Tinha saído de Vancouver aonde
vivia atualmente, revisando um livro que ainda não tinha ido para a
gráfica. As vezes acontecia de quase
reescrever tudo. Muitos escritores não
gostavam dessa parte, mas ele, não reclamava.
Escrevia sempre num impulso.
Podia levar um dia inteiro escrevendo um texto, sem se cansar.
Estava num voo, em direção a
Dallas, Texas, tinha pressa em chegar, pois quiça poderia ver seu irmão mais
velho antes de morrer.
Era de uma família numerosa e
complicada. Ele era filho do último
casamento de seu pai. Do primeiro tinha
Jules, do segundo uma turba, eram cinco, os detestava. Diziam que seu pai tinha
uma maldição, pois suas mulheres morriam sempre de parto. Caso de sua mãe. Ele
tinha sido criado por uma babá, que hoje em dia trabalhava na casa da família,
atendendo seu irmão mais velho.
Este também fazia parte da
maldição. Sua primeira mulher, um
casamento arranjado, fugiu na primeira oportunidade, dizia que esta casa era
amaldiçoada, que não queria ter filhos, odiava crianças. Foi um divórcio tumultuado. A segunda, uma mulher que ele adorava, morreu
no parto depois de cair pela escadaria da casa.
Ele adorava o irmão, apesar da
diferença de idade, ele o maior da família, ele o menor, com uma diferença de
18 anos. Sempre tinha cuidado dele, melhor que seu pai, que com a idade era
ranzinza, sempre reclamando de tudo, do dinheiro gasto com essa família tão
numerosa, que deviam comer menos, ou irem trabalhar na empresa familiar.
Era um excelente estudante, sofria
bullying tanto em casa como na escola, mas seu irmão mais velho, lhe ensinou a
defender-se.
Foi o único que apoiou seu desejo
de se transformar num escritor. O pai queria que ele fizesse Direito, mas pela
primeira vez bateu o pé, queria outra coisa. Quando terminou a Faculdade, a
família tinha acabado de passar por uma ruptura imensa. Um processo sobre testamento etc. Seu pai tinha deixado todo o patrimônio para
seu filho mais velho. Afinal fora o
casamento com a mãe deste que o salvara da ruína. Os irmãos não gostaram. Os juízes declararam seu irmão único
herdeiro. Para o caso de reclamações, o
pai, nesse ponto justo, explicava como tinha dinheiro, que esse provinha de sua
primeira esposa, portanto devia retornar ao seu filho. Isso provocou a briga de toda a família,
levariam anos para voltarem a se falar.
Seu irmão numa noite fria, nevava
fora de época, sentou-se com ele na biblioteca, lhe estendeu um envelope. Esse dinheiro que não consta da herança, é
para ti. Quero que siga teu caminho, estude,
escreva um livro para mostrar aos outros, quem eres.
Ele foi para San Francisco, alugou um
pequeno apartamento, o que seria sua marca registrada em toda sua vida,
apartamentos pequenos, só necessitava de uma cama, uma mesa para escrever.
Seu primeiro livro aceito, depois
de o ter revisado pelo menos umas 10 vezes, do meio para o final, basicamente
era outra história. Foi superbem aceito pelo público. Mais tarde, quando quiseram comprar os
direitos para fazer um filme, teve que contratar um advogado. Não entendia do assunto. Com esse dinheiro
devolveu tudo ao seu irmão. O que lhe
veio bem. Pois os outros irmão, não paravam de pedir dinheiro.
Nunca mais tinha voltado, o único
elo com a família era com Jules, se encontrasse os outros na rua, não saberia
dizer quem eram.
No aeroporto, tomou um taxi e
avisou seu sobrinho, este lhe disse que entrasse pela porta dos fundos, pois o
resto da família estava lá como abutres esperando a morte do irmão mais velho,
para ver se conseguiam dinheiro.
Se lembrava dessa entrada, ele e Jules,
sempre saiam por aí, para escapar dos outros irmãos.
Desceu do taxi, levava unicamente
uma pequena bagagem. Não pensava em ficar muito tempo. O filho de Jules, o
esperava na porta da cozinha. Subiram
por uma escada que era usada pelos empregados, entraram no quarto que tinha
sido de seu pai, hoje em dia de seu irmão.
Estava meio recostado na cama,
respirando com dificuldade, apesar de um aparelho no nariz.
Ao contrário dos outros irmãos,
sempre que podia Jules e o filho Yan iam visitá-lo, na cidade que estivesse
vivendo no momento.
Alguns já imaginava inclusive como
gastaria sua parte.
Subiram em silêncio para não chamar
a atenção. Na porta do quarto, Yan
comentou a situação, poderia durar uma hora como um dia. Abraçou o sobrinho, o
queria como um filho.
Jules, esboçou um sorriso quando o
viu, se debruço sobre a cama, dando um beijo na testa. Era duro ver seu irmão assim, nas últimas.
Ficou segurando sua mão, pediu a Yan
que os deixassem a sós. Pois tinham coisas que eram importantes para conversar.
Falaram durante pelo menos duas
horas. A cada tempo, se escutava uma voz
do lado de fora, perguntado se Jules, já tinha partido. Yan, adotava uma voz
profunda, para responder que ainda respirava. Entrou um médico, tomou o pulso,
lhe disse que era melhor terminarem a conversação. Na verdade, tudo já tinha sido dito, estavam
sim aproveitando os últimos momentos, para ficarem de mãos dadas. Isso fazia Jules quando ele era pequeno e
tinha medo do escuro. Sentava-se ao seu
lado no pequeno quarto que tinha, ficava conversando com ele, como se tivesse
sua idade, falando de planos, de sonhos, até que ele dormia.
Quando deu o último suspiro, Yan e
ele, cada um segurava uma mão. Antes de
avisarem aos outros, pediu ao Yan, que aguentasse a marabunta, ele iria para um
hotel, aonde tinha feito reserva.
Saiu como tinha entrado, um taxi já
o esperava.
Durante o resto do dia se manteve
em contato com Yan, este estava horrorizado.
Comentou que inclusive já brigavam pelas obras de arte da casa. Se
desculpou, por fugir assim, mas não suportava a ideia de ter que aguentá-los,
era capaz de dar um tiro em cada um.
Soube da hora que seria a cerimônia na Igreja
Episcopal, tinha prometido ao irmão que falaria.
Passou o resto do dia, conversando
com o advogado, pois já sabia o testamento, e o porquê seu irmão tinha feito
assim. Tinha já dado uma ordem, com uma lista de coisas de valor, que na hora
que todos saíssem para a igreja, deviam retirar da casa, faziam parte da herança
do Yan.
O advogado tinha alugado um armazém,
iria tudo para lá.
Resolveram que fariam a leitura do
testamento justo depois da cerimônia.
No dia seguinte quando ia sair do
hotel, viu que dois carros o esperavam fora.
Seus irmãos tinham descoberto que estava ali. Se escondeu, disse ao
rapaz da recepção que mandasse um taxi para a saída de serviço do hotel. Este o guiou até lá. Se sentou no fundo da Igreja meio escondido
por uma coluna. Quase começando a cerimônia, viu que chegavam os dois que estavam
na porta do hotel.
Estavam irritadíssimos. Mas a estas
alturas, tinham chegado muita gente, estava escondido no meio dos convidados.
Viu que os dois não paravam de
falar com suas respectivas esposas. Segundo Jules, duas harpias. Riu por
dentro, se lembrava sempre dos comentários e da linguagem que usava Jules,
algumas vezes incluía isso nos seus livros, este depois o chamava quando lia o
livro, dizendo que tinha roubado suas palavras e que queria sua parte, isso era
um jogo entre eles.
Yan estava falando sobre o pai,
somente os convidados prestavam atenção.
Depois o melhor amigo de Jules e seu advogado, falou, exaltando a
amizade deles, a confiança desde a época da universidade.
Yan, sabia aonde ele estava sentado,
fez um sinal. Avançou pelo corredor
central, chamando a atenção. Estava todo vestido de negro, com seus cabelos
brancos impolutos e largos, presos num rabo de cavalo.
Se escutava um murmúrio, alguns o
reconheciam, escutou uma das crianças perguntando se este era o tio louco que
tinha se largado a muitos anos. Quase
soltou uma gargalhada.
Sem tirar os óculos escuros,
cumprimentou os presentes. Antes de começar a falar, se dirigiu ao garoto e
soltou. “Sim, sou o tio louco que fugiu a muito tempo”.
O garoto esboçou um sorriso.
Começou a falar do Jules. Falou da sua infância da proteção que lhe
dava. Da única pessoa que tinha
acreditado no seu potencial, e com quem tinha mantido contato todos esses anos.
Amava meu irmão acima de tudo. Quando
nos encontrávamos, era uma festa, com os anos Yan começou a participar desses
encontros, fosse em NYC, Paris, Londres, ou no cu do mundo. Quando falou isso, viu que muita gente tapava
a boca.
Embora o cu do mundo para mim,
sempre foi esta cidade e está família.
Graças a Deus Jules, me protegeu me orientando como escapar da feras
dessa família, por isso lhe sou eternamente agradecido. Desceu de aonde estava,
foi até o caixão, beijou a testa do irmão, abraçou Yan, entre os dois fecharam
o mesmo, indicando ao homens da funerária, que o podiam levar para o cemitério,
saiu abraçado com Yan, até que sentiu uma mão pequena segurando a sua. Era o garoto que tinha perguntado por ele. Vejo que não es louco coisa nenhuma, essa
família é o pior que há. Entrou no mesmo carro que eles, foram juntos ao
cemitério.
Yan disse que ele era neto de uma
de suas irmãs, mas não vivia ali, e sim com sua avó paterna. Tanto sua mãe como seu pai tinham falecido
num acidente de carro.
