lunes, 15 de mayo de 2023

SONHO OU PESADELO

 

                                  


 

Não sabia quando tinham começado esses sonhos ou pesadelos, se lembrava vagamente de recortes dos mesmos, ao longo dos anos, mas as figuras que sempre apareciam eram as mesmas, inclusive com um detalhe, cada vez mais se parecia a um dos homens, o outro ele já conseguia desenhar com detalhes.

Era um excelente aluno em todos os cursos, mas amava pintar, desenhar, coisa que para seu pai não fazia muita graça.  Queria que fosse como ele um advogado de respeito.

Seu avô tinha sido criado por um inglês, herói da primeira guerra mundial. Era uma história que passava de geração em geração.   Quando viu uma fotografia do mesmo, riu, seu pai perguntou por quê?

Foi até seu quarto, disse que sonhava com ele a muito tempo, contou do sonho, seu pai o levou a um psicólogo, cada vez que sonhava ou tinha como um pesadelo, ia ao psicólogo para conversar sobre o mesmo.

Este o aconselhou a escrever detalhadamente tudo que se lembrava, pois as vezes eram conversas entre duas pessoas.   Umas eram confusas, outras muito nítidas.

Assim fez, se despertava, escrevia como tinha sonhado a cena.

Inclusive, quando eram conversas intimas.

Uma delas, o homem que sabia que era seu bisavô, cobrava do outro ter coragem de assumir o romance entre eles.   O outro lhe chamava de louco, nos lincharão, estas disposto que tua família te coloque porta afora de tua casa, que te corte o grifo de dinheiro, vamos viver de que, se minha família sequer desconfia, posso me dar por morto para ela.

Um dos sonhos recorrentes, eram que estavam em dois aviões diferentes, devia ser a primeira guerra mundial, pois ele foi pesquisar sobre esses aviões.  Depois de algum tempo era capaz de desenhar os mesmos a perfeição, podia sentir a sensação de liberdade que ambos os homens sentiam, era como que todos seus problemas terminassem.

Depois de cada batalha, se sentavam a conversar sobre o que tinham sentido, eles na verdade nunca viam a morte que provocavam.

As brigas entre os dois quando estavam sozinhos, que tinham que se separar depois de fazerem sexo eram impressionantes, os dois eram diferentes em tudo, o que ele sabia que representava era moreno como ele, nariz de judeu, o outro era loiro, alto, com o corpo cheios de sardas, isso ele sabia com detalhes, pois nos sonhos, era como se visse pelos olhos do outro, sentia a sensação dele beijando a pele do outro.

Quando tinha 16 anos, um dia sonhou que penetrava o outro, teve um orgasmo, ficou confuso, o sonho era erótico demais para escrever tudo, sabia que seu pai, volta e meia dava uma olhada no que escrevia, era muito controlador.

Falou com o psicólogo, tinha medo de que o mesmo se repetisse continuamente.  Falava muito com o psicólogo do controle que seu pai fazia em tudo que ele escrevia, passou fazer outro diário, disse ao pai que os sonhos tinham parado.   Tinha que escolher aonde queria estudar, com as boas notas que tinha em todas as matérias seria fácil conseguir uma bolsa de estudos, inclusive descobriu que havia um fideicomisso, hereditário desde seu bisavô, até agora, seu pai tinha estudado com ela. Nunca poderiam tocar nesse dinheiro, a não ser que fosse para estudos.

Resolveu estudar em Oxford, se inscreveu para várias entrevistas.

O pai não queria que ele fosse, sim que ele estudasse direito na Sorbonne ou na Escola que estudavam todos os políticos do pais.

Se negou rotundamente, queria experimentar estar mais livre, seu pai fez como sempre todas as chantagens possíveis, quem lhe defendeu nisso, foi para surpresa de todos, seu avô.

Deixe esse menino viver a vida, o controlas como se estivesse em cima de algodão.

O voto decisivo foi o da sua mãe, foi com ela para a entrevistas.  Passou em todas, podia estudar o que quisesse, se expressava muito bem inglês.

Ela providenciou alojamento para ele, não queria estar dentro da universidade, acabaram achando um pequeno apartamento em cima de um restaurante de uma senhora, que lhe forneceria comida.   Era pequeno, mas estava pela primeira vez sozinho, pois em casa repartia quarto com seu irmão menor.   Esse estava contente, tinha o quarto agora só para ele.

Falou antes de partir como psicólogo, que lhe recomendou um que tinha conhecido em um simpósio.

Seu pai foi leva-lo no aeroporto, antes ele teve uma conversa com seu avô, este falou muito do homem que tinha sido como um pai para ele.  Pude estudar, ir em frente por causa dele, caiu na vila aonde estava minha mãe, de um avião bombardeado, ficou preso numa árvore, ela lhe ajudou, meu pai tinha morrido durante a guerra, ela o escondeu até terminar tudo, quando ele esteve bem, foi levado para Inglaterra, lá fez alguma coisa que sem querer provocou que voltasse para cá.   Minha mãe estava na miséria, ele cuidou de todos, comprou esse apartamento, nos trouxe para cá, se casou com ela para termos um nome diferente, nos colocou na escola, criou esse fideicomisso, para todos fazerem universidade.  Todos fizemos, tivemos oportunidade que muita gente não teve, na segunda guerra, fomos todos para Inglaterra, nos colocou nos melhores colégios de lá.  Mas nessa época estava sempre triste, escutava as noticias dos bombardeios de avião, falava muito nisso, que os que estão dentro ao contrário dos soldados rasos, que vem tudo que acontece, nunca sabem o que acontece depois com as vítimas, a maioria não sobrevivem.   Quando começaram os bombardeios em Londres, nos levou para o interior, aonde se colocou a ajudar todos os jovens que precisavam, que fugiam de Londres.   Era muito fechado nele mesmo, dizia que tinha amado só uma vez na vida, que tinha sido uma tragedia.  As vezes o via, sentado em alguma praça, chorando muito. Mas nunca dizia por que, alegava que eram as notícias que o chateavam.  Mal acabou a guerra, voltamos para cá, ele pensou em ir para Israel, chegou a ficar um tempo lá, mas desistiu, disse que não tinha estomago para ver outras guerras.

Viveu muito, morreu com 99 anos, apesar de não sermos filho dele, eres muito parecido com ele, lhe passou duas fotos, uma dele vestido como o via em sonho, outra com o homem que também aparecia em sonhos, no último dia lhe entregou dois diários, aqui encontraras a história dele, não mostre para teu pai, que não entende dessas coisas, nem está aberto para isso.

Levou com ele todos os desenhos que tinha.   Seu pai no carro, perguntou como tinha sido a conversa com seu avô, não lhe dê muita atenção, pois esta velho demais.   Olhou o pai, tinha se casado muito tarde, tinha os cabelos brancos, seu avô ao contrário, ainda tinha os bigodes completamente negros, já tinha 94 anos, mas de uma lucidez aguda, conseguia se lembrar de tudo.   Dizia ele que fazia exercícios mentais.

Mal se instalou começou a ler o diário do seu bisavô, contava primeiro de aonde tinha saído, sua mãe era a única filha de uma família mais ou menos de classe, mas completamente arruinada, a casaram com 16 anos com um homem de 60 anos, que queria um herdeiro para sua fortuna, era um judeu rico.  Ela era muito bonita, encontrou no diário uma foto dela, daquelas em sépia, realmente para os padrões da época era linda.  A exibia na alta sociedade de Londres, além da grande propriedade que ele tinha.  Quando ela ficou gravida, odiava isso, mas tinha sido comprada para isso, reproduzir.  Quando ele nasceu, viveu entregue as babas, que eram judias, falavam com ele em hebreu. Foi sua primeira língua.  A mãe vivia desfrutando da alta sociedade, seu sonho era ter um título, como tinham as amigas, quando o marido morreu, uma ano depois se casou com um conde, que precisava de uma tapadeira, era pédofilo, rico como ela, possuía uma propriedade com uma linda mansão ao lado das terras que ela tinha herdado, seus irmão pensaram que ela ia deixar que administrassem, mas nada mais longe da verdade, odiava a família por a ter vendido ao velho, mas tinha aprendido com o marido, a administrar tudo.   Quando percebeu que o conde rondava seu filho, o colocou num colégio interno, aonde ficou basicamente os primeiros anos de estudos, um dia um moço das cavalariças, matou o conde por ter abusado dele, ser apontado por todos como o garoto do Conde.  O atirou desde o andar aonde estava os quartos dos empregados, pelo vão da escadaria.

Ficou viúva de novo, trouxe o filho para casa, o colocando nas melhores escolas, foi quando conheceu o homem que seria o amor de sua vida, um Barão alemão, que vivia na Inglaterra, era aparentado com a alta nobreza do pais.   Ele ficou louco por ela, apesar da fama que tinha de viúva negra, pelos dois casamentos anteriores.  Não só se casou com ela, como adotou seu filho, visto não ter nenhum, viveram bem, ela administrava tudo, além de ser da alta sociedade de Londres.  Ele estudou nos melhores colégios, agora ostentado um título.  Seu novo pai, o queria como se realmente fosse seu filho, isso provocava ciúmes de sua mãe.

Quando foi para Oxford, ficou contente, se livrava dele.   Lá conheceu o amor de sua vida, tinham a mesma idade, o outro se dedicava ao esporte, compartiam banheiro que ficava entre os dois quartos.  Um dia entrou o outro tomava banho, o chamou para tomarem banho juntos, se sentia terrivelmente atraído pelo outro.   Faziam sexo no banho, depois, nas noites que não tinham festa, o outro vinha dormir com ele, mas voltava ao nascer do sol para seu quarto, para não pensarem que tinham alguma coisa.   Mas durante o dia, raramente se encontravam, pois Hubert tinha uma vida dedicada ao esporte, ele ao contrário, estudava os grandes filósofos, literatura.  Eram o oposto em tudo.  

Hubert, estava sempre cercado de garotas, loucas para casarem com um Lord Rico, não estudavam na universidade, mas sim numa escola de senhoritas.  Mas depois de estar com elas, dizia ao Joseph, contigo, quero ter o que não tenho com elas, se deixava penetrar, como adorava.

Quando começou a primeira guerra, o pai adotivo do Joseph morreu num atendado em Londres, porque era alemão.  Os dois entraram para a aeronáutica, uma coisa recente, aviões que aguentavam atravessar o canal da Mancha.   Adoravam essa sensação de liberdade, de voar como os pássaros, mas em terra firme a coisa era diferente Hubert, era como um macho alfa, atraia todas as garotas, Joseph ficava de lado, não se sentia atraído por elas.

