PASSAGE
Denis, despertou com o celular a todo vapor, lhe irritava
isso, principalmente depois que tinha deixado o Ministério de Cultura. Tinha trabalhando a vida inteira em pró da
cultura da França, sem mais nem menos tinham lhe despedido, coisas do novo
governo.
Ele não precisava desse emprego, tinha sua própria maneira de
trabalhar, escrevia artigos para revistas de cultura, para jornais, enfim,
sempre tinha tido seu meio de vida, inclusive não dependia de casa. Aonde vivia na Rue de Furstemberg, era a
residência da família, a anos, ele tinha nascido ali bem como seus irmãos,
espalhados pelos quatro cantos do mundo.
O que tinham feito, como a herança tocava a todos, em vez de vender, uma
grande reforma, separando apartamentos para cada um. Diziam que o dele era o privilegiado, pois
tinha duas saídas, além de muita iluminação.
Nessa repartição tinha comprado a parte de uma irmã que vivia a tantos
anos em Londres, que nunca voltaria a viver ali. Então o seu era maior. Albergava a biblioteca, um grande salão, um
quarto com closet, bem como cozinha, o resto ele deixou de lado, pois o que ele
queria era espaço para sua coleção de livros, esculturas africanas, ou de
qualquer pais oriental. No salão tinha
em cima da lareira que era enorme, um grande buda deitado, recoberto de ouro,
tinha levando três anos sendo restaurado, pois além de imenso, estava um
desastre quando ele comprou.
Sua própria biblioteca, tinha uma parte escondida, era aonde
ele guardava os manuscritos, todos os que ele tinha estudado, bem como alguns
misteriosos. Tinha estudado línguas
antigas na Universidade de Paris. O pai
reticente quando ele se decidiu, depois precisou dele para seus negócios. Além do aramaico, grego, árabe antigo, uma
série de outras línguas do qual se utilizavam poucos povos. Se não estava trabalhando, estava
estudando. Os óculos, sempre colocados
na ponta do nariz fino, como que cortado a faca. Diziam que tinha uma figura diferente, os
olhos eram de um azul acinzentado, pequenos, quase parecia de japonês, a boca
era sensual, os cabelos sempre largos desde sua juventude, de loiro agora eram
cinzentos, além claro de sua boa altura.
Andava impecável, diziam que mesmo quando ele andava de calças jeans,
seu casaco ou a camisa eram elegantes.
Mal sabiam que sua roupa era antiga, odiava comprar roupas novas. Tudo que estava no seu armário, ou tinha
herdado dos irmãos, ou visitado seus armários, visitado quero dizer roubado
deles, uma gravata, um casaco, ou qualquer coisa que gostasse. Estavam acostumado, pois o fazia desde
garoto. Como era o menor deles todos,
sua mãe quando ele queria alguma roupa nova dizia que olhasse os armários dos
irmãos.
Uns diziam que parecia um Dândi, por essa maneira de se
vestir, mas não queimava as pestanas com isso, entrava no seu closet, ia
catando tudo que tinha a mão.
Tinha uma antiga empregada, que cuidava do apartamento, sabia
que lhe estava vetada a entrada na Biblioteca.
Uma vez por mês, ele mesmo aspirava os tapetes, bem como limpava
ligeiramente os livros que estavam em cima das duas grandes mesas de trabalho. Ali as únicas coisas modernas eram seu
laptop, uma torre de disco duros, que estavam ligados a outra torre que fazia
as copias na traseira de um dos armários secretos, bem como uma cadeira com
rodas dessas modernas.
O resto tudo tinha mais de 100 anos ou muito mais. Uma parte da biblioteca, tinha herdado de seu
pai, que tinha herdado do avô, assim de geração em geração. Na repartição, cada um ficou com a parte que
lhe interessava. Isso lhe deu espaço para aumentar sua própria coleção.
Os antiquários de quem compra livros antigos, eram conhecidos
seus, alguns lhe contavam suas vidas, as vezes reclamavam, que cada vez menos
gente se interessava por alguma edição antiga, ou por determinado assunto, ou
escritor de quem nunca tinham ouvido falar.
Ele estava atrás de um manuscrito, que atualmente estava nas
mãos de uma família que repartia a herança, a coleção tinha pertencido a um
Monsenhor D’ Obriny Cascot, um velho
rabugento, que lhe permitiu uma vez pesquisar esses manuscritos em nome do
Departamento de Cultura, mas ele estava mais interessado em três pequenos
livros, que um dos ancestrais tinha feito uma leitura a parte depois de ter
seguido o dito manuscrito. Monsenhor
Cascot, não sabia da importância disso, quando quis comprar todo o lote, ao ser
para ele mesmo, já que o ministério não via nenhum interesse, se negou. Pensou consigo mesmo, esse velho vai morrer
dentro em breve, aí compro dos herdeiros.
Sabia que os mesmos estavam apertados, seria a primeira coisa que
fariam.
Só não sabia que eram muitos herdeiros, até que chegassem a
um acordo, ele já tinha desistido do mesmo.
A chamada era de um dos antiquários que tinha avisado, que
qualquer coisa que chegasse dessa família lhe interessava, não mencionou o
assunto. Era o dono de uma galeria de
antiguidades na Galerie du Passage a cotê du Palais Royal. Sabia que estava sempre sendo observado, ou
era uma obsessão sua, isso era uma incógnita.
Se arrumou bem displicente, como se fosse dar um passeio,
tomou seu tempo, saiu de casa com a gabardine aberta, mostrando suas calças
jeans mais antiga, desbotada naturalmente pôr o uso frequente, além da idade da
mesma, era uma original Lee, uma das primeiras a chegar a França das mãos de
seu irmão mais velho. Uma camiseta, por
cima, uma gola cisne, uma echarpe que combinava com seu casaco de quadros, um
tanto exagerado, nos tons do jeans, negro, vermelho, fechou a gabardine por
causa do vento que agitava seus cabelos compridos, gostava disso, lhe dava como
um movimento. Parou para tomar um
chocolate quente num bar que frequentava toda a vida, foi descendo a Rue de
Bonaparte, olhando as galerias de arte, parou para falar com um conhecido, atravessou a Pont des Arts, ali lhe pediram
para tirar a fotos com o celular de um grupo de japoneses, aproveitou para
olhar para trás se estava sendo seguido.
Passou por detrás do Louvre, atravessou a rua de Rivoli,
andou até a Rue de Marengo, entrou por ela, foi como em direção ao seu antigo
trabalho, mas seguiu em frente, subindo a Rue Croix des Petits Champs, apressou
o passo pois começava a chover, entrou como para escapar da chuva na Galerie
Véro-Dodat, pois o Galerista tinha outra loja ai, bem como um armazém no andar
de cima, subiu rapidamente as escadas, quase se colando, observou se alguém
entrava nesse momento na passagem.
Galerie Véro-Dodat, era uma passagem antiga, cheia de lojas,
galerias de arte, ou de antiguidades. Tocou
na porta três vezes. Lhe abriu seu amigo
de sempre, venha, venha, olhar essas maravilhas, em cima de uma mesa, estava
cheia de caixas. Foi examinando, nada
que lhe interessasse, na última finalmente encontrou os três cadernos negros de
couro, amarados juntos com uma fita laranja, quase soltou um suspiro. Lhe perguntou de vários pequenos livros, se
não tinha um rolo antigo, que era o manuscrito original. Não esse não quiseram vender, o doaram ao Ministério
de cultura, para que abaixassem a transferência da herança.
A ele não interessava o manuscrito, esses livros explicavam que
o próprio manuscrito, com certeza o chamariam, pois estava escrito em
sumério. Não soltou nem um pio,
negociou os livros, chegou a um bom preço, uma mixaria, se descesse por dentro
da loja, chamaria muita atenção, observou que não havia ninguém caminhando no
andar de baixo, foi andando olhando as galerias como quem não quer nada, quando
parou na frente da que tinha estado antes no andar de cima, quase dispara seu
coração. O idiota tinha colocado na
vitrine tudo que lhe interessava. Respirou fundo umas três vezes, abriu a
porta, foi pegando cada um com cara de interessado, olhando o preço. Até nisso o sujeito era um idiota, não sabia
o valor daquilo tudo.
