martes, 23 de julio de 2019

FAMILIA - UM TRASTE


                        FAMILIA - UM TRASTE

Tinha saído de Vancouver aonde vivia atualmente, revisando um livro que ainda não tinha ido para a gráfica.   As vezes acontecia de quase reescrever tudo.  Muitos escritores não gostavam dessa parte, mas ele, não reclamava.  Escrevia sempre num impulso.  Podia levar um dia inteiro escrevendo um texto, sem se cansar.
Estava num voo, em direção a Dallas, Texas, tinha pressa em chegar, pois quiça poderia ver seu irmão mais velho antes de morrer.
Era de uma família numerosa e complicada.  Ele era filho do último casamento de seu pai.  Do primeiro tinha Jules, do segundo uma turba, eram cinco, os detestava. Diziam que seu pai tinha uma maldição, pois suas mulheres morriam sempre de parto. Caso de sua mãe. Ele tinha sido criado por uma babá, que hoje em dia trabalhava na casa da família, atendendo seu irmão mais velho.
Este também fazia parte da maldição.  Sua primeira mulher, um casamento arranjado, fugiu na primeira oportunidade, dizia que esta casa era amaldiçoada, que não queria ter filhos, odiava crianças.  Foi um divórcio tumultuado.   A segunda, uma mulher que ele adorava, morreu no parto depois de cair pela escadaria da casa.
Ele adorava o irmão, apesar da diferença de idade, ele o maior da família, ele o menor, com uma diferença de 18 anos. Sempre tinha cuidado dele, melhor que seu pai, que com a idade era ranzinza, sempre reclamando de tudo, do dinheiro gasto com essa família tão numerosa, que deviam comer menos, ou irem trabalhar na empresa familiar.
Era um excelente estudante, sofria bullying tanto em casa como na escola, mas seu irmão mais velho, lhe ensinou a defender-se.
Foi o único que apoiou seu desejo de se transformar num escritor. O pai queria que ele fizesse Direito, mas pela primeira vez bateu o pé, queria outra coisa. Quando terminou a Faculdade, a família tinha acabado de passar por uma ruptura imensa.  Um processo sobre testamento etc.  Seu pai tinha deixado todo o patrimônio para seu filho mais velho.  Afinal fora o casamento com a mãe deste que o salvara da ruína.   Os irmãos não gostaram.  Os juízes declararam seu irmão único herdeiro.  Para o caso de reclamações, o pai, nesse ponto justo, explicava como tinha dinheiro, que esse provinha de sua primeira esposa, portanto devia retornar ao seu filho.    Isso provocou a briga de toda a família, levariam anos para voltarem a se falar.
Seu irmão numa noite fria, nevava fora de época, sentou-se com ele na biblioteca, lhe estendeu um envelope.  Esse dinheiro que não consta da herança, é para ti.  Quero que siga teu caminho, estude, escreva um livro para mostrar aos outros, quem eres.
Ele foi para San Francisco, alugou um pequeno apartamento, o que seria sua marca registrada em toda sua vida, apartamentos pequenos, só necessitava de uma cama, uma mesa para escrever.
Seu primeiro livro aceito, depois de o ter revisado pelo menos umas 10 vezes, do meio para o final, basicamente era outra história. Foi superbem aceito pelo público.  Mais tarde, quando quiseram comprar os direitos para fazer um filme, teve que contratar um advogado.   Não entendia do assunto. Com esse dinheiro devolveu tudo ao seu irmão.  O que lhe veio bem. Pois os outros irmão, não paravam de pedir dinheiro.
Nunca mais tinha voltado, o único elo com a família era com Jules, se encontrasse os outros na rua, não saberia dizer quem eram.
No aeroporto, tomou um taxi e avisou seu sobrinho, este lhe disse que entrasse pela porta dos fundos, pois o resto da família estava lá como abutres esperando a morte do irmão mais velho, para ver se conseguiam dinheiro.
Se lembrava dessa entrada, ele e Jules, sempre saiam por aí, para escapar dos outros irmãos.
Desceu do taxi, levava unicamente uma pequena bagagem. Não pensava em ficar muito tempo. O filho de Jules, o esperava na porta da cozinha.  Subiram por uma escada que era usada pelos empregados, entraram no quarto que tinha sido de seu pai, hoje em dia de seu irmão. 
Estava meio recostado na cama, respirando com dificuldade, apesar de um aparelho no nariz.
Ao contrário dos outros irmãos, sempre que podia Jules e o filho Yan iam visitá-lo, na cidade que estivesse vivendo no momento.
Pelo menos a cada dois anos se viam. Somente Jules e Yan, sabiam aonde estava, número de celular, e-mail, o colocava a par do que acontecia na família, das suas confusões, problemas com o dinheiro, afinal nenhum deles trabalhava. Viviam todos na imensa casa familiar.  Agora a discussão, era para quem ficava.
Alguns já imaginava inclusive como gastaria sua parte.
Subiram em silêncio para não chamar a atenção.  Na porta do quarto, Yan comentou a situação, poderia durar uma hora como um dia. Abraçou o sobrinho, o queria como um filho.
Jules, esboçou um sorriso quando o viu, se debruço sobre a cama, dando um beijo na testa.  Era duro ver seu irmão assim, nas últimas.
Ficou segurando sua mão, pediu a Yan que os deixassem a sós. Pois tinham coisas que eram importantes para conversar.
Falaram durante pelo menos duas horas.  A cada tempo, se escutava uma voz do lado de fora, perguntado se Jules, já tinha partido. Yan, adotava uma voz profunda, para responder que ainda respirava. Entrou um médico, tomou o pulso, lhe disse que era melhor terminarem a conversação.   Na verdade, tudo já tinha sido dito, estavam sim aproveitando os últimos momentos, para ficarem de mãos dadas.   Isso fazia Jules quando ele era pequeno e tinha medo do escuro.  Sentava-se ao seu lado no pequeno quarto que tinha, ficava conversando com ele, como se tivesse sua idade, falando de planos, de sonhos, até que ele dormia.
Quando deu o último suspiro, Yan e ele, cada um segurava uma mão.  Antes de avisarem aos outros, pediu ao Yan, que aguentasse a marabunta, ele iria para um hotel, aonde tinha feito reserva.
Saiu como tinha entrado, um taxi já o esperava.
Durante o resto do dia se manteve em contato com Yan, este estava horrorizado.  Comentou que inclusive já brigavam pelas obras de arte da casa. Se desculpou, por fugir assim, mas não suportava a ideia de ter que aguentá-los, era capaz de dar um tiro em cada um.
 Soube da hora que seria a cerimônia na Igreja Episcopal, tinha prometido ao irmão que falaria.
Passou o resto do dia, conversando com o advogado, pois já sabia o testamento, e o porquê seu irmão tinha feito assim. Tinha já dado uma ordem, com uma lista de coisas de valor, que na hora que todos saíssem para a igreja, deviam retirar da casa, faziam parte da herança do Yan.
O advogado tinha alugado um armazém, iria tudo para lá.
Resolveram que fariam a leitura do testamento justo depois da cerimônia.
No dia seguinte quando ia sair do hotel, viu que dois carros o esperavam fora.  Seus irmãos tinham descoberto que estava ali. Se escondeu, disse ao rapaz da recepção que mandasse um taxi para a saída de serviço do hotel.  Este o guiou até lá.  Se sentou no fundo da Igreja meio escondido por uma coluna. Quase começando a cerimônia, viu que chegavam os dois que estavam na porta do hotel.
Estavam irritadíssimos. Mas a estas alturas, tinham chegado muita gente, estava escondido no meio dos convidados.
Viu que os dois não paravam de falar com suas respectivas esposas. Segundo Jules, duas harpias. Riu por dentro, se lembrava sempre dos comentários e da linguagem que usava Jules, algumas vezes incluía isso nos seus livros, este depois o chamava quando lia o livro, dizendo que tinha roubado suas palavras e que queria sua parte, isso era um jogo entre eles.
Yan estava falando sobre o pai, somente os convidados prestavam atenção.  Depois o melhor amigo de Jules e seu advogado, falou, exaltando a amizade deles, a confiança desde a época da universidade.
Yan, sabia aonde ele estava sentado, fez um sinal.  Avançou pelo corredor central, chamando a atenção. Estava todo vestido de negro, com seus cabelos brancos impolutos e largos, presos num rabo de cavalo.
Se escutava um murmúrio, alguns o reconheciam, escutou uma das crianças perguntando se este era o tio louco que tinha se largado a muitos anos.  Quase soltou uma gargalhada.
Sem tirar os óculos escuros, cumprimentou os presentes. Antes de começar a falar, se dirigiu ao garoto e soltou. “Sim, sou o tio louco que fugiu a muito tempo”.
O garoto esboçou um sorriso.
Começou a falar do Jules.  Falou da sua infância da proteção que lhe dava.  Da única pessoa que tinha acreditado no seu potencial, e com quem tinha mantido contato todos esses anos. Amava meu irmão acima de tudo.  Quando nos encontrávamos, era uma festa, com os anos Yan começou a participar desses encontros, fosse em NYC, Paris, Londres, ou no cu do mundo.  Quando falou isso, viu que muita gente tapava a boca.
Embora o cu do mundo para mim, sempre foi esta cidade e está família.   Graças a Deus Jules, me protegeu me orientando como escapar da feras dessa família, por isso lhe sou eternamente agradecido. Desceu de aonde estava, foi até o caixão, beijou a testa do irmão, abraçou Yan, entre os dois fecharam o mesmo, indicando ao homens da funerária, que o podiam levar para o cemitério, saiu abraçado com Yan, até que sentiu uma mão pequena segurando a sua.  Era o garoto que tinha perguntado por ele.  Vejo que não es louco coisa nenhuma, essa família é o pior que há. Entrou no mesmo carro que eles, foram juntos ao cemitério.
Yan disse que ele era neto de uma de suas irmãs, mas não vivia ali, e sim com sua avó paterna.  Tanto sua mãe como seu pai tinham falecido num acidente de carro. 
