber por que, se virou para ele, ficaram com o rosto muito próximo um do outro,
se beijaram, nunca tinha beijado ninguém, foi uma coisa suave. Foram interrompidos pelo barulho da porta se
abrindo.
Jerome só teve
tempo de dizer obrigado. Quero voltar
para escutar música contigo.
Era Ron, estava
sentado fora na escada, mostraste para o garoto os músicos mais complicados
desse pais. Assim vai assustar o garoto.
Não acredito que
ele se assuste com nada. Colocou uma música, escute bem, veja o sentimento que
ele usa para tocar.
Sem se dar conta,
começou a chorar, já tinha escutado aquilo, talvez tenha sido um dos últimos
concertos de seu pai, estava trabalhando essa música, foi para o piano, começou
a tocar junto como se estivesse fazendo um dueto.
Quem é esse?
Nelson Jameson Cruz,
era filho de uma cubana com um trompetista de jazz, mas ele gostava do
piano. Lhe passou a caixa do cd.
Ele ficou ali,
alisando a caixa do cd, com a cara do seu pai, agora podia colocar cara ao
homem que via sempre.
Ele só gravou
esse cd, depois um outro no final de sua carreira, depois desapareceu no mapa,
ninguém sabe aonde foi parar.
Podia conseguir
para mim uma cópia disso.
Podes levar,
depois volte para trazer, que vou te ensinar uns truques.
Quando se
levantaram para ir embora, segurou sua mão, disse só não venha tão cedo pois
gosto de ficar na cama até tarde, durmo muito mal a noite, falta alguém ao meu
lado.
Ron se despediu,
lhe dando dois beijos, ele fez o mesmo, ao sentir a pele de seu rosto junto ao
seu, pensou, sei que vou amar esse homem.
Sabia que ele
iria querer dar aulas para ti. No seu
momento foi um dos maiores, ganhou muito dinheiro, ficou como louco, realizou seu sonho de ter um carro ultimo
modelo, uma noite voltando para casa, um caminhão passou o sinal fechado,
acabou com o carro, o homem que estava com ele, ele ficou preso no carro, até
chegar a ambulância, bombeiros, foi tarde.
Desde então não se apresenta.
Gravou um outro CD que fez sucesso, mas só nas rádios.
Ele escutou tudo
sem dizer uma palavra, queria era escutar o CDs de seu pai. Passou o resto do dia fechado em casa, na
segunda caixa, viu que tinha um papel com um número de celular, ligou.
Do outro lado,
escutou, sou Gregori, sabia que ias me chamar.
Me enfeitiçaste, não consigo te tirar da minha cabeça.
Nem eu de pensar
em ti. Posso ir até aí.
Melhor não, posso
me emocionar muito, isso não seria bom, depois tu eres um garoto, vamos separar
as coisas.
Venha amanhã as
10 horas ok, mas venha sozinho, pois quero poder trabalhar contigo a vontade.
Anotou o endereço,
no dia seguinte disse ao Ron que ia a casa do Malta, tinham se falado.
Hoje eu não posso
ir.
Eu quero ir lá
sozinho, tenho que enfrentar esse monstro.
Riu, piscando o olho para o Ron.
Quando chegou,
tinha um enfermeiro lhe dando banho, sem pensar muito, ajudou o homem a fazer
isso, secou suas costas, viu que ele ficava de piru duro, mas fez como se
nada. O enfermeiro riu, xi a coisa tá
feia.
O ajudou a
vesti-lo, sem fazer comentário nenhum.
Tomaram café
juntos, depois que a senhora se retirou, foram para o piano.
Toque alguma
coisa que escutaste dos CD de teu pai.
Ele tocou a música
mais complicada, eu o ouvi tocar essa música
milhões de vezes, nem sempre entendia o que queria dizer. Uma vez ele fez isso, misturou essa música,
com esta, era a música que me ensinava a
tocar fazia assim começou tocando a
composição, misturando depois com a de Debussy.
Caramba, dizem
que ele fazia isso nos shows. Qual a tua
idade?