Primeiro um livro mínimo, com capa de couro bastante sovada,
dentro era um manuscrito de um artista famoso, com os desenhos que mais tarde
seriam expostos em vários museus do mundo,
num total, tinha uns dez livros pequenos na mão, viu que do lado de fora
um casal olhava o que estava fazendo, fez como que não notasse, pegou um livro
que não tinha nenhum valor, o colocando diante dos outros, levou tudo ao caixa, pagou, lhe deram uma
bolsa, já com os três livros que o outro tinha descido na frente, usava uma
bolsa grande, mas não lhe cabia dentro.
Ainda ficou olhando alguma coisa, para ver se o casal fazia algum
movimento. No momento que entraram,
aproveitou saiu, mas os escutou perguntar se ele tinha os livros de Monsenhor
D’ Obriny Cascot, case saiu correndo, mas andando rapidamente para a outra
saída, pois sabia que era uma rua no sentido contrário, justo parava um taxi, o
fez levar-lhe até a Sorbonne, desceu do taxi, entrou num café que frequentava
muito com os amigos, sentou-se tomou um café tranquilamente observando o
movimento, encontrou dois amigos, que iam mais ou menos em direção a sua casa,
antes colocou na sua bolsa os livros mais importante, deixando somente na bolsa
da galeria, o que não tinha valor nenhum.
Chegou em casa sem incidentes, antes de entrar prestou
atenção, pelo horário, não havia sequer um turista na rua. Abriu a porta do apartamento, fechou todos
os fechos de segurança.
Correu para a biblioteca, estava tão excitado, que quase
jogou os livros que estavam em cima da mesa no chão. Foi tirando da sua bolsa os que tinha comprado,
abriu o pequeno, era um mimo, começou a rir as gargalhadas, pois o preço era
irrisório, tratava-se de um minúsculo manuscrito, explicando uma das melhores
obras de arte do mundo. Olhou os
pequenos desenhos, que falavam do significado de cada parte que compunha o
retrato. Quase beijou o pequeno livro,
os outros dois, eram como filigranas do século 10, o filho da puta tinha lhe
cobrado 20 euros pelo mesmo, na mão de um colecionista, poderia vender por
vinte milhões.
Agora o momento clave, respirou fundo, abriu o primeiro dos
três livros de couro, ali se começava a contar a história do manuscrito. A viagem ao fim do mundo, numa época que não
se tinha ideia do que existia realmente no Oriente Médio. Folheou o segundo, depois o terceiro, no
final do segundo até quase o final do terceiro se percebe de quem escreveu a
mão tremula. Porra, terei umas noites
maravilhosas, com esses meninos, se referia ao livro.
Resolveu antes de guardar, olhar o livro que não lhe
interessava, quase teve um enfarte, pois dentro dele dobrado estava o
manuscrito original. Ficou embasbacado,
pois se alguém procurava esse livro, que não valia nada, talvez por isso
tivesse escondido o manuscrito ali.
Deixou o livro de fora, mas foi até a estante, puxou um
livro, imediatamente, se abriu a porta que escondia o que estava atrás. Abriu um cofre na parede, colocou tudo
dentro. Observou a rua pois ali tinha um sistema de vigilância que funcionava
24 horas do dia. Uma de suas manias,
queria ter segurança. Nada demais.
Quando fechou a estante, viu no celular uma chamada do
galerista. O chamou por outro celular
guardado na gaveta. Este disse que o
casal estava atrás do livro com a capa como um tecido que ele tinha levado,
estavam dispostos a pagar qualquer preço.
Perguntou se tinham deixado o nome.
Sim me deixaram um cartão, disse um nome em italiano, agora
se lembrava do sujeito, por isso tinha sem querer ficado nervoso quando o viu
do outro lado do vidro na galeria. Esse
sujeito coletava material para a biblioteca do Vaticano. Devia ter combinado com alguém
que colocasse dentro o manuscrito, que ele compraria.
Na sua cabeça, surgiu uma ideia que lhe daria tempo de
resolver a questão. Disse que o tinha
dado de presente a um amigo, com quem estivera tomando café, que tinha se
interessado pelo mesmo. Uma lastima,
agora já não estava em seu poder.
Teria que andar com pés de chumbo, pois esses com certeza
iriam atrás dele. Mas examinou melhor o livro, viu que tinha uma parte, na
contra capa, solto, com um abre cartas foi abrindo com cuidado, até que viu um
papel dobrado ali. O retirou com muito
cuidado, pois era um papel frágil. Era
um código. Agora entendi, esse livro
devia ter sido um livro de códigos, tornou a abrir o mesmo, pegou a primeira
página, seguiu o código, decifrou uma mensagem que devia ter sido usada pela
resistência francesa.
Abriu a gaveta outra vez, tirou o celular, que era de pré
pago, chamou um seu amigo que era especialista nesse tipo de livro, ao
cheira-lo se sentia um perfume antigo de mulher. Normalmente funcionava assim, era um livro de
romance feminino, com uma capa sugerente, mas usava-se para passar mensagem.
Lhe explicou o que tinha acontecido. Mande-me teu filho vir buscar. Seu amigo vivia a dois quarteirões dali o
rapaz era atlético, com certeza saberia se defender.
Mesmo assim, colocou o livro dentro de uma embalagem de
chocolates que estavam na cozinha, numa bolsa de supermercado.
Viu quando ele chegou, que chamava a campainha, olhou se não
estava sendo seguido, desceu rapidamente, lhe entregou a bolsa, tinha um vinho
junto, sabia que seu amigo apreciava.
Subiu outra vez, agora esperaria a noite para se esconder,
trabalhar.
Mal podia conter a sua ansiedade, talvez fosse isso que lhe
tivesse estragado quando negociou com o Monsenhor, deve ter desconfiado de
alguma coisa, mas reconheceu que não sabia o valor dos três livros de couro,
pois além de não entender a letra, não conhecia a língua.
Foi olhar a geladeira, para ver ser tinha alguma coisa para
comer. Merda nenhuma, pensou tinha duas
opções, uma era ir comer num lugar que ia muito, aproveitar passar pelo
supermercado, comprar coisas para comer de noite, bem com um suplemento de pães
do Paul’s, ai teria inclusive para o café da manhã, olhou para ver se tinha
café, o que precisava para o dia seguinte.
Foi até a Rue de Buci, comeu tranquilamente, depois foi ao
supermercado comprou o que queria, em seguida ao Paul’s. Voltou para casa, parando para comprar papel
para escrever, isso fazia sempre.
Tinham tentado forçar a porta de baixo. Mas claro, era impossível, era das antigas,
super reforçadas, era mais fácil entrar pela outra rua que dava acesso aos
apartamentos dos irmãos, mas claro havia que saber andar no labirinto como ele
chamava o corredor, pois dava para os outros apartamentos.
Teria que entrar ali de qualquer jeito, resolveu fazer uma
coisa, chamou a polícia, dizendo que estava na rua, parecia que tinham tentado
forçado a entrada de sua casa, pediu
para verificarem as câmeras de vídeo da rua, para saber se tinham visto.
A resposta foi imediata, sim, pegamos a pessoa, se quiser,
pode vir até aqui para ver quem é.
Foi até a delegacia, pois se entrasse em casa, estaria
contaminando qualquer prova. Não deu
outra era o homem que tinha visto na livraria.
O que foi que ele disse?
Bom alegou que se enganou de casa, que não é daqui, quando
forçamos muito, disse que deveríamos chamar a arquidiocese de Paris, justo
quando o senhor chamou, por isso esperamos.
Esse sujeito é do Vaticano, caça livros antigos, eu devo ter
comprado hoje algum que ele quer, por isso estava tentando entrar em minha
casa.
Posso falar com ele?
Entra junto comigo.
Ele entrou junto com o inspetor, começou a falar com o outro
em italiano, porque tinha tentado invadir sua casa. Agora sabia que a mesma era
bem vigiada.