Aonde vives e qual o teu nome.  Este riu, vivo em NYC, minha avó diz que é perto de aonde vives.  Mas a casa está sempre fechada, pois vou lá, chamo e ninguém atende.  Meu nome é igual ao do meu pai, sei que o senhor não o conheceu, chamava-se Tom.
Passo muito tempo fora, está e a verdade.  Agora por exemplo vivo um tempo no Canadá, estou corrigindo um livro que vai ser publicado.  
Eu gosto muito de ler, mas não me deixam ler teus livros, dizem que são fortes. Mas adorei a história que aqui é o cu do mundo.  Riram os três.      O senhor não acha que são hipócritas, falam isso o tempo todo, mas quando alguém verbaliza tão alto, ficam horrorizado. 
Desceram, viu que os outros irmãos faziam gestos de se acercarem, mas quando muito estendeu a mão.  Odiava beijar as pessoas que não conhecia, ou não gostava.
A cerimônia foi breve, todos se dirigiram a casa, aonde seria lido o testamento.
O garoto pediu a avó, voltou no carro com eles, minha outra avó é insuportável. Só sabe falar de dinheiro, que não tem, e mal do resto da família.
Quando todos entraram estava seu irmão, agora o mais velho da família, querendo chamar a polícia pois tinham assaltado a casa.
O advogado disse que tinha obedecido ordens do Jules.  Sentaram-se todos na biblioteca.  Ele sentou-se entre o garoto e Yan, quando o resto da família disseram que as crianças deviam sair, Tom segurou sua mão fortemente, posso ficar.  Ele fez que sim com a cabeça.
O advogado acompanhado de um tabelião e um homem de uniforme da polícia. Sentou-se na mesa de Jules da biblioteca.  Começou a ler o testamento. Depois das formalidades, disse que tudo ficava na mão de dois herdeiros.  Tudo que faltava na casa nesse momento, ia para seu filho Yan, a casa, os terrenos em volta, ficavam para seu irmão menor, pois sem ele não poderia ter sustentado essa família de sanguessugas.  Essas não tinham direito a nada.  Têm 24 horas para abandonar a mesma.  A gritaria se fez ouvir, o que seria agora, o mais velho disse que ia impugnar o testamento.
Ele se levantou com um papel na mão, disse o nome do irmão. Você me deve atualmente 15 milhões de dólares, que foi o dinheiro que Jules veio pagando pelos seus desvarios, Está tudo aqui anotado, e inclusive assinado por ti.  Sim era eu que te emprestava o dinheiro, Jules não tinha. E foi dizendo o nome cada um e a dívida.  Portanto como a casa é minha, faço dela o que quiser, pode ser que a transforme numa pousada para as pessoas que vivem nas ruas, que garanto são mais honestas que vocês.  E sinalizou o xerife, ele tem ordem de expulsar todo mundo em 12 horas, nada de 24, cada um pegue seus panos de bunda, fora daqui. Desocupem rapidamente a sala em silencio, pois poderia ser pior.  Lembrem-se tenho os papeis de suas dívidas.
O Tom, ria a não mais poder.  Sua avó de NYC se aproximou, para se apresentar. 
Viu avó Sarah, ele não é nada daquilo que minha outra avó dizia. Gosto dele.  Me disse que realmente quando chamei a sua porta devia estar de viagem.
Sarah, o convidou para vir tomar um café com eles quando estivesse em NYC.  Iremos em seguida para lá, pois Yan ficará um tempo na minha casa.
O jeito foi chamar vários efetivos de polícia, pois queriam quebrar tudo.   O jeito foi um policial acompanhar cada família na parte da casa que viviam e que retirassem suas coisas pessoais.
Yan na verdade já tinha transportado suas coisas e alguns objetos de seu pai para o hotel.
No meio dessa confusão, lhe chamou seu editor, dizendo que já sabia da confusão que estava metido.  O interessante seria se ele pudesse dar uma entrevista no principal jornal da cidade falando do livro, que nesse momento estava à venda. 
Ok, mas avisa a jornalista que não falarei da minha família.
Perguntou a Sarah aonde ia ficar, já que a casa estava clausurada. Vou para um hotel com o garoto. Venha conosco, lhe consigo um quarto no mesmo que estamos.
Quando todos saíram, a casa foi lacrada pela polícia. O Advogado tinha recebido cada empregado, lhe entregava uma carta de recomendação, bem como os direitos laborais delas.
Foram para o hotel, pediu um reservado para comerem. Estavam todos sérios, de repente Sarah começou a rir, não podia parar.
Perdão, sem querer me lembrei da cara de teus irmão, quando caminhastes para o altar, a voz do meu neto, perguntando a tua irmã se eras tu de quem ela falava tão mal.
Queria ter soltado uma gargalhada, quando você respondeu de lá, que sim eras tu.  Vivemos quase no mesmo quarteirão. Quem descobriu tua casa foi ele. 
Tom falava tudo que pensava, como ele quando era criança.  Pensei que vivias numa mansão, mas aquela casa é estreita e muito simples, uma vez passei com um colega de escola e disse que ali vivia um tio meu. Ele riu, dizendo que devia ser pobre, porque apesar da casa ter a fachada limpa, era muito pequena.
Sabes Tom, comprei essa casa, com o dinheiro que ganhei de um livro que foi transformado em série.  Não queria um grande apartamento nem nada de luxo, pois passo muito pouco tempo em cada lugar.  Prefiro alugar uma casa ou apartamento, aonde estou escrevendo uma história.   No momento por exemplo, como a história se passa em Vancouver, estou lá.  Em seguida voltarei para NYC.  Isso é uma maneira de que quando menciono uma rua, ou uma loja, seja exatamente como eu vejo a história.
Caramba, achei genial. Quem sabe um dia serei escritor, quero ser como tu.
Sarah contou que vivia só com ele, era divorciada, e seu filho também era único. Quando se casou com tua sobrinha neta, ela tentava escapar da família.  Se casaram na surdina, sem nenhuma festa para não prestarem atenção.  O resto da família soube que estavam casados, quando Tom estava preste a nascer.  Seus pais morreram quando ele tinha cinco anos, com a ajuda de teu irmão Jules, consegui a guarda dele.
Quando subiram, conversou com Yan, telefonou para um conhecido seu, de uma casa de subastas.  Pediu que mandasse alguém avaliar os objetos de arte, que eram da época do seu avô.
Lhe deu o nome da seguradora, e da pessoa que tinha vistoriado as obras.
Sentaram-se os dois frente a frente, agora nos toca resolver o que fazer com a casa.  Se ficamos com ela, esta gente, disse rindo dos irmãos, na verdade eram belos desconhecidos, encontraram uma maneira de voltar.   Queres ficar aqui, tem alguma coisa que te prenda a cidade.
Não, tio, meu último relacionamento foi uma merda, por isso quero ir embora, começar de novo em outro lugar.
Que gostaria de fazer?
Ainda não sei, terei que liquidar a empresa de meu pai. Embora atualmente já quase não existiam ativos. Por causa de sua doença. Realmente a única pessoa que se preocupou com seu estado de saúde, foi o senhor, os outros só pensavam quanto lhes tocaria de herança.
Ele falou com o senhor sobre o que tinham entre mãos para impugnar o testamento, caso fosse tudo para mim, não é?
Sim comentou, embora eu já soubesse disto desde sempre.  Ele nunca escondia nada de mim.  Aliás eu teria feito igual, ele te amava acima de tudo.
Ele me contou quando eu tinha uns 12 anos e um dos primos me chamou de bastardo.  Não sabia o que queria dizer e fui perguntar.
Quando soube da história, no primeiro momento fiquei horrorizado, mas ele me convenceu.
O caso era que Yan era moreno, quase mulato, Jules tinha lhe contado quando ele ainda era uma criança.  No parto morreu sua mulher e o filho, ele ficou desesperado.  Mas no hospital, havia uma senhora que tinha tido um filho, o ia dar para adoção, aproveitou e adotou a criança e criou como sua.
Eu acho que Jules foi um grande pai, não é verdade, sempre ouve uma cumplicidade entre vocês.  Como ele tinha comigo quando era criança, me protegia e cuidava.  Os outros eram maus, faziam tudo para me perturbar, verdadeiras maldades.  Me chamavam também de bastardo.
Quanto a casa, posso fazer várias coisas, vender, e no momento que saibas o que queres fazer, terás dinheiro para isso.
Eu não preciso de dinheiro, pois tenho meu trabalho, levo uma vida simples, não tenho vícios, nem luxos. Portanto o que necessito é de dinheiro, para me mover, aonde me mande a história que quero escrever.  Mesmo assim, faço isso tudo dentro da simplicidade.
Veja o exemplo dos meus irmãos, nunca fizeram nada, viveram nessa casa como fosse a coisa mais natural do mundo, as custas de teu pai e minha, porque no final teu pai já quase não tinha dinheiro.
Quero ver o que vão fazer agora. Ou apreendem a se virar, porque eu não penso em fazer como teu pai, que os ajudava.  Já fiz o bastante, a partir de como sempre me trataram.
No dia seguinte despertaram com alguém batendo na porta, era Sarah, com um jornal na mão.  Estávamos tomando café e vi essa manchete de jornal.  O título era interessante.  “usurpador, rouba toda fortuna da família.
O que te dizia ontem à noite, viveram numa boa, mamando nas tetas do teu avô, do teu pai e na minha, e ainda tem coragem de reclamar.
Pois agora vão ver com quantos paus se faz uma canoa.  Chamou o advogado, mandou colocar em cobrança e publicar no jornal todo o dinheiro que deviam a ele.   Diga ao jornal que aceito dar uma entrevista.
Quando apareceu o jornalista, lhe deu um cópia de todas as dívidas assinadas por eles.  Contou a história que nunca tinham trabalhado, e sim vivido a custas do Jules e dele.  Agora teriam que pagar suas dívidas eles sozinhos.  Aviso ao credores que entrem na justiça, e que paguem a eles.  E se forem mafiosos, não adiantam pedir resgaste, nunca pagarei nada por eles.