Sorriu, vais rir,
não sei direito, não cresci direito, tenho problemas de nutrição, sem querer
contou toda sua história para ele.
Então porque me
beijaste, por caridade?
Jamais, me senti
atraído por ti, independente de tudo. Se
levantou foi empurrando a cadeira de rodas para o quarto, Malta reclamou, não
faça isso, podes te arrepender.
Jerome sorriu, eu
necessito de amor, tu também, não faremos sexo, só vamos estar juntos.
Fechou a porta do
quarto o ajudou a deitar-se na cama, tirou sua camisa, ele quando viu suas
costas, não disse nada, ficaram abraçados um longo tempo, era como se
estivessem em paz.
Bateram na porta
para avisar que o almoço estava pronto.
Já vamos. Esta senhora cuida de mim a muito tempo, não
se preocupe, é muito discreta.
Foram almoçar,
ela lhe deu medicamentos, dizendo, não se esqueças que tens que descansar agora
a tarde duas horas, eu vou embora, o garoto cuida de ti.
Foram escutar música
outra vez, ele se sentou no chão com a cabeça nas pernas dele.
Sabes qual o
problema Jerome, posso me apaixonar por
ti, se é que já não estou, isso seria horrível que você depois me abandonasse,
não sei se ia aguentar.
Não sei Malta,
alguma coisa em ti me atrai. Quero
escutar você tocando.
Faz muito tempo
que não toco nada.
Vais negar tocar
alguma coisa para mim, se levantou, segurou seu rosto, ficou beijando
suavemente aquele homem que por algum motivo o atraia.
Ok, vou tocar,
porque estou muito excitado, se tivesse o uso das minhas pernas te arrastava
para a cama.
Tocou uma melodia
diferente, não era jazz, Venha tocar
comigo, colocou a banqueta ao lado ficaram tocando juntos a música, de vez em
quando seus dedos se roçavam.
Se viraram um
para o outro, voltaram a se beijar. Eu
não tenho nada para te ensinar Jerome, queria somente te ver.
Acho que está na
hora de descansar, o levou para o quarto, o ajudou a tirar as calças, tirou
toda sua roupa, lhe disse baixinho, não sei fazer sexo, sempre fui abusado, me
ensina. Depois só podia pensar que tinha
sido algo glorioso.
Viu que ele
dormia, passou um pano húmido pelo seu corpo que suava, deitou-se ao seu lado,
logo viu que tinha um pesadelo. Ele deve
ser como eu, muita coisa guardada.
Ficou segurando
sua mão, viu que ele passava a dormir tranquilo.
Não estava
acostumado a dormir de tarde, se levantou, com a música que ele tinha tocado na
cabeça. Sentou-se ao piano, a ficou
tocando baixinho. Em sua cabeça, pensou
essa música parece mais uma sinfonia.
O escutou lhe
chamando, queria levantar-se. Enquanto o
ajudava, lhe perguntou se não tinha tentado melhorar?
Vem todas as
semanas um fisioterapeuta, mas teria que fazer uma operação muito cara, não
tenho dinheiro. Guardou aquilo na
cabeça.
Perguntou se a música
que tinha tocado antes, se tinha escrito partitura?
Não, não sei
escrever partituras, o Ron insistia, mas me dava preguiça.
Pois então
teremos um largo caminho por diante, vejo isso como uma sinfonia, riu dizendo
que era um termo que tinha aprendido a pouco tempo.
Telefonou ao Ron,
perguntando se ele estaria no final da tarde em sua casa. Ok, tenho que ir
buscar alguma coisa de roupa, para dormir aqui com o Malta, mas falo contigo
antes. O ok do Ron era de preocupação.
O que estas
tramando garoto?
Só farei uma
pergunta, parecia mais adulto do que antes, confias em mim?
Sim, mas olhe lá
o que estas tramando.
Escute como vou
tocar tua música, vê como sente em tua cabeça.