Aonde vives e qual o teu nome. Este riu, vivo em NYC, minha avó diz que é
perto de aonde vives. Mas a casa está
sempre fechada, pois vou lá, chamo e ninguém atende. Meu nome é igual ao do meu pai, sei que o
senhor não o conheceu, chamava-se Tom.
Passo muito tempo fora, está e a
verdade. Agora por exemplo vivo um tempo
no Canadá, estou corrigindo um livro que vai ser publicado.
Eu gosto muito de ler, mas não me deixam
ler teus livros, dizem que são fortes. Mas adorei a história que aqui é o cu do
mundo. Riram os três. O senhor não acha que são hipócritas,
falam isso o tempo todo, mas quando alguém verbaliza tão alto, ficam
horrorizado.
Desceram, viu que os outros irmãos
faziam gestos de se acercarem, mas quando muito estendeu a mão. Odiava beijar as pessoas que não conhecia, ou
não gostava.
A cerimônia foi breve, todos se
dirigiram a casa, aonde seria lido o testamento.
O garoto pediu a avó, voltou no carro
com eles, minha outra avó é insuportável. Só sabe falar de dinheiro, que não
tem, e mal do resto da família.
Quando todos entraram estava seu
irmão, agora o mais velho da família, querendo chamar a polícia pois tinham
assaltado a casa.
O advogado disse que tinha
obedecido ordens do Jules. Sentaram-se
todos na biblioteca. Ele sentou-se entre
o garoto e Yan, quando o resto da família disseram que as crianças deviam sair,
Tom segurou sua mão fortemente, posso ficar.
Ele fez que sim com a cabeça.
O advogado acompanhado de um
tabelião e um homem de uniforme da polícia. Sentou-se na mesa de Jules da
biblioteca. Começou a ler o testamento.
Depois das formalidades, disse que tudo ficava na mão de dois herdeiros. Tudo que faltava na casa nesse momento, ia para
seu filho Yan, a casa, os terrenos em volta, ficavam para seu irmão menor, pois
sem ele não poderia ter sustentado essa família de sanguessugas. Essas não tinham direito a nada. Têm 24 horas para abandonar a mesma. A gritaria se fez ouvir, o que seria agora, o
mais velho disse que ia impugnar o testamento.
Ele se levantou com um papel na
mão, disse o nome do irmão. Você me deve atualmente 15 milhões de dólares, que
foi o dinheiro que Jules veio pagando pelos seus desvarios, Está tudo aqui
anotado, e inclusive assinado por ti.
Sim era eu que te emprestava o dinheiro, Jules não tinha. E foi dizendo
o nome cada um e a dívida. Portanto como
a casa é minha, faço dela o que quiser, pode ser que a transforme numa pousada
para as pessoas que vivem nas ruas, que garanto são mais honestas que
vocês. E sinalizou o xerife, ele tem
ordem de expulsar todo mundo em 12 horas, nada de 24, cada um pegue seus panos
de bunda, fora daqui. Desocupem rapidamente a sala em silencio, pois poderia
ser pior. Lembrem-se tenho os papeis de
suas dívidas.
O Tom, ria a não mais poder. Sua avó de NYC se aproximou, para se
apresentar.
Viu avó Sarah, ele não é nada
daquilo que minha outra avó dizia. Gosto dele.
Me disse que realmente quando chamei a sua porta devia estar de viagem.
Sarah, o convidou para vir tomar um
café com eles quando estivesse em NYC.
Iremos em seguida para lá, pois Yan ficará um tempo na minha casa.
O jeito foi chamar vários efetivos
de polícia, pois queriam quebrar tudo.
O jeito foi um policial acompanhar cada família na parte da casa que
viviam e que retirassem suas coisas pessoais.
Yan na verdade já tinha
transportado suas coisas e alguns objetos de seu pai para o hotel.
No meio dessa confusão, lhe chamou
seu editor, dizendo que já sabia da confusão que estava metido. O interessante seria se ele pudesse dar uma
entrevista no principal jornal da cidade falando do livro, que nesse momento
estava à venda.
Ok, mas avisa a jornalista que não
falarei da minha família.
Perguntou a Sarah aonde ia ficar,
já que a casa estava clausurada. Vou para um hotel com o garoto. Venha conosco,
lhe consigo um quarto no mesmo que estamos.
Quando todos saíram, a casa foi
lacrada pela polícia. O Advogado tinha recebido cada empregado, lhe entregava
uma carta de recomendação, bem como os direitos laborais delas.
Foram para o hotel, pediu um
reservado para comerem. Estavam todos sérios, de repente Sarah começou a rir,
não podia parar.
Perdão, sem querer me lembrei da
cara de teus irmão, quando caminhastes para o altar, a voz do meu neto,
perguntando a tua irmã se eras tu de quem ela falava tão mal.
Queria ter soltado uma gargalhada,
quando você respondeu de lá, que sim eras tu.
Vivemos quase no mesmo quarteirão. Quem descobriu tua casa foi ele.
Tom falava tudo que pensava, como
ele quando era criança. Pensei que
vivias numa mansão, mas aquela casa é estreita e muito simples, uma vez passei
com um colega de escola e disse que ali vivia um tio meu. Ele riu, dizendo que
devia ser pobre, porque apesar da casa ter a fachada limpa, era muito pequena.
Sabes Tom, comprei essa casa, com o
dinheiro que ganhei de um livro que foi transformado em série. Não queria um grande apartamento nem nada de
luxo, pois passo muito pouco tempo em cada lugar. Prefiro alugar uma casa ou apartamento, aonde
estou escrevendo uma história. No
momento por exemplo, como a história se passa em Vancouver, estou lá. Em seguida voltarei para NYC. Isso é uma maneira de que quando menciono uma
rua, ou uma loja, seja exatamente como eu vejo a história.
Caramba, achei genial. Quem sabe um
dia serei escritor, quero ser como tu.
Sarah contou que vivia só com ele,
era divorciada, e seu filho também era único. Quando se casou com tua sobrinha
neta, ela tentava escapar da família. Se
casaram na surdina, sem nenhuma festa para não prestarem atenção. O resto da família soube que estavam casados,
quando Tom estava preste a nascer. Seus
pais morreram quando ele tinha cinco anos, com a ajuda de teu irmão Jules,
consegui a guarda dele.
Quando subiram, conversou com Yan,
telefonou para um conhecido seu, de uma casa de subastas. Pediu que mandasse alguém avaliar os objetos
de arte, que eram da época do seu avô.
Lhe deu o nome da seguradora, e da
pessoa que tinha vistoriado as obras.
Sentaram-se os dois frente a
frente, agora nos toca resolver o que fazer com a casa. Se ficamos com ela, esta gente, disse rindo
dos irmãos, na verdade eram belos desconhecidos, encontraram uma maneira de
voltar. Queres ficar aqui, tem alguma
coisa que te prenda a cidade.
Não, tio, meu último relacionamento
foi uma merda, por isso quero ir embora, começar de novo em outro lugar.
Que gostaria de fazer?
Ainda não sei, terei que liquidar a
empresa de meu pai. Embora atualmente já quase não existiam ativos. Por causa
de sua doença. Realmente a única pessoa que se preocupou com seu estado de
saúde, foi o senhor, os outros só pensavam quanto lhes tocaria de herança.
Ele falou com o senhor sobre o que
tinham entre mãos para impugnar o testamento, caso fosse tudo para mim, não é?
Sim comentou, embora eu já soubesse
disto desde sempre. Ele nunca escondia
nada de mim. Aliás eu teria feito igual,
ele te amava acima de tudo.
Ele me contou quando eu tinha uns
12 anos e um dos primos me chamou de bastardo.
Não sabia o que queria dizer e fui perguntar.
Quando soube da história, no
primeiro momento fiquei horrorizado, mas ele me convenceu.
O caso era que Yan era moreno, quase
mulato, Jules tinha lhe contado quando ele ainda era uma criança. No parto morreu sua mulher e o filho, ele
ficou desesperado. Mas no hospital,
havia uma senhora que tinha tido um filho, o ia dar para adoção, aproveitou e
adotou a criança e criou como sua.
Eu acho que Jules foi um grande
pai, não é verdade, sempre ouve uma cumplicidade entre vocês. Como ele tinha comigo quando era criança, me
protegia e cuidava. Os outros eram maus,
faziam tudo para me perturbar, verdadeiras maldades. Me chamavam também de bastardo.
Quanto a casa, posso fazer várias
coisas, vender, e no momento que saibas o que queres fazer, terás dinheiro para
isso.
Eu não preciso de dinheiro, pois
tenho meu trabalho, levo uma vida simples, não tenho vícios, nem luxos.
Portanto o que necessito é de dinheiro, para me mover, aonde me mande a
história que quero escrever. Mesmo
assim, faço isso tudo dentro da simplicidade.
Veja o exemplo dos meus irmãos,
nunca fizeram nada, viveram nessa casa como fosse a coisa mais natural do
mundo, as custas de teu pai e minha, porque no final teu pai já quase não tinha
dinheiro.
Quero ver o que vão fazer agora. Ou
apreendem a se virar, porque eu não penso em fazer como teu pai, que os
ajudava. Já fiz o bastante, a partir de
como sempre me trataram.
O que te dizia ontem à noite, viveram
numa boa, mamando nas tetas do teu avô, do teu pai e na minha, e ainda tem
coragem de reclamar.
Pois agora vão ver com quantos paus
se faz uma canoa. Chamou o advogado,
mandou colocar em cobrança e publicar no jornal todo o dinheiro que deviam a
ele. Diga ao jornal que aceito dar uma
entrevista.
Quando apareceu o jornalista, lhe
deu um cópia de todas as dívidas assinadas por eles. Contou a história que nunca tinham trabalhado,
e sim vivido a custas do Jules e dele.
Agora teriam que pagar suas dívidas eles sozinhos. Aviso ao credores que entrem na justiça, e
que paguem a eles. E se forem mafiosos,
não adiantam pedir resgaste, nunca pagarei nada por eles.