A cara do outro, era uma incógnita. Lhe perguntou pelo livro?
Qual dos livros, hoje comprei mais de dez livros?
Um com uma capa de tela.
A o com um código? Não é, está bem protegido, virou-se para o
policial, creio que é um livro que se usava de código com os que defendiam
nossa pátria na época da guerra. Por
isso passei para uma pessoa especializada, para saber se era usado pelos
alemães, ou pelos franceses. Depois o
enviarei para o Ministério de Cultura.
Só tinha isso no livro?
Sim, por que devia ter alguma coisa mais?
O homem se perturbou, disse que não, filhos da puta, me
enganaram. Pediu que fizessem a chamada. Soltou uma quantidade de palavrões imenso em seguida.
Voltou a perguntar, o que deveria ter dentro do livro?
Isso não lhe interessa, fique com aquele seu livrinho de arte
que já vale bastante.
Pediu para falar com o antiquário, para saber se tinham feito
alguma coisa com ele.
Este contou à polícia que tinham revisado toda a caixa que
ele tinha comprado dos herdeiros, perguntavam por um manuscrito, lhes disse que
os manuscrito tinham ido todos para o Ministério de cultura. Que eu não tinha nenhum, furioso virou a
caixa no chão para ver se não estava escondido, quando ameacei chamar a
polícia, foi embora.
Bom o deixaremos de molho aqui, avisaremos a Interpol, ela
que avise a arquidiocese, pois se um sujeito vem a França procurar, fazer
escândalos, em nome da Santa Sede, que os encarregados disso, o fritem.
Um carro da polícia o levou a casa, tiraram fotografias de
porta, embora não tivesse tantos estragos, pois a mesma era como de um castelo.
Iria mandar arrumar, quando chegou ao seu apartamento, viu que o telefone fixo
tocava. Era o antiquário, lhe disse que
o melhor que ele fazia, era sair da cidade, isso era uma coisa do Vaticano com
os herdeiros. Mais seguro não estar no
meio disso.
Creio que lhe prometeram um manuscrito, que devia estar
escondido num livro.
Por isso sacudiram todos os livros para ver se caia
algo. Mas eu lhes disse que não vi
papel nenhum em nenhum livro.
Ele ficou quieto. Faça
o que te digo, avise somente a polícia para aonde vais.
Ele tinha comprado os livros sem nota fiscal nenhuma, se a
Interpol aparecesse, ele mostraria mais livros do que podiam imaginar, passou
os olhos pelas paredes. Não havia nenhum
espaço nas estantes, todas fechadas com portas de vidros. Acessou a torre de dentro do armário, viu como
o homem chegava sozinho, tirava umas gazuas da cintura, tentava abrir a
fechadura, o carro da polícia chegando.
Guardou o que tinha comprado para a noite, se jogou numa
chaise longue, para descansar, folheando um livro que estava traduzindo do
aramaico, para o francês atual, O livro
era de contos, muito antigo, o estava fazendo para uma editora que o tinha
comprado.
Mas sua cabeça estava nos que estavam guardados. Acabou dormindo, fez uma siesta longa.
Esta noite acabou o livro de contos, num contexto
generalizado, não era um trabalho complicado, restava saber como a editora ia apresentar
o livro, pois este tinha belíssimo trabalho de gravuras, detalhando cada
capítulo, uns desenhos seguiam nas páginas interiores. Mas claro isso não era
um problema seu, ele só estava fazendo a tradução.
Se lembrou a anos atrás quando editou um livro a briga que
tinha tido com os editores, que queriam usar uns desenhos baratos no
mesmo. Acabou trocando de editora. Era um livro usado por curiosos, por se
tratar de uso do desenho que simbolizavam a história contada.
Quando o trabalho só era traduzir ele lavava as mãos. Tinha visto recentemente uma história de
Sherazade, com desenhos parecidos com os de Disney, um horror, alegavam que era
para atrair publico jovem. Uma merda
pensou.
Abriu o livro, pequeno, foi direto a página final, para ver
se tinha alguma assinatura, A.D. era o que ele pensava, viu que podia tirar a
capa do livro. Encontrou dos pequenos
papeis do tamanho do livro, meio dobrados, trouxe uma imensa lente de aumento,
iluminada para dar uma olhada. Era um
alemão arcaico. Conseguiu traduzir o
texto depois de várias consultas, era uma pequena carta de amor, A.D, dedicava
esse texto ao seu amado. Porra, nem
sabia que ele tivesse uma relação assim.
Fez o mesmo na parte dianteira, ali não tinha nada, com a
lente, começou a escrever numa folha de papel, o texto original. Talvez por isso não chamasse tanta atenção
era um alemão muito antigo, quase nenhuma palavra se usava hoje em dia,
consultou, devia ser da região de Nuremberg, aonde Dürer tinha vivido, seu nome
que ninguém usava corretamente hoje em dia era Albrecht Dürer, falava de um grande amor, que lhe tinha
inspirado para fazer seu autorretrato aonde o fundo pela primeira vez não
interessava, o mais interessante ele vai descrevendo a si mesmo, meus olhos
quando te veem querem saber a realidade dos teus sentimentos, se são como os
meus, a boca esta mais carnosa, como se fosse beijar uma pessoa, a posição dos
dedos, estou sereno, te esperarei sempre. É como um mensagem, isso descobre nas
páginas seguinte, como se fosse um bilhete, venha te espero. Quero que o veja
comigo, será para sempre uma lembrança do meu amor por ti. A partir dessa
página, é como se fosse um oratório, ou pequenas poesias que falam de amor. No
final a desilusão ao saber que a pessoa amada está morta, numa batalha.
Busca ardentemente alguma coisa que fale de sua viagem a
Itália, das pessoas que pode ter convivido ali, mas não encontra nada. De repente, vê uma simples menção, de que ele
chegou acompanhado de um militar, que basicamente o acompanhou a viagem inteira
dentro de terras italianas. Nada mais.
As ilustrações que encontra desse autorretrato, é como se
faltasse algo. Resolve escrever essa
mesma madrugada a ALTC Pinakothek de Münich, para saber se pode estudar o
quadro, descobri algo interessante a respeito desse quadro. Agora será esperar pelo resultado.
Faz um scanner de cada folha, o desenho dos olhos em
miniatura, como ele imaginava estarem no quadro, para te olhar sempre, estava
escrito embaixo.
Depois, lhe vem na lembrança um outro autorretrato, de 1505,
em que se desenha nu, descarnado, com cara de infeliz, talvez frustrado, tem
logica, escreve a Abadia aonde está.
Agora paciência para esperar respostas.
Finalmente, as 8 da manhã se cai rendido na cama, para
dormir. Deixa ao celular sem som, bem como o WhatsApp. Necessita recuperar-se
dessa noite insone. Quando desperta por
volta do meio-dia, pois a campainha da porta embaixo não para de tocar. Atende, é a polícia, na pessoa do inspetor
que o tinha chamado no dia anterior.
Está furioso, pois a Interpol tinha soltado o sujeito por estar ligado
ao Vaticano. Alegam que o mesmo é um
pesquisador.
Filhos da puta, solta, vai fazer um gesto de desculpa, mas o
inspetor concorda com ele, sempre é assim, ficam impunes. Odeio tudo relativo a igrejas, seja qual
for.
Justo nesse momento lhe chama diretamente de Münich, pede
desculpa, faz um gesto para o inspetor sentar-se, começa a falar em
alemão. Diz que está interessado em
analisar o quadro, bem como se possível, passa-lo por um scanner. Lhe perguntam se encontrou o livro de estudos
desse quadro. Diz que sim, que posso lhe
mandar uma cópia ampliada do mesmo.
Marcam para três dias depois, pois necessitam retirar o
quadro, bem como conseguir o scaner com os restauradores.
Quando desliga, diz que justo quando comprava esse livreto,
diz a medida do mesmo, foi quando vi o italiano me olhando do outro lado da
vitrine. Não sabia se era esse ou
qualquer outro dos que comprei. Mas era
impossível ter alguma coisa dentro. É
minúsculo.