Mas quando podia Hubert corria para seus braços, mas isso já não era tudo que ele queria, sim uma relação, para a época isso era impossível, mas ele não entendia.

Um dia ameaçou Hubert que queria estar mais tempo com ele, senão ia contar para todo mundo o que acontecia quando estavam juntos.   Hubert ficou uma fera, não gostou da ameaça, lhe devolveu com outra, disse que ia contar para o capitão, que normalmente ele não descarregava suas bombas, só o fazia quando já estavam voltando, as vezes em cima do mar, ou num lugar que não tinha nada a não ser campo.

Na volta de uma missão, aonde tinha tentado antes de partir, beijar Hubert a força, viu que este ficava por último, coisa rara nele, sempre era o primeiro a soltar suas bombas e voltar, ficou de sobre aviso.   Quando receberam ordens de voltar, Hubert soltou suas bombas, ele como sempre por não querer matar inocentes, deixou para soltar antes de cruzarem o mar outra vez, sabia que o outro estava atrás dele, foi quando sentiu que estava sendo metralhado, mas não via avião nenhum, entendeu então que era o amor de sua vida que o queria matar, soltou suas bombas em cima de um pasto, tentou manobrar, mas o tinha colado atrás dele, escutou sua voz pelo som, nunca ameaces alguém que é melhor do que tu.   Sentiu uma rajada, que lhe cortou a asa direita, sentiu que caia, escutou a risada do Hubert no ouvido.  Por sorte conseguiu sair do avião, caiu em cima de uma árvore muito alta, ficou ali preso, com as pernas quebradas, bem como os braços, foi socorrido por uns campesinos franceses, o esconderam na casa de uma moça viúva com dois filhos, o marido tinha morrido no avance alemão.

Ali ficou até se recuperar, era impossível manter contato com Inglaterra, apenas conseguiu avisar sua mãe que estava vivo.

Quando acabou a guerra, aprendia a andar de novo.  Agradeceu muito a ela, bem como aos dois filhos que tinham se encarinhado dele.

Voltou para Londres, descobriu que tinha sido dado como morto num ataque aéreo. Tinha morrido sem pena nem gloria, só sua mãe sabia que ele estava vivo.  Teu querido amigo Hubert, vive dizendo para todo mundo que não era de estranhar, que eras um covarde, que não soltavas as bombas.

Quando tentou falar com ele, estava fora, visitando umas propriedades da família, tinha se casado com uma rica herdeira.

Mas foi ao ministério da aeronáutica, contou toda a verdade, que tinha tido seu avião derrubado pelo que pensava que era seu amigo.  Quiseram colocar panos quentes, mas claro sua mãe era aparentada com a família real.   Ele insistiu, quando Hubert voltou, deu de cara com ele, ficou apavorado, quando foi chamado a depor num processo.  Sem papas nas línguas, Joseph contou por que ele tinha feito isso, o romance condenado dos dois, que ele se comportava como macho alfa, mas na cama era uma donzela.   Isso ficou fora do processo, mas o escândalo estava feito, o Hubert foi condenado a cinco anos de prisão.  Nesse meio tempo sua mãe morreu de um enfarte, ele se tornou herdeiro de tudo.   Vendeu a maioria das propriedades, o titulo não lhe interessava, transferiu o dinheiro para Suiça, voltou para França, procurou as pessoas que o tinham ajudado.  Sua amiga dessa época, estava na miséria, se propôs a casar com ela, não escondendo sua condição de homossexual.   Ajudou todos os outros que tinha cuidado dele, inclusive o médico, construindo uma clínica para ele.  Foi quando criou o Fideicomisso, para que os seus filhos, pois tinha adotado os filhos da amiga, bem como os filhos dos que tinham cuidado dele, quisessem ir à universidade.

Terminou seu curso na Sorbonne, se transformando em professor da mesma.  Comprou um belo apartamento para a família, os queria como seus filhos.  Nunca escondeu o que tinha acontecido com ele.

Só voltava a Londres, por negócios, pagava uma família para cuidar da mansão que era de sua mãe, agora sua.  Mas nunca mais se interessou em saber do Hubert, a magoa que tinha do homem que pensava que o amava, que tinha tentado mata-lo, ainda por cima faze-lo parecer um covarde era muita.

Nunca mais se apaixonou por ninguém, no último diário contava algumas aventuras, que tinham com pessoas famosas da literatura, mas confessava que não passava disso de uma aventura, amar nunca mais.

Sem querer, talvez porque agora sabia de tudo, deixou de ter pesadelos, um dia saia de uma aula, deu de cara com um rapaz, ficou parado de boca aberta, o outro também, institivamente estenderam as mãos.  Sonho muito contigo, disse o outro, no que foram conversar, descobriu que o outro era bisneto do Hubert.   Sabia mais ou menos da história, ficaram amigos, se sentiam atraídos um pelo outro, mas nenhum dava um passo em frente.

Saiam as vezes pela noite para jantar, Dominic, confessava que as garotas ficavam atrás dele, mas não lhe interessavam, esperava o homem que aparecia em seus sonhos.

Lhe contou a historia dos dois, lhe deixou ler o diário de seu Bisavô.   Ah, agora entendo, muita gente fala do tempo que esteve preso, mas nunca claramente o que fez para isso.

Por isso a família, deixou de frequentar a sociedade, se transformando numa família rural, sem grandes pretensões, como seguem meu pai, meus tios.  São gente bruta, até mesmo grosseiro, sou o primeiro a ir à universidade depois dessa história toda.

Quando foi a Paris, visitar o avô que estava mal, contou o que tinha acontecido, ele só lhe disse que tivesse cuidado, pelo visto não são gente de se confiar.

Esteve no enterro dele, perdia além de tudo um amigo, pois era a pessoa que mais tinha ligação.

Quando voltou, sentiu que estava sendo seguido, conversando com Dominic, este disse que tinha contado aos pais, que o tinha conhecido, armaram uma grande confusão, como se tu fosses o culpado do que aconteceu com eles, são velhos problemáticos.

Entendeu o que se passava, nunca tinham ido para a cama, nem feito sexo, algo os impedia disso.

Nas férias voltou para casa, resolveu que não queria isso na sua vida, transferiu seu curso para a École de Beaux Arts, seguiu sua vida, um dia encontrou nas ruas Dominic.  Estava de férias em Paris, o levou ao seu studio, disse que em breve ia se casar, eram suas férias antes de contrair matrimonio.  Sem querer acabaram na cama, ficaram como loucos um pelo outro. 

Mas claro, tudo tem um preço, apareceu o pai dele, exigindo que ele voltasse, para se casar, foi então que conheceu um outro Dominic, um homem submisso a família, que tinha medo de perder o dinheiro que estes lhe davam.  Foi embora sem se despedir, ainda pensou em fazer como seu bisavô, um escândalo.   Mas deixou passar, seguiu sua vida, começou a ficar famoso, tinha agora dinheiro próprio, com exposições em toda a Europa, acabou indo para os Estados Unidos, para se ver livre da família, se instalou em NYC, foi fazendo nome como tinha feito antes, não dependia de ninguém.  Conheceu gente, se apaixonou, desapaixonou, viveu, quando já tinha quase cinquenta anos, um dia fazia uma grande exposição, se encontrou de novo com o Dominic, que apareceu para ver.

Foram tomar alguma bebida, este confessou que estava tratando de negócios na América, seu casamento não tinha dado certo, não tinha filhos, tinha se divorciado, me liberei da minha família, agora tenho meu próprio negocio que comecei do zero.

O levou para sua casa de praia, em Fire Island, parecia que o tempo não tinha passado com o que sentiam um com o outro, adorava nas noites de lua fazer sexo com ele, beijando suas costas cheias de sardas.

Nunca mais se separaram, agora não tinham que ter a família no meio para impedir nada.

 

 

 

 

 

 

 

lunes, 8 de mayo de 2023

RAIMUNDO DOS PRAZERES

 

                                       RAIMUNDO  DOS  PRAZERES

 

Tinha nascido num dia qualquer, do ano ninguém sabe ninguém viu, vivia encostado na casa de uma parente, junto com seus outros cinco filhos, quem não chegava na hora não comia, ele ia a escola descalço, pois nem uma havaiana tinha.  Sua camiseta só mudava se alguma senhora a quem fazia favores lhe dava uma já usada.

Fazia favores a todas a troco de moedas de notas pequenas, não lhe incomodava, escondia tudo no seu esconderijo, numa lata velha de biscoitos que tinha encontrado no lixo.

As vezes tinha que recorrer a isso.   Mas uma coisa não fazia, favores aos da droga, essa era a ladainha da madrinha como chamava a senhora que o deixava dormir em sua casa.

“nada de fazer favores aos das drogas, nada de tomar drogas grátis, se eu descubro os vou moer de pancadas”.

Ele sabia o que eram as drogas, tinha vistos os dois que eram seus pais, morrerem com a boca aberta nas escadarias da favela.  Não deviam ter mais de 16 anos, madrinha passava quando o viu chorando, o pegou nos seu cobertor sujo de vomito, todo cagado o levou para sua casa, caso contrário iria para sabe-se lá para aonde.

Aliás todos da sua casa eram assim, ela na verdade não tinha nenhum filho, trabalhava duro para dar comida aos seus filhos resgatado, era semianalfabeta, sabia ler o número dos ônibus que a levava as casas que ia limpar.   Mas a verdade era que não dava conta de cuidar dessas crianças, alguns vizinhos a ajudavam, algumas mulheres a chamavam de louca.  Como podia pegar filhos de quem ela sequer sabia quem era.

Mas alguém lhe denunciou, um dia apareceu uma mulher gorda, com uns cinco policiais da favela, levou todos, ainda estavam dormindo.  Lá foi ela para a delegacia com eles.

Reconheceu que todos os tinha encontrado abandonados, ou ao como no caso dele, os pais mortos por causa das drogas.

Ele foi parar num orfanato ali em Laranjeiras, eram muitos meninos, alguns mais claros, outros negros como a noite, raramente alguém vinha para adota-los, pois quem ia querer entrar no meio dessa papelada toda, para adotar um negrinho.

Ele era peculiar, era escuro, mas tinha os olhos verdes, nem ideia por quê.

Quando lhe perguntaram seu nome, disse que não sabia, tampouco sua idade.