Quando lhe chamaram da televisão,
para uma entrevista, perguntou se era sobre seu livro ou assuntos de família. Desse assunto ele não falaria de jeito nenhum,
já tinha dado uma entrevista aos jornais, porque o tinham atacado.
Na hora do almoço, estavam almoçando
com o senhor que tinha vindo e NYC para vistoriar as obras de arte, este estava
justo comentando que teria que analisar uma a uma, pois a pessoa que tinha
feito o trabalho para a seguradora, não era de muita confiança.
Yan lhe chamou atenção para o
telejornal. Seu irmão mais velho estava
sendo preso por suas dívidas. Esse
apesar de ter feito universidade, nunca tinha trabalhado. Nessa tarde apareceram sua mulher e seus
filhos. Se negou a recebê-los. Saiu pela porta detrás para levar Sarah e Tom
ao aeroporto, prometendo encontrar-se com eles em NYC.
Fizeram uma coisa, foram os dois
para um motel, assim, não sabiam aonde estavam, se despediram do hotel, como se
fossem em direção ao aeroporto.
No dia seguinte deu a entrevista ao
telejornal, na parte cultural, quando a entrevistadora fez um gesto, pois ouvia
algo pelo ponto em seu ouvido. Ele
entendeu, iam perguntar de sua família.
Cortou pelo sano, disse que
futuramente iria escrever uma história sobre a sua família, seria muito
interessante. Veja, o primeiro casamento
de meu pai foi por interesse, tinha perdido todo seu dinheiro, nasceu Jules que
acaba de partir. Para economizar,
contratou uma puta, com quem mantinha relações, para ser sua babá. Foi sua segunda esposa, mãe de cinco filhos,
que ele dizia sempre que não tinha certeza que fossem seus, se já houvesse
teste de ADN, na época ele com certeza teria feito. Um belo dia está senhora que passava por ser
dama da sociedade, fugiu com o motorista do carro da família, acredito que pelo
menos seus três últimos filhos sejam desse motorista. Posteriormente se casou com minha mãe, que
era sua secretária. Ela morreu no
parto. Fui criado por uma babá e por
Jules, que era meu irmão mais velho e me protegia. Isso dá ou não um livro de história, de como
funcionam as velhas famílias do Texas e da América, sempre escondendo seus
trapos sujos embaixo do tapete. Agradeceu a entrevista, se levantou e
saiu. A entrevistadora, ainda estava de
boca aberta. Estava limpando a cara da
maquilagem, quando seu celular começou a tocar.
Era seu editor. Caramba a entrevista foi uma bomba, se escreves o livro
quero publicar.
Yan, ria a não mais poder. Tudo isso é verdade?
Sim, teu pai me deu todos os
documentos provando isso. Inclusive sem
que os outros soubesse fez teste de ADN de todos, só um é filho legitimo. O
resto não sabemos quem são os pais, inclusive o mais velho deles, tampouco é
filho do velho.
Teu pai podia ser manso e as vezes
se preocupava demasiado do que podiam pensar da família. Mas se escudou, quando se preocupou contigo.
Combinamos isso da casa a muito
tempo, talvez na última visita que me fizeram.
Lembra-se em NYC, tinhas que encontrar alguém que estava na cidade,
ficamos os dois sozinhos falando do dinheiro que esses já nos tinham feito
gastar. Ele sabia que se deixasse a
casa diretamente para ti, iriam dizer que eras adotado.
Mas na verdade, não tenho o menor
interesse nesse dinheiro. Veja bem nem tenho tempo de gastar o que tenho. Mal acabo um livro e pensou, vou tirar umas
férias, irei ao Caribe, ou qualquer outro lugar. Mas nada, saio para jantar com algum
conhecido, ou vou a uma reunião de escritores, em seguida estou de saco cheio,
e fico rebuscando alguma notícia que me facilite uma história.
Te contarei uma história, quando
era criança, as vezes sonhava com pessoas que não conhecia, comentei com Jules,
fomos a um psicólogo, este disse que eu tinha muita imaginação. Uma senhora que cuidava de mim, nos levou a
uma mexicana santeira, esta disse que eu sonhava com espíritos que me contavam
suas vidas e o que tinham acontecido com eles, pois sabiam que eu era sério.
Foi como comecei a escrever. Tenho sempre somente uma pequena história, dela
saio para escrever um livro. Claro que o
que sonhei fica sendo o ponto de partida, o resto vai da minha imaginação. Como sempre acontecem em lugares diferentes, vou,
pois, assim me sinto integrado na história, posso falar sobre a rua tal, o
comercio que existe nela, bancos, farmácias coisas que dão veracidade ao que
conto. Quem gosta são os donos de
restaurantes, falo do local, da comida, muitos dos leitores depois aparecem
para comer, querem o que está no livro.
Caramba tio, isso pensava eu, pois
quando lia, havia o detalhe dos lugares, algumas vezes consultei o Google, para
saber se realmente existiam.
Pois é por isso gosto de fazer
revisões, se menciono uma lei, tenho que saber realmente como é. Tenho que estar sempre estudando.
Sempre foi a minha paixão, devorei
todos os livros da biblioteca, meu pai comprava coleções, mas não lia, era para
decorar e impressionar os visitantes.
Meu pai, sempre dizia que o avô,
não era uma pessoa em quem se podia confiar.
Bom como pai, uma negação, foi
Jules quem me criou.
Eu nunca quis formar uma família,
primeiro porque sou gay, não gosto da sensação de estar preso, ou mesmo dever
satisfação a alguém. Posso dizer que nunca estive preparado para um
relacionamento. Ter filhos ou adotar,
menos ainda, estaria preso num lugar, não poderia fazer o que faço. Meu editor que tem três filhos, me diz sempre
que tenho sorte. O sonho dele era
escrever, mas com filhos para sustentar, teve que aceitar e ser editor.
As poucas vezes que me sinto
sozinho, faço uma coisa, riu, mas verbalizou, “me ocupo”. Digo isso quando me pedem para dar palestras
nas universidades. A solidão pode ser
boa, quando se sabe usá-la. Desde a
Universidade, quando todo mundo ia para a farra, procurava estar com uma ou
duas pessoas, com as quais pudesse conversar. Discutir ideias. Não gosto de bebidas, no vicio o máximo que
consegui, foi fumar. Mas as vezes estava
fumando e esquecia o cigarro em cima de algum papel, e bumba, quase provocava
incêndios.
Riram muito com a imagem. Inclusive depois que deixei, usei isso numa
história.
Yan estava mais relaxado, acabou se
abrindo. Eu também sou gay tio, o
relacionamento que falava, foi com um sujeito, que imaginava que eu nadava em
dinheiro. Me senti usado.
As vezes acontece comigo, nunca uso
meu nome verdadeiro, ou mesmo me reconhecem pela capa de um livro. Só topei na vida com uma pessoa, que tudo
isso lhe importava uma merda. Era mais
jovem do que eu, não conseguia entender esse minha necessidade de ir até uma
cidade para escrever uma história.
Ele tinha seu trabalho, os
relacionamentos a distancias, são sempre muito complicados.
Nos dias seguintes descobriram que
alguns quadros tinham sido trocados, eram falsos, como estavam sempre na mesma
parede, ninguém prestava atenção.
Descobriram em seguida que tinha sido o autor das vendas. O que já estava em prisão. Resolveu ir até lá com o advogado e uma ordem
de um novo teste de ADN. Mesmo com o
antigo, sabiam que ele não era filho do velho.
Depois do teste, sentou-se na
frente deles, tinha envelhecido horrores nesses dias. Uma imagem grotesca, pois
estava aparecendo o cabelos brancos por baixo da pintura negra que usava. Deixou fazer o teste, riu com sarcasmo, é
duro ser filho de uma puta. Sempre soube
que não era filho dele. Você e Jules
herdaram os mesmo olhos que o velho tinha.
Era tacanho, por mais que eu o engana-se sempre descobria, me lembrava
que eu não era seu filho. Me dizia na
cara, que nem minha mãe tinha ideia de quem era meu pai. Me humilhava, me fez
ir à universidade a força, pois eu queria mais era fugir dali. Quando tu desapareceste, senti inveja de ti, podias
fazer o que querias, tiveste coragem. Eu
ao contrário, me acostumei ao dinheiro. A vida fácil, mas creio que nem poderei
sair daqui, tenho tantas dívidas de jogo, das loucuras que passava pela minha
cabeça. Creio que para minha família fui
um mal exemplo, espero que eles possam se corrigir, pois são jovens. Não vou pedir que os ajude, pois sei que
qualquer ajuda no momento, será pior. As
vezes culpava o Jules, pois ele acabava pagando minha dívidas, para não sujar o
nome da família. Tu ao contrário tiveste
o maior prazer de sujar tudo completamente.
Eu adorava te chamar de bastardo, porque sabia que não eras, tinha os
mesmos olhos do velho. Levamos anos em
entender que o escritor era um e o irmão que tínhamos era outro.
Lhe perguntou sobre os quadros, ele
disse quais tinha roubado, tinha contratado um falsificador, fizera uma cópia e
trocado nas paredes, ninguém olhava para eles mesmo, nem tinham noção dos
valores. Acabou dizendo para quem tinha vendido e por
quanto. Sabia que valiam mais, mas Jules se negava a dar mais dinheiro, dizia
que não havia nada mais em caixa.
Quando iam saindo, chegava outro
advogado, trazia um pedido de divorcio da mulher deste.
Escutaram que o outro gritava, dava
pena, mas havia que começar a aprender.
Deixaram tudo nas mãos do advogado,
a venda dos quadros e objetos de valor e da mansão e terras em volta. Yan tinha vendido os últimos ativos da
empresa do Jules, estava livre.
Tinha por costume ao terminar uma
revisão, entregar a mesma, num almoço. Avisou que levaria Yan como acompanhante. Ele já sabia que se tratava de seu sobrinho, tinha
avisado justamente para que tivesse cuidado com a conversação.