Posso perguntar de que se trata?
Sim, é sobre um autorretrato de Albrecht Dürer, ou Alberto
Durero, que pintou-se a si mesmo em vários quadros, este talvez seja o único
que não tem fundo, é mais um retrato que creio que pensava em mandar para uma
pessoa que ama. Depois de detalhar o
mesmo, o que significa cada detalhe, umas quantas poesias, ao final parece que
tem a informação que a pessoa morreu numa batalha.
Então trata-se de outro homem, nesta época devia ser
terrível.
Não sei, creio mesmo que quase todos os pintores dessa época,
tinham romances com seus jovens aprendizes, ou os que posavam para eles.
O inspetor começou a rir, que pouca vergonha, isso tudo é de
inveja, já queria eu ter um harem.
Assim sem mais se declarava abertamente gay.
Sua cara de surpresa deve ter feito que o outro notasse.
Apesar de saber seu nome, você não sabe do meu, Alcides D’
Orbrey, apesar do nome não passo de um inspetor de polícia que ama a arte.
Disse que não tinha tomado o café da manhã, que tinha acabado
de se levantar, trabalhei a noite inteira.
O convidou para o acompanhar a cozinha, ele foi admirando a casa.
Se sentou na mesa da cozinha como uma pessoa normal, ficaram
conversando, acompanho sua carreira a muitos anos, tenho o seu livro. Alguns que traduziste, sei que fala várias
línguas antigas.
Meu pai dizia suspirando que era um talento desperdiçado, por
ter estudado uma coisa que já não interessava a ninguém, mas sobrevivi a vida
inteira, ganhando o pão de cada dia, ou fazendo traduções ou convidado para
alguma escavação.
Sinto uma ponta de inveja de ti, fui obrigado a estudar
direito, mas odiava, acabei entrando para a polícia, depois de estar anos na unidade
especial do exército. Me sinto
estagnado, embora tenha um bom cargo nessa delegacia, odeio o meu trabalho, por
vezes é frustrante.
Lhe entregou uma xicara de café, mostrou o açúcar, mas ele
tomava só como ele, gostava de um café bem forte, principalmente de manhã.
Pelo que vi, tua coleção de livro é imensa?
Sim, quando dividimos o edifício, fiquei com essa parte, que
tinha a biblioteca de proposito, cada um de nós escolheu os livros que gostava,
eu até gostei, pois assim pude colocar todos meus livros, hoje já necessitaria
de outra sala, pois isto ficou pequeno.
Além da galeria pequena no térreo.
Achei muito interessante, o cartaz que tem, o número do telefone,
atendo se for possível.
Sim, tive uma pessoa trabalhando fixo na galeria, mas queria
me controlar, uma coisa que não suporto.
Prometia que atenderia alguém pessoalmente que estava interessado em
alguma escultura, eu perdia a paciência, pois ao pé da mesma estava escrito,
não esta a venda. Na verdade, uso mais
para mostrar as obras, não vivo disso, é a minha coleção particular, que fui
trazendo de vários lugares que estive.
Um dia desses me mostra, eu tenho uma pequena coleção, mas
tudo de esculturas pequenas, se fossem grande, teria que viver em outro
lugar. Meu apartamento é minúsculo com
relação a este. Para quem passou tanto
tempo numa unidade especial, aonde nunca sabes aonde estarás, na hora de montar
uma casa, é impossível. Tens metido na
cabeça, que de uma hora a outra tens que partir. Levei muito tempo para me acostumar a vida
civil, não podia sequer ter um relacionamento.
Agora que posso, não encontro pessoas interessantes, sem que ele
esperasse, soltou, queres jantar comigo essa noite. Não estou de serviço, queria te conhecer.
Ficou sem ação. Parou
pela primeira vez, ficou olhando para o homem que estava na sua frente. Tinha
um cabelo quase rente a cabeça, um olhar penetrante, um nariz aquilino, uma
boca muito sensual, uma cicatriz atravessava o rosto no lado direito.
Ia dizer que porque não agora, mas o celular dele tocou. Falou rapidamente, depois se desculpou tenho
que ir embora, precisam de mim.
Tirou um cartão, sorriu passando a língua pelos lábios, aonde
jantamos?
Me chama quando termine o serviço, aí marcamos, conforme a hora.
Ficou curioso em conhecer o Alcides, pois em nenhum momento
tinha notado nada. Começou a rir. Acabou se levantando, fazendo mais um café,
bem como um bom sanduiche. Depois de
comer se meteu embaixo do chuveiro, tomou um banho como Deus manda.
Trabalhou o resto do dia, terminando coisas que tinha
estagnadas a algum tempo, não queria que nada o interrompesse quando começasse
a trabalhar.
Mais tarde falou com seu amigo, para saber como ia a coisa
com o outro livro. Sim era um livro de
código. Alguma mulher que estava ligada
a algum oficial alemão, para escutar mensagens, vai até a página 20, depois
nada, o mais interessante, é que cada página marca um dia, ou a descobriram não
dá para saber o que aconteceu.
O último texto, é de dias antes da partida dos alemães, fala
de um que ficou, se escondendo sobre o abrigo do Cardeal da época. Pelo que vejo, não voltou a Alemanha.
Muito interessante, isso, já falaremos no assunto, amanha
podemos marcar de vires tomar café aqui em casa de tarde, assim podemos falar
claramente no assunto. Mas não venha
com o livro, fique com ele por enquanto.
Quem seria esse filho da puta, com certeza quem deixou o
livro na casa do Monsenhor Cascot, isso ia verificar.
Começou a se questionar sobre o manuscrito, bem como os três
livros, podia estar de posse do Monsenhor Cascot, até agora não tinha pensado
por essa linha de pensamento.
Quem seria esse alemão.
Na época estava procurando o Santo Grial para salvar o Império de Hitler,
será que teria alguma coisa a ver com isso, teria que ler todas as mensagens
para saber.
Estava tão centrado nisso, que se esqueceu do jantar. Foi quando Alcides chamou, a que hora nos
encontramos e aonde?
Porra, tinha se esquecido.
Pensou, preciso de um lugar tranquilo aonde se possa conversar, se deu
conta que com tudo isso não tinha almoçado.
Marcou com ele no Le Prince
Racine, na Rue de Racine, estava perto, ali se comia bem, se podia conversar.
Conhecia os donos, sempre tinha um lugar para ele, de
qualquer maneira telefonou, reservando uma mesa para duas pessoas.
Chegou primeiro, ficou conversando no balcão com a dona do
local, contando as novidades, fazia tempo que não ia por lá. Quando
Alcides chegou, foram se sentar, puxa passei aqui sempre rapidamente, nunca
entrei para comer.
É um lugar antigo, mas se come bem, podia ter marcado contigo
em algum lugar mais perto de casa, mas todos me conhecem demais, cada cinco
minutos alguém se aproxima para conversar, impossível ter uma conversa a parte.
Bom, gostei do ambiente, veio a senhora, perguntou o que ele
queria comer, carne, peixe ou outra coisa.
O senhor Denis, já me disse que esta com fome, não almoçou, sempre é
assim, não se cuida. Já sei o que ele
vai comer.
Ela sugeriu o salmão, está muito fresco, posso servir um
Tartar au Saumon, ou um posta, como queira?
Gostei da ideia do Tartar, se vier com uma pequena salada
melhor.
Ele tinha pedido uma posta bem tostada, como gostava, além de
salada.
Pediram vinho, ia pedir água, mas ela já lhe conhecia bem
demais. Teu vinho preferido bem como
água gelada.
Era um vinho que estava ficando cada vez mais difícil, um
Muscadet, esse tipo de vinha tinha tido problemas, a última vez que esteve em
Toulouse, comprou uma boa quantidade, estava guardado na parte detrás da
galeria, embaixo de sua casa.
Bom, gostei do vinho, vejo que tens bom gosto, não só para
vestir-se, como para beber, espero que para mais coisas.
Falas as coisas em tom de brincadeira, não sei se devo levar
a sério tudo que falas.