Quando lhe chamaram da televisão, para uma entrevista, perguntou se era sobre seu livro ou assuntos de família.  Desse assunto ele não falaria de jeito nenhum, já tinha dado uma entrevista aos jornais, porque o tinham atacado. 
Na hora do almoço, estavam almoçando com o senhor que tinha vindo e NYC para vistoriar as obras de arte, este estava justo comentando que teria que analisar uma a uma, pois a pessoa que tinha feito o trabalho para a seguradora, não era de muita confiança.
Yan lhe chamou atenção para o telejornal.  Seu irmão mais velho estava sendo preso por suas dívidas.  Esse apesar de ter feito universidade, nunca tinha trabalhado.   Nessa tarde apareceram sua mulher e seus filhos.  Se negou a recebê-los.  Saiu pela porta detrás para levar Sarah e Tom ao aeroporto, prometendo encontrar-se com eles em NYC.
Fizeram uma coisa, foram os dois para um motel, assim, não sabiam aonde estavam, se despediram do hotel, como se fossem em direção ao aeroporto.
No dia seguinte deu a entrevista ao telejornal, na parte cultural, quando a entrevistadora fez um gesto, pois ouvia algo pelo ponto em seu ouvido.  Ele entendeu, iam perguntar de sua família.
Cortou pelo sano, disse que futuramente iria escrever uma história sobre a sua família, seria muito interessante.  Veja, o primeiro casamento de meu pai foi por interesse, tinha perdido todo seu dinheiro, nasceu Jules que acaba de partir.  Para economizar, contratou uma puta, com quem mantinha relações, para ser sua babá.  Foi sua segunda esposa, mãe de cinco filhos, que ele dizia sempre que não tinha certeza que fossem seus, se já houvesse teste de ADN, na época ele com certeza teria feito.  Um belo dia está senhora que passava por ser dama da sociedade, fugiu com o motorista do carro da família, acredito que pelo menos seus três últimos filhos sejam desse motorista.   Posteriormente se casou com minha mãe, que era sua secretária.  Ela morreu no parto.  Fui criado por uma babá e por Jules, que era meu irmão mais velho e me protegia.   Isso dá ou não um livro de história, de como funcionam as velhas famílias do Texas e da América, sempre escondendo seus trapos sujos embaixo do tapete. Agradeceu a entrevista, se levantou e saiu.  A entrevistadora, ainda estava de boca aberta.    Estava limpando a cara da maquilagem, quando seu celular começou a tocar.  Era seu editor. Caramba a entrevista foi uma bomba, se escreves o livro quero publicar.
Yan, ria a não mais poder.   Tudo isso é verdade?
Sim, teu pai me deu todos os documentos provando isso.  Inclusive sem que os outros soubesse fez teste de ADN de todos, só um é filho legitimo. O resto não sabemos quem são os pais, inclusive o mais velho deles, tampouco é filho do velho.
Teu pai podia ser manso e as vezes se preocupava demasiado do que podiam pensar da família.  Mas se escudou, quando se preocupou contigo.
Combinamos isso da casa a muito tempo, talvez na última visita que me fizeram.   Lembra-se em NYC, tinhas que encontrar alguém que estava na cidade, ficamos os dois sozinhos falando do dinheiro que esses já nos tinham feito gastar.   Ele sabia que se deixasse a casa diretamente para ti, iriam dizer que eras adotado.
Mas na verdade, não tenho o menor interesse nesse dinheiro. Veja bem nem tenho tempo de gastar o que tenho.    Mal acabo um livro e pensou, vou tirar umas férias, irei ao Caribe, ou qualquer outro lugar.   Mas nada, saio para jantar com algum conhecido, ou vou a uma reunião de escritores, em seguida estou de saco cheio, e fico rebuscando alguma notícia que me facilite uma história.
Te contarei uma história, quando era criança, as vezes sonhava com pessoas que não conhecia, comentei com Jules, fomos a um psicólogo, este disse que eu tinha muita imaginação.   Uma senhora que cuidava de mim, nos levou a uma mexicana santeira, esta disse que eu sonhava com espíritos que me contavam suas vidas e o que tinham acontecido com eles, pois sabiam que eu era sério.
Foi como comecei a escrever.   Tenho sempre somente uma pequena história, dela saio para escrever um livro.  Claro que o que sonhei fica sendo o ponto de partida, o resto vai da minha imaginação.  Como sempre acontecem em lugares diferentes, vou, pois, assim me sinto integrado na história, posso falar sobre a rua tal, o comercio que existe nela, bancos, farmácias coisas que dão veracidade ao que conto.   Quem gosta são os donos de restaurantes, falo do local, da comida, muitos dos leitores depois aparecem para comer, querem o que está no livro.
Caramba tio, isso pensava eu, pois quando lia, havia o detalhe dos lugares, algumas vezes consultei o Google, para saber se realmente existiam. 
Pois é por isso gosto de fazer revisões, se menciono uma lei, tenho que saber realmente como é.  Tenho que estar sempre estudando.
Sempre foi a minha paixão, devorei todos os livros da biblioteca, meu pai comprava coleções, mas não lia, era para decorar e impressionar os visitantes.
Meu pai, sempre dizia que o avô, não era uma pessoa em quem se podia confiar.
Bom como pai, uma negação, foi Jules quem me criou.
Eu nunca quis formar uma família, primeiro porque sou gay, não gosto da sensação de estar preso, ou mesmo dever satisfação a alguém. Posso dizer que nunca estive preparado para um relacionamento.   Ter filhos ou adotar, menos ainda, estaria preso num lugar, não poderia fazer o que faço.   Meu editor que tem três filhos, me diz sempre que tenho sorte.  O sonho dele era escrever, mas com filhos para sustentar, teve que aceitar e ser editor.
As poucas vezes que me sinto sozinho, faço uma coisa, riu, mas verbalizou, “me ocupo”.  Digo isso quando me pedem para dar palestras nas universidades.  A solidão pode ser boa, quando se sabe usá-la.    Desde a Universidade, quando todo mundo ia para a farra, procurava estar com uma ou duas pessoas, com as quais pudesse conversar. Discutir ideias.  Não gosto de bebidas, no vicio o máximo que consegui, foi fumar.  Mas as vezes estava fumando e esquecia o cigarro em cima de algum papel, e bumba, quase provocava incêndios.
Riram muito com a imagem.   Inclusive depois que deixei, usei isso numa história.
Yan estava mais relaxado, acabou se abrindo.   Eu também sou gay tio, o relacionamento que falava, foi com um sujeito, que imaginava que eu nadava em dinheiro.  Me senti usado.
As vezes acontece comigo, nunca uso meu nome verdadeiro, ou mesmo me reconhecem pela capa de um livro.  Só topei na vida com uma pessoa, que tudo isso lhe importava uma merda.   Era mais jovem do que eu, não conseguia entender esse minha necessidade de ir até uma cidade para escrever uma história.
Ele tinha seu trabalho, os relacionamentos a distancias, são sempre muito complicados.
Nos dias seguintes descobriram que alguns quadros tinham sido trocados, eram falsos, como estavam sempre na mesma parede, ninguém prestava atenção.  Descobriram em seguida que tinha sido o autor das vendas.  O que já estava em prisão.  Resolveu ir até lá com o advogado e uma ordem de um novo teste de ADN.  Mesmo com o antigo, sabiam que ele não era filho do velho.
Depois do teste, sentou-se na frente deles, tinha envelhecido horrores nesses dias. Uma imagem grotesca, pois estava aparecendo o cabelos brancos por baixo da pintura negra que usava.  Deixou fazer o teste, riu com sarcasmo, é duro ser filho de uma puta.  Sempre soube que não era filho dele.  Você e Jules herdaram os mesmo olhos que o velho tinha.  Era tacanho, por mais que eu o engana-se sempre descobria, me lembrava que eu não era seu filho.  Me dizia na cara, que nem minha mãe tinha ideia de quem era meu pai. Me humilhava, me fez ir à universidade a força, pois eu queria mais era fugir dali.  Quando tu desapareceste, senti inveja de ti, podias fazer o que querias, tiveste coragem.  Eu ao contrário, me acostumei ao dinheiro. A vida fácil, mas creio que nem poderei sair daqui, tenho tantas dívidas de jogo, das loucuras que passava pela minha cabeça.  Creio que para minha família fui um mal exemplo, espero que eles possam se corrigir, pois são jovens.  Não vou pedir que os ajude, pois sei que qualquer ajuda no momento, será pior.  As vezes culpava o Jules, pois ele acabava pagando minha dívidas, para não sujar o nome da família.  Tu ao contrário tiveste o maior prazer de sujar tudo completamente.  Eu adorava te chamar de bastardo, porque sabia que não eras, tinha os mesmos olhos do velho.  Levamos anos em entender que o escritor era um e o irmão que tínhamos era outro.
Lhe perguntou sobre os quadros, ele disse quais tinha roubado, tinha contratado um falsificador, fizera uma cópia e trocado nas paredes, ninguém olhava para eles mesmo, nem tinham noção dos valores.      Acabou dizendo para quem tinha vendido e por quanto. Sabia que valiam mais, mas Jules se negava a dar mais dinheiro, dizia que não havia nada mais em caixa.
Quando iam saindo, chegava outro advogado, trazia um pedido de divorcio da mulher deste.  
Escutaram que o outro gritava, dava pena, mas havia que começar a aprender.
Deixaram tudo nas mãos do advogado, a venda dos quadros e objetos de valor e da mansão e terras em volta.  Yan tinha vendido os últimos ativos da empresa do Jules, estava livre.
Tinha por costume ao terminar uma revisão, entregar a mesma, num almoço.  Avisou que levaria Yan como acompanhante.  Ele já sabia que se tratava de seu sobrinho, tinha avisado justamente para que tivesse cuidado com a conversação.