Foi decompondo a
mesma, uma abertura, a tocou, repetiu uma parte para finalizar. Olhou para ele sentado ali ao lado, com a
cabeça caída para frente, mas sabia que estava prestando atenção, ei lhe
chamou.
Malta levantou a
cabeça, corriam lagrimas pela sua cara.
Como pudeste captar o que sentia nesse momento?
Deduzi que essa música
escreveste para o homem que estava contigo no carro.
Sim, eu o amava
em segredo, era meu melhor amigo, vinhamos de um concerto, ele ia se encontrar
com a namorada, mas claro, nunca chegou.
Tudo por culpa minha.
Não creio que
tenha sido tua culpa, eu também quando abusavam de mim, pensava que era culpa
minha, mas hoje entendo que não, estava era no lugar errado.
Posso tocar a
segunda parte, como a dividi em minha cabeça?
Sim, mas se me
emociono muito não pare, fico feliz em saber que me entendes.
Foi até ele lhe
dando um beijo. Quero que saibas que
nunca beijei ninguém na minha vida, eres o primeiro, espero que seja o último.
Tocou a segunda
parte como a via. Depois comentou, veja,
aqui falta um pedaço, creio que poderias incluir alguma coisa. Teremos que colocar em partitura, para poder
arrumar isso.
O viu pensando,
lhe disse, vou até em casa buscar uma roupa para dormir aqui contigo, tenho
também que tranquilizar o Ron, depois volto.
Lhe beijou, tens
que entender que não sei o que é amor, sou jovem demais para isso. Mas
aprenderei contigo.
Quando chegou
Ron, parecia um leão enjaulado. Não lhe
deixou falar. A decisão de ir até ele
foi tua. Agora aguente as
consequências. Antes que pergunte fiz
sexo com ele sim, mas sem essa coisa de penetração, os dois, estamos numa fase
de namoro, permita que eu sinta isso por ele, essa atração é muito forte, nunca
me senti bem com ninguém.
Nisso, ao
virar-se viu Jo na porta. Concordo com
ele Ron, é um direito seu.
Bom que querias
falar comigo?
Hoje escutei uma
música dele, não é jazz, é mais uma sinfonia, precisa ser trabalhada, ele não
sabe escrever partituras, diz que foi um erro não seguir teus conselhos, eu em
contra partida aprendi graças a ti.
Queria trabalhar essa música, escrever, fazer algumas modificações.
Outra coisa,
perguntei se o problema dele não tem solução, diz que sim, mas que é uma
operação muito cara. Podias verificar
isso, se o dinheiro que ganhei não dá, podia fazer mais concertos para
conseguir dinheiro.
Segundo preciso
de outro piano na casa dele. Não muito
grande por causa do espaço. Além de precisar da tua ajuda para gravar a música. Creio que depois tu podias transcrever para
orquestra. Nas tuas tardes livres iria
até lá, nos ajudaria. Em vez de ficar
pensando besteira, como o que estou fazendo.
Virou-se para o Jo,
perguntou quanto custa uma cadeiras dessas de rodas que a pessoa dirige, não
sei como se chama, assim ele poderia se mover melhor. Se pode alugar uma.
Jo ria da cara do
Ron, o menino está crescendo a toque de caixa, para se incorporar ao rol dos
homens, deixe de ser panaca.
Ron disse, posso
alugar um piano, mando entregar lá.
Eu me encarrego
da cadeira de rodas, posso ir até lá para levar um amigo especialista, foi meu
cliente, mas é especialista na área, para o examinar, bem como ver os exames anteriores.
Ok. Os espero
amanhã. Desceu pegou suas coisas, muitos
lápis, todas as partituras vazias que encontrou.
Viu que ele
estava ansioso, quando chegou. Pensou
que eu não voltava mais, para disfrutar desse corpo. Riu da cara dele, estou ficando sem vergonha.
Foi até ele o
beijou, não vai ser fácil te livrares de mim, acabo de invadir teu espaço, tua
vida, agora serás meu. A senhora tinha
deixado um jantar feito.
Ele sem graça
disse que tinha que ir ao banheiro, tenho que tocar de cadeira.