Tinham virado notícias, e os
conhecidos que ia encontrando, tocavam sempre no assunto. Pela primeira vez, estava transbordado, como
uma invasão de privacidade, ao longo desses anos todos, sempre tinha se movido
sozinho. E ter alguém com ele, embora fosse fácil conviver com Yan. Ele sabia de seus hábitos, e respeitava. O
andar de cima da casa de NYC, estava completamente vazio. Tinha conversado com Yan, este tomou a frente
de tudo, resolveu qual quarto queria, pintou de branco, comprou moveis, decorou
a seu gosto, no que dava para a rua, por ser o mais ruidoso, montou seu
escritório. Ainda não sabia a que se
dedicaria, mas não estava disposto a ir trabalhar com ninguém. Tinha aprendido a se desenvolver com seu pai
nos negócios. Gostava de administrar
coisas, aplicar dinheiro. Isso os tinha
salvado muitas vezes, embora a despesa com a mansão fosse uma calamidade.
Em pouco tempo se vendeu a mesma,
quando o advogado pediu o número de conta, lhe disse que fizesse a
transferência direta ao Yan, afinal o dinheiro era seu.
Na conversa do almoço, o editor foi
claro, desta vez ele teria que fazer uma série de conferências em
universidades, dado o interesse a nível pessoal. Se negou rotundamente, não ia ficar lavando
trapos sujos, em conferências, sabia como a coisa funcionava.
Ao chegarem em casa, por debaixo da
porta Tom tinha passado um bilhete, dizendo que Sarah precisava da ajuda deles.
Telefonara, se via que estava muito
nervosa. Foram até seu apartamento,
grande e com um certo luxo. Depois de
servir o chá, foi direta ao assunto, pediu desculpas primeiro, mas Tom insistiu
que eu pedisse ajuda. As vezes esse
garoto parece mais velho do que eu, com mais experiencias.
O assunto é o seguinte, sua avó
materna, me pediu dinheiro emprestado, me neguei, a partir que nunca
colaboraram em nada com a manutenção do Tom.
Depois tampouco disponho de dinheiro vivo assim. Disse um valor bem alto. Alega que não tem como sobreviver. Me pediu que intercedesse com vocês, para
voltar a viver na mansão.
Bom, a mansão já foi vendida. Por experiencia desses anos todos, sei que se
dás dinheiro uma vez, ela estará sempre pedindo mais.
O problema é que ameaçou a pedir a
guarda do Tom. Pois sabe que existe um fundo que lhe deixaram seus pais. Eu nunca o toquei, pois guardo para seu
futuro. Para quando possa ir à universidade.
Chamou imediatamente o advogado de
Dallas, este riu muito, a confusão com tua família não para. Esta tua irmã, que nunca tinha ido a um
supermercado, foi pega em fragrante roubando. Não sabia que havia câmeras de
segurança. Achou a coisa mais normal do
mundo pegar o que queria. Disse que
mandassem a conta para ti. Quando me chamaram, eu disse que tu não tinhas
nenhum vínculo com tudo isso. O problema
era dela. A princípio ainda pensei que
estavas errado, que tudo devia ter sido gradativo. Mas sabia pelo Jules que isso nunca
funcionária. Tem que ser como decidiste,
fechar o grifo. Não creio que ela
consiga a guarda da criança, a partir que está aguardando julgamento numa
prisão feminina. Não só pelo roubo, mas desacato a autoridade e pelas dívidas que
tem.
Os filhos desapareceram da cidade,
foram buscar vida em outro lugar.
Tranquilizou então a Sarah. Perguntou se o Tom estava de férias, ao saber
que sim, lhe perguntou aonde gostaria de ir. Este colocou uma cara de
dúvida. Disse que já conhecia muitos
países com sua avô, mas que gostaria de ir Noruega.
Mas sorrindo disse que antes
gostaria de conhecer minha casa por dentro.
Rimos muito de sua curiosidade.
No dia seguinte, encomendamos um
almoço, visto que sempre como fora, e os recebeu. Tom andou pela casa inteira, se interessando
principalmente pela biblioteca, que apesar de pequena estava abarrotada de
livros. As estantes estavam completas,
havia livros em pilha pelo chão. Lhe
explicou que muitos não tinha lido por absoluta falta de tempo, mas também
porque recebia livros de outros escritores conhecidos. Mas normalmente quando escrevo, não leio
nada.
Ah, consegui ler teu primeiro
livro. Só não entendi de imediato, o
comportamento do personagem principal. A
princípio demonstra que está perdido numa nova cidade. Sua curiosidade pela mesma, achei o que
tinhas explicado sensacional, os detalhes dos lugares, usei o Ipad para
verificar e existem mesmo.
Mas tu não tens idade para ler livros assim?
Minha professora diz que meu
coeficiente máximo se aborrece das coisas infantis. Sou o primeiro da classe, mas minha avó diz
que não devo ficar me gabando disso, pois é feio.
Riu com ele, olha tenho um amigo escritor,
que sempre me manda seus livros, ele escreve coisas para adolescentes,
procurando responder suas perguntas, creio que vai gostar. Procurou e encontrou numa pilha, pelo menos
dois livros dele.
A pergunta foi, não vou me
aborrecer com eles, não são de autoajuda.
Minha avó gosta muito, mas quando leio, vejo que não resolvem o
problemas de ninguém.
Quando viu o andar de cima,
parcialmente vazio, perguntou se ele não podia como o Yan, ter um quarto ali
para ele.
Para que queres um quarto aqui?
Ora, para estar perto de vocês,
poder desfrutar da companhia de quem me entende. Dos meus amigos da escola, alias só tenho
um, o resto só pensa em besteiras. Coisas que só estarei preparado mais à frente.
Por enquanto irei chamando a porta,
deixando bilhetes quando vocês não estão.
Ia sugerir a Sarah que saísse do país
com o Tom, durante algum tempo, que aproveitasse as férias. Diabos pensei, porque não vamos juntos para
ver como funciona. Consultou com a empresa que se dedicava a aluguéis, que
sempre usava. E achou uma casa primeiro
em Oslo, para todos eles. Gostava de casa Centrica para poder se mover a pé.
Sarah a princípio não se
entusiasmou muito, mas depois pensando em se livrar da família de Tom,
concordou.
A casa era tradicional, Sarah ficou
com a parte de baixo, ele com o primeiro andar, Yan e Tom com o último. Se reunião todos embaixo para o café da
manhã, depois se dedicavam a conhecer a cidade.
Sempre encontravam um tempo para se
sentar num café e ler as notícias. Lhe
chamou a atenção uma principalmente.
Três rapazes tinham abusado de uma
garota de origem árabe, porque se sentiam no direito de fazê-lo, eles eram
donos do país, os outros invasores.
Pelo menos esse era o argumento que usavam em defesa do que tinham
feito.
A garota, estava em coma, devido a
violência da agressão. Escutou um
psicólogo analisando a situação e argumentava que a agressão em si tinha sido
gratuita.
Fez contato com ele, marcou um
encontro. Foi sozinho, pois essas
coisas, faziam parte de seu trabalho. Conversaram longamente, o psicólogo lia
seus livros que tinham sido traduzidos no país. Disse que tinha feito o mesmo
que Tom, pesquisado para saber realmente que existiam essas ruas etc.
Aqui seria mais difícil, não falo
vossa língua, poderia sim observar o ambiente, ver o que sucede num bairro, procurar
entender as pessoas.
O grupo tem um cabeça, foi ele que
incentivou a agressão com tamanha brutalidade.
Mas se o vês, poderia passar por qualquer rapaz de um bairro classe
média.
Quem sabe, poderias me ajudar nas
pesquisas, para escrever um livro sobre essa história.
O outro ficou olhando longamente,
diretamente nos olhos. Eram da mesma idade, apenas o psicólogo, era
aparentemente mais formal.
Tinha contado ao mesmo, que estava
ali de visita com dois sobrinhos e a avó de um deles.
Ficaram de jantar todos nesse dia.
Yan ainda comentou, mas já te metes
em outro livro, dentro de dois dias vamos embora.
Não disse nada, com ele as coisas
não funcionavam assim.
Nessa noite apresentou Olsen a sua
família, por assim dizer, riram muito com ele, tinha um sentido de humor
refinado.
No dia seguinte serviu de guia a
lugares que não eram turísticos, para como viviam realmente as pessoas. Foram a bairros obreiros, aos de classe
média.
Pensou, no fundo ele está tentando
me mostrar alguma coisa.
Nesse dia de noite disse que
aceitava, com uma condição, que no livro constasse sua participação.
Evidentemente que sim, pois
trocarei informações contigo, pareceres etc.
Para que entenda minha maneira de
escrever, vou procurar me documentar da seguinte, maneira, como vive a garota,
seu ambiente, e ao mesmo tempo o dos rapazes.
Tentarei falar com eles, observar tudo ao redor dos mesmo.
Então aceito. Normalmente me pedem para acompanhar alguém,
que em seguida desaparece, ficam informações ocas.
Iria perder o voo, mas isso não
importava, foi a embaixada e pediu ajuda para poder ficar mais tempo, pesquisando
um assunto para um livro. Imediatamente
lhe assignaram um ajudante, e trataram de toda a documentação que poderia
necessitar. Afinal era conhecido no seu
próprio país, o adido cultural, só pediu que se ele pudesse fazer palestras nas
universidades, falando da cultura americana, dos escritores. Concordou a contra gosto, mas sabia que
sempre era assim.
Olsen, lhe perguntou se não queria
se hospedar em sua casa, vivia muito perto de aonde estavam hospedados. Como a casa era grande sobrava espaço. Yan
ainda fez uma brincadeira pelo celular, vi como ele te olha, creio que há um
romance no ar.
No relacionamento com outra pessoa,
sempre tinha tido problemas em perceber interesse dos outros por ele. Não estava acostumado ao flerte, tinha sempre
a cabeça mergulhada no que estava fazendo no momento.