Tinham virado notícias, e os conhecidos que ia encontrando, tocavam sempre no assunto.   Pela primeira vez, estava transbordado, como uma invasão de privacidade, ao longo desses anos todos, sempre tinha se movido sozinho. E ter alguém com ele, embora fosse fácil conviver com Yan.  Ele sabia de seus hábitos, e respeitava.   O andar de cima da casa de NYC, estava completamente vazio.  Tinha conversado com Yan, este tomou a frente de tudo, resolveu qual quarto queria, pintou de branco, comprou moveis, decorou a seu gosto, no que dava para a rua, por ser o mais ruidoso, montou seu escritório.  Ainda não sabia a que se dedicaria, mas não estava disposto a ir trabalhar com ninguém.  Tinha aprendido a se desenvolver com seu pai nos negócios.  Gostava de administrar coisas, aplicar dinheiro.  Isso os tinha salvado muitas vezes, embora a despesa com a mansão fosse uma calamidade.
Em pouco tempo se vendeu a mesma, quando o advogado pediu o número de conta, lhe disse que fizesse a transferência direta ao Yan, afinal o dinheiro era seu. 
Na conversa do almoço, o editor foi claro, desta vez ele teria que fazer uma série de conferências em universidades, dado o interesse a nível pessoal.  Se negou rotundamente, não ia ficar lavando trapos sujos, em conferências, sabia como a coisa funcionava.
Ao chegarem em casa, por debaixo da porta Tom tinha passado um bilhete, dizendo que Sarah precisava da ajuda deles.
Telefonara, se via que estava muito nervosa.  Foram até seu apartamento, grande e com um certo luxo.  Depois de servir o chá, foi direta ao assunto, pediu desculpas primeiro, mas Tom insistiu que eu pedisse ajuda.  As vezes esse garoto parece mais velho do que eu, com mais experiencias.
O assunto é o seguinte, sua avó materna, me pediu dinheiro emprestado, me neguei, a partir que nunca colaboraram em nada com a manutenção do Tom.  Depois tampouco disponho de dinheiro vivo assim.  Disse um valor bem alto.  Alega que não tem como sobreviver.  Me pediu que intercedesse com vocês, para voltar a viver na mansão.
Bom, a mansão já foi vendida.  Por experiencia desses anos todos, sei que se dás dinheiro uma vez, ela estará sempre pedindo mais.
O problema é que ameaçou a pedir a guarda do Tom. Pois sabe que existe um fundo que lhe deixaram seus pais.  Eu nunca o toquei, pois guardo para seu futuro. Para quando possa ir à universidade.
Chamou imediatamente o advogado de Dallas, este riu muito, a confusão com tua família não para.  Esta tua irmã, que nunca tinha ido a um supermercado, foi pega em fragrante roubando. Não sabia que havia câmeras de segurança.  Achou a coisa mais normal do mundo pegar o que queria.    Disse que mandassem a conta para ti. Quando me chamaram, eu disse que tu não tinhas nenhum vínculo com tudo isso.  O problema era dela.  A princípio ainda pensei que estavas errado, que tudo devia ter sido gradativo.  Mas sabia pelo Jules que isso nunca funcionária.  Tem que ser como decidiste, fechar o grifo.  Não creio que ela consiga a guarda da criança, a partir que está aguardando julgamento numa prisão feminina. Não só pelo roubo, mas desacato a autoridade e pelas dívidas que tem.
Os filhos desapareceram da cidade, foram buscar vida em outro lugar.
Tranquilizou então a Sarah.  Perguntou se o Tom estava de férias, ao saber que sim, lhe perguntou aonde gostaria de ir. Este colocou uma cara de dúvida.  Disse que já conhecia muitos países com sua avô, mas que gostaria de ir Noruega.
Mas sorrindo disse que antes gostaria de conhecer minha casa por dentro.  Rimos muito de sua curiosidade.
No dia seguinte, encomendamos um almoço, visto que sempre como fora, e os recebeu.  Tom andou pela casa inteira, se interessando principalmente pela biblioteca, que apesar de pequena estava abarrotada de livros.  As estantes estavam completas, havia livros em pilha pelo chão.  Lhe explicou que muitos não tinha lido por absoluta falta de tempo, mas também porque recebia livros de outros escritores conhecidos.  Mas normalmente quando escrevo, não leio nada.
Ah, consegui ler teu primeiro livro.  Só não entendi de imediato, o comportamento do personagem principal.  A princípio demonstra que está perdido numa nova cidade.  Sua curiosidade pela mesma, achei o que tinhas explicado sensacional, os detalhes dos lugares, usei o Ipad para verificar e existem mesmo.
 Mas tu não tens idade para ler livros assim?
Minha professora diz que meu coeficiente máximo se aborrece das coisas infantis.  Sou o primeiro da classe, mas minha avó diz que não devo ficar me gabando disso, pois é feio.
Riu com ele, olha tenho um amigo escritor, que sempre me manda seus livros, ele escreve coisas para adolescentes, procurando responder suas perguntas, creio que vai gostar.   Procurou e encontrou numa pilha, pelo menos dois livros dele.
A pergunta foi, não vou me aborrecer com eles, não são de autoajuda.  Minha avó gosta muito, mas quando leio, vejo que não resolvem o problemas de ninguém.
Quando viu o andar de cima, parcialmente vazio, perguntou se ele não podia como o Yan, ter um quarto ali para ele.
Para que queres um quarto aqui?
Ora, para estar perto de vocês, poder desfrutar da companhia de quem me entende.   Dos meus amigos da escola, alias só tenho um, o resto só pensa em besteiras. Coisas que só estarei preparado mais à frente.
Por enquanto irei chamando a porta, deixando bilhetes quando vocês não estão.
Ia sugerir a Sarah que saísse do país com o Tom, durante algum tempo, que aproveitasse as férias.   Diabos pensei, porque não vamos juntos para ver como funciona. Consultou com a empresa que se dedicava a aluguéis, que sempre usava.  E achou uma casa primeiro em Oslo, para todos eles. Gostava de casa Centrica para poder se mover a pé.
Sarah a princípio não se entusiasmou muito, mas depois pensando em se livrar da família de Tom, concordou.
A casa era tradicional, Sarah ficou com a parte de baixo, ele com o primeiro andar, Yan e Tom com o último.  Se reunião todos embaixo para o café da manhã, depois se dedicavam a conhecer a cidade.
Sempre encontravam um tempo para se sentar num café e ler as notícias.   Lhe chamou a atenção uma principalmente.
Três rapazes tinham abusado de uma garota de origem árabe, porque se sentiam no direito de fazê-lo, eles eram donos do país, os outros invasores.   Pelo menos esse era o argumento que usavam em defesa do que tinham feito.
A garota, estava em coma, devido a violência da agressão.  Escutou um psicólogo analisando a situação e argumentava que a agressão em si tinha sido gratuita. 
Fez contato com ele, marcou um encontro.  Foi sozinho, pois essas coisas, faziam parte de seu trabalho. Conversaram longamente, o psicólogo lia seus livros que tinham sido traduzidos no país. Disse que tinha feito o mesmo que Tom, pesquisado para saber realmente que existiam essas ruas etc.
Aqui seria mais difícil, não falo vossa língua, poderia sim observar o ambiente, ver o que sucede num bairro, procurar entender as pessoas.
O grupo tem um cabeça, foi ele que incentivou a agressão com tamanha brutalidade.  Mas se o vês, poderia passar por qualquer rapaz de um bairro classe média.
Quem sabe, poderias me ajudar nas pesquisas, para escrever um livro sobre essa história.
O outro ficou olhando longamente, diretamente nos olhos. Eram da mesma idade, apenas o psicólogo, era aparentemente mais formal.
Tinha contado ao mesmo, que estava ali de visita com dois sobrinhos e a avó de um deles. 
Ficaram de jantar todos nesse dia.
Yan ainda comentou, mas já te metes em outro livro, dentro de dois dias vamos embora.
Não disse nada, com ele as coisas não funcionavam assim.
Nessa noite apresentou Olsen a sua família, por assim dizer, riram muito com ele, tinha um sentido de humor refinado.
No dia seguinte serviu de guia a lugares que não eram turísticos, para como viviam realmente as pessoas.  Foram a bairros obreiros, aos de classe média.
Pensou, no fundo ele está tentando me mostrar alguma coisa.
Nesse dia de noite disse que aceitava, com uma condição, que no livro constasse sua participação.
Evidentemente que sim, pois trocarei informações contigo, pareceres etc. 
Para que entenda minha maneira de escrever, vou procurar me documentar da seguinte, maneira, como vive a garota, seu ambiente, e ao mesmo tempo o dos rapazes.  Tentarei falar com eles, observar tudo ao redor dos mesmo.
Então aceito.  Normalmente me pedem para acompanhar alguém, que em seguida desaparece, ficam informações ocas.
Iria perder o voo, mas isso não importava, foi a embaixada e pediu ajuda para poder ficar mais tempo, pesquisando um assunto para um livro.  Imediatamente lhe assignaram um ajudante, e trataram de toda a documentação que poderia necessitar.  Afinal era conhecido no seu próprio país, o adido cultural, só pediu que se ele pudesse fazer palestras nas universidades, falando da cultura americana, dos escritores.   Concordou a contra gosto, mas sabia que sempre era assim.
Olsen, lhe perguntou se não queria se hospedar em sua casa, vivia muito perto de aonde estavam hospedados.  Como a casa era grande sobrava espaço.   Yan ainda fez uma brincadeira pelo celular, vi como ele te olha, creio que há um romance no ar.
No relacionamento com outra pessoa, sempre tinha tido problemas em perceber interesse dos outros por ele.  Não estava acostumado ao flerte, tinha sempre a cabeça mergulhada no que estava fazendo no momento.
Teria que comprar algo de roupa mais cálida, pois o inverno se aproximava.
Primeiro leu tudo que a respeito do que tinha acontecido.  Um dos rapazes tinha filmado tudo. Como era de domínio público, pois tinham subido a Youtube, todo mundo tinha visto, e a opinião publica era complicada, de um lado os radicais que apoiavam o que tinham feito contra esses invasores de sua terra.  De outro os que eram radicalmente contra, as ONGs.