Os médicos o examinaram, claro estava subnutrido, menos mal que no orfanato não faltava comida.   As freiras tinham uma lista de nomes, lhe perguntaram qual gostaria de usar, ele optou por Raimundo, mas tem que pensar num sobrenome.  Tinha escutado o padre falar na missa dos Prazeres terrenais, escolheu isso, era o que queria, assim virou Raimundo dos Prazeres, ele sempre acrescentava quando perguntam, Prazeres Terrenais.  Riam dele, mas isso ele estava acostumado.

Sempre tinha muita fome, descobriu um jeito, acabavam as aulas básicas, se metia na cozinha para aprender com a freira Gertrudes, foi aí que encontrou uma coisa que gostava, lhe parecia que o tal Deus se referia a isso, os prazeres terrenais era isso, saber fazer comida, para não passar fome.

Nessa cozinha tinham dois tipos de comida, a das freiras que eram melhor, o da garotada que era uma gororoba, mas ele foi aprendendo a colocar um pedaço de carne no meio da sopa para dar substância, ou alguma coisa de legumes no meio do arroz. Para que soubesse melhor.

Mesmo o feijão, ela fazia uma panela imensa, com carnes, quase uma feijoada, mas para os garotos servia sem elas, dizia que as freiras deviam se alimentar melhor, pois tinham que cuidar deles, ele quando a ajudava a servir, sempre metia no seu prato um pedaço de carne seca, ou linguiça.   Com os anos ele sabia fazer de tudo.   Devia estar com uns 16 anos, já que não sabia ao certo, ela arrumou para ele ir trabalhar num restaurante ali perto. Aliás era o que não faltava pelas redondezas, foi aprendendo de tudo, comida nordestina, comida árabe, italiana, o bom era que aproveitava para comer, o que sobrava de noite, levava para os amigos, este o esperavam, pois sabia que iriam compartir alguma coisa boa.

Quando fez 18 anos lhe deram uma certidão de nascimento, Raimundo dos Prazeres, pais desconhecidos, nascido no Rio de Janeiro.  Tinha duas opções, entrar para o exército, mas tinham lhe falado, lá só fazem gororoba.    Ele agora ganhava para cozinhar, foi passando de restaurante em restaurante, dormia num quarto desses de empregadas dos edifícios antigos, de uma senhora amiga da freira.   Se levantava cedo, deixava café pronto para ela, buscava o pão, se preparava para ir trabalhar, usava a cabeça raspada, fazia o mesmo com o sovaco, tomava um banho a consciência, ela lavava a roupa branca dele, assim estava sempre limpo.

Agora trabalhava num italiano em Copacabana, nas suas horas de descanso, entre o meio-dia e a noite, tomava um banho de mar.   Em pouco tempo tinha aprendido todos os pratos do restaurante, ali na Fernando Mendes.   Quando um dos sócios resolveu se separar, iria abrir outro em Ipanema, o levou com ele, como chefe, agora ganhava mais, alugou uma quitinete, no final de Copacabana, não tinha que se preocupar com a roupa de trabalho, era lavada no restaurante com as toalhas das mesas, guardanapos.   Pelo menos, ficavam sem gordura, que pareciam se grudar nas roupas.

Colocava uma camiseta, suas calças jeans ia andando para casa, tinha um tipo impressionante, tinha crescido com os anos, 1,80 metro, negro com a noite, mas os olhos verdes se destacavam.

Um dia vinha caminhando, mergulhado em seus pensamentos, um gringo passou por ele, lhe falou alguma coisa, levou um susto, perguntou se estava falando com ele.

Um mal português o homem disse que sim, que vinha caminhando, que ao passar por ele, era como ver um gato que andava, por causa dos seus olhos.

Perguntou se queria tomar uma cerveja?

Ele agradeceu, mas não bebia.

O homem riu, outras coisas fazes?

Ele demorou para entender, poucas vezes tinha feito sexo, não lhe sobravam tempo.

Examinou o outro detalhadamente, o que viu, gostou. 

Foi para o apartamento desse, um pouco maior que o seu.  O outro quando o viu nu, ficou como louco.   Disse que era americano, que dava aulas numa escola.

Foi uma noite impressionante, ele acabou ficando, dormiu ali com ele, mas se levantou cedo, tinha que ir para casa se preparar para mais um dia, contou falando devagar que era cozinheiro.

Podemos nos ver outra vez, lhe perguntou o outro.

Claro que sim, tinha adorado esse contato com sua pele branca, cheia de sardas, tinha os cabelos ruivos, disse que se chamava Tom Jones.

Ele disse o seu, o outro disse que realmente ele dava muito prazer.

O esperava todos os dias, faziam sexo, conversavam, Tom aprendeu a se manejar mais no português, trazia comida para ele, riam sentados na pequena sala, compartindo comida de madrugada.

Só não podia compartir a vida muito com ele, só tinha um dia livre, a segunda-feira que ele não trabalhava.   Este um dia lhe perguntou se não tinha mais namorados?

Nunca tive nenhum, eres o primeiro, tampouco me sobra tempo, você sabe.

Tom agora fazia uma coisa, lhe ensinava a falar inglês, contou que era de Boston, disse que lá tinha muitos emigrantes brasileiros, bem como portugueses.

Passaram a viver juntos, Tom ficava impressionado com sua limpeza, como tomava um banho, porque raspava o sovaco, o desodorante para não ter cheiro.

Dizia que gostava de fazer sexo com ele no escuro, por causa dos seus olhos.

Cinco anos depois, ele teria que voltar para os Estados Unidos, lhe perguntou por que não vinha com ele.  Tinha certeza de que conseguiria emprego por lá, além de não querer se separar dele.  

Pensou muito, falou com um companheiro, ele disse, não tens nada a perder, se o gringo te paga o bilhete, aproveite.

Não tinha muitas pessoas com quem falar, tampouco falava que fazia sexo com outro homem, mas conversou com o dono do restaurante.  Este lhe disse que não custava tentar, se não desse certo o contrataria outra vez.

Quando falou com Tom esse ficou contente, estava apaixonado por aquele homem negro que o enchia de prazer, para não dizer outra coisa.

Foi com ele tirar passaporte, depois o visto, tinha amigos no consulado americano, conseguiu um visto para ir trabalhar, uma coisa rara.

Ele nunca tinha andado de avião, quando muito de metro, ou ônibus, mas Tom lhe deu um comprimido, quando viu já estavam em Boston.

Tinham saído do Rio, com 40ºgraus, chegaram em pleno inverno, nevava inclusive, levava só um abrigo de plumas de segunda mão que Tom tinha conseguido com um companheiro.

Ficou como uma criança, olhando a neve cair, sobre sua cabeça.  Ria muito.

Mas essa alegria acabou quando chegaram na casa dos pais do Tom, esses eram preconceituosos, ficaram furiosos, como se atrevia a trazer um negro para sua casa, ainda mais se estava fornicando com ele.

O jeito foi irem para um pequeno hotel.   Dois dias depois estava já trabalhando num restaurante português, pois sabia fazer muitas das comidas.  Ali se sentia em casa, apesar da maioria serem portugueses se entendiam bem, com o salário, alugou ele mesmo um pequeno studio, Tom vinha ficar com ele, embora sofresse pressão dos pais.

Um dia o viu chorar muito, lhe contou que tinha ido para o Brasil de uma certa maneira para escapar disso tudo, desses pais tão castradores.

Um dia contou que tinha oferta para voltar, se ele queria ir junto?

Parou para pensar, estou bem aqui, já falo um bom inglês, nem tive chance de aprender outras maneiras de cozinhar, tenho uma vida boa, foi honesto, disse que não, que queria ficar.

Seu patrão conseguiu a documentação para ele.   Tom ainda lhe chantageou pois achava que o amava.

Ele não podia dizer isso, estava bem com ele, pelo sexo, era uma comodidade, não tinha que procurar ninguém para fazer.   Estas parecendo teus pais contigo.

Ele foi embora, depois de uma boa noite de despedida.

Ele ficou, seguiu trabalhando ali, uns dois anos, saia com um dos amigos, um africano de quase dois metros de altura, de Moçambique, esse adorava no sábado depois do trabalho ir dançar, o levava a um lugar aonde basicamente iam africanos.

Um dia conheceu um, nunca tinha feito sexo com outro negro, foi um embate, os dois tinham os instrumentos do mesmo tamanho, riram muito com isso, o outro lhe disse que gostava de fazer tudo, mas o queria penetrar também.   Passou os dias seguintes com o rabo doendo, mas tinha gostado.

Um dia um parente do dono, veio de NYC, disse que precisava de gente no seu restaurante em Long Island.

Lá foi ele, para uma nova aventura, nos seus dias de folga, saia para conhecer Manhattan, adorava, quando chegou o inverno, fazia o mesmo, pois ver essa cidade coberta de branco lhe encantava.    Um dia passou na frente de um restaurante, que tinha uma aparência incrível, viu um cartaz que procuravam ajudante de cozinha, embora ele tivesse registro de cozinheiro, entrou, falou com o dono que chamou um loiro altíssimo, magro, que o olhou de cima a baixo sorrindo.  Lhe disse que tinha trabalhado em todo tipo de restaurante, que desde que estava ali, trabalhava num restaurante português preparando bacalhau, e outras coisas.

O homem com um sotaque incrível, lhe perguntou se ele sabia preparar peixe como se fazia no Brasil.

Claro que sim, posso demonstrar.

Foram para a cozinha, viu que o homem tinha duas panelas de barro, se desligou, fez uma moqueca de uma das maneiras que sabia fazer, com o pouco que tinha ali, disse que faltava cebolinha, além de um bom coentro, que ele comprava no mercado em Long Island, para usar no bacalhau.

Preparou um pouco de arroz a maneira brasileira, serviu ao cozinheiro, bem como ao dono do restaurante.   Os dois acabaram com tudo, riram da cara dele.

O dono perguntou se ele sabia fazer comida francesa? 

Talvez faça com outro nome, mas não tenho problema em aprender.

O contratou com o dobro do salário que ganhava.  O problema é que na ilha os alugueis era caros, para ele podia pegar a primeira barca da manhã, assim passava no mercado, comprava condimentos para fazer o que eles pudessem querer.

Jean Pierre, ficou impressionado com ele, com a facilidade que tinha de aprender, logo era seu braço direito, lhe foi ensinando a falar em francês, os condimentos, em pouco tempo, só falava em francês com ele.

Por um período de tempo se ausentou, teve que ir ver sua mãe na Normandia, acabou passando mais de três meses, nesse tempo ele tomou conta da cozinha.   Os clientes diziam que o sabor agora era outro, claro ele fazia as coisas dando-lhe mais sabor.