Teria que comprar algo de roupa
mais cálida, pois o inverno se aproximava.
Primeiro leu tudo que a respeito do
que tinha acontecido. Um dos rapazes
tinha filmado tudo. Como era de domínio público, pois tinham subido a Youtube,
todo mundo tinha visto, e a opinião publica era complicada, de um lado os
radicais que apoiavam o que tinham feito contra esses invasores de sua
terra. De outro os que eram radicalmente
contra, as ONGs.
De qualquer maneira, havia algo por
detrás de tudo isso.
Quanto mais lia, e repetia sem
cessar o vídeo. Pediu ao Olsen que
traduzisse o que diziam durante o ataque.
Havia uma voz que incentivava o abuso primeiro dos dois, se via que não
havia muita violência. Quando as coisas mudavam, o que filmava passava a ação,
tudo adquiria uma violência extrema. Com
o texto traduzido, fez uma montagem da seguinte maneira. O que falava cada um, respiração, e analisou
cada um.
Se diria que o que filmava
primeiro, incentivava a agressão, porque lhe excitava, era o último, porque
necessitava disso primeiro. Da violência dos outros, para que ele tivesse sua
própria excitação.
Analisou isso com o psicólogo.
Analisaram outra vez, agora juntos,
isolando acusticamente cada um do grupo.
Marcaram de falar com o fiscal que
levava o caso, este achou interessante o que diziam. Já o advogado de defesa se negou a falar com
eles.
Mesmo assim conseguiram uma
autorização do juiz, para entrevistar cada um. Mas antes fizeram uma coisa
logica para eles, visitar a família de cada um.
O segundo Galder, era o que no
vídeo tinha sido menos violento, seus pais tinham mais idade do que
aparentavam, os receberam bem, ofereceram um café. Confessaram que ele tinha sido adotado,
quando desistiram de conseguir conceber um filho. Tinham ido a uma aldeia no
interior, de onde eram originários, um familiar conseguiu a criança para eles,
filho de pais droga-dependentes.
Era dado a melancolia, o vigiavam
por medo de recair em drogas, era amigo recente do grupo. Aparentemente não faziam nada, mas a partir da
convivência com eles, passou a ter ataques de agressividade. Acreditavam que devido ao consumo de drogas.
No laudo de cada um, apareciam o
uso de drogas. Estavam decepcionados, pois imaginavam que tinham dado ao garoto
estabilidade.
Quanto ao terceiro, Ivar, o que
incitava a violência, foram recebidos tão somente pelo pai. Este estava meio bêbado, isso as 9 horas da manhã. Soltou uma verborreia completamente sem
logica, que o filho tinha sido induzido pelos outros.
Sempre foi um pouco tonto, tive que
o trazer de rédeas curtas, fez um gesto como o pegasse. Sempre metido com
coisas que não devia. Quando perguntaram o que?
Pergunte a ele, o que gostava de
fazer antes, nada natural, tive que lhe dar belos corretivos.
Quando perguntaram pela mãe, a
única resposta foi que tinha desaparecido quando era criança.
Ou havia um processo nos três de
desestruturação familiar de longa data.
Foram falar primeiro com Loki, os
três estavam no mesmo lugar, mas bem separados, em momento algum lhes permitia
comunicar-se entre si.
Ao primeiro momento, foi um pouco
negativo em responder as perguntas, rosnava como um cachorro. Quando mencionaram que tinham visitado sua
família. Mudou de atitude. Primeiro lamentou o problema para eles, depois
começou a falar do abandonado que estava sempre. Quando
lhe perguntaram por Ivar. Rosnou
novamente, dizendo o chefe de grupo que sempre nos mete em enrascadas. Foi dele a ideia, íamos caminhando, ele não
parava de falar das putas árabes, do fácil que era comer uma buceta jovem etc.
Quando viu a garota sozinha, tentou falar com ela, mas não nos entendia. Ficou uma fúria, dizendo que estava fazendo no
nosso país, se não conseguia nem falar nossa língua. Le deu um soco em plena cara, ela caiu, então
a arrastamos para um matorral, ele começou a dizer o que deveríamos fazer,
estava histérico, gravando tudo. Depois com Galder, ele incentivou mais, pois era
sua primeira vez, não ficava de pau duro, o orientou como se fosse um
professor, como devia fazer para ficar duro.
E quando chegou a sua vez, já tinha
o seu para fora, estava como um possesso, gritava, hurra, mais uma árabe morta,
na verdade quase não chegou a penetrá-la, pois se divertia dando golpes e
gritando, o que chamou a atenção dos vizinhos que chamaram a polícia. Quando chegaram os primeiros, um deles mais
forte, queria esfregar seu pau, no polícia, o chamando de gostoso, venha que
como seu cu também. Este lhe deu um
murro de fazer gosto.
O que vocês consumiram de drogas
antes?
Pouca coisa, marijuana, umas
pastilhas que tinha Ivar, que não sei o que eram.
No dia seguinte, conversaram com
Galder, não sabiam como, tinha conhecimento da visita e da conversa com Loki.
Quando lhe perguntaram, respondeu
que tinha escutado dos policiais.
Primeiro, quis negar a participação. Mas mencionaram o vídeo, mudou de rumo.
Acusou aos dois, Loki e Ivar das
drogas e outras coisas. Há um intervalo que não foi gravado, em que Ivar alisou
meu pau, para ficar excitado. E me ensinou como fazer.
Ficaste excitado por Ivar ou pela
garota?
Por Ivar, quando o conheci, era
como seu protegido. Sabia que eu não
podia consumir drogas. Mas me ensinou a
usar um pouco, não me deixava passar de um limite. Gostei dele, porque me
protegia, estava sempre abraçado comigo.
Uma vez inclusive me beijo na boca.
Bom aí estava, faltavam alguma
coisa na gravação, como podiam ter subido a mesma a internet, se tinham sido
detidos em seguida.
O deixaram falar dos pais adotivos,
que tinham uma mentalidade de velhos, o protegiam demasiado. Quase não o deixavam sair de casa, estavam
sempre avisando dos perigos do mundo. O
obrigavam a ir à igreja, rezar pelos seus pais verdadeiros, que tinham pecado
muito.
Não tinham visto pelo menos na
sala, nenhum símbolo religioso, quando o confrontaram, disse que no quarto
deles sim.
E que as vezes sua mãe num acesso
religioso, o pegava para pagar os pecados de seus pais. Mas sempre que o pai estivesse ausente de
casa, no trabalho. Nunca ficava nenhuma
marca. Quando passei a sair com os
garotos, disse que a igreja não ia me perdoar.
Mais uma ponta para refletir.
Resolveram falar de uma vez com
Ivar, para não lhe dar tempo de pensar.
Esse ao contrário disse que não sabia de nada. Ao mencionarem seu pai. Resmungou esse filho
da puta fedorento. Sempre cheirando a bebida.
Perdi a conta de quantas vezes tive que o retirar da rua em pleno
inverno, por estar bêbado.
Nos contou que tu, fazias coisas
erradas quando eras jovem. Em que
consistia isso. Não respondeu, ficou se
balançando, com a cara cheia de ira. E
repetindo sem parar, filho da puta, filho da puta.
Eu sabia que um dia ele ia contar
para todo mundo. Mas a culpa é dele.
O que foi que ele fez?
Me pegou um dia com um garoto,
estávamos brincando de pegar um o pau do outro. Me deu uma surra de fazer gosto, dizendo que
seu filho não podia ser gay. Me levou a
um médico, este lhe mandou me dar uns remédios, que me deixavam dopado. Não conseguia fazer nada, ele não parava de
dizer que o que gostava de fazer com outros garotos, era errado. Que de uma maneira ou outra ia conseguir que
eu gostasse de mulheres. Começou a
trazer mulheres para casa, fazia sexo diante de mim, dizendo que tinha que
apreender como se fazia. Era muito
agressivo com elas, tempos depois reencontrei minha mãe, ela tinha ido embora
por isso, pela agressividade dele. Deu
uma direção aonde podiam encontrar.
Até então fazia o papel de bom
menino. Quando mencionou do pedaço que
faltava do vídeo, que tinha massageado o sexo de Galder para ficar duro. Ficou uma fera em seguida. Ele nunca tinha feito gritou, tinha que
ajudar.
Ele disse que gostou disso.
Como? Em sua cara apareceu um
sorriso, eu também gostei, se estivesse sozinho com ele, ia lhe ensinar mais
coisas.
Então gostas de fazer sexo com
homens?
Homens não, garotos a quem eu possa
ensinar a como ficar de pau duro. Nada mais.
Meu pai foi quem me ensinou isso,
foi isso que ele fez, quando uma vez trouxe uma puta negra, meu pau não ficava
duro de jeito nenhum, ele me massageou e enfiou dentro dela, ao mesmo tempo me
batia com as mãos abertas, dizendo que me soltasse. Dei tanta porrada na
mulher, que acabou morrendo. A
enterramos no fundo de casa.
As vezes de noite, ele vinha na
minha cama, para ver se estava de pau duro, senão me ensinava a massagear.
Gostava disso, e gosto de fazer com
os garotos, fiz isso com o Loki muito tempo e agora começava a fazer com o
Galder.
Temos que ensinar esses meninos a
serem homens.
Por que a garota árabe?
Porque não para de escutar na
televisão, meu pai falando, que estão nos invadindo, nos tiram trabalhos e que
suas mulheres são como putas, que embaixo dessas roupas não usam sequer
calcinhas. Parou e pensou, essa tinha,
uma grande e feia.
Que lhe deu mais prazer, massagear
Galder, entrar dentro dela e dar porradas.
Claro que foi ensinar meu pupilo
como devia fazer, agora ele é um homem. Já sabe deixar seu pau duro.
Que confusão mental, pensei comigo.
E se ela morre, lhe disse para
Olsen, perguntar.
Pensei que já estava morta.
Não ainda está viva.