A quanto tempo não tens um relacionamento sério?
Uau, isso sim é ser direto, faz realmente muito tempo. As vezes quando me perguntam o que faço se
desinteressam no ato. Quando estava no
ministério, se aproximavam pensando em subir na carreira. Mas eu cortava logo de início. Eu podia ter subido puxando o saco, mas nem
pensar, tinha bagagem. Já trabalhava
nessa época na Sorbonne, mas me pediram emprestado por causa das línguas. Agora pedi para voltar a dar aulas, me
aconselham pela idade, fico puto quando falam assim, que eu dirija a parte de
pós grado em línguas mortas, normalmente são dois gatos pingados, que vão
apresentar o trabalho. Mas me dá via
livre para fazer pesquisa que queira.
Pronto, já sabe tudo sobre mim.
Sei nada, mudaste de assunto de romances, para trabalho.
Começou a rir, a verdade é que não tenho muita vida romântica
a séculos, vivo para o meu trabalho, as pessoas não entendem. Imagina amanhã a pessoa me chama, para
sair, estou tão enrolado com que estou fazendo, que sou capaz de perguntar quem
está falando.
Caralho, eu imagino sim, já aconteceu comigo.
Pois é hoje estava tão enrolado com a historia do tal livro
que eles queriam, se trata realmente de um livro de código. Deve ter pertencido a alguma mulher que
passava mensagens para os Partisans, a última mensagem fala que o dito cujo se
refugiou na arquidiocese, resta saber agora se Monsenhor Cascot, trabalhava lá
nessa época para que o livro fosse parar lá.
Além de saber se essa mulher seguiu viva, me dá mal espinha que não.
Gente, vamos trocar de trabalho, porque tens pinta de mais
detetive que eu mesmo.
Alcides de aonde eres, não tens jeito de ser de Paris?
Não, sou de Albi, vim para cá para servir o exército, mas
quando entrei, por como me saia bem nas coisas, me chamara para a brigada, lá
fui eu, por mais de 10 anos, rodando o mundo.
Aqui só tinha um quarto no quartel, parava tão pouco tempo aqui, que não
valia a pena ter casa, depois entrei para a polícia diretamente como inspetor,
o que me causou problemas, porque parecia que tinha pulado a ordem. Demoraram para entender que tinha
experiencia, mas sou honesto, não gosto muito.
Voltei a estudar, mas é quase impossível com os horários que
tenho. Como tu, não posso marcar nenhum compromisso, pois se acontece alguma
coisa, as vezes mal posso avisar a pessoa.
Ficaram depois desfrutando de um bom conhaque, foram
caminhando para sua casa, tranquilamente, o convidou para subir, com um sorriso
matreiro, Alcides aceitou, para tomar último copo. Mas disso nada, acabaram na cama, no final
estava sorrindo um para o outro, pois tinha sido muito bom.
Porra, não me enganei, sabia que contigo seria bom demais, ia
se levantar para se vestir quando Denis soltou, será que me enganei, vais
embora.
Como não me convidaste para dormir, ia.
O arrastou de novo para a cama, ficaram um tempo falando da
vida, dormiram abraçados, como queriam.
Despertaram com o celular do Alcides.
Porra logo cedo, num dia que estou livre?
Tinham cometido um crime, tinham assassinado um dos Cascot,
talvez o que tivesse vendido o manuscrito para o Italiano. Que merda logo de manhã, podia ter esperado
mais um pouco.
Tomaram café em pé na cozinha, te conto depois o que
descubra.
Acho que tem alguma coisa a ver com o livro do código,
ficaram de me trazer hoje as páginas com as mensagens, depois te passo uma
cópia, para assim podermos seguir.
Se deram um beijo demorado na escada antes de abrir a porta,
não me esqueça senhor Alcides, sei aonde trabalhas, posso ir lá fazer um
escândalo por abuso de autoridade.
Foi tomar um bom banho, pois tinha que pensar como ia
trabalhar em Münich.
Procurou uma foto do quadro que tivesse boa resolução, acreditava
que por baixo da pintura de fundo existia alguma coisa.
Depois de se vestir, deixou uma maleta à mão, para preparar
sua bagagem.
Quando Nicolau, o amigo para quem tinha mandado o livro,
chegou com os papeis que tinha montado as mensagens, bem como cópia da página
original. Se sentaram com um copo de
vinho, lado a lado na mesa, foram analisando os textos.
Logo no primeiro, a mulher dizia, que estava preparando algo
muito estranho. Depois com espaço, dizia
que tinha retornado do sul de França, com cara de poucos amigos, que escondia
algum segredo.
Pois a seguinte, falava de como a tropa ia se recolhendo, bem
como roubando coisas, para levar para a Alemanha, significava uma retirada.
Depois fala dos contínuos encontro com Monsenhor Cascot, que
ela representa como uma cruz Cascot, na arquidiocese de Paris. Nas dois últimas, fala que o coronel, separa
livros, algum rolos de papel, que ela não sabe o que é, coloca numa caixa, leva
para Cascot.
A coisa acaba aqui, nas páginas seguintes, não há indício
nenhum de que tenha tido continuidade.
Se este livro estava entre as coisas de Cascot significa que ou ela
morreu ou desapareceu no mapa. Teríamos
que falar com alguém da resistência.
Mas o complicado é que não sabemos quem é o Coronel. Não menciona seu nome, a não ser que ao
mesmo tempo estivesse vigiando Cascot.
Teríamos que saber se era colaboracionista, ai sim podíamos ligar uma
coisa na outra.
Me dê o nome inteiro de Cascot, assim posso falar com meus
conhecidos da resistência que tem um vasto arquivo sobre isso, talvez se
descubra quem era o coronel.
Nicolau era bem relacionado, por justamente ser um pesquisador dessa
época. Os dois tinham se conhecido na
Sorbonne, eram professores lá.
Telefonou, para um conhecido, lhe falou o nome do Monsenhor
D’ Obriny Cascot.
Lhe responderam em seguida, era uma pessoa negra tinha sido
expulso dos jesuítas, por suas ideias racistas, foi antes mesmo da invasão um colaboracionista,
seu auge justamente na arquidiocese foi nessa época, escondeu vários na Paroquia
Des Blancs Manteaux. Mais tarde
Monsenhor Cascot é expulso daí por seu comportamento. Ficou rico de repente, não se sabe como,
se fala que doou aos Nazistas uma série de manuscritos que estavam depositados
no arquivo da Igreja.
A última ordenação do pequeno seminário que funcionava junto
a igreja, ordenou, justo depois da guerra, contra a vontade dos outros
seminaristas um alemão, que hoje em dia é Cardeal.
Agora a coisa estava tomando forma. Resta saber agora, que cargo o cardeal
ocupava durante a guerra.
Sabendo disso, voltamos a uma mensagem em que ela fala que
ele tem um comportamento estranho, talvez insinue que não mantinha relações
sexuais.
Procuraram pela internet, dados sobre o cardeal, que agora
ocupava um cargo alto na cúria romana. Depois da Guerra, retornou a Alemanha, já como
padre de uma paroquia marginal, fez um trabalho exemplar no mesmo. É como se não houvesse nenhum registro
anterior a sua ordenação como sacerdote.
Pode estar aí o problema, ou mudou de nome, porque se não
existe um registro antes, pode ser que Cascot tenho lhe conseguido documentos
falso.
Porque esse homem depois de um certo tempo, do final da
guerra é afastado de seus cargos, mas mantendo seus títulos?
Alcides chamou justo nesse momento. Contou que tinham assassinado o tal herdeiro
de Cascot, com muitas apunhaladas, o mais interessante, lhe desenharam uma cruz
na costa, com o a mesma arma que o matou.
Se podes passe por aqui, que temos um elo de ligação com
isso, o porquê.
Pelo menos não tinha nada a ver com o manuscrito, o que
buscava pode ser justamente isso, esconder o passado do Cardeal.