Não se preocupe,
te ajudo, não tenha vergonha de mim. O levou ao banheiro, passou para a outra
cadeira, que encaixava na privada, antes o levantou, abaixou suas calças. Vou te deixar tranquilo, quando acabes me
avise.
Quando entrou,
foi dizendo de brincadeira, comeste rosas, mas estavam estragadas, por deus,
isso cheira mal. Mas não lhe dava tempo para falar, o limpou, como tinha visto
o enfermeiro fazer. Tinha dado
descarga. O levantou, passou para a
outra cadeira, vou ficar musculoso de te levantar. Arrumou suas calças, viu como não é difícil,
o tirou dali, ficou de joelhos na frente dele, beijando seu rosto.
Menino, estas
brincando com fogo.
Já me queimei,
não tenha dúvida. Venha, vamos
trabalhar.
Colocou a cadeira
ao lado do piano. Colocou partituras na frente, lápis, borracha, foi
registrando cada nota da música. Tocou
essa primeira parte, seguindo a partitura,
vê aqui falta alguma coisa. Torno a repassar. Quando se toca, não se nota essa nota, esta a
mais.
Ficou ali, olhava
para a cara dele. Sabia que estava
tocando mentalmente. Ficaram horas nesse
pedaço de música.
Ao final
reconheceu que nunca tinha trabalhado assim.
Aonde aprendeste isso?
Uma parte com o
Ron, outra com a professora que me ensinou sobre partituras, outra vendo minha
tia trabalhar com cantores, pois engolem notas.
Quando viram já
era tarde, Perguntou se queria ir ao
banheiro outra vez.
O levou para
mijar, mas fez uma coisa, eu te pego por detrás, tu vais mijar em pé como sempre
fizeste. Ficou colado nas costas dele, os dois tinham a mesma altura.
Assim nunca vou
acabar de mijar, só para ficares assim comigo.
Perguntou se
queria dormir com roupa ou sem roupa.
Sem roupa se
dormes ao meu lado. O colocou na cama, depois fez ele sua higiene, tirou toda a
roupa. Ele lhe perguntou baixinho sobre
as cicatrizes.
Contou sem
preocupação nenhuma, não tenhas medo, eu já coloquei para fora tudo isso, não
tenho vergonha, não sabia me defender, tinha medo. Pensava que o homem que fazia isso era meu
pai.
Ficaram
abraçados, ficaram excitados, um masturbou o outro se beijando, era
delicioso disse ao final. Depois o limpou, voltou a ficar ao seu lado
abraçado, perguntou como gostava de dormir, eu só posso dormir de barriga para
cima, ele se encaixou ao seu lado. Riu
dizendo, nunca dormi com ninguém na minha vida, eres o primeiro em tudo,
primeiro beijo, primeiro gozo, tudo se refere a ti.
No dia seguinte,
se levantou antes, tomou banho, quando saiu a senhora lhe fez um sinal, disse
que tinham uns homens na porta com um piano, ele abriu a porta de cuecas, disse
aonde tinham que colocar. Era de cola,
mas pequeno, que fique encaixado ao outro.
Tinha fechado a
porta do quarto, fazendo sinal para falarem baixo. Quando foram embora, a
senhora estava de boca aberta, vendo as cicatrizes da sua costa. Não se preocupe, isso foram maldades que me
fizeram.
Nisso chegou o
enfermeiro, o ajudou a dar banho, o colocar na privada, ajudou a limpar, pediu
que lhe ensinasse a melhor maneira, depois ficou vendo como fazia exercícios
com ele.
É um cabeça dura,
devia estar fazendo fisioterapia no hospital, mas não, tenho que vir, fazer
como posso. Um dia me aborreço, como
esse teu cu sujo, não vai poder se defender.
Sinto muito
chegas tarde, ele é todo meu, respondeu o Jerome.
Já vi que a cama
foi usada. O ajudou a trocar os lençóis,
abrir as janelas, contra a vontade do Malta, coloque na tua cabeça, meu homem que
tua vida mudou desde ontem.