De qualquer maneira, havia algo por detrás de tudo isso.
Quanto mais lia, e repetia sem cessar o vídeo.  Pediu ao Olsen que traduzisse o que diziam durante o ataque.  Havia uma voz que incentivava o abuso primeiro dos dois, se via que não havia muita violência. Quando as coisas mudavam, o que filmava passava a ação, tudo adquiria uma violência extrema.  Com o texto traduzido, fez uma montagem da seguinte maneira.   O que falava cada um, respiração, e analisou cada um.
Se diria que o que filmava primeiro, incentivava a agressão, porque lhe excitava, era o último, porque necessitava disso primeiro. Da violência dos outros, para que ele tivesse sua própria excitação.
Analisou isso com o psicólogo.
Analisaram outra vez, agora juntos, isolando acusticamente cada um do grupo.
Marcaram de falar com o fiscal que levava o caso, este achou interessante o que diziam.  Já o advogado de defesa se negou a falar com eles.
Mesmo assim conseguiram uma autorização do juiz, para entrevistar cada um. Mas antes fizeram uma coisa logica para eles, visitar a família de cada um.
A primeira visita foi a família de Loki, que tinha sido o primeiro, aparentemente uma família normal, os pais trabalhavam, ele também, pelos dados no trabalho era eficiente, sem problemas nenhum.  Quando chegaram a casa dos pais, escutaram uma discussão violenta.    Ficaram parados do lado de fora do apartamento, escutando. Olsen, desde o princípio tinha tirado o celular e gravava.  Um acusava o outro da situação do filho. Numa pausa, bateram na porta, se apresentaram mostraram a autorização do juiz.  Um pouco de má vontade, mas representaram o retrato de uma família feliz, tranquila.  Um filho modelo, sem problemas nas escolas nada.   Olsen, retirou o celular do bolso, colocou a gravação, foi como acionar uma bomba, voltaram a acusar um ao outro. Resultava que a mãe, desde que era pequeno, trabalhava muito para ajudar a manter a família, estava basicamente ausente, o pai idem.  Tinha se criado nas ruas com seus amigos. Era mau estudante, tampouco queria ir trabalhar.  Tiveram que o obrigar a conseguir um emprego.
O segundo Galder, era o que no vídeo tinha sido menos violento, seus pais tinham mais idade do que aparentavam, os receberam bem, ofereceram um café.   Confessaram que ele tinha sido adotado, quando desistiram de conseguir conceber um filho. Tinham ido a uma aldeia no interior, de onde eram originários, um familiar conseguiu a criança para eles, filho de pais droga-dependentes.
Era dado a melancolia, o vigiavam por medo de recair em drogas, era amigo recente do grupo.  Aparentemente não faziam nada, mas a partir da convivência com eles, passou a ter ataques de agressividade.  Acreditavam que devido ao consumo de drogas.
No laudo de cada um, apareciam o uso de drogas. Estavam decepcionados, pois imaginavam que tinham dado ao garoto estabilidade.
Quanto ao terceiro, Ivar, o que incitava a violência, foram recebidos tão somente pelo pai.  Este estava meio bêbado, isso as 9 horas da manhã.  Soltou uma verborreia completamente sem logica, que o filho tinha sido induzido pelos outros.
Sempre foi um pouco tonto, tive que o trazer de rédeas curtas, fez um gesto como o pegasse. Sempre metido com coisas que não devia. Quando perguntaram o que?
Pergunte a ele, o que gostava de fazer antes, nada natural, tive que lhe dar belos corretivos. 
Quando perguntaram pela mãe, a única resposta foi que tinha desaparecido quando era criança.
Ou havia um processo nos três de desestruturação familiar de longa data.
Foram falar primeiro com Loki, os três estavam no mesmo lugar, mas bem separados, em momento algum lhes permitia comunicar-se entre si.
Ao primeiro momento, foi um pouco negativo em responder as perguntas, rosnava como um cachorro.   Quando mencionaram que tinham visitado sua família. Mudou de atitude. Primeiro lamentou o problema para eles, depois começou a falar do abandonado que estava sempre.   Quando lhe perguntaram por Ivar.  Rosnou novamente, dizendo o chefe de grupo que sempre nos mete em enrascadas.  Foi dele a ideia, íamos caminhando, ele não parava de falar das putas árabes, do fácil que era comer uma buceta jovem etc. Quando viu a garota sozinha, tentou falar com ela, mas não nos entendia.  Ficou uma fúria, dizendo que estava fazendo no nosso país, se não conseguia nem falar nossa língua.  Le deu um soco em plena cara, ela caiu, então a arrastamos para um matorral, ele começou a dizer o que deveríamos fazer, estava histérico, gravando tudo. Depois com Galder, ele incentivou mais, pois era sua primeira vez, não ficava de pau duro, o orientou como se fosse um professor, como devia fazer para ficar duro.
E quando chegou a sua vez, já tinha o seu para fora, estava como um possesso, gritava, hurra, mais uma árabe morta, na verdade quase não chegou a penetrá-la, pois se divertia dando golpes e gritando, o que chamou a atenção dos vizinhos que chamaram a polícia.   Quando chegaram os primeiros, um deles mais forte, queria esfregar seu pau, no polícia, o chamando de gostoso, venha que como seu cu também.  Este lhe deu um murro de fazer gosto.
O que vocês consumiram de drogas antes?
Pouca coisa, marijuana, umas pastilhas que tinha Ivar, que não sei o que eram.
No dia seguinte, conversaram com Galder, não sabiam como, tinha conhecimento da visita e da conversa com Loki.
Quando lhe perguntaram, respondeu que tinha escutado dos policiais.   Primeiro, quis negar a participação.  Mas mencionaram o vídeo, mudou de rumo.
Acusou aos dois, Loki e Ivar das drogas e outras coisas. Há um intervalo que não foi gravado, em que Ivar alisou meu pau, para ficar excitado. E me ensinou como fazer.
Ficaste excitado por Ivar ou pela garota?
Por Ivar, quando o conheci, era como seu protegido.  Sabia que eu não podia consumir drogas.  Mas me ensinou a usar um pouco, não me deixava passar de um limite. Gostei dele, porque me protegia, estava sempre abraçado comigo.  Uma vez inclusive me beijo na boca.
Bom aí estava, faltavam alguma coisa na gravação, como podiam ter subido a mesma a internet, se tinham sido detidos em seguida.
O deixaram falar dos pais adotivos, que tinham uma mentalidade de velhos, o protegiam demasiado.   Quase não o deixavam sair de casa, estavam sempre avisando dos perigos do mundo.  O obrigavam a ir à igreja, rezar pelos seus pais verdadeiros, que tinham pecado muito. 
Não tinham visto pelo menos na sala, nenhum símbolo religioso, quando o confrontaram, disse que no quarto deles sim.
E que as vezes sua mãe num acesso religioso, o pegava para pagar os pecados de seus pais.  Mas sempre que o pai estivesse ausente de casa, no trabalho.  Nunca ficava nenhuma marca.  Quando passei a sair com os garotos, disse que a igreja não ia me perdoar.
Mais uma ponta para refletir.
Resolveram falar de uma vez com Ivar, para não lhe dar tempo de pensar.   Esse ao contrário disse que não sabia de nada.  Ao mencionarem seu pai. Resmungou esse filho da puta fedorento. Sempre cheirando a bebida.  Perdi a conta de quantas vezes tive que o retirar da rua em pleno inverno, por estar bêbado.
Nos contou que tu, fazias coisas erradas quando eras jovem.  Em que consistia isso.  Não respondeu, ficou se balançando, com a cara cheia de ira.  E repetindo sem parar, filho da puta, filho da puta.
Eu sabia que um dia ele ia contar para todo mundo.  Mas a culpa é dele.  
O que foi que ele fez?
Me pegou um dia com um garoto, estávamos brincando de pegar um o pau do outro.   Me deu uma surra de fazer gosto, dizendo que seu filho não podia ser gay.   Me levou a um médico, este lhe mandou me dar uns remédios, que me deixavam dopado.  Não conseguia fazer nada, ele não parava de dizer que o que gostava de fazer com outros garotos, era errado.  Que de uma maneira ou outra ia conseguir que eu gostasse de mulheres.  Começou a trazer mulheres para casa, fazia sexo diante de mim, dizendo que tinha que apreender como se fazia.  Era muito agressivo com elas, tempos depois reencontrei minha mãe, ela tinha ido embora por isso, pela agressividade dele.  Deu uma direção aonde podiam encontrar.
Até então fazia o papel de bom menino.  Quando mencionou do pedaço que faltava do vídeo, que tinha massageado o sexo de Galder para ficar duro.  Ficou uma fera em seguida.  Ele nunca tinha feito gritou, tinha que ajudar.
Ele disse que gostou disso.
Como? Em sua cara apareceu um sorriso, eu também gostei, se estivesse sozinho com ele, ia lhe ensinar mais coisas.
Então gostas de fazer sexo com homens?
Homens não, garotos a quem eu possa ensinar a como ficar de pau duro. Nada mais.
Meu pai foi quem me ensinou isso, foi isso que ele fez, quando uma vez trouxe uma puta negra, meu pau não ficava duro de jeito nenhum, ele me massageou e enfiou dentro dela, ao mesmo tempo me batia com as mãos abertas, dizendo que me soltasse. Dei tanta porrada na mulher, que acabou morrendo.   A enterramos no fundo de casa.
As vezes de noite, ele vinha na minha cama, para ver se estava de pau duro, senão me ensinava a massagear.
Gostava disso, e gosto de fazer com os garotos, fiz isso com o Loki muito tempo e agora começava a fazer com o Galder.
Temos que ensinar esses meninos a serem homens.
Por que a garota árabe?
Porque não para de escutar na televisão, meu pai falando, que estão nos invadindo, nos tiram trabalhos e que suas mulheres são como putas, que embaixo dessas roupas não usam sequer calcinhas.  Parou e pensou, essa tinha, uma grande e feia.