Ia enterrá-la junto com as outras
no fundo de casa.
Saíram diretamente dali, Olsen
avisando o fiscal, mostraram a gravação para este. Caramba a coisa pinta mal. Sinal que ele faz isso a muito tempo.
A polícia prendeu o pai de Ivar, e
começaram a escavar no fundo da casa. Encontraram três mulheres, dadas como
desaparecidas, uma a negra e outras duas árabes.
Voltaram a falar com o velho,
primeiro se negou, no momento que comentaram as massagens que fazia ao seu
filho de noite, ficou furioso.
Imbecil, estava apenas ensinado como empinar, para penetrar.
A cara era de espanto, nunca tinha
se perguntado a respeito. Em sua mente
era o natural, um pai ensinar um filho.
Ele só sabia da negra, das outras
não.
O senhor ensinou que seu filho
devia pegar as mulheres?
Claro, senão como elas vão ter
prazer, vi meu pai fazendo isso com minha mãe toda a vida. Elas gostam disso.
Apresentaram um relatório ao
fiscal.
Lhe disse que escreveria um livro a
respeito, mas somente depois do julgamento.
Resolveram escutar a outra parte,
melhor dizendo a outra família, pois a garota continuava em coma.
Na ficha que tinham, havia pouca
informação a respeito dela, Olsen, contatou um conhecido, de ascendência árabe
para acompanha-los. A princípio não
queriam recebe-los alegando que a polícia não tinha feito nada, por serem
árabes.
Realmente em todo processo só se
falava da nacionalidade da garota, em alguns documentos nem constava seu nome. Depois de dois dias, finalmente conseguiram
entrar na casa.
Foram apresentados, não como
policiais, mas como alguém que estava ajudando o fiscal, contra os rapazes.
A primeira coisa que a senhora
falou, era que não eram pais da garota.
Ela era sua irmã. A tinha ajudado
a sair da Turquia, pois o pai de ambas era ferozmente tradicional. Quando contratou meu casamento, consegui
fugir. Queria me casar com um velho
rico, sem herdeiros, para ficar com o dinheiro do outro. Quem me ajudou a fugir foi o próprio
velho. Sabia das artimanhas do meu
pai. Ele quis fazer o mesmo com minha
irmã.
Mas me escreveu, lhe mandei
dinheiro para fugir. Um pouco tarde, mas
conseguiu.
Que quer dizer com um pouco tarde?
Ela se enfrentou ao meu pai, ele e
um dos meus irmãos fanáticos, cortaram a língua dela por ter se rebelado contra
eles. Diziam que assim obedeceria o
marido que tinham escolhido.
Quando ela chegou aqui, quase
morreu, pois tinha o que restava da língua totalmente inflamado. Ninguém tinha cuidado dela.
Esteve vários dias entre a vida e a
morte. Saia somente para fazer aulas,
estava apreendendo a falar outra vez com o que sobrava da língua.
Ah, então era isso, eles pensavam
que falava algo confuso.
Além de tudo, ela não podia gritar,
pois tinha as cordas vocais, afetadas pela inflamação inicial da língua.
Sempre tinha alguém com ela, esse
dia a aula acabou mais cedo e a pessoa que ia busca-la chegou no horário, mas
ela já tinha saído.
Fez o roteiro que fazia sempre
acompanhada. Talvez por isso, não se deu
conta que a seguiam. Estava acostumada a
vir tranquila pela rua. Inicialmente
quando não a localizamos, pensamos que tinham sido alguém que tivesse vindo da
Turquia para lhe fazer alguma maldade.
Ao finalizar a mulher estava com a
cara inundada de lagrimas. Minha mãe não queria que nenhuma filha se chamasse
Fatima, pois era o nome de mulheres sofredoras.
Mas meu pai insistiu. Não queria
que estudasse, só se preparasse para se casar.
Como tinha mais filhas do que filhos, descobriu que podia basicamente
vender as filhas. Fui a única que
escapou rápido, mas jamais poderei voltar.
Aqui me casei, tenho dois filhos.
Temos naturalização porque meu marido era Noruego de nascimento.
Nenhum desses dados aparecia nos
papeis. Ao informarem ao fiscal, este
perguntou se não queriam trabalhar para ele.
Vocês conseguiram mais que os funcionários. Tenho o caso completo.
Conseguiram localizar a mãe de
Ivar, vivia numa outra cidade, em Bergen, a princípio não queria falar com
eles, mas quando soube que o filho poderia passar o resto dos dias na prisão,
aceitou.
Confirmou o que ele tinha dito, o
marido a surrava, pois achava que isso lhe dava prazer, por mais que tentasse
convence-lo ele dizia que seu pai o tinha ensinado assim. Até um dia que chegou em casa e viu seu pai
tentando me pegar, pois me negava fazer sexo com ele. Um velho sujo e
asqueroso. Mas o velho o convenceu que
eu o tentava, que era uma maldita, enquanto discutiam, fugi de casa, como não
tinha provas ele ficou com o garoto.
Mal o reconheci quando o vi. Tem um
olhar estranho, nunca olha as pessoas diretamente nos olhos. Me deu muito medo, o que seu pai pode ter
feito com ele.
Acharam melhor, contar das mulheres
mortas e enterradas.
Eu com certeza acabaria assim. No
campo do velho, havia uma quantidade de cruzes, sem nome, datas. Quanto
perguntei ao que era meu marido, me disse rindo cinicamente, que eram mulheres
que tinham perturbado seu pai.
Conseguiram o endereço desse lugar
e passaram ao fiscal.
Nenhum dos vizinhos tinha percebido
nada. Mas sim algumas mulheres de
família da vizinhança tinham desaparecido.
O julgamento estava desigual desde
o princípio, o advogado de defesa, era um para três. Estava mal preparado, não sabia de nada do
que o fiscal sabia. Mal tinha conversado
com seus clientes. Tanto que o juiz ao
perceber. Adiou o julgamento, para que tivessem um advogado para cada um. Separou todos os julgamentos para não haver
confusão. Só os reuniu no final.
O julgamento do pai do Ivar foi a
parte também, pois tinha encoberto o corpo da negra, mesmo no julgamento, dizia
que não tinha feito nada errado, ela era um puta, estava ali para servir os
homens.
Ivar foi condenado a prisão
perpetua, os outros dois a 10 anos, e o pai do Ivar a 5 anos.
Já tendo toda documentação, depois
de ter andado pelos lugares que eles mencionavam, já tinha material suficiente
para um livro.
Talvez tenha sido o livro que mais
doeu escrever, ou ele estava ficando velho, com o coração mole.
Olsen ainda tentou algo com ele,
mas foi franco, sabes que seria somente uma aventura, pois irei embora e tu
ficaras aqui. Tenho uma outra vida, e
podemos estragar uma bela amizade.
Seguiriam se correspondendo.
Mal chegou a NYC, encontrou todos
em sua casa. Na hora não entendeu, até
que Yan lhe explicou que tinham tentado raptar o Tom, mas que este tinha sido
esperto. Sabia aonde estava uma chave
sobressalente da casa, tinha se escondido e avisado sua avó. Quando cheguei em
casa ele me explicou. Falei com a
polícia, realmente tinham dois vigiando a casa dela. Depois se identificaram como tios do garoto,
que o queriam levar para ficar com a avó materna, que tinha saído da prisão.
Está sendo processada novamente
junto com seus dois filhos, pela quantidade de burrice que fazem.
Yan confessou que quase, mas tinha
se lembrado das conversas deles, que ajudando era pior, tinham que enfrentar suas
vidas. Por mais que lhe dessem dinheiro sempre voltariam por mais.
Fizeram um acordo de espaços. O dele, ninguém deveria interferir, tentar
arrumar, ou interromper enquanto estivesse trabalhando. Que não o esperassem para comer em nenhum
momento, pois seus hábitos eram diferentes.
Se respeitamos o espaço de cada um, não teremos problemas.
Já tinha escrito na verdade a
história inteira, durante o tempo que estava lá. Olsen sempre reclamava que ele nunca
descansava, ou se relaxava. Que fazia
sua máquina mental funcionar a 100 por hora.
Ao transformar cada um num
personagem. Agora teria que escrever muito, humanizar cada um, com uma visão
distinta, visto de fora, nem sempre era fácil. Montou o livro, começando pela
agressão, depois passou como cada um tinha feito seu dia, seus sentimentos de
revolta pelo o que tinham em casa. O mesmo se tratando de Fátima, usou mais a
imaginação, pois nunca tinha falado com ela.
Tudo que sabia de sua história, lhe
tinha contado a irmã. Mas tinha um roteiro.
Criou um motivo por que não tinha esperado a porta da escola para
leva-la para casa.
Primeiro mandou o texto para Olsen,
pois no fundo tinham discutido e analisado cada parte. Agradecia isso no prologo. Mandou junto um bilhete, dizendo se queria
que colocasse como coautor do livro, a ele isso dava igual.
Acabou ficando uma dedicatória no
começo, no prologo toda a explicação da participação do Olsen. O editor queria retirar o prologo, mas ele
não concordou. Decidiu que uma parte do dinheiro seria para o Olsen.
Antes do livro ir para o prelo,
mudou de ideia, achou pouco, e colocou como coautor do livro. Tinham discutido tanto cada personagem, que
as vezes se cansavam um do outro.
Olsen ficou contente, teria direito
a metade do valor do livro.
Quando propuseram transformar em
série, na Noruega, Olsen foi chamado para assessor. Venderam os direitos, repartido entre os
dois. Pela primeira vez lhe pediram que
escrevesse os capítulos.
Alegou não estar familiarizado com
isso. Pediu um tempo para pensar.
Procurou ajuda num guionista, esse lhe ensinou o truco.
Sentou-se e montou tudo a partir da
adolescência de todos eles, seus problemas, seus traumas. Enfim.