Saiu inclusive uma reportagem com o dono do restaurante, com ele ao seu lado.

Quando Jean-Pierre voltou, não gostou, pois queria que tudo voltasse atrás.

Começou a colocar defeito em tudo que ele fazia, ele foi se desesperando.  O dono que era um tipo que sabia das coisas, lhe disse que ia lhe pagar uns meses de férias, que ele fosse para Paris, lhe disse aonde fazer cursos, que se ele podia se especializar em doces franceses, que lhes faltava ali.

Foi com muito medo, mas ao chegar no aeroporto, um amigo do seu patrão o esperava, era cozinheiro em seu próprio restaurante.

Disse que tinham lhe falado muito dele.

Se quiseres pode vir trabalhar comigo, eu levo a parte da noite do restaurante que tenho, ao meio-dia, temos um movimento médio, mas de noite estamos cheios de turistas.  Lhe arrumou um pequeno apartamento em Montmartre, aonde ele ficou contente.   Dois dias depois de flanar pelos lugares turísticos, começou seu primeiro curso.   O professor ficou impressionado, bastava explicar um vez para ele aprender.  Ao meio da tarde, ele chegava no restaurante de François, começava a preparar as coisas para a noite, isso era bom, pois ganhava por fora. Os clientes adoravam o arroz que ele, fazia, algumas vezes fazia arroz com brócolis e bacalhau, que acabou entrando na carta.  

François ria muito, meu amigo perdeu um cozinheiro perfeito, quando acabou os cursos, o convidou para ficar com ele ali em Paris, lhe ofereceu um bom salário, ele na verdade nem tinha gastado o dinheiro que tinha trazido.

Falou com o dono do restaurante de NYC, quem atendeu foi o Jean-Pierre, este lhe disse que o outro tinha tido um enfarte, que agora o restaurante era dele, que não o queria ali.

Isso o fez tirar um peso da consciência, falou com o François se isso era verdade?

Ele telefonou, confirmou isso com a mulher do mesmo.  Ninguém sabe como aconteceu, mas Jean-Pierre tinha se tornado uma dor de cabeça para ele, um dia perdeu a paciência, acabou tendo um enfarte.

Ele resolveu ficar, nada o segurava do outro lado.

Descobriu um mercado em Belleville, aonde podia comprar coisas que lhe faltavam, agora apresentavam uma salada de grão de bico com bacalhau, bem como peixe de outras maneiras, um dia viu folhas de palmeiras, se lembrou como a senhora que cuidava deles fazia peixe, experimentou fazer no lugar que faziam peixe na brasas.

Quando serviu ao François, esse ficou impressionado, pois o peixe basicamente não tinha temperos, lhe explicou que assim faziam os índios no Brasil.

Virou um prato da carta do restaurante, ele agora basicamente levava a cozinha, nos dias de mercado ia comprava coisas boas para fazer algum prato, conseguiu com uma das mulheres que disse que tinha uma plantação durante o verão, de mandioca, passou a trazer para ele, quando fez pela primeira vez Bobo de Camarão, François disse que estava de lamber os beiços, tinha aprendido a falar coisas em português.   Um dia se atreveu em fazer bolo de mandioca.

Foi um sucesso.  Logo estava na carta também.

Apareceram numa reportagem no Magazine do Le Monde, começou a aparecer gente importante para comer.   Um dia François o chamou no salão, estava ali o embaixador brasileiro, queria saber se ele podia fazer um jantar para uns quantos convidados do governo.

Disse que podia fazer no seu dia de folga, caso contrário não, falou baixinho com o François, cobre antecipado, pois brasileiro é sem vergonha na hora de pagar, principalmente se for do governo.

O homem pensou que ele ia fazer por amor a Pátria, nem pensar.

Fez uma moqueca, acompanhada de pirão, com arroz branco, farofa, com tudo que tinha direito, depois de sobremesa, bolo de mandioca com sorvete de maracujá.

Foi um sucesso.

Isso fez com que a clientela do restaurante agora tivesse que fazer reserva de noite.

Um sugeriu ao François que aumentasse o restaurante, ele disse que não, mais trabalho, menos tempo para nos mesmo.   Precisamos do nosso dia de folga para poder descansar, além de que quando aumentas também perdes em qualidade.

Um dia François convidou vários clientes jornalistas, ele preparou uma mistura de comida francesa, com coisas que ele tinha inventado, um quiche de mandioca com camarão, bem temperado, o famoso peixe na folha de bananeira, o bolo de mandioca com sorvete de maracujá.   Foi um sucesso.   Todos falavam dele, um chegou a convidar para que ele desse um curso.    Pediu desculpas, mas não lhe sobrava tempo.

Quando chegou o verão, François resolveu, reformar o restaurante, assim ele tinha pelo menos dois meses livre.    Queria ver o mar, que não via a muito tempo.  Com as economias que tinha, que já eram de bom tamanho, resolveu ir ao Rio de Janeiro.

Se deslumbrou ao chegar, como se fosse a primeira vez que pisava essa terra.  Os restaurante que ele tinha trabalhado nem existiam mais, fez contatos com os lugares mais finos da cidade, olhavam aquele negro de olhos verdes, riam na cara dele, mostrava as reportagens que tinham feito com ele, nada.

Riu muito, casa de ferreiro, espeto de pau.   Não teve dúvida, em pouco tempo estava farto da praia que tinha querido tanto ver, dos amigos que não acreditavam nele, já era um lugar que ele nem conhecia.  Ainda foi ao orfanato, para falar com a irmã que o tinha ensinado a cozinhar, essa foi a única que ficou feliz com ele, o abraçava, fico feliz por ti meu filho.  Quando contou da decepção que tinha tido, ela soltou uma grande gargalhada, deixar o que tens lá, com um bom salário, por isso daqui, estás é louco.

Um dia quando te aposentes, venha viver numa cidade pequena a beira mar, economizes, monte um pequeno restaurante, desfrute teu resto de vida.

No dia seguinte ele voltou para Paris, as obras estavam adiantada, a cozinha era mais moderna, começou a experimentar pratos que nunca tinha feito, que voltaram a sua memória, preparou uma carta diferente, uma funcionária ao meio-dia, em que as pessoas estavam com pressa, outra para a noite quando as pessoas vinham realmente desfrutar de uma boa comida.

François ficou encantado, inclusive lhe propôs como sócio.    Fez o que a irmã tinha falado, foi economizando, não precisava de um apartamento imenso, nada disso, para quem tinha vivido num orfanato, achava que tinha mais que o necessário.

Tinha acrescentado uma pequena lavanderia no porão do restaurante, o que ele queria era sempre ter roupa limpa.

A nova carta fez sucesso, nunca deixou de aprender nada, agora a senhora que plantava mandioca nas aforas de Paris, tinha um cliente cativo, mas isso para pratos de verão. Os cronistas falavam sempre nele.

Tinha romances esporádicos, François ria com ele, no nosso tipo de trabalho é assim Raimundo, estamos sempre em aventura, talvez o dia que nos aposentamos seja melhor.

François tinha um romance que durava alguns anos, com um personagem do mundo político, mas que nunca o apresentava a ninguém, porque não queria sair do armário.

Reclamava sempre disso, que vivia de migalhas, um dia que ele estava triste, Raimundo o convidou para sair, pois tinham o dia livre.   Ficaram conversando ali nas margens do Sena vendo o pôr do sol, por detrás da Torre Eiffel, sem querer começaram a contar suas vidas, desde infância, sempre no sacrifício. Sem se dar conta, acabaram de mãos dadas, daí para o primeiro beijo, foi um passo.

Ele estava contando ao François o que tinha falado a freira do orfanato.

Eu adoraria fazer isso contigo, quando se deram conta, já estavam vivendo juntos a mais de 15 anos.  Queriam comprar o local, os dois estavam cansado disso tudo, do desgaste, da falta de tempo.  Nesse meio tempo, foram mais de uma vez ao Brasil.  Andaram procurando o lugar que gostariam de viver.

Acabaram encontrando um lugar fantástico no sul, em Santa Catarina, uma praia pequena, que no momento tinha duas pousadas nada mais.

Compraram um terreno ali.   O mesmo arquiteto que tinha feito o projeto de reforma do restaurante, foi com eles até lá, criou uma pousada, mais puxada para as francesas.

Assim fizeram, venderam o restaurante, juntaram seu dinheiro, que no Brasil era muito, enquanto construíam a sua pousada com seu bistrô, fizeram contatos com pescadores, o pessoal quando comia a quiche de mandioca com camarão ficavam loucos.  Era uma fusão das duas maneiras de cozinhar.   Eles mesmo viviam ali, começavam o dia com um banho de mar, as pessoas riam, um muito branco o outro muito negro.  Achavam engraçado como passavam o tempo todo conversando, pois além de tudo eram amigos.

Acabaram saindo em várias reportagens, uma vez que foi ao Rio, convidou a freira para passar uma férias com eles.  Ela já uma senhora de idade, ria muito sentada com ele na cozinha, era baixa temporada, foi ela mesma se lembrando de receitas que nunca tinha feito, mas estavam guardadas na sua memória, receitas que segundo ela, era de sua avô, uma negra bem sacudida, foi então que ele descobriu que tinha genes africanos.

Aprendeu com ela a elaborar tudo, de uma outra maneira, riam os dois na cozinha, preparando algum prato, que depois o François diria, lambi os beiços.

Passou um bom tempo com eles, já que no Rio ninguém precisava mais dela.

Ia todos os dias a missa numa igreja ali perto da pousada.  Eu devia ter preparado mais garotos como tu, para serem cozinheiros, mas só mesmo tu, pois eu sabia que estavas ali, para não passar fome.

Anos depois quando soube da morte dela, foram os dois ao Rio de Janeiro.  Na época ela já estava com mais de 95 anos.

Trouxeram com eles, dois garotos, que tinham sido deixados ali de pequeno, um muito branco, outro tão negro como o Raimundo.

As pessoas quando vinham comer no restaurante diziam que o nome não podia ser mais acertado, chamava-se Prazeres.

Assim foram vivendo o resto de seus dias, olhando o mar, sentados na varanda do pequeno chalé que viviam, vendo o por do Sol.   Os meninos crescendo, com uma boa educação, as vezes os hospedes riam quando passavam pelo chalé vindo dos praia, alguns se sentavam ali com eles, para ver o pôr do sol.