Que lhe deu mais prazer, massagear Galder, entrar dentro dela e dar porradas.
Claro que foi ensinar meu pupilo como devia fazer, agora ele é um homem. Já sabe deixar seu pau duro.
Que confusão mental, pensei comigo.
E se ela morre, lhe disse para Olsen, perguntar.
Pensei que já estava morta.
Não ainda está viva.
Ia enterrá-la junto com as outras no fundo de casa.
Saíram diretamente dali, Olsen avisando o fiscal, mostraram a gravação para este.  Caramba a coisa pinta mal.  Sinal que ele faz isso a muito tempo.
A polícia prendeu o pai de Ivar, e começaram a escavar no fundo da casa. Encontraram três mulheres, dadas como desaparecidas, uma a negra e outras duas árabes.
Voltaram a falar com o velho, primeiro se negou, no momento que comentaram as massagens que fazia ao seu filho de noite, ficou furioso.     Imbecil, estava apenas ensinado como empinar, para penetrar.
O senhor sentia prazer nisso?
A cara era de espanto, nunca tinha se perguntado a respeito.  Em sua mente era o natural, um pai ensinar um filho.
Ele só sabia da negra, das outras não. 
O senhor ensinou que seu filho devia pegar as mulheres?
Claro, senão como elas vão ter prazer, vi meu pai fazendo isso com minha mãe toda a vida.  Elas gostam disso.
Apresentaram um relatório ao fiscal. 
Lhe disse que escreveria um livro a respeito, mas somente depois do julgamento.
Resolveram escutar a outra parte, melhor dizendo a outra família, pois a garota continuava em coma.
Na ficha que tinham, havia pouca informação a respeito dela, Olsen, contatou um conhecido, de ascendência árabe para acompanha-los.  A princípio não queriam recebe-los alegando que a polícia não tinha feito nada, por serem árabes.
Realmente em todo processo só se falava da nacionalidade da garota, em alguns documentos nem constava seu nome.  Depois de dois dias, finalmente conseguiram entrar na casa.
Foram apresentados, não como policiais, mas como alguém que estava ajudando o fiscal, contra os rapazes.
A primeira coisa que a senhora falou, era que não eram pais da garota.  Ela era sua irmã.  A tinha ajudado a sair da Turquia, pois o pai de ambas era ferozmente tradicional.  Quando contratou meu casamento, consegui fugir.   Queria me casar com um velho rico, sem herdeiros, para ficar com o dinheiro do outro.  Quem me ajudou a fugir foi o próprio velho.  Sabia das artimanhas do meu pai.   Ele quis fazer o mesmo com minha irmã.
Mas me escreveu, lhe mandei dinheiro para fugir.  Um pouco tarde, mas conseguiu.
Que quer dizer com um pouco tarde?
Ela se enfrentou ao meu pai, ele e um dos meus irmãos fanáticos, cortaram a língua dela por ter se rebelado contra eles.  Diziam que assim obedeceria o marido que tinham escolhido.
Quando ela chegou aqui, quase morreu, pois tinha o que restava da língua totalmente inflamado.  Ninguém tinha cuidado dela.
Esteve vários dias entre a vida e a morte.  Saia somente para fazer aulas, estava apreendendo a falar outra vez com o que sobrava da língua.   
Ah, então era isso, eles pensavam que falava algo confuso.
Além de tudo, ela não podia gritar, pois tinha as cordas vocais, afetadas pela inflamação inicial da língua.
Sempre tinha alguém com ela, esse dia a aula acabou mais cedo e a pessoa que ia busca-la chegou no horário, mas ela já tinha saído.
Fez o roteiro que fazia sempre acompanhada.  Talvez por isso, não se deu conta que a seguiam.  Estava acostumada a vir tranquila pela rua.    Inicialmente quando não a localizamos, pensamos que tinham sido alguém que tivesse vindo da Turquia para lhe fazer alguma maldade.
Ao finalizar a mulher estava com a cara inundada de lagrimas. Minha mãe não queria que nenhuma filha se chamasse Fatima, pois era o nome de mulheres sofredoras.  Mas meu pai insistiu.  Não queria que estudasse, só se preparasse para se casar.  Como tinha mais filhas do que filhos, descobriu que podia basicamente vender as filhas.  Fui a única que escapou rápido, mas jamais poderei voltar.  Aqui me casei, tenho dois filhos.  Temos naturalização porque meu marido era Noruego de nascimento.
Nenhum desses dados aparecia nos papeis.  Ao informarem ao fiscal, este perguntou se não queriam trabalhar para ele.  Vocês conseguiram mais que os funcionários.  Tenho o caso completo.
Conseguiram localizar a mãe de Ivar, vivia numa outra cidade, em Bergen, a princípio não queria falar com eles, mas quando soube que o filho poderia passar o resto dos dias na prisão, aceitou.
Confirmou o que ele tinha dito, o marido a surrava, pois achava que isso lhe dava prazer, por mais que tentasse convence-lo ele dizia que seu pai o tinha ensinado assim.  Até um dia que chegou em casa e viu seu pai tentando me pegar, pois me negava fazer sexo com ele. Um velho sujo e asqueroso.   Mas o velho o convenceu que eu o tentava, que era uma maldita, enquanto discutiam, fugi de casa, como não tinha provas ele ficou com o garoto.
Mal o reconheci quando o vi. Tem um olhar estranho, nunca olha as pessoas diretamente nos olhos.  Me deu muito medo, o que seu pai pode ter feito com ele.  
Acharam melhor, contar das mulheres mortas e enterradas. 
Eu com certeza acabaria assim. No campo do velho, havia uma quantidade de cruzes, sem nome, datas. Quanto perguntei ao que era meu marido, me disse rindo cinicamente, que eram mulheres que tinham perturbado seu pai.
Conseguiram o endereço desse lugar e passaram ao fiscal.
Nenhum dos vizinhos tinha percebido nada.  Mas sim algumas mulheres de família da vizinhança tinham desaparecido.
O julgamento estava desigual desde o princípio, o advogado de defesa, era um para três.  Estava mal preparado, não sabia de nada do que o fiscal sabia.  Mal tinha conversado com seus clientes.  Tanto que o juiz ao perceber. Adiou o julgamento, para que tivessem um advogado para cada um.  Separou todos os julgamentos para não haver confusão.   Só os reuniu no final.
O julgamento do pai do Ivar foi a parte também, pois tinha encoberto o corpo da negra, mesmo no julgamento, dizia que não tinha feito nada errado, ela era um puta, estava ali para servir os homens.
Ivar foi condenado a prisão perpetua, os outros dois a 10 anos, e o pai do Ivar a 5 anos.
Já tendo toda documentação, depois de ter andado pelos lugares que eles mencionavam, já tinha material suficiente para um livro.
Talvez tenha sido o livro que mais doeu escrever, ou ele estava ficando velho, com o coração mole.
Olsen ainda tentou algo com ele, mas foi franco, sabes que seria somente uma aventura, pois irei embora e tu ficaras aqui.  Tenho uma outra vida, e podemos estragar uma bela amizade.  Seguiriam se correspondendo.
Mal chegou a NYC, encontrou todos em sua casa.  Na hora não entendeu, até que Yan lhe explicou que tinham tentado raptar o Tom, mas que este tinha sido esperto.  Sabia aonde estava uma chave sobressalente da casa, tinha se escondido e avisado sua avó. Quando cheguei em casa ele me explicou.  Falei com a polícia, realmente tinham dois vigiando a casa dela.   Depois se identificaram como tios do garoto, que o queriam levar para ficar com a avó materna, que tinha saído da prisão.
Está sendo processada novamente junto com seus dois filhos, pela quantidade de burrice que fazem.
Yan confessou que quase, mas tinha se lembrado das conversas deles, que ajudando era pior, tinham que enfrentar suas vidas. Por mais que lhe dessem dinheiro sempre voltariam por mais.
Fizeram um acordo de espaços.  O dele, ninguém deveria interferir, tentar arrumar, ou interromper enquanto estivesse trabalhando.   Que não o esperassem para comer em nenhum momento, pois seus hábitos eram diferentes.  Se respeitamos o espaço de cada um, não teremos problemas.
Já tinha escrito na verdade a história inteira, durante o tempo que estava lá.  Olsen sempre reclamava que ele nunca descansava, ou se relaxava.  Que fazia sua máquina mental funcionar a 100 por hora.
Ao transformar cada um num personagem. Agora teria que escrever muito, humanizar cada um, com uma visão distinta, visto de fora, nem sempre era fácil. Montou o livro, começando pela agressão, depois passou como cada um tinha feito seu dia, seus sentimentos de revolta pelo o que tinham em casa. O mesmo se tratando de Fátima, usou mais a imaginação, pois nunca tinha falado com ela.
Tudo que sabia de sua história, lhe tinha contado a irmã. Mas tinha um roteiro.  Criou um motivo por que não tinha esperado a porta da escola para leva-la para casa.
Primeiro mandou o texto para Olsen, pois no fundo tinham discutido e analisado cada parte.   Agradecia isso no prologo.  Mandou junto um bilhete, dizendo se queria que colocasse como coautor do livro, a ele isso dava igual.
Acabou ficando uma dedicatória no começo, no prologo toda a explicação da participação do Olsen.  O editor queria retirar o prologo, mas ele não concordou. Decidiu que uma parte do dinheiro seria para o Olsen.
Antes do livro ir para o prelo, mudou de ideia, achou pouco, e colocou como coautor do livro.  Tinham discutido tanto cada personagem, que as vezes se cansavam um do outro.
Olsen ficou contente, teria direito a metade do valor do livro.
Quando foi finalmente publicado, choveram entrevistas, ele convidou o Olsen para vir, assim ele se tornaria conhecido nos Estados Unidos.   Quando chegou, ficou sabendo que Fátima tinha morrido, sem recuperar jamais a consciência.  Sua parte na história séria somente sempre a imaginação, do que tinha acontecido e o porquê.