Alcides chegou, lhe apresentou a Nicolau, contou o que tinham
descoberto. Pode ser que o herdeiro
tivesse recebido dinheiro para lhe passar o tal livro, bem como o código, mas o
raro é que não fala em nenhum momento o nome da pessoa.
Contaram toda a historia que já tinham descoberto, de
Monsenhor Cascot, se ele basicamente foi expulso, por ter ajudado os
alemães. Não conseguimos, encontrar nada
a ver com o nome atual do cardeal.
Cascot, viveu muito bem em sua casa, eu quando fui visita-lo,
fiquei impressionado, pois estava se livrando de tudo para seus sobrinhos. O código estava escondido na capa do
livro. Talvez seja medo do cardeal, ser
ligado a esse assunto do passado.
Resta saber se este que morreu, fez algum contato com o
Vaticano, ou com algum número de Roma.
Encontraram seu celular?
Nada, alguém vasculhou a casa inteira, teve tempo, pois a
hora da morte, é mais ou menos as 10 da noite, só descobriram o cadáver agora
de manhã. A
pessoa teve muito tempo para procurar.
Não existe nenhuma câmera nas proximidades da casa.
Resta saber se o sujeito que é o investigador do Vaticano,
embarcou mesmo para Roma, se acionas a Interpol, a mesma vai deixar passar por
causa que já conhecemos.
Alcides foi embora, para pesquisar essas coisas, na saída lhe
disse que era seu Watson, que lhe estava ajudando. Devo vir de noite, ou pensas trabalhar?
Tenho que me preparar para ir a Münich, viajo amanhã, cedo,
seria agradável despedirmos essa noite. Lhe deu um beijo demorado.
Nicolau estava rindo, esses cochichos, parece coisa de
amantes.
Ficamos rindo os dois.
Contei o que ia fazer em Münich, se for real o que penso, poderei ganhar
um bom dinheiro vendendo o livreto, ou bem para o museu ou para um
colecionista.
Nicolau, se despediu, dizendo que continuaria a busca, junto
aos seus conhecidos desta área.
Alcides veio de noite, trazendo uma garrafa de vinho, comeram
algumas coisas, ficaram conversando, ele já tinha preparado sua bagagem.
O assunto era o tal assassinato, tinham tido tempo de limpar
a casa a consciência, nem impressões digitais do morador, existiam. Era como se uma doméstica tivesse se dedicado
a limpar a casa a consciência.
Vingança, pelo livro, ou em que tinha se metido esse
herdeiro, os outros alegavam não saber de nada, eram três primos, que não se
relacionavam entre si. Inclusive
alegavam conhecer muito pouco Monsenhor D’ Obriny Cascot, o mais próximo a ele,
era justamente o assassinado.
Foram para cama, fizeram sexo, eram dois adultos, com
vivencias dispares, mas se encaixam entre si.
No dia seguinte de manhã o levou até o aeroporto de Orly,
para embarcar a Münich.
Foi para o hotel reservado, em seguida para o museu, se
identificou, o levaram ao gabinete do diretor com quem tinha falado.
Temos tudo pronto, mas se sentaram mostrou a eles as
ampliações, falou do pequeno que era o manuscrito, como um pequeno livro, de
não mais de cinco por dez centímetros de altura, o que ele estranhava, era o
texto, os pequenos desenhos que mostravam um fundo original, diferente do
quadro. Quando ampliei a foto mais
nítida que encontrei, vi que há alguma que outra diferença no fundo liso.
Foram os dois olhar o quadro que estava numa sala especial,
dedicada a restauração. Com as lupas puderam ver que sim, havia como uma
textura no mesmo. Os técnicos começaram
a trabalhar. Depois de retirada a
moldura, encontraram preso em uma lateral, entre a tela, a madeira da moldura,
um papel dobrado. Era tão antigo que dava medo abrir, podia se romper, chamaram
imediatamente o técnico em trabalho de papel, esse colocou na bolsa, para levar
para abrir o papel. Começaram o processo de scaner, na primeira
passada se via, realmente duas construções.
A primeira parecia como cobrindo a parte traseira da cabeça, o Duomo da
Catedral de Florência, o outro a torre inclinada de Pisa, claro as duas
construções era muito anterior ao quadro, sobre a viagem do pintor se falava
que tinha parado nesses dois lugares para apreciar as obras arquitetônicas.
Mais duas ou três passadas do scanner, isso ficou confirmada,
bem como por baixo do rosto como uma caveira, resolveram escanear mais
profundamente essa parte. Era como se a figura estivesse envelhecida. Pensou no autorretrato em nu do pintor,
foram buscar uma foto, realmente parecia a mesma. Seria então que esse quadro não era o
original.
Em seguida veio o especialista em papel, tinha aberto, o
papel ainda estava húmido, por isso tinha feito uma foto, fizeram a ampliação
do mesmo, era a mesma letra. Sentou-se
para fazer a tradução. Fiquei com uma
cópia, já que não tenho nenhum desenho do teu rosto amado, estava datado da
mesma época do autorretrato em Nu.
Então esse não era um original, o quadro original deve ter chegado ao
seu destino, mas aonde estaria, já ninguém sabia quem era a pessoa destinada.
O diretor do museu estava atônito. Não podiam tirar a capa de pintura que cobria
o fundo, com o risco de adulterar o que as pessoas vinham ver. O jeito seria pesquisar, para saber quem era
o destinatário do quadro.
O pouco que havia sobre ele estava em Nuremberg, marcaram de
no dia seguinte irem os dois até lá.
De noite falou com Alcides, contando que tinha se metido numa
enrascada, imagina, a séculos, que dão como um original, agora descobrimos que
esse que está no museu, é uma cópia feita pelo próprio autor. Era tudo um pouco louco. Além de ter sido pintado posteriormente,
havendo por debaixo um estudo para outro quadro.
Não te digo, terei que passar o papel de Sherlock Homes, para
ti, ficando com o de Watson, riram os dois.
Alcides ainda contou, estamos estagnados, não há indícios que
o italiano saiu da cidade, bem, como a Interpol não nos ajuda, ao contrário,
cria problemas, se eles liberaram o homem, qual o problema, estiveram no lugar
do crime, tampouco seus especialista encontraram nada. A não ser a porta dos fundos, que já
sabíamos, por onde entrou a pessoa.
Não posso falar no resto, com o risco de irem atrás de ti, do
Nicolau. Temos que esperar mais um pouco
para ir por este lado.
Depois falou com o Nicolau, tudo que encontrei, foi
justamente isso, uma das mulheres, estava seguindo uma pista, que envolvia o
Monsenhor, que ele estava envolvido em venda ilegal de objetos da igreja, no
caso manuscritos que falavam no Grial.
Ele estava tranquilo, pois o manuscrito que estava com ele,
tinha a ver com algo sobre Maomé, não com Jesus.
Acreditava cada vez mais na historia sobre o tal cardeal
Alemão.
Em Nuremberg, depois de pesquisarem, descobriram quando muito
que em Florência, tinha conhecido uma família importante, que esta lhe fez
acompanhar por toda cidade, além de Pisa, por um Capitão de sua guarda, mas em
nenhum momento menciona nomes. Esse
mesmo o acompanha a Roma. Apenas numa
crônica da época se fala da sombra que acompanha o pintor por todos os lados,
no caso o militar. Família importante
dessa época eram os Médici, mas não constava nenhuma obra do pintor alemão em
suas coleções. Teria que se ir a Itália
para saber.
Disso se encarregaria a direção do museu, com os da Itália,
iriam pesquisar a respeito. Queriam
saber quanto ele queria pelo pequeno manuscrito?
Espero uma oferta do Louvre, mas vocês podem oferecer, claro
darei prioridade, porque o quadro está aqui.
Já lhe faremos uma oferta.
Nesse dia, recebeu uma chamada do Alcides, tinham tentado entrar na
galeria fechada, mas novamente a polícia que estava de sobre aviso, correu, não
aconteceu nada, apenas conseguiram abrir a porta. Desta vez foi uma mulher, talvez a que você,
disse estar junta com o Italiano.