 

 

 

 

 

 

lunes, 1 de mayo de 2023

A VIDA É UMA CILADA

 


 

A VIDA NOS PREPARA CADA CILADA.

 

Meu nome é Hans Hoig, não sou filho de nenhuma família rica, todo ao contrário, de uma família disfuncional, não sei quem é meu verdadeiro pai, já passaram tantos pela casa, que nem imagino, minha mãe é uma mulher complicada.

A última vez que teve problemas fui parar num lugar para jovens sem casa, enquanto ela fazia reabilitação, quando saiu arrumou um emprego, conseguiu me recuperar, fomos viver num edifício em que viviam emigrantes, famílias com problemas, pertencem ao governo da Alemanha.

Estou falando de Berlin, aonde sempre vivi.  Ela nunca falou em outro lugar de aonde podia ter vindo, isso as senhoras da segurança social, não paravam de me perguntar.

Se surpreendiam com a minha idade, com dez anos eu parecia ter cinco, o que foi uma sorte, me colocaram na parte dos menores, assim era mais difícil sofrer abusos.

Mal voltei a viver com ela, já tinha outro homem, depois desse mais três, enquanto se mantinha fora das drogas bem, mas este último, era toda uma figura, cheio de tatuagens, uma pessoa complicada, agora eu tinha quatorze anos, mas aparentava ser uma garota, todo mundo na escola fazia gozação a respeito, inclusive as garotas perguntava que batom usava, pois tinha os lábios como que cor de rosa.   Era loiro, com os cabelos esticados para cima como um ouriço, coisa que fazia para parecer mais velho.

Um dia cheguei em casa, o sujeito estava de drogas até a alma, tinha uma força incrível, tentei lutar, mas conseguiu me colocar uma algema, que não sei de aonde tirou, ou se a usava com minha mãe, abusou um, duas, até três vezes de mim.  Tinha as pernas presas com uma fita isolante, o que me impedia inclusive de lhe dar um chute.

Quando ela chegou, estava todo coberto de sangue.

A desculpa dele, era que eu o tinha provocado, foi uma discussão, imensa, veio a polícia, ambulância, fui parar no hospital, com desgarro anal.

Pela primeira vez gostei de estar num lugar que todo mundo me cuidava, já que em casa, era quem cuidava de tudo, colocar a roupa para lavar, para secar, dobrar, passar, jamais, para que.

Esquentava minha comida no micro-ondas, semanalmente chegava uma caixa de ajuda da Cruz Vermelha, com comida congelada.   Eu me virava.

Quando voltei para casa, a assistente social, me perguntou se eu queria voltar.

Claro que sim, quem vai cuidar de minha mãe.

Eu estava preparado para a seguinte pessoa que me importunasse, roubei numa loja, uma navalha daquelas que apertas um botão, sai uma lamina imensa.

Agora trabalhava de tarde no armazém de um Turco, aonde fui pegando corpo, pois fazia de tudo, ajudar a descarregar, repor mercadorias, por último limpar todo o local, na hora de fechar.  Para um menino franzino, foi um ótimo exercício, não precisava ir a um ginásio, para ficar mais musculoso.

O tal sujeito ficou dois anos na prisão, nesse tempo ela como que tentou se regenerar, não consumia drogas, fazia o caminha de casa para o trabalho, vice-versa.

Parecia até ter crescido mais, mas minha cara de criança, acreditava que me acompanharia toda a vida.  Agora eram os machotes do edifício, que as vezes se insinuavam para mim, sabiam o que tinha acontecido, alguns chegavam a tirar o pau para fora da calça, eu simplesmente tirava minha navalha do bolso, perguntava se queria ficar sem ovos.

Ninguém me enchia o saco.

Estava no final do curso, sabia que nunca iria a uma universidade, gostava sim de escrever as coisas do meu cotidiano, inclusive as propostas que recebia na loja, o turco ficava uma fera com os clientes, esses diziam que me queria só para ele, mas nunca se insinuou.

Era um homem até bonito, mas muito sério, segundo sabia, ele tinha tido um desses casamentos arranjados, a mulher chegou de alguma vila da Turquia, odiou estar na Alemanha, aonde ela não entendia nada, ele falava muito mal o turco, pois tinha vivido desde criança em Berlin.

Finalmente ela foi embora, justo depois que eu comecei a trabalhar, quando alguém perguntava, ele dizia, não sabe do que me livrei, agora pelos menos meus pais, me deixaram em paz, dizem até que posso casar com uma alemã.

Um dia cheguei em casa, achei estranho escutar som dentro de casa, pensei minha mãe chegou mais cedo, entrei com medo, que tivesse perdido o emprego, pois era uma coisa que vivia acontecendo, reclamava sempre não ter nascido para dar o duro.

Mal abri a porta, lá estava o meu abusador, tentou me agarrar, peguei um vaso pesado que estava em cima da mesa, acertei sua cabeça.   Caiu desmaiado, rapidamente, peguei a fita isolante, tapei sua boca, bem como passei pelos pulsos, ele despertou, tentava se livrar, apontava para seu piru.

Conseguiu se soltar um pouco, disse que tinha se masturbado cada dia pensando no meu cuzinho virgem, que voltava para me levar com ele.

Lhe tapei a boca outra vez, consegui prender as pernas, ele tentava de todos os meios se livrar, não sei como se livrava da mordaça, depois entendi que devia ter passado em volta da cabeça.

Seguiu falando, se eu fosse com ele, ia me penetrar a cada dia, me levaria a loucura.

Perdi a noção das coisas, ele não ia parar de falar, tirei a navalha do bolso, fiz uma coisa que tinha visto nos filmes policiais, lhe cortei a jugular.

Nisso minha mãe chegou, ficou horrorizada, agora o que fazemos, mas sabia que não tínhamos como escapar, rompeu uma garrafa que estava por ali, cortou todo o resto do pescoço, me disse, vá para teu quarto, encha uma mochila com coisas tuas, pegue o dinheiro que está embaixo do ladrilho do teu armário, não é muito, mas te dará para se safar.

Estava aturdido, ela me ajudou, colocou inclusive na mochila um saco de dormir que tinha roubado numa loja, para usarmos no inverno tão duro, assim pelo menos tens aonde dormir.

Parecia totalmente calma, fez uma coisa me beijou, espero meu filho que consigas sobreviver melhor do que eu, mas nunca, cai, no conto das drogas, elas só nos destroem.

Não sei se pelo barulho, tinham chamado a polícia, quando sai, ela estava desfigurando o homem totalmente com a garrafa, estava cheia de sangue.  Me mandou subir para a terraça de cima do edifício, me lembrou de um lugar que tínhamos vivido antes, um velho armazém não muito longe dali, durante uns dias não vá as aulas, podem te procurar por lá, nem volte ao teu trabalho, pois será o primeiro lugar que irão, me fez sinal para subir rápido.

Lá de cima vi tirarem o sujeito num saco negro, mortinho da silva, não me arrependia, lastimava por causa dela, mas num dos seus momentos, ela tinha me dito, assim me livro da culpa que tenho de ter colocado esse homem dentro de casa.

Quando a colocavam no carro, olhou para cima, sorriu.  Não tinham me visto pois estava escondido do outro lado.

Subiram dois policiais para saberem se eu estava ali, me encontraram, no que chegou a assistente social, com um carro, me colocaram no banco detrás, minha mãe me fez um gesto, de como sair.   Armou o maior escândalo no carro que estava, se distraíram, abri a porta do outro lado, estava num beco, que sabia por aonde ir, sai correndo, quase me cai a navalha, mas escapei antes que me visse.  Ainda escutei uma vizinha dizendo aonde trabalhava, ou seja não poderia ir para lá.

Fui para o tal armazém, vi que a parte baixa estava cheia de tendas, muita gente, mas nós tínhamos vivido no último andar, que tinha uma caixa d’água em cima, por isso o banheiro tinha água.   Pelo menos podia me lavar, sabia aonde me esconder, o faziam da vez anterior.

Estava morto de fome, ela tinha colocado um pedaço de pão, na mochila, foi o que comi nessa noite.  Abaixei, fiquei escondido num vão escutando as conversas que rolavam por ali, alguns já sabiam da história, um homem que nunca tinha visto, mas parecia um tipo machão, soltou que ela merecia, quem manda se envolver com quem não deve.

Lhe mandaram calar a boca.

Falavam em ir no dia seguinte a um edifício que tinha pegado fogo, sempre se encontravam coisas que podiam aproveitar.

Dormi dentro do saco, bem escondido, ali haviam portas encostadas na parede, que faziam um oco, para alguém se esconder, como era escuro, dava jeito.

No dia seguinte passei pela loja, vi que tinha um guarda na porta, com certeza, esperando que eu aparecesse.

Fui ao tal edifício, vi que o pessoal saia com roupas, o fogo tinha sido nos últimos andares, por isso ninguém se atrevia ir até lá.

Pois eu subi, até o andar aonde tinha se originado o fogo, num dos apartamentos, o menos queimado, vi um armário fechado, quando abri a porta, tinha uma mulher morta ali, os bombeiros não tinha revistado, passei por cima dela, pedindo desculpas, mas sobreviver era o primeiro.   Vi um casaco de couro, perfeito, ela tinha o mesmo tamanho que eu, era chamativo, pois era vermelho, depois dentro de um saco, tinha um casaco novo, desses de pelo imensos, que se usavam agora, coloquei tudo dentro de uma bolsa, fui rebuscando, na parte de cima do armário, tinha uma maleta, abri, surpresa, tinha dinheiro, bastante por sinal, tinha que esperar uns dias, quem sabe conseguia alugar algum lugar.

Duas calças jeans novas, muito modernas, uma cheia de pedras na lateral, me dariam cara de um garoto gay, mas não me importou, as camisetas serviam também, enchi a maleta, saiu pela escada de incêndio, que balançava um pouco, mas já estava escuro, fui para meu esconderijo. Agora saia, comprava comida, quando o armazém estava vazio, tinha uma entrada lateral, que só usavam se a polícia aparecia, aparentemente estava protegido.

Escutei num café dois garotos mais ou menos da minha idade, discutindo aonde se prostituir, falavam das estações de metrô, dos banheiros públicos mais seguros.

No dia seguinte estavam ali no mesmo horário, comentavam como tinha ido à noite, um deles disse que o homem tinha estado pesado, mas que tinha conseguido o dominar, explicou como, tenho uma navalha o velho quando viu, ficou pálido, parado, me ofereceu sua carteira, sai pitando dali.   Riam muito com isso, por um tempo, agora terei que trocar de estação, falou em outra mais central.