Quando propuseram transformar em série, na Noruega, Olsen foi chamado para assessor.  Venderam os direitos, repartido entre os dois.   Pela primeira vez lhe pediram que escrevesse os capítulos.
Alegou não estar familiarizado com isso. Pediu um tempo para pensar.   Procurou ajuda num guionista, esse lhe ensinou o truco.
Sentou-se e montou tudo a partir da adolescência de todos eles, seus problemas, seus traumas. Enfim.
Quando apresentou o texto do primeiro capitulo, o diretor aplaudiu entusiasmado. Ele e Olsen participaram da eleição dos candidatos aos papeis.  Entendia que era difícil, pois os produtores, não queriam semelhanças físicas.
Pela primeira vez, entendeu o quanto era difícil, dar verdade a personagens tão neuróticos, psicopatas etc.
Foram chamados pelo fiscal. Este pedia ajuda num caso complicado, o que inicialmente pensava que era um atendado ou homicídio frustrado, resultava ser uma complicação.  A pessoa afetada pedia que os dois o ajudassem.    Nunca aconteceu isso.
Embora o fiscal tivesse guardado segredo, os levou pessoalmente a um hospital, em uma ala extremamente vigiada, foram levados a um quarto.   Era um dos atores mais famosos do país, considerado pelas mulheres um macho alfa.  Tinha o rosto todo cortado, se via que tinham reimplantado a orelha, antes de entrar o fiscal os avisou que tinha se castrado.
Quando viu os dois, disse que tinha lido o livro deles, me acho numa situação delicada. Gostaria de conversar com vocês, para me entender.  Nunca estive com um psicólogo, o senhor sei que é um escritor, que percebe o ser humano.
Venho de um acúmulo de trabalho, estou fazendo uma série de televisão e ao mesmo tempo um filme, nos dois faço papel de um psicopata, que engana todo mundo com seu charme e beleza.
Estou, farto disso.  Minha mãe me dizia que minha beleza era minha maldição.  No dia que tudo aconteceu, não sei se tive um surto psicótico ou se alguém me atacou, não consigo me lembrar.
Tudo que sei, foi que entrei em casa cansado, tirei os sapatos que estavam sujos na porta, me sentei no sofá, me servi de um pouco de whisky, tomei pelo menos dois goles, depois já não me lembro de nada.
Quando me despertei, vi sobre mim uma figura de negro que se ria muito alto, saiu correndo.
Meu empregado entrou, imediatamente chamou a polícia e a ambulância.
Ele diz que não viu ninguém sair, acredita que fui eu que fiz tudo sozinho.
Pediram para examinar sua casa.  Um carro da polícia os levou até lá.  Estava lacrada, o policial abriu a porta para eles. Realmente o que mais chamava atenção era o sofá sujo de sangue.  Perguntaram se a cientifica tinha estado lá.   Este não sabia, mas informou-se.  Minutos depois chegou o fiscal com a cientifica.
Porque dizem isto.  Lhe expliquei, que ao olhar as fotos e comparar o local, o mesmo não poderia ter cortado certas partes do corpo porque tinha um problema no braço.  Usa o lado esquerdo do corpo para tudo.  Já o vi, num filme, creio que tiveram que mudar cenas pois ele todo se move pela esquerda, e quem fez isso, estava do outro lado.
A garrafa de Whisky estava meio entornada, mas ainda havia um pouco dentro.  Pediram que analisassem o conteúdo.
Tinham tirado o sapato na porta, se via muitas pisadas, acreditavam que de polícia, e enfermeiros.  Assim se afastaram do círculo que estavam, pediram que ninguém se mexesse do lugar.
Justo detrás de uma cortina pesada, havia marcas no chão, que alguém tinha estado ali em pé.
Continuaram examinando a casa. O quarto estava perfeito, mas eles eram pior que a polícia, abriram armários, afastaram roupas, viram que havia um cofre fechado.  Tinha como umas manchas no mesmo, pediram que apagassem a luz e iluminaram.  Estava escrita com sangue, um dia volto para buscar teu dinheiro, gay de merda, tinham tentado abrir o cofre.
No banheiro, tudo era um caos, perguntaram se alguém tinha olhado o resto da casa.  O fiscal, disse que todos pensaram desde o princípio numa tentativa de suicídio. Por isso não tinham explorado a casa.  Nos outros cômodos, não viram nada diferente, mas ao entrar na biblioteca, que destoava totalmente do resto da casa moderna.  Ficaria melhor, num palácio antigo que ali.  Paredes cobertas por estantes antigas, tudo era ao contrário do resto da casa.  Uma mesa antiga, cheia de livros em cima, muitos caídos pelo chão.  Do lado contrário, duas poltronas de orelhas em couro antigo. Livros abertos em cenas de sexo.  Faunos, coisas aberrantes.
Tinham tentado abrir as gavetas, mas creio que não encontraram as chaves. 
Quando desceram a garagem, faltava um dos carros mais famosos, no local manchas de sangue.
Tudo na verdade era muito estranho, agora tocava descobrir quem odiava tanto ao ator.
Deixava de ser uma tentativa de suicídio, para ser de homicídio. Creio que a ideia do assaltante, era deixa-lo dessangrar, mas como bebeu pouco, deve ter-se despertado antes do tempo.
Foram felicitados pelo fiscal, eram bons no que faziam.  Foram com este até a polícia, lá procuraram saber atreves da internet, mais sobre a vítima. Sobre seu passado não havia muitas coisas.  Levantaram seu segredo bancário, encontraram depósitos mensais a um hospital psiquiátrico.  Foram até lá, uma grande surpresa, quem os atendeu era amigo de Olsen, procurou facilitar as coisas.  Estava aqui internado até o mês passado, quando morreu o irmão gêmeo dele, eram iguais, mostrou fotos dos dois no jardim. O que estava internado, tinha os cabelos brancos, mais pálido, mas eram idênticos. 
Estava aqui desde os dez anos de idade, quando se diagnosticou todos seus problemas.  Aaron, verbalizou o nome do ator, só não vinha quando estava fora do país, ou fazendo uma filmagem longe.
Há um detalhe interessante, já que falam da castração, é que na verdade os dois estavam castrados quimicamente a muitos anos. O pai deles o tinha feito, não queria mais anomalias na família.
Pelo que sei, vem de uma larga linhagem de pessoas com problemas mentais.    A mãe deles se suicidou, nada mais ao saber que um dos filhos tinha problemas mentais. 
Seu pai, declarou que isso tinha sido muito para ela.  De qualquer maneira, veja bem, Aaron, sempre foi muito cordato.  Sempre que lhe pedia, fazia um exame total aqui conosco.
A tempos vinhamos notando que estava estressado, mas a despesa do irmão era muito grande, por isso trabalhava tanto.
Voltaram a polícia, fizeram um relatório completo sobre o irmão.
Voltaram ao hospital, tinham que falar rápido com ele, pois iria entrar para um cirurgia reparadora.
Quando falaram do irmão, começou a chorar, mamãe dizia que fazia parte da maldição da família de meu pai.
Mas para entender tudo, melhor, lerem tudo a respeito. Lhes disse aonde estava a chave da mesa, lá encontraram quase tudo, o resto depois contarei.
O levaram para a sala de cirurgia.  Quando voltaram a casa, alguém tinha entrado para procurar alguma coisa. Estava mais revirada, chamaram a polícia, tudo era um desastre.  Tinham tentado abrir as gavetas da mesa, por debaixo, mas eram de metal.
Foram vistoriar o cofre do quarto, estava intacto.
O melhor seria, levar os documentos dali.  Encontraram dois diários, e uma caixa cheia de fotografias. Os dois quando crianças, jogando bola, vestidos diferentes, para serem diferenciados.
Junto as fotos, um pequeno diário infantil.  Aaron reclamando que o irmão tinha se transformado.  Gostava de matar os gatos, cachorros com a próprias mãos.   Ia registrando com uma visão infantil, tudo que o outro fazia. 
“Tentou me matar”, uma simples anotação. Uma foto com mostrando uma cicatriz a altura da virilha.
Finalmente a última anotação, dizendo que não entendia por que o pai mandava internar o irmão, se quando esses ataques passavam era uma pessoa normal.   O pai alegava que era uma maldição de família.    Mas não explicava por quê.  No final uma serie de interrogações.    Porque o pai era um mentiroso.
No envelope encontraram, fotos dos dois juntos, conversando abraçados, fotos de aniversário ou natal, no hospital.  Desde que tinha podido entrar no mesmo para visitar o irmão.
Dois dias depois conseguiram voltar a falar com Aaron, bom já que sabem do meu irmão.  Posso contar o resto. Tentou me matar umas duas vezes, delirava, meu pai dava a desculpas que tinha febre.
Em casa trabalhava uma senhora que tinha uma filha pequena. Um dia meu irmão desapareceu, tampouco se encontrava a garota.  Quando o encontramos, estava num lugar que acostumávamos jogar, ali sentado, com a garota, morta e aberta no estomago, ele estava comendo o fígado quando chegamos.
Disse que tinha visto isso num filme de índios, e que ele era um dos homens do filme.
Voltaram uma quantas vezes mais, agora que tinha se recuperado da operação, os atendia sentado em uma poltrona.
A grande beleza do rosto, estava acabada, se notava a costura do reimplante da orelha.  O resto refletia no rosto, uma amargura imensa.  Sentia que tinha falhado em tudo.
Nunca quis ser ator, tudo saiu por acaso, estava participando de um grupo de teatro na universidade, mais por curiosidade, para me relaxar. Pois a cada notícia do meu irmão, era um peso.
Meu pai ainda era vivo, conviver com ele um coisa complicada, do mesmo momento que estava alegre, ficava furioso, as vezes ele complicado lidar com ele.  Uns anos depois, tentou suicídio, acabou internado numa clínica, que comeu o que restava do dinheiro, por isso quando surgiu o primeiro convite para um filme aceitei, depois o resto foi o mesmo, tudo por dinheiro.