Quando apresentou o texto do primeiro
capitulo, o diretor aplaudiu entusiasmado. Ele e Olsen participaram da eleição
dos candidatos aos papeis. Entendia que
era difícil, pois os produtores, não queriam semelhanças físicas.
Pela primeira vez, entendeu o
quanto era difícil, dar verdade a personagens tão neuróticos, psicopatas etc.
Foram chamados pelo fiscal. Este
pedia ajuda num caso complicado, o que inicialmente pensava que era um atendado
ou homicídio frustrado, resultava ser uma complicação. A pessoa afetada pedia que os dois o ajudassem. Nunca aconteceu isso.
Embora o fiscal tivesse guardado
segredo, os levou pessoalmente a um hospital, em uma ala extremamente vigiada,
foram levados a um quarto. Era um dos atores mais famosos do país,
considerado pelas mulheres um macho alfa. Tinha o rosto todo cortado, se via que tinham
reimplantado a orelha, antes de entrar o fiscal os avisou que tinha se
castrado.
Quando viu os dois, disse que tinha
lido o livro deles, me acho numa situação delicada. Gostaria de conversar com
vocês, para me entender. Nunca estive
com um psicólogo, o senhor sei que é um escritor, que percebe o ser humano.
Venho de um acúmulo de trabalho,
estou fazendo uma série de televisão e ao mesmo tempo um filme, nos dois faço
papel de um psicopata, que engana todo mundo com seu charme e beleza.
Estou, farto disso. Minha mãe me dizia que minha beleza era minha
maldição. No dia que tudo aconteceu, não
sei se tive um surto psicótico ou se alguém me atacou, não consigo me lembrar.
Tudo que sei, foi que entrei em
casa cansado, tirei os sapatos que estavam sujos na porta, me sentei no sofá,
me servi de um pouco de whisky, tomei pelo menos dois goles, depois já não me
lembro de nada.
Quando me despertei, vi sobre mim
uma figura de negro que se ria muito alto, saiu correndo.
Meu empregado entrou, imediatamente
chamou a polícia e a ambulância.
Ele diz que não viu ninguém sair,
acredita que fui eu que fiz tudo sozinho.
Pediram para examinar sua
casa. Um carro da polícia os levou até
lá. Estava lacrada, o policial abriu a
porta para eles. Realmente o que mais chamava atenção era o sofá sujo de
sangue. Perguntaram se a cientifica
tinha estado lá. Este não sabia, mas
informou-se. Minutos depois chegou o
fiscal com a cientifica.
Porque dizem isto. Lhe expliquei, que ao olhar as fotos e
comparar o local, o mesmo não poderia ter cortado certas partes do corpo porque
tinha um problema no braço. Usa o lado
esquerdo do corpo para tudo. Já o vi,
num filme, creio que tiveram que mudar cenas pois ele todo se move pela
esquerda, e quem fez isso, estava do outro lado.
A garrafa de Whisky estava meio
entornada, mas ainda havia um pouco dentro.
Pediram que analisassem o conteúdo.
Tinham tirado o sapato na porta, se
via muitas pisadas, acreditavam que de polícia, e enfermeiros. Assim se afastaram do círculo que estavam,
pediram que ninguém se mexesse do lugar.
Justo detrás de uma cortina pesada,
havia marcas no chão, que alguém tinha estado ali em pé.
Continuaram examinando a casa. O
quarto estava perfeito, mas eles eram pior que a polícia, abriram armários,
afastaram roupas, viram que havia um cofre fechado. Tinha como umas manchas no mesmo, pediram que
apagassem a luz e iluminaram. Estava
escrita com sangue, um dia volto para buscar teu dinheiro, gay de merda, tinham
tentado abrir o cofre.
No banheiro, tudo era um caos,
perguntaram se alguém tinha olhado o resto da casa. O fiscal, disse que todos pensaram desde o
princípio numa tentativa de suicídio. Por isso não tinham explorado a
casa. Nos outros cômodos, não viram nada
diferente, mas ao entrar na biblioteca, que destoava totalmente do resto da
casa moderna. Ficaria melhor, num
palácio antigo que ali. Paredes cobertas
por estantes antigas, tudo era ao contrário do resto da casa. Uma mesa antiga, cheia de livros em cima,
muitos caídos pelo chão. Do lado contrário,
duas poltronas de orelhas em couro antigo. Livros abertos em cenas de
sexo. Faunos, coisas aberrantes.
Tinham tentado abrir as gavetas,
mas creio que não encontraram as chaves.
Quando desceram a garagem, faltava
um dos carros mais famosos, no local manchas de sangue.
Tudo na verdade era muito estranho,
agora tocava descobrir quem odiava tanto ao ator.
Deixava de ser uma tentativa de
suicídio, para ser de homicídio. Creio que a ideia do assaltante, era deixa-lo
dessangrar, mas como bebeu pouco, deve ter-se despertado antes do tempo.
Foram felicitados pelo fiscal, eram
bons no que faziam. Foram com este até a
polícia, lá procuraram saber atreves da internet, mais sobre a vítima. Sobre
seu passado não havia muitas coisas.
Levantaram seu segredo bancário, encontraram depósitos mensais a um
hospital psiquiátrico. Foram até lá, uma
grande surpresa, quem os atendeu era amigo de Olsen, procurou facilitar as
coisas. Estava aqui internado até o mês
passado, quando morreu o irmão gêmeo dele, eram iguais, mostrou fotos dos dois
no jardim. O que estava internado, tinha os cabelos brancos, mais pálido, mas
eram idênticos.
Estava aqui desde os dez anos de
idade, quando se diagnosticou todos seus problemas. Aaron, verbalizou o nome do ator, só não
vinha quando estava fora do país, ou fazendo uma filmagem longe.
Há um detalhe interessante, já que
falam da castração, é que na verdade os dois estavam castrados quimicamente a
muitos anos. O pai deles o tinha feito, não queria mais anomalias na família.
Pelo que sei, vem de uma larga
linhagem de pessoas com problemas mentais.
A mãe deles se suicidou, nada mais ao saber que um dos filhos tinha
problemas mentais.
Seu pai, declarou que isso tinha
sido muito para ela. De qualquer
maneira, veja bem, Aaron, sempre foi muito cordato. Sempre que lhe pedia, fazia um exame total
aqui conosco.
A tempos vinhamos notando que
estava estressado, mas a despesa do irmão era muito grande, por isso trabalhava
tanto.
Voltaram a polícia, fizeram um
relatório completo sobre o irmão.
Voltaram ao hospital, tinham que
falar rápido com ele, pois iria entrar para um cirurgia reparadora.
Quando falaram do irmão, começou a
chorar, mamãe dizia que fazia parte da maldição da família de meu pai.
Mas para entender tudo, melhor,
lerem tudo a respeito. Lhes disse aonde estava a chave da mesa, lá encontraram
quase tudo, o resto depois contarei.
O levaram para a sala de
cirurgia. Quando voltaram a casa, alguém
tinha entrado para procurar alguma coisa. Estava mais revirada, chamaram a
polícia, tudo era um desastre. Tinham
tentado abrir as gavetas da mesa, por debaixo, mas eram de metal.
Foram vistoriar o cofre do quarto,
estava intacto.
O melhor seria, levar os documentos
dali. Encontraram dois diários, e uma caixa
cheia de fotografias. Os dois quando crianças, jogando bola, vestidos
diferentes, para serem diferenciados.
Junto as fotos, um pequeno diário
infantil. Aaron reclamando que o irmão
tinha se transformado. Gostava de matar
os gatos, cachorros com a próprias mãos.
Ia registrando com uma visão infantil, tudo que o outro fazia.
“Tentou me matar”, uma simples
anotação. Uma foto com mostrando uma cicatriz a altura da virilha.
Finalmente a última anotação,
dizendo que não entendia por que o pai mandava internar o irmão, se quando
esses ataques passavam era uma pessoa normal.
O pai alegava que era uma maldição de família. Mas não explicava por quê. No final uma serie de interrogações. Porque o pai era um mentiroso.
No envelope encontraram, fotos dos
dois juntos, conversando abraçados, fotos de aniversário ou natal, no
hospital. Desde que tinha podido entrar
no mesmo para visitar o irmão.
Dois dias depois conseguiram voltar
a falar com Aaron, bom já que sabem do meu irmão. Posso contar o resto. Tentou me matar umas
duas vezes, delirava, meu pai dava a desculpas que tinha febre.
Em casa trabalhava uma senhora que
tinha uma filha pequena. Um dia meu irmão desapareceu, tampouco se encontrava a
garota. Quando o encontramos, estava num
lugar que acostumávamos jogar, ali sentado, com a garota, morta e aberta no
estomago, ele estava comendo o fígado quando chegamos.
Disse que tinha visto isso num
filme de índios, e que ele era um dos homens do filme.
Voltaram uma quantas vezes mais,
agora que tinha se recuperado da operação, os atendia sentado em uma poltrona.
A grande beleza do rosto, estava
acabada, se notava a costura do reimplante da orelha. O resto refletia no rosto, uma amargura
imensa. Sentia que tinha falhado em
tudo.
Nunca quis ser ator, tudo saiu por
acaso, estava participando de um grupo de teatro na universidade, mais por
curiosidade, para me relaxar. Pois a cada notícia do meu irmão, era um peso.
Meu pai ainda era vivo, conviver
com ele um coisa complicada, do mesmo momento que estava alegre, ficava
furioso, as vezes ele complicado lidar com ele.
Uns anos depois, tentou suicídio, acabou internado numa clínica, que
comeu o que restava do dinheiro, por isso quando surgiu o primeiro convite para
um filme aceitei, depois o resto foi o mesmo, tudo por dinheiro.
