lunes, 20 de abril de 2020

TRAVIS FAR


                                                     TRAVIS  FAR



Muita gente me conhece por esse nome artístico, mas verdade meu nome é Brow Crow, que era o mesmo do meu pai, um cowboy de rodeos.  Nunca soube direito a história, ele me contou várias versões, nunca pude acreditar em nenhuma porque não correspondiam entre si.

Só posso dizer que era um homem bonito, sem muita sorte na vida, ninguém sabia de aonde tinha saído, num rodeio em Mesa, no Arizona, fraturou ambas as pernas, só lhe restou seu cavalo que ele chamava de Crow, como seu sobrenome.

Arrumou um emprego como domador de cavalos, num rancho, entre o deserto de Sonora, e Reserva índia de O’Odham Nation,  um dia apareceu uma mulher muito bonita, segundo me contavam, desceu de um cadilacc, parou na sua frente, lhe perguntou se lembrava dela, do Rodeio de Mesa.   Ele tinha fudido com tantas garotas que não se lembrava.   Estendeu um fardo, lhe entregou, teu filho, virou as costas, foi embora.

Como ele não tinha ideia de quem era, ficou com a criança, me registrou como Brow Crow, que era seu nome.  Todos me chamava de Junior Crow. Ficou muito amigo do dono do Rancho, os dois as vezes desapareciam voltando dias depois ainda cheirando a álcool.  Que me criou foi Maria, junto com seu filho Raphael.   Os dois, fomos amamentados ao mesmo tempo, brincamos juntos, fomos a escola elementar que era a única que havia por ali, para aprender a ler, escrever.   

Éramos os dois loucos pelos cavalos, Mister Hanburry, mais conhecido por Burry, esse era nosso segundo pai, severo, duro na queda, sua ordem era indiscutível.  Todos os outros empregados, eram mexicanos,  Maria era viúva de um vaqueiro que trabalhou muitos anos para Burry.  Cuidava da casa, da comida para todos, era baixinha, meia gordinha.  Nada a ver com Raphael, que era alto, não tanto como eu,  tinha os cabelos negros largos, olhos negros, uma pele azeitonada que me fascinava.  Eu ficava comparando com a minha, que era branca cheia de sardas.   Eu ao contrário, tinha cabelos castanhos, queimados do sol, rebeldes, olhos azuis, os dois tínhamos bom corpos, pelo trabalho pesado do rancho.   Pois mal tivemos idade, Burry nos colocou a trabalhar, dizia que se queríamos comer tínhamos que trabalhar.

Aprendi todos os truques com meu pai, de domar cavalos selvagens.  Ele ficava furioso, porque eu entrava no cercado, sem proteção nenhuma, deixava me cheirarem para saber quem eu era, nos dois tínhamos o hábito de ir tomar banho num pequeno lago, na ravina, aonde se criavam os cavalos selvagens.   Eles conheciam nosso cheiro.  Então ao menor descuido do cavalo, dava um salto, agarrava sua crina, ficava em cima do mesmo, até ficar quieto, ficava comigo, mas quando qualquer outra pessoa tentava fazer isso, se colocavam como loucos.  

Os engana, tudo bem, mas isso não é domar.   Um dia que fui sozinho a ravina, estava chateado, pois Raphael, com quem descobri o sexo, já não queria nada comigo, dizia que tinha escutado dizer que era pecado.   Mas eu era louco pelo corpo dele, deixava me penetrar quantas vezes quisesse.  Me disse que iria embora com sua mãe, pois tinham encontrado alguns parentes em San Francisco.    

Nesse dia despertei, não escutei barulho na cozinha, achei estranho.  Quando entrei Burry fazia café.  Olhou para minha cara, te acostume, acabou tua boa vida, Maria já não esta mais aqui, teu pai foi leva-la a Mesa para pegar um ônibus para San Francisco.