Ele ria, um
garoto para revolucionar minha vida.
Quando viu os
dois pianos, tinha um envelope em cima de um deles. Cortesia de Ron Porter.
Para podermos
trabalhar, foi um pedido meu. Não te
preocupe, é alugado.
Depois de comer,
recomeçaram a trabalhar. Cada um num
piano, Malta comentou, olha se assim fica bom, esse pedaço ficou a noite
inteira na minha cabeça.
Tocou, Jerome lhe
deu ordem para tocar devagar, foi registrando nota por nota.
Depois do almoço,
lhe disse creio que hoje não teremos cama, nem sexo, justo nisso bateram na
porta.
Ron seu filho da
puta, trouxeste esse demônio para me dar ordens não é, ia continuar quando viu
o Jo, além de um homem negro de uma certa idade.
Que é isso um
complô contra mim.
Jerome, o levou
dali, pois viu que tinha ficado irritado com a entrada das pessoas.
Faça isso por
mim, fui eu que pedi que viesse.
Sabes quanto
custa a consulta desse homem?
Não sei nem me
interessa, quero saber se podemos te colocar em pé, para podemos fazer concertos
juntos. Te adoro, não estrague os meus
sonhos.
Ele acabou
concordando, depois de muitos beijos.
Vejo que o
demônio faz milagres, foi o único comentário do Ron.
Deixou que o médico
o examinasse, sei que tenho os teus resultados no hospital, amanhã te espero
para fazer uma ressonância magnética para vermos como estamos.
Depois que ele
foi embora, foi franco não tenho dinheiro para uma operação.
Jo tomou a
palavra, admiro sua música, o Jerome é como meu filho, antes de mais nada sou
psicólogo que o atendeu quando chegou aqui.
Ele sabe da minha vida também.
Recebi uma herança que me nego a usar comigo, a dispus de tal maneira,
para ajudar as pessoas, no teu caso será uma honra que me permita te ajudar.
Ron, cortou, esse
não tem jeito. Sabe quem ele é? Vais te lembrar, pois me escutaste falar
dele, o amor de minha vida. Pode confiar
nele, agora o tenho baixo meu controle.
Ria a bessa.
Os dois estavam
sentados, Malta perguntou o que eram umas caixas no chão.
Eu só obedeço
ordens, é um aparelho para gravar o trabalho de vocês, pedido do Jerome,
consultei aonde compro coisas, me disseram que é de última geração.
Agora enquanto
monto com o Jo, toquem os dois essa música que ele não para de falar.
Malta ia para o
piano novo, mas viu que ele já tinha colocado as partituras ali. Foi para o seu, Os dois tocaram a música se
olhando um no outro. Quando terminaram,
Jo estava boquiaberto, nunca imaginei tal entrosamento em duas pessoas que se
conhecem recentemente.
Aliás a música é
linda demais, o que achas Ron.
A cara do Ron,
era indecifrável, realmente como falaste Jerome, está mais para um sinfonia,
mas faltam coisas.
Veja estamos
trabalhando a primeira parte, já escrevi as modificações que fizemos, me diga o
que acha.
Espera vou ligar
isso, assim gravamos. O rapaz me disse
que se pode falar ao mesmo tempo, me ensinara depois a retirar coisas que não
me interessam. Tenho que aprender, ser
mais moderno.
Toque tu primeiro
Jerome.
Ele seguiu a
partitura. Não achas que fica melhor.
Talvez,
experimente mudar para dois tons mais abaixo, no princípio, depois vais
subindo.
Experimentou,
ficava bem. Agora vamos escutar como
foi a primeira vez, depois com a mudança.
A cara do Malta
era fantástica, estar rodeado de amigos, trabalhando lhe fazia bem.
Gosto disso,
parece realmente uma abertura, sem perder nenhum contexto.
Teremos que
montar inteira, para depois pensar como seria como uma orquestra.
Estas louco, isso
custaria uma fortuna que não tenho.