Eram dois garotos bonitos, pensei se o filho da puta me fudeu grátis, porque não ganhar dinheiro com isso.  Queria guardar o que tinha encontrado por mais um tempo, o que minha mãe tinha me dado, já tinha se acabado.

Agora andava pelas ruas, procurando um lugar para morar, mas não podia ser por aonde tínhamos vivido.   Nessa noite fui a primeira estação que eles tinham comentado, justamente havia uma hora para isso, os jovens ficavam encostados pelas paredes, esperando uma oportunidade.

Um deles, o mais esperto, me reconheceu do café, me perguntou se era minha primeira vez, me sinalizou um homem com a gola do casaco levantada, aquele ali, é um padre, só vai te pedir para ficar nu na frente dele, enquanto se masturba, não tem muita graça, gema um pouco, ele te dará dinheiro.  Ficará te pedindo perdão todo o tempo.

Deixei o homem se aproximar, devia ter uns cinquenta anos, o garoto disse antes, peça 100E, nunca menos.

Foi o que fiz, queria saber como era, me levou a um hotel, feio que havia ali escondido numa ruela, me disse para ficar atrás dele, para o homem não me ver direito, pagou, lhe deram uma chave, subimos, foi exatamente o que o garoto tinha falado, pediu que eu tirasse toda a roupa, que me deitasse na cama, ficou sentado numa cadeira se masturbando.

Aproveitei depois, para tomar um banho quente, sai pitando, me deu duas notas de 100E. Quando lhe disse que era a primeira vez.

Marcou comigo, dois dias depois, me disse aonde, era nas traseiras de uma igreja.

No dia seguinte fui a cafeteria, encontrei com meu conhecido, ele se matou de rir, filho da puta, a mim só meu deu 100E.   Lhe falei do convite para ir até a traseira de uma igreja.

Ele mora lá o filho da puta, mas agora tenha cuidado.

O vi sozinho, perguntei pelo amigo, ele disse que tinha tido o azar de ligar com um policial, que caçava putos.  Vai ficar uns dois dias fora.

Nessa noite fui com ele a outra estação, que era mais limpa, os tipos eram diferentes, vais fazer sucesso, com essa tua boca, vão querer que chupes muitos caralhos.   Mas depois se lava, não passa nada.   As putas fazem isso, depois enxaguam a boca com muita água, estão pronta para outra.

Se aproximou dele, um homem, até bonito, ele disse que não podia, mas se queria me levasse a mim.   Podes ir, eu conheço o sujeito, tem um piru mínimo, se tens um grande, é o que ele vai querer.

Foi isso que aconteceu, o sujeito era até bonito, quando o viu nu, ele mesmo achava que tinha um bom tamanho, quando se masturbava, o sujeito ficou como louco, porra tenho que comprar camisinhas, mas o homem tinham, o excitou ao máximo, ele gostou, depois se sentou em cima, ficou como louco.   Dizia eres gostoso, me ensinou como devia me mexer, quando soube que era minha primeira vez, me deu quase 400E, que tinha escondido nos sapatos.

Pediu uma nova chance.  Mas marcou com ele antes, foram comer, o homem falava bem, depois foram para sua casa, agora sabia como se comportar, este o chamou para viver com ele.  Disse que ia pensar, mas agora só pagou 100E

Falou com o amigo, esse ria, ele sempre se apaixona, mas em seguida, quer é te explorar, passar para os amigos, vera são todos mais velhos, ele fica com uma parte do dinheiro, nem pensar.

Nessa noite apareceu o outro rapaz, ficaram amigos, ele disse que acabou fazendo sexo com o policial, mas que era muito violento, verdade ou não estava cheio de marcas pelo corpo.

Se ficas uns dias sem vir, é como se fosse novo na praça.

Fez isso durante meses, confiava nos dois, acabaram alugando um apartamento entre eles, por ali perto.    Quando vez 18 anos, tirou seus documentos novos, como maior de idade, mas claro aparentavam sempre muito menos.

Foi quando conheceu um Turco, magro, peludo, com barba, na primeira vez o levou para o hotel, queria um sexo total, quando viu seu corpo branco, só com pelos em volta do sexo, ficou como louco, pela primeira vez, alguém lhe fazia carinho, este soltou, que para ele o sexo tinha que vir acompanhado disso, para se sentir menos culpado de procurar sexo na rua.

Marcaram para o dia seguinte, ele disse que era professor, foi para sua casa, um apartamento simples, meus pais estão me dando uma trégua, pois ainda preciso terminar a faculdade, querem me casar de qualquer jeito com alguém que não conheço.

Gostava de estar com ele, pois quando chegavam tomavam banho juntos, ali começavam se excitar. Mas gostava mesmo era de ficar sentado em cima de seu piru.

Perguntou se estudava, foi honesto, tive que interromper, adoraria fazer universidade, escrevo o que acontece comigo.  Ele pediu para ler, foi corrigindo os erros de gramática, se encontravam duas ou três vezes por semana.   Um dia disse que os pais tinham ido a Turquia, buscar uma noiva para ele.  Vamos aproveitar, vens ficar comigo, eu te ensino tudo que sei, para que possas ir à universidade, ou acabar teus estudos.

O ajudou a saber de sua mãe, tinha sido assassinada na prisão, diziam suicídio, mas parecia outra coisa, já nada lhe ligava a nada.

Assef, era um cara legal com ele, ainda propôs o seguinte, ele se casava, mas montava um apartamento para ele, estava apaixonado.

Aprendeu tudo que podia com ele, mas não deixava de ver os amigos, esses diziam aproveita, por tudo que é bom dura pouco.

Ia era guardando dinheiro, abriu com o que tinha escondido, uma conta no banco, inclusive com o que ia ganhando, guardava seu cartão de credito no tênis, como lhe tinha ensinado.

Assef estava ficando ciumento, não queria que fosse se encontrar com seus amigos, começou a ficar violento, um dia que chegou tarde, quis lhe dar uma surra, lhe chamou de puta.

Ele simplesmente tirou a navalha, o ameaçou, o prendeu numa cadeira, sabia aonde guardava dinheiro, a vida acabava de lhe mostrar mais uma cilada.

Então me amas, verdade, queres é mandar em mim.

Menos mal que sempre que ia, colocava um gorro, óculos escuros, os poucos vizinhos, nunca o tinha visto, se fosse assim, não dava para reparar.

Levou as poucas coisas que estavam lá.

Mas o deixou preso, com a porta semiaberta, lhe disse para gritar, quando acordasse, lhe deu um murro na cara.

Os amigos, riram, aprendeste bem, sempre é assim, quando a coisa é boa demais, sempre acaba numa cilada.

Quando voltou a sair pela noite, agora usava o casaco vermelho, que chamava a atenção, mas camisetas justas negras, para evidenciar que era muito branco, aprendeu com os amigos a acentuar seus lábios. 

Não sabia ao certo quanto homens teve, mas sempre era o mesmo, quando tirava a roupa, ficavam loucos com seu piru, ele não tinha crescido muito, mas o dito cujo sim.  Então era a alegria da paroquia como ele dizia.   Mas claro quando pediam que não usasse camisinha, ele tirava o time de campo, se ficavam violento, ele se defendia.

Agora os três iam durante o dia a um ginásio fazer boxe, assim podiam se defender.

Seu melhor amigo, confiou nele suas economias, ele era mais esperto, agora aplicava o dinheiro do banco, para render, nada de ações, mas o Deutsch Bank tinha um bom rendimento.

Fez o amigo abrir uma conta, mas o autorizou a aplicar o dinheiro para ele, se acontecia alguma coisa, ele tinha direito a mesma, era um acordo deles.

O outro arrumou um velho, foi embora, o que foi bom, pois eram só os dois no pequeno apartamento, que arrumaram direito.

Seu amigo se fazia chamar Jack, mas na verdade se chamava Joachim, contou que era judeu, que seus pais eram ultra ortodoxos, agora viviam em Israel, eu fugi no próprio aeroporto, era uma vida que não queria para mim.

Se davam bem, inclusive algumas vezes faziam sexo entre eles.  Adoravam fazer isso, quando algum cliente pedia, faziam a três, mas no final pediam para ver os dois fazendo sexo.

Joachim adorava ser penetrado por ele, os homens se masturbavam vendo os dois fazerem isso.

Mas claro cobravam mais por isso.

Ele começou a ensinar durante o dia, tudo que tinha aprendido com o Assef.

Um dia Joachim estava com uma gripe fantástica, sem querer ligou com o puto policial, que tinha prendido seu amigo.

O outro se insinuou tanto, tinha um corpo fantástico, que lhe disse que sabiam quem ele era, mas se queria prendê-lo, primeiro tinham que fazer sexo.

O filho da puta, o levou para a floresta, ninguém o tinha visto entrar em seu carro, escondido numa ruela, o levou, não era um carro oficial, estendeu uma manta no chão, mas foi ele quem o penetrou, o sujeito gostava de violência, quando tentou lhe dar um murro, levou ele um, tirou sua navalha, lhe cortou a jugular.

Podia ter roubado o carro, com um pano, limpou o assento aonde tinha estado, bem como a porta, como tinha visto nos filmes.

Nos dias seguintes ficou em casa, tinha agora uma pequena televisão, saia em todos os telejornais, acabou se levantando o que o sujeito fazia. Prendia os que se prostituiam, depois, os passava para outros policiais.    A polícia estava atrás de quem tinha feito isso, mas não tinham nada.

Na rua em que se encontraram, não havia câmeras, aliás o policial, fazia de propósito isso, pois senão o veriam fazendo o que não devia.

Arrumou um emprego numa loja de um árabe, este era casado, a mulher sempre aparecia de manhã para levar o dinheiro ao banco.  Ele fazia todo o serviço, no final limpava tudo, sabia que era gravado, saia pela traseira, mas obrigou o homem a deixar sair pela frente dizendo que assim era gravado indo embora, não queria confusão.

O homem o atraia, mas tinha medo de se envolver com ele, lhe tratava muito bem, sempre lhe dava algum presente.  Uma camiseta, um tênis, alguma coisa, sempre que passava por ele no armazém, fazia uma coisa, como se não percebesse, roçava a mão pelo seu piru.

Falou com Joachim, esse se matava de rir, não parava em emprego nenhum gostava mesmo era da noite.

Um dia tinha terminado de limpar, quando passou pelo escritório Ahmed, estava nu com as calça na cadeira, lhe pediu de joelho por favor, pois estava farto de sua mulher.