Fiquei como louco,  o único lugar que tinha paz era na ravina, quando cheguei lá, vi que alguma coisa passava.   Um coiote tinha atacado uma égua, que tinha parido a pouco tempo, um belo potro, marrom escuro.  Voltei correndo ao Rancho, avisei ao Burry,  voltamos com mais homens, ele queria matar o potro, pois não tinha nenhuma égua tinha parido ao mesmo tempo.   Eu me agarrei ao potro, tinha 15 anos, disse que não que eu o cuidaria.  Realmente assim fiz, pelas boas ou pela força.   Meu pai e Burry, estavam sempre em cima de mim.  Me obrigando a fazer tudo pelo potro.  Cresceu se tornando um belo cavalo, me seguia a todas as partes, tinha uma crina impressionante, eu o montava a pelo, ensinei uma serie de truques.  Quando fiz 17 anos, meu pai me deu uma cela com acabamentos em prata que tinha ganho num jogo.

Era de longe o cavalo mais bem cuidado, também meu único bem.  Logo em seguida meu pai morreu.   Primeiro ficou furioso comigo, pois me viu beijando um vaqueiro mexicano, mal sabia que tínhamos acabado de fazer sexo.  Me deu uma surra de fazer gosto.  Eu não quero meu filho assim, mas sabia que já tinha feito sexo com vários deles. 

No dia seguinte, amanheceu morto.  Burry dizia que de desgosto,  foi enterrado num lugar que gostava muito.  Quando fiz 18 anos, fui a Mesa tirar documentos, me queriam mandar para o exército, me neguei, pois isso me obrigaria a me separar de meu cavalo.   Por nada no mundo o faria.  

De qualquer maneira a coisa se torceu, pois Burry me pegou com um cowboy novo que tinha contratado para ajudar na doma.   Para assim dizer, me pegou de quatro no ato.  Ficou furioso, me disse que tinha que ir embora, pois era um mal exemplo para todos. Mandou também outro embora.  Não queria esse tipo de gente ali.

De qualquer maneira, eu sabia que ele estava vendendo o Rancho, estava velho demais segundo ele, ia viver com sua filha em San Diego.            Me pagou, me entregou uma caixa, com dinheiro, meus documentos.     Apontou a porta dizendo, rua seu viado sem vergonha.

Montei meu cavalo, com uma mochila, com as poucas roupas que tinha,  nesse dia dormi na ravina,  ali tinha uma pequena gruta, aonde eu com Raphael, iniciamos nossos descobrimentos sexuais.  Mas nunca levei ali, nenhum dos outros.

Burry dizia que não podia entender, como um homem de 1,90metro, forte, curtido do sol, domador de cavalos, podia gostar de dar o cu, para esses mexicanos sujos. 

Eu na verdade não sabia explicar, procurava em todos eles o Raphael, mas claro era um romântico.

Fui seguindo em frente, bordeando o Deserto de Sonora, não tinha muita ideia aonde deveria ir. No terceiro dia, quando o pouco de alimento se acabava, parei num poço para aliviar a sede, estava dando água para o meu cavalo, quando escutei uma voz atrás de mim.  Chegas muito tarde, estamos de esperando a dois dias.

Me virei, vi um outro tipo, mas notei que mais parecia estar fantasiado de Cowboy.  Ele percebeu que tinha se enganado.

Explicou que estavam esperando o doublé do ator principal, esse já deveria ter chegado, ele tinha saído procurando, achando que o sujeito estava perdido.   Não viste, nenhuma camionete, com trailer para cavalo.

Lhe respondi que não, que estava andando por ali a uns dois dias, não tinha visto ninguém.

Me olhou de cima a baixo, me fez ficar de costa, acho que se sabes lidar com cavalo, pode fazer esse trabalho.   Tens mais ou menos o tipo do Ator principal.

Me levou com ele, até aonde estavam as filmagens.  O diretor, me pediu para fazer uma demonstração, chamei meu cavalo, que veio a trote, colocou a cabeça no meu ombro, quando era garoto, brincava de fazer o que faziam os índios, montar a pelo, cavalgar, deitado de lado no cavalo, mudar de posição, coisas assim.