Olha garoto,
vocês estão tirando um velho com o pé no lodo, que está farto de atender
músicos medíocres para passar a tarde, pois não tem nada o que fazer. Portanto
não encha o meu saco, me escute por favor, me deixa fazer isso, salvaras minha
vida. O falou com tanta veemência que
até o Jo se surpreendeu.
Jo, eu dou aulas
de tarde para não me aborrecer, não pensar besteiras, mas as vezes acho que
estou perdendo tempo, pois tenho que aguentar músicos medíocres. Isso para mim seria viver outra vez.
No dia seguinte
foram ao médico, Jo veio busca-los de carro, o acomodaram foram para o
hospital. Fizeram a ressonância, o médico
o examinou melhor, aproveitaram para fazer todos os outros exames.
Daqui dois dias
nos falamos. Quando chegaram em casa,
tinha chegado a outra cadeira de rodas, ele ia reclamar, mas quando viu já
estava sentado, O rapaz carregou mal
entrou aqui, disse que podes usar tranquilamente. Deves carregar a bateria todas as noites.
Gente não posso
pa......não terminou de falar, pois o beijo que o Jerome lhe deu, na frente de
todo mundo, bastou.
Bom vamos
trabalhar. A senhora avisou que tinha
feito almoço para todo mundo.
Jo no almoço
estava dizendo que tinha voltado a tocar clarinete, pois uma parte da música
lhe fazia na cabeça como o clarinete.
Estive trabalhando a noite inteira nele.
Podem me escutar depois.
Nem sabias que
tocava o Clarinete?
Aprendi com o
Ron, ele me ensinou, pois era o único instrumento que gostava. Fiz aulas muito tempo, cheguei a tocar num
grupo. Mas claro foi quando me
desencaminhei. Mas agora estou entre
amigos posso fazer.
Depois do café, tocou
para eles como tinha sentido, tinha memorizado a música, toquei até de madrugada,
tive que colocar o despertador, pois senão ia perder a hora.
O que achas Ron,
fica interessante.
Vamos escutar,
realmente fica interessante, os dois no piano, tu no clarinete. O som ficava diferente porque
engrossava. Acho que tem uma parte que
ficava legal no clarinete, ainda não escrevi a partitura, mas escute, disse
qual o pedaço para o Malta, tocaram os dois.
Jo estava com os
olhos fechados. Quando pararam, viram
que o Ron escrevia a partitura, podem tocar desde, fez o sonido do pedaço, pegaram
daí. Ok, já tenho, veja se é isso,
passou para o Jo a partitura. Ele
colocou em cima do piano, foi tocando.
Suba um tom a
mais, da segunda parte para o final. Tocou outra vez, depois ouviram as duas
versões. Ficava genial. Tente tocar isso junto com o piano no início,
deixando a partir de tal parte, para um solo de clarinete.
Malta aplaudia,
fica ótimo.
O médico levou
uma semana, para voltar a contatar, mas nesse tempo tinham trabalhado
diariamente. Jo tinha pedido um tempo na
universidade, só atendia de manhã, trabalhavam todos os dias, chegavam na hora
do almoço. A senhora fazia uma lista de
compras, eles traziam tudo que ela pedia, agora a comida era mais farta.
Malta estava
diferente, de noite, se abraçava ao seu Jerome, dizendo, quando te vi, no
primeiro momento fiquei com raiva, mas depois me senti tão atraído por ti, que
me esqueci.
Espero que não me
esqueças, quando voltares a andar.
Imagina, quero
fazer sexo contigo inteiro, um dia pediu ao Jerome se podia penetra-lo, ele
disse que nunca tinha feito isso, mas com jeito encontraram uma posição. Os dois ficaram agarrados no final, sem
querer se separar. Contínuas, excitado
dentro de mim, comece outra vez. Depois
pediu que o levasse ao banheiro, tomaram um banho juntos. Rindo como duas
crianças. Já não tomava tantos
remédios, dizia que dormir com ele tinha melhorado sua vida.