Ele conseguiu tomar o último voo, para Paris, Alcides o foi
buscar no aeroporto, depois de um bom beijo, tomaram rumo a sua casa.
Realmente tinha um carro de polícia estacionado na frente da
galeria. O que tens atrás da porta, que
impediu que a pessoa entrasse.
Venha, vamos descer por dentro, mas antes quero verificar a
minha biblioteca. A porta estava fechada
como tinha deixado, se alguém tivesse aberto ele saberia.
Entraram no corredor que levava aos outros apartamentos, numa
porta pequena justo no final, se descia uma escada que dava a um pátio, deste
se entrava por detrás na galeria.
Acendeu as luzes, na parte do fundo, era mais uma adega, ali
estavam seus vinhos preferidos, passaram por uma sala, que estava cheia de
esculturas de todos os tamanhos, de vários lugares do mundo. Minha coleção particular, nada aqui vale
demais, talvez valha pela diversidade.
Na parte realmente da galeria, que era pequena, só o vidro da
vitrine, chamava atenção, tinha uma rachadura, a porta estava forçada, mas quem
o tinha feito, não sabia que na parte de cima, bem como na debaixo, tinham duas
barras grossas de metal, seria quase impossível abrir essa porta sem um grande
escândalo.
Revisaram a da entrada de sua casa, estava igual, nada
demais.
Bom fico tranquilo, pelo menos não levaram nada. Sabe o que vou fazer, o galerista me passou o
número do celular da pessoa, vou chamar.
Vou dizer que o código, bem como o livro estão em poder da polícia
cientifica, já encontraram o nome de uma pessoa importante do Vaticano nele.
Vamos ver o que acontece.
Atendeu uma voz de mulher muito modulada, perguntou quem lhe tinha dado
esse número, ele foi direto ao assunto, falando em italiano, vocês forçaram a
entrada em minha casa duas vezes, eu avisei que não tinha o livro, o mesmo
estava sendo decodificado, já sabemos através da sociedade dos Partisans, que
uma mulher espionava para eles, um coronel, que mais tarde virou cardeal, bem
como o Monsenhor Cascot. O livro servia
para ler as mensagens, isso já foi feito está em mãos da polícia. Nem precisavam ter matado o herdeiro do
Monsenhor Cascot.
Bom isso não posso me responsabilizar, quanto quer pelo
livro, bem como o texto.
Já disse está em mãos da polícia, não penso estar envolvido
nesse assunto. O Cardeal que se cuide,
pois tudo será enviado ao Papa. Desligou
em seguida.
Agora vamos ver quem é a mulher que tentou entrar.
Essa ele não tinha visto em momento algum. Quando
falou que ele não tinha o livro, ela sorriu, cai num conto, me pagaram para
entrar em tua casa, encontrar esse livro, bem como o código.
Ninguém me avisou da câmera, não vi nenhuma.
Por falta de uma, tem duas, inclusive uma da minha própria
casa, bem como da galeria, saberíamos sempre quem estaria forçando.
Filhos da puta, entregou imediatamente quem lhe tinha
contratado. Ainda assim conseguiram
capturar a mulher que estava com o Italiano, era alemã, embora vivesse no
Vaticano. Este continuava desaparecido. Ela só disse num sorriso enigmático, que
quem errava com o Cardeal encontrava seu fim.
A polícia contactou com o Vaticano, mas o Cardeal, já não
estava lá, estava na Alemanha, se aposentava.
Se houvesse uma possibilidade, era candidato a papa. Bom filho da puta,
isso sim disse Alcides, saia impune, teriam que colocar a Interpol no meio.
Passaram cópia dos papeis para eles, todo o envolvimento de
Monsenhor Cascot, documentos dos Partisans, bem como a confissão das duas mulheres,
o homem nunca foi encontrado.
Agora tocava, explorar o manuscrito que era o que importava,
bem como depois ler o caderno, ele já sabia que o manuscrito a primeira vista
era um pouco confuso, era do tempo dos cruzados, um dos Cavaleiros Templários,
que acompanhava um grupo, era ao mesmo tempo sacerdote, estava rezando uma
missa, quando foram capturados pelos homens de Saladino, levado não como
cavalheiro Templário, mas sim como sacerdote, queria ver como se comportavam
com um sacerdote capturado. Como todas
as famílias na época, ele não era o herdeiro do nome, tampouco das terras da
família, era o menor de todos, ao saber desde cedo que seria mais que um
vassalo do irmão mais velho, tinha entrado para a ordem de Císter, muito jovem,
aprende a ler, escrever, transcrever bíblias iluminadas, para os ricos,
poderosos, mas se cansa disso, quer aventura, sente que o tempo passa rápido
demais. Resolve se unir aos Cavalheiros
Templários, é bem aceito por isso. Essa
é sua primeira viagem a Jerusalém, esteve algum tempo aprendendo a se defender
a lutar pela sua vida.
Ao ser capturado, resolve ficar quieto, pois sabe que poderão
pedir uma recompensa por ele, mas não é ninguém importante, apenas um
iniciado. Passa alguns dias em prisão,
sendo transportado de vila em vila, até chegar a Damasco, capital do império de
Saladino. Ali, depois de um banho, ao
verem sua coroa rasurada, o levam para junto de uma serie de outros monges. Que
vivem escrevendo em árabe, bem como iluminando o mesmo livro. Quando intenta saber o que é, não lhe
explicam, mas tem facilidades para línguas, em breve lê, como escreve em árabe,
ao contrário dos outros que escrevem, mas não sabem o que. Saladino o manda chamar, como aprendeu tão
rápido falar árabe. Lhe explica que tem facilidades
para línguas, que aprendeu muito jovem várias línguas. Fala
grego, aramaico, ele pede que transcreva para o aramaico o livro que os outros
monges escrevem em árabe. Quando
pergunta para que, esse ri, dizendo que a cada mandatário que domina, dá de
presente um corão, dizendo que é o original escrito pelo próprio Maomé, que os
cristão acreditam que se conseguirem um original, devem levar para o Papa. Mas os que são escravos aqui, não sabem o que
estão fazendo, eu te vi defender-se outro dia de uns soldados, sei que não eres
um simples monge, tem mais jeito de Cavaleiro Templário, só que com mais
formação que a maioria, que obedece cegamente seu chefe. Estão aqui atrás do Santo
Grial, querem restabelecer a terra de Cristo, mas se esquecem do principal,
Cristo era Judeu, então deveriam devolver essas terras aos judeus, isso nem
pensar, querem na verdade é dominar o Oriente.
Nada disso vai acontecer, pois não são confiáveis.
Lhe entregam um coran, ele inicia a leitura, tem sempre
conversas com Saladino, que o confia a guarda de um escravo, um Eunuco, que
trabalhava com uma das princesas do harem, mas esta morreu. O Eunuco se sente rebaixado, mas este lhe
ensina a ler, escrever, os dois se tornam amigos. Ele vai lendo, fazendo a tradução para o
aramaico, ao mesmo tempo que pode ir escrevendo tudo o que vê no seu
manuscrito. Contando o dia a dia, do ofício
desses monges, que na verdade, como na igreja católica, a Bíblia é transcrita
ano atrás ano, com algumas modificações que interessam ao Papa, aos Reis. Cada dia deve ler a Saladino, o que
escreveu, debater com ele. O que fala o
livro, na verdade, como na Bíblia, foi escrita por seus seguidores.
Ele as vezes deve adaptar o texto ao interesse de Saladino,
nas terras que vai conquistar, num dos encontros Saladino o chama a sua
presença, vestido de árabe, escuta a conversa deste com emissários
Templários. O argumento
destes, é que ele deve se converter, ser um crente católico, render pleisia ao
Papa, ou o atacarão, o eliminarão da face da terra, os emissários são dois
Templários, um Alemão, outro Frances, todos os dois parecem livrar uma batalha
para convencer Saladino. Lhe pergunta a parte quem tem maior rango, ele
diz que o alemão, que é o mais prepotente, manda cortar sua cabeça, entrega
numa caixa, diz ao outro que deve levar ao seu chefe, como um presente de
Saladino.