Me disse, como era a cena, o que deveria fazer, por sorte meu cavalo, era quase igual ao do ator principal.  Quando o vi, era impressionante, parecia uma cópia do meu pai. Já tinha sua idade, fazia filmes a muitos anos.  Mas não gostava dos cavalos. Iam me filmar de costa caminhando, até o cavalo, deveria subir de um pulo, sair em disparada, pela rua poeirenta da vila.   Pedi que ele andasse um pouco, para observar como fazia.  Em seguida consegui fazer igual. O diretor me deu as instruções finais.

Fiz exatamente o que ele disse, comecei a andar de costas para a câmera, me sem me apoiar no cavalo, dei um salto, fiz um som, que deveria ir a trote, não a galope, ele me obedeceu, fomos saindo da vila, com o sol nos iluminando de frente.   Essa foi a foto do cartaz do filme.

Depois fiz todas as cenas de cavalo que já tinha feito antes, que segundo o diretor estavam mal feitas.   O que lhe gostava era que eu entendia imediatamente o que queria.  Afinal tinha brincado toda minha infância de cowboy.

Quando terminaram a filmagem, me pagaram, era um bom dinheiro.  Tom, o homem que me tinha encontrado, era o encarregado dos extras, dos doublés, de contratar gente.   Me perguntou se queria ir com eles, já que estava sem destino.

Arrumou um lugar no caminhão que levava os cavalos, para o meu, lá fui eu com ele na cabine, conversando.  Naquela época devia estar beirando os 50 anos, mas era um homem curtido do sol.

Tinha um rancho só para cavalos, treinados, atendia Hollywood, para todos os filmes de cowboys, mesmo de outras modalidades.   Lá aprendi muitos truques de como me comportar, de me atirar de algum lugar alto, essas coisas.

Fiquei com ele durante dois anos, quando queria um homem, procurava fazer discretamente, nunca com ninguém com quem trabalhasse.

Fomos para uma filmagem,  aonde minha sorte se torceu.   O ator secundário, era um pouco mais baixo que eu, ficava histérico em ter que subir em um cavalo.  Mas a história, era sobre dois homens que levam um rebanho para vender, durante a guerra da civil americana.

O diretor estava farto do sujeito.  Olhou para minha cara, me disse que vestisse a roupa do mesmo, ficava um pouco pequena, apertada, fazendo que meu peito musculoso, ficasse mais aparente.  Mandou fazer um close,  gostou do que viu.  Perguntou se eu sabia a história?

Tom tinha me contado do que ia o roteiro, pois tinha que conseguir os doublés, para se atirarem no chão, várias coisas. 

Lhe disse que sim, que sabia do que ia.  Havia umas quantas vacas soltas por ali, me pediu que eu as agrupasse.  Porra tinha feito isso minha vida inteira, só me deu ordens como, não abaixe demais a cabeça, coloque o chapéu para trás, deixe aparecer tua cara.  Vi um homem sentado ao lado dele, este lá pelas tantas, disse que agitasse os cavalos, imagina que você esta sendo perseguido por bandidos, como faria, agitei as vacas, fui a meio galope ao lado delas, me deitei no cavalo como se fosse um índio.

Quando me perguntou quem era meu agente, sinalizei o Tom, tinha um contrato de trabalho com ele.   Ele negociou meu primeiro contrato, meu nome devia aparecer em segundo lugar, coisas assim.  Nasceu o Travis Far, pois Brow Crow, lhes parecia vulgar.

Descobri que o sujeito que estava ao lado do diretor, era o ator principal.  Fizemos um par excelente durante a rodagem, avisou ao Tom que quase em seguida começaria rodar outro filme, que eu fosse ao casting. Tinha gostado de trabalhar comigo.

O diretor era um filho da puta, mas a filmagem foi excelente. Logo consegui um contrato fixo, não gostei muito, mas o Tom me convenceu.  Achou que eu deveria morar na cidade, eu lhe disse que de maneira nenhuma ia abandonar meu cavalo.

Continuei vivendo em seu Rancho.  Quando o primeiro filme estreou, apareceram jornalista para me fotografar no Rancho, criou a minha fama, de um ator que não está preocupado com a fama.