Acabou fazendo sexo com ele, agora queria todos os dias, mas ele se safava, era um sujeito sem imaginação, só sabia fazer um papai, mamãe, se colocava deitado na mesa, queria que o penetrasse.

Foi lhe ensinando como devia fazer, o levava a loucura, mas dizia que para fazer isso tinha que pagar por fora.   Cada coisa que lhe ensinava, o homem ficava como louco, queria mais. Da mesa, se podia ver se alguém entrava na loja, cada vez ficava até mais tarde.

Um dia viu sua mulher entrando, tinha horror a ela, arrumou uma desculpas, disse que ia ao banheiro, saiu por detrás, passou pela caixa forte que estava aberta, pegou um maço de dinheiro, o deixou ali sem calças deitado na mesa, saiu pela porta detrás, quando ela começou a fazer escândalo, não ia escutar o ruido da porta se fechando.

Nunca mais voltou, tinha levado um bom dinheiro, no outro dia já estava no banco aumentando sua aplicação, viu que tinha um bom dinheiro, fez umas provas, podia entrar para a faculdade, como tinha dúvidas, falou com um professor, disse que o queria era aprender a escrever.

Nessa época, aconteceu uma tragédia, uma dia Joachim chegou ferido em casa, o levou para um hospital, não teve conversa, falou quem o tinha agredido, o tinha gravado no celular.

Foi operado, mas claro, o tempo que levou indo para casa, sangrando, tinha causado problemas, acabou tendo que fazer duas operações, ia todos os dias ao hospital, depois das aulas, Joachim achava que não ia superar, pediu um advogado, deixando para ele seu dinheiro oficialmente se acontecia alguma coisa.

Dias depois quando chegou, estava outra vez na sala de operações, tinha tido uma recaída em uma das operações.

Não sobreviveu, o professor que o tinha ajudado, a escolher sua carreira, era judeu, o ajudou como enterro, inclusive rezou um Kadish ao pé de seu túmulo.

Ele pagou tudo para seu melhor amigo.

Teve que contar ao professor Helmult, a quem os alunos chamavam de Muti, pois era baixinho.

Riam quando os viam juntos, tinham mais ou menos a mesma altura, quando passou o ano, ele tinha já outro professor, agora saia com Muti, para conversar sobre livros, ele lia as coisas que tinha escrito.   Escreveu uma história baseado no que Joachim lhe tinha contado.

Muti lhe perguntou se era verdade, que tinham se prostituido.

Contou para ele sua história, ficou de boca aberta.

Vê como são as coisas, eu sempre que não aguento mais vou a um banheiro público, ou algum lugar, mas deixei, pois um dia encontrei um aluno, esse me fez chantagem para passar de ano.

Nunca mais fui, tenho minha sensualidade, fechada em mim.  Me apaixonei por ti, no dia que vieste pedir conselho, gosto de ler o que escreves, infelizmente fico excitado.

Começaram a sair, acabaram na cama, Muti era como uma explosão se sexo, parecia um boneco de plástico na cama, era capaz de coisas incríveis.

Sua forma de expressar o prazer era escandalosa, levaram saindo já vários anos, ele dizia que ficava preocupado que ele fosse embora de noite.  Se quiseres meu apartamento é grande, podemos compartir, se não quiseres dormir comigo, eu entenderei, mas teria um lugar para ler, escrever.

Adorava a biblioteca que ele tinha, os livros que tinha ansiado em ler, mas não tinha dinheiro.

Muti não sabia aplicar seu dinheiro, o ensinou como fazê-lo, ele o beijava, dizendo, meu menino sabe de tudo.

Nunca demonstrava ciúmes, um dia inclusive lhe disse, se ele tinha necessidades de ir com outros ele entendia, pois não era uma pessoa interessante.

Ele ao contrário pensava ao contrário, pela primeira vez tinha medo de ser abandonado, gostava de estar com ele, conversar, de fazer sexo, as explosões dele no orgasmo, com ele fazia de tudo, se completavam.

Tampouco se escondiam, saiam para jantar, ir ao cinema, ao teatro, o levou pela primeira vez ao teatro de Brecht, ele amou, discutiam depois a representação, o texto, se interessou em aprender a escrever para o teatro.

Depois de revisar mil vezes o que tinha escrito a respeito do Joachim, Muti apresentou a um editor.  Tinha revisado tantas vezes, que nem precisou de uma revisão ortográfica.

Foi lançado, em breve era um livro de culto, entre os dos grupos LGBT.  Pois falava cruamente de jovens que se prostituiam para sobreviver, que muitos poucos chegavam a alguma coisa.

Para sua surpresa, quando foi convidado a dar uma palestra a um grupo, Muti, foi com ele, ele que se guardava tanto antes, agora, ia com ele por aí.

 Lhe dizia, me abriste um mundo novo, fiquei tantos anos com medo, que contigo, sou capaz de ir ao fim do mundo.

Nas férias foram fazer uma viagem, uma coisa que ele sonhava, ir a Paris, foram a todos os lugares possíveis.   Muti, queria saber como era o submundo, já que nunca tinha coragem, contigo vou.

Acabaram fazendo sexo a três, com outro rapaz, Muti ficou louco quando o viu penetrar o outro, mas quando foram embora, dizia, prefiro que faças isso comigo. Fiquei com ciúmes, ele teve que reconhecer, que tinha ficado também, quando Muti fez o mesmo.

Chegaram ao hotel, fizeram sexo como gostavam, começaram embaixo do chuveiro, caíram molhados na cama, levaram mais de uma hora, se explorando cada vez mais.  Desta vez os dois urraram no final.  Depois ficaram as gargalhadas, pois se escutava movimentos nos quartos aos lados.

Agora não tinham limites entre eles, Muti dizia que se sentia jovem outra vez.  Se vestia diferente, os outros professores comentavam, mas ele não se preocupava.

Ele começou a fazer um curso de escritura para a roteiros, pois o editor, com seu segundo livro, que tinha uma parte autobiográfica, das suas andanças, disse que tinha um produtor interessado.

Queira que ele escrevesse uma história sobre esses jovens que viviam no submundo de Berlin.

Muti o ajudava, discutiam os personagens, iam pela noite observando os jovens, nas entradas das discotecas, tomando drogas para se liberarem.

Muti dizia que se fizessem isso, nunca mais sairiam da cama.

Ele lhe contou que nunca tinha tomado drogas, pois imaginava que ficaria adito, por causa de sua mãe.   Se um dia descubro que o estas fazendo vou embora.

Mas não precisavam, pois os dois juntos, era um caso sério.  O sexo para eles era um jogo de descobrimentos.  Um dia ficou completamente louco, com Muti sentando no seu sexo, ao mesmo tempo se fazendo uma felação, como parecia ter o corpo elástico, podia, ele tentou mas não conseguia. 

Quando o roteiro ficou pronto, o produtor disse que era cru demais, se não podia romancear um pouco.

O senhor me desculpe mas esse mundo não existe romance, é cru mesmo, arrastou o homem para um dos lugares no metrô, viu que o mesmo ficava excitado com a quantidade de rapazes por ali.  Queria se arriscar, mas na hora ficou com medo, era casado.

Começaram a revisar com o que seria diretor como fariam.  Mas volta e meia o produtor, falava com ele, nada de besteira, nem sabia que tinha esse instinto homossexual.

Estava numa sinuca de bico, pois não sentia mais desejo pela sua mulher, com que levava casado a anos, sem filhos.  Que o sexo entre eles, era chato.

O aconselhou a ir a um psicólogo, ele tinha guardado lá no fundo de sua cabeça, uma relação na sua juventude com um colega de escola, tinham descoberto juntos a masturbação, mas nunca chegaram as vias de fato, logo o amigo arrumou uma namorada, se afastando dele.

A mulher pediu divórcio, tinha uma oferta de trabalho na américa.

Muti não tinha ciúmes, as vezes conversavam os três juntos, Berg dizia que tinha se masturbado mil vezes lendo o roteiro, mas não queria ir por esse caminho, tinha medo de se viciar no sexo.

Nessa época Muti ficou doente, mil exames, nunca descobriam o que acontecia.

Finalmente deram com um câncer em sua cabeça, pois começou a desmaiar, os médicos lhe deram pouco tempo de vida, pois não existia tratamento possível.

Eles tiveram uma conversa séria, tu segues tua vida, eu nunca tinha amado alguém, foste tudo isso para mim.   Ele tinha medo de fazer sexo com ele, pois podia lhe provocar alguma coisa, mas Muti lhe convenceu ao contrário, adoraria morrer fazendo sexo contigo.

Foi o que aconteceu, numa das noites inspiradas do Muti, fizeram de tudo que se podia imaginar, acabaram dormindo abraçados como gostavam.  De manhã, estava morto.

Para ele, foi uma perda irreparável, Berg quando soube, chorou ao seu lado, Muti era seu confidente, com ele, podia falar de tudo, tinha paciência com ele, pois tinha passado pelo mesmo.

Faltava escrever o último capítulo da série, que seria gravado dentro de um mês, como o personagem tinha muito do Joachim, lhe doía de duas maneiras, não ter o Muti ali para lhe ajudar a pensar no personagem, era seu fim, não escrevia como tinha acontecido, mas sim imaginando que ele não tivesse conseguido voltar para casa.

Berg que os tinha visto trabalhar juntos, perguntou se ele queria ajuda.

Ele aceitou, pois podia revisar com alguém o texto do personagem, contou ao Berg toda a vida que ele sabia do Joachim.

Então é verdade que conviveste com ele?

Sim, viu que Berg ficava chocado ao mesmo tempo excitado.

Um dia lhe pediu se podia o deixar explora-lo, Muti antes de morrer me contou como faziam sexo, me apaixonei por ti, ele percebeu, mas nunca tive coragem como agora de te falar, mas não quero te forçar nada, primeiro porque te respeito.

Ao contrário do Muti, Berg era um homem de quase 1,90, ruivo, cheio de pelos, que lhe davam muita vergonha, quando tirou sua roupa, só faltou ele esconder seu sexo.  Estava muito nervoso.

Com cuidado, o foi explorando, aquele homem imenso virou um adolescente que descobre os prazeres do sexo.  O deixou fazer tudo o que queria com ele, parecia um boneco em suas mãos, quando teve seu primeiro orgasmo, só faltou bater no peito.   Rindo depois dizia, me senti como o Tarzan que urrava, batendo peito.

Pensou que ele liberado iria atrás de outros mais jovens, mas nada ficou com ele, passava mais tempo na casa que tinha herdado do Muti, aonde tinha vivido os melhores momentos de sua vida.   