Quando já estavam
quase na metade da música, agora mais completa, mais dividida, registrada no
papel, além da gravação. O médico disse
que tinha um espaço na agenda, que se queria operar tinha que ser agora.
Jerome convenceu
o Malta a não deixar para mais adiante,
conseguiram um quarto isolado, trabalhariam com teclados, fariam ali o
trabalho.
A operação foi um
sucesso, devia começar em seguida a fisioterapia. Saiu quase um mês depois do hospital, de
muletas. Teria que usar a mesma durante um ano pelo menos.
A melhor surpresa
foi que um dos enfermeiros tinha tocado saxofone em várias bandas, se juntou a
eles. Agora a coisa ia tomando corpo.
O processo da
música já está quase acabado, faltava percussão, mas isso o Ron conseguiu, um
jovem Africano tinha aparecido na escola, estava vivendo na rua, mas conseguiram
um lugar para ele viver. O levou um dia,
se encaixou rapidamente no grupo.
Começou a trazer mais coisas para usar como som.
Quando
terminaram, fizeram uma seção inteira, tocando a música completamente,
inclusive com uma parte só de percussão.
Ron levou a
gravação, mostrou para seu amigo maestro. Esse disse que estavam ensaiando um concerto,
os músicos, estão fartos, porque entra ano sai ano, poucas músicas novas temos
para tocar. Venha com teu pessoal, quem
sabe como vão reagir.
Pisar num palco
outra vez, mesmo que fosse de muletas, para o Malta foi sensacional, vibrava.
Tocaram como
tinham imaginado. Quando acabaram, ele
deixou que Jerome, explicasse todo o processo.
Vocês são músicos profissionais, eu só um iniciante, mas quando escutei
a música desde o começo me pareceu uma sinfonia.
Escrevemos para
os instrumentos que tínhamos, mas podemos trabalhar, incluindo os outros.
Todos se
levantaram, mostrando claramente que interessava.
Foram dois meses
de trabalho.
As noites agora,
eram fantásticas, Jerome ainda tinha medo de que lhe penetrasse, mas um dia
venceu, permitiu que o fizesse, nada a ver com o que tinha sofrido. O prazer
que nunca tinha sentido agora era completo.
Agora eram completos um com o outro.
Sua tia o avisou
que ficaria pelo menos mais dois anos na França, tinha assinado um contrato,
mais largo, pois agora atendia a todos da Opera de Paris, tinha alugado uma
casa, perguntou se queria vir. Embora
soubesse pelo Ron tudo que acontecia.
Estava tentando encaixar a estreia com uma ida a NYC.
Estava
emocionada, bem como todos, o maestro tinha cedido a regência da peça para o
Ron, era sua estreia como maestro.
Tocaram uma
musica na primeira parte, antes de sair do palco, contou que tudo o que veriam
em seguida era uma belíssima experiencia, um grupo tocaria com a orquestra, uma
musica, com a adaptação feita por um jovem brilhante pianista, que foi
aglutinando uma série de pessoas em sua volta para fazer ressurgir um musico
excepcional. Espero que gostem.
A orquestra estava
vestida de negro, mas de camiseta com o nome da composição, eles também. Quando abriu a cortina estavam todos já em
cena, assim não viam o Malta entrar de muletas.
Ron deu início a
música, parecia que no ar houvesse eletricidade, porque estavam não só eles
entusiasmado, bem como os músicos da própria orquestra.
Fariam quatro
apresentações, cada uma num final de semana seguinte. O final da apresentação
foi apoteótico.
Aplaudiam em
pé. Pediram um bis, tinham ensaiado a música
de seu pai, só que incluía o que ele tinha feito a Suíte Bergamasque, de
Debussy, quando terminou, disse que
tinha aprendido essa música assim, que era de seu pai, Nelson Jameson
Cruz. O publico de novo aplaudiu de pé.
No dia seguinte a
crítica não tinha qualificativo, dizia que a orquestra finalmente tinha se
aberto ao novo. Que a música era
impressionante, que esperavam logo a ver no mercado, as companhias de Streaming
logo queriam lançar ao mundo.