O filme seguinte,  não gostei de fazer, pois, era um de detetive, era obrigado a fazer por causa do contrato que ele tinha me obrigado a assinar.   Inventei uma cena, que ao fugir de uns mafiosos, o mocinho, não encontrava seu carro, lá estava meu cavalo, amarrado, tipo um cavalo de policial.   Corria, pulava no cavalo, saia a galope.   O público adorou.  Os homens da empresa entenderam que o meu era fazer filmes de cowboy.   Ao contrário do outro atores que vão ganhando dinheiro, comprando carros de luxo, eu ia guardando tudo no Banco, meu amigo o primeiro ator com quem contracenei me orientou.   Um dia fui a sua casa, vivia numa mansão luxuosa, disse que era do studio, que ele não gastava dinheiro em casas assim.  Tinha um apartamento na cidade, pequeno, quando não estava fazendo nada ia para lá.

Me convidou para tomar um banho de piscina, simplesmente tirou a roupa, mergulhou, fiquei sem graça, ele era famoso.  Da água me convidou a entrar.  Não se preocupe, dispensei todo os empregados.

Fizemos muito sexo essa noite.   Sabia que eu guardaria segredo.  Era casado com uma atriz também famosa que nesse momento estava fazendo um filme em Londres.   Passamos a nos encontrar no apartamento que tinha na  cidade.  Não me apaixonei por ele, apenas, era um sexo sem compromisso, seguro conforme as regras da cidade.  Eu tinha uma chave da entrada dos fundos, entrava por aí.   Até que um dia o encontrei dando o cu para um negro imenso.   Estava até a alma de cocaína.   O negro quando me viu, se vestiu, desapareceu.  Eu ainda fiquei ali, esperando que despertasse.   Estava tão colocado que nem sabia que tinha feito sexo, isso dizia ele.

Não se preocupe, lhe disse, mas ao sair, deixei as chaves que tinha na mesa da cozinha.  Só voltei a vê-lo num filme de guerra que fizemos juntos.  

Minha vida deu outra volta, numa filmagem, tinha que cair de uma altura considerável, não queria doublé, fiz eu mesmo a cena, ao mesmo tempo deveriam estourar uma janelas, um troço de vidro, cortou a minha cara, nem me dei conta. Segui gravando.  O diretor ficou maravilhado. Mas claro fiquei com uma cicatriz imensa na cara.  Essa de cara de bonitão, virou cara de bandido.   Passei a fazer papel secundário de bandido, de mafioso, de detetives frustrados, coisas assim, não reclamava, pois pelo menos não me ofereciam papel de personagens idiotas.

Quando Tom morreu, num acidente, passei eu mesmo a negociar meus contratos, porque ia pagar para alguém negociar por mim.   Comprei uma casa, que tinha um estabulo, um parque imenso aonde podia sair com meu cavalo.  Tinha uma entrada separada da entrada principal, ninguém sabia da sua existência.   Por aí, passaram a entrar meus homens.  Normalmente eram mexicanos, a procura de trabalho.  Os contratava para cuidar do jardim, dai era um passo para a cama.

Me chamaram para fazer um papel de mafioso numa serie de televisão.  Era uma das primeiras que se faziam, toda uma experiencia, uma coisa nova no mercado.  Era baseada num livro de um italiano.    Seria filmado na Itália,  estava em dúvida, como faria com o meu cavalo, já era velho, não podia deixa-lo para trás.  Por azar, um dia o mexicano atual, correu ao quarto para me avisar que algo tinha passado durante a noite, corri, mas já era tarde, quando chegou o veterinário, só para atestar sua morte.     Era proibido, mas o fiz enterrar lá mesmo.  Um dia voltaria para a casa.

Fui para Roma, a parte dos set seriam na Cinnecitta, os exteriores, pelas vilas antigas, essa série durou sete anos, se filmava capítulos para um ano, depois estava livre para voltar para casa, para fazer qualquer outra coisa.  Gostei de fazer a série, porque tinha uma historia bem contada, tempo no mesmo lugar, trabalho quase todos os dias, não ficava pensando besteiras em casa.