A série ganhou vários prêmios, sempre lembravam do Muti como um dos roteirista.

Um dia Berg lhe trouxe vários recortes de jornal, sobre o policial que tinha sido assassinado.

Um jornalista tinha descoberto mil coisa sobre ele, de aonde tinha saído, daria um bom roteiro.

O jornalista vendeu a ideia, não queria escrever para a televisão.

Os dois foram buscar nas suas fontes, quem era afinal o policial.

Foram descobrir que tinha vivido num orfanato a vida inteira, que tinha abusado dele violentamente, muitas vezes.  Por isso gostava da violência.  Nessa pesquisa também descobriram que tinha assassinado alguns dos garotos com quem tinha feito sexo, mas que a polícia tinha acobertado.

Era um personagem difícil de escrever, mas tinha se acostumado a fazerem isso juntos, Berg descobriu uma parte nele mesmo que era isso, analisar os personagens como ele tinha visto Muti fazer com Hans.

Se encaixavam a perfeição, queria que ele fosse viver no apartamento de luxo que tinha, ele se negou, se quiseres ficar aqui, tudo bem, o dia que te canses de mim, sem problemas.

O relacionamento deles era diferente em termos, que Berg era mais romântico, gostava de ficar fazendo carinho horas, abraçado, o beijando, vindo de um homem tão grande, era difícil de imaginar.

Um dia o pediu em casamento, ele olhou espantado ao Berg, queria saber por quê.

Sempre sonhei em ter ao meu lado, uma pessoa que me entendesse, com quem posso falar de tudo sem problemas, contigo consigo isso, já não tenho medo de esconder nada.

Vou pensar, ok

Começaram a filmagem da nova série, foi complicado encontrar um ator que quisesse fazer o papel, encontraram um ator turco, que tinha terminado um comédia, quando falaram com ele, riu, um papel realmente para um ator.

Começou a trabalhar todo o texto com o mesmo, esse ficou interessado.  Dizia que entendia o personagem, pois ele mesmo vivia escondido dentro dele, seu nome as vezes era motivo de burla, pois podia ser um nome de mulher, Karin.

A cilada foi que Berg se apaixonou por um dos atores, daqueles que querem subir na vida, falou com ele a parte, cuidado, esse tipo que subir a tuas custas.  O rapaz queria o papel principal, depois de fazer sexo com Berg, quando tocou no assunto, ele se sentiu usado.

Veio furioso, bem que me avisaste, agora fico sem me entender novamente.

Isso é o que a vida nos prepara, uma cilada atrás de outra.

Ele estava preocupado, pois na verdade era ele quem tinha matado o policial, agora sabia que naquela noite, se não tivesse se defendido, teria morrido.

Para salvar as aparências, pediu ao Berg já que era bem relacionado, se conseguia o lauto, bem como imaginavam que tinha acontecido a morte do mesmo.

Karin entendia a cena como ninguém.  Agora aparecia sempre por sua casa, para analisar alguma cena que ia filmar, como devia se sentir.  Berg a princípio ficou com ciúmes, mas depois de sua aventura, o relacionamento entre eles tinha morrido, ele estava confuso.

Como podia ter pedido que se casasse com ele, em seguida o teria traído com um rapaz idiota.

Falaram muito no assunto, acreditava que tinha sido porque o rapaz lhe fazia lembrar sua paixão de juventude.

Procure por ele.

Berg seguiu seu conselho, descobriu que o mesmo era professor em Hamburg, que era divorciado, se encontraram, foi colocar fogo na palha, na época o outro tinha ficado assustado com o rumo que iam as coisas entre eles, tinha tido um relacionamento durante alguns anos com outro professor.

Assim se sentiu livre para enfrentar as investidas do Karin, esse antes lhe contou que para começar a fazer cinema, tinha tido sexo com um diretor, não tinha vergonha, queria atingir meu objetivo.   Me senti uma puta, mas valeu, provei que era bom.

Um dia estavam os dois falando do personagem, ele não conseguia atingir o clímax dele a respeito da violência.

Hans lhe explicou mais uma vez, imagina, esse homem, foi vítima de muitos abusos, violentos, por isso tinha essa raiva dentro dele.

Então terei que ser violado para isso, disse rindo, vais me fazer esse favor.

Nunca fiz sexo dessa maneira, para tapear, tenho sexo com atrizes, com manequins, mas sexo assim nunca.

O provocou tanto que Karin, ficou como louco, quando o penetrou, sem que ele esperasse, ficou parado.  Lhe forçou um pouco, sem que soubesse por que Karin começou a corresponder, no final gritava de prazer.  Filho da puta, me transformaste em tua putinha.

Voltaram a fazer sexo, se explorando, Karin era uma pessoa que se podia classificar de gostoso, tinha um corpo fantástico, um membro como ele, grande, os dois se satisfaziam.

Um semana antes da estreia, Karin disse que estava pronto para assumir o relacionamento deles, não quero esconder, que encontrei a pessoa da minha vida.

Nada de bandeiras Karin, tens uma carreira, vamos seguir, mas não precisamos agitar bandeiras, olha o Berg, uma semana me pede em casamento, em seguida se envolve com um jovem que lhe fez lembrar de seu passado.   Iremos levando, se um dia realmente tivermos certeza disso, bem. Ok.

Karin concordou, mas basicamente vivia com ele.

Havia uma cena, em que o personagem se lembrava de uma violação que tinha sofrido, ele o fez a perfeição.  Depois dizia, fechei os olhos, pensei na nossa primeira vez, quase tive um orgasmo.

Uma das cenas era brutal, era o policial, sendo abusado por um homem cheio de tatuagens, imenso, Karin era mais baixo, um pouco mais alto que ele.

Quando viu o ator que fazia o papel, riu, ou me apaixono, te abandono, ou matarei o mesmo, na história, ele realmente matava o sujeito.

A cena ficou fantástica, era o encontro do policial com seu passado, o desencadeante de tudo, o ator tatuado, levava horas em maquilagem, pois não tinha tatuagem nenhuma no corpo inteiro, gozava o policial, agora te descobri sua puta de uniforme, a luta entre os dois, com a diferença de tamanho, motivo pelo qual depois se livrou do crime, alegando defesa pessoal, como se o outro o tivesse agredido, a solução foi um tiro, isso realmente tinha acontecido.

Mas a cena depois do tiro, com o personagem ali, arrasado, sem querer lançou Karin para papeis fortes.

Quando terminou a série, foi chamado para fazer um filme, um pouco similar, era um policial, com um companheiro corrupto, que abusava de seu poder, por saber que o seu companheiro tinha um amante com quem vivia.

Karin agora sabia como se mover com esse tipo de papel dubio.

Estudava o personagem com ele, analisavam o texto.  Esperou ele terminar o filme, queria ir de viagem, Karin queria ir junto de qualquer maneira.  O esperou.

Foram para bem longe, fizeram uma viagem que um dia teria feito com o Muti, de ir conhecer a Nova Zelândia, como qualquer turista, alugaram um carro, foram visitando o pais, indo à praia como qualquer turista, não eram conhecidos lá.  Foi perfeito.  Sabia que Karin estava apaixonado por ele, mas tinha medo de se entregar, ele tinha uma vida pública, que ele não queria.

Quando voltaram, sem querer tudo ficou como dizia sempre, por causa de uma cilada de uma repórter do coração, que lhe lançou uma pergunta malvada, como era fazer em seguida dois personagens com fundo gay, se isso lhe incomodava, que diriam suas namoradas.

Eu não tenho namoradas, mas sim um namorado que amo muito, espero que um dia aceite a casar comigo.   A cara da mulher foi de espanto, provocou, mas não esperava essa resposta.

Além de que minha vida pessoal, só diz respeito a mim.

Sua mãe lhe telefonou, desde Turquia para saber se era verdade, se for meu filho, lembre-se a vida é só tua, seja feliz.   Ela nunca tinha feito força nenhuma para lhe arrumar um casamento concertado como queria seu pai.  Quando este insistiu, ela pediu o divórcio.  Odiava esse tipo de casamento.

Veio para conhecer o Hans, ficou amiga dele, adorava ver os dois juntos, como conviviam, compartindo as coisas.

Hans escrevia um novo roteiro, baseado numa história que tinha lido no jornal, sobre o que acontecia, com muitos menores, abandonados pelos pais, porque se revelavam gais.

Berg assumiu prontamente a ideia de um trabalho junto.

Karin tinha um certo ciúmes de os ver trabalhando, mas se não estava fazendo nada, se sentava ao lado, Hans ria, porque sabia que ele estava ali, como para dizer, esse é meu homem.

De noite conversava com ele, afinal podia verbalizar que o amava mais do que nada.  Quando Karin foi fazer um filme na Turquia, ele ficou hospedado na casa de sua mãe, Karin reclamava das rodagens, da quantidade de jornalistas, fazendo perguntas idiotas.

Um dia estavam os três jantando num restaurante, um entrou para encher o saco, perguntou se ele tinha um romance com a atriz do filme.  Ele simplesmente, beijou o Hans na boca.

Para a Turquia foi um escândalo, mas o filme foi um sucesso, entre os jovens, que estavam fartos de tantas mordaças.

Quando os dois fizeram quase 15 anos juntos, se casaram em segredo, era só uma formalidade para satisfazer a mãe do Karin, bem como a vontade deste.

Chegava as vezes em casa furioso quando algum ator se insinuava para ele, será que não entendem que não necessito de ninguém, que tu, me faz sentir completo.

Nas noites de verão, a lua, sempre passava por diante do quarto deles, abriam as janelas, para que iluminassem o corpo dos dois fazendo sexo.    A se o cinema pornô soubesse do que somos capazes.

Hans tinha escrito dois livros que faziam sucesso, num deles analisava uma série de escritores do passado, que camuflavam a homossexualidade dos personagens que no fundo representava eles mesmos, para poderem sobreviver.  O livro era usado na universidade para analisar esses personagens, ele mesmo fazia palestra a respeito.

Tinha dinheiro, porque tinha sabido aplicar para sua sobrevivência, para que a vida não lhe fizesse nenhuma cilada nesse sentido.

Karin agora era um ator de teatro, muito requisitado, Hans ia sempre busca-lo no teatro.

Juntos caminhavam para a casa deles, conversando como sempre faziam, analisando como ele tinha se sentido na representação.

Hans seguia o ajudando a se preparar para representar, encontrar o personagem.

Berg, tinha se casado com seu amigo de infância, era feliz.