Contrataram um advogado
para gerir os contratos, as seguintes apresentações foram um sucesso, pois com
a crítica se venderam todas as entradas.
Sua tia sugeriu,
porque eles não se mudavam para ficar junto com o Ron, aceitou o relacionamento
dos dois muito bem, quando quisessem fossem a Paris.
Havia entre os
dois, um estranho relacionamento, como se um completasse o outro, mas em tudo,
se entendia em todos os sentidos.
Tinham dado
ordens ao agente que os representava, no caso o Ron, que só tocariam juntos,
nunca em separado. Inclusive agora Malta
se atrevia a tocar música clássica.
Quando Jerome,
começou a compor ele mesmo, Malta o ajudava, agora tinha aprendido a escrever
partituras, era um trabalho dos dois.
Criaram o grupo
para tocar jazz, prepararam um cd, com as músicas de todos, incluindo o Ron que
tinha algumas escondidas. O africano,
conseguiu documentação, uma casa, mas se negava a sair do grupo. Segundo o Jo, era um grupo que tinha se
salvado uns aos outros.
No lançamento do
cd de Jazz, deram uma entrevista na
televisão. Era interessante, num sofá
ele com o Malta, noutro, Jo junto como Ron, no outro os outros dois. Eles pediram para ficar para o final. O que tinha sido enfermeiro, dizia que tinha
sido salvo no hospital, o africano, pelo Ron. Depois a pergunta ao Ron, foi como fazia
para ir descobrindo as pessoas. Ele
apontou ao ouvido, o entrevistador pensou que era surdo. Riram muito, não quero dizer, ouvido para
ouvir música nas pessoas. Porque se a música
não está na pessoa, essa pode ter a maior técnica do mundo, mas a música não
emociona.
Jo respondeu que
estava farto de dar aulas para quem não queria aprender, pois tinha sido salvos
por eles.
Malta falou
primeiro, ele me salvou, estava amargado em casa paralitico, Ron entrou casa adentro,
com esse jovem arrastado, me empurrou para que escutasse ele tocar. Foi amor à primeira vista. Nunca mais nos separamos. Não posso conceber minha vida sem ele.
Uau, disse o
entrevistador, isso é uma declaração de amor.
Bom ele é
correspondido, tive uma infância miserável, sem saber o que era amor, encontrei
nos meus amigos, mas nele encontrei um pouso cheio de amor. Nos entendemos, estamos agora trabalhando
minha primeira composição. Parto da
composição de meu pai, uma que descobri no seu último CD.
Quem é seu pai?
Nelson Jameson
Cruz, alias se alguém sabe aonde está, me avise por favor, gostaria muito de
saber dele.
Os quatro tocaram
a música do Nelson, em seguida choviam telefonemas, cada um dizia uma
coisa. Seria difícil separar tudo.
Dias depois o
advogado, finalmente depois de fazer uma triagem nas pistas falsas, falou com
uma mulher, que o tinha conhecido. Viveu
anos num asilo na florida, sofria de Alzheimer, talvez devido a bebida. Que tinha morrido há dois anos atrás.
Mandou uma foto
de seu tumulo, ali mesmo no lugar que vivia.
Uma foto sua já acabado pela doença.
Na cabeça do
Jerome, apesar de nunca ter tido esperança, brotou um turbilhão de emoções, que
desembocou numa música composta por ele.
Inclusive cantava
junto. Malta fez o arranjo. Quando surgiu a oportunidade de fazerem uma
viagem, fizeram apresentação em vários lugares.
Um dia por surpresa num concerto apareceu a senhora do restaurante. O abraçou, dizendo, eu sabia que tinhas
futuro. Fico contente em ter
participado disso.
Depois foram pela
Europa, Berlin, Madrid, acabaram em Paris, sua tia tinha conhecido um maestro,
estavam vivendo juntos. Pela primeira
vez tinha uma pessoa firme em sua vida.
Continuaram
compondo juntos, cada qual criando coisas novas.