Como podem ser tão cretinos, estão atrás de uma coisa que
pensam que é uma taça especial, na época de Jesus, as taças especiais eram a
dos nobres, os pobres como ele, bebiam em taças feitas de pedra, madeira, que
com o tempo se estragavam.
Creio que é tudo uma grande mentira para enganar o povo, como eu faço
com o Coran, riu muito.
Com os anos convivendo com o Eunuco, nasce entre eles, uma
coisa além da amizade, ele vai comparando a doutrina de um credo, com o outro
que faz as traduções. Chega à conclusão de
que na verdade, não tem grandes diferenças.
Em que diferem sim, é que uma é vista pelos olhos dos árabes, outra
pelos europeus. Na bíblia não se
descreve o dia a dia do povo judeu, ele tem licença para sair, conhece o povo
Judeu, que vive ali nas terras de Saladino, são livres para seguir sua
religião, ninguém lhes obriga a seguir Maomé.
Chega a sua própria conclusão que nada disso representa na
verdade Deus. Consegue volumes da
Cabala, começa a discutir a mesma com Saladino.
Vai com um grupo de avance de Saladino, ao interior do Egito Negro como
eles dizem, o Sudan, ali vê que a parte dos homens as mulheres seguem sua
própria religião, cultuando a mãe terra.
Pede autorização para ficar mais
tempo para aprender. Aprende com elas a
curar, a juntar a água com a terra, as duas fontes iniciais de vida, o que se
cultua a mãe primogênita.
Quando volta, são atacados por um grupo de Templários, mas se
consegue salvar ele bem como seu fiel escudeiro o Eunuco, se diz
templário. O tinham dado por morto a
muitos anos, são levados para Chipre, ali conta o que viu, fala da manipulação
do Coran, bem como seu encontro com a virgem negra, explica o que é. Muitos se interessam. É enviado a Paris, para conversar com o
superior da Ordem, este entende o que ele quer dizer. Que antes mesmo de Cristo
a religião mais pura, antiga, é das duas energias primeiras, a terra bem como a
água, sem as duas o homem não vivem.
Surgem as primeiras virgens negras.
Ele fica internado dentro da ordem, seu trabalho é transcrever
o Coran para a língua que possam entender, ele é seu escudeiro, fazem as
iluminações, mas acrescentam nos desenhos, os detalhes primeiros, o nascimento
da terra, bem como da água, como fonte de vida.
Fazem em duplicata, pois sabem que o primeiro será enviado ao Papa, o
segundo fica com ele, detalha no manuscrito, aonde escondeu o original.
Quando sente a morte se aproximar, envia o manuscrito com seu
Eunuco de volta a Jerusalém, o deve entregar o quanto antes ao Maestro Mor da
Ordem. Mas este chega tarde, Saladino
está atacando Jerusalém. Ele entrega a um Templário de menor rango, que
o traz de volta outra vez a França. Quando este foge para Portugal, leva consigo
o manuscrito, ao que não entende por estar em aramaico, mas espera que alguém,
dos que escaparam, possam entender. A
Ordem se transforma na Ordem de Cristo.
Deixa o manuscrito na mão de um superior, morre de velho.
Quando o manuscrito é encontrado muitos anos depois, já não
tem sentido nenhum, pois existem várias virgens negras, embora os fundamentos
tenham mudado, alguns lugares as mulheres seguem sua virgem.
O manuscrito acaba voltando para França, aonde um monge da
ordem dos beneditinos, um dos poucos que sabe aramaico, começa a ler o mesmo,
fazer anotações, que é o primeiro dos três livros.
A partir da desaparição do manuscrito, este esta guardado num
mosteiro Beneditino, esse monge por distração, começa a analisar cada
parte. Até que resolve partir para Istanbul,
a antiga capital romana do oriente.
Transformado em um simples peregrino, inclusive pode se passar por um
judeu, pois mesmo sendo adulto, faz a circuncisão, assim pode passar desapercebido, é um homem
simples, que está habituado a todos os tipos de trabalho, embora saiba, ler,
escrever, em hebreu, árabe, aramaico.
Não se considera um intelectual, crê na simplicidade, num
deus que não é o onipotente, onisciente, está apaixonado pela ideia da Virgem
Negra, ou das devotas da Mãe Terra, o três livros, relatam na verdade o caminho
seguido por ele, para chegar até o Sudan.
Faz um roteiro complicado, Istambul, depois Jerusalém, ali
relata que tem contratempo com judeus que percebem por suas perguntas que tem
algo entre a manga. Ele acredita que o livro do Coran, está ali, procura o
lugar ao que retornou o eunuco. Dali vai
a Jordânia, mas claro tudo é muito confuso, atravessa para o Egito, um grande
caos no Cairo, depois de semanas pelo deserto, se sente confuso no meio da
grande multidão. Busca um meio de
transporte para Sudan, vai subindo o Nilo.
Quando finalmente chega ao Sudan, procura desesperadamente fazer contato
com as mulheres, mas as pessoas pensam que busca outra coisa. Cai doente, é atendido por uma mulher. Nos seus delírios, fala da virgem Negra, a
união da terra com a água, a mulher o leva junto com outras para fora da
cidade, ali ao ser curado, conversas com elas, pelas histórias de sua tradição
oral, aparece o sacerdote Templário, que pelo visto as defendeu dos homens que
queriam impor uma nova religião. Vive no
meio delas, como uma, mas, como tem uma certa aparência de efebo, as vezes
passa por uma mulher.
Aprende com elas todos os métodos de cura, essas mulheres estão
sempre em movimento, por seus vários refúgios, ele retorna ao Cairo, donde
regressa a Europa. Chega em meio de uma
epidemia da Peste. Na cidade aonde
está, Marselha, ele ajuda a curar os enfermos, com sua técnica. Manda queimar todas as roupas dos pacientes,
coloca um batalhão a caçar os ratos de esgoto, prepara um veneno para isso,
todos os dias faz uma grande fogueira alimentada por ratos, roupas usadas. A cada infectado, a primeira coisa que faz,
é banha-lo, para tirar carrapatos, ou qualquer outra coisa, raspa a cabeça,
tira do corpo qualquer vestígio de pelos, o lugar que está escapa da luta
contra a praga.
Paris a população diminuiu, ele volta ao seu antigo
monastério, mas está ocupado por outra ordem que não o recebe bem, mas consegue
assim mesmo o posto de bibliotecário.
Passa por suas mãos centenas de manuscritos falando no Santo
Grial, mas não lhe dá a menor atenção, pois não acredita no mesmo.
Coloca seu manuscrito no meio disso tudo, junto anexa os três
livros de couro negro. Na última
página, fala que participa de todas as liturgias, mas em foro íntimo, venera a
virgem, não como mãe de Cristo, mas sim como o símbolo da mulher, da terra,
água, fertilidade. Mas sabe se verbaliza
o que pensa, será considerado um herege.
Denis comparte tudo isso com Alcides, pois agora basicamente
são companheiros de vida, pela primeira vez sente-se bem com alguém. Discutem a possibilidade de uma viagem ao
Sudan, mas sabe que devido a situação que atravessa o pais, dividido em dois,
seria quase impossível visitar, procurar pelos lugares.
Resolve sim, escrever um livro sobre tudo que descobriu, o
que chama imediatamente a atenção em Roma, mas como já está publicado, apenas
recebe um emissário, que quer comprar o manuscrito, bem como os três de couro.
Alega já não estar em seu poder. O entregou ao Ministério de
Cultura, ao mesmo tempo lhe perguntam sobre o livro que fala do Cardeal.
Rindo ele diz que nunca possuiu o livro, que assim que comprou,
deu de presente a uma pessoa, que por sua vez o entregou a associação dos
Partisans.
Inclusive acusa ao Vaticano de esconder todo o passado do
Cardeal, antigo oficial Nazista, a desaparição do homem, que o vigia, bem como
o alemão que tentou encontrar o livro.
Alcides fica de sobreaviso, por uma possível tentativa de
roubo.
Acaba saindo da polícia, para se dedicar a ser advogado.