Me ofereceram para fazer uma séria que seria filmada justo no Deserto de Sonora, ali se faziam os exteriores.  Precisavam de um rancho como localização, me lembrei do rancho do Burry, sem dizer nada, fui de carro até lá.    A casa estava no chão, tudo abandonado, o celeiro tinha queimado inteiro, bem como aonde ficavam os cavalos.

Mandei meu advogado bisbilhotar, o que tinha acontecido, se estava a venda.

Fizemos a série, usando um outro rancho, do outro lado disso tudo.  Me divertia, fazendo o papel do rancheiro mal caráter, que cria sempre confusões.  Fiquei famoso por uma cena que fazia.  Quase no final da série, meu personagem se dava mal, eu saia do saloon, com um tiro, tinha que caminhar até o cavalo, subir sair da cidade.   Queriam que um doublé fizesse a cena, não permiti.  O Diretor disse que eu não era jovem para isso.  Experimento, se fica mal, tu me dizes.  Ensaiei a cena duas vezes, na terceira quando ele disse ação, sai do saloon, fui caminhando até o cavalo, com dificuldade subia nele, soltava as rédeas, dizia ao cavalo, vamos, ele saia a trote lento, me levando meio caído por cima dele.

Na verdade, no final da cena, tive meu primeiro enfarte.   Foram me encontrar mais adiante caído no chão, desacordado.

Brincado depois disse, meu personagem morreu com toda certeza.

Ainda voltei a Roma para fazer a última temporada da série,  um dia na rua, fui parado por um homem que me disse que seu chefe adorava ver a série.

Quem é seu chefe?      Me disse o nome, fui me informar, era um chefão da Máfia.  Na Itália tomava cuidado com os romances, porque sabia que podia me dar mal.  Eram enganosos os italianos.  

Quando terminei, voltei para casa.   Meu advogado finalmente tinha conseguido saber quem era  o dono do Rancho.   Havia uma disputa de dois herdeiros.  Esperamos que terminasse o litígio, ele ofereceu um bom preço para o que tinha ficado com tudo.

Mas ainda, podia trabalhar, me chamaram para fazer um papel num filme, era de um médico, com muitos filhos.  Estudei o papel, não gostei. Disse que não me interessavam, ofereceram o papel para outro da mesma idade que a minha.  O filme foi uma merda, mas ao vê-lo fazer o papel, vi que estava ficando velho, que dentro de pouco, só me tocariam papeis de pais, avôs, coisas assim.

Ainda aceitei fazer um último filme, a historia de três cowboys que foram amigos na juventude, agora se encontravam anos depois para ajudarem o filho de um deles.   Ficaram horrorizados, quando descobriram que tinha ido para a cama com o jovem que fazia o papel de filho.

Ri muito da hipocrisia, estava farto disso.  Acabei o filme, brigado com o diretor, os outros atores.  Agora como iam vender o filme, se tinham encontrado o mocinho embaixo de mim.

Me fechei em casa, contratei um engenheiro, começamos a reconstruir o rancho, não queria nada demais, minha ideia era recuperar o lugar.  Saiu  uma reportagem a respeito. Voltava ao meu lugar da infância, ninguém sabia isso da minha vida.

Quando me perguntaram se eu iria continuar a fazer filmes, se fez um silencio, pois fiquei quieto pensando.  Estava cansado dessa vida, de não ter ninguém comigo, de estar sempre sozinho, andando pelas ramas.   Disse que não, que Hollywood, não era lugar para um cowboy gay.  Foi um escândalo.   Eu ao contrário ri muito.

Vendi a casa, mas nunca disse a ninguém que tinha o meu cavalo lá.  Me mudei com minha pequena bagagem, agora só tinha livros, roteiros de cinema, que fui ordenando por épocas, a histórias de cada filmagem, que ia escrevendo a parte.  Contratei gente para trabalhar, os que apareciam não me interessavam muito, contratei só mexicanos, queria a minha juventude de volta.     Um dia fui com dois dos meus verificar como estava a ravina,  para minha surpresa, havia um grupo de cavalos sobreviventes por lá.  Quando entrei, eles, riam, fui andando tranquilamente, tirei minha roupa toda, mergulhei no pequeno lago, aonde bebiam água, um deles depois diria que tinha sido o momento magico de sua vida.