Tinha que cuidar do meu irmão.  Tentaram de tudo, mas ia cada vez pior.  As vezes me reconhecia, outras não.  O pior era quando colocava na cabeça que eu era ele, que tínhamos sidos clonados. Saia da clínica arrasado.   Imagine que as vezes no mesmo dia, tinha que comparecer a uma estreia, ou uma festa para promocionar o último filme.   Havia que fazer das tripas coração. Queria para o carro e descer, mas tinha que continuar.   Quando morreu, senti um alívio, o que provoca na verdade uma sensação de culpa.  Agora, podia deixar tudo, depois desse filme, da série.
E me acontece isso.  Primeiro a meses atrás recebi uma carta, que não dei muita atenção.  Dizia que eu tinha enganado todo mundo, que na verdade não era quem eu pensava.   Não entendi muito, mas tudo bem.
Uma pergunta.  Você diz que teu pai os castrou quimicamente. Como era teu relacionamento com as mulheres?
Por causa dos filmes perguntas?
Sim, porque eras famosos pelas tuas conquistas.
Bom se tivesse prestado atenção, todas ou eram modelos ou atrizes no começo de carreira.  Tudo que tinham que fazer era acompanhar-me as estreias, festas etc.  Voltava sempre sozinho para casa.  Nunca tive relacionamento sexual com nenhuma, pode perguntar.  Algumas até se insinuava, mas eu dizia que tinha um compromisso, que era secreto.
Nunca senti atração por ninguém, nem sexualmente, nem amoroso. Uma vida vazia, tudo o que pensava era ganhar dinheiro para garantir o internamento de meu irmão.
Então não crés que alguma dessas pessoas possa ter querido se vingar?
Tudo o que fazia era ser cortes, atencioso, beijos discretos, segurar a mão, sorrir para fotos, nada mais.   Não creio que ninguém tenha se apaixonado por mim, só por isso.
Bom na verdade, teve uma pessoa, que me perturbou uma vez, foi um sujeito que estava internado com meu irmão.  Ao me ver ali, tentou fazer amizade com meu irmão.  Mas este estava dopado todo o tempo, por causa de sua agressividade.  A esse sujeito, meu irmão acabou mordendo, pois, depois que lhe davam os comprimidos, ele os retirava da boca, para que ficasse lucido e contasse coisas sobre mim.   Tudo que levou foi uma mordida na cara.   Isso me perturbou muito na época, pois estava muito deprimido. O médico me chamou pois temia que o sujeito conseguisse sugestionar meu irmão.
O mesmo seguiu tentando, um dos motivos pelo qual meu irmão acabou morrendo.  Vocês viram a escadaria do hospital, meu irmão ficava num quarto no andar de cima.  Esse sujeito, que não sei quem é, um dia o provocou tanto, que meu irmão se jogou ou foi jogado desde lá de cima. Morreu no ato.
Agora, tocava voltar ao hospital, estranhavam que o diretor não tivesse comentado nada.
Quando falaram com ele, inicialmente negou tudo, mas depois quando se falou no fiscal, confirmou.  Mas esse paciente teve alta e saiu, pertence a uma família importante da política do país.  Tanto fizeram que acabou dando o nome.
Nem precisaram ir atrás do mesmo, tentou atacar de novo, no hospital, vestiu uma bata de médico, entrou no quarto do ator, quase consegue matá-lo, se não fosse uma enfermeira que o desconhecia. Quanto tentou agredi-la, entraram os policiais de que estavam ali de guarda e o prenderam. Quando o entrevistaram, foi uma coisa caótica.   Ele alegava que o ator o tinha enfeitiçado, que queria sexo com ele.  Quando o confrontaram de sua estadia no hospital psiquiátrico, em seguida mudou a história.  Disse que o que estava ali era um verdadeiro ator, fingia estar ali escondido, nunca dizia nem uma palavra, nem uma resposta.  Lhe declarava seu amor, mas nem assim.  Só sorria quando o outro, que vinha do lado esquerdo do cérebro, aparecia e o abraçava.  Odiava o do lado esquerdo, pois conseguia que o do lado direito, sorrisse, olhasse para ele, mas na verdade não dizia nenhuma palavra, ficavam de mãos dadas, foi então que descobriu que o do lado esquerdo, segurava a mão do outro, pois eram amantes.  Ele queria o do lado direito.
Quando acabaram a conversa, tinham um nó na cabeça.  Quando lhe perguntaram por que queria o que estava no cofre.  Disse simplesmente que pensava que era rico. Com o dinheiro ele poderia escapar de sua família. 
Porque tinha lhe cortado o sexo.  Porque o outro o tinha assim, queria que fossem iguais.  As feridas na cara, para que deixasse de ser bonito e liberasse o outro do lado direito.
Enfim, sentou-se com Olsen, que desordem mental!
Sim, seu pai é um dos ministros, deve ter esse filho escondido a qualquer custo.  Não se ventilou que ele tivesse voltado para o hospital.
O ator os agradeceu muito.  Agora pelo menos poderei viver tranquilo, usarei meu verdadeiro nome, ninguém me conhece por ele, posso passar desapercebido, deixei de ser bonito.
Quando falaram com o fiscal, este estava furioso.  Que confusão, o ministro está fazendo uma pressão horrível que isto não saia a luz, pois pretende se candidatar a primeiro ministro.
Menos mal que ele tinha gravado e Olsen também, passaram as copias para ele. Mas claro, deram uma também para o Ator, seria sua segurança.  Quando lhe deram alta, embarcou com um passaporte de seu nome real, para um tempo na Itália. Ia tentar relaxar de sua vida.
Resolveram escrever a história sem mencionar nomes, apenas analisando a cabeça do pai, que tinha castrado seus filhos, a vida desgraçada de uma pessoa que não tinha culpa nenhuma. Que tinha cuidado de seu irmão, ao mesmo tempo, perseguido por outro com problemas psiquiátricos. Estava bem disfarçada a história, sem mencionar em momento algum ministros, hospital etc.
Apenas diziam que a história estava baseada num acontecimento, nada mais. 
Nunca foram procurados por ninguém para dizer que escondessem fatos.   O livro saiu em nome dos dois.
Olsen de brincadeira lhe disse que mais um livro ou história ele passaria a viver por lá, então quem sabe.
Voltou a NYC, pelo menos desta vez as coisas estavam tranquilas, nenhuma ameaça no ar.  
Yan já tinha um trabalho, tinha alugado um apartamento para viver sua vida, ele recuperava sua casa.
Tinha sido consultado pela Sarah, se lhe acontecesse algo, se ele ficaria com a guarda do Tom.  Disse que sim.  Cada vez gostava mais desse garoto, tão inteligente.
A família, depois de tantos desastres, foram desaparecendo no mundo, o advogado de Dallas sempre lhe contava alguma coisa que tinham feito.  Com o tempo se encaixaram no mundo, e livre dos mais velhos na cadeia, enfim seguiam suas vidas.
Ele, as vezes se pegava conversando com Jules, dizendo, vê como eu tinha razão, recusar, provocaria o caos, mas depois do caos tudo volta à normalidade, pois cada um é obrigado a procurar sua vida.
Nas vésperas do lançamento do último livro, foi abordado na rua por um homem que na hora não reconheceu, cabelos grandes, ombros mais caídos, mas com um sorriso na cara e olhos tranquilos. O ator, estava ali para conversar pessoalmente com ele.
Já tinha lido o livro que tinha sido lançado em seu país.   Imagina que até hoje procuram meu agente para algum trabalho.   Este diz que me aposentei da arte.     Descobri outras formas de arte, agora pinto, estou aqui pois vou fazer uma exposição numa galeria daqui.
O convidou para a inauguração da exposição, mas perguntou se queria ver antes o trabalho.  Foi até a galeria, ajudou a abrirem as caixas, olhou detalhadamente cada quadro, procurando analisar com honestidade.   Havia um jogo de cores, em que predominava as cores, laranja, vermelho e negro.  As figuras, estavam meio escondidas em uma bruma, nunca se via o corpo inteiro, o sexo menos ainda.  Saíram para tomar um café, comentou isso com ele.
Impossível não deixar que meu trabalho influa no meu trabalho, sempre será assim.     Esse tempo na Itália, procurei entender meu pai, não foi fácil, tinha um ego monstruoso, lhe agradava falar sempre da desgraça da família, em que sempre alguém saia com problemas mentais.   Embora nunca mencionasse meu irmão.  Depois de internado, deixou de existir.  Levei muito tempo para saber aonde estava.   Comecei a visitar escondido dele.  Ia passar nossos aniversários juntos, comprava os doces que sabia que ele gostava. Levava roupas que não usava mais, pois ele nunca cresceu em demasia.  Creio que a medicina que lhe davam era sempre muito forte.  Quando passei a ter maioridade, questionei os médicos, mas a resposta era sempre a mesma, tinham que controlar sua agressividade.   Uma vez que estava com ele no parque do hospital, de repente tentou matar-me, dizendo que eu era o lado direito, ele o esquerdo, que tinha que executar o final para estarmos juntos.
Com os anos era um vegetal.   Quando morreu senti duas coisas, pena por não termos vivido mais tempo juntos e estar livre finalmente.   Esse estar livre finalmente, teve dois pontos, um, agora posso viver minha vida, e o outro uma sensação de perda imensa.
Seus encontros conversavam os dois, lhe contei toda minha vida, coisa que não tinha feito com Olsen, tampouco sabia muito dele, era muito fechado.  O convívio entre nós cresceu muito.  Finalmente lhe cedi uma parte da casa para ele viver e pintar.  Tinha dinheiro guardado, podia ter ido viver sozinho, ter um estúdio só dele. Mas nos relacionávamos bem.  A estas alturas da vida, não precisava de um companheiro sexual, mas sim de alguém com quem pudesse falar ao mesmo nível.
Anos mais tarde, Tom veio viver conosco, até chegar o momento de ir a Universidade.  Hoje é um homem com uma carreira espetacular no jornalismo de pesquisa.  Diz que fui eu que lhe ensinei como devia fazer as coisas.  


















  




 






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