Tinha que cuidar do meu irmão. Tentaram de tudo, mas ia cada vez pior. As vezes me reconhecia, outras não. O pior era quando colocava na cabeça que eu
era ele, que tínhamos sidos clonados. Saia da clínica arrasado. Imagine que as vezes no mesmo dia, tinha que
comparecer a uma estreia, ou uma festa para promocionar o último filme. Havia que fazer das tripas coração. Queria
para o carro e descer, mas tinha que continuar. Quando morreu, senti um alívio, o que
provoca na verdade uma sensação de culpa. Agora, podia deixar tudo, depois desse filme,
da série.
E me acontece isso. Primeiro a meses atrás recebi uma carta, que
não dei muita atenção. Dizia que eu
tinha enganado todo mundo, que na verdade não era quem eu pensava. Não entendi muito, mas tudo bem.
Uma pergunta. Você diz que teu pai os castrou quimicamente.
Como era teu relacionamento com as mulheres?
Por causa dos filmes perguntas?
Sim, porque eras famosos pelas tuas
conquistas.
Bom se tivesse prestado atenção,
todas ou eram modelos ou atrizes no começo de carreira. Tudo que tinham que fazer era acompanhar-me
as estreias, festas etc. Voltava sempre
sozinho para casa. Nunca tive
relacionamento sexual com nenhuma, pode perguntar. Algumas até se insinuava, mas eu dizia que
tinha um compromisso, que era secreto.
Nunca senti atração por ninguém,
nem sexualmente, nem amoroso. Uma vida vazia, tudo o que pensava era ganhar
dinheiro para garantir o internamento de meu irmão.
Então não crés que alguma dessas
pessoas possa ter querido se vingar?
Tudo o que fazia era ser cortes,
atencioso, beijos discretos, segurar a mão, sorrir para fotos, nada mais. Não creio que ninguém tenha se apaixonado
por mim, só por isso.
Bom na verdade, teve uma pessoa,
que me perturbou uma vez, foi um sujeito que estava internado com meu
irmão. Ao me ver ali, tentou fazer
amizade com meu irmão. Mas este estava
dopado todo o tempo, por causa de sua agressividade. A esse sujeito, meu irmão acabou mordendo,
pois, depois que lhe davam os comprimidos, ele os retirava da boca, para que
ficasse lucido e contasse coisas sobre mim.
Tudo que levou foi uma mordida na cara.
Isso me perturbou muito na época, pois estava muito deprimido. O médico
me chamou pois temia que o sujeito conseguisse sugestionar meu irmão.
O mesmo seguiu tentando, um dos
motivos pelo qual meu irmão acabou morrendo.
Vocês viram a escadaria do hospital, meu irmão ficava num quarto no
andar de cima. Esse sujeito, que não sei
quem é, um dia o provocou tanto, que meu irmão se jogou ou foi jogado desde lá de
cima. Morreu no ato.
Agora, tocava voltar ao hospital,
estranhavam que o diretor não tivesse comentado nada.
Quando falaram com ele,
inicialmente negou tudo, mas depois quando se falou no fiscal, confirmou. Mas esse paciente teve alta e saiu, pertence a
uma família importante da política do país.
Tanto fizeram que acabou dando o nome.
Nem precisaram ir atrás do mesmo,
tentou atacar de novo, no hospital, vestiu uma bata de médico, entrou no quarto
do ator, quase consegue matá-lo, se não fosse uma enfermeira que o desconhecia.
Quanto tentou agredi-la, entraram os policiais de que estavam ali de guarda e o
prenderam. Quando o entrevistaram, foi uma coisa caótica. Ele alegava que o ator o tinha enfeitiçado,
que queria sexo com ele. Quando o
confrontaram de sua estadia no hospital psiquiátrico, em seguida mudou a
história. Disse que o que estava ali era
um verdadeiro ator, fingia estar ali escondido, nunca dizia nem uma palavra,
nem uma resposta. Lhe declarava seu
amor, mas nem assim. Só sorria quando o
outro, que vinha do lado esquerdo do cérebro, aparecia e o abraçava. Odiava o do lado esquerdo, pois conseguia que
o do lado direito, sorrisse, olhasse para ele, mas na verdade não dizia nenhuma
palavra, ficavam de mãos dadas, foi então que descobriu que o do lado esquerdo,
segurava a mão do outro, pois eram amantes.
Ele queria o do lado direito.
Quando acabaram a conversa, tinham
um nó na cabeça. Quando lhe perguntaram
por que queria o que estava no cofre.
Disse simplesmente que pensava que era rico. Com o dinheiro ele poderia
escapar de sua família.
Porque tinha lhe cortado o
sexo. Porque o outro o tinha assim,
queria que fossem iguais. As feridas na
cara, para que deixasse de ser bonito e liberasse o outro do lado direito.
Enfim, sentou-se com Olsen, que
desordem mental!
Sim, seu pai é um dos ministros,
deve ter esse filho escondido a qualquer custo.
Não se ventilou que ele tivesse voltado para o hospital.
O ator os agradeceu muito. Agora pelo menos poderei viver tranquilo,
usarei meu verdadeiro nome, ninguém me conhece por ele, posso passar
desapercebido, deixei de ser bonito.
Quando falaram com o fiscal, este
estava furioso. Que confusão, o ministro
está fazendo uma pressão horrível que isto não saia a luz, pois pretende se
candidatar a primeiro ministro.
Menos mal que ele tinha gravado e
Olsen também, passaram as copias para ele. Mas claro, deram uma também para o
Ator, seria sua segurança. Quando lhe
deram alta, embarcou com um passaporte de seu nome real, para um tempo na
Itália. Ia tentar relaxar de sua vida.
Resolveram escrever a história sem
mencionar nomes, apenas analisando a cabeça do pai, que tinha castrado seus
filhos, a vida desgraçada de uma pessoa que não tinha culpa nenhuma. Que tinha
cuidado de seu irmão, ao mesmo tempo, perseguido por outro com problemas
psiquiátricos. Estava bem disfarçada a história, sem mencionar em momento algum
ministros, hospital etc.
Apenas diziam que a história estava
baseada num acontecimento, nada mais.
Nunca foram procurados por ninguém
para dizer que escondessem fatos. O
livro saiu em nome dos dois.
Olsen de brincadeira lhe disse que
mais um livro ou história ele passaria a viver por lá, então quem sabe.
Voltou a NYC, pelo menos desta vez
as coisas estavam tranquilas, nenhuma ameaça no ar.
Yan já tinha um trabalho, tinha
alugado um apartamento para viver sua vida, ele recuperava sua casa.
Tinha sido consultado pela Sarah,
se lhe acontecesse algo, se ele ficaria com a guarda do Tom. Disse que sim. Cada vez gostava mais desse garoto, tão
inteligente.
A família, depois de tantos
desastres, foram desaparecendo no mundo, o advogado de Dallas sempre lhe
contava alguma coisa que tinham feito.
Com o tempo se encaixaram no mundo, e livre dos mais velhos na cadeia,
enfim seguiam suas vidas.
Ele, as vezes se pegava conversando
com Jules, dizendo, vê como eu tinha razão, recusar, provocaria o caos, mas depois
do caos tudo volta à normalidade, pois cada um é obrigado a procurar sua vida.
Nas vésperas do lançamento do
último livro, foi abordado na rua por um homem que na hora não reconheceu,
cabelos grandes, ombros mais caídos, mas com um sorriso na cara e olhos
tranquilos. O ator, estava ali para conversar pessoalmente com ele.
Já tinha lido o livro que tinha
sido lançado em seu país. Imagina que
até hoje procuram meu agente para algum trabalho. Este diz que me aposentei da arte. Descobri outras formas de arte, agora
pinto, estou aqui pois vou fazer uma exposição numa galeria daqui.
O convidou para a inauguração da
exposição, mas perguntou se queria ver antes o trabalho. Foi até a galeria, ajudou a abrirem as
caixas, olhou detalhadamente cada quadro, procurando analisar com honestidade. Havia um jogo de cores, em que predominava as
cores, laranja, vermelho e negro. As
figuras, estavam meio escondidas em uma bruma, nunca se via o corpo inteiro, o
sexo menos ainda. Saíram para tomar um
café, comentou isso com ele.
Impossível não deixar que meu
trabalho influa no meu trabalho, sempre será assim. Esse
tempo na Itália, procurei entender meu pai, não foi fácil, tinha um ego
monstruoso, lhe agradava falar sempre da desgraça da família, em que sempre
alguém saia com problemas mentais.
Embora nunca mencionasse meu irmão.
Depois de internado, deixou de existir.
Levei muito tempo para saber aonde estava. Comecei a visitar escondido dele. Ia passar nossos aniversários juntos, comprava
os doces que sabia que ele gostava. Levava roupas que não usava mais, pois ele
nunca cresceu em demasia. Creio que a
medicina que lhe davam era sempre muito forte.
Quando passei a ter maioridade, questionei os médicos, mas a resposta
era sempre a mesma, tinham que controlar sua agressividade. Uma vez que estava com ele no parque do
hospital, de repente tentou matar-me, dizendo que eu era o lado direito, ele o
esquerdo, que tinha que executar o final para estarmos juntos.
Com os anos era um vegetal. Quando morreu senti duas coisas, pena por
não termos vivido mais tempo juntos e estar livre finalmente. Esse estar livre finalmente, teve dois
pontos, um, agora posso viver minha vida, e o outro uma sensação de perda
imensa.
Seus encontros conversavam os dois,
lhe contei toda minha vida, coisa que não tinha feito com Olsen, tampouco sabia
muito dele, era muito fechado. O
convívio entre nós cresceu muito.
Finalmente lhe cedi uma parte da casa para ele viver e pintar. Tinha dinheiro guardado, podia ter ido viver
sozinho, ter um estúdio só dele. Mas nos relacionávamos bem. A estas alturas da vida, não precisava de um
companheiro sexual, mas sim de alguém com quem pudesse falar ao mesmo nível.
Anos mais tarde, Tom veio viver conosco,
até chegar o momento de ir a Universidade.
Hoje é um homem com uma carreira espetacular no jornalismo de
pesquisa. Diz que fui eu que lhe ensinei
como devia fazer as coisas.