  Sai perto dos cavalos, os deixei virem me cheirar.   Estava feliz.   Passei a cuidar deles, como meus filhos.  Mas não queria que fossem domados.

Um dia estava sentado na varanda, no meu lugar preferido, era aonde se sentavam meu pai, Burry para conversarem no final da tarde.   Vi um carro chegando, levantando poeira.  Saíram dois homens do carro.   Um da minha idade, outro mais jovem.  Conforme foram caminhando até aonde estava, lancei um grito.      Pelo andar era o Raphael, me levantei, o esperei de braços abertos.  Nos abraçamos, ficamos ali como dois velhos amigos, com lagrimas nos olhos.

O mais jovem era seu filho.   Me contou que tinha visto a reportagem, tinha mostrado ao seu filho, falou da nossa infância.   Ele era viúvo, o filho o convenceu de vir me ver.  Tinha muito medo como eu ia reagir, pois tinha me abandonado, sabendo que eu o amava.

Eu tinha pensado milhões de vezes no que tinha acontecido.   Comentei isso com ele, ruminei como uma vaca, depois botei para fora.

Por tua culpa sempre tive amantes mexicanos, mas nenhum era como tu.  Mandei a empregada arrumar um quarto para eles.  Fiquem o tempo que quiserem.

No dia que chegou eu o achei muito sério, mas depois foi se relaxando, se sentou comigo nos dias seguintes na varanda, disse que nunca tinha me esquecido, mas que sua mãe tinha descoberto o que fazíamos, por isso tinha saído na surdina.  Perguntei se ainda aguentava andar a cavalo, no dia seguinte fomos até a ravina.  Contei ao filho, o que fazíamos, para estar com os cavalos.  Desci do meu, tirei toda a roupa, fui andando tranquilamente, até o lago, entrei na água, um potro novo, veio direto até aonde eu estava.    Raphael, estava parado ali, me olhando com os olhos abertos, fiz um sinal para ele vir.  Tirou sua roupa, ainda tinha um corpo estupendo.  Nos abraçamos na água.  Me disse nunca esqueci disso, nunca.   Mas tampouco estive com outro homem jamais.   Isso eu não podia dizer ao meu respeito.

O filho se matava de rir.  Jamais imaginei ver meu pai em pelotas, num riacho, cercado de cavalos, tenho que fazer um vídeo disso.

Conversando, perguntei o que fazia, ele escrevia, tinha estudado, dava classes numa escola, porque não tinha conseguido nenhum posto na universidade.   Perguntei se queria escrever sobre o material que tinha separado.   Ele era casado tinha dois filhos, experimenta traze-los até aqui.   No dia seguinte nos filmou, na ravina.  Quando vimos o vídeo, ficamos rindo.

Ah se ele tivesse nos visto quando jovens, com aquele corpo que tínhamos, verdade Raphael.

Nessa noite ele entrou no meu quarto, se deitou ao meu lado, me abraçou, me cheirou, disse que eu tinha um cheiro inconfundível. Fizemos um sexo de pessoas que se amam a vida inteira, já não estávamos para arroubos.

Quando o filho despertou, nos viu abraçados na cama, entendeu realmente o que nos ligava.

Quando disse que tinha que ir embora, disse ao Raphael, porque não ficas, aqui, ele depois trás teus netos.  Assim ele volta.

Falavam sempre por telefone, dizia que os meninos tinham ficado fascinado, de ver o avô, em pelotas entrar no riacho.  Vieram passar as férias,  achavam normal o avô dormir comigo, afinal erámos amigos.

A vida ficou mais fácil.  Acabaram vindo morar conosco, contei toda minha vida, minhas aventuras para seu filho, que foi escrevendo.  Quando foi apresentar o livro a uma editora, não acreditavam na história, mas ele mostrou o vídeo dos dois no riacho.

Os meninos agora, iam sempre conosco na ravina.  Era nosso lugar sagrado, combinamos deixando por escrito, que quando nossa vida chegasse ao fim queríamos ser enterrados ali, um ao lado do outro.










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